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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ARARAQUARA - SP

PROCESSO Nº 0003211-70.2020.4.03.6322

AUTOR : JOSÉ BENEDITO GIROLAMO

RÉU : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, pessoa jurídica de direito público, representado pelo membro da Advocacia-Geral da
União signatário, mandato ex lege, em, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO pelos motivos de fato
e de direito a seguir aduzidos.

DOS FATOS

Pretende o demandante a concessão do benefício de aposentadoria por idade, cuja concessão foi negada na orla administrativa pelo motivo
¨FALTA DE REQUISITOS PARA DIREITO AS REGRAS DE TRANSIÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 103 OU FALTA DE DIREITO
ADQUIRIDO ATE 13/11/2019¨(DER (07/07/2020).

Pretende, para tanto, somar períodos rurais remotos anotados em carteira profissional e desconsiderados pelo INSS a fim de completar o
período de carência legalmente exigido.

Deve a presente ação ser julgada improcedente pelas razões a seguir aduzidas.

MÉRITO

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103 - VEDAÇÃO À CONTAGEM DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO FICTÍCIO PARA REQUERIMENTOS FORMULADOS
A PARTIR DE 13/11/2019:

Em 12 de novembro de 2019 foi promulgada a Emenda Constitucional nº 103, com vigência e aplicação aos requerimentos cuja DER tenha
sido formalizada a partir de 13/11/2019, a qual alterou o sistema de previdência social mediante a criação da aposentadoria programada, em
conjunto com a instituição de uma série de regras de transição aplicáveis aos segurados.

No que diz respeito aos reflexos das novas disposições em relação à aposentadoria por idade híbrida, cabe destacar a restrição de
cunho constitucional presente no art. 25 da Emenda Constitucional nº 103:

"Art. 25. Será assegurada a contagem de tempo de contribuição fictício no Regime Geral de Previdência
Social decorrente de hipóteses descritas na legislação vigente até a data de entrada em vigor desta
Emenda Constitucional para fins de concessão de aposentadoria, observando-se, a partir da sua entrada em
vigor, o disposto no §14 do art. 201 da Constituição Federal." (grifou-se).

A Constituição Federal, em compasso, passou a expressamente vedar a contagem de tempo fictício de contribuição para concessão de
benefícios previdenciários, como estabelecido em seu art. 201, parágrafo 14º:

"§14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de
contagem recíproca."

É evidente o impacto da norma colacionada para a aposentadoria por idade híbrida prevista no art. 48, parágrafo 3º, da Lei nº 8.213/1991, na
medida em que expressamente proíbe para fins de jubilação a contagem, para requerimentos formulados a partir de 13/11/2019, de tempo
de serviço desacompanhado do efetivo custeio de contribuições ao RGPS. É o caso do período rural pleiteado nestes autos.

Cabe especificar. A norma constitucional não veda apenas a contagem de tempo rural prestado após a entrada em vigor da EC nº 103
sem o custeio de contribuições. A proibição é expressa e ampla quanto à contagem de tempo de contribuição
fictício, independentemente do período em que o serviço tenha sido prestado, sempre que não tenha sido acompanhado do custeio de
contribuições.

Assim, é assegurado o direito adquirido nos termos do art. 3º da EC 103/2019, o qual garante ao segurado que se filiou ao RGPS antes de
sua vigência o direito de se valer do regramento anterior se mais benéfico, desde que implementados todos os requisitos para obtenção do
benefício até 13/11/2019, ainda que continue em atividade ou o requerimento se dê posteriormente.

Com fundamento no já exposto, para os requerimentos formulados a partir de 13/11/2019, por seu turno, aplica-se quanto à jubilação etária a
regra de transição do artigo 18 da Emenda Constitucional nº 103, com seus requisitos a seguir compilados, vedada a contagem como
carência e como tempo de contribuição do tempo de trabalho rural prestado a qualquer tempo sem o pagamento das contribuições
correlatas:
ART. 18 DA EC 103/2019 - APOSENTADORIA POR IDADE COM 15 ANOS DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO COM
INCREMENTO DE IDADE PARA A MULHER

De acordo com o art. 18 da Emenda Constitucional 103/2019, ao segurado filiado ao RGPS até a data da entrada em vigor da Emenda
Constitucional 103/2019, fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos:

Mulher: 60 anos de idade e 15 anos de tempo de contribuição;


Homem: 65 anos de idade e 15 anos de tempo de contribuição.

A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade de 60 (sessenta) anos da mulher, prevista no inciso I do caput, será acrescida em 6 (seis)
meses a cada ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade.

Em 2020:

Mulher: 60 ANOS E 6 MESES de idade e 15 anos de tempo de contribuição;


Homem: 65 ANOS de idade e 15 anos de tempo de contribuição.

Até atingir a idade de:

62 anos de idade, se mulher, em 01/01/2023.

Além disso, deve estar preenchido o requisito legal do número de contribuições mensais para efeitos de carência.

Valor da aposentadoria: até que sobrevenha lei, nos termos do art. 26, caput e § 2º, I, e § 5º, da EC 103/2019: Base de
Cálculo apurável com 100% da média dos salários de contribuição a contar de 07/1994. Coeficiente de Cálculo:
proporcionalidade de 60% do salário de benefício acrescido de 2% a cada ano de contribuição que exceda: os 20 (vinte) anos de tempo
de contribuição, para o homem; ou os 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, para a mulher.

____________________________________________________________________________________________________________

Essas, em linhas gerais, são as características e requisitos do benefício perseguido pela parte autora.

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103 - REGRA DE TRANSIÇÃO PARA REQUERIMENTOS FORMULADOS A PARTIR DE 13/11/2019:

Em 12 de novembro de 2019 foi promulgada a Emenda Constitucional nº 103, com vigência e aplicação aos requerimentos cuja DER tenha
sido formalizada a partir de 13/11/2019, a qual alterou o sistema de previdência social mediante a criação da aposentadoria programada, em
conjunto com a instituição de uma série de regras de transição aplicáveis aos segurados.

No que diz respeito especificamente à regra de transição para aposentação por idade, presente no artigo 18 da Emenda Constitucional
nº 103, seus requisitos são assim compilados:
ART. 18 DA EC 103/2019 - APOSENTADORIA POR IDADE COM 15 ANOS DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO COM
INCREMENTO DE IDADE PARA A MULHER

De acordo com o art. 18 da Emenda Constitucional 103/2019, ao segurado filiado ao RGPS até a data da entrada em vigor da Emenda
Constitucional 103/2019, fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos:

Mulher: 60 anos de idade e 15 anos de tempo de contribuição;


Homem: 65 anos de idade e 15 anos de tempo de contribuição.

A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade de 60 (sessenta) anos da mulher, prevista no inciso I do caput, será acrescida em 6 (seis)
meses a cada ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade.

Em 2020:

Mulher: 60 ANOS E 6 MESES de idade e 15 anos de tempo de contribuição;


Homem: 65 ANOS de idade e 15 anos de tempo de contribuição.

Até atingir a idade de:

62 anos de idade, se mulher, em 01/01/2023.

Além disso, deve estar preenchido o requisito legal do número de contribuições mensais para efeitos de carência.

Valor da aposentadoria: até que sobrevenha lei, nos termos do art. 26, caput e § 2º, I, e § 5º, da EC 103/2019: Base de
Cálculo apurável com 100% da média dos salários de contribuição a contar de 07/1994. Coeficiente de Cálculo:
proporcionalidade de 60% do salário de benefício acrescido de 2% a cada ano de contribuição que exceda: os 20 (vinte) anos de tempo
de contribuição, para o homem; ou os 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, para a mulher.

____________________________________________________________________________________________________________

Essas, em linhas gerais, são as características e requisitos do benefício perseguido pela parte autora.

DO CASO DOS AUTOS

A parte autora, nascida em 03.06.1955, completou a idade mínima (65 anos) em 03.06.2020.

Na DER (07/07/2020) possuía :

Carência : 145 contribuições;


Tempo de contribuição : 11 anos.

Portanto, o autor não implementou os requisitos carência e tempo de contribuição conforme regras de transição da aposentadoria por idade
estabelecidas no art. 18 da Emenda Constitucional nº 103/2020.

Cumpre observar que para alcançar a carência mínima, o autor juntou a CTPS do evento 2, fls. 8/16, emitida em 28.05.1970, ou seja, quando
o autor possuía 14 anos de idade e que se encontra aparentemente danificada, razão pela qual não pode ser admitida como prova plena do
tempo de serviço rural nela anotado.

Sobre o tema a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU) editou a SÚMULA 75 que contém o seguinte
enunciado :

¨A Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) em relação à qual não se aponta defeito formal que
lhe comprometa a fidedignidade goza de presunção relativa de veracidade, formando prova suficiente de
tempo de serviço para fins previdenciários, ainda que a anotação de vínculo de emprego não conste no
Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS).¨

Logo, outros documentos poderão ser exigidos para validação dos vínculos anotados em CTPS, tais como cópias de contracheques;
declaração do empregador contemporânea aos fatos; livro ou ficha de empregados contemporâneos.

Sendo assim, despiciendas são maiores considerações para concluir que foi correto o indeferimento administrativo ao autor, eis que não
preenche os pressupostos legais para a concessão do benefício postulado, máxime a carência contributiva.

Do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais)

Por oportuno, cumpre trazer esclarecimentos sobre o CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais.

O CNIS é uma base de dados nacional que contém informações cadastrais de trabalhadores empregados e contribuintes individuais,
empregadores, vínculos empregatícios e remunerações.
Através do Decreto n. 97.936/1989, o Governo Federal criou o Cadastro Nacional do Trabalhador - CNT - com o fim de criar uma base de
dados integrada sob a forma de consórcio entre Ministério do Trabalho (MTb,) Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) e
Caixa Econômica Federal (CEF).

A base de dados inicial foi formada pelos trabalhadores já inscritos no Programa de Integração Social - PIS, no Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público - PASEP e cadastrados no sistema de contribuinte individual da Previdência Social. O Decreto n. 97.936/1989
também instituiu o NIT - Número de Identificação do Trabalhador, cabendo um número a cada trabalhador que o identifica para os fins
previdenciários e trabalhistas.

A Lei 8.490/92 criou o Conselho Gestor do CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais.

Atualmente o CNIS é uma base composta por dados de empregados, trabalhadores avulsos, contribuintes individuais, segurados especiais
e facultativos e empregadores. Em síntese, são quatro as bases de dados:

1. Cadastro de Trabalhadores: Contém os dados básicos e complementares de pessoas físicas engajadas em atividades
produtivas, ou seja, os trabalhadores empregados ou contribuintes individuais, tais como empresários, celetistas, funcionários
públicos, ou quaisquer pessoas detentoras de NIT, PIS ou PASEP e que tenham informado a partir de 1971 (para empregados)
ou 1973 (para contribuintes individuais) seus dados sociais ou previdenciários ao governo federal. As fontes deste cadastro
são: PIS/PASEP; RAIS; FGTS; CAGED e Cadastro de Contribuintes Individuais.
2. Cadastro de Empregadores: Contém os dados cadastrais de pessoas jurídicas e de estabelecimentos empregadores
reconhecidos pela Previdência Social. Todos os estabelecimentos empregadores, independente do ramo de suas atividades
(rural, comercial, industrial, etc), que tenham fornecido dados sociais, previdenciários ou fiscais ao governo federal a partir de
1964 estarão cadastrados. São fontes deste cadastro: CNPJ/CNPF; Cadastro de Empregadores do INSS; RAIS; CAGED e
FGTS;
3. Cadastro de Vínculos Empregatícios e Remunerações do Trabalhador Empregado e Recolhimentos do Contribuinte
Individual: Contém os dados de vínculos empregatícios desde 1976, e respectivas remunerações mensais a partir de 1990,
além de recolhimentos dos contribuintes individuais efetuados mensalmente através de carnê (Guia de Recolhimento do
Contribuinte Individual - GRCI) desde 1979. As informações dos vínculos empregatícios/ remunerações e recolhimentos de
contribuintes individuais permitem determinar o tempo de serviço do trabalhador e o valor do seu benefício previdenciário. As
fontes deste Cadastro são: a) para Vínculos Empregatícios: RAIS, FGTS e CAGED. b) para Remunerações do Trabalhador:
RAIS e FGTS. c) para Recolhimentos do CI: Base de Recolhimentos do CI.
4. Agregados de Vínculos Empregatícios e Remunerações por Estabelecimento Empregador: Contém dados acumulados de
vínculos empregatícios e remunerações mensais, fornecendo uma visão gerencial de massa salarial e quantidade de vínculos.
Permite a realização de confrontos com as bases de Arrecadação da Previdência Social, para detectar possíveis divergências
entre contribuição potencial e contribuição efetiva. São fontes deste cadastro: RAIS; FGTS e Base de arrecadação
previdenciária.

Por outro lado, são seis os gestores dessas bases de dados:

- Programa de Integração Social – PIS;


Gestor: Caixa Econômica Federal:
- Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.

- Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público


Gestor: Banco do Brasil:
– PASEP.

- Cadastro de Contribuintes Individuais (CI);

Gestor: MPAS - Ministério da Previdência e Assistência - Base de Recolhimentos do Contribuinte Individual;


Social: - Base de Arrecadação Previdenciária;

- CEI - Cadastro Específico do INSS.

Gestor: MPAS / MTb / CEF - RAIS - Relação Anual de Informações Sociais.

Gestor: Receita Federal: - Cadastro Geral de Contribuintes (CNPJ E CNPF).

- CAGED - Cadastro Geral de Empregados e


Gestor: Ministério do Trabalho:
Desempregados.

A partir de 09/01/2002, com a introdução do artigo 29-A na Lei 8.213/91 pela Lei 8.212/91 pela Lei n. 10.403/2002 as informações constantes
no CNIS a partir do mês de competência julho de 1994, filtradas com a Visão Previdenciária, são convalidadas para fins de reconhecimento
dos direitos previdenciários.

Posteriormente o Decreto n. 6.722/2008 alterou o artigo 19 do Regulamento da Previdência Social – RPS (Decreto nº 3.048/99) e convalida
todos os dados constantes no CNIS, sejam ANTERIORES ou POSTERIORES a julho de 1994. Desta forma, verifica-se que se trata de banco
de dados com múltiplas fontes oficiais.

Não havendo qualquer registro dos recolhimentos previdenciários em nome do autor relacionado a outro NIT além daquele de nº
11950528434, não há como julgar procedente o pedido.

Desta forma, a parte autora não possui direito ao benefício pleiteado, razão pela qual a presente ação deve ser julgada totalmente
IMPROCEDENTE.

REQUERIMENTOS FINAIS

Ante o exposto, requer o réu a V. Exa. seja a presente ação julgada totalmente improcedente.

Protesta o réu pela produção de todas as provas admitidas em direito, a serem oportunamente especificadas se assim for necessário.

Nestes termos, pede deferimento.

Marília/SP, 09 de novembro de 2020.

WALTER ERWIN CARLSON

PROCURADOR FEDERAL

WALTER ERWIN CARLSON


INSS

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