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SÉRIEIV VOLUME 16

SEPARATA DE

oAROUEOLOGO PORTUGUES
Fundado por José Leite de Vasconcelos

João Luís Cardoso


O povoado fortificado pré-histórico de Leceia (Oeiras),
exemplo de desenvolvimento não sustentado na Estremadura no III milénio a.c.

LISBOA
1998
o povoado fo rtificado pré-histórico de Leceia
(Oeiras), exempl o de desenvolvime nto
nào sustentado na Estre madu ra no !II milénio a.c.

João Luís Ca rdoso·

Rdiumo

A.... inv~ti8'.lçÔl.:s rebtiv;\s ao Cakolítico da Baixa Estremadul':.I. abaixo da lati-


tude de Torres Vedr:.l$ e ~Llé ao estuário do Sado, conduzir:.ull a uma gr.lndc
qu:mtidade de elementQs. relativos tanto a povoados como a necrópolt!s.
Porém . a ausCnci:. dI:! progr.una quc proporcionasse o tral:une nto mel6dk:o 1..'
intcgrJdo desta lào dispers.1 quanto heteródita infomtlç'Jo. impediu a demons-
tr.tç-lo cabal (la forte identidade e OrlRi nalid.. de CUh Ur:11 rei E.stremadum no
OC"l:urso do C::.k'Olítico.
Neste contexto, :IVUIl:II11 os resu hados obtidos pelo Autor no povIXldo for-
lific:ldo de l eceia (Ocir:IS), um dos mais notáveis d os all! agora reconhecidos
no País, no qual for::un até ao presente (1999) re .. lizadas dezasseis Glmpanhas
de esçav:tções 0983-I99tn. Ali , foi pela primeira vez IXlssível, o estabeleci-
nlCnto de limites crono lógicos e ntre as tres fases c ultur:.Iis identific.ldas. com
e.1press:l0 anefactll:ll c cstr.ltigdfic l. merc~ da realiz.'1ç:1o de 36 .málises r.ldio-
carlxlnk-as. a saber: Nt.'olílico Final: C::llcolílico Inicial; e Calrolíliro Pleno. Po r
outro lado. :1 ;nfonn:lç.l0 recolhid:l prestava-se panicul:lnllt:nle à discussão da
emergêncÍ<1 e afimlaç:.l0 d o -fenómcno- camp:mifo rme na região. no concer-
nentel:II110 ~t époc:1 cm que aquele se \'e rificou , como quanto às condiçõcs
l'COn6micas t· sociais que o pautou.
O declínio gencrali7..ado dos povoados fonificados estremenhos no fim do
C:llcolilico foi :Icomp:mhado peb dispers:l0 das resJX-"C1iV:ls comunidades o u
Ws que debs des(:endcrn m por tO<!:.1 a regiào d:1 Baix:1 Estremadul"'.l. sob "
forma de peqUCll:lS gr.lnjas ou povoados :Ibertos de IXlse f:lmiliar, Ali se conti-
nuar:lffi :1 desenvol\'er inten~1s :Ictividades agro-pecuárias, incluindo a bovini-

• ,o.(".. dem;;' l'on\lj.(\lI.'~J di lIi"clíria , Uni\'I.'r..kbdt.· ,0.1>'."'01 (üo;/lO:I )., Cc.'Illru di.' Escudos An:lu ..~ ,..
I6j:lCltII do Conttlho di.' Odr:,.'. C.'irnlr,1 Munkip.ll lI..: Odr.t.s,

OAryrwdlogo l>tmrlgllés, 5erlt' /I : 16. 1998, P 97.. 110


joiio lI/is Cmriosv - O !)(Jl!()(/(Io fortificatlo pré-hislórico (iI,! 1,t'C(!i1l (Oâms)

cu ltura e a ceraJicultur:I, actividades que requeriam a ocupação permaneme dos


respectivos territórios e um gr:w de especializaç:io tão elevlldo quanto o llme-
rionnente atingido, ao contrário do que poderia sugerir uma imerprewç.l0 mais
superficial d:1 realicl:tde arQueológiC'J.. Com efeito, a inlensiflc.lção da produção,
que caracterizo u IOdo o terceiro milé nio a.C. na Estremadu ra, e ncontra-se
cxpressiv:ulleme registada pehl presença, rela primeir.1 vt!z comprovada, de
produtos de difus<1o supra regional: trata-se do chamado ~ pacOle campani-
fo rme , cujos componentes se encontram tão I~m representados em Leceia .

Abslracl

Researeh iI/lo Chalcolilbic period iII the I"egiol/ of /.owel" Estremadura , belOll/lhe
lalilllde of Torres Vedras, \\'ll.>s/em Portl/gal, bas led lO (III ablllldallce of dala
JlUm JO l1iJied sUes mui lIecropolf. The absellce bilberto oJ Ibe />ro/>I"el" (II/a/ysis oJ
tbis dÚ'l:Jerse mui beterogell olls illJOl"malioll bas bindered Ibe s/rol/g clllt l/1"ell
idt.?lllijicafioll of /bis n"8iol/ d,IlÚlg Ibe Chtllcolilhic.
III Ibis cOlllex/. /be IY!SI IIIS oblailled by Ibe A lllbol" iII Ol /C oJ lhe mosl 1I0table
sites oJ Ibe /'egiol1. lhe J0I1iJied selllemelll of ú .'ceia (Oeiras), assllme /XlI1iculcll·
illteres/. Six/eell excaval iOIl call1plligns Clll"rietl 0111 sil/ce 1983 baile gilKm rise to
a re/llal"kable Ixx~y of illJonllalioll. Of major imfX>I1{lI/ceJor (bis d lscltssioll am
lhe chro1l0melric res/llts obtaÍlled iii Leceia. For Ibe firs/ limc, 36 radiocarlx)//
dates al/d ,bei,- subseqllelll slatlstical /realmellt bave allollred IIS (O eS'(lblisb
absolllle ool/lldaries Jor Ibe exiStillg sllccessive cullllral phases, tbar is, Jor the
/.ale Neolitbic, tbe Ear/y (lIId the Middle CbalcolUbic.
The declive oJ Ih(>seJortified settlemellts ar tbe eml of (he Cbalcolilbic, where
seveml comm/lllilfes were gatherud, was acco1l/fxJ1Iied ~y tbefr spreadillg tbrollg-
b011l alllbe Sll/"l"OlWdil1g lerntories. 11/ sll/al/ ··habitals··, based llpoll agricultural
aml jémuillg praclices. III Jacl, fal/tI uses II'CIY? 1/01" illlel"ntpted the SlIpra-ll."'giOllal
cirel/latio" oJ s/a"dardised prodllC/S becCIIlle COIIIII/01J: is I/Je so-called bell-bea-
ker '7XICkllgC ", ver)' welllY!jJresellletl iu Leceia .

o Arqlw6logo Português. Stfri(' IV, 16. 1998. p . 9 7- 1/0


jOOo lllis Corrkiso- o fJOf.wlllo Jortificllllo pré-bíslórlco de u'«!iu (Ot.'ims) 99

As relações mantidas entre Unl:1 dC!lerminada COlllunidade bUIll:l.Tl:l pré-his-


tóric. e o respectivo territó rio o nde se enCOnl •.lva instabda foram condiciolla-
das. por um lado, pclo seu próprio estádio de desenvolvimento, ao qual cor-
respondiam necessidades espc..."Cíficas, e, por outro, pe];. exist~ncia de recursos
real ou potencialmente disponíveis no espaço envolvente, susceptíve is de
explor:.Jç'Jo.

Os testemunhos arqueológicos são os únicos elementos Illateriais de que


nos podemos socorrer p:lf:c' a c:lf:lCtcrizaç;\o, :linda que forçosamenle incorn-
plelll, da rdaç:lo vital assim estabelt:cida entre o Homem e O meio natural de
CU~1 explomçlo dependia o sucesso eb própria comunid:lde.
No concelho de Oeiras :lvultam. nest:l perspectiv:l. os resultados oblidos no
povoado pré-histórico de Leceia. correspondentes a registo arqw..>ológico de
largo cspedro e duraç;io, \'isto corresponder a local de ocu paçlo estável e per-
m:lnente por pane de sucessivas comunidades dur.lntc mais de mil :mos (fig. 1).
Com efcilo, tais resultados, oblidos g~lÇ-oIS às eSCl\':lções que. de fomla ininler-
mpta. ali se desenvolvem anualmente, desde 1983 (Cardoso, 1989; 1994; 1997),
abarc-.ul1 período entre inícios da segllneb met:lde do IV milé nio a.e. e finais do
milénio segu inte (Cardoso e Soares, 1990-92; 1996; Soares e Cardoso, 1995). Foi

o i1rQlu.""08O 1>O'TllEl/és, Série IV; 16. 199H. p. 97- 1 '0


r
100 jaiio lI/is Ctmlow - o /JOt'()(ldo forliftc(l(lo pré-bis/6riro de l.fxt!f(/ (Oeiras)

Fig_ J - rlanta l'illlplifiC"J.w do po\'oodo prt-hi!>lórico de LL"Çci:l. (om inclÍC".Ido (c:;trd a) <b 1(x-:lIi/~I­
.;lo do cone cSlr.uigdfko d:. Fi).!. 3. no imcrior d:1 :i ....·" ""-"Õ(.::lv~d ..,-

o Arq/ll!61fíH(J "'rlu8"é;, Série IV. 16. /998. p. 97-1/0


1000 luis Cll lTlo:io - O /JO(-o{j(Jo fo11fjlC(ulo pré-hist6rico t/t'I,L>f,'i'la (o..ims) 101

assim possível isolar diversas f:J.scs cuhur:.lis. com base na estr.nigralh (fig. 2) e
no respecti vo conteúdo :lfIefacluill, parli~ ularme n te ao nível das cerâmicas
dccorJcl:IS (fig. 3), a saber: Fase I - Ncolitico Final ; Fase II - Calcolítico Inicial:
Fase III - Calcolitico Pleno e C.1mpaniforme,
Os pri meiros testemunhos arqueológicos recupcr:.tdos em estr,ilo basitl,
assente nos calcários duros cl'elácicos que Cl1l30 .. fl oravam no amplo espon10
rochoso debruçado sobre o vale da rihe ir.t de B:m:arena, que dominava do alto
da sua enCOSI:l esquerda. ~orrespondem a comunidade já numerosa. A sua eco-
nomia, de b:lse agro-pastoril, é revelada por anefaclos lílicos directamente rela-
cion:ldos com o cultivo de pequenos talhões agrícolas (é o GlSO de S:lcllOS. ele-
mentos de sílex par.I foices. mós de arenito). a ex ploraç:lo silvícola e o desbaste
de m'lnchas florcst:l is, assim transfornwdas em pastagens ((."Omo india l a :Ibun-
d:inda de machados). Com efeito, os recursos naturais dislx>Ilíveis no lerrilório
adj;lceme e ram objeclO de exp l or:.I ~·30 já organizada e diversilk:ld:l. que se
aperfeiçoa no decurso do Calcolítico.
O mesmo se verifica com :l proclllçào de alimentos de origem vegeta l, que
eíJ complementada peb caÇoI do veado. do javali t: do <luftxlue (excelxional-
mente do urso e do lince), tujas restos fO r:Il11. emlXlr:1 em percentagens muito
diversas, ident ifiC'.Idos na estac,.,,;10. A sua prl;.'S(' n ~':1 configur.1 li existt-ncia de Ix>s-
ques de folhosas propícios :. presenÇoI de ve:tdos e javalis, os quais ponluav:un
esP.1Ç05 abenos: man:ldas de <lllroqlles e de cavalos selvagens encontr.lriam,
nos amplos e pouco acidentados relevos basálticos da :írC:1 envolvente. :1\:lpeta-
dos de gr.1Il1íneas e abundantes dI:: água. condiçÔt's :Idequadas de subs istência.
Procedia-se, ainda, à reco le~çào de mol uscos no lilor:al adjacente, cerca de
4 km a jllsante do ]Xlvoado. facillllt::nle acessível pel:t ribcir.1 de Ba rcarena,
ent:lo mais c::ludalOS<I devido às car.tctensticas clim;Ític;IS de maior humidade
ent~o prevalecentes e. sobretudo, por se apresentar menos assoreada junto ;1
foz. As espécies de moluscos encontradas em l eceia, denotam a explo r.IÇ30 de
biótopos litora is diferentes, n:io sendo, porém, necessário percorrer m:lis de
5 km par::t se obterem 10el:IS as espécies identificadas na camada mais antiga. do
Neolítico Final (Cardoso, Soares e Silva. 1996). A própria connuênci:1 d:1 ribeira
de B:lrC"Jrena com o gmnde estuário do Te jo forn13ri:1 ent;1o pequena enseada
cujos fu ndos, postos a descobeno na maré baixa. forneceriam ostr:.IS. berbigão e
amêi;Oas. enquanto que lap:ls, me..x ilhões e vieims provinham do Iilor.\1 rochoso
ou arenoso adjaceme, da zona intertidal ou já infralitor.. 1 (caso da vieim). Tam-
bém a pesca, com anzol , o u com rede se e ncomra documentada. efcdllando-se
a p.1nir da pmi:1 ou em pequenos ba rcos (Cardoso, 1996a). IdemificarJm-se res-
lOS de pargo e de dour.. da (Antunes e C:trdoso, 1995), compatíveis com os
anzóis de cobre e os pesos de pedr.1 encomr:.ldos já cm níveis C'Jlcolílicos.
Enfim, a captum e consumo de aves encontl'll-se ilustmda por numerosas espé-
cies selvagens idemifiC'àdlls (Gollrichon e Cardoso, 1995) - a pe rdiz vermel ha, o
pomoo bmvo. o corvo. o grau , o fulmar. uma grande mpina, o ganso patola -
e cvent u.tlmente domésticas (o galo), cuja confirmação faria dos reslOS de
Leceia os m:lis antigos e m contexto peninsubr, a P;lf dos encontrados no
po\"Oado do Z:unbujal (Oriesch e Boessneck, 1976). Enlre todas, :wu!t:t , pel:t
abund5ncia. o ganso-patola. ave de arrib:\ção hoje SObretlldo confinad;\ :1 domí-
nios litornis mais setenlrio n:lis (Escóci:t, Noruega, IsI:'ndia), seja devido à pres-
s.io humana. sej:1 e m consequt:ncia de altcmções cl imáticas globais, ligadas :I
perturb:lções d:ls correntes oce:'nicas (Cardoso, 1997).

o Anl/wólogo I'urtl/gu,,",s. Série /I~ 16. 1998. p . 97- 110


102 jotlO LI/IS Qmlo.w - O /JOl'Otulo JorliftclIdo prl-bisl6rico de l.«eIa (Ol'ims)

Fil!_ 2 - Fases cuhurdis idcnlifk':ldas <:111 I...·<.:cia. co m cxpl"CSbào ~",tr:lligt1rlC".I . :I p:utlr d:l tlpologb
(!:Is ccr.lmil'aS ~·lll'Olll rJdas. Em Ixlixo - F:l'>C I, N..:olítko I'in:. 1 (V3S1J$ dl' bordo ,kntC:I<.!O, [,LÇ.ll' t~!n."
n;ldi.~ IL'l:1S). Ao (l'mm - Fase II. Cakolltico In icial (taça" c C(}!XIS l"()1I1 d~'(.urJçóc~ GlrlclJd.l'), Em
cima - CalcolítkO 1'1...'110 1'111:11 (n.....:ipitmlt'S com d.,.-c;or.lÇ<k>. ('111 -rolha de.> :Icic ia " C cm ·ClU<;íf...rJ" c
cc:r.lmÍC".tS C"J I1lp;lnifonul."i.

o ArqllOOlogo Porlll8//és, SérU.'/V, 16. 1998. p. 97-110


jodo Llfís Carrloso - o pOIJO(UJO forlificiIlJo pn!-bislórlco de la:1!Ú' (Qt.'inlS) 101

NW SE

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flJt. 3 - Cune l':.'llr.lugr.ínl..<U fc-.di1.alk) no interior d.J :ifC".t e;c:l\~lúa, <:fUre as dU;ls primdrds lintu~
de{en..~iV:I~_ 1.<:~;('nd:l :
I - C:ml;ld:1 2, do C:lknlirkf) I'leoo, conslilUíd:1 I..'·,scnd;llmentc pOf hloco.~
l'mIXll:id()l> cm m:um; tem";':l :I(-:I"I:lI1h:ld.I, cum ",-'Cd(Hl:unento de Ian:irJ n:l l";l'c: 2 - C.1111:1cl:l 3. do
CaIl'QIilk'o [n;l;:l1. Olnst;luid:1 ~oh,..,!Ud() por ucpósito :lrgilOM) :lm~rd:ldo: 3 - Cmn':ld:! ,i. du "'e",li-
liro Firol. t:;OITl..'SpemÚlmlc ~ dcpó~ill) argilo-tcrrOM) :I"cnndh:lllo: <i - "lcrr:1 ~-.:I - do sub.<tr.tlo
gt-ológil:n

Por o\'ltro I.. do. desde o NI.."Olítico Fin~1 que :ll>und:lv:am todos os ~nim.:li$
dom6;licos que ~ctU:llmcntc constituem a nossa I>ase :Ilimcnt;l r de proteínas:
reb:mhos de ovinos e caprinos: V:U'IS de suínos; e man.. das bovinos dispersa-
'l;lm-sc pdos paslos envoh'enles do núdt:o habitado. Os I>ovinos domésticos
seriam mesmo já aproveitados como anim:Lis de tracção, em :tl';.tdos e carros,
consllIuindo um dos elemenlos mais expressivos da chamada ~ Rcvo luçiío dos
Produtos Sccund:írios cu jos primeiros ind ícios, em Leceia - í.urrespondcntes à
M

abundância dos seus próprios restos - poetemos segurJmeme situar no Neolí-


tico Fina l.
Entre a primeira ocllpaç.1o da platafoffil.'l rochosa de Leceia e " seguime,
logo do início do Ca1colítico Inici~1 e d~lada c. 2800 anos a. c.. mediou inter-
\'310 de algumas dezenas de :mos. como sc í.undui pelo eSlUdo estatístico d:ls
d:lIas de f:ldiocarbono disponíveis (Somes e C.'lfdoso. 1995: úlrdoso e Soares.
1996). As í.';ll';.tclerísticas eb economia :lgnrp:lSIOril parecem reforçlr-se: tal can-
dUS.10 é illlstf:ld:1 por três lajeados de pl:mw circular (Oll'do5O. 1994. fig. 15:
1997, p. 44), consider.ldos como emb:IS:lmentos de eifls p:t1';.1 o tl';.tb:llho dos
cereais ou a secagem de leguminosas corno a fava, cuja presença incarbonizada
cm Vila Nova de São Pedro. Azambuja, onde foi IX.-'Col hid:1 por A. do Paço
(Paço c Anhur, 1953) requereu prévia scalgem ao sol. Em 1998 escavou-se uma
CSlrutUI';.\ esped:lli7.ada na farinação: tl';.lI:1-se de recinto definido por cmbas:.l-
mcOlO de pequenos blocos irregubrcs, de planta sub-circular irregular, cujas
paredes e Iccto seriam conslilUídos por r.lmagens, No seu imcrior IX."C01her.uu-se
diversos domlcmes e movemes de mós manua is. indicando a existência de dis-
positivos que. podendo funcionar e m silllultâneo, mais reforç::un :\ importfmcia
da prodllç:io cere:llífer.\ com a qU:11 dircct:unente se relacionam . A integração
deste unid:lde n:l Fase IV construtiva, pertencente ao final do Ca1colítico Inicial.
/04 Judo /.s,i~ Cardoso - O pomlllloforliflClIllo pn."tbist6rlco lU: 1~'Cdll (OdrtL~)

a mesma cm que se integr.un :I!õ três eir:Js su pra referidas é bem expressiv.\ da
intcnsificaç.o e d :\ eSpL"Cializaçio da prodUÇ-IO :Igro-pasloril então verificada.
Com efeito, no aumemo da produçlo, entrevê·se, li breve trecho, a conse-
quente criaç:io de e.xcedenles que careciam de protC(:ç:'o, pois deles dependia ,
em última anál ise, a própria sobrevivt':ncia da comunidade em tempos de maio r
penúria alimentar. Estruturas cspecia liz:ldas como a$ rderidas, explicam-se,
pois, no contexto de in1C n si fic::l!~:ito económica que caracteriza todo o Calcolítico
estremenho.
A necessidade de proteger o referido sobreprodulo económico. excedentá-
rio em LeceüI pela primeir.1 vez, devido ao sucesso da explor::'ç:lo agro-paslOril
dos férteis terrenos :Idjacentes únu3-se de solos crómicos bas[llticos, de Classe
A, muito peS<ldos, então peb primeira vez agricult:lveis graçHS ~ inlroduç;1o do
a"ldo) justificou, logo no início do Calcolítico, a construçüo, em Leceia, dt:
imponente c com plexo dispositivo defensivo. Na sua execuç:lo. por certo
dur::mte dilatado período de tempo, entrevê-se comunidade que se permitiu dis-
pens:l r das activid:ldes produtivas pelo menos parte cio seu segmento mais
activo. Consequentemente, a edifk-a\-"':.10 da fonifícaç:10, determinada pela neces-
sid:tde de protecç-io dos bens aludidos, apemlS fo i possível pehl sua própria
existência.
Ainda que de finalidade cminentt:mentc defensiva, nela não custa ent rever
a exterioriz:lç:1o do sucesso de toda lima comunidade, servindo como m:lrco
notável na paisagem, em vez de nela se dissimular e. ao mesmo tempo. como
elemento dissuasor de qualquer gnlpo riv.. l que se aventur.lSSC :10 seu aSS;tlto.
Enfim. ali se reviam todos aqudes que, directa ou indirccwmente par:J el:l tives-
sem contribuído, constituindo, deste modo, elemento unificldor e agregador da
respcctivll comu nidade . De facto, O segmento popul:lcional mais numeroso e
menos diferenciado soci:tlmente seri:l obrigado a viver extnll1)uros, situaç:io n:1o
apenas sugerida reI:! desproporção entre a imponência das eSlnllums defensi-
vas f:lce ti exigu id:lde d:1 áre-J prOlegida: na encosta adjacente do v.. le de Barc:\-
rt~na , dete<:t<lmm-se fundos de C'Jb:tna <linda não explor::tdos.
Deste modo, a crescente complcxifiC:Ic,"':.10 social, que acompanhou o pro-
cesso de intcnsificaç:1o e<:onómico, exprimir-se-ia a vários níveis, a comec,'ar
pelas car:\clerístiCJs do próprio dispositivo defensivo: a coerência de todos os
elemenlos que o constituem, organizados em três circuitos de mur.llhas estreita-
mente articuladas, revela concepção prévi... talvez por '"eti le ~ que sabia exacta-
mente o que fazer e como fazer, :t qual compe tiria ainda coordenaç'.1o do tmba-
lho de todos :I<jue!cs que se ocupar:un (1:1 s ua construçào. A perfeiw nnicubç'lo
dos próprios re:lrr.mjos, restauros e acrescentos que t:11 dispositivO conheceu
1Ilterionnente, ao longo da sua vicb útil. mostnl que li sua exccllc,."':.io foi também
metodicamente Icvad:1 :. pr.:ítica, respeitando também plano pre\'iamentc deli-
ne:ldo.
Tal situaçlo rclleCle-se aind:l mi própri:t o rft:tnizaç:lo do espaço defendido.
cujas canlcterístic:IS prOlo-urb:mas, SÓ por si, chegariam panl evidenciar a com-
plexificaçào da sociedade CllcolítiCl da lbixa Es trcmadunl. Pode dizer-se que
os habitantes de !.ccei:! viviam em constante sobressa lto. como se conclui pelos
:.ludido.<; e sucessivos reforços. restauros e modiDcaçõcs introduzidas no disp(l-
silivo defensivo, 0$ quais têm, na panóplia lítica de índole bélica existente n:1
época (ponlas de seta, punh::tis. Ixli:!s de funda. machados) confirmação m:He-
rial indiscutív<:l. Mesmo cslrutums n:io habitadas, como as eir:~s atrás referidas.

o Ar'l''''ólO8<J l"oT1uJ,I"('S. $Vrl" /I : 16. 1998./,,97-110


Joiío ll/ís CltrtlOSO - o pouxlllo fOrlificlHlo pnl..hi<;t6rlco l/e !.L'Cdll (Oeim.~) <05

romm constmídas intramuros, faelO revelador do clima de instabilidade soci:tl


da época.
Des te modo, o grande :Iglomerado humano que era I.eceia, captaria produ-
ções e recursos de toda a região envolvente, ex plor:.lda tnelodic.lI11ente. cuios
prooUlos e mm depois lransportlldüs para tr::msforrna.,.-ào final e consumo intra-
mums. Além dos cereais, um outro desses produtos er.1 o sílex, explomdo em
pelo menos duas minas a céu abeno, ambas a menos de I km de d is!:1nd:t,
Que ;tbllstecia m o povo:,do, atrav{:s de núdeos e bsc:ls cm bruto al i, ulterior-
mente tr:.msfOnllad'ls em variados instnunentos (Cardoso e Costa, 1992; Cardoso
e Norton. 1998). Tais testemunhos reforç:un o papel de L(''<.'ei:1 como pólo agre-
gador do rovoarnt:nto e das actividades económic:'ls :1 cscab regional. Assim $('
compreende a sua implantação no terreno, onde, por ser facilmente identificá-
vel, const ituiria também expres.~i"a eXle rioriza~::\o do sucesso d:1 comunidade
que nele S(' revia ; :l~sim sendo, Cr.I implicitamente também um símbo lo. sem
Que deix:lssc de possuir <.,Ir{icter eminentemente funcional, como imponente
fonifiC:J~':\o que era.
Um dos aSlx>CIo.<; em que aquele poderio económico mais se evidencia é
na presenç::t de m:!Iérias-primas exógenas, ohtidas por pennuta de exc(.'(lentes
da produçtlo :Igro-pastori l ou da explor:.u;:ào do sílex. Nestl: contexto, :Ivult:\ o
abastecimento em rochas dur:.ts, do gru po dos anfiboloxistos. indispensáveis ao
quotidiano (bs populações ali $\..",<liad:ls. Com efeito, cm tecei.. , ceral de 70%
dos artefactos de pedr.:! polida são reitos de tais roch:ls. cujos :lnOr::lmentos mais
próximos se loc:l lizam na :íre,1 de Montemor-o-Novo, a mais de 100 km de dis-
t:mci:\ cm linha recl:l. Deste modo, configuf".J -se a existência de vi;}s comerciais
inten<;as. estlí"ds c perm:mentt.:'s, desde :IS pedreiras, onde er.Ull obtidos verda-
deiros lingotes líticos, até aos p()Vo;ldos (1:1 Esln:madura. onde se procedia à
sua tr:.lnsformaç:.l0, cm diversos :Irtdactos. de acordo com as necessidades espe-
cffie:ls de ca(b comunid:'lde. Esta realidade p:'11t:oeconóm ica constitui sem
dúvida um dos exemplos ma is intere$Sallles de ab:lstecimento de nmtéri:ts-pri-
mas a long:1 dist:lnc i:1 e cm larga esc:t1a de wda a Pré-história t:uropeia
(Cardoso e Carvalhos:!, 1995; li ll ios, 1997). Por OUI !"() lado, o estudo da dist ri-
buiç-jo dos diversos tipos pelrog r~'t fkos utilizados na wnfeq::.l0 de artefactos de
p!xlr::1 polida (m:lch:ld05, enxós, sachos, escopros, elc.) recolhidos ao longo da
S<.'q uência cstrmigr.ífka, revelou um" presença crescellle de rochas anfibolíticas,
do Neolítico Final ao C:lkolílico Pleno, em detrimelllo dils roclms duras de o ri-
gem local ou regional . de menor q u :t1id~lde, raeto que sugere melhorias na
org'lnizaçào logbtiGI no seu aprovisionamento, a q ual IXISS;!. for(.."Osamen te,
pelo reforço da capacidade aquisitivl1 dos respectivos hahitantes.
O cobre é oUlro produto exógeno cuia o rigem m:lis provável se situa no
&lixo Alellleio: as min:ls mais próximas s:\o as do Cerml. Com efe ito, as escl1S-
S:1S ocorn;ncins cuprífer:.ls registadas na Estrernadur.! (ma laquitc na regi:1o de
Óhidos) estariam longe de asscgur:.lr todas as necessidades da época.
Em Leceia. o a parecimento do cobre - acompanhado de r.í pida ge.ner.lliza-
çào - verific-.J.-sc "penas no C I1colílk."O Pleno. altum em que lodo o dispositivo
defensivo se encontr:.lVa j:1 cm fmnro declínio, o que demonSlm " ausência de
conexão enlre as duas realidades - a metalurgia do cobre e " ex istência d:t for-
tific lplo - re1:tç:1o tão valo riZ:lda pel:is doutrinas difusionisllls de dé(.'adas passa-
das, que pretend iam ver em tais fortaleza s a presençl de colonos oriundos do

o Anfutúlogo l>OrruRué;. Série 11'. 16. /998. p. 97-110


106 }olio LI/is CmrlC6Q - O PQIJOtulo fQnifkm/Q pré-bist6riro de U'Ce(ll (Oo.>lrm)

Meclilerr.1neo Oricntll, que ao litoral eSlremenho teriam aponado, em busca


cl:iquclc então pl'~cioso metal.
O :Lprovisionamemo do cobre fez-se em moldes idênticos ao das rochas
anflbolílicas: O minério seria tr:.lIlsformado em pequenos lingOtes, à boca (1::1
mina, depois exportados para os povoados, o nde scri:un :Iproveitados par:.I
!X'"<luenos anef:lClos (sovelas, agulhas, (ur:ldores), cujas (unções os seus equiva-
lentes líticos ou ósseos desempenh:lriam de modo menos satisfatório. Recolhe-
ram-se vários desses lingotes em I.ecei:! : o respecti vo eSllIdo metalográfko reve-
lou terem sido produ zidos a partir do cobre n:uivo, enl:10 disponível à
superfície ou a pauC'.! profundidade dos "chapéus de ferro" que pontuam a
f;lixa piril05:1 ibériC:1 (Cardoso e Fern:lndes , 1995: Ca rd oso e Guerra,
1997/ 1998), além dos numerosos filões de quanzo com mineralizaçãcs cuprifc-
r:lS, lambém ali existentes,
Em Lecei:i , a presenç::l de metalurgia do cobre apenas no Calrolítico Pleno,
além de demonSlrJr que a - Revoluçl0 dos ProdUlos Secundários~ estnv:1 então
ainda e m plena afirmaç:io, tal corno cm OUU,IS regiõcs do P:lís (Gonçalves,
1991), vem refon;'ar, com m:lb; um argumento, o crescente POdl!f aquisitivo
daquela comunid;lde. Esta e outr.lS inoVllções tecnológiC'.Is, como ;JS re);niv:ls fi
especializaç'lo c diversificJç'lo da produç:l0 agro-pecu:íria, exemplificadas pelas
produções de I:IClicínios, document:ldas por fragmentos de cinchos de barro,
que em Leceia só su rgem no regislo arqueológico no CaJcolítico Pleno
(C.1rdOSO, 1997), ilUStr::1I11 o sucesso do modelo de desenvolvimento .. dopl:ldo.
Como compatibiliza r, então, a :Iludida riqueza m:uerial destas popula~-õcs,
juslllmenle ;IS mCSIll:1S pam as qU:lis :1 fonificaçào, crigkl:i para deres:1 desses
mesmos bens, pel:ls SU:IS antc<"'CSSQras do C:llcolítico Inicial, j:í miO faria sentido?
Cremos que :I expliC'dçJo poderá ser procur.ld:l no próprio modelo de
desenvolvimenlo :ldOpl:ldo. Com efeito, o provável aumento do número de
h3bitames, p:ml v310res mlnC'd antes .. tingidos, em oonSC<luência directa de
m:liores níveis de produç:io, vi:lbilizados pelas referid:1S mclhorias tecnológicas,
Icria obrig:ldo ~ procura de territórios para explor::lç'lo :lgro-p:1storil necesS:lria-
mcnte maiores, mas também cada vez mais afastlldos dos princip:lis núcll!os
h:.bitados, como Lcceia, Em consequência , as produtivid:ldes que dcles se
poderiml1 espemr seriam prejudicld3S pel:! distância .
Da compeliç-Jo genemlizada então verificada pela posse das terr.ls necessá-
rias ao sustento de um:. população em rápido crescimento, resu ltou O estado de
tensão soci:11 pem13nente que C'.lr.lClerizou quase lodo o III milénio a.C. nll
Estremadura, expressiv3 mente ilustrado por imponenu.'S fonifiC'dçõcS como :1 de
Leceia, Aqui, poderá mesmo encontrar-se registada , pela primeil"3 vez, uma des-
sas situações de conflito, ocorrida j:í no Calcolítico pleno: em eSl"rutllr:1 de :lClI-
mula~:.lo de detritos domésticos, talvez correspondente a silo entret:mto des:lCli-
vado, recolhCl"3m-se diversos restos humanos, muito incompletos. O respectivo
estudo 3ntropológico revelou, pelo menos, a presenç:1 de três indivíduos, todos
:.dultos e do sexo masculino (Cardoso, Cunha e Aguiar, 199 1). Tais resu ltados,
conjugados com as condições de jazida, <:orroboml11 :I hipólese de est:lmlOS
pcr:lnte despojos de um bando de at:!Cdntes que, depois de dizimados, n:10
teri:lI11 merecido sepultUr:I , :10 contrário dos habitantes do povoado, tumulados
extramuros em sepulcros colectivos.
Em consequência de tal clima social, dominado pela guerr.l endémiC'd, os
territórios explor::ldos por cada um desles núcleos fonific.ldos, tomaram-se pro-

o Arrl"~ Port"sul!:s. Série IV. 16. /996. p. 97-110


Jodo l/li.~ GimlO$() - o p(J~:(){/{lo fortificlIdv pri'-bfslórlco (Ie /,1,/,,'1(, (()(!ims) lO'

gressiva mente insuficientes p:11"J. prover às necessidades de uma popuhlçào em


permanente crescimento: estima-se em cercol de 200 babitnntes os qlle provavel-
mente se abrigariam em Leceia, no apogeu do povoado. verificoldo no Calcolí-
tico Inicial, tendo em conta um:! Ílrea constmída de cerca de 10,000 m 2 (Ca r-
doso, 1994).
A breve trecho. a comunidade ficou confinada aos terrenos mais próximos
e acessíveis. levados, assim, ao limite das suas Cllpacidades produtivas, conside-
r:mdo o potencial técnico ent:lo d isponível: o recurso :1 caça. ii peSC'J e ii reco-
lecç:io no 1Ito rJI :Idjacente. a cerca de 4 km de distância. partindo do princípio
que tal acesso se poderia continuar a fazer sem riscos. não bastnri'l. por si SÓ,
par:! prover a todas as necessidades. O modelo explicativo que permite explic! r
a rea lidade arqueológic l posta a descoberto em Leceia, foi de lineado por Silva
09(3) e recentemente reana lisado por Alardo 0993-94 ; 1999, p, 2 16). O resul-
lado final poderá não ter sido. porém, o decréscimo populacional visto como
um todo: per,mle 1<11 situalr.l0 advers:l. a cis:l0 da numerosa comunidade teria
sido a respost:l encontr:.tda par:J a sua pró pria sobrevivência: ela encontra-se
sugerida pela nítida reduç,lo dos h:lbilanlCs que pcmlaneceram em Leceia. bem
evidenciada pe"t retrdcç-Jo d:. úre::1 ocupada intramuros. mi qual as estruturas
defensivas do Calcolítico Inicial. se tomaram inúteis. compens.1.d:1 pela que, de
fonna crescente, doravante ocuparia os C'Jmpos da Baixa Estremadura. Tal pro-
cesso. \'erifkado após 2600 :11105 a. C.. prolongou-se até ao abandono tOI,,1 do
povolldo. lIinda antes do fim do milénio, ent:l0 ocupado por populações porta-
dor'as de cerà micas campanifomlt::s.
A plena aflrm aç:lo do " fenómc no~ cmnpanifonne, centrado na 8 1remadur:.1
em meados do III milénio a. C. (Ca rdoso e So:tres. 1990-92). é tr:.ldidonalmente
conotada com a ruptura d o sistema económico-social baseado em gmndes
povoados fortificados. acom pa nhada d a proliferaç:1o de pequenos sítios de
encosta,
T;ll reorganizaçüo demogr.!flca , cuja origem se situa cm profundas transfor-
mações económ ico-sociais como as referidas, embora tenha coincid ido no
tempo com a eclos:l0 do ~ fen6I11eno - campaniforme n;l Estremadu r:.l é dele
independente. No estado actual dos nossos conhecimentos, afigur:a-se que li
reorganizaç:1o da sociedade calcolítica se exprimiu na Estrem:ldum dos meados
do III milénio a. c., por um:1 melhor fl ex ibilizaç-Jo das modalidades de explora-
ção de territórios: as comunicbdes abandonaram progressivamente os diversos
sítios fortificados, o nde antes se concentr:lvam, embora nalguns a su:t presenç:1
se tenha prolongado pela Idade do Bro nze (Zambujal, Vila Nova de S. Pedro).
Conhecem-se diversas granjas ou a lde ias de bllse famili ar, sucedfmeas do
gr.mde povoado fortificado de Leceia e nas SU:IS prox imidades. como o Monte
do Castelo, (Cardoso, Nonon e C:trreir:l. 19%), o Cas:1l de B:trronhos (C:lrreir.l.
Cardoso e Lopes, 1996), o povoado de Camax ide (Cardoso. 1996b), ou na
região a none da serrJ de Sintr:.t (Carre im e Lopes. 1994; Cardoso e Carre ir:.l ,
19')6). Com efeito, a m:mutenç.l0 de práticas :Igrícolas. de Clm1cter cere<l lífero,
por pane dos gm pos portadores de cerà micas Cllmpa nifo nnes, comprovadas
por elementos de foice de s ílex sobre lâmina, de bordo serrilhado, mostmm
que a ocupação e explor.1Ção dos solos n'-Io foi interrompida, :tssumindo, ao
contrJrio. C:1I"Ílcter mais intensivo e est:ível.
Assim sendo. o retorno. no final do Ca lcolítico. a fo rmas de povoamento
vigentes até :'0 Nt.'olítico Final viabilizou, t:1o somente . a ple na libe rtllç:1o das

o AnfUt-&ogo I'PrlIl8"L'S. StJrlc II~ 16. 1991J. p. 97-1/0


106 jOOo úlis Curtla;q - O pat'OtuJc, fOTtificlltlu pré-blsl6ricQ (Ie LRO!ÚI (Ot.-tms)

capacidades produtivas e, deste modo. o próprio sucesso das comunid:.des


humanas aqui inS[:Jl:Idas. Longe de consl ituir um retrocesso dmmál ico. verifica-
se, :10 invés, o :Icréscimo do abaslecimenlQ de m:llérias-primas exógenas
(sobrcrudo o cobre) cuja imponflnci:t, no decurso de lodo o c:unpanifonne, é
nagrame. reforç.mdo a Icndência p.1ra o aumento do abastecimento de maté-
rias-primas exógenas. observada ao lo ngo de lodo o Calcolflico em Leceia.
As redes de circulaçio tr.IIlSrcgiOnllis anterio rmente e.'~labek-'Cidas, fOr.IIll,
mesmo, reforçadas. acentuando-se a presença de produtos de gr.mde difus;10 e
cswnd:mli~l~":.lo, de fabrico ou inspir:II~'ào supr:J-regionaJ. como são os and:tctos
que integram o chamado ·p:ICOI(.· .. c unpa nifonne (vasos ~ marítimosM. pontas de
PalmeI:!. ad:lgas, br.Jç:.lis de arqueiro. botões em fonna de M tartarug:t ~ ou çom
perful'3çào e m ~VM. entre outros).
Por outro lado. os artefactrn. ditos de ~prest ígioM. alguns de ouro, cuja pre~
senç:t n:l Estrellladur::t é, pela primcir::l vez, evidente (brincos com decor::tç:1o :t
repuxado como os recolhido na gntta artifici:tl de Ennegeim. Torres VOOr::IS;
anéis em espi!':tl. contas bicónicas. diadem:ts e aplil..':.lçõcs diversas em folha de
ouro). sugerem a manutenção de ~cl i tes M region:lis: :t dt.·sarticulaç:lo cio padr:1 0
de povoamento dominante não teria sido acompanhada pelo retomo ao modelo
soei:tl neolítico, ainda que, em muitos casos. tenh:ull sido os mesmos lugares de
novo ocupados. depois de um hi.1to de mil anos.
A evidente mobilidade no território. camcterístiet das comunidades c-.ullpa+
nifonnes. não signific t forçosamente indício de igu:llit:tris mo: li difercnciaç:10
social esboçtda desde o Calcolítico Inicial , atinge a plenitude, na Eslremadum,
na Idade do Bronze. Assim sendo, o fim do Cakolítico, representado pela plena
afirmaçJo das çerfimk:tS c llnp:tniformcs, cui<> epílogo se situará na regiào antes
cio fim do III milénio a. c.. <:orresponde à lfansiç;10 pau1:ttíma pam uma nova
estrulUl'3 social. base:tda na figur::t do chefe e dos seus próximos, a quem com~
pctiri:t a defes t c administraçào de te rritó rios bem definidos. numa conjuntur.l
diferenlC da compctiç.io generali7"<lda Oll de ~guerrJ. endémica -, que Gtr:tcteri+
zou parci:llmente o C:tlcolítico.
Neste contexto se inscreve a bem conhecid:t p:móplia bélic.t campaniforme
pertençente ao emergente segmentO guerreiro de um" soeieditde que wmbém
cr::t dc comerei.lIltes. artífices, pastor(.~ c agricultores. Assi m. a fl'"--emcrgi:!nci:t da
fauna selvagem que se observa nos níveis campanifonnes dos dois po\'o:tdos
alvo de estudos arqueozoológicos - Monte da Tumba. no concelho de Aldcer
do S:tl (Antunes. 1987) e Porto Tordo. no de Ferreir::t do Alentei<> (Rowley-
Conwy. iII Amaud. 1993) - podcr:í ser imerprewd:t como (."Onsequ(?ncia do
aumento das actividades cinegélicas do segmento do minante: a mç.t desempe-
nharia assim um meio de afirmaçilo do estatuto social de quem a pr.ltic.tva. ao
mesmo (empo que serviria como exercício par::l as actividades bélic:lS. Outra
hipót(."SC também cr(.'<iível, seria a de considerolr a (:tuna cinegélka. domin:tntc
em ambos os IOCtis. como simples recurso alimenwr de populações tomadas
pouco sedentari7"<ldas. hipótese que, aliás, não é incompatível com a primeir.J ,
no est:ldo actual dos nossos conhecimentos. Po rém, nilo seria ess:t a realidade
dClllográfic:t dominante na Estremadur::l : os dois sítios onde se efeclUar::lI11
observações :lrqlloozoológic.IS, :Iinda que muito limilad:ls - Malhadas ( Palmel:t)
(Soares e Silva. 1974+77) e Monte do Castelo (Oeims) (C:trdoso, Nonon e Car-
reir:t , 1996), moS!.r::t que em pequenos povoados ou granjas da refcrid:t rt:giilo
em frequente, no d<.'Curso do mmpaniforme, o p:tstoreio de gmnd<.'S bovídeos.

o Arrllll'6kJgo /'Qnu8u{'S. SérU'/V, 16. 1998. P 97-110


jotifJ f.l/is OmlO$<I - o IJOI:otlllo fortiftctll/o pn.'i..bi,;/órico dI! I..!c:t'i(/ (Odrt~~) 109

incompatível com populações pouco sed entarizadas. condusil0 que é corrol)()-


rada pela c.:x istC:ncia. em l ais loelis. de uma ccre:llicuhur:.1 cspt!Cializada.
Em resumo: o abandono 'luas<:: generalizado dos povoados fortificados , .. 1-
colíticos da Baixa Estremadur:.l . em me:ldos do III milénio a. C. tcd sido conse-
quência. e~sencia l melUe, da adopç:l0 de sistema de desenvolvimento econó-
mico-s(x:ial vi ria redum.br no seu próprio fr.K~ISSO: por i.sso, as com unidades,
ao se aUlo-fr::.gmentarem, num proces,.<;ü essencialmente endógeno, c indepen-
denle da emergência das ced micas camp;miformes na rc.:giào ( p rocesso que
decorreu em par.delo, já que foi recen tement e situado ainda n a p rimeira
met:ldc d o 111 milénio a. C. cm Leceia, cf Ca rd oso e Soares, 1990-92), assegur.l-
,I
mm sua própria mudanl.'" sempre no sentido do aumento d:1 complexific:lçl 0
social e 0:10 da ek'C,ldência e empobrecimento, como ingenuamente poderí:l-
mos ser lev:ldos a ~Idmitjr, fa ce ii re;lliebde domin:mte, de numerosas pequenas
gmnjas ou IXJvo:ldo.<; abenos, ponru:mdo :1 pai.'iagem.
Tr:Jla-Se, :Ifinal , de exemplo, velho de mais de 4000 :11105, resu lt;l nte d;1
:ldopç<io de um modelo de desenvolvimento que ho je diríamos ~ n ão susten-
tado-. Nest;1 medida , constitui m o ti vo p ar:I sobre ele medita rmos. É que o
modo como pensamos e repensamos o nosso relacionamento com o ambiente.
tr:lçanc!o em cllda momento os contornos dess.."l difícil mas vil:11 convivência é.
na Slla essência. afim.!. uma questão cu ltur:.d.

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