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Romance: Império de Sckharshantallas - Cap.

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INTRODUÇÃO

Olá leitores de Taverna do Elfo e do Arcanios, sou Antonywillians, o novo escritor


swashbuckler de romances e contos que veio aqui narrar grandes histórias e aventuras!
Há alguns anos escrevo diversos contos e romances que foram publicados em diversos
cantos da rede. Espero que gostem do meu trabalho e abaixo segue o início de uma das
sagas que mais gostei de escrever!

Boa Leitura!

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PARTE 1
A LENDA DE NIATHALLASS

Sckharshantallas é conhecido como o Reino do Dragão das Chamas, seu regente


máximo é o próprio Rei dragão Vermelho Sckhar. A psicologia dos dragões diz que eles
não admitem outros em seu território, sendo uma raça possessiva e territoralista, mas
neste caso, o regente aceita que todos ali vivam, contanto que se submetam a suas
ordens e ao seu poder, como se tudo em seu grande reino fosse sua propriedade,
inclusive a vida da população. Em seu reino enorme há alguns mini territórios feudais,
como que pequenos reinos, que foram dominados pela força real do dragão, um desses é
o reino de Logus, conhecido por desde a era dos bárbaros dominarem o conhecimento
sobre tudo que envolve dragões.

Neste momento, sobre uma colina na fronteira de Logus, repousava, observando o


castelo ao longe, um jovem elfo e chapéu emplumado, longos cabelos verde-metálicos,
capa esvoaçante e roupa brilhante. Seu nome era Antonywillians, um companheiro meu!
Ah, sim, sou Zoolk, um halfling clérigo de Tanna-toh e acompanho o elfo espadachim
em suas missões na esperança de que eu escreva a melhor dentre todas as lendas. Hoje
vou contar-lhes neste livro, como Antonywillians criou fama no reino mais perigoso de
Arton. No reino onde o próprio regente tirano é o rei dos dragões vermelhos.

Antony observava o longe, como se buscasse encontrar algo além da barreira de nosso
plano. Devo salientar que penso que seja um olhar de um filho que busca o colo
inalcançável de uma mãe que morreu ou ao menos foi para longe. O espadachim era
alegre, destemido e puramente sem noção, mas mesmo assim, nas raras vezes que se
sentia sozinho, entristecia, como se lembrasse coisas ruins, algo bem possível, afinal
como muitos elfos que caminham pelo Reinado, ele era um dos poucos sobreviventes de
Lenórienn, a cidade élfica que caiu e foi dominada por goblinoides.

– Senhor Willians, desculpe a pergunta... – interrompi os pensamentos dele para assim


retirar a expressão séria dele, pois a resposta para minha pergunta eu já sabia – Mas... O
que realmente viemos fazer no reino de Logus?

Antony sorriu, como se entendesse minha real intenção por trás da pergunta. Ele se
levantou, bateu na roupa para tirar a poeira e sacou o sabre que vinha embainhado em
seu cinto, erguendo-o em direção ao sol, soltando um brilho mágico que refletia a
coragem e determinação daquele elfo.

- Heh! Glórienn me enviou um sonho. Ela deseja que eu salve a princesa daquele reino,
antes que ela caia nas garras de Sckhar! – ele guardou o sabre e se virou para seu goblin
escravo que dormia encostado em um tronco de árvore próximo, ao lado das bolsas com
nossos equipamentos – Acorda logo seu imprestável! Vai se preparando para partirmos!
– e deu um chute no goblin, ah sim, o nome do escravo é Henk!

Andamos um pouco pelo campo de relva amarelada. O clima neste reino era quente,
uma influencia dos vários vulcões em atividade que ao longe era possível até vê-los
soltando eternamente a cinza nuvem de fúria. À nossa frente estava uma grande cidadela
construída na encosta de um deles, enorme e solitário em meio ao campo de relva, em
seu topo a fumaça era liberada calmamente, diferente de um geralmente em fúria
vermelho-cinzenta. A capital deste mini reino, Lasttela era um esplendor da arte anã de
arquitetura, quando chegamos aos portões de entrada na cidade, ao pé da montanha
podemos ver o trabalho minucioso com a pedra que fez a parede da muralha mesclar-se
a terra da montanha e parecer refletir uma aura rubra.

- Por favor, identifiquem-se! – disse um guarda de armadura prateada com elmo em


forma de cabeça de dragão.

- Sou Antonywillians, este ao meu lado é zoolk, e o goblin é meu escravo, Henk! –
Antony realizou uma reverencia e deixou cair uma rosa aos pés do guarda – Sou um
filho de Glórienn e vim descansar em vossa cidadela antes de retornar a minha jornada!

O guarda o observou, junto aos outros três, cada um com uma poderosa lança na mão
que brilhava contra a forte luz do sol.

-Por favor, sejam bem vindos à Lasttela! – ele fez uma reverencia e ao bater com o cabo
da arma no chão a grade do portão se abriu.

Antony agradeceu e começamos a adentrar a cidadela.



A cidade era algo que chegava perto do indescritível. Erguida por mãos anãs, o trabalho
com a pedra era algo que faria qualquer arquiteto se emocionar com tal habilidade e
talento, cada casa, templo, palácio, mansão e até tavernas sujas eram uma explosão de
beleza. As pilastras, duras e firmes, pareciam vivas e até trajadas, a pedra que compunha
a tudo era a mesma das torres e da parede da muralha. Cada casa tinha uma forma, e
ainda que feita de uma pedra vermelha rústica, o rubro fazia um show de cores fortes no
céu quando batia a luz do sol. Nas ruas haviam várias estatuas em homenagem aos
anões que ergueram a cidade, e nada era menos contraditório que a própria população:
em uma estimativa tinha uns 50% de humanos, uns 40% de elfos e uns 10% de anões. A
moda da cidade era vestir túnicas leves (por causa do calor) vermelhas e com jóias.
Todas as ruas eram bem vigiadas, com guardas como os do portão de entrada por todos
os cantos que se olhava, mas o mais medonho de lindo era a grande fortaleza no
extremo norte da cidade, próximo ao topo do vulcão, local onde vive o rei deste mini
reino.

- Como é belo... Não é, senhor Antony?

- Devo alegar que realmente os anões fazem um bom trabalho! – ele sorriu – Heh! mas
só tenho uma coisa a indagar sobre essa cidade...

- o que, senhor Willians?

- Cadê as mulheres... – ele fez cara de triste – só tem anão barbado e mulher casada!

- Ninguém merece... – disse vendo, calado, um grupo de jovens e belas elfas saindo de
uma escola.

- Bem, vamos até uma taverna! – disse sorridente enquanto passávamos ao lado de uma
fonte onde havia a estatua de um dragão marinho cuspindo uma rajada d’água.

Taverna Vulcão Prateado. Dentre as muitas belezas da cidade está esta taverna, na
forma de um belo vulcão composto de paredes de prata pura, com seu interior cheio de
mesas abarrotadas de gente falando alto e se divertindo, tudo envolta de um balcão no
centro cercando vários grandes caldeirões (a fumaça sai pela abertura no topo, que
parece uma cratera vulcânica).

Sentamo-nos em uma das poucas mesas vazias. Estou a reler o que escrevi até agora,
Henk está fazendo os pedidos e Mestre Antony está em uma mesa cercada de mulheres
que em alguns segundos irão esbofeteá-lo ou se apaixonarem por ele, como de
costume...

- Bonjur, belas donzelas! Poderia fazer uma pergunta?

- Claro! – elas sorriram envergonhadamente.

- Qual de vocês é a princesa deste reino? Ou melhor, com tal beleza – disse olhando
profundamente em seus decotes – qual de vocês é a deusa deste reino? – colocou uma
rosa na mecha do cabelo de cada uma.

- Tee-hee! – uma delas, de pele morena sorriu – quéisso seu bobo, somos apenas filhas
dos conselheiros da corte!
Logo um meio-orc alto se aproximou da mesa. Sua feição era severa e seus olhos
desejavam punir o elfo inoportuno. Ele agarrou o braço de Antony.

- Deixe-as em paz, orelhudo!

Antony se livrou daquela mão verde.

- Ora ora um meio-orc... acho que devia ter sentido seu fedor!

O meio-orc estremeceu de raiva e sacou o machado. As meninas colocaram a mão na


boca segurando um gritinho, até que a morena interveio e se pôs entre os dois.

- Por favor, sem brigas!

- Permita-me aniquilar esse monstro, milady! – disse Antony sacando o sabre e


colocando uma rosa entre os dentes.

- Ele é nosso guarda-costas, senhor! – disse outra das meninas.

- Um meio-orc!? – o espadachim pareceu confuso.

- Sim, somos a oferenda ao nosso deus!

Antony realmente ficou confuso...

- Como assim? Ele é servo de algum cultista?

- Não, senhor! Nosso deus não é como o de vocês dos reinos mornos, nosso deus é – o
olhar de cada menina ali brilhou e cada nativo na taverna ao ouvir nome fez uma mesura
com a cabeça e colocou a mão no peito – o Rei Sckhar!

Antony arregalou os olhos.

- Portanto as deixe em paz! - disse o meio-orc.

- E vocês aceitam ser oferendas????

- Sim, é uma honra, só a princesa Niathallas que se recusa, mas ela será o inicio do
tratado deste reino com a Capital Ghallatrix! Ai, ai... que inveja dela...

- Mas Sckhar é um maldito dragão tirano!!!!!

“Maldito” só as palavras dele naquele momento e lugar errado. Ignorando a comida que
ainda seria servida, fechei o livro, corri até ele e puxei-o até a porta junto ao goblin,
enquanto todos os guerreiros sacavam as armas e magos espiões o observava com ódio.

- Que loucura... – ele disse já a dois quarteirões dali.

- Que loucura mesmo, senhor Antony! Este é o reino de Sckharshanttallas, o Rei dos
Dragões Vermelhos, apesar de tirano é venerado, adorado e amado por todos aqui, e
criticar ele ou seu governo nestas terras é pura burrice. Há espiões e guardas da grande
Capital por toda parte!

Antony fechou o punho no sabre.

- Droga, isso me faz lembrar de Mitkov e os Yudenianos! Venha, Zoolk, temos uma
princesa a salvar das garras de um dragão rei!

Que estas palavras fiquem gravadas em vossos corações e vossas mentes para provar o
quanto Antonywillians é sem noção...

Enquanto andávamos pela cidade em direção ao castelo, chegamos a uma avenida


principal cheia de lojas das mais variadas coisas. O movimento ali era grande,
principalmente por que na praça principal estava um grande templo em honra a
divindade do regente Dragão, todo feito de um de metal vermelho conhecido como
Lava-Rubi (metal natural do reino similar a lava cristalizada), cheio de estatuas e
gárgulas na forma de um dragão imenso do olho esquerdo com três cicatrizes. Antony
cuspiu em escárnio ao olhar os clérigos do dragão entrando no templo. Nós fomos fazer
umas compras: ração de viagem, amolar a lamina do sabre de Antony, tochas, umas
poções de cura feitas por elementalistas das chamas, Sckharluziss (uma espécie de
guloseima doce feita de uma fruta parecida com cacau, na forma de um dragão) e eu
comprei uma das túnicas vermelhas, bem confortável devo dizer. Este é um de nossos
mais prazerosos passa-tempos, gastar ouro de outras aventuras em mercados de coisas
diferentes.

No final das compras seguimos para a praça, onde um grupo de pessoas se reunia
envolta de um jovem bardo de roupas rubras como o magma que lhe encobriam todo o
corpo, inclusive um chapéu vermelho de abas longas (cheguei achar estranho de tão
grande que era) que entoava uma canção com sua guitarra vermelha que fazia todos
dançar freneticamente. Eu fiquei a dançar junto a Henk, e Antony logo se enturmou com
uma humana.

Após um bom tempo de diversão o bardo parou e começou a falar, numa voz chiante e
sibilosa.

- Vou contar-lhesss uma história... Uma lenda antiga sssobre a princccesssa de Logusss!
Sssaibam que esssta historia é sssecreta, e apenasss os bardosss essspecialissstassss e a
corte sssabem!

Todos pararam para escutá-lo e sentaram na grama.

- Issto tudo eu desscobri desscendo até a parte mais profunda de uma catacumba nosss
ssssubterrâneos desssta cidade! Contava nos hielogrifoss sssobre a era em que os
bárbaross invadiram esssste reino, já dominado por Ssssckhar. O deusss dragão teria
permitido que aqui resssidissem sse o venerassem, pagassem tributos e mulheresss.
Asssim foi por muitoss anoss, até o sssurgimento do Rebelde Lassstimus Dragonfang,
um grande guerreiro que odiava o Deus e sssse revoltou. Esste era apaixonado pela filha
do líder da tribo, a Lady Arthelles, a qual foi entregue ao Rei Dragão como noiva-
sssacrificio. Enraivecido, o jovem viajou pelo reino até o covil de Sssckhar e o desafiou
para um combate em nome da mão da princesssa."

"Lutariam sssobre um vulcão, chamado pelos bárbaros de Morada das Chamas. O


combate apesssar de tudo foi difícil, poisss o jovem lutava com todass asss forçasssss de
sseu amor que queimava maiss que a lava daquela montanha de magma, e quando
esstava para ser derrotado por um cone de fogo, a jovem princesssa Arthelles apareceu e
o sssalvou-o se lançando sobre ele. Infelizzzmente elesss perderam o equilíbrio e caíram
cratera adentro até falecerem os trêss, derretidosss por amor em meio a um magma de
agonia. Dizzem que os trêsss nem sssentiram dor, poisss o amor os teria anestesiado em
um terno beijo de ultimo ssusspiro de uma paixão eterna..."

- Perdão, senhor, você disse os três? – eu o interrompi sedento por informação, mesmo
com o olhar de desaprovação de Antony.

- Sssim, jovem clérigo do conhecccimento! A princesssa Arthellesss, o guerreiro


Lastimus Dragonfang e o bêbe que ela esssperava do próprio Sckhar! - todos
arregalaram os olhos - Na fúria Ssssckhar resssolveu exxxterminar a tribo do jovem
bárbaro, masss o líder e osss xamãss proporam um acordo... Apóss 300 anoss a
princessa reencarnaria novamente e ssseria uma meio-dragoa, podendo lhe dar uma
prole poderosssa e de sssangue puro, e asssim a tribo realizzzou um ritual de sssete dias
e sssete noitesss! A princessa Niathallass nassceu exatamente 300 anos apósss aquele
dia na cidade que fica encossstada na messma montanha de fogo em que os trêss
morreram, sssssimplificando, foi nessste vulcão da capital de Logusss em que
esstamosss que a Lady Arthelles morreu e nassceu a princesssa...

Ele sorriu com os rostos entusiasmados.

- E de acordo com ass essscriturasss, o esspírito de Lasstimuss Dragonfang retornaria


junto ao dela para ressgatá-la mais uma vez das garrass do regente! Espero que tenham
gossstado! Adeuss a todoss e que Tanna-toh esssteja com vossssco!

Então tocou uma nota no instrumento e uma grossa nuvem de fuligem o encobriu para
logo se dissipar junto a presença do bardo.

As expressões eram de terror, excitação, entusiasmo e espanto com a saída do bardo.


Antony ficou pensativo, assim como eu...



Assim que todos já haviam retornado a seus afazeres e voltavam a caminhar pela bela
cidade, eu e Antony nos sentamos próximos a uma fonte, sob a sombra de uma árvore.

- Interessante a história do bardo! – ele comentou pegando um dos sckharluziss e


comendo – Daria uma ótima aventura!

- Eu desconfio na veracidade desta estória! – eu disse enquanto escrevia este conto – Se


ela é uma meio-dragão, o rei ou a rainha é um dragão e o próprio Sckhar rejeita dragões
em seu reino!
- Mas parece que ela já nasceria meio-dragoa por um ritual!

- Sim, mestre Willians, mas ainda sim tenho minhas duvidas...

De repente trombetas tocaram ao longe, uma multidão de gente correu para a avenida
deixando um caminho aberto, curiosos de natureza, eu, o espadachim e o goblin fomos
ver o que acontecia.

Vindo da direção do castelo tinham vários cavaleiros montando Pseudodragões


(criaturas similares a dragões, mas sem inteligência, sem fala, magia e tamanho
colossal), e aquelas damas da taverna, cercando um Besour (um besouro enorme e
manso que é encontrado como montaria em varias partes do reino) que trazia em suas
costas uma tenda de seda rósea onde se encontrava uma dama sob panos e véus
luxuosos que acenava a todos. Antonywillians ficou estático, como de costume, claro...
Ela realmente parecia ser linda, mesmo com aquelas vestes todas. Enquanto ela passava,
a cidade vibrava e bradava vivas a ela.

- Esta deve ser a princesa prometida Niathallass da qual o bardo falava em sua história!
– eu disse sem poder conter meus conhecimentos e idéias, e não deu outra, logo a
multidão começou a bradar seu nome.

- Heh! A prometida, pela lenda, à Sckhar... – disse Antony.

- Nem pense em corteja-la, meu caro, digamos que o marido dela é meio poderoso e
possessivo! Hohoho! – eu ri junto ao espadachim.

Logo os céus da cidade começaram a chamuscar com tiros de fogos de artifícios que
estouravam em varias cores e formatos, nossos corações pareciam pular de felicidade e
serpentinas com confetes caiam dos céus. Envolta do Besour se reuniram quatro bardos
que formaram uma banda estupenda com tambores e trombetas que começaram a entoar
um hino, o hino de Skharshanttallas. Em resposta eu vi que todos da cidade entravam
em posição de continência, era algo que via apenas em reinos muito ufanistas, como o
que vi, quando eu fui com o senhor willians para Yuden.

Tudo parecia perfeito, mas então... um dos fogos de artifício não subiu e caiu sobre um
dos guardas que entrou em labaredas junto à bandeira do reino que possuía a imagem de
sckhar.

- Protejam a Princesa! É uma emboscada!!!!!! – gritou um guarda enquanto a multidão


entrava em pânico e vários pés e pernas começaram a me empurrar para longe.

Antony me pegou e colocou em seu colo (cena deploravelmente vergonhosa devo


alegar...) e conseguimos escapar da confusão aparecendo na área vazia aonde passava a
princesa e os guardas. As filhas dos conselheiros, prometidas para o harém de Sckhar
pareciam ter se misturado a multidão e se escondido de pavor.

Cinco guardas altamente armados estavam cercando o Besour assustado, os bardos


haviam fugido e Antonywillians sacou o sabre. O espadachim correu até eles e lançou
uma rosa no ar que chamou a atenção dos guardas (um impulso nem um pouco sadio).
Vendo a aproximação do estranho apontaram suas armas para ele.

- Sou Antonywillians, um dos Maiores Espadachins do Reinado e desejo ajuda-los!

- Parado aí... – eles ordenaram até que de súbito veio o grito da princesa.

Assim que olharam para cima do besouro gigante, havia um homem de trajes verdes,
com longos cabelos ruivos e uma mascara sem rosto que agarrava os braços da princesa
que tentava resistir.

- Socorro!!!

- Vem comigo, sua idiota! – disse o homem que percebeu os guardas os olhando –
Sszzéss!

Logo se aproximaram três homens que estavam escondidos em becos. Seus corpos eram
escondidos por mantos, incluía um pequeno como eu, um grande e robusto com chifres
saindo do capuz, provavelmente um minotauro, e um de tamanho normal com um cabo
de couro na mão o qual com um movimento liberou uma corda famejante. Eu fiquei
assustado com o chicote mágico de chamas, se acertasse alguém devia doer...

Os guardas tentaram subir no besour, mas o homem do chicote os impediu açoitando


um que caiu ao chão gritando pois o chicote atravessara sua armadura e queimara sua
pele. Antony não se conteve e com um impulso deu uma cambalhota aérea e caiu de pé
sobre o monstro. Colocou um pé sobre o trono onde a princesa se sentara, ajeitou o
chapéu emplumado com um dedo e apontou a lamina do sabre para a cara do sujeito
seqüestrador. Sua capa esvoaçava num efeito heróico incrível.

- Liberte-a e permito tua fuga com vida!

- Nunca!

Em resposta Antony saltou sobre ele descendo a lamina que foi aparada pelo açoite do
chicote de fogo que a prendeu e quebrou na metade. Assustado caiu lá de cima sobre
mim, que tentei fugir sem chance... O seqüestrador segurou a princesa firmemente e
uma luz de teletrasporte o envolveu sumindo em um clarão flamejante, os capangas
fugiram para os becos e a guarda (os dois que continuaram conscientes) não os
alcançaram. O Besour assustado irrompeu pelas ruas em alta velocidade. Antony
permanecia inconsciente por bater com a cabeça no chão. Hunf! E adivinha quem teve
que arrastá-lo até a estalagem mais próxima... Sorte que tínhamos o Henk!

PARTE 2
O ESPADACHIM DA LÍNGUA CHAMUSCANTE
Os raios de sol já falhavam no véu alaranjado do crepúsculo do lado de fora da
Estalagem do Magma quando eu vi Antony abrir os olhos após ter desmaiado o dia
inteiro.

- o que houve?

- Nada demais, só você que caiu de uns 2 metros bateu com a cabeça no chão e chamei
uma noviça do culto de Lena na cidade para te curar...

- E a princesa? – deu um pulo da cama, sentiu tontura e caiu de volta.

- Foi raptada!

- E a clériga? Cadê?

Eu o observei com seriedade, mas não pude agüentar e cai na gargalhada com ele. O
espadachim elfo não tinha jeito, mesmo com a cuca quebrada continuava mulherengo...

Antony se levantou (lentamente dessa vez), colocou sua capa, ajeitou o chapéu e deu
uma conferida final no espelho. O goblin Henk, caído em um sono profundo, foi
acordado de súbito com um golpe da bota do senhor elfo e começou a recolher as
sacolas onde estavam nossa bagagem de viagem.

- Bora trabalhar, seu energúmeno!

- Para onde iremos senhor Willians? – eu perguntei temendo a resposta.


Fez-se um tempo de silencio no qual ele permaneceu pensativo...

- Vou procurar um ferreiro e comprar um sabre novo, depois vejo na milícia se vão me
contratar pra caçá-los!

- E se não quiserem?
- Ae faço por esporte e vou atrás dos malditos pra me vingar da humilhação! Sem contar
a chance de uma nova boa aventura! – ele ergueu o sabre sobre a cabeça.

- Esse é o Antonywillians que eu conheço! – então ele perdeu o equilíbrio, ficou tonto e
desabou no chão aonde começou a roncar – Sem duvidas... É o que conheço!

Assim que descemos do segundo andar para a taverna, que no caso estava vazia,
encontramos três guardas da cidade falando com o taverneiro que parecia nervoso.

- Algum problema senhores? – Antony indagou.

Os guardas se voltaram para ele e se espantaram.

- É você que estava durante o ataque dos rebeldes? – um deles perguntou de súbito.

- Sim, sim... mas... – ele começou.

Os guardas sacaram as armas com uma agilidade incrível e realizaram um golpe que as
laminas pararam ao lado de seu rosto, então apoiaram-nas em seus ombros.

- Por favor, senhor, queira nos acompanhar!

- T-tudo bem!

Dali fomos, levados por mais três guardas que esperavam do lado de fora, por toda
cidade até subir a encostada montanha em direção ao castelo. Uma esplendorosa
fortaleza habilmente trabalhada em lava-rubi com muitas torres e gárgulas na forma de
dragões, ao aproximarmo-nos, os portões foram abertos e chegamos a um belo jardim
de arbustos cristalizados, grama seca e rochas que há muito suportaram o magma da
montanha. Entrando, seus grandes salões possuíam mais estatuas de lava-rubi e
tapeçarias representando formas dragoninas. Os guardas nos levaram até a sala do trono
aonde o rei Logus XI se encontrava observando-os. Era um homem velho, magrelo,
calvo, narigudo e de olhar amedrontador que segurava um cajado feito do mesmo
material que é o palácio. Antonywillians e eu nos ajoelhamos em reverencia.
- Fui avisado pela guarda que estavam no local em que ocorria o seqüestro... – a voz do
homem era poderosa, e eu reparei que a orelha dele era pontuda, porém pequena, era um
meio-elfo.

- Sim, majestade! – disse Antony sem encará-lo.

- Pois então vou considerá-los culpados pelo seqüestro até segunda ordem! – disse o rei.

Antony levantou-se indignado.

- Com que acusação?

- Desviar a atenção dos guardas e cumplicidade com o crime!


Eu fiquei indignado dessa vez.

- Ou será medo que você seja o culpado e Sckhar queira sua cabeça? – acho que falei
demais nessa hora.

- prendam-nos! – o rei ordenou.

Antony ameaçou correr. Os guardas sacaram suas armas e correram pra cima dele (eu
sai de fininho até a porta – é bom ser pequeno de vez em quando...). Antony correu pra
cima deles e sacando seu...

- Aff! Cadê meu sabre???

Éh, o sabre foi quebrado ao meio lembra?

O elfo correu desarmado até eles e antes das laminas acertarem-no, se jogou ao chão
surpreendendo-os e fazendo-os tropeçar em seu corpo. Então em um salto se levantou e
pegou a espada de um. Três vieram por trás a tempo de eu avisar e ele se defender dos
golpes. Com um sorriso, lançou uma rosa no ar que distraiu os guardas que pensaram
que fosse alguma magia, quando procuraram por ele, Antonywillians havia colocado a
espada no pescoço do rei, e sorria.

- Vocês descobriram! Eu sou o líder dos revoltosos e a princesa será minha!


HAHAHAHAHAHAHAH! – a cena dele fingindo ser mal faria Mestre Arsenal rolar de
rir – Abram espaço!

Os guardas, receosos, abriram caminho e jogaram suas armas ao chão, eu e Henk


pegamos cada uma e fomos puxando. Antony veio andando com o rei preso em seus
braços e com a lamina no pescoço. Descemos as escadarias, passamos pelos vários
salões aonde todos gritavam e guardas rugiam sem poder fazer nada, nisso, uma gota de
má intuição me atingiu...
Enfim chegamos aos jardins do palácio, e meu mal pressentimento se concretizou
quando vimos cinco guardas montando cinco pseudo-dragões vermelhos que nos
olhavam famintos.

- Solte-me e irá em paz para a cadeia! – disse o rei entre os dentes.


Antony bufou e o soltou.

- Certo, vocês venceram! – colocou uma rosa por entre o cabelo grisalho que cercava a
cabeça calva do rei, me agarrou (tive que soltar as armas pra segurar o Henk), e
começamos a correr pelo jardim desesperadamente – Corram por suas vidas!!!!!!!! – ele
gritava como que se divertindo com aquilo tudo.

Os dragões vermelhos alçaram vôo ao comando de seus cavaleiros e começaram a rugir.


Houve sons como que o ar sendo sugado para então vir labaredas devorando tudo em
nossa direção. Corríamos como nunca, pelos jardins, passando pelas fontes, arbustos
cristalizados e cercas vivas, e logo ia restando apenas a murada baixa com ameias e
depois uma queda de uns 20 metros até a cidade lá embaixo, na encosta da montanha.

- Tive uma idéia! – disse Antony pegando Henk e lançando ele de sobre a murada... O
coitado gritou enquanto caía.

O Senhor Willians então me segurou (entrei em desespero) e sem qualquer receio se


lançou da murada........... nós caía-mos.
- Uhu! Queda livre! – incrivelmente ele estava se divertindo... Ele então mexeu na
cintura, enquanto caía-mos e sua capa esvoaçava pra cima como se quisesse voltar (eu
queria...).

- Ih, meu plano era diminuir a velocidade da queda com o sabre... – ele gritou pra mim.

Eh... o sabre tava quabrado lembra?

- Bom vou inventar algo! – ele disse, incrivelmente, calmo.

Eu chorava e borrava minhas vestes intimas. Os dragões desceram num rasante sobre
nós.

- A gente vai morrer!!!!!!!!!!! – eu gritei no momento que um abriu a boca para soltar
labaredas.

Sucção de ar e enfim as chamas crepitaram em nossa direção. Antony pegou agilmente


uma rosa, amarrou uma corda que havia-mos comprado alguns dias, girou-a como uma
boloadeira e a lançou. A rosa prendeu na parede da muralha do castelo e saímos do
caminho das chamas. Eu já passei por vários casos em que uma simples rosa nos salvou
e era inacreditável a resistência e força das rosas que Antony carregava consigo, ele me
contou que é uma técnica de um clã élfico de Lenorienn, ao qual pertenceu sua família.
Mas os dragões se apoximavam.

- Zoolk, vá e me encontre na cidade em frente ao templo de Sckhar! Esteja sempre


observando o céu! – e ele me lançou longe deixando uma rosa no meu colarinho,
quando a peguei, ela, apesar de pequena, fez meu peso e o dela ser de uma pluma, assim
cheguei ao chão como que carregado por um para-quedas goblin. Ao meu lado estava
Henk ferido pela queda, porém vivo: abençoada seja a resistência desses goblins.
Junto ao goblinóide corri para a cidade (felizmente ele ainda carregava duas espadas).

Antony sorriu para os dragões que rugiam. Preso ainda à parede pela rosa-arpéu deu um
impulso e soltou a corda, mas antes de cair, pegou outra flor-arpéu a qual girou e
lançou, prendendo-a entre as escamas de um dos pseudo-dragões. Fazendo como um
cipó, se lançou sobre outro que passou do seu lado, no exato momento que um dos
monstros cortou a corda com os dentes. O elfo deu um tapa no elmo do cavaleiro que
perdeu o equilíbrio e caiu. Tentou controlar o monstro pelas rédeas.

- Heh! Como se controla isso?

O dragão começou a se debater e cuspir chamas acertando seus companheiros, então


Antony saltou das costas deste para segurar as garras de um que passou por cima para se
desviar do bafo de fogo. Eu na cidade via a luta acontecendo nos céus e nem queira
saber do estado dos guardas que caíam!

Enfim Antony se soltou novamente e caindo comeu uma das Sckharluziss sem que
vissem e bebeu um pouco de vinho, a reação resultou num líquido inflamável com o ar,
com um sopro saiu uma pequena rajada de fogo que assustou os guardas que recearam.

- Ele é um dragão disfarçado!!!!! – gritaram na cidade e entre os guardas, eu só ria junto


a Henk.

Antonywillians então lançou outra rosa-arpéu e atingiu um outro dragão o qual com um
impulso subiu em suas costas em um balanço. Com um soco fez o controlador desmaiar
(e sua mão inchar mais tarde), pegou as rédeas do animal. Um outro (e último) guarda
desceu sobre as costas desse dragão e encarou Antony que fingiu sugar o ar como os
dragões e comeu outra das frutas apimentadas lançando mais labaredas que fez arder os
olhos do guarda. Com um golpe Antony o derrubou. Em maestria, finalmente controlou
o monstro e alçou vôo controlado. Vôou até a murada do jardim (molhando mais ainda a
boca com vinho) aonde o rei assistia, espantado, a tudo e comendo outra fruta cuspiu
chamas junto ao dragão numa pose em pleno ar digna de um herói. Sua capa esvoaçava
violentamente e seus olhos estavam vermelhos (um efeito após comer três
Sckharluziss).

- Nós temos a esposa de Sckhar!!!!!! Nem ele pode conosco!!!!!


HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Em seguida fez o dragão descer em um rasante até a cidade, aonde pousou em meio à
praça, guardas fizeram menção em atacá-lo, mas recearam.

- Nem ousem me atacar! Sou Antonywillians, O Maior Espadachim Dragão de Arton!

Eu me juntei a ele e Henk também, em seguida o pseudo-dragão domesticado alçou vôo


em direção às nuvens vermelhas e saímos da cidade deixando todos com cara de trouxa.

- É o Espadachim da Língua Chamuscante! – O rei sussurrou impressionado – Mandem


os caçadores de dragão e uma carta ao regente! Sckhar vai amar saber da invasão de
outro dragão em seu território!

Enfim os arregalados olhos do rei se estreitaram em uma idéia profana.

PARTE 3
O PRÍNCIPE BASTARDO
Já estávamos longe quando olhei para trás. Voávamos por entre as nuvens do
entardecer. Cada vez mais a montanha sumia no distante horizonte aonde o rei devia
estar bradando horrores aos nossos nomes. Alçávamos vôo cada vez mais alto e mais
rápido, até que uma bruta vertigem me atingiu quando olhei para baixo. Antony se
divertia muito sobre o pseudo-dragão que nos obedecia fielmente. Achei estranho, mas
devo alegar que não seria momento próprio pra falar-lhe.

Logo começou chegar o entardecer, primeiro as nuvens se condensaram fazendo-nos


descer do vôo, depois começou a escurecer e tive que interromper a felicidade do elfo.

- Senhor Willians, perceba que já é o momento de acamparmos! Logo anoitecerá e


precisamos descansar depois desse dia agitado!

O próprio Henk já estava debruçado nas minhas costas roncando alto.

- OK! Pra baixo, dragão!

Acampamos em uma bela planície de pura relva avermelhada pela aridez do Reino. A
noite era belíssima, Tenebra devia ter trabalhado muito por aquilo, o próprio frio do
anoitecer era uma benção naquele dia quente. Eu estava perto de uma fogueira
adiantando este conto, enquanto Antony estava descansando ao lado do pseudo-dragão
que olhava Henk que por sua vez, arrumava a bolsa de viagem do espadachim.

Enfim me aproximei do pseudo-dragão e fiquei observando-o. Ele era belo, muito


diferente de qualquer um que já vi, na verdade mais parecia um dragão... Seu olhar
parecia até mesmo demonstrar inteligência e sarcasmo.
- Pare de me acariciar! – ele rugiu quando o fiz em suas escamas... dei um pulo com o
susto.

- V-você fala?

- Não!

- Mas está falando! – retruquei.

- Não to... – então ele ficou quieto e me encarando.

Fiquei observando-o.

- Você não é um pseudo-dragão, não é?

Fez-se breve silencio.

- Não... Sou um dragão de verdade! – ele respondeu de mau gosto com sua voz rouca e
chiada.

- sabia! – sorri em triunfo – Mas por que você se disfarçou?

- Seu amigo é um dragão não é? Bem, eu preciso da ajuda dele!

Uma sombra nos encobriu.

- Serio? – era Antonywillians – O que o pseudo-dragão ta faland... ELE TÁ


FALANDO??????????

- Ele não é um pseudo, mas um dragão de verdade! E pelo tamanho deve ser criança
ainda! – eu disse.

- Olha quem você chama de criança, pequeno! – o dragão me respondeu nervoso.

Antony desabou no chão, sentado.

- Heh! Quem imaginaria, um dragão no grupo!

- Como assim? UM dragão? – o monstro se surpreendeu – Não seriam DOIS contando


com você?

- Eu? Heh! Já disseram que tenho a bravura de um, mas nunca que eu era!
O dragão arregalou os olhos e se ergueu.

- E... o que foi aquilo que você fez???

- Ah, lá no palácio? – ele sorriu pegando uma taça com vinho e uma sckharluziss,
misturanto-os na boca e cuspindo para a demonstração das labaredas – Isso? Uma
reação que um cuspidor de fogo de um grupo circense me ensinou anos atrás em um
reino longínquo!

O dragão rugiu em ira.

- Droga, então só perdi meu tempo com um impostor? Aaargh! Estou perdido então!

Arqueou as asas se preparando para sair voando, mas Antony o interrompeu.

- Espere! Como assim perdido? Precisava de outro dragão para que?

- Hunf! Você não teria poder suficiente para tal, elfo...

- Heh! Sério? Você diz isso mesmo depois de eu escapar de um palácio cheio de
guardas com armas mágicas e sobreviver a uma queda de uns vinte metros com pseudo-
dragões cuspindo iras flamejantes na minha cola!?

O dragão pareceu ponderar.

- Aaah! Que seja, por mais fraco que você pareça não tenho outra escolha mesmo!

Ele disse se apoiando nas garras traseiras para se sentar como um majestoso cão se
sentaria. Não devo deixar de anotar que aquilo mostra que dragões são arrogantes,
orgulhosos e majestosos desde pequenos!

- Como devem saber Sckhar se recusa a aceitar outros dragões em seu reino, a não ser
que se rebaixem a sua tirania e poder servindo-o humilhantemente! – ao dizer isso eu
evitei comentar qualquer coisa zelando pelo raciocínio dele, apenas afirmei com a
cabeça – Minha mãe veio das Montanhas Sanguinárias a leste do Reino. Ela vinha por
dois motivos, os monstros falavam algo sobre uma estranha nuvem vermelha com
criaturas que não pertenciam a Megalokk lá e que surgira massacrando boa parte de
monstros bem poderosos, o segundo motivo era que ela desejava encontrar um marido
mais forte e esperto que os revolucionários das Sanguinárias… - tive que interrompê-lo.

- Dragões revolucionários? Como assim?

Ele olhou surpreso.


- Ah, o reino dos mamíferos frágeis não sabe ainda, certo? O sumo-sacerdote de
Megalokk, Dislik, está criando uma revolução nas Sanguinárias! Ele deseja ir contra os
deuses que barraram os monstros nas montanhas e vir ao mundo dos fracos destrui-los e
dominar todo o território que vocês tomaram depois que houve o Expurgo dos
Monstros! – Antony estava entendendo mais nada – Enfim, minha mãe não sabia que
iria encontrar logo um reino do próprio Sckhar, o Rei de nós, dragões vermelhos. Ele a
ofereceu viver nestas terras em troca de vassalagem, servidão perpetua e... - dragão
fechou os olhos como se as palavras lhe doessem – entrasse para seu harém! Ela teve
um filho com o Rei dragão, que sou eu, Príncipe Dranarios! – eu e Antony arregalamos
os olhos com as emoções confusas pela revelação – Mas minha mãe me escondeu dele!
Sckhar tem muitos principezinhos já, e todos servem a suas intrigas políticas, os que não
servem são mortos por inutilidade, e minha mãe não desejava isso. Enfim veio a tal
profecia, e Sckhar enviou mamãe para um reino humano, Logus, para ser a barriga que
traria sua princesa prometida há 300 anos! Niathallas, de acordo com ele é a princesa
prevista!

Minhas engenhocas mentais começaram a movimentar-se e tive que falar:

- Então sua mãe fez amor com o rei Logus, assim criaria uma cria meio-dragoa com
sangue da tribo que fez o ritual! – ele corou com minhas palavras – E no caso essa cria
seria a Niathallas! Isso explica tudo, Senhor Willians, por que uma dragoa seria aceita
no reino e como a princesa poderia ser meio-dragoa!

- Sim... Mas continue, Príncipe! Para que precisa de nosso reforço? – Antony estava
interessado mais na nova aventura.

- Não me chame assim! – o dragão rugiu arrogante – Eu odeio ser lembrado que tenho
ligação com aquele tirano maldito! Mas o que preciso de ajuda é no seguinte... O rei
Logus XI descobriu que sou o príncipe filho de Sckhar com a mulher que o Rei Dragão
lhe ofereceu para nascer a princesa prometida! Então subornou-a! Hoje ela serve como
mais uma de seu harém e vive presa numa caverna aqui perto guardando o tesouro real!
Eu, pensando que tinha o poder de um dragão iria perdir-lhe ajuda para resgatá-la...

- Ué, mesmo que seja um dragão! Uma dama em perigo sempre merecerá minha ajuda!
– disse o espadachim elfo erguendo o sabre em direção a lua com confiança.

- Mas ela permanece dominada por magia! Em troca disso tudo eu poderia viver no
palácio servindo militarmente o rei junto aos pseudo-dragões e assim estaria escondido
de Sckhar!

- Mas por que ela estaria longe da capital? O tesouro não deveria estar, nem que fosse,
nas masmorras do palácio? – eu indaguei sentindo algo errado na historia.

- Naturalmente, pequenino, mas o tesouro real possui um pergaminho antigo e proibido


que Sckhar confiou ao rei! O pergaminho do Suplicio Draconiano, a única arma capaz
de matar o Deus Dragão Rei!

Meus olhos brilharam, apartir dali não cansaria de procurar o pergaminho até lê-lo todo!
Antony sorriu com uma idéia que apareceu e ofereceu uma rosa vermelha como trato.

- Certo, aceitarei a aventura! Mas pedirei algo em troca!

Dranarios cuspiu uma saliva chamuscante na rosa que entrou em combustão.

- Esqueci que vocês têm essa mania de pedir coisas em troca de ajuda! O que seria elfo?
Eu tenho nada, só sede de vingança!

- Bom, após salvar sua mãe... você deve me prometer ajudar a resgatar a princesa
raptada por rebeldes e encontrar esse tal Suplinco Draconinio!

- Se fala Suplicio Draconiano, Senhor Antony! – corrigi-o.

- Então, esse mesmo! O Siplinco Dracaninio!

O dragão assentiu com a cabeça reptlinea.

- Tens minha palavra elfo! Se sobreviver lhe ajudarei!

Eu sorri de alegria. Agora haveria mais um bom capitulo de aventuras para este livro
que estou a escrever e junto teria o pergaminho para ler! E o melhor, quando um dragão,
mesmo os malignos, quando dão suas palavras têm orgulho de zelar e concretizá-las em
nome da honra e orgulho dragônico!

PARTE 4
A FRUSTRAÇÃO DO TIRANO
Enquanto estávamos em viajem, há algumas semanas dali no extremo norte do Reino de
Sckharshantallas, mais especificamente na capital, os nossos problemas iam começar a
piorar.

O Reino inteiro venera e se submete a tirania do mais poderoso dragão vivo conhecido,
Sckhar. Por seu magnífico poder uns temem o temem e outros chegam a venerá-lo como
um Deus Menor. Não é incomum durante várias viagens pelo reino, encontrar mesmo
nas mais afastadas vilas ao menos um templo ao Deus Rei dos Dragões Vermelhos ou
um monumento ao mais poderoso regente de todo o Reinado. Entretanto, nunca em
qualquer lugar que seja se encontrará algo tão esplendido como o Palácio Shindarallur,
morada principal do Rei Dragão e a maior de todas as suas (existem vários castelos e
palácios dele espalhados pelo Reino). De proporções quase megalomaníacas, o imenso
castelo abriga o regente, seu séqüito, toda a guarda da elite e as principais maquinas de
combate do reino. Na torre mais alta há uma sacada que pode ser vista de boa parte da
cidade, onde o dragão costuma fazer seus pronunciamentos. No topo desta enorme torre,
há um espaço onde Sckhar pode aparecer em sua forma de dragão. Porem isso só
acontece em casos muito extremos, pois é tão grande que pode, literalmente, matar de
medo qualquer pessoa que o vise em seu tamanho normal.

Em Shindarallur há vários aposentos, milhares até, chegando a ter pelo menos cinco
salas do trono. E, neste dia, em uma delas estava o dragão-rei reunido com seus súbitos.
A sala do trono era uma câmara tão grande que permitia o Rei assumir a sua forma de
dragão, mas ainda numa forma moderada, suficiente para parar o coração de um invasor
com sua aparência aterradora ou para queimar um infeliz com seu sopro de chamas que
ardia até os ossos, às vezes deixando nem cinzas. Era iluminada a noite por centenas de
castiçais que acendiam magicamente quando tocados pela escuridão, mas pela manha
era esclarecida pela forte luz do sol que refletia em escudos de coloração avermelhada
que ficavam ornamentando as paredes de pedra junto a pinturas que representavam o
rosto de Sckhar ou demais dragões vermelhos, e havia uma tapeçaria com a forma de
uma estranha e desconhecida dragoa branca que quando o regente é indagado sobre
quem seria, queima o desgraçado até a alma, mas só quando está de bom humor...

Ainda havia um confortável carpete vermelho-rubi encobrindo todo o chão, que um


perito reconheceria como feito de couro de dragão (provavelmente um caçado nos
domínios do reino), no teto haviam toldos de cores fortes junto a estandartes trazendo o
símbolo do Reino, um dragão vermelho de asas abertas. Sob tudo isso estava Sckhar,
em sua forma alternativa de elfo, sentado em um magnífico trono de bronze com
entalhes feitos de lava-rubi, a sua frente estava parte da corte formada por meio-dragões
filhos seus, centenas de guardas treinados em combate especialmente contra dragões e
haviam três elfas de seu harém, com mínimas roupas acariciando, desejosas, o corpo do
regente. Apesar do já costumeiro calor do reino, a câmara estava abafada e o calor era
tão intenso que parecia que a qualquer minuto tudo ali fosse derreter. Isso graças a
influencia corporal de caloria extrema de Sckhar.

O Rei dragão, para evitar a morte de seus súditos, assumia a forma de um elfo de
cabelos ruivos intenso, com o típico porte altivo élfico. Naquele dia usava uma
vestimenta luxuosa de cores quentes, como vermelho e dourado, lembrando muito os
trajes dos gênios das histórias de Mil e Uma Noites. Sckhar poderia ser confundido com
um nobre elfo refugiado de Lenórienn, não fosse um traço particular – facilmente
notável, mas muito pouco comentado por questões de sobrevivência –, três cicatrizes
verticais alinhadas que atravessam o espaço onde está seu olho esquerdo cego, como se
fosse marca de garras, algo que odeia exibir, mas se recusa a tampá-lo com panos ou
usar seus poderes para restaurar o olho e as cicatrizes, como se fosse mais que uma
marca no olho, como uma lembrança antiga e importante. Assim apenas joga uma franja
por cima para disfarçar.

Sckhar estava pensando alto naquela manhã ensolarada. Sorria constantemente como se
tivesse triunfado sobre um desafio de muito tempo.

- HAHAHAHAHAHAH! Trezentos anos aguardando… Até que passou rápido! – disse


acariciando sedutoramente o rosto de uma das elfas que mordiscavam seu pescoço sem
se envergonhar com tantos olhares sobre elas – Hah! Enfim a princesa prometida será
minha! FAREI UMA GRANDE FESTA! – disse altivamente se levantando do trono
impulsivamente e derrubando as três esposas violentamente no chão – Já sei! Será logo
após o festival do Sckharal! Casarei-me logo depois da execução dos prisioneiros! –
rindo orgulhoso enquanto as elfas deslizavam por seu corpo – Aproveitarei já que não
temos tido mais criminosos merecedores de destaque neste reino! Afinal, parece que
esses malditos aventureiros aprenderam a ficar fora de meus assuntos e se submeterem
ao meu poder! – jogando o longo cabelo ruivo para trás em pose vaidosa – IDIOTAS!
Quem se meteria logo com o Rei dos Dragões Vermelhos, que é o mais poderoso dos
dragões-reis e Deus de todo um reino? HAHAHAHAHAHAH!
Ah, sim. Permita-me explicar o que seria essa tal festa… Na capital de Sckharshantallas
são apresentadas vias grandes e largas aonde é realizado o grande festival conhecido
como Sckharal, um dos mais belos e ufanistamente nacionalistas de Arton. São sete dias
de festividades que acontecem uma vez ao ano As ruas são tomadas por enormes
dragões vermelhos feitos de vime, dançarinos, prestidigitadores e companhias teatrais.
Grandes acontecimentos da história artoniana, como a traição dos Três, a de Sszzaas e
as guerras entre bárbaros e colonizadores são encenados na enorme praça conhecida
como Praça da Conquista, que se encontra no meio da cidade. E é lá que ocorre o ponto
alto: a representação da fundação de Sckharshantallas e seu desenvolvimento,
culminando com a aparição do próprio regente em sua forma de dragão. Ao fim do
espetáculo, no dia seguinte ao festival ainda é feriado, e após ele ocorre na praça dos
festejos a execução de todos os criminosos sentenciados a morte durante o ano e que
não foram mortos no exato momento por Sckhar. Os malfeitores são mortos em
fogueiras individuais enquanto são apedrejados pelo povo. Mas naquele ano, criminosos
comuns tiveram que ser condenados a morte ou não haveria “diversão suficiente”, pois
os poucos que eram mais destacados eram rebeldes irresponsáveis que criavam
rebeliões contra o governo ditador de Sckhar e eram facilmente capturados.

De repente as palavras de Sckhar foram interrompidas quando sons de trombetas


mensageiras soaram na entrada da sala do trono e ecoaram por todos os cantos do
aposento.

- Rahros, 13º Mensageiro Real! – anunciou o trombeteiro.

Sckhar olhou com um sorriso belo para a porta e com um gesto ordenou que entrasse.

Trajado com a armadura real vermelha e feita de lava rubi, com um elmo que lhe
revelava só os olhos e possuía duas asinhas dragônicas saindo dos lados, entrou o
mensageiro esbaforido e com um pergaminho maltratado na mão.

- O que seria dessa vez? – indagou Sckhar acariciando uma de suas elfas esposas –
Oferendas? Puxasaquismo? Juro que se for mais um pedido de ajuda financeira daquelas
malditas vilas ao oeste eu mesmo vou lá destruí-las para não terem mais que gastar com
nada! Hahah! IDIOTAS! HAHAHAHAH! – então puxou uma elfa para seus lábios.

- Não, magnífico! Pelo contrario! Trago péssimas noticias! – disse o soldado já


prevendo o que lhe ocorreria por ter recebido ordens de passá-las a Sckhar.

A mão que acariciava carinhosamente a nuca da elfa, prendeu-a com uma força
monstruosa, e Sckhar parou o beijo, mas sem retirar seus lábios do dela.

- Veio de Logus… - continuou o mensageiro, e a mão de Sckhar parecia uma garra


apertando o pescoço da elfa que já sentia a ira do monarca – Bem, a princesa… - os
guardas reunidos no salão entenderam a gravidade quando os olhos do dragão se
imbuíram em chamas de ira e a nuca da elfa começou a chiar com o toque fervente do
regente. Tentaram se afastar do Rei – Ela foi seqüestrada por um grupo de rebeldes! - o
regente parecia uma bomba atômica durante a iminência de uma explosão – Liderados
por um poderoso dragão!

As últimas palavras atingiram Sckhar como uma flecha incendiária. Para gastar sua
fúria, beijou mais forte a elfa em seus braços e durante o beijo, soprou sua rajada de
chamas que os dragões de sua raça possuem. Sem dó, simplesmente em segundos a elfa
foi consumida pelas chamas da labareda e se transformou em cinzas. Passando sobre os
restos chamuscados dela, como se nem estivesse ali, o rei dragão caminhou em direção
ao mensageiro que parecia se encolher dentro da própria armadura.

- UM DRAGÃO EM MEUS DOMÍNIOS? – o olho direito do elfo ruivo começou a


ficar meio reptilíneo – Continue! O que aconteceu? Fale, IDIOTA!

- O… o Rei de L-Logus enviou-nos uma carta de urgência falando sobre a princesa


Niathallas, a princesa lhe prometida há 300 anos…

- Eu sei quem é ela! Continue logo, IDIOTA!

- S-sim, magnífico! Acontece que o Rei Logus nos informa que ela… ela…

- FALA! – chamas resultantes de sua impaciência começaram a exalar de cada poro do


Rei Dragão.

- Ela foi raptada por um grupo de rebeldes durante a vinda para cá! – ele falou
rapidamente como se esperasse que ao fim viesse uma morte rápida e sem dores, mas
nada veio, então continuou – O Rei Logus XI alega na carta que sua guarda conseguira
capturar o líder do bando dos rebeldes, mas durante sua prisão teria se revelado como
um dragão vermelho disfarçado como um elfo espadachim. Ele exterminara metade de
seu exercito enviado para destruí-lo e nem as forças especiais da cidade teriam sido
capaz de combatê-lo, magnânimo!

Sckhar estava tão mergulhado em fúria que teve de desgastar. Imbuiu as mãos de
chamas e arremessou o globo flamejante em um guarda que estava no canto da sala, o
poder explodiu e consumiu o corpo dele em um grito agonizante pela pele que chiava
queimada e pelos membros destroçados pela explosão. Parecendo nem ter percebido o
massacre, o regente voltou-se ao mensageiro, com seus dentes afiados a mostra, o que
fez o servo quase cair pelas pernas bambas.

- Certo, IDIOTA… Agora me entretenha contando como as forças reais salvaram a


princesa prometida a mim!

- Eles ainda não foram acionados… - o súdito percebeu que empregara uma frase errada
pro momento errado, principalmente quando Sckhar apontou um dedo para outra de
suas esposas e dele disparou um raio vermelho que ao atingi-la na sua fuga, fez seu
corpo queimar em segundos e explodir de dentro para fora acertando e derretendo o
braço de um guarda real próximo.

- POIS ACIONEM-OS! IDIOTA!!!! Sabe ao menos onde ele está?

- Sim, magnífico monarca! De acordo com o Rei Logus XI, eles estariam se dirigindo
para a caverna de Risisttlaxy!

Sckhar se assustou com essa informação e ponderou com a situação… “Então eles
querem a pista primordial de onde está o Suplicio?”, ele pensou, “Se opõem a mim,
ousam raptar a princesa e agora aparentam estar querendo me matar? Hah! Ou são tolos
demais e caminham para a morte… ou esse tal dragão tem poderes bons demais para
poder ser tão confiante. Aaaarrgh! Depois daquela batalha mês passado com o Paladino,
devo não ter piedade de ninguém, nem subestimar, até possuir certeza, talvez seja
melhor matá-los log... Espera aí! Seriam ótimas oferendas para a execução depois do
feriado do Sckharal!”, disse ao olhar por uma janela para a cidade logo abaixo que já
arrumava com dragões de vime e bandeirolas as ruas para o festival que começaria em
pouco tempo, “Depois de eu ser derrotado pelo Paladino rumores e boatos sobre mim
enfraqueceram meu império! Talvez esteja na hora de proclamarmos um inimigo como
calamidade nacional! Bom, seria demasiado imprudente fazer esse movimento agora!
Vejamos se ele é tão poderoso mesmo…”. Então soltou um sorriso maléfico que aliviou
cada um na sala que pensou que se acalmara, mas só por diversão apontou para outro
guarda que se imbuiu de chamas e começou a correr pela sala enquanto sua pele chiava
soltando fumaça fedida enquanto derretia.

- Sabem quem é esse líder? – Sckhar perguntou aparentando calma e paciência enquanto
voltava a acariciar a última esposa na câmara que deixara viva.

- S-Sim, magnífico! O Rei Logus diz que se chama de Antonywillians, O Espadachim


da Língua Chamuscante!

- Perfeito! – o regente sorriu e começou a seguir para fora da sala do trono, mas deu
uma breve parada para dar suas últimas ordens, mas sem dar ao luxo de o mensageiro
ser olhado por ele durante as suas palavras – Enviem a Cavalaria Aérea Wyvern em
direção ao forte que protege a caverna de Risisttlaxy, matem qualquer rebelde, mas
quero esse tal dragão espadachim, Antonywillians, vivo! Agora podem se retirar, vou
para meus aposentos!

- Sim, magnânimo! – disse o mensageiro com uma mesura.

- Ah, mais uma coisa…

Ao prever o movimento do rei dragão, a ultima elfa saiu correndo para salvar sua vida.
Sckhar foi consumido por uma coluna de fogo que subiu até o teto e se dissipou
revelando-o em sua forma de dragão, mas ainda com tamanho reduzido, e no exato
segundo que se transformou soprou um poderoso cone de fogo sobre o mensageiro, tão
poderoso que o desintegrou junto ao chão a sua volta, inclusive no andar inferior.
Sckhar voltou a sua forma humanóide, abraçou a elfa e seguiu para seu quarto dizendo:
- Ressuscitem minhas esposas e os guardas mortos! E arrumem um novo 13º
mensageiro! Este era azarado demais!

PARTE 5 
A FORTALEZA

Nossa viagem durou por volta de meia hora, Dranarios disse que era por estarmos
evitando a aperfeiçoada vigilância do forte que possuía uma segurança extrema e bem
inteligente, com patrulhas e magias de localização que a certos horários eram ativadas
para encontrar invasores, algo que aprendera anos antes. Isso nos dava um certo período
de tempo para conseguir planejar algo e agir. Antony já tinha uma idéia em mente, e que
Nimb, o Deus da Sorte, role bons dados para que não seja mais uma das ações
imprudentes do espadachim sem noção. Sem querer nos contar de imediato, apenas
agimos. Henk foi enviado como bode expiatório, caso morresse acho que o senhor
Willians não daria muita importância mesmo, mas saliento que não penso ser esse o
caso, aquele goblin já passou pelas situações mais radicais saindo sempre vivo, às vezes
aos pedaços, mas vivo. Era como se nada fosse capaz de matar aquele bicho.

Nós encontramos uma das patrulhas de três soldados que folgavam àquela hora da noite,
talvez por pura preguiça ou por acreditarem que ninguém ia enfrentá-los. Pela
negligência acabaram por caírem em nossa armadilha. Henk primeiro se aproximou de
um e deu-lhe uma paulada enquanto dormia, em seguida veio Antony que com uma rosa
mágica (se é que aquilo pode ser chamado de magia) a fez liberar um aroma nauseante
que mexeu com a mente de cada um da patrulha, fazendo-os ser controlados
inconscientemente por Antony. Eles despiram o guarda inconsciente para dar sua
armadura o elfo que a vestiu de pronto, em seguida um deles se amarrou com nó cego
com o desacordado e o outro soldado que sobrou se uniu a mim e Antony sobre
Dranarios, por ficar muito pesado, deixamos o goblin escravo para ir por terra.
Agora estamos voando em direção ao forte e aproveito para adiantar esse livro o qual
está lendo. A nossa frente ergue-se uma magnífica construção. Construída na encosta do
pé de uma pequena montanha, o forte traz várias torres e muros altos preparados com
incontáveis seteiras e maquinas de guerra. Dranarios nos contou um pouco sobre ela. Há
muito tempo, na época em que o Rei Logus XI descobriu a existência do príncipe
dragão e aprisionou sua esposa, mãe de Dranarios, ali no intuito de proteger o tesouro
real ele tinha uma segunda intenção. Declarando que a dragoa era uma traidora, pediu a
Sckhar que lhe permitisse escravizá-la, o Rei Dragão aceitou e ordenou que ali fosse
guardada uma porção de seu tesouro: o pergaminho do Suplicio Dragoniano. Assim o
rei de Logus ganhou vários benefícios da coroa e com o ouro da recompensa construiu
uma poderosa fortaleza que era capaz de abater até mesmo dragões. Por terra ela era
impenetrável com tantos inspetores, guardas treinados e detetives ocultos, por magia era
suicídio, pois uma magia na fortaleza e na câmara do tesouro faz qualquer magia de
teleporte levar o visitante para a praça central cheia de soldados armados até os dentes
com armas mágicas, invasores voadores seriam abatidos por catapultas e balestras
poderosíssimas capazes de atravessar as escamas de um dragão, isso sem contar das
patrulhas pela região, os magos e os clérigos sempre ativos. Os anos se passaram, mas a
soberba cresceu incrivelmente.

O forte já fora atacado diversas vezes por aventureiros atrás do Suplicio, mas jamais
saíam vivos. Com isso as invasões foram menos intensas e logo todos procuravam
outros meios de enfrentar o governo do dragão-rei. Após anos sem qualquer ataque ou
invasão de nota, os guardas e a própria vigilância se tornara ociosa, ninguém acredita
que alguém fosse capaz de invadir suas paredes de mármore, e mesmo que conseguisse
não sairia vivo… Devo salientar que saber disso não me deixou em um clima muito
agradável! Enfim, Dranarios contou-nos que atualmente invadir com uma boa estratégia
era fácil, o difícil seria escapar, as antigas averiguações rígidas flexibilizaram dando
espaço para a soberba negligencia dos militares. Apesar dessa história toda ter sido
contada em tom de preocupação, Antony (que provavelmente não ouviu uma palavra)
gargalhava e contava vantagem sem parar em cima do dragão, se divertindo muito com
o que acontecia. Tive até que dar uma prensa nele quando nos aproximamos. Não queria
servir de alvo para catapultas e balestras preparadas contra elfos matraqueantes
montados em dragões.

Chegando próximo ao portão, Dranarios desceu até o chão e o soldado hipnotizado


desceu enquanto Antony permaneceu com um semblante falso de seriedade militar e
rígida disciplina. Ele realmente conseguia parecer um grande soldado heróico trajando
aquela armadura de lava - rubi, com o emblema do dragão vermelho que pertencia à
bandeira daquela nação, no peito, com um elmo alongado em um focinho de dragão e
duas asas saídas de cada lado. A armadura tinha uma capa longa e roxa que brilhava
enquanto esvoaçava heróica e imponente. Dranarios, apesar de parecer um pseudo-
dragão (e tinha em habilidade apurada para se disfarçar de um), tinha o orgulho e a
aparência respeitosa de uma linhagem pura. Eu por outro lado parecia mais um bobo da
corte… usava o chapéu emplumado do elfo (que era duas vezes maior que minha cabeça
halfling) e a capa que fiz em um manto que encobria todo meu corpo.

Ao chegarmos diante dos portões, centenas de seteiras na muralha foram abertas e todo
tipo de armas de projeteis nos foram apontadas letalmente. Até fechei os olhos
esperando a morte iminente pela ação imprudente (algo que você aprende a fazer por
instinto depois de passar tantos anos andando com certo elfo espadachim tresloucado e
“tamtam” da cabeça!). Duas portinholas nas torres de vigia se abriram e desceram dois
homens, trajados de togas clericais vermelhas com dragões bordados a fios de ouro, sem
duvidas clérigos do Deus Dragão regente da nação, escoltados por cinco guardas cada,
que seguravam lanças perigosas e espadas afiadas.

- Identifiquem-se! – ordenou o clérigo à esquerda que possuía uma meia idade cheia de
cicatrizes do passado, um semblante militarmente disciplinado e uma fé imbatível à
Sckhar. Ele ajeitou o longo cabelo ruivo e repetiu – Ordeno que se identifiquem!

- Sou Antonywillians! – disse meu odiado amigo elfo que quase foi esganado por mim
em uma repentina vontade berserker que se aflorou em meu interior – Inspetor Real do
Reino de Sckharshantallas! Fui enviado para examinar a fortaleza! Temos rumores
sobre vocês estarem escondendo um traidor em suas fileiras. Um que deseja roubar o
ouro do Rei de Logus e do nosso magnífico imperador!

Os militares se agitaram pavorosos, não pareciam ser daqueles que tinham a consciência
limpa para receber felizes um inspetor, principalmente enviado pelo próprio Sckhar!
Realmente esse espadachim me surpreende…

- Esse halfling ao meu lado se chama Bolofofo, meu ajudante real! – ele continuou,
ainda que eu tenha entrado em minhas vestes como uma tartaruga, de tão corado, tive
que agradecer por não dizer meu nome verdadeiro – Esse jovem soldado nos escoltou
até aqui! Peço que nos deixe entrar logo, pois não devo demorar!

- Sim, senhor! Só vamos averiguar que não há magia nenhuma sobre os senhores! –
disse um dos sacerdotes erguendo a palma de sua mão para nós e o mesmo fez o outro e
juntos oraram – Oh, magnífico, que a todo esse reino governa! Saudamos seu poder e
clamamos para que nos revele mágicas que possam ter sobrecaído sobre esses fiéis!

Nesse momento pensei que fossem descobrir sobre o feitiço da rosa de Antony sobre o
soldado que trouxemos, mas nada aconteceu com ele (pelo jeito essas rosas realmente
não são magia, o que serão então?!). Em contrapartida, os dois braceletes de ouro de
Antony brilharam intensamente emanando um brilho dourado reconfortante.

- Ah, não é nada! Só os meus braceletes mágicos! – Antony explicou sob os olhares
curiosos.

- Certo,entrem por favor! – disse o clérigo fazendo um sinal para a torre acima aonde
guardas puxaram um mecanismo na forma de manivela que ergueu o primeiro portão,
de grade, e abriu o segundo, de madeira. Enfim, estávamos dentro da fortaleza e a idéia
do elfo dera certo.

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Por dentro a fortaleza era uma mistura de ordem, disciplina, culto a imagem dos dragões
e vigilância com ociosidade, tédio, falta do que fazer e negligencia. Os corredores de
pedra com os estandartes da nação e tapeçarias com a imagem de Sckhar mais as de
antigos responsáveis pela fortaleza, eram palco para soldados despreocupados que
andavam rindo e conversando ou jogados pelos cantos cansados de tanto tédio, apenas
mantendo a disciplina com rotineiras mudanças de vigília e divisão de afazeres. Era um
exemplo de soldados que não tinham nem guerras nem treino, só uma eterna espera.
Eles só tentavam manter a pose quando Antony passava na frente de cada um. Eles se
erguiam, pegavam as armas e estufavam o peito ridiculamente acreditando que ele era
realmente um inspetor. Principalmente pelo espadachim conseguir caminhar fingindo
com fidelidade rígida a disciplina militar, a seriedade de um guerreiro e trazendo no
rosto o semblante de um duro punidor. Neste momento faço uma pausa para gravar uma
idéia que me surgiu! Antony vive falando sobre ter pertencido a um tal clã da Rosa em
sua cidade élfica, Lenórienn, e algumas vezes também conta sobre o pai que pertencia
aos espadachins de elite da caída nação elfica… Será que Antony já fora um guerreiro?
Bom, espero um dia descobrir, pois ele raramente conta-me esses fatos dolorosos que
são as lembranças de sua cidade antes do massacre à sua raça pelos goblinoides.

- Rapaz! – Antony me acordou de meus pensamentos ao gritar a um soldado que


passava por ali rindo indisplicente, o qual se assustou ao vê-lo e reconhecê-lo como o
que estavam falando por todo o forte sobre um inspetor que acabara de chegar – Leve
meu pseudo-dragão para o estábulo!

Dando a ordem nem esperou a reverencia do soldado, simplesmente caminhou enquanto


o soldado correu para levar Dranarios sem saber que na verdade era um dragão
disfarçado.

Saindo das paredes de pedra para o pátio aonde um grupo treinava (começara há alguns
minutos apenas para impressionar o inspetor, provavelmente), nos deparamos com a
encosta da montanha e um imenso arco que levava à caverna aonde deveria estar o
pergaminho do Suplicio, meu coração pulsava cada vez mais forte pela ânsia de eu
querer lê-lo. Antony soltou um sorriso, parece que a qualquer minuto daria a ultima
cartada. Então chegou o comandante, escoltado por três soldados recém acordados da
ociosidade, responsável pelo forte. Era um humano gordo e com um vasto bigode louro
de leão marinho, com um cabelo perfeitamente arrumado e bochechas rosadas. A
armadura o fazia parecer ridículo com partes da banha e barriga escapulindo sempre por
onde seria possível.
- Boa dia, senhores! – disse o comandante batendo continência – Sou o Comandante
Roswald, responsável por essa fortaleza e a caverna do tesouro de Logus! Desejam algo
em especial?

- Não, comandante! – o elfo respondeu sem expressão – Só devo dizer que minha
inspeção é quanto ao ouro! – o comandante se assustou – Parece que temos informações
da fortuna de Logus XI e Sckhar estar diminuindo aqui! Então vamos inspecionar!

O homem gordo enrubesceu, pelo jeito deve ter sido pego de surpresa. Ele devia tirar do
tesouro real para proveito próprio.

- Err... Certo! Podem ir! Já enviarei o mago que controla a dragoa guardiã! – disse o
gordo como se quisesse fugir.

- Sim, dispensado! – disse Antony caminhando para as entranhas da caverna.

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Dranarios foi levado pelo pátio de uma forma pouco digna a sua raça orgulhosa. O
homem que Antony ordenou que o levasse para o estábulo de pseudo-dragões o fazia na
má vontade, resmungando e puxando Dranarios pelo chifre como se fosse uma vaca
com escamas.

- Hunf! Maldito inspetor! Tomara que a dragoa mate ele! Se bem que aquela bicha anda
muito asanhada sem ter mais um reizinho para satisfazê-la! HAHAHAHAHAH!

Dranarios parou. Como dragão ele nunca poderia permitir agir tão humilhante como
estava, fingindo ser um pseudo-dragão, mas em nome de um dia vingar-se de Sckhar o
fazia por necessidade, todavia, suportar a humilhação da própria mãe por um mero
humano fracote era demais para ele.

- Humanos... Como são tolos! – disse em voz alta.

O soldado deu um pulo e fez um xingamento no susto por Dranarios ter falado.

-V-VOCÊ FALA????

- Não só falo como mato! – o dragão pareceu sorrir em meio a um sorriso, e em


instantes sua garra trespassava o corpo do humano que tombou no chão cuspindo
sangue, e não satisfeito cuspiu chamas em seu corpo carbonizando-o.

De repente a fortaleza pareceu ter parado no tempo. Ninguém se movia, nem o vento.
Os olhos só se fixavam naquele ponto do pátio aonde jazia o corpo do soldado diante de
um dragão.
-DRAGÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! – berrou um homem de cima das
muralhas em um desespero que pareceu contaminar cada pessoa naquela fortaleza.

Em instantes a bela e disciplinada fortaleza explodiu em caos. Soldados corriam para


todos os lados. Uns pegavam em armas, outros se escondiam, alguns ainda, por tão
desesperados, se tacavam das janelas e ameias. O pavor aumentou mais ainda quando
Dranarios ergueu-se no ar voando e cuspindo fogo sobre uma torre de vigia que
incendiou-se estalando até ela ceder e cair sobre o pátio matando mais alguns. Ao ver
aquilo o comandante apenas ordenou que abrissem os portões, e como um covarde que
era saiu correndo para fora da fortaleza fugindo do dragão.

Dranarios gargalhava. Fazia um bom tempo que não matava humanos servos de seu
odiado pai por livre e espontânea vontade, e o mais incrível era como aquela fortaleza se
tornara fraca. Os soldados corriam desesperados por todos os cantos, pois estes jovens
que residiam na torre nunca foram atacados por sequer um pequeno exercito, quem dera
simplesmente um dia acordar da ociosidade sob o ataque massacrante de um dragão.
Dranarios gargalhava.

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Quando o caos tomou a fortaleza, Antony e eu já estávamos bem abaixo da fortaleza. As


paredes escavadas na pedra (sem duvida por mágica, como reparei ao perceber a
perfeição que era feita e a própria escada que era de degraus iguais) nos levava cada vez
mais para baixo. Ao menos essa caverna possuía tochas nas paredes que davam uma
iluminação suficiente para sabermos aonde pisávamos. Enfim chegamos ao último
degrau aonde havia um portão de ferro protegido por dois guardas que tinham o rosto
todo encoberto por um elmo.

- Quem são vocês? – indagou um homem de manto que apareceu atrás de nós, nos
surpreendendo junto a um parceiro que provavelmente estavam invisíveis até agora.

Antony pegou o elmo e tacou na cabeça de um dos magos nocauteando-o e em seguida


pegando de mim o chapéu emplumado e colocando a mão no sabr...

Eh, o sabre quebrou, lembra?

- Os salvadores da dragoa que vocês aprisionam! – sorriu lançando uma rosa no ar que
caiu aos pés do outro mago que não entendeu o significado da ação.

Antony aproveitou a distração para saltar sobre ele e misturando acrobacia e esgrima
tentando acertá-lo com um soco como se fosse seu sabre, mas a armadura o atrapalhou e
o mago desviou.

- Ziarum Margotis! – disse o mago que possuía um manto rubro que lhe encobria de
panos até o nariz deixando só os olhos roxos de fora e os cabelos negros espetados –
Bola de fogo!
Das mãos do mago saltou um globo flamejante que veio em nossa direção. Bom,
achando que mostrei pouco minhas habilidades como clérigo de Tanna-toh, a Deusa do
Conhecimento, intervi.

- Mãe da Palavra, Me ensine o funcionamento desse poder para cancelá-lo!

Neste momento uma aura branca envolveu meu corpo iluminando minha mente, que
como se encaixasse, a informação completa sobre aquela magia permeou meu cérebro, e
em um segundo sabia como funcionava, e apartir disso consegui com o olhar cancelar a
magia antes que atingisse Antony.

Em seguida os guardas investiram com suas lanças de lava rubi. Antony desviou de um,
mas o outro acertou-lhe raspando do lado da armadura, e descobrimos que aquele metal
protetor era como papel para a lava-rubi das armas. Os magos começaram a recitar de
novo novas magias de bola de fogo, eu cancelei uma e a outra Antony desviou, mas a
explosão fez a caverna toda tremer.

O elfo espadachim investiu contra um dos guardas que tentou estocá-lo com a lança.
Correndo imprudentemente em sua direção, o guarda tinha todas as chances para acertar
o senhor Willians, mas como bom swashbuckler que era, deu um grande pulo e com sua
acrobacia e equilíbrio impecável, caiu em pé sobre o corpo da lança, surpreendendo o
guarda que levou um chute no elmo (algo que faria meu parceiro elfo sem noção
reclamar por dias pelo inchaço nos dedos) e deixou a arma cair. Antony a pegou, mas
ele era espadachim, não lanceiro.

- Deusa do conhecimento que eu saiba usar os poderes de meu adversário!

- Ziarum Margotis! – disse o mago que lançou nova bola de fogo. Suas palavras
entraram em minha mente de tal forma que me senti como se soubesse aquilo há anos!

- Ziarum Margotis! – repeti apontando-lhe as palmas de minha mão que arderam


prazerosamente e cospiram um globo de chamas que se chocou com do oponente,
explodindo e criando uma baita cortina de fumaça que obscureceu nossa visão.

Antony aproveitou a distração e deu uma rasteira nos dois guardas (um já havia se
levantado), derrubando-os, e aproveitando para pegar suas armas.

- Argum mani! – a voz do mago soou de dentro da confusão e uma poderosa lufada de
vento (que ridiculamente me lançou contra a parede como se eu fosse uma folha seca de
arvore) dissipou a cortina gasosa revelando a todos. Antony havia sumido do local em
que estava, me surpreendendo inclusive!

Os magos se entreolharam confusos e avançaram contra mim. “Por que sempre tem que
sobrar para mim?”, pensei com um desespero que faria Mestre Arsenal ter pena de mim.
Logo uma rosa vermelha disparada como um dardo atingiu a nuca de um mago
matando-o, Antony aproveitara para ir para trás deles, e de lá aproveitou para chamar a
atenção. O mago preparou outra magia, mas caiu na armadilha. Quando começou a
recitar as palavras, não conseguia falar, nenhuma palavra sequer saía. Cheguei então à
conclusão que aquela rosa na nuca do mago era uma rosa-dardo do silencio, que exala
um aroma insensível por nós que é capaz de paralisar as cordas vocais. Ninguém,
inclusive eu e o elfo não seriamos capazes de falar nada ali, nem mesmo o mago que
precisa recitar palavras mágicas para atacar. Desesperado, a ultima coisa que o mago
viu foi o cabo da lança de Antony que o atingiu na testa e o fez desmaiar, o mesmo
valeu para os guardas. Pronto, e assim derrotamos os 4 guardiões da dragoa.

A rosa se auto despetalou e em um minuto já éramos possibilitados de falar novamente,


tempo em que aproveitei para ver se havia alguma magia ou armadilha na porta de
pedra que levava para à câmara seguinte.

- Então? – Antony indagou.

- Uma magia de tranca arcana e uma armadilha mágica de coluna de chamas, mas a
armadilha já foi gasta há tempos, alguém deve ter entrado e a desfez esquecendo de
refazê-la! Devo salientar que acho que este atuante fora o suspeito comandante deste
forte!

Antony pôs as mãos atrás da cabeça em gesto de impaciência.

- Bom, então vamos logo que temos uma dama a salvar!

- Deusa do conhecimento, conceda-me a benção de poder abrir os caminhos fechados


que levam ao meu triunfo! – em seguida a frecha da porta brilhou, a runa mágica que
trancava a porta se revelou e dissipou-se.

O elfo apoiou seu pé direito na porta e empurrou com toda a força, após um breve
período de inércia, a porta de pedra rangeu e abriu revelando o interior de uma enorme e
magnífica câmara subterrânea que emanava uma luz quase mágica de tanto ouro.

-Por Glórienn! – proferiu Antony assistindo a cena.

A gruta era enorme e bem antiga, feita com estalagmites e estalactites espalhadas
aleatoriamente como a própria natureza de Allihanna faz. Por todo local que se olhasse
havia em meio a pedras, buracos e poças de água, montes e mais montes de ouro,
brilhantes, diamantes, pedras preciosas, lava - rubi purificado, além de obras legendárias
como estatuas, armas de metal precioso, jóias etc., mas nenhum dragão. Caminhamos
um pouco e aproveitei para analisar o tesouro e encontrar algo que fosse uma armadilha,
mas parecia haver nada, isto é, até que a praga de meu companheiro elfo sem noção e
imprudente até o colarinho da armadura de Khalmyr, Antonywillians, subir
impulsivamente no maior monte de ouro fazendo uma onda de moedas descerem
causando um estrondo, que acordaria um surdo, e em seguida gritar beeeem mais alto:

- ZOOOOOOOOLK, ACHEI O PERGAMINHO E UM SABRE!!!!!!!!!!!!

Eh, devo salientar que o sabre era o que mais queria para matar aquele elfo,
principalmente quando a montanha de tesouro começou a se mover depois que todas as
moedas rolaram. Primeiro saíram enormes chifres, depois asas coriáceas, em seguida
duas garras e sujei as calças quando a enorme dragoa ergueu-se em um rugido que
tremeu toda a caverna enquanto faíscas saltavam de sua garganta.

- Vixi! Heh! Acho que acordei ela! Que coisa, não? - Antony comentou com o susto,
mas não maior que o meu…

PARTE 6 - A COLEIRA RUBRA

Era realmente apavorante, não sabia dizer como, simplesmente de uma hora para outra
eu e o maldito elfo estávamos correndo desesperados pela câmara subterrânea enquanto
a dragoa nos perseguia sem dar trégua.

- ROOOAAAAARRRRR!!!!!!

A dragoa parecia um verdadeiro monstro, não parecia possuir consciência, orgulho,


inteligência ou qualquer outro caractere de um dragão normal, ela só estava em uma
fúria insana, cuspindo chamas para todo canto, esbarrando em tudo e seus olhos
estavam como que magicamente tomados por uma ira rubra que só podia ser vista nos
olhares dos servos do deus da guerra. Eu, um humilde halfling, clérigo de Tanna-toh,
sem grandes poderes e apelidado de Bolofofo só podia correr sem parar. Antony não ria
ou gritava, apenas permanecia sério correndo, como se pensasse em mais um plano sem
noção. Ouvimos som de sucção de ar, a dragoa preparava seu golpe letal, e como
esperado, soprou um cone flamejante medonho que cobriu toda a área derretendo muitas
moedas de ouro e minha esperança de sair vivo, só havia um jeito de escapar. Parei
instantaneamente e ergui uma pena de escrever, um dos símbolos da Deusa do
Conhecimento, a quem sirvo.

- Tanna-toh, proteja-nos do incêndio assim como o faz com vossos livros!!!!

E nesse instante uma aura pareceu envolver a mim e Antony, exato momento em que o
cone de fogo nos atingiu. Um poder indescritível, devo salientar, pois apesar de minha
magia sagrada nos proteger, ainda sentíamos um calor terrível que fazia parecer que a
qualquer momento entraríamos em combustão. Mas passou, e saímos ilesos. Assim me
joguei dentro de um monte de jóias enquanto Antony ainda corria da dragoa que usava
de suas garras para atacá-lo tentando empalá-lo. Nessa hora percebi… ela estava
acorrentada e algemada, presa a uma placa de ferro na parede, extremamente poderosa,
e por isso ainda não havíamos morrido. Antony então sorriu, criara um plano.

Com sua perícia acrobática swashbuckler, pulou na parede e com os dois pés deu um
impulso jogando-se para cima, girando no ar até cair sobre a cabeça da dragoa e agarrar-
se aos chifres dela. Arremessou o pergaminho a mim e começou a bradar.

- Acalme-se, senhorita! Antonywillians veio lhe salvar! Sou o espadachim encarregado


de lhe unir com seu filho Dranarios!

Ao ouvir o nome do filho, a dragoa debateu-se de forma tão abrupta que arremessou o
elfo contra uma estalactite que se partiu causando uma boa dor ao elfo. Em seguida, ela
rugiu de forma tão alta e pavorosa que senti que meu coração ia saltar pela minha boca e
correr mais que trobo com prisão de ventre. Nesse momento, mal consegui olhar em
seus olhos, mas reparei que enquanto sugava o ar, lágrimas brilhantes passavam furtivas
até caírem ao chão derretendo-o. A dragoa chorava ao ouvir o som do nome de seu
filho, mas por algum motivo não parava de atacar. Logo cuspia mais chamas sobre
Antony, e estava muito tarde para ajudá-lo. No fim, ele me surpreendeu (Nota: como de
costume...): Simplesmente se levantou e abriu os braços gritando:

- Queime-me e nunca sairá desse covil de torturas!!!!!!

As chamas pegaram-no em cheio, ele logo sumiu nas brasas. Eu não acreditava naquilo,
que elfo louco! Bom, para mim, pareceu que a história acabou… isso é, até que as
chamas passaram e Antony permanecia em pé, meio torrado, como se tivesse encostado
em panela quente, e com a roupa chamuscada. A resposta era uma rosa entre seus dedos
da mão direita, eu já a tinha visto uma vez, é a Rosa das Chamas, técnica antiga do Clã
das Rosas. A rosa absorveu todas as chamas que contra ele foram lançadas, ele só se
queimou um pouco por que o calor superaquecido fora inevitável ante àquele poder. Em
seguida o elfo pega a rosa e corre em direção à dragoa que suga mais ar para um novo
golpe. O elfo apenas sorriu.

- Heh! Pretensiosa! ZOOLK, PROTEJA-ME!

Assim que falou isso veio a baforada flamejante em sua direção, mas sua carta na
manga havia sido retirada, pegando a rosa que absorveu as chamas, jogou-a em direção
ao cone de fogo, fazendo com que a rosa entrasse em combustão e liberasse as chamas
que entraram em choque com a baforada, causando uma explosão de poder dobrado que
esvoaçou brutamente sua capa vermelha, e se não fosse por mim, que lancei de longe
minha magia de proteção contra o fogo novamente assim que me evocou, teria derretido
até os ossos pelo calor. O elfo aproveitou a oportunidade e usou mais uma habilidade
sua, dando um salto duas vezes maior que de um humano normal, dando para se agarrar
aos chifres da dragoa que se debatia novamente. Ela jogou a cabeça para trás e ele foi
arremessado em suas costas, aonde agarrou em uma coleira de couro vermelho
incrustada de diamantes.

Por algum motivo a dragoa se debateu, cada vez mais enlouquecida, quando ele tocou a
coleira, e agora chegava a rugir como se gritasse de dor. Os engenhos em minha mente
mexeram-se e enfim entendi tudo, só precisava comprovar.

- Senhor Willians, veja se há alguma corrente na coleira!!!!

O elfo, após quase ser arremessado novamente, examinou e respondeu.

- Não! Nem sinal!

- Então crave seu sabre no pescoço dela!

Antony não entendeu, mas não era tolo de contradizer um clérigo da Deusa da
Inteligência. Desembainhou o sabre mágico que conseguira na câmara, ergueu sobre a
cabeça e...

- POR DRANARIOS!!!!!

A dragoa pareceu recear ante ao nome, tempo suficiente para a lamina atingir a coleira
em seu pescoço. Como calculado, a coleira era um artefato mágico sobre o qual eu
havia lido quando ainda nem pensava em conhecer Antony. Ela é muito usada no Reino
de Sckharshantallas, pois é o mais fácil objeto de se criar para controlar criaturas
mágicas poderosas como dragões, mas elas só funcionam quando um dragão aceita-a ou
é colocada em um que esteja inconsciente. Assim ela toma controle total do monstro
programando-o para certa tarefa. Uma lâmina normal não afetaria a coleira, mas uma
feita por um mago poderoso a cortaria como couro, e assim Antony o fez, mas eu não
havia previsto algo, na coleira havia uma armadilha… Quando foi partida, expeliu
instantaneamente faíscas e se contorceu pelo pescoço da dragoa como uma serpente de
chamas que chicoteou o rosto de Antony e enrolou em seu braço, de forma que ardia
tanto que o elfo caiu das costas da dragoa e se debatia urrando de dor enquanto sua pele
borbulhava e soltava uma fumaça fedorenta. Após queimar-lhe o braço todo, a coleira
voltava como uma serpente, ao pescoço da dragoa. Saltei do monte de moedas e ergui a
mão para o teto sobre a dragoa e a coleira que já subia pelas pernas dela.
- Tanna-toh, dê-me um fluxo de água!

Nesse momento houve um milagre, e das estalactites no teto verteu água abundante
como uma cachoeira, molhando os alvos abaixo, e apagando as chamas da coleira, a
qual agarrei e joguei em um monte de moedas que se espalharam em estrondo. Peguei o
sabre de Antony e enterrei no artefato fazendo se partir e dissipar-se em faíscas
mágicas. A dragoa desabou no chão inconsciente, e Antony estava se contorcendo em
agonia. Me aproximei dele e orei por sua cura.



Passado algum tempo, Antony já estava parcialmente curado, mas o dano pela coleira
fora grave demais, ainda estava a cicatriz da chicotada em seu rosto e de quando ela
prendeu em seu braço, pelo menos não ardia. Assim que entregava a ele seu sabre
mágico novo, a dragoa acordara soltando um vapor condensado e superaquecido pelas
narinas, o elfo e eu já nos preparávamos para o pior, mas assim que se levantou ela não
possuía mais olhos de ira e expelia orgulho, ainda que acorrentada pelas patas e asas.
Por um momento ela nos estranhou e apenas ficou nos observando, criei coragem,
ajoelhei-me como se fizesse ante um rei, ou até um Deus (me senti compelido a isso!) e
disse:

- Senhora, sou Zoolk, servo da Deusa do Conhecimento e Raciocínio, esse ao meu lado
é o espadachim elfo Antonywillians! Nós a libertamos da coleira rubra que controlava
sua mente, e desejamos levá-la ao seu filho Dranarios!

A dragoa nada respondeu, apenas nos observou por um momento até que resolveu falar
algo.

- Levante-se, pequenino! Se me salvaram dessa prisão de torturas, eu que devo me


ajoelhar perante vós! – a voz da dragoa ecoava majestosa por todos os cantos – Sou
Risisttlaxy, a mãe de Dranarios! Mas infelizmente foi demasiada ousadia realizar esse
ato, mamíferos! Sou condenada em nome do bem estar de meu filho, e fazerem o que
fizeram é ir contra Sckhar! Ir contra seu governo é como morrer, nem eu mesma chego
às patas do regente! Perdoe-me, mas sair daqui é seguir para a morte! Partam e me
deixem...

- NUNCA! – Antony bradou, e por segundos, por ferir o orgulho da dragoa pela falta de
temor a imagem dela, eu pensei que ela fosse nos devorar – Dei minha palavra a
Dranarios que a salvaria! Ele passou anos como um ser inferior, sendo pisado, buscando
alguém para salvá-la! E desejo sua ajuda para tentar derrubar Sckhar, encontrando o
Suplicio Draconinico!

- Dragônico… - eu corrigi.

- Que seja! Então, senhorita, como já destruímos a fortaleza, desafiamos Sckhar e


estamos sendo condenados a morte, não vejo por que não pegar um ar puro e rever seu
filho! Por favor, liberte-se das correntes!

Ela observou-o por instantes, e pensei que fosse negar ainda, mas em resposta apenas
movimentou os pés com um pouco de força destroçando as correntes das algemas.

- Gostei de sua bravura, elfo! Irei ajudá-lo, pois mesmo que venhamos a morrer, desejo
rever meu filhote que aquele tirano de Logus separou de mim!

Em seguida o corpo da dragoa se imbuiu de chamas e ela desapareceu em brasas que, ao


dissiparem-se, revelaram uma elfa, alta, bela, de meia idade, trajando um vestido
belíssimo com véus brancos e detalhes em lava rubi. Ela jogou pro lado seus cabelos
louros sedosos.

- É… que saudades dessa forma! Bom, vamos assim, pois acho difícil eu passar por esse
túnel com todo aquele corpo!

Eu e Antony ficamos pasmos com a beleza inatingível da dragoa em forma élfica, ainda
que estivesse com cicatrizes e cortes pelo corpo, nada parecia poder macular a dragoa.



Assim que estavam já nos últimos degraus, começamos a ouvir a barulheira do forte em
caos. Nesse momento corremos para fora do túnel e nos deparamos com algo que só
podia ser obra de Nimb, Deus da Loucura e do Caos, simplesmente todos os guerreiros
do forte gritavam correndo para todos os lados, desesperados. Uns se escondiam, outros
fugiam e outros tentavam atacar um jovem dragão que disparava chamas ao acaso
derrubando torres de vigília e torrando os incautos infortúnios que estavam no campo de
mira. Algumas catapultas foram disparadas e pedras voaram em direção ao dragão que
desviava com facilidade, e soprando chamas, fazia-as parecerem meteoros quando
caiam causando um estrago pior. A fortaleza estava em chamas, coberta de cinzas,
envolvida por uma densa cortina de fumaça negra e recheada de corpos de soldados. Eu
e Antony ficamos pasmos, afinal havíamos esquecido do poder de um dragão como
Dranarios. De repente uma seta gigante disparada de uma balestra ia acertar o príncipe
dragão que a percebera muito tarde, mas neste momento Risisttlaxy ergueu um braço e
bradou:

- Dracomanus Gigastlyxs! – e de sua mão disparou uma rajada de fogo que mais parecia
um tornado flamejante que envolveu a seta e a desintegrou tamanho poder gasto. Ao fim
virou-se para mim e Antony – Vou ajudar meu filho! Tenho que me vingar desses
humanos podres!

Nesse momento já sabia o que viria a seguir, então puxei Antony para longe, pois o
chão cedeu ante ao calor quando uma coluna de fogo saiu do corpo da dama élfica
transformando-a em uma dragoa do tamanho de uma torre de vigia em pé, de forma que
ao abrir as asas, uma ventania soprou apagando vários focos de incêndio e jogando
vários soldados longe. A presença da dragoa nos céus da fortaleza foi o suficiente para
aumentar ainda mais o tumulto. Com a visão da majestade onipotente de seu corpo e
ante a tanto poder, muitos soldados sucumbiram ante a simples visão dela, tendo
ataques cardíacos instantâneos, Dranarios, em meio ao ar, ao ver sua mãe pareceu se
inspirar mais na batalha. Cuspiam fogo como monstros que eram, mas matavam com a
graça que tinham. Dranarios mordia, cortava e perfurava, a mãe lutava de forma que
cheguei a ficar sem fôlego, cuspindo chamas que derretiam instantaneamente as torres e
muralhas, disparando magias pelas garras de forma a aumentar o incêndio ou torturar os
oponentes, atacava com a cauda que derrubava vários andares da fortaleza, e ainda
criava poderosas lufadas de vento que varriam as ameias das muralhas. Em poucos
minutos, não havia mais os soldados do forte, apenas corpos. A maioria perecera, e a
minoria escapara pelo portão de saída, antes de o teto ceder e desabar impedindo
qualquer fuga.

- Obrigada por me conceder a chance de vingança com esses malditos mortais! – disse
Risisttlaxy que descia dos céus pegando fogo como um meteoro, mas ao se aproximar
do solo diminuiu a velocidade e desfez as brasas, se revelando novamente na forma de
uma elfa alta e belíssima. Chegava a ser irônico um ser tão belo ser uma arma de
destruição em massa, pensei na hora com receio e um pouco de medo dela.

- Errr... Heh! Não foi nada! – Antony assustado disse forçando um sorriso. Graças aos
deuses a dragoa não havia usado todo aquele poder conosco.

Dranarios desceu dos céus rugindo feliz. Ao aterrissar, seguiu em sua forma de dragão
até sua mãe e se esfregou nela, devo salientar uma coisa para que entendam melhor. Em
eras imemoriáveis, aonde nem elfos ou humanos andavam pelo mundo, os dragões eram
os monstros mais inteligentes de todos, assim como hoje em dia, mas não sabiam falar
nossa língua, ainda que tivessem desenvolvido sua própria, o draconiano. Quando veio
o fim da Era de Megalokk, eles foram obrigados a se adaptar aos mortais frágeis que
chegavam, pois suas aparências e brutalidades eram tão superiores que seriam capazes
de matar um ser humano com a simples presença. Assim adquiriram o poder de alterar a
própria forma para uma versão humanóide, sendo a forma élfica a preferida, mas isso
leva muito treino, e Dranarios ainda não teria esse poder por ser muito jovem e ter
desenvolvido pouco.

- Bom, acho que podemos descansar um pouco agora, não? – disse Antony se
espreguiçando e deitando em meio aos destroços de uma torre.

Assim, aproveitamos o restinho daquela noite, eu estava deitado próximo ao covil aonde
Risisttlaxy vivia confinada há anos, olhando as estrelas que Tenebra nos abençoara. A
família de dragões estava em outro canto descansando. Logo pequei no sono.

- MERRRSSSTTTTRRRREEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!! – Um berro agudo e com uma


palavra tão horrivelmente falada erroneamente me fez acorda de súbito.

Antony deu um pulo desembainhando o sabre mágico, e os dragões, de sobre salto,


prepararam para cuspir chamas. Era a praga do goblin escravo Henk, ele estava no meio
do pátio.

- Que foi imprestável??? – Antony perguntou tacando uma pedra nele.

- T-tem uns passarros enormes vindo parra cá! – o goblin respondeu.

- E o que eu tenho haver se umas galinhas gigantes estão... – Antony parou e lembrou
sua situação – PELAS FLECHAS DOURADAS DE GLÓRIENN!!!!! CASSIIIILDA!
Em um pulo, Antony já estava em pé correndo em direção às escadas de uma das
poucas torres de vigia que sobrara. Eu reparei que o céu, ainda estrelado, já possuía
algumas nuvens e tomava um tom alaranjado. Segui o elfo com curiosidade, afinal é
estranho acordar com um goblin falando de galinhas gigantes. Assim que subi as
escadas da torre e cheguei às ameias da muralha onde o espadachim estava com os
dragões, que voaram até ali, entendi tudo e acordei plenamente.

No horizonte, sobre as pradarias do reino de Sckharshantallas, erguia-se o imenso astro-


rei de Azgher cerimoniando a alvorada de um novo dia, e havia pontos nele, como uma
revoada de pássaros que migram e aparecem nessas horas, porém um olhar mais atento
deu para perceber que eram uma espécie de ser de asas coriaceas, cauda reptilinea,
tinham a cabeça com chifres e estavam montados por homens de armaduras. Antony
ajeitou o chapéu emplumado, e disse:

- Heh! Acho que vieram nos trazer o café da manha!

Infelizmente não senti que era hora para rir, afinal entendi quem eram de supetão.

- Errr... Senhor Willians, espero que esteja preparado, pois esses aí não são os soldados
montados em pseudo-dragões da corte de Logus... São os lendários abatedores de
dragões da elite do regente, a Cavalaria Aérea Wyvern!

Dranarios, que provavelmente já tinha ouvido sobre eles, arregalou os olhos répteis com
a menção desse título. Estávamos REALMENTE encrencados!

PARTE 7
A ALIANÇA DOS TRÊS
Algum tempo antes, alguns acontecimentos ocorriam longe de onde estávamos, e não
devem deixar de serem relatados. Kershandallas é uma grande e bela cidade a oeste do
reino, às margens do Rio dos Deuses. Ela tem se tornado muito popular em Arton por
ser uma grande exportadora de uma fruta típica na região, o teckrod, uma fruta de
coloração avermelhada e do tamanho de um punho fechado. Ela possui alto valor
nutritivo, podendo substituir as refeições, mas é uma fruta cara por sua raridade, já que
seu cultivo exige demasiados cuidados. Outro motivo pela fama crescente da cidade, é
que é a cidade mais liberal e moderada de Sckharshantallas. A conselheira-mor da
cidade, Khirollanda, meio-dragoa filha de Sckhar com uma elfa, é muito influente,
tendo sempre a palavra final, e assim tem feito uma campanha populista arrebanhando
cada vez mais o carinho do povo, oferecendo leis mais brandas e execuções menos
pesadas. Atualmente sua mais nova medida é contratar mercenários e aventureiros para
entrarem na milícia da cidade em busca de maior proteção, ou assim o diz. Na verdade
ela pretende algo a mais por traz de tudo, como alguns poucos ouvem em boatos, ela
possui a ambição de um dragão e deseja um golpe político para derrubar seu pai e tomar
Sckharshantallas para si, as medidas populistas colocam a população a seu favor e o
aumento da milícia com pessoas treinadas em batalha, como aventureiros e mercenários,
aumenta o poderio pessoal para uma eventual investida. E ainda há mais, coisas que
poucos ousam comentar, como certas alianças que ela realizou com grupos de ideais
contra o tirano.

O sol já havia caminhado meio céu quando ela andava pela floresta escoltada por dois
guardas (que seriam mortos por ela após o evento para que não tivessem como revelar o
que iriam presenciar ali). Ela possuía a aparência estonteante de uma elfa intocada, de
feições fortes de liderança, beleza de uma dama e metade do poder de um Rei-Dragão.
Seus cabelos ruivos eram curtos e cintilavam à luz do sol, quando esta a atingia, fugida
pelas folhagens das altas e antigas arvores daquele bosque velho. Suas curvas bem
desenhadas eram precariamente ocultas por uma armadura que adornava seu corpo
ressaltando seus “dotes” e ela trazia às costas uma capa de couro de dragão vermelho,
com escamas que brilhavam à luz do sol e resistiam ao mais quente magma. Ela estava
angustiada naquela manha, sabia que a noticia que iria receber era essencial para
continuação de seu grande plano, e seus olhos rubros pareciam ver o sucesso com
clareza e desejo. Só precisava confirmar suas expectativas. Suas pernas de coxas fortes
e consideradas “deliciosas” por muitos homens, desviavam de troncos caídos e sua pele
imaculada e perfeita revelava a força de como se ela tivesse escamas de dragão, fazendo
galhos de espinhos quebrarem em esbarrões eventuais sem sequer sentir cócegas ou
arranhar-se. Quando sentiu que estava próxima de seu objetivo, ajeitou seu belíssimo
cabelo ruivo-fogo que ia até sua nuca, lisos e perfeitos, e passou pelo arbusto. Os
soldados a seguiam receosos. Desde que foram ordenados a escoltá-la, não possuíam
qualquer idéia de para onde iam. Assim que passaram pelo arbusto, se depararam com
arvores cheias de vinhas caídas que tentavam esconder um arco de passagem de
mármore que levava a uma estrutura em ruínas em comunhão com a floresta. “Bem
oportuno!”, pensou Khirollanda ao passar pelo arco com os soldados, olhando para as
vinhas espalhadas em vários cantos.

Aquele era um antigo templo em honra a Allihanna erguido por anões na era bárbara,
quando Sckhar ainda expandia seu poder pelo reino que nem havia fronteiras definidas
ainda. Provavelmente o local foi abandonado desde a época em que Sckhar proibira o
culto à deusa da natureza. Khiro passou pelo o que seria um antigo jardim com uma
fonte entupida de raízes e ervas daninhas, e continuou seguindo até adentrar a estrutura
em ruínas. Ali dentro, em meio ao que seria o Saguão central, sob um grande carvalho
erguido no centro, aparentando lá para seus 400 anos, havia uma mesa de pedra branca
antiguíssima aonde se reuniam, sentados em pedras, seis homens encapuzados com um
manto verde musgo que os cobria por inteiro e um casal de trajes simples e costumeiros
para cidadãos. Um era um elfo de cabelo grisalho amarrado em um rabo de cavalo e a
mulher era uma anã de cabelos roxos, de barriga rechonchuda, mas bela, como uma
mulher “cheinha” bem cuidada.

- Boa tarde, senhorita Khirollanda! – disse um homem de capuz com voz sutil como
uma serpente traidora.

- Boa tarde a todos! – ela respondeu com uma voz sedosa como um véu, porém com a
veemência de uma líder. Apontou para os guardas que ficaram postados em pé um de
cada lado dela – Quais são as boas novas? – indagou sentando-se graciosamente em
uma pedra e cruzando as pernas de forma a enlouquecer o elfo.

- Nós nos reunimos hoje para saber como anda o andamento de nosso plano! – disse o
que parecia ser o líder dos encapuzados.

- Hah! Espero não me arrepender! Uni-me aos Vinhas de Allihanna… - Khiro olhou
para os encapuzados - … e os Lâminas… - olhou para o elfo e a anã -… em busca de
sucesso! Espero estar financiando as pessoas certas!
Neste momento os membros dos Lâminas sorriram.

- Não duvide de nossa capacidade, senhorita! – disse o elfo – Nós fomos enviados pela
guilda para trazer a notícia que a princesa prometida a Sckhar foi capturada por nossos
agentes!

Um dos Vinhas de Allihanna se remexeu com a idéia.

- Certo, então vocês vão levar adiante a idéia de matar a princesa de Logus?

- Sem dúvidas, em alguns dias! – respondeu a anã com frieza.

- Lembrarei novamente que nós, da cúpula dos Vinhas de Allihanna repudiamos a idéia
de matar alguém sem necessidade!

Khiro apenas observava quieta, sempre que os 3 poderes se reuniam dava nisso.

- Grandes objetivos só são alcançados com grandes feitos! – retrucou o elfo – Devemos
mostrar que ainda há alguém que não quer se ajoelhar perante Sckhar! E ainda se
revoltar eliminando o que ele mais preza depois do tesouro, seu harém de princesas
prometidas!

O membro da cúpula do Vinhas bateu com a mão na mesa alterado.

- Mas com a morte não natural de um ser vivo????

- Sem dúvidas, pelo bem do Estado! – disse a anã sem se alterar.

Quando a cúpula ia retrucar, Khirollanda se levantou interrompendo-o.

- Basta dessa discussão inútil! Estou pagando para seus feitos serem ao meu desejo! A
princesa deverá morrer para enfraquecer a confiança de pedra de meu pai, Sckhar!
Inclusive aumento o preço da recompensa pela morte da princesa! Aonde será realizada
a execução?

- Na praça central, na entrada da cidade, aonde está sendo erguida a Estátua do Rei
Dragão! – o elfo respondeu com a voz rouca de temor pela voz de poder da meio-
dragoa.

- Perfeito! Estarei me dirigindo para lá ao alvorecer de amanha! Irei constar com meus
próprios olhos a morte de parte do tesouro do papai!
GYYYYAAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!
- Não irá se arrepender, senhorita Khirollanda!

Khiro ajeitou o cabelo ruivo que ia ate a nuca e se levantou. Sem dizer nada apenas
partiu seguida dos soldados que seriam carbonizados no meio do caminho, como
“queima de arquivo”. A cúpula usou seu poder druida e entrou no tronco do carvalho,
reaparecendo em árvores muito longe dali. Os Lâminas pegaram seus pergaminhos de
teleporte oferecidos pela guilda e após usar sua magia, desapareceram em um facho de
luz que os encobriu e dissipou-se na velocidade um piscar de olhos.

O que ocorrera naquele templo abandonado era só o inicio de uma grande história, uma
reunião entre 3 dos mais temidos inimigos políticos do tirano Dragão Rei. A aliança dos
3 é formada pela conselheira-mor, Khirollanda, filha de Sckhar, que tem como ambição
conquistar todo o Reino em um golpe político, e tudo sem transparecer, sendo que
poucos são capazes de deduzir isso, e menos ainda de provar; os Vinhas de Allihanna,
uma organização liderada por uma cúpula druida que tenta trazer de volta o culto ao
Reino, pois o tirano quando não proíbe, dificulta a existência da religião, impondo a
própria ou simplesmente destruindo os lugares sagrados da Deusa da Natureza. Esses
agem na surdina, de formas sutis, na calada da noite, sem chamar atenção; e os
Lâminas, a organização rebelde mais famosa por realizar grandes rebeliões e
estardalhaço em todo o reino, como assassinando nobres publicamente ou destruindo
prédios de serventia a Sckhar. E com esses três poderes influentes uma onda de
problemas surgiria para Sckhar, mas isso só será contado mais tarde…

PARTE 8
AMOR REBELDE
Enquanto isso, outra vertente dessa história se movimentava há muitos quilômetros de
onde estávamos. Após o rapto da princesa os cinco rebeldes integrantes do GAEL
(Grupo de Aventureiros de Elite dos Lâminas) haviam utilizado de magias para alcançar
mais rapidamente o esconderijo próximo à cidade de Thenarallann, local famoso por
ultimamente estar sendo erguida uma estátua de lava rubi do Imperador Sckhar em sua
forma de dragão em tamanho real, que é aproximadamente o mesmo que o da lendária
estátua de Valkaria, a Deusa da Humanidade, localizada há muitos reinos dali com o
tamanho aproximado de meio quilômetro.

Após a viagem por teleportes e alguma caminhada, haviam finalmente chegado ao


esconderijo, aonde ficariam até o dia em que deveriam executar a última parte do plano
para atentar contra o poder tirano do Rei Dragão: matar a princesa.

O bando possuía uma base secreta nas profundezas de um bosque a poucos minutos da
cidade de Thenarallann, em uma pequena e abandonada cabana de madeira que há
muito deveria ter pertencido a fazendeiros. Era um casebre esquecido em meio ao
matagal, só o grupo a conhecia, pois a trilha que para ali levava sumira há anos.
Folhagens, cipós, trepadeiras e musgos surgiam por todos os cantos no lado de fora do
casebre, camuflando-o na mata. Apesar de tudo, o grupo como utilizava aquela base há
alguns meses, apenas consertara-a por dentro para evitar que os estragos e
apodrecimentos da madeira pudessem fazer o casebre desabar sobre eles.

Havia poucos cômodos, a varanda, com um chão que rangia (assim como as portas),
tinha uma cadeira de balanço da época que encontraram no local; a sala de estar, uma
lareira, sofás roubados e uma mesa de centro construída pelo grupo; havia uma cozinha
com um fogão de tijolos e uma grande mesa; dois quartos ficavam no andar inferior, e
tinha a casinha jardineira do lado de fora da casa.

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No momento a princesa encontrava-se cativa com eles. Todos os véus cobertos para
impedir que a vissem durante a parada em Logus foram retirados pelos rebeldes, o que
fez com que todos os homens ali ficassem boquiabertos. Niathallas era uma belíssima
mulher. Ainda trajada com suas vestes delicadas da corte, tecidas por elfos experientes,
suas curvas eram bem modeladas e reveladas, mas ao mesmo tempo o pano escondia
suas partes sutilmente dando um ar de sensualidade, que com os entalhes de fios de ouro
em desenhos perfeitos de folhagens e pássaros, lhe dava um ar nobre, de pureza e de
poder que uma princesa geralmente emana. Sua face era lindíssima, fazendo vez ou
outra o líder do bando rebelde acabar se pegando em admirá-la e depois enrubescer por
causa disso. Cabelos lilás-claro até a nuca, com mechas vermelhas e algumas verdes,
olhos desenhados pelos deuses como uma elfa, um semblante de princesa e ainda havia
a aura de meio-dragoa que ela parecia emanar. Niathallas apesar de tudo estava
assustada e receosa. Desde que fora levada, o máximo que fizeram foram retirar seus
véus para não atrapalhar na fuga. Ela não estava presa por cordas, fios ou magia, nem
dentro do casebre ela foi presa em um quarto e trancada, e por incrível que pareça, ela
estava sentada de frente para a lareira acesa ante ao líder que estava sentado em outra
poltrona com uma mulher meio-elfa (revelado pelas orelhas pontudas, mas não grandes)
que o massageava os ombros, e ainda tinha o bardo de manto rubro como magma que
tocava seu violino vermelho e escondia a face sob um chapelão de abas exageradamente
longas, sentado na janela, tocando uma leve música e observando a paisagem do bosque
fora do casebre. Ela sabia plenamente que fugir seria a maior idiotice, afinal, o bardo
demonstrara possuir magias de rastreio, a meio elfa era uma arqueira acostumada a
perseguir “presas” e ainda tinham um ladino que estava em algum outro local da cabana
com o quinto membro, um minotauro imenso que trazia nas costas seu martelo de
guerra mágico. Ela não estava presa, mas também não podia fugir.

- Acalme-sse, princessa... – disse o bardo tocando uma nota do violino ao vê-la


angustiada – Não há pelo que ssse preocupar! Não ainda! Relaxe... – então olhou o líder
por sob a aba do chapelão – Roan, acho que deviamosss nosss apressentar!

- Para que deveríamos? Ela é a presa! – disse o líder que evitava olhar nos olhos da
princesa a qualquer custo. E ela ao olhá-lo achava estranho, mas ele era o homem mais
belo que já havia visto na vida, um garoto jovem, de longos cabelos ruivos como
chamas, olhos vermelho-sangue, face sem qualquer imperfeição e mesmo usando uma
túnica verde rotineira de aldeão, parecia um herói em armadura de batalha pela aura de
poder que exalava – Já sei que você tem essa mania de ficar fazendo apresentações, mas
vai lá! Só não vai matar ela de susto por que ainda temos nossa missão a completar, e
ela deverá estar viva!

Assim que disse isso, se levantou do sofá e seguiu para seu quarto, com a meio-elfa indo
atrás dele jogando um olhar hostil sobre a princesa.

- SSSSh! Princcessa, ligue para ele não! Sssei que não ssou exxatamente sseu tipo!
Mass um cavalheiro tem o dever de ssse apresssentar a uma dama! – disse o bardo se
levantando e puxando o chapelão – Meu nome é SSzzés, também chamado de…

Quando retirou o chapéu, a princesa abafou o grito de horror.

- …A Brasssa Chiante!

Niathallas agora realmente estava assustada, o bardo misterioso em trajes rubro magma
e voz chiante era na verdade um homem-serpente, uma das raças mais perigosas e
temidas em Arton, por terem sido criados por Sszzaas, o Deus Serpente da Traição que
foi banido do Panteão após um estratagema que quase exterminou todos os Deuses.
SSzzés era uma espécie de homem de pele esverdeada, cabeça careca, olhos sem cílios e
sobrancelha, com pupila em fenda e suas mãos reptlineas. E por mais estranho que
fosse, aquela aberração maligna sorria amigavelmente e andou até ela se ajoelhando em
reverencia. A Princesa nem sabia como reagir.

- Perdão, sssenhorita, não desssejava amedrontá-la! Sssei que sssou feio que nem rabo
de urubu quando foge, mas não sssou tão maligno quanto pensssa! Na verdade nenhum
de nósss aqui o é!

- E-então... – a princesa se arriscou – vocês não vão me matar?

O bardo homem-serpente sentou-se onde estava Roan há poucos segundos. Ela temeu
encarar seus olhos ofídios, mas logo começou a sentir uma intimidade em olhá-lo
diretamente, como um amigo, algo que se arrependeu quando a resposta veio em
sorriso:

- Não, infelizzzmente sssua morte é necccessssária!

A princesa engoliu em seco e fechou os olhos, por segundos desejou do fundo de sua
alma viver. Ela, pela primeira vez, temeu a morte. Lágrimas escorregaram sutis pela sua
face. Seu pai, o rei… Sua mãe, que nunca conhecera… Sua vida mesquinha na corte…
tudo acabaria, e por causa de um casamento forçado, que por mais blasfêmia que fosse,
ela se recusava a aceitar… Ao fechar os olhos pela dor em seu coração ela viu a
escuridão da morte envolvendo-a, mas um toque de um pano quente em seu semblante,
secando suas lagrimas a acordou do abismo de terror. À sua frente, a aberração ofídia a
consolava com um lençinho. Ela sentiu repulsa da criatura assassina e ao mesmo tempo
certo reconforto.

- Não chore, sssenhorita! Sssei que é duro… Masss é pelo bem da nação! Pelo bem de
todosss!

- Mas por… por que isso? Pelo m-meu bem também? – ela disse soluçando em
lágrimas.

- Eu preferiria morrer do que me casssar com um lagarto gigante cussspidor de fogo! – o


homem-serpente retrucou em tom de brincadeira – E olha que para ssser lagarto para
mim falta pouco! SSSSSh!

A princesa até viu graça, mas seu coração espremia em sangue de tanta dor.

- POR QUE VOCÊS MATAM AS PESSOAS???? SÓ POR QUE ACHAM QUE


RESOLVERÃO ALGO ASSIM???? – ela se exaltou clamando pela própria vida –
DOU-LHES DINHEIRO, TÍTULO, TERRAS!!!! MEU PAI LHES OFERECERÁ
TUDO!!!! MAS NÃO ME MATE!!!!!

O líder do bando espiou pela frecha da porta. Sszzés sentou-se ao lado dela, abraçou-a e
lhe acariciou as mechas.

- Sssenhorita, você não tem nada a nosss oferecer que possssa acalmar o que
sssentimos! É a vingança! Cada um desssse grupo perdeu algo pior que a própria vida,
muitosss aqui sssão como mortosss-vivosss! Sendo que o poder necromantico que ainda
nos faz andar é a vingança! Perder sssua vida é um privilégio que todosss aqui
dessejamos mais que tudo, mass não podemosss! Poisss ssabemosss que Ssckhar repete
a cada insstante a maquina de destruir futuross!

A princesa olhou profundamente nos olhos sérios do homem serpente e viu algo.

- O-o que você perdeu que lhe faria desejar morrer?

O Homem-serpente cerrou os olhos em dor, a lembrança era dolorosa demais.

- Algo por que valessse viver! – disse como se contorcendo em dor – Ssenhorita, Não
teríamoss algo pelo que viver sse não tivésssemoss algo por que valesssse morrer! E eu
perdi a única coissa que me fazia sssentir valor em viver! Minha amada foi levada pelo
tirano! Não sssou um homem-ssserpente qualquer, minha cara… Sszzés, o bardo
Brasssa Chiante, não serve a nenhum deuss! Eu resspeito meu pai criador Sszzaas, mas
não tenho motivoss para trair ninguém! Eu vivo pela mússica!

A princesa não acreditava naquilo, estava receosa, pois sabia da natureza traidora dos
servos de Sszzaas, mas ao olhar nas profundezas de seus olhos de serpente, viu uma
fagulha de sinceridade.

- Nasci no reino longínquo de Ahlen, um antro de trapaceiross, assssassssinos e todo


tipo de pior de sorte de gente, e apessar de tudo, eu era tratado, ainda, como um monstro
peloss aldeõess e como um ssemi-deus peloss criminossoss, todoss me temiam! Eu
sempre gosstei da cultura elfica, humana e anã, uma dass coissass que maiss me
encantava era a arte! Queria me dedicar a ela dessde que era um filhote, mass ass
pesssoass que enssinavam, temiam ssequer chegar perto de mim! Um dia, não vendo
maiss ssaída, me aliei a bandoleiross! E em minha juventude meu poder natural como
homem ssserpente era tamanho que qualquer vila pequena era ssaqueada por mim e
meuss parceiross em pouquísssimo tempo!

“Em um dessses ssaques, encontrei uma esscola de artess aonde roubei algunss livross!
Apóss algum tempo já ssabia tocar insstrumentos de corda e fazzer essculturas de barro,
pedra e madeira! Com isso abandonei os bandoleiros e ingresssei na carreira artíssstica,
mas quem iria querer ouvir uma mússica cantada por um homem-ssserpente belíssssimo
como eu que parece uma lagartixa sem perna que os deusssess masstigaram, acharam
mole demais e cussspiram no mundo, não é? Então me travessti de humano, ussando
dessde sempre esses trajess vermelhoss que vê agora, inclusssive meu chapéu! As
pesssoass gosstavam de minhas músicas, mas as poucas vezes que eu revelava minha
aparência no final dosss ssshowsss, elas mudavam de opinião!”

“Masss havia um lugar que eu poderia ser aceito! Como monsstro que era, fui até o
extremo nordesste de Arton, nas Montanhass Sssanguináriasss e ingresssei no coro
ssagrado de um templo a Megalokk, Deus dos Monstros! E lá conheci a minha
verdadeira razão de viver, algo pelo que valia morrer! E quando nosso culto dessceu
para Sssckhashantallasss, ele acabou sssendo desscoberto pelas forçass de Sckhar e o
Tirano retirou-me minha amada!”

“Dessde aquele dia eu vivia querendo morrer! Mass tinha ideaisss que me impediam! O
primeiro era minha busssca divina de atravéss da músssica provar que há coisas
realmente belass dentro das esscamass de um homem-ssserpente, e a sssegunda seria um
dia reencontrar minha amada Sssylphie! Você é muito nova e pouco ssabe de amor
verdadeiro, e pode apostar que é doloroso... – parou para respirar fundo e evitar deixar-
se levar pela emoção - … Sssaber que a única pessoa que você ama verdadeiramente
esstá ou morta e esquecida na memória das pessoas ou ssservindo a seu maior inimigo
em seu harém pessoal! E por issso… VOU VINGÁ-LA!”

Cada vez que se exaltava mais sua pele começava se tornar escamas e seu corpo
metamorfoseava, até que quando chegou ao ápice da fúria perdeu o controle e se
transformou em um torso humanóide imenso de escamas, face de serpente e da cintura
para baixo, uma grande cauda de cobra. A transformação fez sua roupa rasgar
completamente e bater sua cabeça no teto deixando cair alguma poeira e abalar a
estrutura. Ao ver a besteira, magicamente voltou à forma humana e a roupa rubra surgiu
nele como se saísse de sua própria pele.

- Perdão… me exxxcedi!

Roan saiu do quarto, irrompendo pela porta ao ver aquilo pela frecha.

- Sszzés!!! Quer derrubar a cabana?

- Desssculpa, Roan! Me exxxcedi!

A princesa já não via mais a monstruosidade naquela criatura.

- O senhor tem mesmo uma história difícil! Mas então é por isso que fazem essas coisas
horríveis?

- Sssim! Em prol daqueless que morrem ou ssofrem nas mãoss do Dragão Tirano! –
apontou ao líder de cabelos ruivos – Roan foi aquele que encontrou cada um de nós e
noss sssalvou da perdição! Ele nos mostrou um caminho longe do abissmo da
depresssão!

- Hum… quando conheci essa cara-de-anaconda não era mais que uma lombriga que
estava jogada em um canto qualquer tocando um violão velho e pedindo dinheiro em
uma cidade do interior! – disse Roan sempre sério e enrubescendo ao olhar a princesa.

Nesse momento a porta que levava a varanda foi aberta e entrou um halfling de
bochechas gordas, pança avantajada, meia idade, cabelos negros bagunçados e um
cavanhaque espetado, que usava uma camisa quadriculada. Junto entrou (tendo que se
abaixar), o enorme minotauro que agora estava de peito nu com apenas a tira de couro
que prendia seu martelo de guerra mágico, feito de lava rubi, em suas costas. O
minotauro trajava um saiote, estava cheio de cicatrizes no peito e tinha brincos em
argolas nos dois chifres, além de uma na narina. Ele aparentava ser extremamente forte
e medonho, mas no momento o que dava maior temor é que devia ter se exercitado e
fedia a suor de boi.

- ARRGGHH!!! – disse Roan – Ptolomeu, pelo amor dos Deuses! Vai tomar um banho!

- Como desejar, jovem líder! – disse o minotauro com sua voz gutural e forte como seus
músculos, antes de sair para seguir até o lago mais próximo.

A princesa ficou assustada com aquilo. Pelo que os clérigos de Tanna-toh, que lhe
foram professores na corte, haviam falado os minotauros eram para serem seres que
prezam a força e a escravidão dos mais fracos, sendo que esse, pelo contrario, parecia
submisso ao humano Roan, líder dos rebeldes.

- Asssusstada, sssenhorita? – disse o homem-serpente bardo tocando uma leve música


com seu violino – Esssa montanha de mússculosss posssui tantoss motivoss para
ssservir essse humano… - disse jogando um olhar para Roan -… quanto cada um de
nósss!
O halfling chegou da cozinha com uma bandeja de madeira e pôs uma xícara velha e
fissurada para cada um, depois serviu um pouco de chá.

- Todos fomos retirados da miséria por Roan, e por isso somos fiéis a ele! – disse
enquanto servia e colocava um saco de biscoitos caseiros sobre a mesa de centro – Meu
nome é Tchintchuin Tchuntchay, sei que meu nome foi um erro durante um ar de falta
inspiração de meus pais, por isso me chame de Tchun, apenas!

A princesa se sentia mais confortável entre eles, mesmo que se sentisse como uma zebra
criando amizade com um bando de leões famintos loucos para matá-la a qualquer
momento.

- E o senhor por que segue esse caminho?

- Resumindo… - disse pegando um biscoito e comendo enquanto se servia de chá - Eu


vivia no Reino de minha raça, na capital, a Colina dos Bons Halflings, mas sempre quis
saber como era o mundo! Abandonei minha família, me tornei aventureiro com minhas
habilidades ladinas, e quando pisei fora do meu reino tudo deu errado! Fui capturado
pelo reino de Portsmouth, entregue como escravo em um acordo de paz entre Sckhar
com o reino, servi nas minas de lava rubi por anos, e por fim, quando pensei que ia
morrer asfixiado naquele antro de torturas, os Lâminas realizaram um golpe terrorista,
libertando todos nós que ficávamos nas minas, eu, especialmente, fui libertado por
Sszzés, Roan e Seléstia!

- Quem é Seléstia? – a princesa curiosa bebeu um pouco do chá.

A resposta veio detrás da porta que foi escancarada e de onde saiu a meio-elfa com rosto
carrancudo.

- Eu sou Seléstia! Seléstia Narfengard! E não pergunte minha história, não interessa a
uma princesa mimada como você! – e assim foi abraçar Roan.

- E o minotauro? – indagou a princesa.

- Ah, o Ptolomeu Bärghan? Ele é um nobre de Tapissta que ouviu falar sssobre o poder
de Sssckhar e sua crueldade, aí viajjjou da outra ponta do Reinado ssó para enfrentá-lo
em bussca de provar ssua força! Foi um doss últimoss a entrar no bando e ssó sserve
aoss Lâminass por que ssssimpatizzzou com Roan! – disse Sszzés com sua voz chiante.

- Nossa!

- Ele é de grande ajuda! –comentou Roan que cruzou o olhar com a princesa, logo os
dois ficaram rubros e desviaram o olhar. Sszzés riu da cena e Seléstia ficou vermelha de
raiva.

- E quem era aquele ajjjudante esspadachim que lhe ajudou daquela vezz, sssenhorita?

- Espadachim? – ela tentou lembrar por alguns segundos – Não lembro de nenhum…
- O que Sszzés quebrou o sabre usando o chicote de fogo… - Tchun deu a dica.

Ela parou e pensou por breve momento.

- Ah, sei! Não sei quem era! Ou era um herói que meu pai havia contratado ou algum
espadachim sem noção que estava pelas redondezas!

- Ele disse algo sobre ser um dos maiores do Reinado! – cuspiu Roan – Idiota! Todo
desajeitado! Tombou do Besour quando perdeu a arma! Acho que era um tal de
Antonywillians… ou algo parecido!

- Mas nada que causasse algum problema ao meu grande Roan! – disse Selétia tentando
beijar a nuca do líder que apenas se afastou evitando-a.

– Agora chega de conversar com a prisioneira! Caso se esqueceram, a qualquer instante


estaremos matando-a! – Roan disse carrancudo.

As suas palavras atingiram a todos como um soco. Roan adentrou seu quarto deixando
Seléstia do lado de fora. Sszzés que possuía os sentidos mais apurados para o som,
percebeu que do outro lado Roan ofegava em uma dor intocável, por isso riu, ajeitou seu
grande chapéu e saiu para o jardim tocando seu violino.

- Todos vamos descansar! Tivemos uma longa jornada até aqui! – disse Tchun
recolhendo as xícaras – E o resto dos biscoitos são meus!



O bando de rebeldes havia caído no sono. A princesa foi presa em um quarto sozinha
com o minotauro Ptolomeu Bärghan (ele havia voltado do banho) que a vigiava até
desabar no ronco também. Niathallas fingia dormir, mas estava acordada prontamente.
Continuaram em deixá-la desamarrada, acreditando que o minotauro seria suficiente
para cuidar dela, mas foram negligentes, ela esperou-o dormir e começar a roncar alto
para iniciar seu plano de fuga.

O local em que estava era o antigo porão da cabana. Havia uma cama improvisada com
palhas para ela, e tinha muitos barris de despensa espalhados. Niathallas se levantou e
caminhou até o minotauro. Ele não parecia que iria acordar tão cedo, pois seu alto ronco
chegava a fazer a madeira estalar. Seguiu tateando o chão atrás da escada que levava ao
térreo, subiu degrau por degrau furtivamente para evitar qualquer ranger que a
denunciasse e empurrou o alçapão onde estava presa. Ao abri-lo, se viu sob a escada
que levava aos pisos superiores na época que os aposentos do 2º andar eram usados (o
bando temia subir e o chão ceder). Assim que saiu, fechou o alçapão e caminhou pela
sala em direção a porta. Ela começou a sentir a liberdade próxima, cada passo parecia
uma infinidade, segurou a maçaneta, suava frio, fechou os olhos e virou… trancada.
Olhou para os sofás. Em um dormia Tchun aos roncos e no outro Seléstia que trazia a
seu lado um arco e uma flecha para qualquer imprevisto. A princesa seguiu até a janela,
temeu pular pois era uma das partes que mais rangia e seu vestido atrapalharia.

A porta de um quarto abriu abruptamente. Roan estava acordado e encontrou a princesa


acuada a procura de fuga. O coração dos dois dispararam assim que os olhares se
cruzaram. A princesa pensou que ia desmaiar, pois poderia ser morta ali mesmo. Roan
avançou sobre ela com semblante sério. Pegou-a pela cintura e tapou-lhe a boca para
evitar deixar que ela gritasse. A princesa deixou tudo passar por sua mente, inclusive
que podia ser estuprada naquele momento e ali. Roan colocou a mão no cinto, puxou-o,
roçou na espada embainhada e puxou algo. Ela fechou os olhos pensando que uma
lâmina fosse atravessar seu ventre.

- Direi a eles que você me furtou enquanto eu dormia! Agora vá!

Ela abriu os olhos quando ele destampou sua boca, e viu uma chave em sua outra mão.
Niathallas olhou profundamente nos olhos de Roan confusa e estranhamente encantada.

- Por que voc…? – ela tentou indagar.

- Apenas vá! – ele ordenou ficando com as bochechas tão rubras quando seu cabelo, e
então a ignorou e voltou a seu quarto.

Meio sem ação, recobrou a consciência quando sentiu o chão ranger pelos roncos do
minotauro Ptolomeu no subsolo. Destrancou a porta e saiu. Tomou cuidado com a
varanda de madeira e quando pisou na grama chegou a perder o equilíbrio, era como
uma ave que encontrava a liberdade após escapar do matadouro. Ela deixou uma
lágrima furtiva correr por seu rosto. Se sentia uma idiota, pois havia algo dentro daquela
cabana que finalmente encontrara após anos e era algo pelo que valesse morrer, mas
criou forças e correu até a floresta, correu pela vida, ainda que aos prantos. Antes de
sumir entre os troncos, deu uma última olhada para trás, e as lágrimas jorraram quando
olhou para porta e viu, em pé, parado e como ela, sob lágrimas, o menino de cabelos
ruivos e olhos vermelho sangue que aqueles assassinos chamavam de líder. Seu coração
partiu-se ao meio causando uma dor inexplicável, ela desviou o olhar e correu
cegamente pela mata.

Roan via tudo da porta, chegou a sentir um soco no estomago quando seus olhares se
encontraram antes dela sumir entre as folhagens. Quando ocorreu tal fato a simples idéia
de ela nunca mais retornar foi suficiente para aflorar em seu corpo uma emoção que
jamais se preocupara em sentir. Sem explicação, tentou segui-la, era como se quisesse
vê-la mais uma vez, mesmo que fosse a última. Correu para fora da varanda, mas ela já
havia sumido. Cambaleou até uma árvore próxima, bateu com a cabeça no tronco e
começou a contorcer o rosto em lágrimas.

Sentia-se um idiota, ele traíra os Lâminas, seria punido por isso e não alcançaria seu
objetivo… tudo sem qualquer explicação, simplesmente deixara fugir o grande trunfo
do bando. Se odiava por fazer cada parceiro seu sofrer futuras punições por perder a
princesa prometida… se odiava mais ainda por ser fraco e por algum motivo achar que
não seria capaz de matá-la então era melhor libertá-la… mas se odiava de verdade por
que apesar disso tudo, não se arrependia de nada, conquanto ela estivesse bem… Ele
apenas sabia se odiar naquele momento.

- Já ouviu falar da lenda do amor entre o guerreiro Lassstimusss Dragonfang e da


princcesssa Lady Arthellesss, sssenhor Roan? – a voz atingiu Roan como uma flechada
de fogo. Sszzés assistira tudo de cima a árvore na qual o líder batia a cabeça no
momento – Dizem que Niathallas é a reencarnação da princesa prometida… Mas fico
me perguntando… quem ssseria a reencarnação de ssseu amor, não é líder Roan, ou
melhor dizendo… Lassstimuss? SSSShhh!!!!

Sszzés desceu do galho em um pulo sem olhar o rosto em pânico e pasmo de Roan.

- Não ssse preocupe, líder Lassstimusss! Não hei de contar a ninguém! A esscolha é
sssua!

- D-deixe de ser ridículo, Sszzés, meu nome é Roan, não acredito em reencarnação! Só
não pude deixá-la morrer!

- Eu não dissse nada, líder! Eu ssou apenasss o bardo, você é o líder! Quem dá as
ordensss! SSShh!!!

E assim o homem-serpente seguiu para o casebre aonde iria descansar na cadeira de


balanço. Roan correu até seu quarto e se trancou. Sszzés só ria daquilo tudo, como os
humanos eram idiotas…

Quando o sol de Azgher sumia no horizonte e a lua cheia prateada de Tenebra já era
vista no ponto oposto com seu manto negro de trevas e estrelas cintilantes, um brado
extremamente alto vindo do porão tremeu o casebre derrubando uma coluna que fez
parte do segundo andar desabar sobre a jardineira e Tchun cair do sofá.

- A PRINCESA FUGIU!!!!!! – Bradou Ptolomeu Bärghan acordando todos no casebre


de sobresalto.



O clima era de tensão na sala de estar do casebre antigo. O que restara da luz do sol
entrava serenamente pelas janelas rangedoras, cada um do grupo estava mais cabisbaixo
que o outro, Roan era o que estava pior, caído no sofá com as mãos sobre o rosto como
em desespero, em contra partida, Sszzés era o único que sorria enquanto tocava uma
musica de lamurias pela janela. Aquele grupo era, há alguns anos, considerado Grupo
Especial de Elite dos Lâminas, nenhuma missão nunca falhara e todas foram de grande
sucesso, a fuga da presa era algo inadmissível. Todos olhavam Roan com pena, tantos
anos trabalhando duro para criar sua fama de Rebelde número um na guilda, e acabou
nessa desgraça. “Tolos”, pensou Sszzés, “Não entendem nada! Sssshhh!!!”.

- Pelos chifres de Tauron! – disse Ptolomeu – Temos que ir buscá-la! Eu vou já que
deixei a garota escapar! Devia ter sido mais forte e ficado acordado! Devo recuperar
minha honra!

Roan permanecia calado… queria gritar, mas não podia… Sszzés ria.

- Você faz mais escândalo que um estouro da boiada… - disse Tchun – iria só sinalizar
o caminho que ela não deveria correr!
- Sem contar que ela deve estar bem longe daqui! – Seléstia, a meio elfa, resmungou.

- Sssshhh!!! Vocês já ouviram a hissstória de Lassstimus e a princessa prometida


Arthellesss? – Sszzés indagou como se quissesse mudar de assunto.

- Fica quieto lagartixa sem braço! – Tchun bradou – Ninguém quer ouvir historinhas
aqui não!

- Eu deixei a princesa fugir! – disse Roan deixando todos brancos pela repentina
afirmação.

- Não, querido! Não se culpe… - disse Seléstia – Sszzés vê se faz algo e tenta localizar
aquela maldita!

Sszzés sorriu e fez uma mesura respeitosa à dama. Seu cavalheirismo parecia sarcástico
naquela situação.

- Como desssejar, sssenhorita! – todos fizeram silêncio e Sszzés tocou um fio do violino
que vibrou sonoramente. De olhos fechados a magia bárdica expandiu-se e aumentou a
freqüência da vibração. Sentiu tudo na região em um raio de 70 metros: árvores,
animais, galhos secos, flores, riachos, formigas, vento, a princesa… Sszzés sorriu, era
como já imaginava – Está há algumas dezenas de metros daqui! Deve ter parado para
descansar, ou… Para repensar a idéia!

Roan arregalou os olhos, essa frase fora para ele, perturbando-o mais ainda.

- Ótimo! – disse Seléstia pegando seu alforje e seu arco longo – Vamos, Tchun, sou boa
em rastreio, mas você é perito na área mais que eu! Você acha e eu atiro a flecha na
presa!

- Claro! – respondeu o halfling que deu um pulo do sofá não querendo perder tempo.
Vestiu seu traje negro que cobria seu rosto até o nariz e apanhou seu cinturão com
ferramentas de ladrão.

- Mas não a machuquem! – Roan irrompeu levantando-se da cadeira, ação que


surpreendeu e confundiu todos. Sszzés apenas sorria com seus dentes ofídios. Roan
tentou uma explicação – Devemos deixá-la intacta até o dia do aniquilamento!

- Sssério, Lassstimusss? Errr... Roan? – Szzés ainda ria.

- Certo, vou evitar matá-la! – disse Selétia com frieza, beijou a bochecha do líder e
partiu com o halfling.

Roan enterrou o rosto nas palmas de sua mão. Queria se matar… queria poder revelar
seus sentimentos… mas a primeira opção era a mais cabível. Sszzés apenas sorria.

Seléstia estava furiosa. Ela caminhava pisando fundo na grama enquanto Tchun se
preocupava de apenas seguir as marcas de pegadas na grama fresca que a princesa
amassou quando passou por ali. Achou estranho o fato de as pegadas darem muitas
voltas pelo mesmo lugar, ir para longe e depois retornar. Parecia até que a princesa
estava na duvida entre fugir ou retornar ao cativeiro.

- As pegadas a partir daqui estão frescas! – avisou após um tempo.

A meio elfa nem deu atenção. Filha meio elfa de um nobre de Nova Ghondriann com
uma elfa fugitiva de Lenórienn, Seléstia há muito se cansou das intrigas da corte e
resolveu sair em aventuras e em uma de suas viagens acabara parando neste reino. Teve
a vida salva em Sckharshantallas por Roan quando clérigos de Sckhar, em uma cidade
do interior, tentaram capturá-la para oferecê-la como oferenda a seu Deus, e hoje o
serve fielmente como arqueira profissional. Desde que fora salva acabou se
apaixonando pelo guerreiro de olhos rubros, mas nunca se pegou em uma situação como
a desse dia. Roan estava muito estranho com a tal “princesinha”, era como se estivesse
mexendo com os sentimentos dele… talvez fosse ciúmes fúteis… mas talvez o amor
fosse verd… Chutou uma pedra nesse momento e quando bateu em algo atrás de um
arbusto veio um:

- Ai!

- ACHAMOS! – Tchun bradou.

A princesa levantou de súbito detrás do arbusto aonde há pouco estava derramando


lágrimas dolorosas sem entender o porquê. Mas não tinha tempo para chorar, os
inimigos a acharam. Seléstia, como exima arqueira, puxou uma flecha e a disparou em
segundos cortando parte do cabelo lilás-claro da princesa.

Desesperada, Niathallas apenas correu. Ela corria por sua vida, e isso a fazia parecer
uma presa de uma caça para Seléstia que sorriu como se estivesse revivendo seus
tempos em que caçava em seu reino natal, Nova Ghondriann. Disparou algumas flechas,
mas a princesa era sortuda demais e escapava sempre. Tchun atirou algumas adagas,
mas só acertava as árvores. A princesa aproveitou quando os perseguidores haviam
perdido sua cola, para procurar um arbusto e jogar uma pedra nele. Ao ver o arbusto se
mover Seléstia disparou nele, percebeu que era uma distração e viu a princesa correndo
por entre os troncos já longe. A meio elfa sorriu, pegou a flecha, colocou no arco,
apontou, mirou e disparou. Acertou a presa…

A princesa bateu contra uma árvore quando sentiu o projétil em seu ombro direito. Mas
ela era forte, era uma meio dragoa apesar de tudo, aquilo nem doera. Puxou a flecha e
continuou correndo. Seléstia disparou três flechas ao mesmo tempo. Uma acertou uma
árvore, as outras duas perfuraram o corpo do alvo. Niathallas tombou.

A arqueira e o ladino se aproximaram do corpo.

- Nem diga para eu carregar, tem nem graça! – disse Tchun que tinha o tamanho de uma
criança de 5 anos.

- Eu carrego esse cervo! A caça é minha! – Seléstia sorriu aproximando-se da princesa


desacordada.

De súbito tudo aconteceu muito rápido. Niathallas abriu os olhos surpreendendo a


arqueira, mordeu seu calcanhar derrubando-a, se levantou, chutou Tchun como uma
bola, e saiu correndo para o meio da floresta que já estava bem escura, pois o sol havia
ido embora quase completamente.

Assim que Tchun conseguiu se levantar, ainda que tonto, pegou uma pedra mágica em
seu cinturão que brilhava magicamente à noite. Iluminou a meio-elfa e passou uma erva
no seu calcanhar que adormeceu a parte dolorida dela.

- Maldita! Vamos caçá-la! – Seléstia rugiu como um predador sedento por sangue.

- Não! Melhor retornarmos ao casebre! Ela tem dentes fortes de meio dragão, poderia
ter arrebentado seu calcanhar! Você não poderá andar tanto! E a noite se aproxima
fazendo-nos correr o risco de nos perder e as chances de reencontrá-la são ínfimas!

A arqueira teve de acatar a sugestão.



Assim que chegaram ao casebre, Roan estava em pé olhando a paisagem pela janela e
Ptolomeu estava branco como se tivesse visto o próprio Leenn, Deus da Morte. Sszzés
estava normal com seu violino sentado no sofá e sorrindo.

- O que houve agora? – Tchun indagou.

- O líder deixou a princesa fugir! – disse Ptolomeu com sua voz poderosa que tremeu o
casebre.

- Ptolomeu!!! – Seléstia repreendeu-o e abraçou o líder – Não jogue a culpa no líder se


você foi incopet… - o dedo de Roan calou-a, mas não mais que as palavras dele.

- Fui que a deixei escapar! Eu que a dei a chave!

Seléstia e Tchun ficaram pálidos assim como Ptolomeu já estava. Roan olhou a lua
tentando imaginar onde ela estaria naquele momento. Sszzés tocou uma nota cortando o
silêncio.

- C-como assim? – Seléstia estava confusa e indignada – M-mas por quê?

- Não sei… - Roan respondeu olhando a lua cheia que subia no céu.

Seléstia indignou-se com a resposta negligente do líder e explodiu em raiva.

- COMO ASSIM “NÃO SABE?????” Você arremessa nossa fama pela janela por causa
de uma princesinha mesquinha dessa? - então ela ponderou sobre as palavras e o
resultado foi mais ódio misturado a ciúmes – ROAN VOCÊ ENLOUQUECEU????

Assim ela caiu no sofá aos prantos, o ciúme a consumia por dentro, a frustração
amorosa rompia seu coração. Ela largou toda sua vida de luxo para seguir com a única
pessoa que ela amava, que por acaso não a correspondia… ela sabia disso, mas nunca
recebera uma prova.

Roan ficou vermelho. Estava com raiva das palavras da meio-elfa que apenas
confundiam mais suas emoções.

- O que você está insinuando, Seléstia????

Ptolomeu Barghän ergueu-se de súbito, seus músculos e tamanho intimidaram todos, até
por que era raro ficar sério. Ao se levantar acabou batendo com os chifres no teto sem
querer, desabando poeira sobre a sala. Sua voz poderosa ressonou pelo aposento como
um trovão.

- Chega, vocês dois! Sejam fortes! Nosso grupo deve prezar pela coletividade, ou nos
tornaremos fracos!

Um breve silêncio, cada um ali, por mais exaltado que estivesse, temia responder ao
minotauro e receber uma represália pior. Sszzés sorria de tudo e para todos.

- Que seja! Vou sair para pegar um ar! Não quero me meter em confusão com ninguém!
– Roan respondeu finalmente, entrou em seu quarto e disparou pela porta pisando
fundo.

Seléstia tentou dizer mais algo, porém interrompeu-se ante o olhar intimidador de
Ptolomeu Barghän.



Após sair do casebre, Roan cambaleava pelo bosque fazendo algo que não fazia desde
os 6 anos de idade… ele liberava lágrimas por mais vontade que tivesse de contê-las.
Ele não se entendia, o agente mais glamuroso dos Lâminas deixo-se levar por
sentimentos desconhecidos e perdeu sua maior chance de ser reconhecido em todo
império. Trombava com árvores, tropeçava em raízes, galhos e espinhos cortavam sua
roupa e corpo, ele encontrava-se perdido na floresta do desespero e do caos, que sua
própria mente criava.

Após alguns minutos resolveu parar e refrescar a mente em um pequeno riacho


próximo. Era um fluxo de água não muito grande, que vinha de uma cachoeira ao longe,
e atravessar o rio era fácil, apesar das pedras escorregadias, cada leito ficava uns 5
metros de distancia um do outro, e alguns peixes de água doce passavam por ali, contra
a corrente, para seguir até a nascente aonde desovariam. Roan despiu-se completamente,
pegando apenas a bainha com sua espada que ficava presa por um cinturão que
atravessava seu peito. Caminhou nu até o leito do rio e observou as águas que corriam
para o leste. Ele observava cada detalhe e ouvia o som. Os animais da floresta estavam
silenciosos, com exceção de algumas corujas e cigarras, as quais adoravam o calor
daquele reino quente. As folhagens balançavam ao vento realizando uma sinfonia de
sons com o fluxo da água, Roan sorriu, apesar de tudo, parecia que o riacho estava
levando seus pensamentos negativos embora. Seguiu pela margem até uma área um
pouco mais funda e com pedras menos escorregadias e entrou. A água naquele reino era
estranha, de manha era fria em dias normais, mas a noite esquentava, Sszzés contara que
seria sobre uma tal de transferência de calor por convecção, seja lá o que isso queira
dizer.

Cansado de pensar demais afundou o corpo inteiro no riacho ficando apenas com a
cabeça do lado de fora. Relaxado, suspirou e reparou que nos céus uma lua cheia
resplandecia majestosa cercada por um manto de estrelas, e sua luz emanava sobre o
riacho deixando suas águas com tom prateado. “Até parece magia!”, pensou enquanto
pegava um sabão que trouxera e banhava-se. Passado um breve tempo, ouviu um som
próximo, alguém parecia ter mergulhado perto dali. Instintivamente desembainhou sua
espada, ainda mergulhado. Mas acalmou-se quando viu um cervo saindo assustado da
água na margem oposta com seu movimento, teria provavelmente tentado apenas
atravessar o riacho. Voltou a relaxar, mas novamente ouviu o som, e não conseguia ver
quem era, parecia ter mergulhado completamente na água. Pressentindo que não fosse
mais um animal silvestre, foi de espada em punho, sem se preocupar de vestir sequer
sua cintura para baixo, em direção aonde as ondas na superfície revelavam que alguém
mergulhara. De súbito seu coração pulou quando viu que ali no fundo era uma espécie
de humanóide, talvez elfo, talvez humano, não sabia reconhecer, foi furtivo, cuidadoso
para não fazer barulho. Sua tensão era tão grande, que nem sentia o frio da brisa da
noite em seu corpo nu. Esperaria emergir e então golpearia com a lâmina de sua espada.

A pessoa mergulhada seguiu na direção contraria dele, sem percebê-lo e emergiu… mas
ele não conseguia mover nada, paralisou-se, apenas uma parte dele manifestou-se, uma
a qual não possuía controle. Ali, há menos de 2 metros estava ninguém menos que a
princesa Niathallas, também completamente despida, banhando-se nas águas prateadas
do riacho, abençoada com a luz da lua que brilhava cintilante em sua pele branca,
levemente bronzeada e macia. Os cabelos lilases molhados chegavam a ser tão sensuais
como de uma ninfa, mas a manifestação de seu corpo foi em especial com a nudez em
que a princesa também se encontrava. Ela parecia mágica, uma fada, talvez ninfa, talvez
avatar de uma Deusa da Beleza… não sabia explicar. Sua confusão e pesares sumiram,
só conseguia admirar aquele corpo perfeito, foi então que lembrou que estava nu e
totalmente aparente a ela, no impulso tentou voltar. Pisou na pedra, escorregou e caiu
com tudo na água molhando-a.

- AAAAAAAAHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! – assustada com o voyer, ela gritou e


tentou correr para a margem, porém escorregou também em uma pedra e caiu dentro
d’água com tudo por pouco não batendo a cabeça em uma pedra afiada, pois antes Roan
havia corrido atrás dela e pego em seus braços salvando-a.

Ainda deitada em seus braços, observou o desnudo guerreiro. Os olhos rubros dele
passavam um sensual mistério, seus cabelos molhados da cor da lava cintilavam em tom
mais prateados à luz da lua cheia, e seu corpo era atraente, como o de um verdadeiro
guerreiro. A princesa o temia, mas sentia algo diferente cada vez que olhava nos olhos
dele, algo que a inflamava por dentro e não a permitia fugir dos braços do bravo
guerreiro, mesmo que fosse o carrasco que iria sacrificá-la em prol de demonstração de
rebeldia. O líder dos aventureiros de elite da organização rebelde estava estupefato com
aquela linda princesa, ela era o ser mais belo de todos que já vira, talvez por ser meio-
dragoa... talvez, mas não sabia como poderia ser tão perfeita, sabia que era seu carrasco,
mas sabia também que sentia algo a mais que isso…
Os corpos pelados tocavam-se excitantemente, os dois sentiam o calor um do outro, os
seios dela a mostra o excitava mais ainda, e ela sentia algo na cintura dele que lhe
provocava o mesmo… os dois sentiam o amor de cada um… os dois abraçavam cada
um… os corações disparavam retumbantes em uma orquestra que faria de invejar os
maiores bardos de Arton, o calor era tamanho que nem a água ou o vento tinha
influência sobre eles... fecharam os olhos e como que por um magnetismo entre os
corpos, o rosto de cada um se aproximava romântica e vagarosamente, ela tocou seu
rosto com as delicadas mãos de princesa trazendo o guerreiro até ela, ele explorou o
corpo da jovem princesa como um aventureiro… os lábios se aproximaram… a
respiração denunciava o desejo… e então…

- OPA! ACHO QUE CHEGAMOS NA HORA ERRADA!!!! HAHAHAHAH! – uma


voz masculina veio da margem atrapalhando os dois que deram um pulo, com Roan
desembainhando sua espada e servindo de escudo para a princesa.

Na margem estavam quatro homens de armadura vermelha feita com entalhes de lava
rubi e usando elmos que possuíam nos lados enfeites em forma de asas de dragão em
um mineral vermelho transparente. Dois traziam lanças de aço na mão e os outros dois
desembainharam suas espadas.

- Vamos, rapazes! Matem o garoto e vamos levar a menina para nos divertir essa noite!
– disse o que parecia o líder do grupo por causa de seu elmo ser no formato do focinho
de um dragão vermelho – Esses devem ser os “vultos” que andavam assombrando
aquele casebre abandonado na floresta, como nos foi relatado!

Roan, sem nem se incomodar de estar nu, instintivamente saltou sobre um, de arma em
punho. Sua lamina foi aparada com o cabo da lança, ele aproveitou isso para apoiar-se
na espada e ao invés de cair, dar uma rasteira no guarda antes de cair no chão. Seu pé
doeu por causa do impacto na armadura dele, mas derrubou-o. O líder veio com a
espada para cima dele, defendeu-se com a própria. O guarda caído se levantou e tentou
estocar Roan, que desviou por centímetros e virou a espada nele, mas não acertou, pois
o líder o derrubou com uma rasteira e caído, ficou imobilizado quando pisou em suas
costas.

- Não tem como mais escapar, não é? – sorrindo o líder da milícia pisou mais fundo nas
costelas dele causando uma dor enorme – Por causa de seu desacato verá sua namorada
sendo banqueteada por nós quatro! HAHAHAHAH!

Dois guardas desafivelaram as calças e despiram sua parte inferior indo para o riacho
agarrá-la. A princesa tentou fugir, mas estava desacostumada à água e às pedras, tentou
jogar água para afastá-los, mas nada adiantou, eles agarraram seu braço, lamberam seu
pescoço e levaram-na para a margem. Um usou sua força e abriu as pernas dela,
enquanto o outro se dirigia a ela para estuprá-la. O lanceiro que imobilizava Roan deu
sua lança ao líder que apontou a lança para a cara do garoto pelado.

- E reza para que depois dela não seja você! Hahahahah!

A princesa chorava e se debatia, mas os guardas eram mais fortes e passavam a mão em
seu corpo, quando o primeiro tentou macular seu corpo, parou estático, na verdade todos
pararam… ela olhou pro lado e viu Roan, ele estava estranho, faíscas saltavam de seus
olhos rubros.

-
RRRROOOOOOOAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRRRRRRRR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
! – ele bradou animaliscamente e ergueu-se com uma força sobrenatural arremessando o
líder do bando para trás. Roan não tinha o poder de dragão em seu sangue ou de um
demônio, como deve estar pensando… ele tinha a força do amor! A força mais
poderosa, pois você não teme matar e, muito menos, morrer por ele!

A súbita fúria pegou os guardas de surpresa que logo pegaram em suas armas.

- LARGUEM-NA!!!!!!! – Roan rugiu pegando sua espada que havia caído de sua mão
quando derrubado.

-Somos quatro! Nem ouse! – disse o líder meio hesitante.

Roan não respondeu com palavras, mas ações. Sem temer se ferir ou morrer, fez um
movimento vertical com a espada e magicamente ela se imbuiu de chamas crepitantes, o
líder dos guardas preparou-se para correr, mas já era tarde, em segundos, Roan estava
sobre ele enfiando a espada que atravessou seu corpo e armadura como papel,
queimando seus órgãos internos. Para retirar fez um movimento na horizontal fazendo
um belo estrago no corpo que estava em chamas. Assustados, os demais guardas
ameaçaram atingir, com uma lança, a princesa indefesa no chão, que soluçava em
desespero e pranto. Isso apenas aumentou sua fúria, saltou sobre os três sem temer nada,
como um berserker faria. A lança desceu sobre o rosto da princesa, mas a pele dela era
resistente, apesar de tudo era meio dragão vermelho, e o máximo que causou foi um
arranhão leve que mal sangrou. Enfermo, por mais mínimo, fez Roan explodir sua ira.

- Morram! – ergueu a espada flamejante em vertical, os guardas estavam sem ação –


Chamas do Vigésimo Dragão do Leste…

Os guardas perceberam que ele ia invocar alguma magia e dispararam desesperados


sobre ele.

-… embua-me usando a energia do corpo do homem morto…

Um guarda tentou estocá-lo com a espada, mas foi atrapalhado quando Niathallas
derrubou-o segurando seu pé de surpresa.

-… e com seu manto queime os vivos!

Ao terminar, o corpo do líder da milícia crepitou e eclodiu em brasas que magicamente


dirigiram-se para a lâmina da espada, a qual liberou um fluxo de chamas que jorrou
como um chafariz cobrindo todo seu corpo em brasas que não o queimava, mas que ao
chegar ao chão, queimou grama, plantas e atingiu guardas e princesa. Esta estava a
salvo, sua linhagem sangüínea com dragões vermelhos lhe permitia resistência
praticamente invencível a calor e fogo, já os guardas assavam, e para se vingar,
Niathallas ainda surpreendeu Roan agarrando sua mão, puxando sua espada mágica e
com um brado de guerra, correu desajeitada com a arma para cima dos guardas que não
conseguiram escapar e tiveram a lamina enterrada em suas virilhas.
- Ouch! – instintivamente disse Roan ao ver aquilo.

-Vai… atacar… a sua… mãe! – disse ela em seguida girando a espada desajeitada e
cortando o peito dos três que caíram agonizante. Ela devolveu a espada a Roan com um
sorriso. O carrasco agora é que temia a princesa.

Roan caiu fadigado no chão, instantaneamente, assim que o manto de fogo apagou do
corpo do guerreiro, pegou-o nos braços e arrastou para longe dos corpos carbonizados.
Aproximou-se da margem e preocupada molhou seu rosto para que acordasse.

Ainda tonto, abriu os olhos devagar, até que tudo tomou forma e viu o rosto da
princesa… pensou que ia desmaiar com tanta beleza, mas ficou vidrado, assim como ela
em seus olhos.

- Te am… - ele começou, mas foi interrompido pelos lábios da princesa que pegaram-no
desprevenido. Ele entendera finalmente o que sentia, ela também, assim beijaram-se,
abraçaram-se, os corações voltaram a debater-se em seus peitos, o amor crescia, o
desejo aumentava, logo ele e ela estavam deitados sobre a grama e começaram a se
amar como nunca antes. Trocando caricias e satisfazendo seus desejos mais íntimos,
carrasco foi o homem e a princesa foi mulher. Sob a luz da lua, amaram-se como nunca
alguém havia feito naquele bosque. Amaram-se como homem e mulher.



Deitado em um galho sobre uma arvore na orla do leito do riacho, Sszzés, sob uma
magia que criava silencio mágico sobre ele, presenciara e presenciava tudo, mas apenas
sorria… Tudo estava andando como mandava o destino…

“Sssssssshhhhhhhhhh!!!!!!!”, riu em pensamentos.

PARTE 09
A CAVALARIA AÉREA REAL WYVERN
O sol já despontava no horizonte trazendo mais um dia sob seus raios que cortavam a
abóbada celeste como flechas douradas. O céu festejava em um vermelho-alaranjado, o
frio da madrugada atingia nossas carnes indo até os ossos que tremiam debilmente, mas
ao mesmo tempo o ar era abafado, um fenômeno natural de um reino tão quente. Eu por
outro lado tremia não apenas pelo frio, mas por que ao longe se aproximava uma
revoada de cavaleiros montados em Wyverns, uma raça de monstros descendentes dos
dragões, mas menores, menos inteligentes e mais fracos, sem poderes mágicos porém
muito mais fortes que pseudo-dragões.

- Heh! Acho que teremos que lutar! – disse meu amigo elfo inconsequente que se
espreguiçava.

- Eu sabia que ia dar problema… vocês não deviam ter se arriscado tanto por mim! –
disse Risisttlaxy lamentando. - Não, mademoiselle! Antonywillians faria qualquer coisa
por uma dama! Mesmo que para isso precisasse morrer!

Antony respondeu a ela de forma que a deixou sem graça, principalmente quando no
meio daquele clima pesado ele ainda conseguia oferecer uma rosa vermelha. Em
seguida desembainhou o sabre que havia conseguido na prisão da dragoa, da qual
saímos há pouco. Agora que eu não corria mais desesperadamente tentando viver, nem
que fosse por mais alguns segundos, percebi o trabalho bem feito na arma, o cabo era
revestido de escamas vermelhas de dragão com acabamento na forma de um punho de
dragão fechado, a lâmina era de prata, mas parecia enrubescer ao ser tocada pela luz do
sol e quando assim ocorria, aparecia fios metálicos de lava-rubi incrustados nela
formando runas antigas. Não sei por que, mas aquilo me parecia muito agradável
naquele momento.

- Espera aí! Esse sabre... Ele... – disse Risisttlaxy que assustou até a mim acordando-me
dos pensamentos em que estava perdido – Como você peg…

- BORLA DI FUGU! – berrou Henk correndo para as escadas, e quando percebemos


parte das ameias da muralha explodiu em chamas crepitantes, proveniente do sopro de
um cajado mágico de um cavaleiro aéreo.
Ao olharmos para o céu, os wyverns voavam em círculos sobre a fortaleza como abutres
voando sobre a carniça. Eles guinchavam alto fazendo a estrutura vibrar, Antony pegou
uma rosa e pôs na boca, enquanto parava para pensar no que fazer, Dranarios abriu as
asas e rugiu em resposta aos guinchos, Risisttlaxy explodiu em uma coluna de chamas
que ao se dissipar mostrou sua forma gigante e assustadora de dragoa vermelha adulta,
Henk escondeu-se, e eu… Henk, halfling que alcançou 1, 30 m com muito esforço, pois
esta é a média do tamanho de minha raça, apelidado no dia passado como o soldado
Bolofofo, clérigo da deusa do conhecimento e sem nenhuma grande habilidade além da
sabedoria, me perguntei por que raios eu não virei um simples camponês plantador de
erva de tabaco. Os cavaleiros de Wyvern fizeram suas montarias descerem em rasante,
Dranarios e sua mãe ergueram-se no ar e Antony posicionou-se. A batalha começara, e
eu não queria perder um só momento.



O ponto crucial do inicio do combate se deu quando um dos cinco cavaleiros deu um
rasante sobre o grupo e o wyvern abriu sua boca liberando um sopro de chamas do qual
eu e Antony desviamos nos jogando para cada lado. Ajoelhei-me ante o elfo espadachim
e orei pela nossa proteção.

- Tanna-Toh, assim como proteges teus livros de todo e qualquer incêndio, ofereça uma
benção a mim e meu parceiro para que sejamos imunes a toda e qualquer brasa que
desejar nos queimar, pois somos fiéis a ti e não deixamos de ser um livro que fala e
anda! Temos muita história ainda para escrever em nós mesmos!

Logo nossos corpos foram envolvidos por uma luz sagrada que fluía de nossa pele,
aquecendo-nos e nos reconfortando. Os cavaleiros aéreos estavam assustados, assim
como eu deduzira, pois eram apenas cinco, o suficiente para pegar um dragão adulto,
mas ali eles estavam ante nós, meros mortais, um dragão jovem e uma dragoa adulta.
Eles pareciam surpresos e até temerosos, mas jamais receantes, devo alegar. Um deles
girou um mangual mágico que ao entrar em atrito com o ar criava uma chama azul-
fosco e ao liberá-lo, a corrente crescia magicamente, o golpe por pouco não atingiu
Dranarios, que viu quando o globo flamejante atingiu uma torre desabando-a com o
impacto. Outro membro veio de cajado mágico que disparava bolas de fogo poderosas e
de mesma cor que havia nas brasas do mangual, mais tarde eu estudaria sobre tal e
descobriria que esse tipo de chama era fruto da magia “mata-dragão”, conhecida por seu
poder destrutivo ao afetar qualquer dragão ignorando a proteção natural de suas escamas
mágicas. Risisttlaxy conseguiu desviar quando um desses projeteis do cajado quase a
acertou, em contrapartida ela deu cambalhota no ar, apoiou-se na montanha para pegar
impulso, rugiu, saltou sobre um cavaleiro e lançou seu cone de chamas. Infelizmente
lidávamos com especialistas em enfrentar dragões, e cada um estava trajando armaduras
de escamas de dragões vermelhos e portando escudos de corpo altamente resistentes a
elevadas temperaturas. Dranarios desviou de uma lança de lava-rubi imbuída de chamas
mata-dragão, cuspiu fogo, que foi defendido pelo cavaleiro, acabou cercado por dois e
por pouco o globo de ferro encantado do mangual não o pegou, pois Risisttlaxy surgiu
sob ele em tal velocidade que o retirou da linha de ataque em tempo muito ágil. Os
Wyverns voaram até o firmamento, ficando apenas um, o qual era enfeitado com elmo e
sela cheia de chifres manchados de sangue e trazendo um homem alto, forte com um
olho cego ao meio em alguma batalha no passado por algo bem afiado. Com olhar sério,
e até intimidador encarou os dragões.

- Aqui quem os fala é o líder desse esquadrão! Temos ordens de levar Antonywillians,
O Espadachim da Língua Chamuscante à presença do Grande e Magnânimo Sckhar!
Não desejamos luta, então se entreguem, ou terei qu…

De repente algo desabou sobre o líder que chegou a pensar que fosse destroços caindo
de alguma torre, logo percebeu o elfo espadachim atrás dele, de sabre em punho, com a
lamina próxima ao seu pescoço e segurando uma rosa vermelha que ele cheirava.

-Heh! Perdão, capitão.... mas acho que quem vai se render não seremos nós! – disse meu
amigo elfo louco e sem noção.

- Como ousa me ameaçar, elfo? Se tocar em mim todo o reino vai caçá-lo como se
caçaria um bicho! Deixe de ser… Sua frase foi interrompida pelo próprio gemido
quando a lamina cortou de leve embaixo do seu queixo, e em seguida penetrou em seu
peito embaixo da armadura.

- Ops… escorregou! – disse Antony rindo brincalhão…

Aquela cena paralisou a todos… Antony assinara a sangue sua sentença de ser
perseguido em todo o reino apartir daquele momento, mesmo Risisttlaxy estava de
olhos arregalados. Só acordamos do transe, quando o corpo do líder do esquadrão caiu,
e após um infinito tempo, bateu no chão como um saco de feijão podre.

- Malditos! Agora sentirão o punho das forças especiais de Sckhar! – bradou o cavaleiro
com o cajado mágico, que impulsionou sua montaria sobre o wyvern com Antony,
como uma bala.

Antony lançou-se de pronto de cima do Wyvern, quando as garras do que investia


rasgou a sela do líder onde estava sentado há pouco. Assustado, esse Wyvern voou para
longe, em direção ao horizonte enquanto guinchava alto. Agora sim começava a
verdadeira batalha. Entre os 4 cavaleiros, um usava o cajado de bolas de fogo, outro
usava uma lança de lava-rubi mágica que retornava magicamente a suas mãos quando
lançado, outro usava o mangual que esticava a corrente magicamente, e por fim um
último usava um arco que disparava flechas mágicas, todos itens encantados com o
poderoso “mata-dragão”.

Na queda Antony foi salvo por Risisttlaxy, que passou embaixo dele bem na hora.
Montado, Antony sussurrou para ela.

- Poderia me conceder a honra de montá-la, milady!

-Claro, belo cavalheiro, vamos destroçar esses cavaleiros! – ela respondeu com um
sorriso assustador de dragão, cuspindo um cone de chamas poderoso, em seguida, que
atingiu um Wyvern em cheio, mas que resistiu pelo escudo mágico de seu cavaleiro.
Enquanto o combate rolava, aproveitei e me sentei sobre alguns destroços nas ameias, e
abri meu livro para escrever cada momento da batalha, pois nada melhor que descrever
uma, presenciando-a e sentindo suas emoções.

Dranarios engalfinhou-se com um Wyvern mordendo seu pescoço, só largou quando


uma flecha de chamas mágicas passou próximo a ele, o mangual girava destroçando
torres e a própria montanha, a lança disparava para todos os cantos, chuva de flechas
encobriam o campo de batalha, cones de chamas e bolas de fogo vinham dos dois lados,
então foi que vi o poder real de um dragão.

Quando o jovem Dranarios foi morder o cavaleiro da lança, desarmado, o mangual veio
inesperadamente em sua direção, sem ação, recebeu o golpe no peito, suas escamas
foram estilhaçadas, e foi lançado contra a parede da montanha, esmagado. Tal cena
envolveu Risisttlaxy de tal forma que ela se ergueu nos céus em um medonho rugido de
ódio, furia tão grande que seus olhos liberaram fumaça de tanto poder concentrado,
dando-lhe um ar divino, principalmente quando os raios do sol refletiram em suas
escamas fazendo-a parecer emanar de si a própria luz dos deuses. Uma visão magnífica
e inesquecível, devo salientar. Antony montado nela, preparou o sabre mágico. De
repente ela deu uma investida sobre o grupo de cavaleiros, que fez um tal lufada de
vento que descontrolou o vôo deles. Ela bateu as asas com violência, pairando no ar, e
eles foram arremessados, todos, contra a parede da muralha, em seguida ela sugou o ar e
soprou um cone de chamas que atingiu os 4 de uma só vez, derretendo a parede da
muralha, enquanto isso ela rugia palavras arcanas em uma língua que não consegui
identificar na hora, e globos flamejantes enormes apareciam no ar indo em direção a
eles como uma chuva de meteoros, causando múltiplas e arrasantes explosões. Como
por comemoração, ela voou alto e rugiu poderosamente, estremecendo mais a fortaleza.
Infelizmente esse momento de distração permitiu o golpe do mangual encantado que
saiu de dentro da fumaça e atingiu-a de surpresa na pata esquerda inferior arrancando-
lhe um gemido horrendo e derrubando Antonywillians de suas costas.

O elfo espadachim despencou em queda livre em velocidade incrível, e mais incrível


ainda era a altura que estava, seria impossível conseguir sobreviver, mas quando 3
wyverns saíram da fumaça (o portador da lança pereceu com a montaria durante o
ataque de Risisttlaxy), ele aproveitou. Usando novamente técnicas perdidas do extinto
Clã Élfico da Rosa de Lenórienn, pegou uma rosa, ainda em queda livre, e assoprou as
pétalas, elas saíram do caule, e voaram envolta dele, e assim continuaram a girar, como
se ele estivesse envolto por um pequeno tornado invisível, assoprou mais duas rosas, e
as pétalas envolveram-no completamente, sendo impossível vê-lo. E depois se afastaram
mostrando que havia desaparecido. Achei aquilo muito estranho, mas espetacular,
momentos depois percebi que as pétalas seguiram o mesmo trajeto nos céus, até
voltarem a girar, e de lá de dentro surgir Antony, como uma espécie de teleporte, sem
me conter acabei aplaudindo. Mas havia um problema, ele havia se “teletransportado”
para mais alto ainda…

- Diga Dracono Garttianx! – Risisttlaxy bradou para Antony, desviando um Wyvern,


com um sopro de chamas, que ia à direção do elfo.
O senhor Willians não pareceu ter entendido de primeira, mas assim que ela repetiu e
ele voltou a cair pesadamente em direção ao solo, começou a falar…

- Dracum Guarilus! Dranaris Guardians! Abra cadabra! Pé de cabra.... Garra de Dragão


então? Não deu... Diacho de palavra difícil!

Naquele momento entendi meu karma para com ele… Antony era um ótimo
espadachim, mas um péssimo lingüístico… acho que sou a parte pensante da dupla.

- Dracono Garttianx! – bradei para ele. Ao ver que minha ação fora inútil, me ajoelhei e
orei à minha deusa – Oh, deusa, que eu possa estender meu corpo até o de meu parceiro
elfo, e utilizar de seu corpo como um ventríloquo!

Ao fechar meus olhos e reabri-los, abri junto a boca, e Antony sentiu uma impulsão a
isso e não entendeu por que… tentou resistir, mas o receio com a queda era suficiente
para impedir uma resistência a esse milagre pelo qual orei. Logo a boca dele e a minha
estavam interligadas, assim como a voz.

- Dracono Garttianx! – eu disse sussurrando sem voz nenhuma minha sair, enquanto na
boca de Antony ela saiu como um brado.

- DRACONO GARTTIANX!!!!!!! – ele bradou sem se controlar.

As runas da lâmina do sabre, que apareciam apenas sob a luz do sol, eclodiram em
chamas assim que a palavra foi falada, e essas chamas passaram da lamina para o cabo,
do cabo à mão do portador, da mão do portador a seu braço, do braço a seu tronco, e
rapidamente ele estava todo em chamas, mas não estava queimando, era apenas uma
mágica. Antony sentiu seu corpo quente, logo uma camada de escamas encobriu sua
pele, um peitoral feito de lava rubi com ombreiras surgiu em seu peito, depois sua mão
foi envolvida por manoplas que terminavam em garras rubras reptilíneas, o rosto foi
tomado por um elmo em forma de dragão, asas coriáceas saltaram de suas costas, e
quando ia bater contra o chão, conseguiu move-las, com tal facilidade como se movesse
um braço, aparando a queda.

Em pé, no chão, ele observou a transformação espantado. Era como uma espécie de
Antonywillians dracônico. A roupa havia sido toda rasgada, menos as partes principais:
a capa esvoaçante sobre as asas e o chapéu emplumado sobre o elmo.

- Que sinistr… COF! – de repente engasgou-se com algo e ao tossir, sentiu algo quente,
mas nem tanto, subir por sua garganta, e acabou saindo por seus labios como um sopro
de chamas superaquecidas que derreteu uma pedra próxima. Com o susto deu um pulo e
ficou mexendo com a língua pela sensação estranha… - Heh! Que coisa, não?
Antony observou os céus, Risisttlaxy estava machucada na pata, que sangrava
abundante, mas ainda sim resistia para lutar bravamente por seu filho que havia
desmaiado. Nesse momento o elfo esticou as asas de dragão e alçou vôo, ele sorria
empunhando o sabre. Quando alcançou os Wyvern, soprou chamas sobre um deles
chamando-lhes a atenção, o cavaleiro assustou-se com a criatura semi-dragonina que
vinha em sua direção. O espadachim lançou uma rosa na direção do Wyvern, com
medo, o cavaleiro girou o mangual atingindo a rosa, mas nada aconteceu, isso por que
era uma distração, Antony surgira atrás dele de sabre em punho e tentou golpeá-lo, de
forma que o sabre rasgou as escamas da armadura do cavaleiro. Outro veio por trás de
Antony, e disparou flechas. O elfo lançou 4 rosas na direção delas, essas eram duras
como setas mesmo, e atingiram as flechas mágicas em cheio as desfazendo no ar. O
cavaleiro próximo ao senhor Willians puxou o mangual, e o espadachim em reflexo
soprou, no rosto desprotegido do cavaleiro, um cone flamejante, que sem dar tempo de
puxar o escudo, foi acertado em cheio, carbonizando seu rosto e derrubando-o do
wyvern… nós estávamos vencendo aquele combate, mas queria também entrar nessa
história.

Corri pelos destroços até o andar de baixo da muralha, que estava em apenas escombros
também, Henk estava encolhido, apenas sentindo os tremores e os movimentos da
batalha que afetavam tudo que sobrara da fortaleza. Corri até ele, e o chamei.

- Henk, venha, preciso de você! Tive uma idéia!

Ele me seguiu a contra gosto até as ameias. Pequenos, como éramos, sentimo-nos como
ratos correndo no meio da luta entre leões. Minha idéia era simples. Com o pouco de
força nossa, seguramos as catapultas e giramo-las 180º, mirando para dentro das
muralhas e não para fora, para fazer tal coisa levamos praticamente uns dez minutos, e
eu tive que orar por um milagre que Tanna-Toh pouco se agradava em realizar, o de
oferecer a mim e Henk a força de um touro. Com tal força pude erguer pedras e pô-las
para armar as catapultas. O goblin hasteou fogo nas pedras as quais molhamos com
querosene (haviam barris próximos cheios, que serviam para isso) e eu, após mirar nos
wyverns, pressionei a alavanca com o pezinho imbuído de força mágica.

Uma bola de fogo passou rente a Antony que desviou dando uma cambalhota para cima,
Risisttlaxy contra atacou cuspindo fogo sobre o cavaleiro do cajado que desviou o golpe
usando o escudo mágico, em seguida girou o cajado envolta de si e criou uma argola de
chamas “mata-dragão” que se expandiu como uma super-nova. Antony vez um
movimento de estocar com o sabre e a lamina disparou um cone de fogo que cortou ao
meio a argola, em seguida ele rodopiou no ar criando em volta de si um ciclone de
chamas, e foi em direção ao cavaleiro do cajado. Vendo o espadachim vindo em sua
direção, fez seu Wyvern cuspir brasas e voar para o lado, se desviando do elfo que
desfez o golpe do monstro e ficou observando-o pairando no ar.

- Heh! Vocês nunca derrotarão Antonywillans, o Espadachim da Língua Chamuscante!

Em seguida sugou o ar e soprou um poderoso cone de chamas que atingiu o escudo


quase derretido do cavaleiro.

- Antony, cuidado!!!!! – Dranarios acordara do desmaio e bradou.

Atrás de Antony o cavaleiro de arco mágico estava pronto para atirar a flecha, a
distancia não daria tempo para Antony desviar. O elfo entendeu de imediato a morte
iminente. Fechou os olhos para respirar seu último ar. A corda mágica disparou a flecha
que romperia sua vida. Risisttlaxy tentou impedir, mas nem sua velocidade ou sopro o
defenderia a tempo. Dranarios fechou os olhos sem querer ver. Uma pedra como
meteoro de chamas caiu dos céus… A pedra que nossa catapulta havia lançado, e caiu
no mesmo instante em cima do cavaleiro arqueiro, seu Wyvern e a flecha. Menos um e
incrivelmente Antony escapara da morte mais uma vez! Vendo-se cercado por um
dragão jovem que acabara de acordar, uma dragoa adulta cheia de energia, um semi-
dragão de grandes poderes e técnicas, e com uma chuva de pedras flamejantes vindo das
ameias, o cavaleiro do cajado desesperou-se, pois sabia que seria melhor morrer ali do
que retornar sem sucesso ao encontro do Rei Dragão.

Ele segurou firmemente seu cajado e começou a brandi-lo fazendo globos de chamas
voarem em todas as direções, nenhum dos três conseguia atingi-lo e todas as pedras
eram destroçadas no ar. Parecia impossível atingi-lo. Foi quando me surgiu uma idéia.

- Henk! Me siga!

Disparei para uma torre próxima, a ultima que sobrara e só teve um andar arrasado.
Corri como pude escada acima até as ameias da torre. Henk me seguia aos tropeços.
Chegando ao topo encontrei o que procurava… uma balestra. Meu sorriso foi
maquiavélico.



O cavaleiro golpeava o ar com os globos sem parar, as ruínas da fortaleza tremiam com
as poderosas explosões, os dragões ocultaram-se sobre a montanha e Antony cortava os
golpes usando o sabre.

De repente ecoou um som de algo zunindo, quando o cavaleiro do cajado percebeu, uma
seta grossa, de uns dois metros de comprimento vinha em sua direção, ele tentou
desviar, mas o Wyvern se assustou e tentou descer. A estaca trespassou-lhe o peito,
jogando-o contra a montanha pregando-o na encosta. Sua montaria se aproximou dele, e
pousou perto guinchando para ele, enquanto este cuspia sangue, mas não mais do que a
quantidade que saía do rombo em seu peito. O cavaleiro agonizou um pouco e então
seus olhos ficaram vagos e os movimentos abandonaram-no, assim como sua alma.
Vendo o corpo de seu cavaleiro, o Wyvern alçou vôo e começou a ir em direção ao
horizonte. Risisttlaxy intercedeu preparada para agarrá-lo com os dentes, mas Antony a
impediu.

- Deixe-o ir! É um simples animal!

Assim o Wyvern aproveitou a deixa e escapou. Os dragões acharam aquilo errado, mas
em seguida aceitaram. Eu e Henk sinalizamos onde estávamos.



- Que loucura… - disse Antony momentos depois quando desfez o poder do sabre e eu
reconstitui a roupa dele com magia sagrada – O que é essa espada?

- É chamada de Paladina Dragoniana, mais conhecida no nome dracônico: Draconum


Patronim! – disse Risisttlaxy na sua forma de dama élfica, sentada em uma pedra
enquanto eu orava pela cura de seu pé que havia sido amassado durante a batalha –
Vindo aqui vocês já devem ter ouvido falar do Suplicio Draconiano!

Prestei atenção, enfraquecendo a magia de cura levemente.

- Essa lendária espada foi forjada assim como esse sabre, o Draconum Patronim é um
tipo de espada muito comum pelos matadores de nós, dragões, pois são feitas dos restos
mortais de um poderoso dragão! Já o Suplicio foi criado como uma arma dessas, mas
com pedaços de pele morta, dentes que caíram e unha do próprio Sckhar, além de ter
sido encantada com a magia daquelas armas... O mata-dragão e ter usado o magma do
vulcão Azolliarathann como forja, o maior de todo o reinado que fica próximo à capital!
A arma foi desenvolvida há anos por um grande ferreiro de um reino distante, um reino
humano das armas…

- Zakharov? – eu não segurei o conhecimento, e continuei curando-a.

- Isso! Ele a preparou para exterminar o Tirano! Mas o ferreiro foi capturado, torturado
e morto... A espada sumiu e apenas Sckhar sabe seu paradeiro! Ela é a única Draconum
Patronim capaz de ferir seriamente o Rei Dragão!

- Desculpa falou alguma coisa? – Antony indagou, pois estava distraído atacando os
suprimentos da viagem.

- Antony!!!!!! – bradei correndo até ele – Esse já é o segundo saco de ração que você
come hoje! Assim chegaremos esfomeados na cidade...
- É que to com a garganta seca e a barriga vazia… Aquele sopro de chamas fez isso… -
respondeu com voz de manha.

- Como se você não fizesse isso em todas as aventuras! – sussurrei guardando o que
sobrara do saco de rações – Da última vez tivemos que atravessar as Bad’lands em
Deheon sem água por que você havia bebido tudo antes!

- Eu tava com cede, poxa!

Enfim todos riram da situação, e devo alegar que mais tarde fiquei me perguntando se
Risisttlaxy teria ficado chateada pela interrupção e falta de atenção nossa. Após mais
algumas horas de descanso naquela fortaleza cheia de cadáveres carbonizados,
seguimos viagem. Agora iríamos comprar suprimentos e colher informações na cidade
mais próxima… Thenarallann, sem contar que estava louco para visitar a cidade aonde
estavam erguendo uma estatua em lava rubi do próprio Sckhar a nível do tamanho da
estátua de Valkaria do reino de Deheon. Algo magnífico de ser feito por mortais, devo
salientar.

PARTE 10
Antonywillians, o inimigo da nação

Mais uma vez o sol despontava no longínquo Leste, surgindo por detrás das
montanhas vulcânicas no horizonte. Seu manto de luz e calor corria as pradarias de
relva amarelada e cidades, erguidas aos pés das furiosas montanhas. O costumeiro
clima abafado do reino começava a se revelar pelos cantos mais frios, os nativos
erguiam-se de seus leitos para mais um dia de servidão ao império do deus dragão,
acordados ora pela rotina ora pela temperatura, elevada pela luz solar que se
embrenhava pelas cortinas das casas, majestosa e onipotente.

A capital do reino, Ghallistryx, era tomada sua cor e zunido habitual. O comercio abria,
pessoas já andavam pelas ruas em seus afazeres cotidianos, a guarda trocava seus
turnos, saindo os fadigados e chegando os descansados. A capital era como tantos
outros centros urbanos importantes naquele mundo, mas havia uma pequena
diferença, em nenhum outro lugar se encontraria uma capital aos pés de uma colina
aonde fosse encontrar um palácio de regente como Shindarallur, um castelo de
proporções megalomaníacas, com tantas torres erguendo-se até os céus como garras
que pareciam rasgá-lo, trespassando as nuvens, e de muralhas tão bem protegidas e
resistentes como a couraça de um deus dragão. O Palácio representava à cidade a
lembrança de Sckhar, como um lugar indestrutível, impenetrável, megalomaníaco e
que, se tivesse vida, teria poder para esmagar a cidade em instantes. Àqueles menos
sensíveis, apenas o poder da visão do grande palácio bastava para lembrar que ali
dentro residia o regente mais forte do Reinado, talvez mais forte que todo seu exercito
unido, Sckhar, o Rei dos Dragões Vermelhos e imperador daquele reino.

O palácio estava tumultuado. Cavaleiros e guardas corriam de um lado para o outro, os


empregados se perguntavam o que haveria ocorrido, e temiam saber a resposta. Tudo
acontecia sem o dragão-rei desconfiar. Este se encontrava em meio aos corredores,
em sua forma de elfo ruivo, abraçado a uma concubina, só não totalmente nua por
vestir uma tanga. Era uma beldade, uma meio-elfa de beleza respeitosa, com longos
cabelos verdes e sarninhas sedutoras no rosto. O Regente sorria, naquela manha
estava cheio de alegria. Sentia um entusiasmo em lembrar que receberia uma noticia
gloriosa.

As portas de lava rubi da câmara do trono foram abertas por dois soldados quando o
regente se aproximou, foi então que sentiu algo estranho no olhar de um deles. Sckhar
não entendeu de imediato, mas sabia que era um mau sinal.

- IDIOTA! – bradou apontando a mão para o soldado após este abrir a porta, e em
seguida seu olho foi atingido, sob o elmo, por um raio vermelho que explodiu
imbuindo-se em chamas – Não me traga mal agouros com seu olhar! – disse
indiferente voltando a sorrir e abraçar a meio-elfa assustada.

- Sim, magnânimo! – grunhiu o soldado atingido levantando-se com voz chorosa pela
dor, mas segurando sua fraqueza, pois podia irritar o monarca com ela, e então seria
pior – Não irá se repetir, senhor!

Sckhar ignorou-o completamente e seguiu pela câmara até seu trono de lava-rubi
esculpida na forma de dragões. A meio-elfa sorriu sedutora para ele e subiu em seu
colo enquanto o rei tirava sua tanga deixando-a completamente nua. Os soldados que
presenciaram a cena seguraram seus impulsos antes que Sckhar reparasse, e sabiam
que eram raras as vezes que Sckhar sorria por felicidade, e, como já presumiam, logo
não iria mais estar rindo.

Um bufão vestido com trajes coloridos de palhaço e gorro com guizos começou a fazer
algumas palhaçadas e malabarismos. Sckhar olhou para ele entediado enquanto
excitava a meio-elfa com o dedo entre suas pernas, arrancando gemidos que
desconcertavam os soldados. Em seguida uma empregada ofereceu uma bandeja com
uvas. Tendo uma idéia, Sckhar sorriu maléfico (daquela forma de derrubar de pavor
até gigante). Pegou a uva e tacou no rosto do bufão que parou as palhaçadas com o
susto, em seguida Sckhar ergueu a mão e fez um movimento de açoite, no exato
momento em que surgiu um chicote de chamas em suas mãos que atingiu as pernas
do bobo cortando-as como espadas.

- IDIOTA! HAHAHAH! Pegue a uva e traga-a para mim! AGORA! – e começou a açoitar
as costas do bufão sem perna que se arrastava aos prantos para pegar a uva que havia
sido arremessada longe dele – MAIS RÁPIDO, IDIOTA! – Açoitando sem parar e
gargalhando.

Após muito esforço e com as costas destroçadas, conseguiu pegar a uva com a boca,
começou a voltar ao rei, mas este apenas sorriu para ele, e transformou o chicote em
uma lança flamejante que lançou no bobo, empalando-o e depois o incinerando com
as chamas da arma mágica que entrou em combustão.

- HAHAHAHAHAH! Limpem essa sujeira e ressuscitem-no! Este bobo é divertido! –


disse beijando a meio-elfa, revestindo a tanga enquanto sussurrava a seu ouvido
mordendo-o de leve – Depois continuamos para festejar a noticia de hoje! – Beijou-a
ardentemente e em seguida empurrou-a para o chão como se empurra um cãozinho
em seu colo. Ergueu a voz que ecoou poderosa pelo saguão real – Que venham as
noticias de hoje!

Um guarda foi até o tapete vermelho, fez uma mesura e seguiu até próximo do trono
abrindo um pergaminho.

- Os guardas Rurigan e Adas faleceram em batalha com rebeldes na cidade de


Forlárinn!

- IDIOTAS! Deixem-nos mortos e arranquem a perna esquerda da mãe deles, para que
a família aprenda a criar soldados dignos, estou farto de inúteis!

O mensageiro engoliu em seco, anotou e continuou.

- Um grupo rebelde recém formado foi capturado, a base deles foi queimada e apenas
um soldado faleceu, ao exterminar o líder deles!

- Quero os rebeldes para o Sckharal! – sorriu maleficamente.

- Não estão com mais vida, sem permissão os nossos subordinados torturaram-nos e
destruíram os corpos!

Os olhos de Sckhar brilharam, em reflexo o mensageiro escondeu o próprio rosto com


os braços. Alarme falso.

- Promovam esses corajosos guerreiros! Coloque-os no lugar daqueles que hesitaram


em ordenar a tortura desses rebeldes! Os defensores da justiça de Sckharshanttallas
devem ser nada menos que extensões de meu poder, e quem ousa ir de contra minhas
leis em meus domínios deve morrer massacrado e em agonia!

As palavras foram anotadas pelo mensageiro que já esperava algo assim. Quando abriu
o outro pergaminho encontrou uma mensagem que o fez fazer uma careta de pavor,
Sckhar percebeu.

- O que foi agora, imprestável? – Perguntou Sckhar com indiferença bebendo um cálice
de vinho tinto.

- Errr… Magnânimo… Parece que chegou um Wyvern da tropa enviada para o


extermínio do dragão criminoso denominado Antonywillians, o Espadachim da Língua
Chamuscante, que há alguns dias liderou o rapto da princesa de Logus!

Sckhar encheu-se de pompa, seu sorriso aumentou (algo assustador de ver quando se
trata de Sckhar feliz) e sua pele começou a exalar um odor de enxofre infernal pela
grande excitação. Era a noticia que tanto aguardara.

- Quais são os relatórios da tropa? – indagou ansioso.

- Não tem! – o mensageiro sentiu o peso de suas palavras.


Sckhar sorriu surpreendendo-o.

- Como não tem? IDIOTA!

- Apenas veio um Wyvern, sem cavaleiro e estava ferido! – sentiu a morte a cada
instante mais perto – Usamos magias nele e descobrimos o seguinte: Antonywillians é
realmente um dragão vermelho bem resistente e com poderes mágicos aflorados! Ele
está acompanhado de um dragão vermelho jovem, um goblin e um halfling! Juntos
atacaram a Fortaleza, derrotaram todos, libertaram Risisttlaxy, a dragoa, e unidos a ela
abateram todo o esquadrão de cavaleiros aéreos Wyvern enviado para a liquidação!

Sckhar soltou imediatamente um brado, os soldados quase caíram no chão de pavor, o


mensageiro chegou a se atrapalhar e deixar os pergaminhos das noticias caírem no
chão, a esposa soltou um gritinho sem querer. Mas dessa vez Sckhar não estava
furioso, mas sim com um sorriso triunfante.
Há algum tempo, não muito, um evento importantíssimo ocorrera naquele reino. O
mais poderoso herói que já pisara neste mundo, o lendário e atual falecido Paladino de
Arton, guerreiro sagrado abençoado pelo poder infinito dos vinte deuses e portador da
espada sagrada Holy Avenger, a destruidora de divindades maiores, desafiou Sckhar e
o Rei Dragão perdera a luta de forma humilhante. A noticia se espalhou rapidamente
pelo reino, e a cada pessoa que contava a humilhação de Sckhar era pior. Furioso,
iniciou uma repressão massacrando dolorosamente todo aquele que comentasse o
caso.

Havia rumores (os que mais enfureciam o Tirano) de que o Paladino havia exterminado
a própria Rainha dos Dragões Brancos, Beluhga, na sua frente. Fato confirmado pelo
repentino degelo nas Montanhas Uivantes próximo ao centro do Reinado, um fato
inédito na história artoniana. Mas agora o Rei Dragão iria pôr fim a tudo isso… Com
provas de um novo grande perigo ao reino de Sckharshanttallas. Bastava deixar a
noticia correr e proclamá-lo uma calamidade, em seguida enviar toda uma tropa de
forças especiais, prende-lo e executá-lo durante o dia do Sckharal, o feriado em que
são queimados na fogueira os piores criminosos do reino. Este tal dragão espadachim
seria o alvo, o álibe para o fim da humilhação do regente. Porém, foi então que Sckhar
reparou em uma coisa e seu sorriso logo sumiu.

- Repita o relatório!

- Sim, Magnânimo! Usamos magias nele e descobrimos o seguinte: Antonywillians é


realmente um dragão vermelho, com poderes mágicos...

- NÃO, IDIOTA! SÓ A ÚLTIMA PARTE! – os olhos de Sckhar literalmente liberaram


faíscas.

- Sim, magnífico monarca! – o mensageiro engoliu em seco, sabia que estava a um


passo da morte - Ele está acompanhado de…

- IDIOTA! EU QUERO O FINAL!!!!!!! – irado, Sckhar, na forma élfica, sugou o ar e soprou


uma labareda poderosa de chamas em direção ao mensageiro. O sopro de fogo passou
próximo da sua cabeça, mas foi suficientemente quente para derreter o elmo no rosto
dele. O mensageiro urrava de dor enquanto sua pele chiava fundindo-se ao elmo.
Sckhar segurou o braço da esposa meio-elfa, parcialmente desnuda e jogou-a com tal
força no chão que por pouco não quebrou o braço, então ordenou a ela – LEIA!!!!

Ela tremeu de medo, tanto que chegou a perder o controle e urinar em si mesma. Cada
soldado enfileirado estava quase fazendo o mesmo. Quando Sckhar ameaçou levantar-
se (sinal de que algo muito ruim estava para acontecer), ela segurou o choro e se
levantou apressada para ler aos prantos.

- S-sim, meu senhor! – ela balbuciou - Juntos atacaram a Fortaleza, derrotaram todos,
libertaram Risisttlaxy, a dragoa, e unidos a ela abateram todo o esquadrão de
cavaleiros aéreos Wyvern enviado para a liquidação!

- Quantos eram no esquadrão? – rugiu Sckhar, segurando a raiva e com voz baixa.

Desesperada ela procurou alguma anotação, algum numero, mas submersa no pavor
nada encontrou. Começou a suar, sentiu o olhar de Sckhar esquentar sobre ela. E
quando ele falou, ela desabou no chão em prantos de tão nervosa.

-QUANTOS ERAM???? SUA MALDITA IDIOTA!!!! – Sckhar indagou se levantando


enquanto chamas rodeavam-no cercando como uma barreira de fogo.

- Cinco, magnífico! – um guarda intrometeu-se tentando evitar que o tirano matasse a


jovem meio-elfa que estava em uma situação de dar dó – Contando com o líder do
esquadrão!

Sckhar sorriu sumindo toda sua fúria em instantes, então se sentou. O mensageiro
ainda urrava de dor. Sckhar irritou-se com ele, e soprou chamas de novo, mas dessa
vez pegou seu corpo em cheio, sobrando nem o aço derretido da armadura ou mesmo
o chão sob onde estava o guarda.

- Pronto! Agora sim terei paz! – apontou para dois guardas – Levem essa piranha para
o harém e tragam-me uma mais bela, cansei desta! – assim que os dois a ajudaram,
levaram-na cheios de pena da situação da jovem. Apontou para um – Se aproxime!
Você levará minhas ordens aos seus superiores!

O guarda aproximou-se receoso e ajoelhou. Sckhar estava com as íris dos olhos em
forma vertical, como um réptil, e delas saíam chamas de preocupação. Sentia que a
liberdade de Risisttlaxy tinha algo a mais além do fato de ter humilhado o Tirano
“seqüestrando” uma de suas esposas, aquele era o covil do pergaminho do Suplicio
Draconiano, sabia que não podia deixar por menos. “Hah! Parece que este
Antonywillians fará jus a se tornar inimigo da nação!”, pensou o deus dragão, “Servirá
de exemplo para esses rebeldes que ousam me desafiar!”.

- Eu proclamo Antonywillians, O Espadachim da Língua Flamejante, principal inimigo da


nação de Sckharshanttallas! Ordeno que todas as tropas cacem este dragão em cada
canto deste reino, ele não deve escapar! Todo o reino deve estar avisado em 48 horas!
Acionem os magos mensageiros, contratem 50 bardos que serão espalhados pelo reino
e produzam para amanha um cartaz de procurado para Antonywillians! A cabeça dele
está a prêmio por 300 mil tibares, entregue vivo e imobilizado! Risisttlaxy estará com a
cabeça a prêmio por apenas 50.000 tibares! – os olhos de Sckhar explodiam como se
estivesse vendo o espadachim sendo massacrado e caçado como um animal – E
enviem um dos melhores Lanças de Sckharshantallas da Facção dos Dragões
Vermelhos junto a um reforço da cavalaria aérea real Wyvern com mais de dez
integrantes!

- Sim, magnífico! E para aonde enviaríamos?

- CALE-SE, IDIOTA! – Sckhar rugiu – Deixe-me terminar! Envie-os a Thenarallann, uma


intuição minha diz que os rebeldes vão se meter na toca antes de agir! – o tirano sorriu
– E não ousem falhar! IDIOTAS! Antonywillians somente perecerá durante o Sckharal!

- Sim, grande monarca! – consentindo, o guarda levantou-se, fez uma mesura e partiu
porta afora para levar a mensagem a seus superiores.

Sckhar sorriu maquiavélico, logo voltaria a sua glória anterior. Ergue-se do trono no
exato momento que duas belas esposas chegaram correndo para abraçá-lo. Feliz,
Sckhar se dirigiu até a sacada principal daquele andar, de onde ficou a observar
Ghallistryx logo abaixo. Sua presença na sacada com suas duas esposas o apalpando
era magnífica, as pessoas na cidade abaixo logo paravam para olhá-lo e saudá-lo com
vivas, Sckhar olhava triunfante para seus súditos, para sua cidade, suas montanhas ao
longe, seu território. Até o sol de Azgher, que antes se erguia como um rei brilhante,
agora parecia saudar Sckhar e diminuir seu brilho ante ao rei dragão. Nada, nem os
astros podiam ser mais majestosos que ele em seu território, e Sckhar ria disso.



Enquanto isso, muito longe dali, ao extremo leste do reino, uma personalidade estava
rumando para entrar na nossa história. Nesse lado há a divisa com uma grande
cordilheira que se estendia por muitos quilômetros além do reino. Das pradarias, podia
ser visto no horizonte as Montanhas Sanguinárias. Fosse por sua coloração
avermelhada, fosse por sua aparência geográfica assustadora com montanhas
semelhantes a grandes presas, com rugidos que vinham ecoando desde longe,
providos por seres lá habitantes, ou mesmo por ser conhecida como o maior reduto de
monstros em toda Arton, seu nome fazia jus.

Apesar da presença do Rei Dragão no reino, que antes amedrontava qualquer invasor,
ultimamente tem se tornado extremamente comum a evasão de monstros vindos das
Sanguinárias para o Reino de Sckharshantallas. Para prevenir a segurança das cidades e
vilas próximas à fronteira, foi erguido um grande e majestoso forte. Nele reside uma
poderosa milícia especializada no extermínio de monstros, os chamados Garras de
Sckhar. Após sua construção quase nenhuma localidade mais teve sua paz maculada.
Infelizmente a estrutura não trazia o mesmo sentimento de conforto para Johan que
vivia em eterno tormento.

- Não ouviu? Estou falando com você seu idiota! – disse o jovem líder do grupo de
guerreiros trajados em armaduras de escamas reluzentes e de várias cores, o qual
bradava intimidadoramente para o homem sentado no balcão da taverna, que
permanecia tão entediado e descontraído com sua cerveja que nem parecia percebê-lo
– Você é o Lendário Matador Rubro! Nós vamos derrotá-lo e ser promovidos! Somos
dez contra um, não terá chance contra nós!

O guerreiro ouvia as palavras e suspirava de tédio sem desviar o olhar do seu caneco
de cerveja, mesmo quando o rapaz bradava ainda mais alto e enfurecido por ser
ignorado. Johan Matadeus, o Matador Rubro, era um honorável Lança de
Sckharshantallas da Facção dos Guerreiros dos Dragões Vermelhos, uma ordem criada
para extermínio de qualquer dragão que se atrevesse adentrar os domínios do Dragão
Regente Sckhar, tendo cada uma de suas facções voltadas para especialistas na
aniquilação de uma espécie especifica de dragão. Na guilda, Johan era considerado o
mais poderoso e habilidoso de todos os Lanças.

Filho direto do próprio Sckhar com uma humana concubina, Johan trazia o sangue de
um meio-dragão rei, um poder que oferecia grandes vantagens. Com isso, conseguiu
entrar para os Lanças após o ritual de iniciação já causando grande impacto quando
sozinho entrou nas Sanguinárias, matou um dragão vermelho ancião e trouxe-o com as
mãos nuas até seus superiores, sendo que o normal é ir um grupo de iniciantes
candidatos liderados por um guerreiro de alto escalão. Logo pulou os cargos até
assumir o posto de guerreiro especial dos Lanças, um mito que alguns chegavam a
rotular como imortal. Com isso logo sua vida se tornou imprestável, vagando
errantemente por todos os cantos do reino esperando uma ordem de seus superiores,
algo muito raro, pois teria que ocorrer algo mais que eliminar um simples dragão
vermelho adulto, pois isso os demais Lanças eram capazes de fazer sozinho então não
precisava gastar seu tempo nessas missões. Acabou que para matar o tédio vivia
realizando excursões solitárias para as Sanguinárias para desafiar monstros poderosos,
ou rechaçar grupos de Lanças que, talvez por imaturidade, talvez por inveja, talvez por
coragem, sempre vinham desafiá-lo em busca de conseguir suas armas e seu posto,
pois se alguém derrotasse-o tinha certeza que Sckhar promoveria o “mais forte”.

No caso ele se deparava com essa última situação.


Enquanto voltava de mais uma viagem para as cordilheiras, chegou nessa pequena vila
para descansar e beber um pouco na taverna local, mas não demorou muito dez
jovens membros dos Lanças surgiram para desafiá-lo. Pela idade deles imaginava que
seria um massacre se lutasse contra esses “calouros”, ainda que trouxessem um
emblema que revelava seus postos como de comandantes de subdivisões, um cargo
muito valorizado apesar de inferior na hierarquia da guilda.

O homem bebiricou mais um pouco de sua cerveja, depositou-a sobre o balcão e


ergueu-se. Ele era um homem imenso, de músculos grandes e rígidos, trajando uma
magnífica armadura feita de couro avermelhado com escamas rubras imensas. Sem
pôr seu elmo com formato da cabeça de dragão, que descansava sobre o balcão,
revelou seu rosto belo e bruto com uma barba rala de tonalidade ruiva forte como o
cabelo. Seus olhos eram verdes como jade, seus passos pareciam fazer a terra tremer
como se tivesse vinte vezes seu tamanho. Sua própria presença era aterradora. Os
homens recuaram instintivamente e tremeram, sabiam que o chão não tremia nem
que ele não emanava nenhuma energia, mas ainda sim os mitos que o cercava e sua
aparência era como a de encarar um dragão jovem pela primeira vez.

- Ouçam, não quero matar hoje! – a voz de Johan era gutural, parecia ser o som de um
rugido vindo do fundo da caverna, ecoando por ela toda e abalando a estrutura –
Principalmente humanóides de minha própria organização! Partam ou deverão ser
destruídos!

Os Lanças que vieram desafiá-lo hesitaram, mas aquele que parecia ser o líder deles
deu um passo a frente.

- Nós tomaremos o seu posto! – ele bradou em resposta fazendo gestos ágeis com a
mão que se avermelhou até transformar-se em um globo de fogo, sem dúvidas era um
arcano.

Johan voltou-se ao taverneiro.

- Leve todos da vila para a cidade mais próxima! Os danos serão cobertos pelo
governo! – o taverneiro ouviu as palavras e quase congelou, era o último a estar lá
dentro, pois não tinha como escapar estando atrás do balcão – Lhes dou 1 minuto para
evacuarem a vila! Depois ela já deverá estar em ruínas! Tome, pela cerveja! –
arremessou um tibar de ouro.

O taverneiro pegou a moeda e saiu correndo porta a fora bradando a todos que
evacuassem a vila rapidamente.
- Hunf! Você é muito prepotente! – disse o Lança que criara o globo de chamas e agora
o disparava contra o guerreiro.

Em uma questão de segundos a bola de fogo explodiu queimando uma imensa área e
destruindo a taverna. Uma explosão tão grande que sem dúvidas teria matado
qualquer ser humano na hora. A fumaça era densa, todos permaneciam apreensivos
olhando-a. Não conseguiam aceitar que seria tão fácil matar o Matador Rubro… e
estavam certos quanto a isso.
Assim que a fumaça da destruição começou a se dissipar surgiu o vulto de Johan. Aos
poucos foi se revelando, intacto, posicionado segurando sua lendária espada montante
Dragonscale, com uma lâmina de duas vezes seu tamanho forjada da unha do primeiro
dragão que matara em sua vida, na horizontal como para aparar o golpe. Não havia
uma parte queimada, chamuscada ou mesmo arranhada. Ele sorriu desdenhando dos
dez.

- Continuem! Em 1 minuto eu serei quem irá atacar!

O líder, trajando uma armadura vermelha recuou movendo os braços em novos gestos
arcanos, em seguida saltaram 3 sobre ele. Um de armadura azul e dois marrons (a cor
dos trajes revelava em qual espécie eram especialistas em exterminar). Khattus, o azul,
puxou de algum lugar dos trajes lâminas pequenas e ágeis que quando lançadas,
magicamente foram cobertas por uma camada elétrica; Lloyd, o primeiro de marrom,
desembainhou uma espada de lâmina toda cheia de curvas e o parceiro Jordd pegou
um martelo de guerra que trazia nas costas, os dois correram para cima dele.

Johan realizou um golpe giratório, a lâmina de sua arma pareceu crescer mais ainda e
por centímetros não acertou os dois marrons, mas a velocidade do giro foi tão rápida
que criou uma ventania que circulou envolta dele. Esse vento imbuiu-se em labaredas
que barraram as lâminas. E de dentro do fogo, ele saltou em um contra-ataque sobre
Lloyd que tentou aparar sua lâmina. Dragonscale partiu ao meio a espada mágica do
jovem como se fosse papel e atravessou-o como se fosse feito de água.

- Hunf! Vocês acham que estão lutando com quem? Minha arma atravessa escamas de
dragão, nem armas mágicas podem pará-la!

Vendo as metades do corpo de seu parceiro desabar sobre o chão Jordd correu
enlouquecido de fúria bradando enquanto descia o machado em sua direção. O
Matador Rubro tentou apará-la, mas o golpe não tinha como alvo ele, mas sim o chão.
Quando bateu nele, a arma do jovem Lança fez o chão estremecer e ceder, rompendo-
se em um grande terremoto que atingiu toda a vila, derrubando duas casas envolta da
taverna enquanto o solo rachava em fissuras profundas. Surpreso, Johan quase caiu,
mas tomou seu equilíbrio, usou a força de suas pernas e ficou em pé. Com a
negligencia, não teve tempo de contra atacar, e viu que o líder do bando de
desordeiros, Rolo, tinha terminado sua magia, e nas mãos segurava um arco e flecha
feitos de chamas crepitantes. Disparou o projétil flamejante dissipando o arco.

Johan levantou sua arma em instantes, como se fosse uma adaga leve e não uma
espada montante pesada. A lâmina enorme cortou a flecha mágica ao meio de forma
que esta explodiu no exato momento criando um vácuo que varreu o pouco que
sobrara da taverna, as casas envolta e os próprios combatentes na arena. Apenas o
Matador Rubro usava de sua força sobre-humana fincando as pernas no chão
destruído pelo martelo e resistindo ao impacto. Ele fechou os olhos e reabriu-os
olhando com firmeza em direção ao garoto com o martelo em sua frente. Ao cruzar o
olhar com Johan, o jovem Jordd viu dentro de seus olhos um poder e uma majestade
imensa, uma energia percorreu seu corpo como algo misturado a um temor e respeito
inimaginável. Sentiu vontade de gritar, mas perdeu a voz, sentiu vontade de correr,
mas sua coluna literalmente rompeu-se com o tremor que sofreu, sentiu vontade de
viver, mas sua alma fugiu antes que pudesse. Cruzar o olhar com aquele homem era
tão medonho que lhe arrancou a vida, e assim caiu no chão com a visão aterradora
dele que tinha mesmo efeito que tem os demais dragões.

Os outros seis levantaram-se e correram com suas armas para cima dele. Lanças que
perfuravam paredes de mármore, espadas que cortavam o ar, magias de fogo que
explodiam quarteirões inteiros, flechas que zuniam numa vibração que até
destroçavam estruturas de metal, maças que congelavam ao toque… toda sorte de
golpes mágicos chovia sobre o Matador Rubro, ele apenas aparava os golpes e
desviava correndo pelas ruas. Foi então que os jovens perceberam que não havia mais
ninguém na cidade. Johan sorriu triunfante, agora ele que iria atacar e acabar com
esse bando infantil.

Ele parou de correr e encarou-os. Todos pararam e hesitaram ante sua ação

- Vou mostrar-lhes a prova de meu poder! GHARULLANNN!!!!

Proferindo essas palavras em idioma dragônico enquanto erguia a espada sobre sua
cabeça, a lâmina da espada montante brilhou em vermelho intenso, o chão sob o
bando jovem rompeu-se em um tremor duas vezes maior que o causado pelo martelo
de Jordd. Sem conseguirem equilíbrio, caíram e tentaram correr de 4 para fugir do
golpe, mas era tarde demais. Logo começou a esquentar o chão, as pedras exalaram
um odor de enxofre e três colunas de fogo eclodiram do solo sob os oponentes
espirrando magma. Assim cinco morreram instantaneamente derretidos sem dar
tempo de sequer urrarem de dor. Sobraram três, um deles era o combatente arcano
que em ágeis gestos conjurou uma magia que controlou o chão de modo a criar uma
barreira de pedra para protegê-los.

Johan desceu a lâmina que havia erguido, e bateu-a contra o solo, fazendo-o tremer
doentemente e cortá-lo em uma fissura que soprava fogo e lava para o alto como um
rastro de destruição que explodiu a parede de pedra do inimigo. Eles tentaram
escapar, mas a força de Johan era equivalente a de um meio dragão, e assim usou a
potencia de suas pernas para em uma velocidade incrível estar já sobre eles em um
golpe horizontal que decepou a cabeça do líder e um de armadura verde, enquanto
sua mão agarrava a cabeça do último e espremia-a. Tal força quebrou o elmo junto ao
crânio do oponente.

O guerreiro mítico enfim suspirou com o fim da batalha. Todos os do bando estavam
mortos, esmagados, carbonizados, enterrados ou cortados. Ajeitou o cabelo ruivo
atrás da orelha e ergueu os olhos para ver a situação da vila. Ela ruía em chamas que
iam até os céus vomitando uma densa cortina de fumaça negra. Johan guardou sua
espada gigante na bainha imensa em suas costas e voltou a andar pela trilha.

- Oh, seu brutamontes maldito! – uma voz fina e chata veio em sua direção.

Como reflexo, o imenso guerreiro já desembainhou sua Dragonscale e apontou em


direção que vinha a voz, preparado para finalizar com outro. Foi então que percebeu
quem era e voltou a guardar a arma.

-Você ainda está atrás de mim, sua praga?! – ele bufou nem um pouco feliz com a
presença da criatura diminuta que se aproximava voando.

- Fala assim não que eu fico triste! – disse o pequeno dragonete que se aproximava
voando segurando o elmo do guerreiro em suas garras – Quase que deixa seu
capacete, seu safado!

Este é Ralph, um dragonete diferente dos demais. Ainda que tenha o tamanho de um
lagarto adulto e o formato de um dragão bebê era uma espécie de fada, possuía asas
coriaceas ao invés das de libélula naturais de sua raça, tinha coloração verde e cuspia
fogo. O jovem monstrinho era o único parceiro (e muito indesejado por sinal) de
Johan. O guerreiro teria resgatado-o nas Sanguinárias das garras de um homem-
escorpião e assim o pequeno acabou se tornando um companheiro de aventuras
inseparável.

Ralph desenvolvera habilidades ao lado do guerreiro, até compartilhavam algumas,


mas acabou que se tornou um encosto para Johan. A criatura sempre falava demais,
era irritante, fazia piada com tudo, adorava pregar peças e tinha o maldito costume de
sempre atrapalhá-lo de alguma forma, fosse com intenção ou não. Mas o guerreiro
não podia negar a afeição com o pequeno.

- Vamos embora daqui! – Johan deu uma última olhada na bagunça – Não quero mais
confusão! Odeio matar seres sem escamas!

- Muito confortável esse seu comentário! – Ralph retrucou pousando no ombro dele
no momento em que lhe dava o elmo.

Nesse exato momento uma árvore próxima entrou em instantânea combustão. No


susto Ralph escondeu-se dentro da roupa do guerreiro que desembainhou novamente
sua espada esperando um oponente de poder arcano, foi então que de dentro da
árvore em chamas saiu um homem encapuzado com um manto longo feito de um
tecido vermelho com runas gravadas com lava - rubi e ouro. Johan já sabia o que
aquilo queria dizer, assim guardou a espada e fez uma reverencia. O rosto do provável
mago estava oculto nas sombras do capuz.

- A que devo a honra de um membro dos Magos Dracônicos vir pessoalmente me


visitar? – o guerreiro indagou sarcasticamente para o mago da corte de Sckhar.

- Adivinha… - disse Ralph com ironia colocando a cabeça de réptil para fora de seu
colarinho.

O mago estendeu a mão lhe entregando um pergaminho enrolado.

- A Ordem dos Lança de Sckharshantallas foi acionada e sob o nome de Sckhar, nosso
magnífico monarca você deve seguir para Thenarallann e exterminar elfo! Ele é um
dragão adulto que está se rebelando contra o reino e está acompanhado de mais dois
dragões vermelhos! – em seguida o mago começou a exalar um odor de enxofre e seu
corpo se desfez em uma fumaça negra de combustão, sumindo magicamente.
Johan abriu o rolo do pergaminho e viu o cartaz de procurado.

- Antonywillians, O Espadachim da Língua Chamuscante… Me parece divertido! – o


Lança sorriu – Está com a cabeça a prêmio por 300 mil tibares! Uma boa grana! Acho
que daria para me aposentar!

- Hihihihih! Vamos cortar a língua chamuscante dele então! – o dragonete riu saindo
de seus trajes.

- Isso! Vamos para Thenarallann! – o guerreiro guardou o pergaminho e seguiu seu


caminho, rumo a cidade aonde encontraria seu alvo.

“Um dragão adulto rebelde junto a mais dois dragões tentando ir de contra o próprio
Rei Dragão! Devem ser ou muito poderosos ou muito tolos! Isso provarei com a lâmina
de Dragonscale”, pensou consigo enquanto rumava, “Só queria mesmo era saber o que
levou a esse dragão espadachim fazer de tão ruim para vir a ser considerado inimigo
da nação de Sckharshantallas!”

PARTE 11
O Mosteiro

Minha pena-tinteiro por um vento. Acho que é essa a expressão mais sincera que
posso expor diante deste calor escaldante que assola este reino. Suponho que a
proximidade com o Deserto da Perdição e a grande atividade vulcânica legada pelas
Sanguinárias, além da influência praticamente divina do rei dragão tenham tornado
essas terras uma chapa mergulhada em água durante sua ebulição. Era incrível o verão
aqui, por Tanna-toh, o vapor subia da terra embaçando levemente a visão e tornando
tudo mais abrasador ainda.

Depois de deixarmos a fortaleza apenas andávamos, pois Risisttlaxy, mesmo


diminuindo seu tamanho na forma de Dragoa Adulta, criava um vulto grande o
suficiente para ser avistado em altas distâncias, o que nos denunciaria a possíveis
perseguidores, afinal, o Rei de Logus devia ter mandando grupos atrás de mim e do…
hunf… Espadachim da Língua Chamuscante… Apenas voamos para atravessar uma
pequena cordilheira, coisa rara nas fronteiras sulistas de Sckharshantallas. Ainda há
pouco estávamos sobrevoando uma antiga trilha nas montanhas, quando nos
deparamos com uma caravana. Temendo que os viajantes nos denunciassem,
voltamos a caminhar por entre os vales, até que não suportávamos mais, nem mesmo
a dragoa, com toda sua resistência. Parando, terminamos com o que nos restava de
cantil, Willians assistiu à Risis (apelido carinhoso que lhe demos), Henk e Dranarios
caçarem alguns insetos para serem comidos e eu voltava a pegar este livro para
escrever enquanto orava à deusa por ao menos uma leve brisa antes que chegasse à
ponto irremediável de desnutrição.

Quando voltamos a caminhar, os céus foram tomados por nuvens cinzas despejando
uma garoa de gotas tão pesadas quanto quentes que muito me assustou, por causa
dos pergaminhos e livros que eu carregava, e os quais salvei com uma toalha
impermeável (nós clérigos da deusa do conhecimento normalmente os temos para
casos assim). Devo alegar que o cheiro da chuva nas montanhas era realmente algo
exótico e agradável. Infelizmente, ficar encharcado não era. Paramos
momentaneamente sob uma gruta nem um pouco profunda e seguimos assim que as
gotas cessaram. Durante todo o caminho pegava o pergaminho lendário que
resgatamos na fortaleza, o qual abria tentando identificar em que idioma estava. Pela
sintaxe e formação dos casos, me pareceu um dracônico, até mesmo os hieróglifos
eram similares, contudo, ainda haviam expressões e símbolos postos de forma
diferente. Risis explicou que era realmente o idioma dos dragões, mas um bem antigo,
que nem ela mesma conhecia. Talvez apenas os Reis Dragões o soubessem. Forçando
minha cabeça, ainda tentava desvendar aquelas letras, afinal tal conhecimento
perdido era alucinante para um servo da sabedoria como eu.

Após muito caminhar, o sol brilhante já escapava para além dos últimos picos da
montanha. O crepúsculo atraiu um clima mais ameno, fazendo até mesmo uma
neblina leve tomar os vales. Sem suprimentos ou idéia de quanto tempo levaríamos
para chegar à Thenarallann, procuramos um novo abrigo, já que novas condensações
se formavam. Por fim, Tanna-Toh escreveu um ótimo destino para a noite que vinha.

Quando atravessavamos um vale seco e barroso cheio de rochas, deparamo-nos com


um bando de cinco homens que cercavam um homem solitário que caminhava incauto
sob um hábito vermelho com o símbolo do reino bordado a ouro nas costas e trazendo
um bambu azulado nos ombros com as extremidades pendurando baldes d’água. Os
cinco homens estavam trajados rusticamente, não pareciam bárbaros, e sim rangers.
Botas de trilha desbotadas e cheias de lama, trajes feitos de pele costurada e corselete
de couro, luvas de pano e cabelos desgrenhados. De espadas em mãos… a maioria já
enferrujada, devo salientar… o bando gargalhava preparados para combater o que
parecia ser um monge. Senhor Willians não se agüentou, logo desembainhando seu
sabre e preparando-se para saltar sobre eles na defesa do senhor eremita. Risis e
Dranarios evitaram brigas em virtude de seu tamanho imenso e poder destrutivo, eu,
claro, peguei o livro para anotar cada momento. Apesar do nosso elfo apressar-se para
socorrer o homem, pareceu desnecessário. Um dos bandoleiros, possível meio-orc,
pelo tamanho e pele enegrecida, brandindo um ameaçador machado saltou sobre o
peregrino. O alvo, contudo, ágil como se com sebo nos pés, agachou esquivando da
lâmina e ergueu-se novamente aplicando um chute na barriga do oponente, jogando
aquele corpo enorme para trás.

Tudo sem derramar uma única gota d’água dos baldes.

Outros dois enfureceram-se e tentaram cortar o bambu. O monge abaixou, moveu os


ombros de forma que os baldes foram deixados em pé no chão e girou o bambu
envolta de si como um bordão, aplicando uma extremidade contra a barriga de um,
levando-o ao chão, e com a outra extremidade, batendo contra os dedos do
bandoleiro com espada em mãos, fazendo-o acabar desarmado. O monge saltou,
pegou o pescoço do homem com o pé, girou o corpo no ar, e o bandoleiro foi ao chão
de pescoço quebrado. Os outros dois afastaram-se pegando arcos e flecha enquanto o
meio orc ficou de pé e correu em alta velocidade sobre o grande lutador. O monge
bebeu algo de seu cantil, bochechou e soprou chamas sobre o guerreiro que se
defendeu com o próprio machado.

Aproveitando a labareda, molhou as mãos com mesmo líquido que ingerira, guardou e
passou no fogo que se dissipava no ar. Os punhos do religioso foram tomados por
brasas, e assim investiu sobre o enorme oponente enquanto este se distraía com o
sopro, segurou os punhos dele queimando-os para soltar a arma e então segurou a
cabeçorra do oponente saltando para trás dele quando as flechas vieram, deixando a
perna esquerda do meio-orc dobrada para cima servindo de alvo para as flechas que
alvejaram-no fazendo-o urrar de dor. Antes que pudessem pôr as flechas no arco, o
monge atacou-os. Esquivaram das mãos quentes, um tentou um soco e o outro
arranhar o rosto. O homem das montanhas apenas tirou o rosto da reta e segurou o
soco do outro, queimando-lhe a mão. Como restava apenas um, deu uma acrobacia
para trás, mergulhou as mãos em um balde apagando o fogo, pegou o bambu
passando o pé direito por baixo dele, jogou para cima e pegou nos ombros, girando em
um chute mirando no peito deste último que apesar de esquivar do último golpe, não
se saiu tão bem com o bambu que acertou-lhe a face levando-o a nocaute. Enfim um
pouco de água foi ao chão.

- Pelo grande Meraryusama, perdi minha concentração! – sua voz era baixa, e ainda
assim alta e poderosa o suficiente para que nós escutássemos ainda que estupefatos
com a cena deste combate esplendido.

Assim que se ajeitou, pôs uma espécie de chapéu de palha cônico que trazia preso por
uma carneira ao pescoço e voltou a caminhar em meio à neblina, sumindo dentro da
mesma. Nós nos entreolhamos e logo nos pusemos a correr atrás dele, talvez tivesse
algo que pudesse nos oferecer para comer, ou beber ou mesmo uma morada.
Passamos pelos bandoleiros que quando não inconscientes, se contorciam no chão
agonizando de dor, e seguimos sem dar-lhes atenção. Perdidos na névoa, não
tínhamos sequer pista do monge, até que Antony parou me fazendo esbarrar em suas
pernas e cair.

- Mas o qu… - proferi girando a mão acima da cabeça esperando que uma espada se
materializasse tamanha minha raiva que sentia já em meio àquela aventura quente.
Todavia, parei com um “Ssshh!!” do elfo.

- Escutem! – disse Antony erguendo o dedo.

- Também ouço, senhor elfo! – disse Risis que se aproximou dele, acompanhada de
Dranarios.

Parei, me concentrei e nada… Por que Hyninn não deu a nós, halflings, sentidos
aguçados como de dragões ou elfos já que nos queria como grandes ladinos? Praga.
Verdade, de que adiantaria se a maioria de minha raça vive deitado em um sofá se
enchendo de bolo de fubá? Interrompi meus vaganeios e prestei atenção novamente.
Enfim escutei. Era o som de algo oco batendo em pedra ao longe, ecoando por em
meio ao vale. Não parecia ser algo de metal ou uma madeira comum. Curiosos,
prosseguimos atrás do som, até que pisamos em um degrau feito na própria terra.
Havia focos de luz em meio à neblina. Subimos alguns degraus vendo a escadaria
ladeada por duas estátuas de mármore enormes do que seriam leões de expressões
exageradas, até mesmo dracônicas de alguma forma. Depois haviam amontoados de
pedra lapidados em meio que lamparinas grandes com fogo aceso dentro por
querosene. Incrível aquela arte, e me lembrava de algo… isso mesmo, a última vez que
vi foi no bairro oriental de Nitamu-ra.

Subindo mais, pudemos ver a silueta ao longe do tal monge carregando os baldes até
que a névoa sumiu completamente revelando uma escadaria gigantesca (suei mais
ainda só de olhar) até um santuário ou mosteiro no topo, ainda não sei definir se há
diferença para eles. Antony foi o primeiro a sair correndo desengonçadamente pelos
degraus, nos forçando a acompanhá-lo antes que fizesse alguma besteira imprevisível.

De repente um estouro d’água próximo e vimos um gêiser espirrar próximo das


escadarias, indo alto e sendo acompanhado por outros à nossa volta. Realmente me
assustei com aquilo, porém, já era previsível que houvesse alguns pelo reino. Mesmo
em grande velocidade, tropeçando, saltando e correndo degraus acima, parecia que
nunca alcançávamos o topo. Meia palma de língua para fora e nada, nem chegar perto
do monge que subia calmo, como se não nos tivesse percebido ainda. Então quando vi
que todos já estavam bem longe, fui de quatro pelos degraus. Realmente era demais
pra alguém acostumado a ficar sentado lendo livros. O calor já me esmagava, aquele
número abissal de subida era insuportável. Subitamente, enquanto estava deitado na
escadaria descansando, uma sombra surgiu sobre mim. Olhei pensando que fosse uma
nuvem cinza, mas não… Era um elfo, careca, com tatuagens vermelhas na cabeça sem
um fio de cabelo, e trajando o manto. Ele tirou o próprio chapéu de palha e pôs em
meu rosto me pegando no colo para carregar-me até o topo. Oras, pensei que o
monge fosse um tamuriano… instigante, não?
Ele deixara o bambu azul com os baldes nos degraus para vir me ajudar, e não
demorou muito já estávamos às portas do templo, com Antony trazendo os baldes ele
mesmo, ainda que derramando alguma água. No topo deparei-me com um imenso
dragão que se erguia sobre o arco de entrada, era enorme e rubro… então percebi
primeiramente, mas era só uma estátua de Sckhar, de uns dois metros em lava-rubi.

O monge me pôs sobre Dranarios, estendeu o braço para Antony pegando o bambu
com os baldes, fez uma reverencia e nos apontou para que entrássemos com um
gesto.

- Err… Você é mudo, meu tio? – Antony proferiu com a sobrancelha arqueada.

- Não, apenas a imbecibilidade faz com que falemos em horas não propícias,
forasteiro! – disse o monge com sorriso comedido.

- Ah, concordo… - disse o espadachim sem nada entender – Péra, mas hein???

A noite enfim veio junto da chuva que desceu pesada sobre as montanhas. Imagino
como aquela caravana mais cedo devia ter se abrigado. Por sorte o mosteiro
nitamuriano era bastante espaçoso, com mais de uma casa feita de bambu azul e papel
de arroz, um jardim de areia ondulada com rochas que representavam o oceano e ilhas
(as quais o Antony saiu pisando como um dragão marinho enfurecido… Oh, Tanna-toh,
dê-me paciência com esta forma de vida tão sem noção, ele não sabe o que faz! Ou
espero que não saiba…), um altar que estava fechado quando chegamos, um pátio
gramado com rochas bem grandes aonde deviam treinar artes marciais atrás da
estrutura principal com dormitórios e outros aposentos principais.

Eu estava agora sentado sobre um chão de madeira confortável que o monge disse ser
um tal tatami, e monges e monjas serviam a mim e meus companheiros pães de
textura suave que desmanchavam na boca com um gosto diferente. Descobri que era
feito de um trigo montanhês do reino, que tinham em um lago próximo. E bebíamos
chá de bambu azul, que chamavam de Aokami, e consideravam a dádiva de um deus
que lhes fornecia esse tipo de planta e tinha mesmo nome. Era delicioso até. Risis
comia bastante, mas preferia passar mais tempo do lado de fora próximo de seu filho
Dranarios que se disfarçava de pseudo-dragão para não chamar a atenção. Tal fome
era bem compreensível, visto que mesmo tendo assumido sua forma élfica, ela era
essencialmente uma imensa dragoa que devia se satisfazer diariamente com pelo
menos dois búfalos.
Antony tentou se engraçar com uma monja, levando logo uma cotovelada minha para
tomar jeito. Reparei que eram todos descendentes de tamurianos, pelos traços faciais,
haviam idosos, jovens, adultos e crianças. Umas quarenta pessoas deviam morar
naquele grande monastério, alguns eram até mesmo casais e famílias formadas que se
diferenciavam por pingentes em colares e pulseras que lhes designava a um clã ou algo
parecido. O único elfo que vi foi o que encontramos nas escadarias, nos servia e
parecia ser o “sensei”, que eu traduziria como ancião, mestre ou algo do gênero da
forma que era tratado. Apesar de nenhuma feição tamuriana, o monge élfico tinha
maneirismos impecáveis dos povos orientais… como andava, falava e servia o chá era
harmônico e belíssimo.

- Senhor, não desejas saber quem somos? – indaguei-lhe após tanto tempo de silêncio.

- Eu já sei, pequenino… - assustei-me - …São viajantes que precisam de um repouso, o


qual em nome do grande Meraryusama, posso oferecer-lhes em meu monastério!

- Digo… nossos nomes…

- Sabem o meu?

- Não, senhor…

- Então se não precisamos dizer nossos nomes, por que dizê-los?

Inculquei com a pergunta retórica.

- Permita-me perguntar-lhe quanto a algumas dúvidas?

- Se quiser podes ficar e descobrir por si mesmo! – ele respondia sempre com uma voz
calma, severa e ainda assim clemente e gentil, oferecendo chá com gestos implicitos.
Quando virei pro lado, Antony já não estava mais ali. Pensei apenas em uma coisa… as
monjas… Apontei para Henk que foi atrás dele.

- Perdoe não poder permanecer, senhor! Mas aqui é um mosteiro tamuriano correto?
– ele afirmou com a cabeça – Você é elfo, não se parece nem um pouco com as raças
de Tamu-ra!

Então ele sorriu comedido e ergueu-se me dando a mão. Segurando-a, me ergui e


segui atrás dele pelos corredores esperando uma resposta. Logo empurrou uma das
intrigantes portas deslizantes e revelou o próprio quarto com colchões pelo chão,
aonde mais além na parede haviam papiros pendurados na parede com caracteres
tamurianos. Examinei aquela escrita desenhada como arte.

- “E sob a proteção de sombras vermelhas nos libertamos da morte rubra”, é o que diz!
São palavras escritas por meu antigo mestre e fundador deste templo, Buka-
senseidono… - fiquei confuso, então voltamos a andar, até passar por uma passagem
protegida por telhas até o santuário -…Ele era um soldado em sua terra, servindo a um
antigo grande general imperial, que ao ter sido atingido por um golpe de Estado e
caído do poder, retirou a responsabilidade de todos os seus serviçais de armas! Mestre
Buka veio de Tamu-ra, vagando sem rumo em direção a este continente em busca de
um motivo para viver, até que ouviu sobre a nuvem rubra que destruiu sua terra. Sem
ter para onde voltar, encontrou-se com o senhor deste reino! Apesar de aqui falarem
mal e temerem os dragões, em sua terra eles eram grandes espíritos de poder e
sabedoria ilimitada que levavam a ordem ao mundo! Eram até mesmo regidos por um
imperador dragão! Portanto, imagine o que ele e outros tamurianos sentiram quando
pisaram nestas terras! Desde antes da destruição de Tamu-ra, muitos nativos de lá
vieram visitar este reino, e não raros ficaram! A própria capital possui uma
comunidade em suas proximidades!

Ele abriu as pesadas portas de madeira do santuário, revelando uma magnífica câmara
de paredes, chão e teto feitos de tábua de ouro. A primeira coisa que me veio à visão
foi uma estátua enorme inteiramente de lava-rubi de um belo dragão de corpo
serpentino, porém com a mesma cara do Sckhar dracônico, com seu olho esquerdo
trespassado por três cicatrizes, e com asas que cobriam quase toda a câmara. Uma
mistura do modelo de dragão oriental com o ocidental. O mais incrível eram as
escamas que cobriam todo o corpo, trabalhadas nas bordas em fios de ouro. Sob ele
uma armadura lamelar branca, de ombreiras, máscara de rosto de velho com bigodes
e um elmo com chifres de besouro, estava disposta e brilhando com a limpeza diária
que deviam dar. Meus singelos olhos brilharam tamanho luxo. O monge elfo se
ajoelhou perante a armadura e acendeu um incenso com aroma de morango antes de
erguer-se, fazer uma mesura tocando um pequeno sino e voltar-se a mim.

- Mestre Buka então se entregou ao culto de tão poderosa divindade que imperava por
esses territórios, e veio até esta cordilheira, erguendo com as próprias mãos este
templo sob toda tormenta e vapor, isolando-se no mosteiro em nome de seus
ancestrais e em busca de um motivo interior! Foi quando sobreviventes do caos que
ocorrera na longínqua ilha chegaram e instalaram-se no mosteiro sob proteção de
Mestre Buka que treinou cada vez mais suas artes de combate e auto-controle!

“Há muito vim da distinta Lenórienn! Eu havia saído dela antes do massacre, e quando
soube da queda de minha terra, apenas segui para esta parte norte do mundo até
alcançar o mosteiro! Após décadas como nômade, finalmente me encontrei na arte,
harmonia e beleza da terra de Tamu-ra que esbanjava neste templo! Assim, fui
treinado por Mestre Buka até que o mesmo falecesse…”

- Ele está enterrado neste templo? – minha curiosidade não tinha limite.

O monge elfo sorriu mostrando-me um brinco que trazia na orelha pontuda esqueda.

- Este brinco de lava-rubi me foi dado por Mestre Buka no dia de sua morte! Ele
percebeu o dia da morte quando tossiu sangue pela primeira vez, assim, seguiu pela
estrada montanhesa, de manto, cajado e chapéu de palha, recusando-se a morrer
dentro de paredes, alegando que sua morada era tão grande que as paredes eram o
horizonte! Ele é um dos espíritos guardiões de nosso mosteiro, e meu guia já que
deixou em minhas mãos a liderança dos monges presentes aqui!

- Então… Você é um monge de Sckhar?

- Sim, pertenço ao corpo clerical que serve ao grande Meraryusama, como meu mestre
o chamava!

Senti uma coceira daquelas que só sinto quando o perigo está do seu lado.

- Sinto sua perturbação jovem Zoolk! – o elfo sorriu moderado – Sei quem são e para
onde vão, mas não vou impedi-los! Ofereci hospitalidade, e não hei de traí-los, assim
que sumirem entre as montanhas amanha, enviarei ao Rei Dragão sobre vocês terem
passado por aqui!

Realmente era surpreendente a calma e sinceridade que ele tratava do assunto. Se


fossemos outro, ele estaria morto agora, ou pelo menos teriam tentado contra sua
vida.

- Venha…

Fiquei parado.

- Senhor pequeno?

Peguei o pergaminho.

- Não sei se devo fazer isso, mas algo me diz que sim! Este pergaminho… ele…
- Ele não deve ser lido por mim! Siga para Thenarallann e procure um homem, seu
nome é Vernant Kamila, ele esteve aqui há alguns anos, e acho que ainda está no
centro urbano! Ele pesquisava línguas antigas para uma escola dos reinos distantes,
talvez ele possa ajudá-lo!

- Então sabe o que é?

- Pensei que seu símbolo denotasse sua posição como discípulo da Deusa da
Interligência…

Entendendo, guardei o pergaminho, muito honrado e surpreso com todo aquele modo
de agir. Andamos em direção aos dormitórios novamente, dando uma leve parada
para examinar a beleza da chuva que descia sobre o monastério, enquanto alguns
gêiseres estouravam no pátio. De repente o som das gotas foi totalmente quebrado
quando uma parte da parede rompeu e Antonywillians foi jogado no meio do pátio.
Mais uma vez só me veio a única palavra coerente ao momento… Monjas.

- Mas eu não fiz nada… com você pelo menos! – o elfo ponderou.

Logo surgiu a mulher de dentro do santuário. Ela trajava o mesmo hábito que todos os
monges e trazia a cabeça raspada, mas com uma trança descendo pelas costas até a
altura do quadril. Era uma tamuriana bela, musculosa, tatuagens na cabeça raspada,
de olhar estreito e severo.

- O que está acontecendo? – pela primeira vez ouvi o elfo eremita elevar sua voz
grossa a nível de por breves instantes mesmo a canção da chuva silenciar-se.

- Chegou a hora! Estes profanadores estão sendo caçados, o senhor sabe! O soldado
de nosso Senhor Meruryusama veio trazer-nos o aviso!

- Pare, Tara-kun! – o elfo monge caminhou com leveza até ela – Eu coordeno este
templo, sei o que faço!

- Você não é e nunca foi um de nós! Nós somos a glória de Tamu-ra, wakarimasu ka?

- Iie, Tara-kun! Controle-se, sempre foi a melhor neste quesito!

- Chega, Mestre Yôkai!

O elfo monge sorriu para mim. Minha resposta foi dada.


- Eis meu nome pequenino!

- Não preciso de nomes! – disse antes de ir correndo até Willians para socorrê-lo,
entretanto, sem necessidade, pois de um salto já estava de sabre em punho. Outros
dez monges surgiram atrás da mulher que se rebelava. Traziam várias armas orientais
em mãos.

- Como sua favorita no templo, vou derrotá-lo e coordenar este templo para entregá-
los ao nosso deus! – disse a monja saltando sobre Yôkai que agachou, segurou o
abdômen da mesma, girou e arremessou longe. Antonywillians, porém, jogou-se a
pegando e impedindo que ela se ferisse.

- Monge ou não, jamais irá ferir uma dama em minha presença! – então pegou o sabre
no chão e apontou para Yôkai.

Tara deu-lhe um tapa no rosto e jogou o elfo espadachim para trás com um empurrão.

- Saia da frente criminoso, não preciso que me proteja com suas mãos impuras!

Assim ela correu na direção do monge elfo, sumiu de sua frente com a alta velocidade
e reapareceu atrás dele para aplicar-lhe um chute na nuca, contudo, o mesmo sumiu
correndo até outro lado, pegando um bambu e girando-o e lançando em direção a
moça, mas impedido pelo sabre de Antony que cortou o bambu ao meio durante o
trajeto.

- Ô SEU BESTA, SAIA JÁ DAÍ! – não agüentei e berrei para Antony. Era a coisa mais sem
noção e absurda que já vi… Não sabia mais quem era aliado ou rival de quem. Vendo o
caos tomando o templo dei uma pergaminhada no primeiro que encostou em mim,
que no caso foi o Henk, acabando desmaiado e com um baita calo na careca verde.
Cutuquei ele, mas já estava mais que desacordado.

Cabe aqui uma explicação. O nome Yôkai, como descobri posteriormente, que deram
ao monge elfo não era o mesmo que adotara ao nascer, e sim deixado para ele por seu
mestre Buka, pois em sua terra, seres como ele seriam considerados por tal termo…
era normalmente dado à espíritos, monstros e demônios em sua terra. Um conceito
diferente do nosso, e foi o que achou que ele era, quando o encontrou às portas de
seu mosteiro.

Bom, a luta continuou. Os monges do templo dividiram-se em os aliados do Mestre


Yôkai, os seguidores de Tara, nós que não sabíamos o que fazer e Antony que
entregava-se a ficar atrapalhando vez um lado vez o outro e achando que estava
ajudando (ui que ódio que me dá dessa cena só de lembrar). Espero apenas que
possamos chegar em Thenarallann sãos, salvos e não mais difamados do que já
estávamos.

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