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Ijuí (RS)
2019
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Ijuí (RS)
2019
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
O presente estudo tem por finalidade analisar e discutir a crise eminente no atual sistema
penitenciário brasileiro, que se caracteriza como um ambiente de violência extrema, de
corrupção e de condições desumanas frente ao princípio constitucional da dignidade da pessoa
humana. A pena privativa de liberdade, nos dias atuais, é considerada a sanção de maior
representatividade no sistema repressivo – eis que constitui a pena por excelência. Faz
referência a castigo duro e feroz, aplicado ao delinquente enquanto inimigo da sociedade.
Com ela, busca-se corrigir o que parece incorrigível no sistema vigente. A incredulidade no
que tange à busca da reinserção social do apenado como função primordial da pena advém,
em sua grande maioria, da sociedade – a qual ignora as mazelas decorrentes das prisões e não
muda sua perspectiva quanto ao apenado, tratando-o como eterno excluído. Em razão disso, o
atual sistema prisional brasileiro tem se constituído em um paradoxo, pois de um lado
convive-se com uma acentuada escalada da violência e a exigência da população pela
aplicação de penas mais severas; enquanto de outro com a superpopulação e os problemas
enfrentados no cárcere, tais como a divisão entre facções criminosas e grupos sem
faccionamento, estes últimos formados por detentos que estudam, trabalham ou até mesmo
participam de projetos sociais. O Presídio Central de Porto Alegre, anteriormente chamado de
Cadeia Pública de Porto Alegre, foi objeto de uma recente pesquisa divulgada pelo Correio do
Povo (2018), mostrando as diversas faces da prisão e o que ocorre no lado de dentro. Ainda,
no tocante às condições do Presídio Central, é nítida a superlotação carcerária, dividida entre
facções e não facções, o que foge do controle do Estado, sem condições estruturais mínimas
de manutenção da ordem dentre os detentos, que não são ressocializados, retornando piores à
sociedade do que quando ali adentraram. A realidade mostra que o sistema prisional gaúcho
possui sérios problemas, exigindo investimentos por parte do Estado, o que gera a
necessidade de repensar o conceito que se tem sobre a prisão, e trabalhar no sentido de
humanizar o cumprimento da pena.
ABSTRACT
The purpose of this study is to analyze and discuss the eminent crisis in the current Brazilian
penitentiary system, which is characterized as an environment of extreme violence, corruption
and inhuman conditions against the constitutional principle of the dignity of the human
person. The custodial sentence, nowadays, is considered the sanction of greater
representativeness in the repressive system - this is the penalty par excellence. It refers to hard
and ferocious punishment, applied to the delinquent as an enemy of society. With it, it seeks
to correct what seems incorrigible in the current system. Unbelief in the search for social
reinsertion of the grieving as the primary function of the pen comes, for the most part, from
society - which ignores the evils arising from prisons and does not change its perspective on
the grieving, treating it as eternal excluded . As a result, the present Brazilian prison system
has become a paradox, since on the one hand there is a marked escalation of violence and the
population's demand for more severe sentences; while overpopulation and the problems faced
in jail, such as the division between criminal factions and groups without factions, the latter
formed by prisoners who study, work or even participate in social projects. The Porto Alegre
Central Prison, formerly known as the Public Chain of Porto Alegre, was the subject of a
recent survey released by the Correio do Povo (2018), showing the various faces of the prison
and what happens inside. Still, with regard to the conditions of the Central Prison, the
overcrowding of prisons, divided between factions and non-factions, is clear, which escapes
from the control of the State, without minimum structural conditions of order maintenance
among detainees, who are not re-socialized, returning worse society than when they entered.
The reality shows that the prison system in Rio Grande do Sul has serious problems, requiring
investments by the State, which generates the need to rethink the concept of prison, working
to humanize the fulfillment of the sentence.
Key words: Feather. Brazilian Penitentiary System. Central Prison of Porto Alegre. Human
Dignity. Human Rights. Resocialization.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 63
10
INTRODUÇÃO
Nesse passo, embora os direitos dos presos tenham atingido status constitucional, a
estrutura processual inviabiliza a sua concessão, pois, como se vê, o atual sistema possui
natureza inquisitiva. O sistema acusatório e garantidor, por mais que instituído pelos diplomas
legais, está omisso na prática. Esta natureza híbrida possui origem na tensão entre jurisdição e
administração, eis que o conflito existente, face às diversas mazelas provindas do sistema
carcerário, segrega a dignidade humana e vai na contramão do sistema processual de
garantias.
O presente estudo utiliza como referência o Presídio Central de Porto Alegre – modelo
da realidade perversa que abrange as cadeias brasileiras – e busca esclarecer e evidenciar as
mazelas advindas do cárcere brasileiro. Demonstra, também, que o descaso do Estado frente à
situação encontrada afeta diretamente a integridade física e moral dos apenados.
Penitenciárias (Infopen). Com base em tal tema, contou-se com o auxílio das legislações
pertinentes à matéria e com a própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
(CF/88). A partir delas é possível perceber a agressão da integridade física e moral dos
apenados face às garantias constitucionais trazidas à baila. Além disso, houve a exploração de
diversas obras de distintos autores, os quais debatem a temática abordada, ampliando o campo
de ideias e configurando-se no corpus da pesquisa realizada.
Inicialmente, o primeiro capítulo faz uma abordagem acerca dos aspectos gerais do
sistema prisional brasileiro, bem como das origens históricas, da evolução da pena de prisão e
do sistema penitenciário no Brasil. Isso possibilita uma melhor compreensão do tema em
discussão, uma vez que o sistema é falho no que diz respeito à integridade física e moral do
apenado.
Por fim, o terceiro capítulo busca especificar as condições de vida dos encarcerados no
Presídio Central de Porto Alegre e tecer algumas considerações sobre a situação dos presídios
no Brasil, tudo isso face ao desrespeito à pessoa privada de liberdade como ser humano e a
atuação dos Direitos Humanos. Como subsídio, o estudo conta com os dados do
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) e dos relatos de autoridades
que trabalham diretamente com o referido estabelecimento prisional, a fim de esclarecer as
mazelas impostas aos encarcerados.
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Cabe, inicialmente, tecer algumas considerações acerca do disposto no art. 5º, XLIX,
da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), que assim expressa: “é
assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.” Na contemporaneidade,
todavia, não é exatamente isso que acontece. Há uma inegável discrepância entre a realidade
prisional e o que é preconizado pela legislação. A falta de políticas públicas e o descaso com
as normas existentes fazem com que a ressocialização não aconteça, e que ao cumprir sua
pena, o apenado deixe o presídio muito pior do que quando ingressou.
É indubitável que tanto o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, como o
Pacto de São José da Costa Rica, em seus arts. 10 e 5º, respectivamente, consagram regras
protetivas aos direitos dos presos, garantindo-lhes um tratamento digno inerente à pessoa
humana. Neste sentido, dispõe o art. 10 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos:
1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e
respeito à dignidade inerente à pessoa humana.
2. a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com
sua condição de pessoa não-condenada; b) As pessoas processadas, jovens, deverão
ser separadas das adultas e julgadas o mais rápido possível.
3. O regime penitenciário consistirá num tratamento cujo objetivo principal seja a
reforma e a reabilitação normal dos prisioneiros. Os delinqüentes juvenis deverão
ser separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição
jurídica. (BRASIL, 1992a).
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.
[...]
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias
excepcionais, e devem ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de
pessoas não condenadas.
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e
conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu
tratamento.
6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a
readaptação social dos condenados. (BRASIL, 1992b).
Percebe-se, assim, que a questão relativa ao respeito à integridade do preso tem sido
alvo de muitos debates e sensacionalismos, já que a mídia tem dado especial atenção às
mazelas do sistema prisional, principalmente quando ocorrem rebeliões, fugas ou motins.
Com efeito, a CF/88, ao assegurar ao preso o direito à integridade física e moral, não
dá à sociedade o direito de subtrair os seus direitos constitucionais. Nesse sentido, esclarece
Adauto Suannes (2004, p. 181) que:
[...] a condição de cidadão preso não lhe retira o direito ao respeito à integridade
moral e à dignidade. Seus direitos personalíssimos devem ser tutelados de forma
mais eficaz, não só por jornalistas, como também por autoridades policiais e
membros do Ministério Público, que devem se abster de exibir presos à mídia.
país. Isso demonstra que o regramento jurídico na área penal movimenta-se de tal forma que é
possível identificar os sistemas de punição existentes desde os tempos mais remotos.
Há, contudo, uma pergunta de maior importância que é mister responder, a saber: qual
o significado do termo pena? No entendimento de Odete Maria de Oliveira (1984, p. 2),
“etimologicamente, o termo pena procede do latim (poena), porém, com derivação do grego
(poine) significando dor, castigo, punição, expiação, penitência, sofrimento, trabalho, fadiga,
submissão, vingança e recompensa.” Observa-se, portanto, que o termo pena tem o
significado semelhante em qualquer idioma, enquanto a sua função repressiva mostra as
extintas fases, que variam de cultura para cultura.
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A primeira fase da pena ocorreu, segundo Oliveira (1984, p. 3), por meio da vingança
individual, considerada “[...] a forma mais remota da manifestação da pena”, ou seja, “a
satisfação do lesado contra quem lhe causara um mal.” Isso ocorria porque naquele tempo não
havia autoridade soberana e competente com o direito de punir.
Nesse contexto, surgiu a vingança da Paz Social que, segundo Oliveira (1984, p. 4),
pode ser assim descrita:
Outro tipo de pena surgida no Período Neolítico, ou seja, na segunda Idade da Pedra,
introduziu a vingança limitada e do Talião Material, o que representou uma grande conquista,
“[...] pois estabelecia uma proporcionalidade entre ação e a reação do delito cometido e da
pena imposta.” Conforme Oliveira (1984, p. 4), passou-se do período da vingança ilimitada
para a vingança limitada, ou seja, a retribuição do dano praticado pelo delinquente era de
igual com igual, aplicando-se o famoso princípio de Talião: “olho por olho, dente por dente”.
Muitos outros aspectos relacionados à pena poderiam ser objeto deste estudo, porém, o
que interessa é compreender como a pena tornou-se proporcional ao crime, ou seja, como
surgiu a moderação das punições. Várias teorias sustentam a justiça penal, todavia, o novo
direito não poderia mais manter a vingança suprema do soberano, mas, sim, estender-se à
defesa da sociedade, abandonando seu caráter retributivo, atenuando a punição e formando
um consenso a respeito da prevenção do delito (OLIVEIRA, 1984).
A evolução do sistema prisional brasileiro pode ser analisada a partir de dois enfoques:
o primeiro relaciona-se à política criminal aplicada no Brasil e os aspectos negativos
existentes nas prisões brasileiras. Marisa Bueno e Rogério Maia Garcia (2006, p. 51) afirmam
nesse sentido que:
O sistema penitenciário brasileiro tem sido marcado por episódios que realçam a falta
de políticas públicas na área penal e o descaso com um novo modelo prisional que promova a
reintegração do apenado à sociedade após o cumprimento de sua pena.
O segundo ponto a ser analisado diz respeito aos aspectos negativos das penitenciárias
brasileiras, que são consequência de uma política criminal desatenta e inconsequente.
Percebe-se que tanto o Legislativo como o Executivo quer dar uma resposta rápida à
sociedade, encarcerando todos aqueles que cometem delitos. Muitas vezes, porém,
desrespeitam a segurança do acusado e a garantia do devido processo legal, utilizando-se do
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mau uso do poder como forma de punir, e de um sistema prisional desestruturado, com penas
desproporcionais e um ambiente prisional que viola a dignidade humana.
O sistema que mais se aproxima do adotado pelo Brasil é o progressivo, embora com
algumas modificações. Esse sistema “surgiu na Inglaterra no século XIX e considerava o
comportamento e aproveitamento do preso, verificados por suas boas condutas e trabalho
[...]” (MACHADO; SOUZA; SOUZA, 2013, p. 3).
Segundo o art. 32 do Código Penal, existem três penas no Brasil: I – pena privativa de
liberdade; II – pena restritiva de direitos; III – pena de multa, o que permite entender que a
legitimidade social da prisão se dá para melhor controlar a população carcerária
(MACHADO; SOUZA; SOUZA, 2013, p. 4).
Não se objetiva, porém, adentrar nas diversas categorias criminais para legitimidade
da prisão, pois o que interessa a esta pesquisa é verificar como a realidade prisional se
apresenta em face dos antecedentes e grau de criminalidade do condenado, bem como em
relação à sua índole, caráter e periculosidade.
O sistema prisional brasileiro encontra-se em estado precário, sendo que o ponto mais
grave diz respeito à falta de investimentos e ao descaso do poder público. Isso demonstra que
o sistema que deveria se tornar um instrumento de substituição de penas desumanas não tem
desempenhado o seu papel, tornando-se uma “escola de aperfeiçoamento de criminosos”, haja
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vista seus espaços insalubres e inadequados, que violam a integridade, tanto física quanto
moral dos apenados (MACHADO; SOUZA; SOUZA, 2013).
Nota-se que o sistema prisional brasileiro, com a superpopulação dos presídios, viola o
art. 5º, XLIX, da CF/88, que diz: “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e
moral”, mostrando mais uma vez que as autoridades públicas agem como se nada estivesse
acontecendo no cárcere brasileiro (BRASIL, 1988).
Vale lembrar o que diz a Lei de Execução Penal, em seu art. 88, parágrafo único:
Tais dados indicam que o sistema carcerário encontra-se em crise, e urge que o poder
público tome providências para amenizar esse problema, sob pena de sofrer um colapso e
haver rebeliões nas prisões brasileiras, inclusive no Presídio Central de Porto Alegre, que é
objeto de análise nesta pesquisa.
Apesar do descaso e das falhas nos sistemas carcerários, existem excelentes projetos
em alguns Estados com a finalidade de ressocializar o apenado, a exemplo do projeto adotado
na Bahia – o “Programa Educar para Reintegrar”, cuja finalidade é a alfabetização dos
apenados, possibilitando-lhes não apenas a formação pedagógica, mas uma melhoria
terapêutica (SANTOS, 2011).
Sendo assim, percebe-se que a superlotação das penitenciárias, com o déficit de vagas
apresentado anteriormente, viola efetivamente as normas e princípios constitucionais,
notadamente no que diz respeito aos detentos e à sua dignidade.
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De início, cabe frisar que o Estado é a única entidade de poder soberano, de modo que
é o titular exclusivo do direito de punir (por muitos chamado de “poder-dever de punir”). Este
direito de punir é genérico e impessoal, eis que não se dirige especificamente contra esta ou
aquela pessoa, mas à coletividade como um todo. Trata-se, portanto, de um poder abstrato de
punir qualquer um que venha a praticar fato de infração penal (CAPEZ, 2013).
O Código Penal brasileiro, em seu art. 33, caput, prevê duas espécies de pena privativa
de liberdade: a reclusão e detenção. A princípio, não há diferença entre a pena de reclusão e a
de detenção, todavia, elas existem, mesmo que poucas. Entre essas diferenças pode-se citar a
pena de reclusão no início do cumprimento da pena, a qual é destinada ao crime de maior
gravidade. Por outro lado, o delito de menor gravidade é punido com detenção, cujo regime
de cumprimento da pena pode, no máximo, iniciar em regime semiaberto. Nada, porém,
impede que o condenado à pena de detenção cumpra sua condenação em regime fechado, por
força da regressão de pena, a qual poderá ocorrer durante a sua execução (BRASIL, 1941).
As penas privativas de liberdade estão previstas pelo Código Penal, sendo que para os
crimes ou delitos cabem as penas de reclusão e detenção. A lei das contravenções penais
também prevê pena privativa de liberdade, que é a prisão simples (GRECO, 2008).
Quando se diz que a pena privativa de liberdade restringe apenas o direito de ir e vir
do condenado, nada mais é do que uma mentira. A pena de prisão incide em esferas
muito mais amplas e diversas do que unicamente a liberdade do indivíduo. Na
prática, os demais direitos dos presos, que lhe são garantidos pela Constituição
Federal e pela própria Lei de Execução Penal, são, em sua maioria, deixados de
lado, seja por questões estruturais da própria penitenciária, seja por deficiências
econômicas, ou ainda propositalmente, para causar ‘aversão à prisão’ pelo preso.
Por outro lado, não se pode deixar de registrar que a execução privativa de liberdade
não pode ser abolida de forma abrupta, pois tanto o Poder Judiciário como os operadores do
Direito, o próprio apenado e a sociedade em geral não possuem uma cultura voltada à paz, e
sim à penalização dos fatos cometidos.
A atual realidade prisional evidencia que a pretensão punitiva do Estado não alcança
os fins propostos, pois ainda há falhas nesse processo de execução, em que os condenados não
encontram um terreno fértil para a redução da pena e ressocialização.
[...] qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do
mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando,
neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a
pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como
venham a lhe garantir as condições existentes mínimas para uma vida saudável,
além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos
da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.
Ainda sobre a dignidade humana, Flávia Piovesan (2012, p. 446) alerta que se deve
buscar o equilíbrio e a reciprocidade entre o Estado e o agente causador do dano a fim de
salvaguardar os direitos do ser humano e não apenas as prerrogativas do Estado. Afirma,
também, que os direitos e as garantias constantes no texto Constitucional são cláusulas
pétreas, e a dignidade humana é uma qualidade intrínseca de cada um.
[...] o sistema prisional atual forma pessoas mais cruéis diante da falta de estrutura
que não oferece segurança e não previne o crime, sendo a superlotação um dos
fatores que mostra plenamente a condição desumana, que precisa urgentemente de
mudanças, e conscientizar a sociedade de que o ser humano que cumpriu sua pena
tem o direito de recomeçar sua vida, sem discriminação, pois um sistema rotativo é
desumano, pois prende o indivíduo que comete um crime e, após cumprimento da
pena, marginaliza-o, sem ressocialização, embora a finalidade da pena não seja a
reincidência. (CASTRO, 2005, p. 124)
Importante anotar que o sistema prisional exige que o apenado passe a viver no cárcere
de acordo com as normas estabelecidas pelos próprios condenados, cujas regras obstaculizam,
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Pretende-se, ainda, trazer a visão dos juristas nacionais e estrangeiros, bem como
demonstrar por meio da teoria do Garantismo, de Luigi Ferrajoli, que se pode enfrentar
situações radicais e críticas de desrespeito ao ser humano enquanto apenado. Realiza-se,
assim, a partir de dados estatísticos e entrevistas já realizadas e publicadas no meio eletrônico,
uma reflexão sobre as condições precárias do Presídio Central de Porto Alegre.
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos
ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o devido
respeito à dignidade inerente ao ser humano.
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias
excepcionais, e devem ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de
pessoas não condenadas.
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e
conduzidos a tribunal especializado, com maior rapidez possível, para seu
tratamento.
6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a
readaptação social dos condenados. A simples leitura do dispositivo mencionado já
revela a profunda relação do direito à integridade pessoal e a pena privativa da
liberdade. (BRASIL, 1992a).
No plano internacional, anterior ao Pacto de São José da Costa Rica, a Declaração dos
Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948, mesmo não
contemplando expressamente o direito à integridade física e psíquica, estabeleceu que
“ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante (art. V)”, demonstrando preocupação com a dignidade do ser humano.
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...]
III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
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Sarlet (2007, pp. 424-425) menciona que não há como confundir o direito à
integridade corporal com o direito à vida, pois:
O autor supracitado acredita que é preciso haver distinção entre o direito à integridade
física e psíquica e o direito à integridade moral, “[...] que, juntamente com as duas primeiras
manifestações, compõem o direito à integridade pessoal”. Este, porém, não será objeto desta
pesquisa, pois se refere aos direitos à honra e à imagem, embora o apenado tenha direito à
proteção de todos os seus direitos, mesmo daqueles que não estejam inter-relacionados, mas
que são reconhecidos pelas leis internacionais e nacionais (SARLET, 2017, p. 425).
Cabe referir que é inegável o conflito existente entre a dignidade da pessoa humana e a
Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84). Destaca-se, nesse sentido, a superlotação dos
presídios e a ociosidade dos presos, pois não há nenhum tipo de trabalho carcerário. Ademais,
há a morosidade da Justiça, os parcos investimentos no sistema carcerário, a falta de
melhorias estruturais e de capacitação de agentes penitenciários para dar cumprimento ao
previsto na Lei. Tudo isso revela um sistema carcerário cada vez mais ineficiente na
reintegração social dos presos (SARLET, 2017).
Nessa ótica, a posição do Supremo Tribunal Federal (STF) merece ser colacionada,
pois definiu, em 16 de fevereiro de 2017, “que o preso submetido a situação degradante e à
superlotação na prisão tem direito à indenização do Estado por danos morais.” No Recurso
Extraordinário (RE) 580252, com repercussão geral reconhecida, os ministros restabeleceram
decisão que havia fixado a indenização em R$ 2 mil por condenado (STF, 2017)1.
É imperioso ressaltar que a dignidade da pessoa humana tardou a ser reconhecida nos
planos internacional e constitucional brasileiro. Explica Karine da Silva Cordeiro (2012, p.
77) que “[...] sobreveio a Segunda Guerra Mundial e o desprezo e o desrespeito pelos direitos
1
No caso concreto, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul (DP-MS), em favor de um condenado a 20 anos
de reclusão, cumprindo pena no presídio de Corumbá (MS), recorreu contra acórdão do Tribunal de Justiça local
(TJ-MS) que, embora reconheça que a pena esteja sendo cumprida “em condições degradantes por força do
desleixo dos órgãos e agentes públicos”, entendeu, no julgamento de embargos infringentes, não haver direito ao
pagamento de indenização por danos morais. O Plenário acompanhou o voto proferido em dezembro de 2014
pelo relator, ministro Teori Zavascki (falecido), no sentido do provimento do recurso. Em seu voto, o ministro
restabeleceu o dever de o Estado pagar a indenização, fixada em julgamento de apelação no valor de R$ 2 mil.
Ele lembrou que a jurisprudência do Supremo reconhece a responsabilidade do Estado pela integridade física e
psíquica daqueles que estão sob sua custódia. Ressaltou também que é notória a situação do sistema
penitenciário sul-matogrossense, com déficit de vagas e lesão a direitos fundamentais dos presos (STF, 2017).
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[...] pode-se compreender que a dignidade, como qualidade intrínseca de todo o ser
humano, é irrenunciável e inalienável, qualificando-o como tal e dele não podendo
ser destacada. Todos são iguais em dignidade, como explicita a DUDH/ONU logo
no artigo 1º. Inadmissível cogitar-se de uma pessoa sem dignidade, por mais
ultrajantes que sejam os atos praticados pela mesma, por mais graves que sejam as
deficiências pessoais, ou ainda evidentes que tenham sido os atos tendentes à
renúncia da própria dignidade. Trata-se de uma capacidade potencial de
autodeterminação, independendo de efetiva realização no caso concreto [...]
[...] seja quando está em causa a natureza e a intensidade da sua relação com os
direitos humanos e fundamentais, sendo considerada na ordem jurídica como um
conjunto de princípios estruturantes com contornos gerais e necessários para
assegurar a não violação da integridade física, psíquica e moral do ser humano.
(SARLET, 2017, p. 262)
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Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 400), por outro lado, aduz que
É tão grande a crise prisional que tentam novos meios para mudar a sua imagem,
incluindo-se aí, saídas do condenado para trabalhar e estudar, centros de tratamento
comunitário, tratamento especial para os drogados etc. O Direito Penal encontra-se
na UTI no que diz respeito ao sistema prisional, pois é límpido que a pena de prisão
deteriorou todo o sistema penal. Em quase todas as suas formas dissolve o núcleo
familiar, causando danos sérios. É cara e antieconômica; cara quanto à inversão em
instalações, manutenção de pessoal; antieconômica porque o condenado não produz
e deixa a família no abandono material. Outros problemas insolúveis da prisão são a
prisionalização e a estigmatização dentro da política criminal. (NASCIMENTO,
2007, pp. 215-216).
2.3 Lei de Execução Penal: aspectos atuais referentes ao cumprimento da pena privativa
de liberdade
A Lei nº 7.210/84 foi criada com a finalidade de regulamentar a relação entre o preso,
Estado e Judiciário, visando, primordialmente, a ressocialização do apenado, sem descartar,
contudo, a punição, uma vez que objetiva concretizar a sanção imposta na sentença.
A LEP estabelece, em seu art. 1º, o objetivo da execução penal, que é: “efetivar as
disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica
integração social do condenado e do internado.” (BRASIL, 1984). Segundo Norberto Cândido
Pâncaro Avena (2014, p. 79), a execução penal tem como intenção principal “Proporcionar
condições para a integração social do condenado não se resume ao plano teórico, mas, ao
contrário, tem balizado as decisões do Poder Judiciário no momento de decidir sobre a
concessão ou negativa de benefícios.”
Na verdade, a referida lei, a partir do art. 10, dispõe os deveres do Estado com relação
ao apenado, objetivando a prevenção do crime e o seu retorno ao convívio social. Ressalta-se
que o Estado tem o dever de promover assistência no âmbito material, da saúde, judicial,
educacional, social e religioso, não só ao preso, mas também ao internado, possibilitando-lhe
condições de ser reinserido socialmente (AVENA, 2014).
Um aspecto essencial que precisa ser considerado e que já foi referido anteriormente
diz respeito ao Código Penal, responsável pelas leis que regulam os regimes prisionais. Não
se pode deixar de mencionar, porém, que a Lei de Execução Penal é uma legislação especial
criada exclusivamente para trazer um suporte ao Código Penal em relação à execução das
penas, como o próprio nome supõe e o art. 1º expõe: “A execução penal tem por objetivo
efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado.” (BRASIL, 1984).
A Lei de Execução Penal contém as regras a respeito da execução das penas privativas
de liberdade, restritivas de direitos e multa. Regulamenta, assim, além dos deveres (art. 38 e
39), os direitos do preso (arts. 40 a 43), o seu trabalho interno e externo (arts. 28 a 37), a
transferência de regimes (arts. 110 a 119) e as infrações disciplinares e sanções (arts. 44 a 60)
(MIRABETE, 2016).
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Garantir aos presos seus direitos é uma preocupação que a Lei de Execução Penal traz
expressa em seu art. 41, ao expressar:
Embora a LEP tenha a finalidade de reeducar o condenado para que possa retornar ao
convívio social, sabe-se que a ressocialização não acontece, pois a situação em que se
encontram as prisões, com a superlotação das celas e a falta de estrutura física que possibilite
a prática de atividades educativas, de trabalho, de lazer em nada contribuem para dar ao preso
condições de se regenerar. Nesse sentido, Nucci (2008, p. 109) explica que:
Urge, então, que o Estado agilize a votação da proposta de Reforma da LEP que
tramita no Congresso Nacional, pois com mudanças substanciais no sistema de execução
penal talvez seja possível, no decorrer de sua implementação, dar efetividade aos direitos
fundamentais constitucionais dos apenados.
Tramita no Congresso Nacional, desde 2013, o Projeto de Lei nº 513, que objetiva a
reforma da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984), elaborado por uma comissão de
juristas, entregue para apreciação, discussão e votação em plenário em dezembro de 2012.
Essa proposta havia sido aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado
em setembro de 2012 e, em seguida, “[...] foi convertida em projeto de lei assinado pelo então
presidente do Senado, Renan Calheiros. O texto aprovado é um substitutivo do senador Jader
Barbalho (PMDB-PA).” (CONSULTOR JURÍDICO, 2017).
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Registra-se que o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 513/2013 não teve andamento
desde 2017, apesar da necessidade de agilização de encaminhamento para aperfeiçoar a LEP.
“A proposta tem como um dos seus principais objetivos atacar problemas enfrentados pelo
sistema carcerário brasileiro, como a superlotação de presídios, a informatização e a
ressocialização de detentos.” (CONSULTOR JURÍDICO, 2017).
Para demonstrar a seriedade com que foram tratadas as questões pertinentes à reforma,
analisa-se, a seguir, a visão de juristas sobre o anteprojeto, com destaque para o entendimento
do ministro Sidinei Beneti, do Superior Tribunal de Justiça, presidente da Comissão.
39
Neste sentido, o ministro Sidnei Beneti, presidente da Comissão, ressaltou que o grupo
teve em vista “os grandes princípios enfeixados no binômio garantia dos direitos
fundamentais do ser humano condenado e garantia de direitos fundamentais dos cidadãos que
têm direito de exigir a adequada execução da pena no necessário combate à impunidade.”
cometimento do delito. Por outro lado, agregando argumentos aos princípios, advogam que a
busca incessante pela ressocialização do sentenciado passa, necessariamente, pelo trabalho e
estudo, cujos direitos os qualificam para a volta à convivência social.
A grande questão oculta que permeia o debate jurídico sobre os conflitos carcerários
no país está interligada ao descumprimento do Estado com a sua obrigação de implementar
políticas públicas que zelem pela integridade física e moral dos apenados.
A LEP dará um prazo máximo para que os Estados se adequem e acabem com essa
anomalia que é haver presos em delegacias de polícia. Sendo levado adiante este
projeto, a sociedade terá uma lei muito mais justa e muito melhor no que diz respeito
às finalidades legítimas e constitucionais atribuídas à pena. (SENADO FEDERAL,
2013, pp. 2-3).
Sem querer esgotar o tema, aborda-se um aspecto fundamental que diz respeito às
prisões brasileiras, notadamente quanto ao atendimento das mulheres encarceradas. Aspectos
mais abrangentes sobre as questões que permeiam o cárcere brasileiro não serão abordadas,
tendo em vista que este estudo é apenas um trabalho monográfico e não uma dissertação de
mestrado.
Nesta seara, na visão da juíza Nídia Rita Coltro Sorci, do Tribunal de Justiça de São
Paulo, o projeto constituiu-se num grande avanço para as mulheres encarceradas. Observa-se
42
que na cidade de São Paulo, a juíza é responsável por quase cinco mil presas, e revelou que a
população carcerária feminina só vem crescendo, vindo a triplicar nos últimos dez anos.
Na visão de alguns juristas, portanto, pode-se afirmar que há uma grande preocupação
em dar nova configuração ao sistema carcerário nacional. Mesmo, porém, que o
posicionamento teórico dos juristas tenha sido fértil em demonstrar a necessidade de
modificações e aperfeiçoamento da Lei de Execução Penal, a questão entrava no processo
legislativo do PLS 513/2013, que não avança em suas discussões porque não há interesse do
Congresso Nacional em dar o devido encaminhamento, já que os sentenciados não exercem o
direito político ao voto.
O art. 5º, inc. XLIX da CF/88 assegura “aos presos o respeito à integridade física e
moral.” Todavia, como bem visto na contemporaneidade, não é exatamente isto que acontece.
Há uma inegável discrepância entre a realidade prisional e o que é preconizado na legislação.
A falta de políticas públicas e o descaso com as normas existentes fazem com que a
ressocialização não aconteça, e que após o apenado cumprir sua pena deixe o presídio muito
pior do que quando entrou.
É fato notório que a Lei de Execução Penal do Brasil é considerada uma das mais
modernas do mundo, entretanto, tal lei é inexequível em vários dos seus dispositivos, uma vez
que não há estrutura adequada à sua aplicação, tampouco ao cumprimento das penas
privativas de liberdade ou às medidas alternativas apresentadas à espécie.
Frente à aplicação da pena, Luigi Ferrajoli (2002, p. 21) embasa a sua visão na
concepção da Teoria do Garantismo Penal. De acordo com o seu pensamento, o modelo
garantista clássico é fruto da tradição jurídica do Iluminismo e do Liberalismo, e está
43
A teoria do garantismo, além de fundar a crítica do direito positivo referente aos seus
parâmetros de legitimação externa e interna é, por consequência, também uma crítica das
ideologias: das ideologias políticas, sejam jusnaturalistas ou ético-formalistas, que
confundem, sob o plano político externo, a justiça com o direito, ou pior, vice-versa; e das
ideologias jurídicas, sejam normativas ou realistas, que confundem, paralelamente, sob o
plano jurídico ou interno, a validade com o vigor, ou, ao contrário, a efetividade com a
validade (FERRAJOLI, 2002).
Destarte, esta teoria do garantismo penal mostra-se importante justamente por permitir
uma crítica das ideologias, evidenciando que a lei penal e a execução da pena devem atender
aos anseios daqueles a que se destinam.
Evidencia-se, assim, que o modelo garantista nega o direito penal do inimigo, uma vez
que reconhece o outro como uma pessoa com dignidade, que deve ser respeitada apesar de ter
cometido um delito e, portanto, não deve ser vista como um meio para aplicação da pena, mas
sim como um fim (CARVALHO, 2008, p. 149).
Denota-se, assim, que o sistema carcerário nacional está distante da teoria garantista,
uma vez que “[...] tem como norte a pedagogia disciplinar. Conforma, pois, um modelo
otimizado de violação dos direitos fundamentais”, exacerbando as relações intramuros e
provocando a rebelião, motins, condutas ilícitas, o que demonstra a existência de um conflito
entre a legislação da execução penal e o cotidiano carcerário (CARVALHO, 2008, p. 221).
Deste modo, percebe-se que é imprescindível efetuar a análise dos dados que
identifiquem as péssimas condições dos presídios brasileiros – degradantes, desumanas,
indignas e torturantes –, em especial do Presídio Central de Porto Alegre. Dessa forma, será
possível demonstrar que há constante violação dos direitos fundamentais e que os objetivos da
LEP não estão sendo alcançados face à falta de políticas públicas que proporcionem a
reeducação do apenado e sua reintegração na sociedade.
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Este capítulo tem por objetivo especificar as condições de vida dos encarcerados no
Presídio Central de Porto Alegre, em especial quanto ao respeito ao ser humano, à restrição da
liberdade e à atuação dos Direitos Humanos nesse cenário.
Após analisar essa realidade apresenta-se a posição da juíza Sonáli da Cruz Zluhan; do
defensor público do RS, Alexandre Brandão, dirigente do Núcleo de Defesa em Execução
Penal; e do juiz de Direito Sidinei Brzuska, titular da Vara de Execuções Criminais de Porto
Alegre. A finalidade é demostrar que os fenômenos violência e violação dos direitos humanos
estão inter-relacionados, bem como comprovar o tratamento desumano, cruel e indigno vivido
pelos presos, sentenciados ou não, no Presídio Central de Porto Alegre.
A atual situação dos presídios no Brasil está relacionada ao fato de o Governo Federal
não apresentar uma política voltada ao cumprimento da obrigação constitucional que prevê a
garantia da integridade física e moral do apenado, tampouco cumprir com os objetivos
previstos na LEP.
Nesse viés, embora se tenha uma ampla Lei de Execução Penal no que diz respeito à
sua taxatividade, percebe-se que o escrito não condiz com o que é aplicado cotidianamente,
resultando no caos em que se encontra o sistema penitenciário brasileiro.
Frente aos dados expostos na Figura 1, insta consignar que do número total de
encarcerados, 33.868 se encontram no Estado do Rio Grande do Sul, fazendo com que o
Estado venha a ocupar a sétima posição entre os maiores índices de habitação carcerária no
país (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2016).
No atual contexto político-social e jurídico constata-se que o Direito Penal vem sendo
alvo de inúmeros questionamentos acerca de sua eficácia e efetividade. Nesse sentido, é
fundamental analisar aspectos referentes aos presos sem condenação, com medida de
segurança, sentenciados e em regime fechado e aberto, entre outros.
48
2
Ultima ratio significa “última razão” ou “último recurso”.
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É inegável que o abismo racial faz parte da história brasileira, sendo a estigmatização
dos cidadãos negros reforçada pelo preconceito e senso comum, pois são percebidos como
potenciais pertubadores da ordem social e constantes alvos de investigações policiais
(ADORNO et al., 2010). Mesmo, porém, que os dados estatísticos revelem que o perfil da
população carcerária, no que tange à cor, representa um índice superior a 50% de negros, é
necessário ressaltar que “as extremas desigualdades sociais, a baixa participação dos cidadãos
negros nas universidades e escolas particulares [...]” são obstáculos que contribuem para
impedir a universalizaçção da cidadania plena entre a população (ADORNO et al., 2010,
[s.p.]).
Esse fenômeno está enraizado no imaginário social e é comprovado pelos dados que
seguem. Não se pode, contudo, generalizar, pois “[...] não há diferenças entre o ‘potencial’
para o crime violento revelado pelos réus negros comparativamente aos réus brancos.”
(ADORNO, et al., 2010, [s.p.]).
Denota-se que do universo total de presos no Brasil, 55% têm entre 18 e 29 anos
(Figura 3), ou seja, são jovens que estão encarcerados, provavelmente pela falta de acesso à
cultura, educação, lazer, etc. Sob a ótica estadual, as maiores taxas de jovens presos com
menos de 25 anos são registradas no Acre (45%), seguido do Amazonas (40%) e Tocantins
(39%) (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2016).
Com relação aos crimes tentados e consumados pelas pessoas presas no sistema
federal, constata-se os relacionados ao tráfico de drogas, os quais levam mais pessoas às
prisões, representando 28% da população carcerária total. Somados, roubos e furtos chegam a
37%, enquanto homicídios representam 11% dos crimes que causaram a prisão
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2016).
O Infopen indica que 4.804 pessoas estão presas por violência doméstica e outras
1.556 por sequestro e cárcere privado. Crimes contra a dignidade sexual levaram 25.821
pessoas às prisões, das quais 11.539 respondem por estupro e outras 6.062 por estupro de
vulnerável (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2016).
Registre-se, contudo, que não se tem o objetivo de trazer à baila todos os dados
inerentes ao sistema carcerário, mas fazer uma demonstração do impacto da banalização do
sistema frente à integridade física e moral do apenado.
o crítico descaso e a inobservância frente à Lei de Execução Penal, bem como o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana.
Nesta senda, o que se tem é uma superlotação de 250%, somada aos três mil
funcionários, visitantes e voluntários que passam por lá diariamente. Registra-se, ainda, que
essa população supera o número de habitantes em 42% dos municípios gaúchos (JORNAL
DO COMÉRCIO, 2017).
Para amenizar os demais problemas do PCPA, as autoridades que atuam no dia a dia
no local desenvolvem projetos que visam oportunizar aos detentos a realização de alguma
atividade voltada à educação, artesanato, marcenaria, entre outros:
O diretor do PCPA afirma que ali são desenvolvidos vários projetos que servem de
modelo para o Brasil, e que o fator de dificuldade existente, hoje, é, realmente, a
superlotação – se, em vez de 4,7 mil presos, houvesse 2,5 mil, seria possível
abranger a todos com algum projeto. Na área de educação, há um Núcleo Estadual
de Educação de Jovens e Adultos (Neeja) com aulas dos ensinos Fundamental e
Médio, com as quais os presos podem concluir seus estudos. (JORNAL DO
COMÉRCIO, 2017).
Em cinco anos foram atendidos mais de mil presos, de acordo com o diretor do
presídio, sendo a grande maioria usuários de crack e outras drogas pesadas. “Quase
todos eles eram rejeitados pela família. Hoje, conseguimos trazer a família para
perto.” Como não há lugar para todos os presos necessitados, é dada prioridade aos
pertencentes a facções criminosas. (JORNAL DO COMÉRCIO, 2017).
3.3 Desrespeito à pessoa privada da liberdade como ser humano e a atuação dos Direitos
Humanos
Interessante lembrar que não faz muitos anos que os Direitos Humanos ganharam
notoriedade no Brasil e no mundo, e que desde o século XVII a efetiva proteção dos direitos
humanos sempre foi precária na maioria dos países. Evidentemente que
[...] essa morosidade na garantia dos direitos humanos acontece pelo fato de que não
há interesse na garantia plena dos direitos humanos, pois, para que o cidadão possa
ter vida digna, depende do acesso aos direitos civis, sociais e coletivos, ou seja, não
adianta ter direito de votar e ser votado se não tem acesso à educação e assistência à
saúde, enfim, no sistema capitalista, como será mencionado adiante, a elaboração de
políticas sociais pelo Estado servem, simplesmente, para garantir o mínimo ao
cidadão, não há interesse em resolver as mazelas que atingem a grande maioria da
população. (SANTOS, 2017, p. 10).
54
Por esse viés, percebe-se que um dos grupos mais atingidos por essa sonegação de
direitos é o dos presidiários que, excluídos da sociedade, invisíveis aos olhos dessa e da
família, não recebem do Estado a atenção exigida tanto pela CF/88 como pela Declaração
Universal dos Direitos do Homem no que concerne à efetivação de seus direitos mínimos,
quais sejam: saúde, educação, integridade física e moral, gerando, por sua vez, mais
desigualdades sociais (SANTOS, 2017).
Neste sentido, Oscar Vilhena Vieira (2008, p. 207) expõe, também, que são as
desigualdades sociais “que causam a invisibilidade daqueles submetidos à pobreza extrema, a
demonização daqueles que desafiam o sistema e a imunidade dos privilegiados”, corroendo o
próprio Estado de Direito e a observância das leis infraconstitucionais.
Neste aspecto, os encarcerados não são vistos como detentores de direitos e deles é
afastada a garantia inerente à dignidade humana, uma vez que, na visão de Ana Paula de
Barcellos (2019, p. 52), “[...] a concepção da dignidade da pessoa humana parece ser afastada
dos rotulados como criminosos e bandidos, a hipótese é a de que a própria concepção de
dignidade está vinculada às práticas do indivíduo e não à sua condição inerente de ser
humano.” Desse modo, os direitos humanos estão interligados à dignidade da pessoa humana
e, também, aos direitos individuais e coletivos reconhecidos a todos os cidadãos, inclusive os
privados de liberdade.
3.3.1 Posição da juíza Sonáli da Cruz Zluhan quanto à humanização da pena privativa de
liberdade
Obviamente, que o Estado do Rio Grande do Sul, com a grave crise econômica que
vem enfrentando nos últimos anos, não tem conseguido dar conta das demandas sociais.
Nessas se incluem a melhoria das condições da Segurança Pública, em especial das
penitenciárias, destacando-se o Presídio Central de Porto Alegre.
Diante dessa realidade, a fiscalização realizada pela magistrada Sonáli da Cruz Zluhan
e destacada em recente reportagem do Jornal Correio do Povo (2018), demonstra a
preocupação de que não adianta trabalhar apenas na lógica de criar mais vagas nos
estabelecimentos carcerários se não houver uma mudança na cultura do sistema prisional com
a humanização da pena privativa de liberdade.
56
A juíza tem razão em suas afirmações, uma vez que a situação carcerária do Rio
Grande do Sul é uma das questões mais complexas da Segurança Pública do Estado. Em
2017, segundo a Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE, 2018), a população
carcerária chegou a 37 mil presos, sendo que em apenas um ano houve um aumento de 3.446
presos nos regimes fechado, semiaberto e aberto.
3.3.2 Posição de Sidinei Brzuska, Juiz da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre
O Brasil é o terceiro país do mundo com maior número de presos, ficando somente
atrás dos Estados Unidos e da China. Em São Paulo se encontra um terço dos detentos, o que
57
denota que não são raros os casos de superlotação nos presídios brasileiros e, notadamente, no
Presídio Central de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
[...] uma parcela significativa da sociedade tem o pensamento de que bandido bom é
bandido morto e que, dentro dos presídios, quanto pior, melhor. Porém, segundo o
magistrado, o que aconteceu foi que, com isso, as organizações criminosas
transformaram as penitenciárias no quanto pior, melhor para o crime. “As facções
não reclamam de condições estruturais, do local, da comida ou colchão. Os presídios
se tornaram postos seguros para essas pessoas que comandam o crime dali”, frisa
ele, que ressalta que o Presídio Central é o berço de tudo. De acordo com Brzuska,
tudo é controlado de dentro do presídio. “O Estado se encolheu neste ‘quanto pior,
melhor’ por muitos anos”, aponta o magistrado. Para ele, aos poucos a
administração dessas penitenciárias foi repassada para os detentos. Para retomar o
controle, que é o que o governo busca hoje, não é algo fácil. (CORREIO DO POVO,
2018).
Cabe referir, portanto, que a atuação do magistrado no Rio Grande do Sul é muito
elogiada e mostra uma preocupação com o ser humano que está vivendo uma situação
temporária de privação da liberdade. Em sua fala, Brzuska ressalta que se o preso for tratado
sem a dignidade humana inerente a qualquer pessoa, certamente ao retornar ao convívio na
sociedade, enfrentará as consequência do cárcere e a discriminação pelo resto da vida.
Destarte, a violação dos direitos dos encarcerados tem consequências nocivas na forma
como irão reagir quando inseridos na sociedade. Sabe-se que a ressocialização é uma utopia
58
no país, uma vez que o Estado é extremamente ineficaz no que se refere à sua reeducação, não
auxiliando na reintegração dos presos na sociedade.
Da mesma forma, a Lei de Execução Penal, no art. 81, ressalta o papel da Defensoria
Pública que, entre outros, faz a fiscalização do ambiente carcerário a fim de garantir a
integridade física e moral dos presos, proporcionando condições para que o apenado se sinta
respeitado em seus direitos, mesmo que a situação dos estabelecimentos prisionais no Brasil
seja caótica.
Com efeito, mas não menos importante, é a posição do Defensor Público Alexandre
Brandão, atuante no Núcleo de Defesa em Execução Penal da Defensoria Pública do RS, que
assim se manifestou a respeito:
Merece destaque o trabalho da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul que vem
assegurando a defesa criminal eficaz daqueles que têm sua liberdade restringida e que não
possuem condições de constituir um advogado particular. Observa-se, também, que a
garantia de uma efetiva e completa assistência técnica é indispensável para a preservação
dos direitos e garantias fundamentais do apenado. Neste sentido,
CONCLUSÃO
A proteção resultante dessa falha é ilusória, eis que, como se vê, apenas os valores
negativos são reforçados. Enquanto isso, quanto mais gravosa for a pena e as medidas
impostas aos condenados, maior a probabilidade de reincidência, o que vai na contramão do
sistema acusatório de garantias.
É fato notório que o crime resulta de fatores sociais que não são afetados pela ameaça
penal ou pela efetiva imposição da pena. O que entrava, porém, é uma questão sócio-política,
cuja prevenção exige a elaboração de um amplo programa, projetado no plano político e
econômico.
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Insta consignar que a pena não se funda na retribuição, mas se destina à proteção do
bem jurídico tutelado e deriva da função estatal que garante a tutela e a manutenção da ordem
jurídica. A retribuição em nada se identifica com o escopo da pena – ao menos em tese –, eis
que presume a ideia de culpa como pressuposto de punição, jamais sendo capaz de justificar a
tipificação de determinadas condutas.
Por meio disso, ao refletir acerca da execução penal, constata-se que a Lei de
Execução Penal garante ao preso e ao internado a devida assistência e outras garantias legais.
Em direção oposta ao que estabelece a Lei, entretanto, os presídios (mais especificamente o
Presídio Central de Porto Alegre, objeto deste estudo) propiciam um ambiente degradante e
desumano ao preso, tendo em vista a superlotação, a ausência de assistência médica, a
precariedade na alimentação e a falta de higiene, cujos fatores desencadeiam diversas
doenças.
É evidente que a pena privativa de liberdade é a solução para diversos delitos, todavia,
o que advém do cárcere brasileiro é uma “fábrica de criminosos”. O sistema, porém, é falho
62
Imperioso ressaltar que uma sociedade democrática tem sua identidade diretamente
relacionada ao compromisso com a garantia e a efetivação dos Direitos Humanos, e não ao
seu controle ou negação. Desse modo, a correção das injustiças advindas das mazelas do
sistema penitenciário brasileiro está fortemente ligada à garantia constitucional frente à
dignidade da pessoa humana, sendo que a mudança nesse sentido representa o avanço da
democracia.
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