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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
CURSO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS

Docente: Kátia Nicolau Matsui

DEQ0628 – Tecnologia de Embalagens

Aula 6
EMBALAGENS BIODEGRADÁVEIS
http://bioplasticnews.blogspot.com.br/
Embalagens Biodegradáveis
Origem Origem Origem
microbiana agrícola petroquímica

Polissacarídeos Proteínas Poli caprolactone


PHA*
PCL
PHB** Animal:
Amido
Caseína; Poliéster amida
PHBV*** Soro do leite; PEA
Pectina Colágeno
Origem
biotecnológica Co-poliéster
Quitosana Vegetal: alifático
Zeína; PBSA
Polilactatos Proteína de
Gomas
soja;
Ác. Poliláctico Glúten
PLA

*Poli-hidroxialcanoatos; ** Poli-hidroxibutiratos; ***Poli-hidroxibutiratovalerato

Fontes: http://professoralucianekawa.blogspot.com/2014/10/o-acido-latico-e-o-polilactato.html; http://polimerosbiologicos.blogspot.com/; http://www.ima.ufrj.br/wp-


content/uploads/2013/11/31-9.00-Prepara%C3%A7%C3%A3o-de-pol%C3%ADmeros-biodegrad%C3%A1veis.pdf
Amido:

• Reserva alimentar de todas as plantas superiores;


• Encontrado em tubérculos, sementes e raízes;
• Industrialmente, é obtido por extração/moagem do milho, batata, trigo,
mandioca e arroz.
• Por ser facilmente hidrolisado e digerido é um dos elementos mais
importantes na alimentação humana.

Embalagens Biodegradáveis
Amido:
Esquema das formas do amido

Esquema da amilose
Esquema da amilopectina

Mistura de 2 polissacarídeos: amilose (polímero linear onde as unidades de glicose


ligam-se pelas posições  1-4; fração menos solúvel) e amilopectina (polímero
altamente ramificado com unidades de glicose ligadas na posição  1-4 e  1-6;), em
proporções que variam entre os amidos originados de diferentes espécies

Embalagens Biodegradáveis
Amido:
Para a obtenção de um material termoplástico à base de amido, sua estrutura granular
semicristalina precisa ser destruída para dar origem a uma matriz polimérica homogênea
e essencialmente amorfa.
Amido caráter hidrofílico, em excesso de água...

Membrana permeável c/ aumento da T°C Aumenta o volume e a solubilização da amilose

GELATINIZAÇÃO E FUSÃO

Embalagens Biodegradáveis
Amido:
• Na gelatinização, há quebra de ligações de Hidrogênio na estrutura do grânulo e formação de novas
ligações com as moléculas de água.

• Não há uma T°C específica para a gelatinização e sim uma faixa, já que os grânulos maiores tendem a
gelatinizar primeiro.

Fonte T de gelatinização (°C)


Milho 61-72
Batata 62-78
Batata doce 82-83
Mandioca 59-70
Trigo 53-64
Arroz 65-73

Embalagens Biodegradáveis
Ex. de Filmes de Amido ou Fécula

Após a gelatinização, as moléculas de amido podem começar a se


REASSOCIAR, favorecendo a formação de uma estrutura mais
ordenada, que, sob condições favoráveis, pode formar uma
estrutura novamente cristalina; a este conjunto de alterações dá-se
o nome de RETROGRADAÇÃO ou recristalização.

Filmes à base de amido – Lab. Controle de Qualidade – UFRN ( 2016)

Embalagens Biodegradáveis
Temperatura de transição vítrea, Tg, é a temperatura onde o material, devido ao aquecimento, assume
um estado caracterizado pela flexibilidade e fácil deformação.
A Tg da região amorfa do amido é > 200°C, porém, inferior a da fusão da região cristalina. Para que a Tg
diminua significativamente, geralmente adiciona-se plasticizantes ou plastificantes como água e glicerol.

OS PLASTIFICANTES reduzem as forças intermoleculares e


aumentam a mobilidade das cadeias dos polímeros, com
diminuição de possíveis descontinuidades e zonas quebradiças,
resultando assim em materiais com menores temperaturas de
transição vítrea (Tg). Favorecem a transição do material de um
estado vítreo, caracterizado por uma menor mobilidade
molecular entre as cadeias do polímero e por uma maior rigidez,
para um estado borrachento ou gomoso, de maior mobilidade
molecular e, consequentemente, maior flexibilidade.
Método de obtenção dos Filmes Biodegradáveis:
Casting

Equipamento pertencente a EMBRAPA – Fortaleza (CE)

Embalagens Biodegradáveis
Método de obtenção dos Filmes e Embalagens Biodegradáveis:
Extrusão

Massa de pré-extrusão

Matriz de monofilamento

EXTRUSORA

Granulador

Pellets

http://www.youtube.com/watch?v=wE_KTLlrdMA Fonte: http://www.abq.org.br/cbq/2012/trabalhos/12/1365-14692.html

Embalagens Biodegradáveis
CARACTERÍSTICAS:
 Grande disponibilidade e Baixo custo;
Amido Isopor
 Potencial para a produção de materiais termoplásticos;
100% biodegradável;
 Facilidade na obtenção do filme em laboratório
 Boa compatibilidade com agentes antimicrobianos e indicadores
45 dias
de mudança de pH
É o único biopolímero que em escala industrial tem o custo mais
baixo que o PE;
 Possui grande aplicabilidade;
 Pode ser processado em máquinas convencionais Amido Isopor

Embalagens Biodegradáveis
Dificuldades
O amido termoplástico apresenta fracas propriedades mecânicas e alta sensibilidade à umidade, as quais
são os principais fatores limitantes na sua aplicação. O amido termoplástico misturado a outros materiais
tem sido aplicado na confecção de espumas, filmes, sacolas e produtos moldados.

Aplicações:
•filmes de recobrimentos para agricultura;
•material para enchimento de embalagens;
•filmes e bandejas para alimentos.

Centros de Pesquisa:
UFRN; IFRN;
Depto. Eng. Alimentos e Eng. Química da USP
Depto. Eng. Qmc e Eng. Alimentos da UFSC
Depto. Polímeros da UFSC
UNESP; Unicamp; UFSCar; UEL; UFV; UFC -
Embrapa...
31 agosto de 2012 - http://exame.abril.com.br/meio-ambiente-e-energia/sustentabilidade/noticias/webjet-adota-copos-de-fibra-de-mandioca-em-voos
Webjet adota copos de fibra de mandioca em voos

A Webjet adotou em seus voos os copos fabricados a partir da fécula de mandioca. O material é 100%
biodegradável e leva 180 dias para se decompor no meio ambiente.
• PHA’s – poli(hidroxialcanoatos): Apresentam propriedades termoplásticas;
facilmente biodegradáveis

• PHAs mais estudados :


(a) Poli(3-hidroxibutirato) (PHB);
(b) Poli(3-hidroxivalerato) (PHV);
(c) Poli(hidroxibutirato-co-valerato) (PHB-HV)

Estrutura química

Fonte: www.biocycle.com.br

Embalagens Biodegradáveis
• PHB - poli-3-hidroxibutirato (P(3HB))
O 1º a ser descoberto; mais amplamente encontrado em microrganismos.
• Apresenta propriedades semelhantes ao polipropileno isotático (iPP);
• Elevado grau de cristalinidade;
• Temperatura de processamento próxima a temperatura de fusão cristalina.
• Tempo de degradação de 6 a 12 meses.
DESVANTAGEM Dificuldade no processamento.

Embalagens Biodegradáveis
• PHB - poli-3-hidroxibutirato (P(3HB))
Processo de obtenção:

 Via Bacteriana
 Via Química

Cultura bacteriana: a partir da cana-de-açúcar

Embalagens Biodegradáveis
Embalagens Biodegradáveis
Embalagens Biodegradáveis
Embalagens Biodegradáveis: ex. comercial – tubetes para reflorestamento

120 dias

35 dias

Embalagens Biodegradáveis
Embalagens Biodegradáveis
Polilactídeo

O ácido lático, precursor do lactídeo


pode ser obtido a partir da glicose
extraída de diferentes substratos
como o milho, a batata, a beterraba,
a cana-de-açúcar, produtos lácteos
e até mesmo resíduos da agricultura
por fermentação bacteriana ou por
síntese química.

Fonte: http://www.ima.ufrj.br/wp-content/uploads/2013/11/31-9.00-Prepara%C3%A7%C3%A3o-de-pol%C3%ADmeros-biodegrad%C3%A1veis.pdf

Embalagens Biodegradáveis
Polilactídeo
A polimerização a partir do monômero L- (ou D-) lactídeo puro forma um polímero semi-cristalino, este
material é rígido e possui boas propriedades mecânicas. O meso-lactídeo constitui um polímero amorfo,
transparente e com propriedades mecânicas inferiores.

Embalagens Biodegradáveis
Polilactídeo
A polimerização a partir do monômero L- (ou D-) lactídeo puro forma um polímero semi-cristalino, este
material é rígido e possui boas propriedades mecânicas. O meso-lactídeo constitui um polímero amorfo,
transparente e com propriedades mecânicas inferiores.

Síntese química
O ácido lático produzido sinteticamente é
estável termicamente e não contém
quantidades residuais de carboidratos,
presentes muitas vezes no ácido lático
produzido por fermentação, que
comprometem a qualidade do produto.
No entanto, a rota química sempre leva à
formação de uma mistura racêmica.

Mistura racêmica: mistura de dois enantiômeros, com quantidades iguais, sendo um dextrógiro (d-) e o outro levógiro (l-).

Embalagens Biodegradáveis
Poli (ácido láctico) = PLA – Via FERMENTAÇÃO

Embalagens Biodegradáveis
Poli (ácido láctico) = PLA – Via FERMENTAÇÃO

Embalagens Biodegradáveis
Poli (ácido láctico) = PLA  SÍNTESE

Embalagens Biodegradáveis
Poli (ácido láctico) = PLA  SÍNTESE

Embalagens Biodegradáveis
Poli (ácido láctico) = PLA  SÍNTESE

Embalagens Biodegradáveis
Embalagens Biodegradáveis: ex. comercial – Poli (ácido láctico) = PLA

http://bioplasticnews.blogspot.com.br/2011/02/empresa-norte-americana-toray-plastics.html

Embalagens Biodegradáveis
Embalagens Biodegradáveis: ex. comercial – Poli (ácido láctico) = PLA

Embalagens Biodegradáveis
Proteínas
São polímeros de alta massa molar (10.000g/mol) e podem ser utilizados em
adesivos, plásticos, filmes, revestimentos, emulsificantes, automóveis, etc.

Apresentação dos filmes de proteínas miofibrilares de Tilápia do Nilo

Fonte: Monterrey-Quintero (1998)


Embalagens Biodegradáveis
NA PELE DA TILÁPIA
Material biológico já conhecido para o tratamento de
queimaduras começa a ser usado em cirurgias
ginecológicas.
O Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos
da Universidade Federal do Ceará (NPDM-UFC), em parceria
com o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), de Fortaleza
estudam há 4 anos o uso da pele de tilápia para finalidades
médicas.

10 mulheres portadoras de um raro distúrbio congênito, que as


faz nascer sem o canal vaginal ou com ele pouco desenvolvido.
tiveram a reconstrução (neovagina) com o uso da pele de tilápia-
do-nilo.
A mesma equipe já havia operado com êxito uma mulher que
teve de reconstruir a vagina por causa de sequelas de um câncer
ginecológico.

Abril
2019

O Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher da


Universidade Estadual de Campinas (Caism-Unicamp)
usaram pele de tilápia-do-nilo na reconstrução do canal vaginal
de uma paciente transexual passando de homem a mulher.

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/06/07/na-pele-da-tilapia/


NA PELE DA TILÁPIA

Curativo com a pele do peixe é usado para tratar paciente vítima de


queimadura.

Rede de pesquisa:

Moraes lidera desde 2015 a pesquisa com pele de tilápia, ao lado do cirurgião plástico Edmar Maciel. O estudo teve início
quando eles abraçaram uma ideia original do cirurgião plástico Marcelo Borges, professor da Faculdade de Medicina de
Olinda (PE). Após ler uma reportagem sobre artesanato feito com pele de tilápia, Borges imaginou que poderia usar o
material para tratar queimados por ser muito rico em colágeno e se tratar de um item barato – em geral, é descartado
pela indústria pesqueira. O uso de curativos biológicos para tratar feridas e queimaduras não é novidade no mundo. Além
da própria pele humana, disponibilizada por bancos de pele, usa-se pele de porco, entre outros materiais.

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/06/07/na-pele-da-tilapia/


NA PELE DA TILÁPIA

Hoje, a linha de pesquisa com a pele de tilápia tem a participação de 189 colaboradores distribuídos em
sete estados e outros seis países – Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Colômbia, Guatemala e México.
“Todos eles são coordenados por nosso grupo”, afirma Maciel. O material biológico é objeto de 43 projetos
de pesquisa conduzidos dentro e fora do Brasil.

Além do bem-sucedido tratamento de queimados e da reconstrução de vagina, estão sendo estudados


outros usos do material em procedimentos odontológicos e veterinários. “Até agora depositamos cinco
pedidos de patente no Brasil e no exterior”, diz Maciel. Entre os produtos em teste, destacam-
se scaffolds (suportes estruturais), biomaterial projetado para ser empregado na produção de válvulas
cardíacas e telas para reparos de tendões e hérnias abdominais

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/06/07/na-pele-da-tilapia/


NA PELE DA TILÁPIA

Cicatrização mais rápida

De acordo com Odorico Moraes, entre os 300 pacientes tratados para queimadura até hoje, 30 deles
crianças, não houve nenhum caso de infecção.
O Ministério da Saúde está estudando a inclusão da pele de tilápia no tratamento de queimados pelo
Sistema Único de Saúde (SUS).
Em geral, a terapia para queimaduras é feita com sulfadiazina de prata, uma pomada antimicrobiana e
cicatrizante, sendo que os curativos usados exigem troca diária. Os feitos com pele de tilápia podem ser
substituídos em intervalos de tempo maiores, poupando o incômodo para o paciente, material e mão de
obra hospitalar. Os médicos e pesquisadores relatam redução de custos, diminuição no tempo de
cicatrização e de dor com o curativo biológico.

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/06/07/na-pele-da-tilapia/


Os custos para produzir polímeros biodegradáveis ainda são
maiores que os do PET tradicional, mas é preciso buscar
alternativas aos materiais derivados de petróleo, já que um dia
esse recurso vai se esgotar.
Apesar das excelentes propriedades do PET, sua presença
em aterros sanitários atrapalha a decomposição de outros
materiais, pois dificulta a circulação de líquidos e gases que agem
sobre o lixo orgânico.
Algumas empresas atentas a esses fatos já demonstram
interesse em desenvolver novos materiais a partir dessa
tecnologia.
Fonte: Ciência Hoje On-line, 2010

Globo Repórter exibido no dia 25/05/07 "Amigos da Terra".


Matéria: Plásticos Biodegradáveis.

http://youtu.be/HCiCTLVJWps
Designers inventam copos comestíveis e biodegradáveis
(http://bioplasticnews.blogspot.com.br/2010/07/designers-inventam-copos-
comestiveis-e.html)

Um grupo de 4 designers americanas inovou


com o produto Jelloware. Trata-de de um copo
comestível e biodegradável feito a partir de
Agar-Agar, matéria-prima gelatinosa extraída
de algas marinhas. O objeto reflete a
preocupação das profissionais com a
preservação do meio ambiente.

As designers, que fazem parte de um coletivo


chamado The Way we see the World, sugerem
aos usuários do Jelloware duas possibilidades
após o uso: comer os copos ou depositá-los
diretamente na terra, já que ele é
biodegradável e ainda serve de adubo para
plantas.
12.07.2013
Coca-Cola lança garrafa de gelo na Colômbia
Uma ação de publicidade da Coca-Cola está fazendo sucesso nas
praias da Colômbia, oferecendo a bebida em garrafas de gelo com o
tradicional formato da marca. "Gelada até a última gota", garante a
propaganda, criada para a temporada de verão no país. A Coca-Cola
também alega que a novidade é ecologicamente correta, já que as
garrafas derretem e não causam danos ao meio ambiente.

Segundo a empresa, as garrafas são feitas em moldes de silicone,


onde a água é esfriada a uma temperatura de -25 °C. Ela é
preenchida antes de ser entregue aos clientes e para não
congelar a mão dos consumidores é entregue com uma tira de
borracha que se enrola na garrafa e depois pode ser usada como
bracelete.

Segundo a empresa norte-americana, a novidade agradou o gosto dos


consumidores e os quiosques montados à beira das praias vendem
aproximadamente 265 garrafas de Coca-Cola por hora. A
multinacional não informou se pretende levar a novidade para outros
países.

Veja mais em: http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/07/15/internas_economia,422974/coca-cola-cria-garrafa-de-gelo-


em-campanha-para-o-verao-na-colombia.shtml
A LEGO anunciou nesta última semana, no dia 01 de
Março de 2018, que irá começar a utilizar elementos
feitos de material sustentável em conjuntos que serão
vendidos já neste ano. As peças inicialmente serão
elementos botânicos como folhas, arbustos de árvores,
todos feitos a partir de um plástico desenvolvido a
partir da cana de açúcar, conhecido como “plástico
verde”.

As peças de Lego são produzidas a partir do


acrilonitrila butadieno estireno, conhecido pela
sigla ABS, um material termoplástico obtido do
petróleo rígido e leve, de uso comum na fabricação de
produtos moldados. As novas peças são feitas a partir
do polietileno, um plástico flexível e durável que,
apesar de ser obtido da cana-de-açúcar, é
tecnicamente idêntico aos produzidos usando
plástico convencional.

Veja mais em: https://www.brincandocomblocos.com.br/2018/03/lego-anuncia-blocos-feitos-de-material.html


M aior exportador mundial de carne bovina, o Brasil dá os primeiros passos
na corrida por um mercado que tem atraído dezenas de milhões de dólares nos
últimos anos, o de produtos alternativos à carne, mas com as mesmas
características sensoriais.
Existem duas rotas para se alcançar esse objetivo: a produção de carne em
laboratório a partir de células-tronco de animais, também conhecida como
carne limpa ou in vitro, e a criação de um produto à base de proteínas vegetais
que emule a carne vermelha.
Em maio de 2019, o empreendedor Marcos Leta colocou no mercado o Futuro
Burger, um hambúrguer vegetal que promete ter a aparência e o gosto de carne
bovina. Fundador dos sucos Do Bem, o empresário é dono da foodtech Fazenda
Futuro, responsável pela novidade, vendida a cerca de R$ 17 a bandeja com
duas unidades.

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/07/10/bife-de-laboratorio-2/


Os ingredientes do Futuro Burger são formados por proteína isolada de soja, de
grão-de-bico e de ervilha.
A cor avermelhada é conferida por suco de beterraba. Segundo Leta, não é só na
aparência que o alimento é parecido com a carne de origem animal, mas
também no sabor, textura e aroma.
Uma língua artificial (EMBRAPA), equipamento eletrônico composto de sensores
gustativos que imitam o funcionamento do órgão humano, foi utilizada no
processo. “O valor nutricional também é muito similar”. Esse resultado foi
obtido por meio da análise, com a ajuda de inteligência artificial, das melhores
combinações de proteínas e lipídios de origem vegetal.

A californiana Impossible Foods deu um passo além. A cor vermelha de seu hambúrguer
vem de uma proteína similar à hemoglobina, produzida por engenharia genética. Os
pesquisadores da empresa usam um componente da hemoglobina, o grupo heme, que
confere a cor vermelha de carne crua e o cheiro característico exalado durante o cozimento.
Raízes de plantas leguminosas têm o grupo heme em uma proteína de estrutura e função
muito semelhantes à hemoglobina, a leg-hemoglobina.
Com base nesse conhecimento, os cientistas da Impossible Foods criaram um método de
produção em alta escala do grupo heme, extraindo-o de raízes da soja. Por meio de
engenharia genética, eles modificaram a levedura Pichia pastoris para que ela produzisse
leg-hemoglobina de soja e a cultivaram em fermentadores para multiplicar a proteína.

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/07/10/bife-de-laboratorio-2/


Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/07/10/bife-de-laboratorio-2/
Os empreendedores que investem no cultivo de células-tronco de bovinos para
criar carne sintética, também chamada de cell-based meat (carne feita de
células), têm um argumento ainda mais contundente para atrair os amantes de
um bom bife: o que eles fazem não é simplesmente algo parecido com carne,
mas a própria carne. O primeiro hambúrguer in vitro nasceu na Universidade de
Maastricht, na Holanda, a partir das pesquisas do fisiologista Mark Post.

O primeiro hambúrguer feito de células-


tronco foi elaborado na Holanda e custou
€ 250 mil

O processo desenvolvido por Post parte da extração de células-tronco


bovinas de um fragmento de tecido muscular do animal. Essas células
indiferenciadas multiplicam-se em um meio de cultura contendo
nutrientes e fatores de crescimento, transformando-se em fibras
musculares. Cerca de 20 mil finas tiras de tecido muscular combinam-se
para formar um hambúrguer com cerca de 140 gramas. A produção em
escala industrial será feita em um biorreator.

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/07/10/bife-de-laboratorio-2/


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No final de 2018 foi a vez da israelense Aleph Farms anunciar que criou o
primeiro bife cultivado em laboratório.
O custo do protótipo, uma pequena tira de bife de algumas dezenas de gramas,
foi de US$ 50, valor ainda bastante alto quando comparado ao da carne vendida
em açougues, mas um avanço em relação aos estudos anteriores.

O processo de produção de um bife in vitro é mais complexo e requer que


as células se organizem de forma tridimensional (3D), ganhando volume e,
consequentemente, espessura. Para isso, é necessário colocá-las em uma
estrutura que serve como suporte denominada scaffold (andaime), que
normalmente é produzida a partir de colágeno, de origem animal. Mas
para fabricar carne limpa é importante que não existam insumos animais
nem procedimentos vinculados a eles. Esses pré-requisitos têm estimulado
o surgimento de empresas que apresentem novas tecnologias. Uma das
startups criada para fornecer scaffolds à base de plantas a essa indústria é
a brasileira Biomimetic Solutions, uma spin-off nascida no Centro Federal
de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG).

“Criamos um polímero sintético à base de plantas. Somos uma das primeiras empresas no
mundo especializada na produção de scaffolds com foco na produção de carne limpa”,
afirma Lorena Viana, mestranda em inovação pela UFMG e uma das fundadoras da startup,
juntamente com as engenheiras de materiais Ana Elisa Antunes e Alana Benzo e duas
pesquisadoras do Cefet-MG, Aline Bruna da Silva e Roberta Viana. “Decidimos focar nosso
negócio no mercado de carne in vitro, no qual temos poucos concorrentes diretos”

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/07/10/bife-de-laboratorio-2/


Desafios à vista
Apesar das boas perspectivas, já há reações.
O termo “carne limpa” é contestado tanto por veganos quanto por pecuaristas. Os primeiros são
contra o uso do adjetivo “limpa” quando há qualquer tipo de uso de células extraídas de animais,
enquanto a indústria de proteínas animais se opõe ao emprego da palavra “carne” por temer a
concorrência.
A Associação de Pecuaristas dos Estados Unidos pleiteou ao Departamento de Agricultura que
produtos não derivados de animais criados ou abatidos sejam impedidos de ser descritos como bife ou
carne – com isso, querem diferenciar o alimento que produzem da novidade que está entrando no
mercado.
Um dos maiores desafios das novas empresas não é comercial, mas científico: elas precisam garantir
que o processo de produção não faça uso de nenhum componente de origem animal.
No primeiro hambúrguer in vitro, Mark Post usou soro bovino fetal para nutrir as células-tronco. Hoje,
tanto a Mosa Meat quanto a Aleph Farms garantem que não utilizam mais ingredientes derivados de
animal. Para o médico veterinário Flávio Vieira Meirelles, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA-USP), no entanto, é muito difícil substituir aminoácidos,
proteínas, açúcares, vitaminas e fatores de crescimento encontrados no sangue animal por substâncias
isoladas de plantas. “Existem alternativas ao soro fetal, mas também têm origem animal. E há várias
outras substâncias retiradas de animais envolvidas nas diferentes etapas do processo”, avalia. “Deve
levar tempo até que se consiga fazer cultivo celular em escala industrial com um custo viável que seja
completamente livre de produtos de animais.”

Veja mais em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/07/10/bife-de-laboratorio-2/

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