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REPÚBLICA
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conre~fo
HISTÓRIA
DO BRASIL
REPÚBLICA
da queda da .\,tonarquia
ao íim do fatado \!ovo
Hl~'TÓRIA NA UNIVERSIDADE
lll~TÕRIADOBRASILCOLÔISIA i,,i_M_,
HI\ l t)RIA 1)() fUtN'III c·c,, f ~\tPOllÃflo.H) <-1,,,, li•
1USTORIA DO BRASIL RCPÚBUCA .1(,,..., ~
HISTÓRIA
DO BRASIL
REPÚBLICA
da queda da Monarquia
ao fim do Estado Novo
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editoracontexto
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Todo, °' d U'Ci 101 dc,ra cdiç,io l'OCl""adOI .i
t.J1mu(:muo.io(bl11ua Puniy l.tda.)
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Sumário
lntruduç.iu ,,,._......_ 7
A roda da hiStória quer girar mais r:lpido: a crise dos anos 1920. • ......71
Da crise do Estado Novo nasce uma RepúbUca democrática . ...... _ ..... 155
mento social aboUcionisra surgido nos anos 1880 não foi capaz de mudar
.a pcr$pecd\'a consc:r"ador.1 e excludente da \'kla polí,ica e social do Bra~il
ao longo do p rocesso que lcYou ao fim da cscraYidáo. Apesa.r disso, é
inegável q ue a história da República desde 1889 significou a entrada na
cena 1>olfrica e ccon6mic:~ de outros gru1-)()~ ~ociais, ((llC pn.-ssionavam
por mais direitos. maior representação política e mai.s panicipação na
distribui<,~() d~s riqu(..."7.:IS n:tci(m:tis.
A h istória da Repl1blica brasileira ac~ a mecade do sécu lo XX, que o
lc:iwr verá cxpo~ ao longo <lcrc livro, é<> rc5uhadu drarn;'itia, tia força
inercial das esuucuras políticas e económiClS exdudences, herdadas da
Colónia (: rcfors·a(l:b ('.Otrc o nn~I do b('Cu lo XIX e X). bOb uma roup:1gcm
republicana, e as lucas sociais múltiplas e plurais para superá·Jas, )('•ando·
se etn conca todos os 1n:.1tizes entre wn polo e outro.
Da República •
da Espada ao
condomínio de
fazendeiros:
a consolidação da
ordem republicana
carreira milirar. manter boas relações com a nobre.za era mais impor·
t",rnrt do ((UC o v:alor e o mériro ind ivid uais.
Foram cn<.-s grup~. ao lado (lc lf<lcrcs rcpublicanm popul:arc,., como
Silva Jardim e Lopes Trovão, que ajudaram a desgastar politicamente a
imagem da Monarquia junco à sociedade. Quando foi derrubada pelo
golpe liderado por Deod oro da l'OnM..-ca. ;i Monarquia já (,"l"'d um regime
(1uc ti nl1a penfülo apo ie.» fu n<larncnrais entre as dite~ c:ivl) e militarQ.:. Já
não havfa ninguém para defendê-la de maneira vigorosa, a nl o ser algm,s
poucos senhores de escr:wos exl.rent:unence coo.servadores, principalmence
da o u trora impo rt'.tntc rc:giáo do v.tlc: e.lo 1•ar-..íh a ("'rlRJ). A n.-:..ign;içâo tio
velho imp<:mdo r ao rumar pam o exílio d ou rado cm Paris, sem esboçar
grande n,:as.1io ao golpe de t<'.stado, é o melhor retrato da dcT<:rior:iç:'io <lo
amigo regime. Até Pedro II par~cia es111 c:a11Sado da Mon:arqui:a.
AS CORRE.i'fTES RJ;PUDUCANi\S
Os rc.:puhlic rnt~, em bora t.uncortla~m cnrrc ~i c.1w..: a Mon3rtJuia
não clcvcria mais rll,>cr a 11:1ç.ío br:t!iilcira . não fonnanm o m bloco poli~
tiro e ideológico único e coeso. H :tvia vi ri1s correntes republiCl..llâS que
ci:press:iv:ull visócs d iferent~ de conlo dt:\'t:ria se org:rniz:ar a ~pública
no Hra};I. Os dilcma.s eram vários e, quando chegou a hora de connruir
o novo n:.-gimc e st•:.lS bases c;onstirucion.-iis, cks se rt.'Vel:arnm com nitidt7.,
dividindo a.ind.1 mais o~ republic:i.nos.
O governo deveria ser daccmralil.ldo ou ccmra.lfaado? As classes
popol:arcs deveriam ser incorporad:as plenamente na \•id:, politic..1 da noç.io,
na fonn~ de din:ito univt.·rsal ao voto? A muda nça de n,."g:imc d<.'Vcri~ ser
acomp:anhad:a por mudanÇJ,S na ordem social e coonôm ic.1? Como incor-
porar na sociedade os cx-csa-avos. agora cidadãos livf(S, tcoricamencc com
os mesmos di reitos dos seus antigos donos, mas ainda explorados CGOno~
micamtmc e, ainda por cima, alvo dt." preconceito!> raciais?
N rc.sposl-as a essas pcrgumas variavam dependendo das cor-
rem es repu b licanas. Mas depois da implan taç--lo do regime em 1889,
Gom o crcsccnce- isol:a.mcnro político dos republicanos mais radicais,
as propmrns pol írit:a!> M: tornaram cada vez mai!> pau tadas por valore)
conscrv:.tdorcs e oligárq uicos.
.l8 rusrê>Ruro111,\\n R1P1i11,:;-,1,.
ABOLIÇÃO E IMIGRAÇÃO
A LibclQÇ'lo d05 últimosescíll\·os pcb LciÁut'Cl. (3SSinacb pda p1incCS1 ls.1bd
ern m:Ú() ,-te 1888) e 2 , ·ind:a em r1U$..of.:\ de 1uMlh:-11fon!:S: estr:rngeiro11 p.tr:l S11b.s•
1i1ui1:lm1() cle-obr2~r.:w11U$gun<.bi,b111:1ç('ies$:M) p ~ iudl~()CU, t-iS.
Q uando lin:1lmenh:: ,,,e,o :1 Ab<,liçlc), p h:.a,fa ()l)U C(l,S ~c..'r.tv<).S rd:uiv.uneme
;) p<>pobçlo em $tm lt)1-:.lid:1c:lc. ('.-:.lcub"'-..e qut em~ (l,S 13 mil~ ,le br.i~tleiN)S,
h1vi:1.ccra de 700 miJ c:sa:n-os (cera.de)% da populaçlo). Desde 1872, qu.ando
a populaç¼o ,e.bti\'2 de csct:1,,u cn de l )%, :is :a.lfonW e compns de libcrd::acks
tinh:un diminuído a importincfa da popul:açioescm, ':3. como componente dcmo-
Wific.o cb sodcd1dc, e o cscnvo j:i não ena mio de obn primorài-al cm muit:lS
rCfiWCS do Br.a:sil, como nu pl'O\in<iz do None. Mas :a.lg.w u scco,es fund:imenuis
d11et."Ono1ni:.a, 001110 a l:a,•otm.1 p:mli$t:t, 11ind..1 m:uuinh:un uma dcm:1ncb 11ltJ por
e."T.1~, :M I 11"1('110$..11~ 1R86. ~~plk.11o.m1foholil..'ioni"no d:~ dites 4;1Íci,i,;uho-
r.~ At..!m di~so, ,1 re::si$tioc.. i:1 d~ muh™ a.1,ur.1 o Grn de um si~1cn1:1 i,;ct.'Ubr, :1 c~r..a-
vid-.•, poc.lc ~ e•1llk1,1e.fo pdo fa10 de \(li~ 11 Aboliçio al1r,-ui~ 11 idl'lnid:.H.lc culm-
r:ll e soei.ti eh popubçto deafrodcsccndentcS e cxigitb 2 roors2ni:z:;iç:)O d2 ptópri:t
dcfiniçlo d.:i cid:aieb..ni2. No limite. 2 Aboliç:lO 1brirb unu poro p:lr:l qucsciolW',
:ao menos simbolica.mc-ntc, :u hitt.lrqui::u soci:lis e nd;lis connruidu :.o longo dos
sécul06. dc:S:tp,11.d:mdo os que ué o momento e.sc::,,r.un no topo. A pctspcccht:1. de
h1vcr um2 popul:aç:io nq,p e livre rcivindicmdo novos dirt.itos soci:lis e poliri·
co~ ,,l.mnou uma p:m~ d.1>dieQ t(Uc ,;u,1h.av.1 oom um p,,Í> hr.mco e "Ovili1..1tlo"
cm 1nol~ eul'Olcmri)t:b. A~im, em grande p.mc, u prtUlf1cci1u t.'tlfltr.1o nq;ro
:alimcmou ,b politic.tS imigr.uui,,,.,. cm la,ga Ol.al.i, fXUf'O(_in:tcfa.s pdo.. llO\Ol> gu-
Vt:mos d:1 Rcp,íblk.,, Not.1 pcíS(-'«th•:1, o imigr,'lluc dc,·c,i,1 n,io dJ:k:"n:1.s ~il,i,timir
a 1nà0 d( ob1"1 escrava, m.1LÇ rambé-m o pl'óp,io negro «imo componcaHe t:1c:ial
da $()(icdW,C br.uildra. lmigtand.sn\O ( idooJog.ia do b1"1nquc:amcn10 andawin
de màOs d.adas. Po, is.so. a prcf<:rénda por imigranc<:s bran00$ europeus bdn<» e
aróliooJ (cspranhóts e ita.lianos). cmbor-i ,,1oscdi11p(nsusc 2 vind:a <k akmàe.s.
Qu,101Jo fin,1l111cn1c :a c.SCt.11vkl:io ,1etho11. :1 rnandta oomo Oll cx~1~1vu.,
:-e: in,;crir:un na nov-.1 oolcm ;;ocLil nlo ÍC>i tlcfinkfa apcn,b pd:111, cli1c11, br.lna11,,
cmhor-.a a vor11:1tlc dcm1ll ti\'c:5.'C maill J>o.O. Hom'C co111pki:LS ,tcgod.1\J,c11,•.1ind.1
<11~ :as.sirné:irka.s, c111rc m lihc11:1dos e i.cu;; n ·.scnhoro, e o lk•lino ccon6mko
e ~i.al dos n-oL1~1vo:. v.1ridu oonío,mc .1 rc:gi:io do p,1k Fm SJo P:1ulo. hou,c
uma progreJ.Si\'a marg.inaJização econômica do braço rw..·g.l'O, rck-g;tdo a uabal~
pontuais e daqualilicados. sul.»tituído em mas:sa pda mão de obra imigram(',
No Rio de J.1nciro. uma parte dos afiodacendc:nres 5C trm:1furmou ('m traba~
lhadores braça~ no Porto e: nas íábriCL>, .i~m de: fornece, mão de obl'a p:ua o
1r:1l>afüo J(>lnb,tko. 111,uuc11do ,1 ,raJiçáo JcMlc 1.:1~ u;mpw J., 1111,,é,iQ.
Fnoc 1881 e 1930. c1m~r~111 tJUa.:;c 4 milhOO <lc i111igra11tc::i no Rr.i::iil.
oo n 1 Os\ 1x,nugue)Q. it:1li,mO:t ç c:11~1111,(>i) 1ouli1.rndcJ 79% JC)~ mont:ancc (,"<;r
1abcL1 ,1Kguir). Qu.1x wdos <>:,: irnigr,trrn;.s s\C in::,c,1lar.rn1 no Svl e S1.1<lc::itc. mc.,-
JificanJo o 1,c1111 éwico dc::ic,1~1unQ do Brasil.
OA RtPC'gl te.\ DA l WAD,\ AQC:O'lOOM i'\k)ot: I A:tJ'\1)1 Ili.O', 19
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Hr~.aJI.,.: f.i1r1<1..çl11Aku111l~,lt (<i,..,,ao. 2001 . 1'· 14$.
U~ A RE.PÚDUCA 1:-ISTITUCIOKALIZADA.
MAS SEMPRE EM C RISE
çar o rodhio de; poc,k:r nos csr..uJos hostis à s,aa arndidanara, mas o Ít7. de
mandr-.t pouco h:ibil. O plano r(.-sumi:a,sc à Polírica <la~ ~lvas'Õ<.'S, nome
pomposo para cobrir a arcic.ulação de manobras políticas e imervcnção
militar fede.ral em v:irios eSüdos. E1n que pese o discurso mor.11.i.2.ance e
moderflit.:l.dor por tcls das "Sl.lvaçóes", 1t'io bttvil fltflhtm11 muda.nç:i
cfoth'.l na ordem social ou cconômic:i vigen1cs 1l0 pais, pois fahav:i aos
apoiadorcs dessa política de inccnÇÕc.".s anciolig.1.rquicas - operários, setores
da dasse 1nédia e 1:nilirares - a devida organizaç5o para se impor pofüica•
mcncc frente ao poderio de coronéis e oligarcas. Na prática, cm muitos
otac.lw., um grupo olig.árt11.1ico acabou .\ubstituíc.lo por outro da tn~ma
origem social, de oposi~o. tra1_.endo de \·olta a instabilidade política d os
primeiros anos da República..
O prcs:idemc da Rept.'1blica, vendo-se enredado cm uma simação
polític:i cxplooiva, logo n:cuou, e ~u governo a.Mumiu um feirio mai'> oon-
vcncional e conservador. f\ lém disso. a crise econômica, cm cujo epicentro
e.sravam os emprés:dmos para bancar a politiCl de valorização do café e a
desvaloriiaç.\oc:1.mbiaJ, saiu do controleemre 1913 e 1914. A desafortunada
política <.lo presidente, bem como as ous:klias compom1mc:ntah da jovem e
bela prirncir,1-<huna, Nair <lc ·rcffé, oomo os $31'.tl L'i de mí~ica popular no
P:al:ído, t()mar:am-sc o :~1.mto fuv()rito cfa imprcns:1 oposic:ionist3.
No plano ~ci:al, o governo Hermes d:a N)n~'CI foi m,:rcado por
conOi1os impon::t.nt('Scdr.i.máticos. Nos primeiros dias de governo, edodiu
a lkvolta <la Chibata (nO\'cmbrv <.lc l 910), pror.agoni7..ada por marinhcir~
cm :ma moiorb m:g«)$ e pobres. Os rt.'\'olrosos fa:r.iam um:1 <.."Xigênc:i3 b:í-
sia e razodvel: o fim dos castigos lisicos na Marinha de G uerra bnsilefra,
então uma das mais bem cquipad.t.S do mundo. Com a promessa de 11m
dos c.astigos e anistia aos líderes e. aos demais pardcipa.uces d.i revolm. os
m:11·inheiros recw.ram. Jnas logo perceberam cel'em sido engai1:.dos pelo
go\'erno, que cedeu is ex:igêl\cias da alta oficialidade e puniu os revolto-
sos. Houve, entáo, um:.i nova rcbdiáo, na base da llha d..ts Cobras, que
foi bomb;m.Jc:tdn pcl3.s furças lcg:tlisr:is. (.),; sobrcviv<.."ntCS 30 b<,mba«Jdo,
cc~ de 250 marinheiros, <.kpois de se rcndcrcm, for.i.m coloc:i.dos n<.l
navio S:uélifc, o "'n;ivio da monc'\ onde ao mcn~ 1O marinhei~ foram
fu:r.ilado.s e jo~uk~ no mar, antQ mc~mo <lt: d1c:garc:rn a Manat~. 1)e lá,
os que r~ttir:tm fornm <..'flviados para o rrnbalho forçndo nos seringais &1
Ama1.ônia, onde Outro5 ramos morreriam de malária.
No Sul do Rrasil, o funtasm:a dl· Canudos \'Oh.ava a aswmbr-.ar
a República: era a Revolta do Concescado. que recebeu e.sce nome por
ocorrer em um.a região disputada pelos e.scados do P:11-an.i e de Sam:1
C:uarioa. O pivô dessa revolt:1 popular que encolltrou expresdo na lil\-
guagcm rdigiosa e apocilíplic:.i:, 1.il como em Canudos, foram :as açócs
da Br.rzil Railway e da Souchcrn Lumbcr do empresário escadunidenS('
Percival Farquh;ll', que lomou à fo rç.a as terras de posseiros pobres da
região, acirrando as tensões soei-ais locais. Liderados por um "monge·,
JoM: Maria, os cimponc.M:~ se rc:bdar.aru dur,incc 4 anm, provocand o um
conAito com um sald() de 20 mil mortos.
lmpactancc nos c:srados do Norte (acuai NordcSlc), a Polícica das
SalvaçOO pouco interferiu no jogo político dominante dos estados mais
ricos e omnur:tdos politica,neme, corno Sáo 1\mlo e Minas Gerai.>, ma~
permitiu que políticos experientes. como o senador Pinheiro Machado.
buscassem nos esta.dos do None um comraponto ao peso poliôoo pau.Hsra
e mineiro. Essas manobru possibilitaram novas barganhas que acaroraff1
por colocar a ditl" g;a,kha no primeiro plano da polhica rcpublicrna. À
~ntc do Partido Rl'publitanó Conservador, tcntati\'a de uma agrcmiaçâo
com :abranbtênc:b n:idon:aJ, o s,enmlor g:nkho se camliclar(m à \iUC:t.~s:i.o de
Hermes da Fon$CCI, ma\i n~o r~isriu ~ forc;:a dos panido~ rt.1-,obJic:mos
n.:gionab oomantlado)) pdás olig;arquia~ de cada loc-..i.l. A candickuura de
Mach,1do f,,i vi.sra (:orno :un caça pcl~ <lu:u oligan1uias mai) importann:s
q ue <lomínav.1m a c:eno polític:~, $:io l'aulo e Minas Gcr:ii.s. Os <loi.s ~rados
se uoiJ':un para fanç.'lr uma c~mdid:uura imbatível, daodo oristm ao mi10
da invencibilidade dc.icoral da Polílica do OiJC com Leite. consa.grada no
Pacco de Ouro Fino. e.m 1913. Depois do fim do mandato de Hermes da
Fonseca, paulistas e mineit'os volwiam ao comando d:1 política nacional,
com a eleiçlo de Venceslau Deis (1914--1918).
Ogo,·erno de Venceslau Drás (1914-1918) coincidiu oom a Primciri
Goerr.1 Mundi:al. <1ue abalou a gt.vpolitica e n economia moncliais. O Kr:t-
sil pcrmam.:ccu ncut;ro no conflito .:até ouc-uhro de 19 17, embora houvesse
muira agiração, princiJl.41mcnn.· tnt;rc inR·lct.Tuai) e imigr-.rntcs. cm defesa
do latlo francês (e Aliado) ou do .ilc:máo. Conn ufo , ar.it1ucs .ilcmâQ .i na•
,'los mercmn.~ brasileiros que c:<,lmcrciali7.a\'!lm com os Alimlos acahar:.tm
con\'cnccndo o go\'c;rno a declarar 1,rucm ao Império Alemão. D\lnmtc
e~ gucrr-.1. a p~nicipaçfo brasileira f1cou rcdu1ida a uma c:(1uipc médica e
a uma força-tarefa naval com a missão de: patrulhar a cosm africana cmre
Daca.t· e GibtJ.lcar. Os únicos tiros dados pel:.1 esquadra brasileira foran1
contrJ wn c:trdume de co1ü1'1has, ronfundjdas com sub1narinos alemiesl
Assim que :a csqu:adr:a chegou a Gibralt.1r, em 11ovembro de 1918, aguerri
já tinha acabado. Em compcn.saçáo. a gripe: espanhola (vírus Influenza.
tipo A) mataria mais de 200 marinheiros brasileiros.
Enucagostodc 1918<: maio de 1919,cssa pandtmiadcgripcditimou
milhÓC))dc pc~a)cm rodo o n1Um:lo. 1\pc~arck scrcharna<la '\."))panhola", a
epidemia fui diagnosricad-a pda primeira vez nos Estados Unidos. A guerra.
sem d(,..,ída:. facil itou a propagação do \'Írus, não apenas pela circulação de
exércitos entre navios e: campos de batalha. mas rambém pelas dificuldades
coric:lian:u que fragilizaram as popu~tçóes diance tia dOt"nça. No Bl'asil. a
gripe chegou cm scc-embro de 1918. n5o se $.1.bc se rraiida por navios co-
.)'8 " 1'jfÓR U 1X>IIUSl1 5t1Plill rA
O NASCIMENTO DO SAMJlA
Como c:1111.ir-;1m Cac:l,1110 Vc:h,.o e Gillldm Gil. o \.unha é o fi lho d.1 tlor
e o ~ i do p~tti'. Como p/ncro mu,ii(a) urbano. o s;unba surgiu oa Primei~
ltcplíbl~1 c:m mdo .10 p~liO de: rc:(lcliniic,_;;ÍQ tb" i1:lcntid,1tlo c;uhur,11e polÍlic;-.1
J:1~ popufoc;(!oC> afn....:l~étmtlcnt~ tll'c ~;1,v:1111 sai ,..:lo do émcl ~f•crrci C$,Çrnviftt1,
FUho da dor, pois na mcmórtl do s:unba por muito tempo ccoW o som e o
lamento das scmaLu, Pai do pr.w:-r, pois foi pelo .samb1,. enue outros iêncros
.,rr,,..111,n:ilc:ir(l):, que itlc:nti(l:ulQ 11cgr;1~ e: mc,ric,,1.) 1c:ru.ir.u11 , ulili111;1r IJ 11:1,\l),;t(IO
doloroso e 5C' afumar cm um p1cscmc que a.inda lhe.s rc.scf'\'ava um papel .subal~
temo na so.:ic-dad(.
A 1-.:1l.1vr.11,11mba )urgiu ~rr.,\;i(l,i cm tli.sco pela primcir.a \t"/ cm 1917, t:om
o &.moso •pcto cdcfone"'. composto por Donjyt e intcrpreudo pelo c:incor O~::i-
no. A nos$0S omidos. o ritmo dcw c:rnç¼o C um pouco diferente do que hoje
oonh~m<.» w m<> "s;1111b;i"; 11 rigor, "Pdo u::lefunc" ~ 1v..1~ nrni) oom () "ma •
xiitc· . (>U I OJ gé11cr1J pr,1tic:1Jo peh~ mi'~éll$ ,1fn,,IC$U:rnJemes, ,·1Jh,1J(> p,1r.i ,1
dança a dois e não para o dcs61c de blocos canuvalaoos,
O ..,11nb.18,111l1ou ).1 1.t Íd\~' mulk.,1 1n,1i~ 1m.·1,dnu d,nJuilo c.1uc: 1M,1:,.'(~ om·i-
dos idc:niif'icam <..orno 1:al cfllrt: o, ,1110~ 1930 e: 1940, oom dird10 a k ,ra~ .sobre
m:ll:andr.agem, ~ b:aruc:aib cont.'lgi:anrc e 2 um cor:ll de mulheres., :li "p2.stor.as",
que lhe é típko, As <SCOl;u: de ~mb:i, surgid:u: a p.1rrir de 1928, p;!SSJ.r:Lm a t~
$U!I l,i~tóna in um .amcntc llg;ida -10 $.1.ml,.t,
Em meio às visões exÔ<icas e foldori.âsw sobre o pcwo, que convivia com
o raci.smo explícito, o samba g: afirmou .ao.s poucos como uma música mestiça.
e b,~ildr.1. Se ""-' JHimcitQ) :1110.. tlc ""' o:~1Cnci.1era pcr:,.cguido pcl,1 pol{ci.t.
que consider.ava '\.adi.agem" o ía.10 dC" pessoas andarem com ,,folio C' p.anckiro.
sobrerudo :após o modetnl~mo. o ~mb:t p:i.ssou a .sei a nudo e dec:inr.ido pot
v.irios imdcnuais brancos. Nos anos 1930, o s.imba fo i paularin:imcmC' inoor-
por:tdo 2os discur.so.s culrut:lis o6ci"s, :ir.é como prO\"l de que~-d ires do "Jk:uil
No\'O" da Era V1ugas supos.umcme já não eram :as mc.s.m=1S cb • República Velli.a".
No final d0$UOOS 1930. o 3umba cuiota fui alçado à oondiçâ.o dcg(ncro m uAical
btâ!>ildro J)Ot ococl<nci:i. cxprcs)lo d.1g.ing.1. <la m~lic;:i.gan e (b .ilcgri.a.
64 tU'S TÓl{U IX,) lll,\')11 RI P(!ll ,:,'."A
~ b,,r:11bli, (:(I Ul() Torn Ji:,bh11,Jo:i(I Gill-:n(•, P1111linlu:, ck1Vil:,l.1r. Chio:, Ru n(1ur.
de 1loland.a. cmrc outros.
Combin2ndo mcbncoli2 e fua. meinórb eh C$Ct2vid~ e uropia de liber-
dade, ·negros'" e *brancos'", pobre.s e ricos, o wnba sonhou um Bnuil integra.do
(111c.. uive,.. 1111 0(..;1 1enl1:1 c:,.i)ci(lu t lc Í;11tJ. M .1~ 11011 IX." i:»(1 tk.i~011 tlc: llt~ mol-
d11r culmr.tlmc1U,:<, tOt.-:tcfo n~~ :m:nid,1,; onde oi. p:t!>-..hl:b d ribl:am .'I i,'1'.tvid .-.lc ,10
som du cnomtcs OOtcria..s, ou de oune.ira su.ssurr.tda, com um -b;mquinho e um
violão'", que nos faz ll1troi<tar no cspfrito a ~ua !Ínropc dançame.
MODERNISMOS
;\ historiografia e a critica de anc <(UC ~ dchn,1çou sobre o modcrni5"'
mo cswbd<..'Ccn,m uma cronolosia que divide o movimcnro cm uma fase
..imécica" (1922· 1924) e uma f:a.~e "polhic.t" (1924-1928). Se:\ primeir.i
fosc foi marcada pela busca de uma expressão cstéLic.1 inovadora inspirada
nas vanb'Uarcla.s anístiC)S eoropci.i.s. mas :a.inda difo.sa cm tcrrn..s bf'3silciras-.
a s.:.•gunda marcaria a conAuência cnrrc modernismo e nacionalismo, poli~
di.ando dcíinitivamcnlc os grupos modernistas.
A partir de 1928. o modernismo perdeu sua convergência de inrc-
rcsscs e se dividiu cm várias tendências estéticas e ideológicas inconciliáveis.
Nesse ano, Mário de Andr.1dr, o~,vald (lc An(lradc e Mtnoni dd Picchia,
pais·ÍUndadorcs do mo,,imemo, csr,wam cm crês trincheiras ideológicas
djfereme.s, cada qual defendendo um legado modernista di.stinto. Mário de
Andrade aprofundav;1 sua reflexão sobre como F.w:r uma arte moderna no
Br&il tiue náo Í<»Se mera OJpia 5uperfici;-tl ti~ van6u:mJa.;; europei:u,. e <1uc:
oonscgt1issc :a.provcimr a rica tradiç.io popular do país. sobretudo no campo
68 t11';lÓRI.I.IX>U,\',IIJtl PÚll l;"A
sentia despre.stigiado no jogo poHtico nacional das elites civis. Nos qum éis.
:1liment:t,t2-SC a viJJ:30 <le <1ue os políriws civis er:am corruptos e 56 tinham
olhos para os seus estados de Ol'igem , negligenciando a consolidaçto de
uma polí1ia nacional forre, ca~,:r,. ele modcrni;,~r todo o n ,...~il,
A publicação dos livros de AJbcno Tones. O problr11111 m1cio111tÍ
br11.Jileiro (1912) e A orga11ir,açio 11dcW,111J (191/4), corno vi mos. causou
fone impacto e forneceu argumencos pa.rn aqueles que defendiam um
F'.$t:ado fu rte e imcrvcntor, c::tpa7. <lc m(."<líar os conAiro.li :;oc:fais e subor-
djnar o regionalismo aos interesses d.1 naçio brnsileira. Torres era un1
imdcc..1ual rcpublic..-:ino j:í nos 1cm~ do Império, que fora minisno do
l mcrior e membro do Supremo Tribunal Federal (srn, mas cu::a\r.1 dcsi-
lmfüfo com a.s d i1o; lihcr;1b u ligán1uica~ <1uc tlominavam a Rcpi'1blica. O
projeto político que apresentou de maneira sistemática e organizada em
.seu:; livro:; passou :a :;cr encampado c.'tda ver. mai.s pelo:; militares. que se
viam como os únicos atores políticos cap;12es de levá-lo adiante.
E.im-e os setores civis, a candidatura ..café com leite.. de Bernardes
t".tmbém cnconrrou fone o posi~~<.l. P·.u~ se conrnapor :t chi, o~ opositor<.-s
l:anç:u"am 1 .. Re:aç:fo Republic:an:a", :tpoi:td:l por Rjo de Janeiro, B::afü:t,
Pernambuco e Rio Gramk: do Sul. apn:~c.:111:mdu como c.:am.litlatu Nilo
Peçanha. poli(ico muito popular no CS(.tdo do Rio de Janeiro. O progra-
ma d csscs oposic:io nisr:.ts defendia o fonak-ci mcnto da:; 1-:0rças Arm:tdas e
a :lutonom..ia ao Poder Legislativo em rebção 3 presidênd:1 da República.
F.Jc:; também não se cs-qucc«.:ram d os operários, cm processo çrC$CCntCde
o rg:iniuç:lo sindic:a.J e luta por m elhore$ condiç6e.c; de lr:.tbalho, e propu-
,!,l,'.r;tm a criaçifo de alguns d ireito~ sociai~ que procci,cs~m <..~<.-~ trábalha~
dores. VaJc lembrar que as jorn:lda.s de trabalho eram longuíssimas, com
mais de 12 horas de turno n:i.s f.íbricas, onde não havia dcs-can.soscmanal
o u fét'tas remuneradas.
Na eleição r~lizada cm março de 1922, o candidato siruacioni,sca,
Arthur lkm:ud.e.s, S1iu vitorioso. Como sempre, os resultados eleitorais
haviam sido fraudados. O Clube Militar <.1u<.-stionou forma lmente os r<.-sul~
tJdos da eleição, propondo um Tribunal de J-lom-a parn recomar os vo1os e
dcRnir o rcsulra<lo. O O:mgrcsso Nacional. dominado pela presidência da
República, não acciwu a propost.i.
74 tlNfÔR I,' (Xllll,\\11 RI PÚJ.1 k,"A
ção operária é wna questão que interessa mais à ordem pUblica do que à
ordem soci.:tl''.
Dito ou não dito, cl«:Ma ou dac1uda manc:ira, o fato é que, na prnrica
política da Primeira Rcplí blica a questão social era rncsmo trarada como
um C3S() de p<,líd:,. Líclcres sindicais er:am pn:sos, e muir!ls ~·C"/..t."S ron ur::i-
dos por polic;fais. Gr<.-v~ e manifc.s.-a~ eram reprimidas com c;:xc~iva
"iol<:nci:i policial. Gráfica~ que imprimiam os jornais operário~ ac:&b~,·am
inva<lidas e dc:pn:datlas.
Con1;1.1do, na époai, também h:ivin políticos <1uc - percebendo que
s6 a tepl'ess.'io n:1o seria suÍlc:ienre par:i c:ontrolar a agir:iç;l.o operária -
chegavam a propor a criaçáo de uma legislação trabalhista que garamissc
alguns direitos aos trabalhadores, como férias, menores jornadas de tra-
balhos e desc::u1so senunaJ. De furo, havia uma percepção general.i2.ada,
mesmo entre me,nbros das elites, de que o crabalhldor no Bras.il tr:\
lratado como um cidadão inferior, sem remuncraç.io suficiente para viver
uma vida digna e submetido :.t :iltas jorn:id:v; de trabalho n:.t.$ fiib ri~.s.
Vale lemb rar que, n o sct<.lr rural, as condições de n-:rbalho e explora,
ção c:r;i,m :.intla pic.1 r1.:s, com ci.m1><.m<.-S<.'S e ,,.,.balhadort~ ru,..-is vi\'cndo
no limite <la sohn.:\'i\'ência. ,1,em ac:C:.)SU a C.)<.·ola~. h~pitai~ ou moradia1t
minimamcmc dignas, moiw prbximo.s da \'ida coticli:.tn~ dos csc-r:.ivos
dos cc;mpos do Império. Algumas organi12çõcs .socialisras, desde 6ns do
5éculo x1x, ap~ntavam propostas para mclhor-,1.r a condições dos rr-.a,
balhadorc.s. mas tinha..m pouc:a força pollljca. Nas eleições, um ou outro
Hder sociaHsca apoiava ralicameme uma candidacur-J. mais progressista,
co1no 110 c:aso do depuc.ldo federal e prefeito de Vassouras (RJ), Maw·ício
dt l2ccrda, qut apoiou Nilo Pcç.,nh.-. p2r.a a prtiiidênda.
Os jovens milical"("S cenemiscas se preocupavam com a "questão so~
cia.J'' e até simpaci.2.,wam com algumas reivind.ic:açôes operárias. mas não
cs,avam disposcos a incorporar o movimento opçrário cm suas rebdiôcs.
Par-.a o~ 1c 11eruiMas, a .. rc,·oluçáo" (1UL'. prc,cn<liam fa1cr no paf~ dcvcria ser
obra d e militares patrióticos. e nio d e operários que poderiam sobvertcr a
ordem social e a união nacional com suas ideias anarqu isras e sod:tlisras.
Com cfeiw, as lucas e os projetos que motivavam a "agicaç.ão operá,
tia" eraru de ou1 ra narure"la, mai~ r..1.dical. Nck~. qucstion,w:Mic rnmbém a
p ropriedade privada e a d csigoaldadc d e renda .
lt l O l>A llA Nl>;TÓR14Ql11 R GIAAR M.\t\ RÂPIDO 77
do Popular Paulista (PPr), Uderado por Miguel Costa, um dos líderes ,fa
Rc:\•olução de: 1924 e da Coluna Preste:$, c:rn :a c:,:pr""t,,sáO mais dar.a des:;a
aproximação. O l'f'P <.'Stava muito longe de ser um partido de C<.'11déncias
anarquisras ou comw1is:ras, mas a mera poss:ibilid..1de de um parcido de
mass:t.S ligando os cenentes mais radicais aos operários deixou a siruaçlo
cm São ~ mio :lin<fa mais explosi\1'3.. A poderosa oligarquia do est:'ldo b:in-
c:lcir,mu:. tksalojada do poder cm nívd k."<lcral, ainda dominava o po<.lcr
regional. Era apoia<l:i pcbs c.h:;:;e:;: média$, que con.sider:1\1:tm Gc.'tlílio V:u-
gas e o autoritarismo do Governo Provisório luna "dit:tdut:i usurpad ora do
poder", di.sposra a humilhar os paulistas.
No fin3J tle 193 1, muitos lí<len.~ liberais e fcdcralb:r:i:; de outros ~ta-
dos c.1uc h:.aviam apc.1fodo a rc....,•olradc 1930 rnmbémcsmv:.am dc.-cep<.ionados
com o ~,ilo pcr~on:all5ca de V~rg:b e pn.::oClll'>:&<.k~ com <."X~ivo 1,,pd d~
..,cncmcs'" no Governo Provisório. O quadro para uma nova guerra civiJ
escava dado.
t>ara contemplar o.s paulisw. VW'.,.as nomeou Pedro de 'folcdo como imervcn"
coe. ele era "paulista e eh•il". tal como cxigfa a )~rente Única l'aulina, sw'gida cm
fevereiro de 1932. fruto d:i uni!lo do f'Rl' com o f'D.
'li.ido p:u-cci.2 se encaminhar p2.r:a o aceno... m:li 1 dc-prcd:içio d:i. sede do
Ditirio Cttri0<11, crítico do Go.,.crno Pro.,.isório, azedou no\f':1m:ente as rcl-2.çócs
e111 rc ,u <.>llg.u qui:11!' lil,,c:rais e Q• lencntist,1$, â)m .t~ primdn.tS aci.1s:mcfo (~ \1lti 0
$lo Ptwlo oomb.11tu :a$ lr()l):lf d,o govenHl íedeul por ')u:'lse t ~ t!'l<$d.
Ape,;.'l1' do poderio reb1ivo do C$t.'ldo, e da ampla mobiJiuçío da sodeJ.ade p:iu·
lht:i, sobrc:mtlo W:t.'lo dilo e: cl.N,c:1> m&li~, o c:nf1c:m2m('t1to mili1,1r nlo foi
be,"•suc«fülo. Em me.ti()$ de s:erembn.l, o oom:aod.1n1t•gtt2l, gener;:il Berroldo
Klingcr. já negocia,·:,. uma pai scparadamc.nt(-:. contrariando parte da opinião
pU.blica pauliml. A rcndiç:io \'cio 2;) de outubro.
O pragmátko Ccnilio .s.abia que o Bra.si.l também prccúava de São l'au~
lo. e c,•itou retaliaçócs cxceuiv-u :aos p:auli.scas. O ifcrcntcmenrc de 1924.
quando :'l cid.1de foi :,uC:'ld:'l de forma " iolen1:1 e :i. rtpt"e$$!iO foj (li.s~eminada
c..orur,1 seu, habi1:1t11cs. ilcs.ia "e;, o gt)'·c:rno Íc:tlcral prc:Íc:riu u ma rc:prc».Ío
~dC'liV'.a, c:rn'i:imlo piam o t"XÍliO m lídc:rc'~ m;iis dir-c:1:11nc:ntc: c:m·<,h•ido$ n:1
l l'!\IJlt:1 (n h:1n i d1JJ 11() H)l.al).
lhadores e pacróe.s. Oiame do que ha\lia ames. isso não era pouco para os
trah:1lh-adores, e ness:is medi&~ lõC :mcor.:ava pane d:i :ides:io dek'$ :, V:irgas.
1'-.ara f.worcccr :a imagem do go,•c:rno e do regime;, foi criado o
Dcpanamcnto de lmprcns.1 e Pmpag.ind.i (01r), cm 1939. Na verdade,
o governo já di,spunh.i de um órgão oficial de propaga11da de.Mie 1935,
mas nada comparado ao tamanho e à abrangência do novo Deparramenco,
<1uc cui&l\':a da propag:mtla oficial e da ccnsur:t 3 imprt.."0$3 e aos meios d(."
cc,lmunic:aç:io :ao m~mc,l rcmpo. O DW se b:a.sc..~v:a nas nov-.is técnicas de
comunicaçlo de m.a.ss:t, ampláme1He uciliz.1d.u pelM regimes ,oi:aJidJ'ios
<1uc ~urgir,1m no.> anos 1930, como o n~rú~1no alemão e o fuciMuo i1aliano.
Para os lCÔricos do autorhari.smo, a propaganda deveria se comunicar por
meio de imat:,rcns c símbolos, poi$ ~ masi;as populare\; cr:-tm vi.sras como
ingênu:ai e scmiment~is, sem capacid~1d c de rndodnio crítico. Essas téc-
nicas induí.:tn\ a ou.nipu.la~o psicológica dos rec.eprotes da me1\S3Sem
propagandísrica e o uso de n<wos meio~ de: comunkaç:io, comc.l o ci ncrna <·
o d.dio, cujas tecnologias se aprimoraram nos anos 1930.
A l'ORÇAliX.l'EVICIONAluA URASIUllRA
A p:1r1ir J11dct.-l:1r.K,':h1 de guerr.,a ~.) "p()l~11(,.'1:w d t1 F.bcc,M, o., mo,::1r.uu <>l pre-
p:1rn 1h·1» par.i ., tmvit1 Jewldado!.' lm1~ilei".1~ i', F.o">p;1, (•ucle: c.leve:ri.J:rtl ac tiar wb
as ordens do J.:.Wrcito dos Estados Unidos. l !ouve wtu grande dificuldade para
m:rucar soldados cnuc a pop1.1Jação bra.1lkira, pois muitm elos convocados ou
mc:..,ino ,~,luruírioi. 1inh,1m pmhlcm,1~.'iéri<l!I< ,lc ....11íde. t.'Cnnu \·c ,minc)i,ci.. (.,lu
de dcnics e m:b OOll(liç(,ei, f'i.!l i(;!b (~•id(.) à ,di,ncm:11,--:io precári;1,
Porim, mesm<> enfrenrnnd<> dilic.'\1lda,dei, hum:rn;is < matC"ri.1i.s, 11 Fon,~1 F.x-
pcdicioniria Br:isilcin (1LB} foi cmOOrc:Kb cm meados de 1944, envi.indo 25
mil homens para a !titia. Além disso. foi. orµuiz.:ido um g.rupo d e aviação de
<;;1c;;1, cml,ri.íi.1 d,, hJr1,-J Aén:,1 Rr;~lcirn (FAR). F.r,1 11m,1 form:1 t.Qntum.lcmc de
dernon,, 1r.1r c1uc o F,)1,1tlo No"tc)lo1v.1 ,li) la,loc.l.b tlem1K.r.ld.1~ tK.kle111.th 001111~1
o iuz.if.udtmo, cmboia de mesmo não fone um 1cgiine demoer.itiro-lilxul. A
p1rtkip:lÇ10 de tc),•e-ns ofi cbis br:u:ildr~ n:t FCI~c.:imbtm ajudou ::i aumentar a
inAuim:kl dos F..s1ados Unidos n<> F,,cérd10 br,,asileiro, supenndo o 1mdkional
prcdominio d:as J.oucrinas nnlimrQ. Írat'M,:es;AS e .ilem,1,s.
Ainda que tenh.1 tido uma p.11tidp:tçâo pequena na Segunda Cucrr.1, :1
f[B atuou cm bamlhas importantC$ contra o txército alemão na freme ir.tli.ana,
c.vmo :1 Je M(mlc C.b1do e a Je Momc-..'ie. F.m Monte CbCc~, ..1 ffR panici(k)U
de um2 lur.l i..1ngren1.i. cnírcnrnndo, ;1k111 dos2l,cm/ki. be111 po.sicion:idos no alio
d:i 1noornnh2, um invet1l-O rlgOtOSO com o qu:iJ ~ SQkl.;ados br2S:ilelros ntlo ena~
\':tnt 2co.srunudos. 1'1ra os italfanM, :t pudcip::iç5o hr:1.~iklr::i it con.~idtra.d:1 uma
contribuição $JgniOO'là\•a na cha.m2d.1 "Gu(rr.l ck Libermç.io" local cont:r.t o
n2r.ifascismo, oom<.>ate5t.un <lS ,·.í_ri05 monumcnto:i e memoriais ao, ..pr.ici.nhl1S•
bra~ilcir'Q~ que luur.un e n1ot1c1,un n.tt1udc 112í~.
t.">IAOO N0\10 .133
~~
u
•
A inve11ção
da brasilidade:
a vida cultural
na "Era Vargas"
o meio grográfko tropical não como problemas, mas como estímulos para
c n conm 1r um caminho orig inal ~ r:i um.a sociedade plcnamcnrc ci\'ili7.,:d:a.
Para tal, foi preciso reforçar a) vi rcu(lt:i cio "ser brasileiro", valorh.ando M:US
tipos lmman os e sua cultura popular. para al6n dos elogios à natttT<.7.a
gr:mdio:m e exuberante.
M~1s l:unbérn surgiu um novo pensa1nemo <:tfrico quf st debruçou
sobre os grandes problemas nacionais - o atraso cconômko e as relações
socfajs arcaicas. sobrerudo no meio rural - a partir de teorias diferentes
daqud:as que h:aviam prcdomin:ado no sé<.1.110 XIX,
OS INTÉRPRETES DO BRASIi,
O NOVO PENSAMENTO SOCIAL llllASILfilRO
DA DÉCADA DE 1930
() rnod0'11i)flll> t lc 1922 e a... m1Rl11nyl) no ,l rr.toj,1 J>t) IÍ1k.o cnl 1930 colo--
carim a "quedo nac:iouaf' no centro do ddmt cu!rural e polídco. êra prcc:i.,o
ri:vil>:lr :,~ "'cc:ori:h ,lc Rr.t,il"', hcrd..111:l~ do lmpéfio e ,lo t:omc:ço da Rc:1·"Jhlk.1,
cuj:::a t,\f.isc cr:i. coloacb ou rus virrudcs d:a ,ururcu rropk:ll gr211dios:1 ou. seu
oonrr.hi.o. n:i "dCRCflcr:ac;:10'" hum:an:a e soci:J auud:i pelos rrôpicos e pd:i ml<;.-
111r.1 de: rJÇll', Os :1morcs que d !:'Íc:nc,H;un r-sc::s po n tos: de: ,•h1:" foi,.!',('m otim ii.us
ou pcssimistu, cm v:iri:is OC1Siócs se dcix:::iv:1m IC\1:1r por ,·isócs muiw .,'CUS
11up<rfic..·il.1i¾ pret:-on c,;einl()S:1~ (IU c:et1n11J cic:mific.1.s b~nt:r,,11;,~mtt:f,
NO$ .inos 1930, em <;QntrJ{IOUIO ;i m:1.s 11n1Ui$t::S 1.-ons.gr.1J;1~ $0Urc o Rt-:~I.
surgiu um ºº"º tipo de pcns:uncnro social. nui.s afinado com moddos d cnàfi-
C()mc:ç,,v:1111 .1 ~ i1111-.or n~ aiud<>ll $()1.:iológiM, lliMoric.,gr.í-
01.1~ e 1córi<:~ ({(lc
6cos ou antropolôgicos. Ao menos ui:$ autores s.io fundamentais pua cmcnde:r
o LlO\'O pc-nsamemo social brasileiro a partir do.s anos l 930, d.tda sw g.rande
influênd.1n.1~tléc.1(1.~:, 1~1cri(>r0: Gili:l<'.r1v Fn::,•rc. Sérgi<> R11,m1uc Jc H<,Lrncl,1
e Caio Prado Júnior, Os dois p1imci1™ tinham uma relação mais di.reca com
.,s vc:ncntd 11~lc:rni~1:11> 1;p1c ~urgiran, a Jl;lrtir dc 1922. e o ,ilcimc> inmrporou
unu reorla que. :aré oç :'lnQ!! 1930, poucos intelecrwii: urill7.":'1 v:tm corno feri-:::a,
menu de :ttUUsed:i .-~!idade bl'uilelra: o m:11-xís:mo.
F.m 1933, Frq rc publicou o dássko Gzsn xr•mtl4"Ó' sen:v,/a, no qual drt'c:n-
4
dia :as \'irrudcs, ainda qlK' n:1o cscon~ os dcl"titos, d:i •dviU:t::1,;:}o do :tçllar"'
<.-..,lonial. Implantada pelos ponugunes no Nordeste, 11 panir do "érulo XVI,
dJ 5eria, segundo o autor, um c:xcmpk, oni;in~ de: um silstema econômico e
social bem-sucedido. A •dviliz..:tç:io do açU:car'", sob o domínio 2utoritirio do
patriarc1li:s1110 dos fidalgo.) pon:ugues,cs instttl.1&» n:i cas;1 gr:tnde, oonstruiu
4
índwu. Assi1n, onde qu:ue to,fot O$ :1.111ore.s d:1 Jp1)C!'I (e dê :i111e.s) vbm ,lefdli»
a SC'l't'm superados, como o mandonismo Jocal, o meio uopical e a mistur.1 de
~:u, Freyre eib..etga,a um modelo :l ser copiado, uma •demOCf':l.ci;a social":\
brasileira, herança bendita dos portuguesa.
No mesmo ano, Caio Prado Júnior publioou Evalv.(.do jit>lltia1 do Brasil, no
qual f.wa uma m•iÃO cótic.i (U história política e oconômka bm.ldra. dc:w:k os
tempos <0lonfak Pl'Jldo Jímior cnF.uixava o conffit0$0Cial como m0tor do procc$·
l,,Q hhu\rku ~ a :mku~t~'.:i.o e.1u~ :iç(,d poU11ic:1llo e ittlt'f'a,jQ c.le:cb!>~ (rt:onômiro,;).
A POLITICA CULTURAL
E A ílUROCRATIZAÇÁO DA CULTU RA
A política culrn ral gesr-.1da ao lon,:,,o dos ano) l 93-0, com maior orga~
ntt.1Ç30 e di recionamento a partir de 1937, foi o viés privilegiado de nçâo
140 tlliTÓRUIX)IIU'>II RIPÜll>.A
,ha para onre, uma das obras mais represenc:.uivas da ideologia nacionalista
do Estado Novo, na qual ligava este à uadição "inregrador.i" das bandeiras
paulisra), como se CS'-IS Í~m cxprc&áo de um scncimcnto de bra.silidade
cm i,""C.ttaçâo dt-sdc os tempos coloniais.
Depois de 1930, ÍOl".tm c.TÍ:i.doi; :i Sccrc-L'lria de f.<luc1çâo 1\;lusiCll e
Anisrica ($ema), o Serviço N:adon:.I do 'feuro (\N 1), o l~1init0 Nacional
tio l ,ivro (1N1 ), o Museu <la Inooníldênci;e. cm Ouro Preto c o Museu Im#
pcri:tl cm l'ctrôpoli~.
A Scma foi prop o~m1 por Heitor Villa-1,oboi; cm 1932, cnrusiasmn-
do com o oovo contexto polilico do Brasil. qut: estimulava p:uriotismo e
nacionalismo. O grande composilOr e maesno. .10 contrário de $\1.l par-
ticipaçio na Semana de 1922, quando quis chocar a pJareia. propunha
agor.t uma música de caráter nac.ionalist:.t e que :.tjud~ a congregar :.tS
lU3$$."IS, sob o parrodnio do Estado. A ideia era dissemüu.r o caJHO e.oral
erudito, o diamado ..,an10 orfcônico", exercitando auivés dele a disciplina
e o dvismo entre :.tltJnos e profcsson:s do si.srcm.a escolar. O ma~1"t() par-
ticipoo de divc:rstS manifi..~1'.tçócs plíblicis do cmro orfcõnico e compôs
obr~ sinfónicas grandiosas, como as Hnchia11n,,, série na tiual mbrurav~
dcmt..'1110'1 da t.,1h11ra mmia1I p<Jpttlar com a m1hica cn1<lita.
O l'lL foi criado com a prc:tcn.sâo de d:.thof'3r uma gr:mdc l-.i1ciclQ~
pitlia Hra.<ilrira, ;i,llm de disscmin:n bibliotecas n:u cidadl'S d<..l pais. l'Oi
tlirigido por Augmro Mc..-ycr, CKriror t:,rat'icho liJ.,?do ao modernb.mo. Do
IN'L par-âcipou rambêm aqude que era caJ\'CZ. o gmnde intdccrual brasileiro
da époc:t: Mário de Andrade. A relaçlo de M:úio de Andrade oom o Estado
dirigido por V.1.rgas era a.inbígua. Mino era wu eorusil.sta cb interveoçfo
C$Ca12I n:i cullura, mas, ao a,n1r.írio da época cm que foi .sccrct.i rio de
cultura da cidade de São P,ulo (1934-1938), Mário se rcsscncia da fuha
de :.tutonomia polfric:t jwuo ao governo central A SlU consciência libera.)
também não se sentia muiro à \'Ontadt· trabalhando para uma diradura
~impii1ica aos fa:1c~n1Ul>.
Além de trab:,1lharcm nos órgáo.s burocr:.iticos mencionados. os in-
rclccmais an1aram na imprensa e cm rcvbrn.s culrurais pmroc.inadas pelo
Estado. Os jornais e as rcvist:t.S oficia.is eram dirigidos por inrele<:tuais afi#
nados rum o Esrado Nmu, como O Dia e A Manhã (Ca~ia,m Ricardo), A
Noitr (Mcnotti dd l'icchia). Culmra Pqlítim (Almir 1\ndr:.tdc).
AINVt~ÀODA~R.A!tllllJ.\01 143
F.m 1940
lá no mom, oomcçara.m o rccc.:n,'!C.:amc:nto
F. o :.gente rece~dor
c~mim,vu a minha viJa
foi um horror
l-. qu.lndo viu a minha in:k) ~m :1li:1nç1
encarou fXU'':I :a c:ri,nç:i
que no chão d orrni.1
E pc:rgunrou ~e meu moreno cr:i. da);ntc:
~ $e er.'I d o l).uenre ()11 er:i ,b foli:.1
Obaiic:ncc cu M.)U a ruJv q~1c; é ilia lc.i
fiquei l<>go SOS!,tf;,l(fa e filiei enc:fo:
O mc:u morem> é br-.bikiro, (; Íu:tiJdro.
e é quem sai <;()m ::t b:tndeira d<> seu OOc,lh:'í<>!
AS REFORMAS WUCACIO>IA1S
Maniftsto das Pio11l'iros da CScola No1,a ( 1932), as.si nado por Anísio 'lcixcira.
Fernando A.z.cnxlo, Cecília Mdrclcs, Roqucnc~Pinto e Hermes Lim.1.. O
manifesto defendia, de- maneira conrundcnrc, uma escola pública, gratuica
e laica, com md.od<b de ensino mai.) modernm e cstimulan1cs c:lo que a
velha rócnica da rcpcriçáo e mcmori?.Jç.i..o. Valori:iav:.i rnmbém o mérito do
148 tJIS TÓf{ l,.\, OO lll,,\')!lllPliJ.l r A
operári• . exigindo que esra fraç.10 fosse ocupada °"' f.ibricas (e mmbém nas
cmprtS:;1S comerciais) por b~siltirt~ de n:i.sc.imento.
A nacionaliiaç..í.o da dassc: operária, a propaganda cm torno de
V.'lt'g<lS co1no "pai dos pobres"' e a imensa campaJ.1ha de filiação aos sindi·
ca1os oflt.;almcntc rcconlu.."Cidos, promovid:a pdo Mininério do 'lhlbalho
a parár de 1942. consolidaram a liderança varguisra na cl.wc operária
br:u:ilcir:.J. De c:iudilho milic:n e quadro olibo:irquico, Vnrg:as rr!tm,formou
sua im.agem, tornou-~ "p:ai dos po brcs" e '"líder de mass:1.s'•. Uma mi.~tur:a
tlc p ropaganda de ma.s!>a, cooptação de lidcran~ :,indicais, R-'J>r'C~fto e
percepç~ de que o Esr;1do ouco1-gava direitos sociais ine.'<lscemes ames de
1930 foi l·mprt..~ad~ nc.·Mc p rt.lC<.'"MO, Não por aca~. c:is:t apro,cimação de
Getúlio Vargas com as mo=s foi perttbida pelos liberais e pelos militares
coi:no wlu perigosa m1nobr:1 visando l conciouidade do seu governo.
do dJa paro a noire., sem direico à pensão ou a emprego, rendo ganhado d..1
sua expet·lência na guerra apenas medalh..,s e cicatrizes.
A manifQ1.;aç.áo popular pró-Gcn'1lio no dia ela volta da t+t\sinaliwu
(1uc as ruas ainda cstavarn Cúm Vargas, m(.°SmO (1ucquiSC$$Cm d emocracia.
O f:uo era c1uc o crlsm:i d o <lirodor, c:()n!;truído e r(..for91do pela pro p:i-
g:ind a do n w, ~ mc;did ::as de p rou,-ç;io ~o tr.ib~lho, m ~umcmm do sal~rio
mínimo e o tom n:lcionalbt'.t e ~1crn.;il e.los M"U) d iscurw) 1inham se cnrai ..
:ulo n o cor.is,-ã.o das m:u.isas trabalhadora) ur-han;u.
7..
f.ntrc 1930 e 1954, tim 11(m1c Jgi1o u :, poli1ie:1 lir.1~ilcir.1: Cei,ílio V.,'l;a:,.
;\.fc:.111<.• 111..1:, .Hu" cm <1uc n i.., c::uevc , .., uJ111.111tlv ,1,, F~1.1do hta)ildrv. en-
tre 1946 e 19$0. V.a,-g;a:. eleve: 21 ,.ua ,.mnbr.i, OISJ:lli1,an-1.lu t.orrclig:ion:friu,,
:ttu1ndo nos b:midorcs e prcinr:mdo su:t \'Olt1 ao cugo de presidente d2 Rc-
pUblic1. Se cm 1930 de chegou â prc-sidênd1 a partir de um lcv-unc ~odo
djsposto a afanar a oligatquia paulista do poder, cm J9SO ck foi deito e
consagrado pelo voto popular.
Atinai, quem foi e o que pensava Getúlio Va1gas? 1~ 1 que $CU nome e K"u
l~do 1.ind.2 hoje mobilium ôdios e pclixóts? É muito difid) :l!inh2r V:u'S1'i 1
um.1 hd~id.ldc ideológka QXn;n1c oo l(lngo de su~ tc:tm::ir.a polítk..L. formo(N~
pulittl~mcmc n<• po!.i1r\•inn<• g.,.illd1(), u 4t1c cxplic;;, cm p;,iMc $lM $imp:ui.i pd.a
..i,:•l uud.1, lliJ F.sutlo )),C)brc a :..)(ia.tklc. M.a:, 1.1111hém er-.1 lilho lL, (~iga1q11i.a e,
rumo 1,11, p1micipa~ do jOf,'O pc~itioo nadollQI ;1ntcs mesmo de 1930. fun..uuo.
ele não propriamente um ·avcn1u~iro" quando :m.1:bou :i frC'mc do Covcrno ~
visôrio cm L930, nus um político profissional. Comcguiu \mccr scw advcmlios
e inimigos, conJOlidando S('U poder pasoaJ na f'omu de wna diudura violenta cm
19.~7, o que lht ,,aJeu o róc:ulo de íucina dado po1muieos dos sew críticos, Em
me:ados dos :i..nos 19·i0, V:1..1p se emaheleceu como lídtr m,halhisc:a, com gr:ande
popubridade enrre os oper:irios, m:a.~ nio er:a propriamente um socialiua, nem al~
guêm que xroo.iu~ na. d.Ms.iodc riqutt:a.<; com as m:u.sas populares - posrur;a que
lhe valeu o fÓt\lto (lc; J)llllul»u e dc;n1.igugo. Ô>mlun :1w<.l,u ~· ~ f,allQ. poc..lc;mos
168 t11'iT'ÓlW,D.">1t,\'ma1p(111~A
111)()01:ir :.i prroeup,l\"'.)O i,n ':1n:.1l~r :.i economb n:icion!'l l ~ b.:a..e th ir..:l11~1rblbo.:.i-
ç:ic>, 11'1 !'1 ~ sem 1.e&.'t'$S:m:11ntnre ser um 11.Jci()n:tlis,2 r.,dil.*:JL
Seu estilo de go•.-crno aru-alizava n .,tjh;:i fórmub bmsikira, herdada dos
1empos imptri:i.is, iie "'d ecidir J>()r t-!et.."".lntaçlo", o que $il;_1\ ifiea...-2 e.spe:n, que
1od!'ls :.i.s ÍOl'Ç\S em dispu1:l 11e desg_;-.st2tSem :ao s,eu redor, par.1 que ele h)ma,sse
uma dccisio, .E.k era mcsrrc- cm acomodar incc:rcs:sc.s policie.os com um cargo.
com um.2 benesse:. com um.1 foti.:i llO poda. Os libe1'.li.S 1inh:un-lht &·Ho ru(1tt.1I.
sej.a pela '"u--.:iiç.io de d a:ssct em 1;ll':IIO de su.a aprollim2çlo das mwas u~,h,dh.1-
dor.u. stja pela dC'.scon6auça gcnullu. ck que d e cn um .il.Utorit.úio inco1TiglYd
, 'OCacfonado para manobra:s polídcas e goJp~ de Üt.ildo..
&u ,.ui,..ídioc:m 24 de: ,t:go:,to tk 19S4 p.1rcü1 dccrc:t:tr u lim ,k5.u:1 inílt~n-
c~ n.ii vid::1 b1~silc-ira. NC$$c dia. o ,•dho líder, isolado poli,iwncmc tlO l)i~cio
do Catctc. $C'nl :.ipoio sufi ciente cncrc :u eliteS ci\•i,i e milit:i.rcs. ::1mcaçado ck
dc:po,iç.i o por um novo "u h im,oo milirnr-, c:ri1ic..~111.l o ~ d ird1a e l C,S(1ucn.l.1, tlc::u
um liro no cor:t~ S1iu •cb vicb p:an cnrnr n:a l linôri:a", como c-Je mesmo
A5. m.1s~;11; 1r.ab:ilh;1dorni que n:io n tlcfcnd,er.un cm ,·id:,, :ué p c1, rqi1c c:l~iv:,a-
mcnte nuna. ha\iam sido ch:amic:bs p-.m ral pdo próprio Varg-u, se rcbd :ll'llll
depois da sm morre, Ítum'1.ndo um p.olpc: cm 1954. A somb12. do .,~uismo
pe011:111eQ:u ,•i\·;1, in~ir,mJ,c,1 11rc)jc1()$ tl;:i es(Jllt:r(b "11;;tdom1l popl1br'\ c(l,!11()
0
Ddx:u o govt"rno para c.1uc:: pvr ntinh.a Cll,US-a não )t'. Jcrr-.unc ~nguc::
brasildro. Na.o t,>ua.rcla.rd ódios, nem pm·erH,'Ó<.'s pessoois. Sinto que:
o povo, ao qual nut)C;I falcd no amor que lhe df'\•oco e M <lefe.Q dos
seus direitos, esd comigl). kle me furá ju.s.riç-..
ror que Gcc'11io n~o resistiu à sua deposição força<tl cm 1945? Su-
postanie.n.te, um Hder de massas carism.itico, com apoio de e.scmruras par-
tid:í.rias (1rrn e l'CR), :i.ind:i q ue indpicnccs, e de um movimento de mussas
como o qucrcmi!imo t<..-ri:1 t0das as condições de mobiliw.r as n,~s rontr.t <.lS
c.1uanéb e paládu~. Ma.> a tkx:isio c.lc G<..1t'iliu V;a~~ t'.nl a<..'.lr-.tr o ultimaro
militar sem c(m\•e,_x::ar nenhuma rcs~tência tah't..7. revele a cs:;t"llcia <lv DNA
policico do gemlismo e de se.us herde.iros políticos, como João Gou.lan,
o presideme deposto pelo Golpe de 1964. A linhagem polüica getulista,
:iioda que defendes.se reíorn11.~ e incorpor:i.ç:fo d.is massas u-abalh:idor:u. nn
vida política, nJo abria mão de realizar este prOCC.$SO ,uravés do comrolc
elas cstnnu rJs burocrátic:l$ e juríclic:tS do Estado. e não por meio ele um
(arriscado) movimento de mtlS.\,.,s. F..ra pelos fios do Es,ado, além de suu
capacidade de manter a ordem social e agrc..-gar forças políticas tradicionais,
c.1uc a rnodcrni,açáo deveria M:r Ídtá. Fora e.li~. é de se ~upor qm: Gc,l,lio
consicler.tSsc qt1ak1ucr ação política como aventureira, imprevisível e in·
controlável Apelar para a sempre imp1-evisível politização das ruas catvei
fosse deinlS:iado p:i.rl um esmdista co,uervador, sinemitioo e calculista.
Est:i pode ser uma ch:ave par:i comp reender a esfin~ polític:11 de Getúlio
Varg:as e do gerulismo, cuja sombra pair.iria por coda a República a partir
de 1946. agh1tin:mdo devoções e ódios apaixonados na mc-.sma medida.
D.\CR.t-1 00 l'>T,U,)J 'l;J\.ON:.\S('l l"\IA RI P('IIIIC.,\ m \UX-t.Á I K"A l 7j_
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Nm,;u., J\ITn;y. A &/k Jirtti,~ ""'11'.J: J!Ol;k-J.S..- C' \:ul:ut~ n,,1 R.iv de J,u1C1f'O IIA ...i,.Ji ~tv ,i.,.ulu, S:io
í-\1ul(I: Comp,nllt.i d;n l.c-rr.u, l'l'JJ.
o. ,.... 111.11, 'udJ. l lrpl QuC"!tlct rucit11U.I RI s,rimtlr» ,q,,ihlit,1 ln'. 1-A-l«I t./d~ l ldl"n1: C1 "'"· Wllm,
('>r~"). A ,lk,vwJ,./tlrlfforkm,J. RWfll~ ~ r,ulo: U_..,,tf.»~1,, 19•n, 1,r, 1Hi,y..i,
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n·~_fn1.u,l,;;1;1,,p1.lf,,1••-ll9>. Au,.._, "': 2 ;"''· 2016.
SAt"' OC'Cio. CWJ, mtd,a t JIO!ltk11,,,. Prl,anr11 ~IIK,1. Pcudpolh: VOZCi. tWj.
SL\'I..L"ilúJ, ~icollu. A rtnl'-.A d.J ,.,,,..,IM S1o 1'.a.ulo. COM< !'âlíy. ?UtO.
Su,.,..,,,._,, L. OnptUtu/,, 1111 N(,tlJ.Sio ~ul0; Comran,hbõ. Lctta. 1~.
~'H'&'Aff.7,\(.\K, ~1,,.,11: lkl\1''ff. Hdc:t1•M.1rl.,e C:on.\. V,mJ,1 \l.arl.i IUIJt.so(u1w,.), ,;,,.,,.,,-(:,,p,wm,11,
l •.:1.I. ltu J-: J,u~lruc t.J11ur,1 JGYIP.u ç l\.,r:a, 1000.
' l'IUNIMOt .. H(ltsl,o. IM~fllÍutnll. o (.-.ii,mu br-eikúv IU. Jêud.l J... .-\O.~ P.a\llu: l)Llcl IC)i'9.
V, • , ,,o, M6nic11 r O, inttl«I\Uii< 111 pot,1:ia culru11I do En1do ~o. ln: f!t (!<1 • •", JorJ;c• [)1 ,e_.,. 11.•, 1.
de A N. O fln11il rrfl"l,!i.,-,1,w. o tempo do n.Kio1Vl-<11~1ttmo. Rio dr )1nciro; CivifüA(io Bni,ilC."irt,
lOOJ.v. L
Vtl'o l"lli\, Kobcr11>, l!Jt1" IN/k.111. hu1ú.rb ailuu;al C' poll:mku lüttirW no Uu.wl ~lo l',111,Jo: Comp:rnh.ia
du Lcuu, l'J91.
V1AN1'1.'. Ma:ly. O rc.:a, a. lo."'L < .u in&\UIC".Í«>CS de nc..-c.ralwo de 19.¼. ln; hJW.lM, Jocsc:: OLU..AUU, L.
11" A. N. () Rnlril ,,,,,.6fir.r1rwr. o n•mpo dt, n..tc1011,d nr.ativnn. Rio dr J.mc-lT"O: Ov1B,.,1c;_..o ll1;1,lldr,1.
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