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Rio de Janeiro
2008
Myriam Paula Barbosa Pires
Rio de Janeiro
2008
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/ CCS/A
CDU 981.53”19”
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação.
_____________________________________ ___________________________
Assinatura Data
Myriam Paula Barbosa Pires
_____________________________________________________
Prof. Dr. Marco Morel (Orientador)
Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da UERJ
_____________________________________________________
Prof. Dr.a Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves (Co-Orientadora)
Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da UERJ
_____________________________________________________
Prof. Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira
Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da UERJ
_____________________________________________________
Prof. Dr. Marcello Octávio Néri de Campos Basile
Faculdade de História da UFRRJ
Rio de Janeiro
2008
DEDICATÓRIA
A Marco Morel,
Por sua generosidade e por fazer de mim uma
apaixonada pela história da imprensa.
AGRADECIMENTOS
Ao longo de 30 meses, nos quais estive envolvida com essa pesquisa, contei
com o carinho e apoio de muitas pessoas, familiares e amigos, que muitas vezes,
mesmo sem notar, muito contribuíram para que pudesse enfrentar esse tamanho
desafio. Na possibilidade de execução deste projeto, sinto-m e no dever de agradecer
aqueles que – mesmo involuntariamente - fazem parte dele.
Inicialmente, agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento à Pesquisa
(CNPq), pelo financiamento, através de concessão de bolsa.
Quanto aos mestres, registro minha mais terna gratidão a o principal
responsável pela formação profissional que trilhei. Ao professor Marco Morel,
agradeço por todo o carinho e incentivo e pela orientação, repleta de sugestões
brilhantes, apontando sempre para novas perspectivas.
Um agradecimento especial à professora Lúcia Maria Bastos Pereira das
Neves, co-orientadora deste trabalho. Sua presença foi fundamental para que a
dissertação tomasse a forma final. Agradeço ainda pela generosidade, pelas
conversas instigantes; pelo acompanhamento e pela leitura dos rascunhos, além das
demonstrações de afeto que tornam o ambiente acadêmico mais agradável e
acolhedor.
À Professora Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira, pelo apoio e
pela assistência no acompanhamento de minha trajetória profissional e por aceitar
compor a Banca Examinadora de Defesa da Dissertação. À Professora Eliane
Garcindo de Sá, pela perseverança em me revelar possibilidades de minha escolha e
trajetória profissional, registro minha grande admiração. À professora Silvia Carla
Pereira de Brito Fonseca, que participou dos momentos iniciais de confecção deste
trabalho, como membro da Banca de Defesa do Projeto. Com grande interesse,
apontou importantes caminhos e leituras, os quais, na medida do possível, foram
incorporados à dissertação final. Ao professor Marcos Luiz Bretas, pela participação
na referida Banca. Ao professor Doutor Marcello Basile , pela preocupação constante
em apontar novas possibilidades de abordagem e por aceitar participar da Banca
Examinadora de Defesa da Dissertação.
Aos funcionários das bibliotecas e dos arquivos que freqüentei. Mais
diretamente, aos funcionários José Henrique Monteiro e a Cláudia Mayrink (DOR); a
Elisa e a Cátia (ABL); a “Fernandinho” (Uerj); a Pedro Tórtima (IHGB) e a Sátiro
(ANRJ).
Aos amigos de turma, especialmente a Vera Dias e a Ana Carolina Delmas,
pelos dias de alegria; pelas palavras de incentivo e pela indicação de textos, os quais
tanto me ajudaram no aprofundamento das leituras necessárias à pesquisa. Às amigas
Gabriela Gonçalves e Roberta Ferreira, pela paciência de ouvir e de partilhar as
aflições próprias de uma mestranda em fase de escrita.
A todos os meus familiares. A Patrícia, Jorge, Valquíria, Nelson, Marlúcia,
“Wilsinho”, “tia Leda”, Rita, Jairo, Guilherme, Valéria e Carlos, agradeço por toda a
preocupação e torcida. Ao meu avô, Agostinho (in memorian ), por todo o apoio ao
longo da vida. À minha mãe, Suely Barbosa, pelo amor incondicional e, sobretudo,
pela compreensão diante de minhas faltas nos afazeres da casa e nas conversas que
alimentam nosso cotidiano.
Por fim, ao querido Leandro Gouvêa, pelas constantes demonstrações de
amor e cumplicidade; pela força nas horas difíceis; por ser essa pessoa tão especial e
por fazer de mim uma pessoa melhor, a cada dia. A todos vocês: muito obrigada!
A imprensa como a mulher, é admirável e sublime quando se conta uma mentira. Não o
deixa em paz até tê-lo forçado a acreditar nela, e emprega as melhores qualidades nesta
luta onde o público, tão tolo quanto um marido, sucumbe sempre.
Honoré de Balzac
RESUMO
The present work seek to study the importance of Diário’s Typography , in the
Court of Rio de Janeiro, in the period between the years of 1821 and 1831. Established
in the context of growth of the Modernity in the tropics, the above-mentioned
typography was a component part, as both object and subject, of the new increasing
liberal culture. Its presence in the Court was shown relevant not only as private space
destined to the production of printed papers, but also as public space of exchanges and
former of new sociabilities. To analyze the trajectory of this typographic enterprise also
constitute one of the possible ways to investigate the various powers relations,
consolidated in the context of the dissolution of the Lusitanian-American Empire, and
the later constitution of the National-State in the Brazilian Empire. Characteristics as the
presser work and the period notion of trade also pass by this dissertation.
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................13
1 ZEFFERINO VITOR DE MEIRELES: UM INTELECTUAL NAS
IMBRICAÇÕES DO OFÍCIO TIPOGRÁFICO(1808-1822)......................................... 23
1.1 De almoxarife a administrador: apontamentos para a análise de uma trajetória ........ 26
1.2 Os caminhos possíveis na busca de reconhecimento e prestígio ......................................37
1.3 Na Impressão Régia: alianças entre saber e poder .......................................................... 46
2 O DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO: PUBLICIZANDO A MODERNIDADE
(1821-1825).............................................................................................................................59
2.1 O Diário do vintém: uma construção historiográfica........................................................ 60
2.2 Ciência, comércio e informação: utilidade na imprensa em doses diárias..................... 66
2.3 Leituras e leitores da pátria ................................................................................................ 91
3 IMPRESSÕES E EXPRESSÕES: MULTIFACES NO ESPAÇO
TIPOGRÁFICO .................................................................................................................106
3.1 Práticas de impressão e crescimento de iniciativas particulares (1821-1831) ..............108
3.2 A Tipografia do Diário: um espaço público e privado......................................................121
3.3 Cidadania e participação em uma produção diversificada ............................................145
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................146
FONTES ............................................................................................................................. 149
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................151
ANEXO1: Publicações da Tipografia do Diário (1821-1831).............................................161
13
INTRODUÇÃO
Brasil. Era comum naquela fase encontrar nos estudantes uma certa ansiedade na busca de
identificação com assuntos que, por um motivo ou outro, tornar-se-iam, alguns deles, seus
objetos de estudo.
Em certo dia, quase que por acaso, consegui integrar-me como pesquisadora
Passados três anos, meu interesse tomava rumo. Partia da criatura ao criador. Do
Enfim ... à análise do ofício, dos materiais e do espaço tipográfico. Muitas foram as razões
pelas quais me enveredei por este caminho. Sem dúvida, a formação ao lado do professor
Foi então que direcionei meu projeto na construção da idéia de analisar as tipografias
como espaços públicos nos quais se realizavam atividades de natureza múltipla. Espaços
novas sociabilidades, bem como construtores de identidades políticas. Como objeto deste
anos de 1822 e 1831. O marco cronológico foi escolhido em função deste ter sido cenário
1
O objetivo deste projeto é montar um dicionário da imprensa no Brasil, a partir de um modelo de ficha, cujo
padrão contém aspectos que foram retirados e analisados a partir da leitura dos periódicos existentes nas
seções: Obras Raras e Periódicos, da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
13
14
importante papel na difusão de uma cultura letrada e, nesse bojo, de idéias e hábitos
Não obstante os estudos que tratam da história da imprensa no Brasil terem crescido
na última década, ainda são muito tímidos aqueles que contemplam as tipografias como
questão central. Tratadas, em geral, somente como local de produção dos impressos, as
função. Representam, portanto, “casas de prelos”, as quais imprimiam de acordo com sua
tais espaços podem ser considerados bem mais do que máquinas de fabricação de
impressos. Sua intensa atuação nos episódios que envolveram a separação dos reinos de
Brasil e de Portugal, bem como na posterior construção do Estado Imperial, revela quão
importante fora seu papel como “força ativa da história”2, sendo fundamental instrumento
Moreira de Azevedo3. Para Azevedo, a imprensa (e a tipografia) aparece como “filha das
luzes”; lugar de expressão de um grupo de letrados que teria a missão de contribuir para
privilegia o aspecto descritivo e laudatório, o autor faz parte dos esforços do Instituto
2
Sobre a participação da imprensa e da prensa tipográfica como agente histórico, ver: R. Darnton &
D. Roche (orgs.) Revolução impressa. A imprensa na França 1775 -1800. São Paulo: EDUSP, 1996,
p. 15.
3
Moreira de Azevedo “Origem e desenvolvimento da imprensa no Rio de Janeiro”. Rio de Janeiro: Revista
Trimestral do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Brasileiro, t. XXVIII, quarto trimestre de 1865.
Azevedo foi um dos primeiros historiadores a utilizar a imprensa como fonte.
14
15
idéia de uma “História Pátria”, tão comum entre os intelectuais da segunda metade do
“grandes homens”.
Dois autores, do mesmo modo, fundamentais para nosso trabalho foram Gondin da
Fonseca4 e Hélio Vianna5. Em suas obras, realizam uma descrição dos periódicos do
assunto foi Nelson Werneck Sodré, com a obra: A história da imprensa no Brasil6.
Laurence Hallewel, intitulada: O livro no Brasil, sua história (1500 -1900) 8. Para além de
ressaltar a relação política entre o jornal e seus redatores ou impressores, o autor oferece
4
Gondin da Fonseca. Biografia do jornalismo carioca (1808-1908). Rio de Janeiro: Editora Quaresma,
1941. Sua pesquisa traz extensa relação de jornais e revistas, proporcionando ao leitor detalhes sobre o
número dos prelos e volumes de material tipográfico adquiridos em Londres pela Secretaria de Negócios
Estrangeiros e da Guerra, trazidos pela Corte Real, em 1808.
5
Helio Vianna. Contribuição à história da imprensa brasileira:1812-1869. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1945.
6
Nelson Werneck Sodré. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro, Mauad, 1999.
7
Carlos Rizzini. O livro a tipografia e o jornal no Brasil 1500-1822. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado
/ Imesp, 1988, p. 371.
8
Laurence Hallewell. O livro no Brasil - sua história. São Paulo: EdUSP, 1985.
15
16
Império e no início da República, ou seja, desde 1808 até o início do século XX.
Uma das primeiras tentativas mais diretas de enfocar a importância das tipografias no
século XIX foi a obra de Paulo Berger: A Tipografia no Rio de Janeiro (1808-1900)9. A
partir de imagens das impressões, o autor apresenta breve levantamento das tipografias
existentes na cidade do Rio de Janeiro, desde a chegada da Corte Real, em 1808, até a
virada do século, com destaque especial para os trabalhos da Impressão Régia. Apesar de
muito nos valemos das pesquisas posteriores, as quais, por sua vez, privilegiam a relação
tipográfica foi o de Maria Beatriz Nizza da Silva: Cultura e sociedade no Rio de Janeiro
(1808-1821)10. Em sua obra, a autora nos fornece uma análise da dinâmica da sociedade
carioca. Por meio dos anúncios brilhantemente pinçados de três principais periódicos da
época, e ainda, bastante marcada pela influência teórica preconizada pela História Social, a
caso específico de uma época em que o acesso às fontes prima pela dificuldade.
Um estudo mais recente que conferiu maior influência à nossa pesquisa foi a obra
9
Paulo Berger. A Tipografia no Rio de Janeiro (1808-1900). Rio de Janeiro: Companhia Indústria Nacional
de Papel Pirahy, 1984.
10
Maria Beatriz Nizza da Silva. Cultura e Sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821). 2ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Nacional, 1977.
16
17
Robert Darnton11. Fruto da renovação historiográfica dos anos 90, como um esforço de
implantação do liberalismo francês. Para Daniel Roche e Robert Darnton, a imprensa, além
de fonte – exprimindo diferentes pronúncias – deve ser analisada também como sujeito, no
que chamou de “ingrediente ativo dos acontecimentos”, pela sua capacidade de intervir no
jornais que circularam entre os anos de 1820 a 1822, a autora mostrou quão relevante foi a
Mariana Monteiro de Barros, da mesma maneira muito nos auxiliaram e serviram como
11
R. Darnton & D. Roche (Orgs.) Revolução Impressa. A imprensa na França 1775-1800. São Paulo: Edusp,
1996.
12
Entre eles, demonstrou de que maneira a imprensa funcionou sob as condições do governo revolucionário e
em que medida seus produtos penetraram na vida cotidiana das pessoas comuns. Em suma, esta obra entende
a imprensa como parte de uma cultura política, sendo primordial para o encaminhamento de nosso projeto
Serge Bernstein. “A Cultura Política”. In: Jean Pierre Rioux & Jean François Sirineili (orgs.). Para uma
História Cultural. Lisboa: Estampa, 1998, pp. 349 - 363.
13
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência
(1820-1821). Rio de Janeiro: Revan / Faperj, 2003.
17
18
uma prática nova, muito relacionada aos postulados iluministas14, que se fortaleciam nos
Corte real esteve repleto de locais de venda de impressos, bem como de todo tipo de
produto. Não apenas as tipografias, mas ainda as boticas (farmácias) e livrarias15, foram
dessa dissertação é contribuir para o avanço dos estudos relativos aos espaços públicos na
Corte real, tal qual, no dizer de François-Xavier Guerra, locus privilegiado de difusão e
como espaço de impressão, mas também como promotor de novos tipos de relações
sociais, entre elas, relações de mercado (produtos e idéias). Desse modo, utilizamos a
noção de espaço público em duas instâncias: espaço abstrato (esfera pública), capaz de dar
cotidianas, cobrando, seja das autoridades, seja de seus iguais, respostas a suas mais
distintas inquietações.
14
Francisco José Calazans Falcon. Iluminismo. 4ªed. São Paulo: Editora Ática, 1994. A idéia de iluminismo
perpassa por toda a dissertação, como forma de destacar a importância desse amplo movimento de idéias na
transformação de muitos dos valores recém chegados no Império luso-americano.
15
Marco Morel & Mariana Monteiro de Barros. Imagem, palavra e poder: o surgimento da imprensa no
século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 77.
16
Chamamos atenção para o caso luso-americano dos postulados de François-Xavier Guerra. Conforme
destacou para a questão da América espanhola, a noção de esfera pública aparece ligada às questões de
proximidades culturais. Dessa maneira, é crucial a consideração da cultura dos agentes históricos e não
determinada apenas pelas questões de classe social. François Xavier Guerra. Modernidad y independências.
Ensayos sobre lás revoluciones hispânicas. Madrid: MAPFRE, 1992.
17
Marco Morel As transformações dos espaços públicos. Imprensa, atores políticos e sociabilidades na
Cidade Imperial (1820-1840). São Paulo: HUCITEC, 2005. Complementarmente, Como afirmou Marcello
Basile, a esfera pública caracteriza-se “pelos espaços abertos de participação e pela sua capacidade de atuar
como uma instância crítica de pressão da sociedade sobre o governo e seus representantes. Cf. Marcello
Otávio Néri de Campos Basile. Anarquistas, Rusguentos e Demagogos: os liberais exaltados e a formação
de uma esfera pública na corte imperial (1829-1834), 2000, p. 327. [Dissertação de Mestrado]. Rio de
Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
18
19
impressão, mas enquanto espaço público informal, composto de três facetas: impressão,
De forma subjacente, nos pautamos nos referenciais trazidos por uma história política
capaz de dialogar com as instâncias sociais, econômicas e culturais19. A partir daí, tornou-
produção de uma cultura impressa com manifestações de poder. De acordo com Norberto
Bobbio, em seu significado mais geral, não estando apenas ligada à prática governamental,
ressaltamos que o espaço tipográfico influenciou modos de pensar e agir não somente de
metodológicos da nova história cultural. Um dos mais utilizados foi o recente livro de
Maria Beatriz Nizza da Silva: A Gazeta do Rio de Janeiro - economia e sociedade (1808-
1822). Na obra, a autora analisa um dos principais jornais do Brasil joanino, chamando
dinamizador de uma cultura letrada que se expandia. Através das páginas da Gazeta do Rio
18
É importante ressaltar que os estudos anteriores tratam da tipografia em uma análise apenas cronológica de
surgimento dos impressos e livros ou como uma espécie de local apenas de materialização dos impressos.
19
René Rémond. “O retorno do político”. In: A Chauveau; Ph. Tétard (orgs.). Questões para a história do
presente. Bauru: EDUSC, 1999, pp. 51- 60.
20
Norberto Bobbio; Nicola Metteucci; Gianfranco Pasquino. “poder”. Dicionário de Política. 5ªed. São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo / Brasília: UnB, 2004, pp. 933 - 943.
19
20
de Janeiro, foi possível resgatar muitos dos hábitos, bem como dos aspectos mentais
circulados no período21.
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Para compor tais publicações, foi dada maior
indivíduos que lançavam mão da “imprensa do Diário” para tornarem públicas suas
tipografia interagia com o espaço sócio-político de seu tempo. Para a apreensão das formas
uma leitura exaustiva de seu conteúdo, entre os anos de 1821 a 1825. Para enfatizar
distintas tipografias ativas no mesmo período. Quanto a esses últimos, sua escolha foi
Post Mortem de Zefferino Vitor de Meireles e de sua esposa, Maria Luiza de Jesus. Seu
perfil político, enquanto editor e intelectual na Corte, foi possível pelo cotejo das fontes
que cortam sua trajetória com os escritos estampados no seu principal periódico, o Diário
21
Maria Beatriz Nizza da Silva. A Gazeta do Rio de Janeiro: cultura e sociedade. Rio de Janeiro: EdUERJ,
2007. Aspectos relativos à história da leitura, da mesma maneira, foram abordados. Roger Chartier. Livros e
leitores na França do Antigo Regime. In: Peter Burke (org.). A escrita da História: novas perspectivas. São
Paulo: UNESP, 1992.
22
A totalidade de periódicos utilizados, está relacionada na seção de fontes, ao final deste trabalho.
20
21
a partir do diálogo com seu contexto. Para verificar a relação de poder direta entre a
atividade das tipografias particulares e o governo, nos anos finais do Primeiro Reinado,
voltado para a apreensão das relações de poder de Zefferino Vitor de Meireles no interior
da Impressão Régia, contribuintes para a fundação de sua “empresa”. Cabe afirmar que,
além das habilidades inerentes à impressão e à publicação, o Sr. Meireles, possuía vasta
destaque social que compuseram parte de sua superfície social, no dizer de Pierre
Bourdieu24. Para traçar sua trajetória, retornamos aos anos inicias de sua entrada na
tipografia do governo, em 180825. Entre correção de textos, edição e escrita de seu próprio
23
O único estudo encontrado que contempla Zefferino Vitor de Meireles foi o da professora Lúcia Maria Bastos
Pereira das Neves. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência (1820-1822). Rio de Janeiro:
Revan / FAPERJ, 2003. Cap. I. Cf. Augusto Vitorino Alves Sacramento Blake. Dicionário Bibliográfico
Brasileiro. vol. 7. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899, pp. 473 - 474.
24
Pierre Bourdieu. “A ilusão biográfica”. In: M.M. Ferreira & J. Amado (orgs) Usos e Abusos da História
Ora. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1996, pp. 183 -191.
25
Para a compreensão de muitos dos conceitos e das atividades que envolviam a impressão e seus cargos, nos
servimos ainda dos dicionários de época, como: Antônio de Moraes Silva. Dicionário da Língua Portuguesa.
Lisboa: Tipografia Lacerdina, 1813 & Denis Diderot & Jean Lerond D’Alembert. In: Encyclopédie ou
Dictionnaire Raisonné dês Sciences, dês Arts et dês Métiers (1751-1772). Ed. integral. Marsanne: Édition
Redom, s.d. CD-Room.
26
Jean-François Sirinelli. “Os intelectuais”. In: René Rémond (org.). Por uma história política. 2ªed. Rio de
Janeiro: FGV, 2003, pp. 231- 270.
21
22
no período já descrito27. Entre tantos impressos e produtos oferecidos por Meireles, sem
dúvida, era este o seu principal veículo de atuação. Entre outros fatores, o periódico surgiu
ainda no ambiente e maquinário da Tipografia da Impressão Régia (em 1821). Pela leitura
político do jornal para além de “mera folha comercial”. Com esta visão, vimos em via
políticas”28. Nesse sentido, sem pretender negar seu papel como um veículo voltado a
auxiliar nos serviços de “utilidade pública”, atuando como facilitador no comércio pela
Janeiro como principal instrumento da Tipografia do Diário, a contar até mesmo pelo
nome, tanto para seu sustento, quanto na construção de uma nova ordem política, cheia de
rupturas e contradições.
poder. Como ponto de encontro entre pessoas e difusão de idéias, as tipografias podem ser
própria seleção das publicações, realizadas no conjunto de sua produção; como postura e
condição diárias. Dentre todas aquelas que compuseram o período, a Tipografia do Diário
governo, correspondências, jornais, panfletos, hinos patrióticos, obras literárias, rifas, entre
27
Manuel Duarte Moreira de Azevedo em “Origem e desenvolvimento da imprensa no Rio de Janeiro”. Rio de
Janeiro: Revista trimestral do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Brasileiro, t. XXVIII, 4º trimestre de
1865, p. 106.
28
Nelson Werneck Sodré. História da imprensa no Brasil. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, p. 50.
22
23
CAPÍTULO 1:
moradores desta cidade. O Diário do Rio de Janeiro, um conhecido periódico, não saiu29.
Naquele tempo, tal ausência poderia provocar ainda certo burburinho, especialmente entre
29
O periódico Diário do Rio de Janeiro circulou na Corte entre os anos de 1821 e 1878. Em seu primeiro
ano, saiu impresso diariamente, inclusive aos domingos. Sobre uma análise mais detalhada deste jornal, ver o
segundo capítulo deste trabalho. Optamos por atualizar a grafia dos termos de época a fim de proporcionar
uma melhor compreensão do texto.
23
24
A esta altura, o Rio de Janeiro já contava com alguns poucos periódicos para
anunciar produtos, informar a dinâmica dos portos e das marés, o horário das missas, o
cidade que se modernizava. Mais ainda, como era o caso, se esta última se constituísse
(entre elas, os escravos), apresentava-se como a base de sustento de uma sociedade com
Circulando nos diversos pontos da cidade, entre seus vários distritos, as páginas
Segundo anunciado pela própria “folha”, o motivo teria sido a morte do seu
primeiro proprietário, redator e editor: Zefferino Vitor de Meireles. Consta que Zefferino
foi morto por um desconhecido que após ter lido (ou sabido) de um aviso-denúncia,
publicado no Diário em 19 de agosto do mesmo ano, teria resolvido a questão por seus
30
Os periódicos com perfil informativo eram a Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822) e o Volantim (setembro
a outubro de 1822).
31
Manuel Duarte Moreira de Azevedo. “Origem e desenvolvimento da imprensa no Rio de Janeiro”. Rio de
Janeiro: Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Brasileiro. t. XXVIII, 4º trimestre de 1865,
p. 106.
32
Diário do Rio de Janeiro, nº 11, 13 de agosto de 1822.
24
25
Além de uma denúncia, o aviso tomou forma de ameaça, em que o possível pai
poderia ser alvo de uma investigação policial. Se foi o redator ou não o responsável, não se
sabe, pois o aviso não possuía autoria e não gerou processo33. Nesse caso, de acordo com a
Meireles34.
A despeito de sabermos alguns detalhes sobre um episódio que deixou tão poucos
rastros, o fato é, sem dúvida, revelador do contexto pelo qual passavam os anos inicias do
novo Império dos trópicos. De um lado, questões políticas mais amplas tomavam conta da
cena pública. Redatores, ainda sob forte vigília do governo, dirigiam suas opiniões sobre
isolados entre si, acabam por demonstrar o quadro de enfrentamentos no qual estavam
sujeitos os indivíduos, que tinham na pena e/ou nos prelos, suas principais armas de
combate. O caso narrado, portanto, mais ligado talvez a uma questão local do que
motivos35.
33
O episódio foi narrado seguidamente na historiografia da imprensa. Todavia, sem indicações de
documentação. O fato pode ser notado pela verificação da saída de Meireles da redação e do aviso de seu
falecimento nas datas correspondentes ao que sinalizou a historiografia.
34
Segundo apontou Barbosa Lima Sobrinho, em primeiro de setembro de 1821, a Junta Diretora da Imprensa
Régia publicava uma declaração ordenando que não se fizessem nas oficinas manuscritos ou impressos sem
indicação de autoria e reconhecimento por tabelião público. Em caso de desobediência, o acusado poderia ser
levado a julgamento, naquilo que o autor chamou de “condenação do anonimato”. Sobre as mudanças na
legislação da imprensa durante o período, ver: Barbosa Lima Sobrinho. O problema da imprensa. Rio de
Janeiro: Álvaro Pinto, 1923, pp. 166 -168.
35
Bastante ilustrativo é caso do redator Cipriano Barata. Sua trajetória é testemunha do tratamento que
recebiam do governo os letrados que resistiam pela ação da imprensa. Cf. para sua biografia contextualizada,
Marco Morel. Cipriano Barata na Sentinela da Liberdade. Salvador: Academia de Letras da Bahia /
Assembléia Legislativa do Estado da Bahia, 2001. Nelson Werneck Sodré chamou a atenção para o caso de
João Soares Lisboa, redator do periódico Correio do Rio de Janeiro (1822-1823). Cf. Nelson Werneck Sodré.
História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, p. 70 –72. Uma relação de periódicos da Corte,
25
26
Mais ainda, a solução encontrada para o caso de Zefferino acabou por revelar outros
prática da opinião, difundida na Europa pela Ilustração36, demorava para, de fato, existir.
Sob essa ótica e tendo como percurso a trajetória do tipógrafo Vitor de Meireles, nosso
capítulo busca elucidar alguns aspectos integrantes das práticas que norteavam o ofício de
Real (1808) e os anos finais do Primeiro Reinado (1821)37. De acordo com essa perspectiva,
imprensa envolve muitos outros aspectos, que reunidos, dão a forma final a um impresso.
pode ser encontrada no “Catálogo de Jornais e Revistas do Rio de Janeiro existentes na Biblioteca Nacional
(1808-1889)”. Anais da Biblioteca Nacional. v. 85. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1881,
pp. 1- 208. Edição fac-similar.
36
A Ilustração é adotada como sinônimo de Iluminismo. Para Francisco Falcon, o Iluminismo constituiu o
ponto de partida de um controvertido processo de amplo alcance político, econômico e social. O autor
ressaltou que a razão iluminista instaurou, em definitivo, o reino da crítica e, ao fazê-lo, tinha como alvo “a
sociedade como um todo, que deve ser reconstruída”. Francisco José Calazans Falcon. Iluminismo. 4ª ed. São
Paulo: Ática, 1994, p. 39.
37
Utilizaremos análise quantitativa apenas para compreender a intensidade de desenvolvimento da imprensa
no diálogo com os diferentes contextos. Seguindo este raciocínio, refutaremos, assim, traçar uma linha
determinista acerca do desenvolvimento da imprensa ou a realização de um simples inventário cronológico
dos periódicos, procurando, ao contrário, entendê-los como parte de um processo histórico específico.
26
27
todo o processo38. Ao lermos um impresso apenas, não nos damos conta do imenso
trabalho e dos minuciosos detalhes requeridos pela prática de tal ofício. Percorrermos a
trajetória de um tipógrafo, talvez nos ajude a adentrar um pouco mais no universo das
Letras, não somente por seu lado nobre, mas também um pouco do suor inevitavelmente
Lisboa, em uma família de comerciantes. Filho de Manuel Carmo da Silva, chegou ao Rio
de Janeiro em data desconhecida. Os registros mostram que teria iniciado seus trabalhos a
partir do ano de 1808 na imprensa da cidade, então sede da Corte, ocupando, a partir
daquela data, funções diversas39. A despeito de inúmeras lacunas que envolvem essa figura,
vale apontar que sua trajetória de vida testemunhou o novo cenário que começava a se
culta e ilustrada, digna de conviver com uma monarquia, diversas práticas culturais
Como se sabe, após a transferência da Corte lusa para o Rio de Janeiro, em 1807,
três remessas distintas, no total 60.000 obras – no começo de 1810, em março de 1811 e,
em setembro de 1811 – foram feitas de Portugal para a nova sede da Corte a fim de compor
inglês e o francês) foram muito valorizadas, posto que acabaram por constituir aspecto
peculiar de status para aqueles que almejavam se diferenciar ainda mais dos segmentos
38
Uma amostragem das partes de composição de um impresso pode ser encontrada em: Wilson Martins. A
palavra escrita. História do livro, da imprensa e da biblioteca. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1996, pp. 288 - 292.
39
Augusto Vitorino Alves Sacramento Blake. Dicionário Biográfico Brazileiro. v. 7. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1899, p. 413.
27
28
mais baixos da população. No plano simbólico, festas e espetáculos serviam para reforçar
cultural da colônia, criando um novo momento histórico e cultural no país, cuja finalidade
principal era criar um canal de comunicação entre o rei e os súditos, além de divulgar as
De todo modo, embora não possa ser considerada como iniciadora de uma imprensa
nos trópicos, acabando por ser o palco que deu início à carreira do futuro tipógrafo,
da imprensa oficial43, já em 1808, foi criada uma Junta Diretora, cuja função estava
a censura às obras a serem publicadas foi requerida pela Mesa do Desembargo do Paço,
reivindicando uma prática antiga que era feita em Portugal, quando examinava os livros do
40
A consagração da nobreza nos trópicos, analisada a partir de mecanismos simbólicos, pode ser vista em:
Jurandir Malerba. A Corte no Exilio. Civilização e poder às vésperas da independência. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. Ver, em especial, o capítulo 2.
41
Maria Odila Silva Dias. “A interiorização da metrópole (1808-1853)”. In: Carlos Guilherme Mota (org.)
1822: Dimensões. São Paulo: Perspectivas, 1972, pp. 160 -186.
42
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. Imprensa Régia. In: Ronaldo Vainfas (dir.). Dicionário do Brasil
Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, pp. 165 -166.
43
A Tipografia da Impressão Régia foi fundada em 13 de maio de 1808. Inicialmente, foi instalada na Rua do
Passeio, sendo mais tarde transferida para a Rua dos Barbonos (atual Evaristo da Veiga), onde permaneceu
até 1822. Segundo o historiador Carlos Rizzini, após inúmeras mudanças de nome, em 1822, passou a se
chamar Tipografia Nacional, título que manteve até 1885. A este respeito, ver: Carlos Rizzini. O livro, o
jornal e a tipografia no Brasil (1500-1822). São Paulo: Imprensa Oficial do Estado / Imesp, 1988 (edição fac-
similar). Moraes & Camargo apontam que a nova tipografia oficial era ligada à Secretaria de Negócios e da
Guerra que, na ocasião, administrada por Rodrigo de Souza Coutinho, recebeu essa nova função. Rubens
Borba de Moraes & Ana Maria de Almeida Camargo. Bibliografia da impressão Régia. São Paulo: EDUSP /
Livraria Kosmos Editora, 1993, p. XIX.
28
29
país ou vindos do exterior44. Na atividade de vigilância e revisão das obras prontas a serem
produção dos impressos. Entre todas as obras emitidas pela régia impressão, aquela que
atingiu maior alcance do público em geral, foi, sem dúvida, o periódico: Gazeta do Rio de
Janeiro45.
pela guarda dos armazéns”48 da Tipografia. Moraes Silva ressaltou que alçador era aquele
“que levanta algo”. Ao que tudo indica, o funcionário iniciava sua carreira realizando
algumas das atividades braçais da oficina. De uma forma ou de outra, suas atividades
demandavam extrema confiança do rei. Como alçador, permaneceu por cinco anos. Em
44
Segundo informou Lúcia Neves, compunham a diretoria administrativa nomeada por D. Rodrigo, os
letrados: José da Silva Lisboa (também censor das obras); José Bernardes de Castro (revisor das provas a
caminho dos prelos); e o diretor Mariano José Pereira da Fonseca. A este respeito, ver: Lúcia Maria Bastos
Pereira das Neves. “Censura”. In: Maria Beatriz Nizza da Silva (coord.). Dicionário da História da
colonização portuguesa no Brasil. Lisboa: Verbo, 1994, pp. 157 - 159.
45
A Gazeta do Rio de Janeiro foi um dos principais periódicos da Corte. Ao longo de treze anos, recebeu três
redatores diferentes. Após mudanças na periodicidade, era publicado três vezes por semana, entre os anos de
1808 e 1822. A partir da independência política e do início de formação do Império do Brasil, passou a
chamar-se Diário do Governo. Estudos clássicos sobre a história da imprensa no Brasil contemplam
importantes informações sobre a Gazeta do Rio de Janeiro. Cf. Nelson Werneck Sodré. A história da
imprensa ... Op. cit.; Hélio Vianna. Contribuição à história da imprensa brasileira. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1945; Carlos Rizzini. O livro, o jornal ... Op. cit. Trazendo contribuições importantes para o estudo
das transformações culturais na cidade, a historiografia recente colocou a Gazeta do Rio de Janeiro como
fonte de pesquisa para apreensão de práticas culturais na cidade e como elo entre a Coroa e a sociedade
carioca. Para estes, ver: Teresa Maria R. Fachada Levi Cardoso. “Gazeta do Rio de Janeiro: subsídios para a
história da cidade (1808-1821)”. Rio de Janeiro: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, abr /
jun., 1991. Maria Beatriz Nizza da Silva. A Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822): cultura e sociedade. Rio
de Janeiro: Eduerj, 2007. Juliana Gesuelli chamou a atenção para os impactos na circulação de idéias entre os
dois lados do Atlântico e sua maneira de retratar os eventos políticos. Juliana Gesuelli Meirelles. A Gazeta do
Rio de Janeiro e o impacto da circulação de idéias no Império luso-brasileiro (1808 -1821), 2006.
[Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Estadual de
Campinas.
46
Augusto Vitorino Alves Sacramento Blake. Dicionário Biográfico ... Op. cit., v. 7, p. 413.
47
Zefferino Vitor de Meireles. Biblioteca Nacional - Divisão de manuscritos (doravante BN-DMss). Coleção
Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. Doc. 16, 24 de dezembro de 1817.
48
.Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro.
Doc. 14, 02 de outubro de 1818.
29
30
multiplicidade de significados subjacentes a esta sua nova atividade. Sendo assim, para o
cargo supracitado, diversas acepções podem ser avaliadas. O dicionarista Moraes Silva
destacou a existência de algumas nuances ao redor do termo: 1) aquele que faz as pontas
dos instrumentos; 2) aquele que lembra, sugere, aconselha; 3) aquele que controla as faltas
dos funcionários; 4) aquele que recita o papel do orador para ajudar-lhe a memória; 5)
Conforme indicado acima, embora distintas entre si, todas as tarefas vinculavam-se
anos51. Dentro das noções apresentadas, verifica-se uma gama de atividades: as mecânicas,
outro, na atenção ao trabalho dos colegas, como pela anotação de suas faltas. Uma terceira
função, por sua vez, estaria ligada a uma espécie de supervisão, cuja tarefa seria a de
termo alvitre. Este último, por sua vez, correspondia à “invenção de levantar dinheiro” ou a
funcionário esteve inserido em muitos dos ramos da impressão, revelando suas imbricações
49
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. Doc. 16, 24 de
dezembro de 1817. Cf. Antônio de Moraes Silva. “Alçador”. In: _______ Dicionário da Língua Portuguesa.
Lisboa: Tipografia Lacerdina, 1813, v. 1, p. 84.
50
Antônio de Moraes Silva. “Apontador”. In:_______ Dicionário da Língua ... Op. cit. v.1, p. 178.
51
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro.
Doc. 16, 24 de dezembro de 1817.
52
Antônio de Moraes Silva. “Almoxarife”. In:_______ Dicionário da Língua ... Op. cit., v. 1, p. 109.
30
31
pela intensa justaposição dos trabalhos no interior do campo da impressão. Pelo que nos
palavras, cuidando dos instrumentos e controlando as faltas dos colegas, talvez lhe sobrasse
tempo para conferir os erros ortográficos dispostos nos impressos, e mesmo, auxiliar na
administração das contas da Coroa. Vale notar que, no alvorecer do século XIX, na porção
elite letrada53, não era difícil encontrar a sobreposição de funções54. Tal característica, por
sua vez, configurava-se, no dizer de José Murilo de Carvalho, como um aspecto básico na
uma camada média urbana, grupo que, naquele contexto, necessitava da proteção do
soberano para manter suas carreiras, e que acabou por deixar inúmeros rastros na
posteridade56. Pelos documentos analisados e pelo que apontou a pesquisa de Lúcia Neves,
Vitor de Meireles era funcionário público, ligado ao campo da administração e das Letras
pela Gazeta, o trabalho de impressão e editoração das obras era realizado por poucas
pessoas, que ficavam quase sempre sem aparecer, sendo, contudo, de grande valia para o
53
Na concepção de José Murilo de Carvalho, a idéia de elite repousa na noção de grupos específicos,
marcados por características próprias capazes de os distinguir face às massas e a outros de elite. Cf. A
construção da ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro: Campus, 1980, p. 20.
54
Para o perfil dos tipógrafos nos anos de 1820 e 1822, ver: Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves.
Corcundas e constitucionais – a cultura política da independência (1820-1822). Rio de Janeiro: Revan /
Faperj, 2003. Prosopografia dos tipógrafos e redatores de jornais disposta no capítulo 1.
55
José Murilo de Carvalho. A construção da ordem... Op. cit., p. 20.
56
Sobre o crescimento dos intelectuais à sombra da Coroa. Ver: Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves.
“Intelectuais Brasileiros nos Oitocentos: A constituição de uma ‘família’ sob a proteção do poder imperial
(1821-1838)”. In: Maria Emília Prado (org.). O Estado como vocação. Idéias e práticas políticas no Brasil
oitocetista. Rio de Janeiro: ACCES, 1999, pp. 9 - 32.
57
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. Corcundas e constitucionais ...Op. cit.
31
32
secretário e guarda-livros. Segundo Maria Beatriz Nizza da Silva, o grupo dos guarda-
oferecia para “casas de comércio”, além de salientar confiança, pois viera de Portugal com
desempenhadas pela mesma pessoa, cujo nome era Francisco Izidoro da Silva, talvez a
principal testemunha dos caminhos trilhados, bem como da “dedicação”59 conferida pelo
empregado Meireles.
dialogam com a história. Um grande exemplo dessas lacunas, são aquelas das áreas
alguns pontos da Europa onde, a partir da segunda metade do século XVIII, crescia o
paradigma das Luzes, difundindo noções matizadas pelo olhar dos filósofos enciclopedistas,
debruçados na busca de novas definições para o campo das chamadas “Artes Mecânicas”. O
58
Maria Beatriz Nizza da Silva. A Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822): cultura e sociedade. Rio de
Janeiro: Eduerj, 2007, pp. 124 -125.
59
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. Doc. 15, 24 de
dezembro de 1817. f.1.
60
De acordo com Antonio de Morais Silva, punção ou ponção era um instrumento de ferreiros e
espingardeiros usados para furar ou marcar peças de cobre, prata ou ouro. No campo da impressão servia para
fundir letras. Antonio de Morais Silva. Dicionário da Língua ... Op. cit.,v. 2, p. 86.
61
Como já ressaltado, José Bernardes de Castro era um dos diretores da régia oficina, acumulando as funções
de corretor e revisor das provas a serem impressas.
32
33
estudo dos termos ligados à composição dos impressos apontou para a influência dos
postulados forjados pela Encyclopédie sobre um dos principais dicionaristas lusos da época,
um dos autores mais utilizados nos estudos de história: Antonio de Moraes Silva.
partir do conceito de corretor. Para o letrado português Antonio de Moraes Silva, o vocábulo
corretor diz respeito “àquele que corrige; que revê ou emenda as provas das obras que se
impressão), constitui “celui que lit les épreuves, por marquer à la marge, avec differéns
signes ni fités dans l’imprimerie, les fautes que le compositeur a faites dans l’arrangement
des caracteres”63.
Conforme podemos verificar, nos dois termos, a figura do corretor é aquela que lê e
(...) il faut qu’ il connoisse très bien la langue du moins dans laquelle l’
ouvrage est composé; ce que le bom sens sugere dans uma matière,
quelle que elle foit; qu’ il fache se métier de ses lumières; qu’il entende
très bien l’ orthographe & la ponctuation (...)64.
dada aos indivíduos mais qualificados, por exigir conhecimentos anteriores, que pudessem
permitir o envolvimento do “técnico” com a obra, tanto na boa compreensão de seu texto e
de sua língua, quanto em sua pontuação e ortografia. Como referido, eram condições
62
Tratamos da concepção de letrado como sinônima de erudito. Cf. Antônio de Moraes Silva. “Corretor”. In:
________ Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa: Tipografia Lacerdina, 1813, p. 557.
63
Tradução livre: o corretor de impressão constitui aquele que lê as provas para marcar a margem por meio
de distintos sinais, cobrindo as faltas deixadas pelo impressor na organização dos caracteres. Cf. “Correteur”.
In: Denis Diderot & Jean Lerond D’Alembert. Enciclopedia ou Diccionaire Raisonné dês Sciences, dês Arts
et dês Métiers (1751-1772). Ed.integral. Marsanne: Édition Redom, s.d. CD-Room.
64
Tradução livre: (...) é necessário que conheça muito bem a língua na qual o texto é composto, conforme
sugere o bom senso; qualquer que seja a matéria, que se faça com suas luzes; que entenda muito bem da
ortografia e pontuação (...). Cf. “Correteur”. In: Denis Diderot & Jean Lerond D’Alembert. In: Enciclopedia
ou Diccionaire ... Op. cit..
33
34
apresentadas somente por aqueles que possuíam exímia experiência no campo das Letras. Na
Corte, René Ogier, entendia, em fins do Primeiro Reinado, a maneira de funcionar o trabalho
do corretor:
montagem das palavras, linhas, páginas e folhas. Situações que impunham condições
técnicas e materiais peculiares, e ainda, tal qual acima escrito, um profundo silêncio67. É
importante chamar a atenção para o fato de que não havia, naquele contexto, a divisão de
tarefas, adotada
nas fábricas européias. Desse modo, tratava-se de uma técnica artesanal, passada daqueles
mais experientes aos mais novos na profissão, fosse por laço familiar, fosse através do
construção semântica dos conceitos no âmbito do século XVIII e XIX, pode indicar ainda
uma prática norteada por uma espécie de missão a ser efetivada pela difusão do
65
Nelson Schapochnick. “Malditos Tipógrafos”. I Seminário Brasileiro sobre Livro e História Editorial. Rio
de Janeiro: FCRB, 2004. http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br. Página acessada em dezembro de 2007.
66
Apud. Nelson Schapochnick. “Malditos Tipógrafos”. In: I Seminário... Op. cit., p. 6. No romance, Ilusões
perdidas, Honoré de Balzac apresenta algumas das condições do funcionamento do maquinário tipográfico na
França do final do século XVIII. A respeito do trabalho do compositor, destaca a rudeza de seu cotidiano.
Devido ao contínuo exercício que faziam para apanhar as letras dos 152 caixotins, receberam o apelido de
macacos. Cf. Honoré de Balzac. Ilusões Perdidas. 2ª ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1960.
67
Uma evolução da imprensa, tida no bojo da divisão internacional do trabalho e da organização da classe
operária, pode ser encontrada em: Artur José Renda Vitorino. Máquinas e operários – mudança técnica e
sindicalismo gráfico (São Paulo e Rio de Janeiro, 1858-1912). São Paulo: Annablume / Fapesp, 2000. Sobre
as condições de trabalho necessárias ao corretor, ver: Nelson Schapochnick. “Malditos Tipógrafos”.
I Seminário... Op. cit., p. 6.
34
35
Luzes.
sugestivo no auxílio aos estudos que tratam das relações intrínsecas à cultura impressa,
nascida na Ilustração francesa e, mais tarde, espraiada no Reino português. Estudos mais
recentes revelam um estreito diálogo entre a primeira geração da imprensa periódica nos
trópicos e a tradição de atividades impressas da nação lusa68. Vale destacar que a própria
tradição original lusa, montada nos moldes da Casa Literária do Arco do Cego,
metrópole forneceu o modelo para a posterior implantação de sua versão na Corte do Rio de
Na Metrópole, a imprensa oficial era comandada por um diretor geral, que recebia
ordenado era metade do valor pago ao diretor, ou seja, a quantia de 300$000 (trezentos mil
Corte. Para cumprir seus trabalhos, recebiam, por sua vez, um, 500$000 (quinhentos mil
réis), e o outro, 250$000 (duzentos e cinqüenta mil réis), também anuais. Conforme é
68
Marco Morel. Da gazeta tradicional aos jornais de opinião: metamorfoses da imprensa periódica no
Brasil. Texto inédito, gentilmente cedido pelo autor. Nireu Cavalcanti destaca que a troca intensa de livros e
entre América Portuguesa e sua metrópole era constante desde fins do século XVIII. Nireu Cavalcanti. O Rio
de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da Corte. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, p. 146.
69
Arquivo Nacional do Brasil (doravante ANRJ). Impressão Régia. Caixa 762. Pacote de Diversos. 27 de
dezembro de 1768. Doc.1, fl. 1.
70
Ibidem.
35
36
manuscrito a ser impresso. O trecho abaixo fornece uma dimensão de como funcionava uma
Segundo Berbert de Castro, por esta chapa o revisor (ou corretor) indicava os
momento da impressão, a fôrma era posta sobre o mármore (chapa de ferro ou de pedra),
embutida no cofre do prelo. Sobre os caracteres entintados, era colocada a folha de papel.
Após esse trajeto, as folhas de papel eram postas a secar, presas pelas extremidades em
cordões estendidos. Depois de secas, eram dobradas e somente então seguiam para o
encadernador.
uma relação mecânica, tratar do assunto, na opinião de Philippe Minard, constitui debruçar-
econômicas (da moldura material); das práticas e padrões de trabalho, característicos de tais
habilidades técnicas74. Tendo como fio condutor as técnicas de impressão, nossa pesquisa,
centra-se na análise das relações culturais intrínsecas à cultura impressa do período e que
trazem em seu bojo uma sociedade fortemente hierarquizada, dotadas de regras que
71
Renato Berbert de Castro. A Tipografia Imperial e Nacional da Bahia (Cachoeira /1823; Salvado /1831).
São Paulo: Ática, 1984.
72
Idem. Ibidem. Op. cit., p. 13.
73
Idem. Ibidem, p. 13.
74
Phillipe Minard. “A agitação na força de trabalho”. In: R. Darnton & D. Roche (orgs.). Revolução
Impressa. A Imprensa na França, 1775-1800. São Paulo: Edusp, 1996, pp. 155 - 175.
36
37
regulam a ascensão social. No que concerne ao conceito de imprensa, optamos, desde logo,
ilustrada, tal qual definida pelos enciclopedistas em duas instâncias: a primeira, por seu
nas produções gráficas. A segunda, por sua dimensão cultural, que abriga seu papel em
uma espécie de devir esclarecedor, (conforme encontrado nos anúncios da época) e capaz
conquista política. Esta última seria, no dizer do historiador Marco Morel, espaço em que
Régia, no ano de 1816 foi chamado pelo deputado Silvestre Pinheiro Ferreira para ocupar,
por dois meses, o cargo que o colocaria no ápice de sua carreira profissional. Sendo assim,
ao lado de Ângelo Bissum, assumiu o lugar do administrador Lourenço José Alves Pires,
para a época era o mesmo que “governar, dirigir”77. Como funcionário público, teve
especial destaque, na medida em que direcionou sua carreira, enveredado no campo das
Letras. Desse modo, estimamos que a Tipografia da Impressão Régia teria sido o ponto de
seu próprio periódico, em uma nova empreitada que alcançaria cinco anos depois.
75
O conceito de imprensa em sua dimensão jornalística aparece explícito em Marcelo de Ipanema e Cybelle
de Ipanema. Imprensa Fluminense: ensaios e trajetos. Rio de Janeiro: Instituto de Comunicação Ipanema,
1984,
p. 33.
76
Marco Morel. Da Gazeta tradicional aos jornais de opinião: metamorfoses da imprensa periódica no
Brasil. Texto gentilmente cedido pelo autor.
77
Antônio de Moraes Silva. “Administrar”. In: ______ Dicionário da Língua ... Op. cit., v. 1, p. 43.
37
38
para seu manuseio, existe uma fenda que foi vencida pelo empregado Meireles. Desse
modo, representou uma demonstração clara de quão restrito era o universo tipográfico no
período, seja no que toca ao aspecto humano – com poucos funcionários capacitados para
pessoal pelos censores e diretores régios, demonstrada por Meireles, que acabou recebendo
bem como dos embates sociais e políticos que esta última ajudou a construir79. Nesse
sentido, a personagem Zefferino Meireles pode ser vista como um ponto importante,
muitos dos dados referentes à dinâmica de seu cotidiano e de sua formação enquanto
letrado, verifica-se pelas fontes manuscritas que o empregado trazia em sua experiência
78
O conceito de prensa em Moraes Silva obedece ao caráter técnico, como: duas peças de madeiras de
quatro faces planas, enfiadas nuns parafusos paralelos, que se apertam, uma à outra (...), para apertar o que
fica entre uma delas. Antônio de Moraes Silva. Dicionário da Língua ... Op. cit., v. 1, p. 493.
79
Marco Morel. Da gazeta tradicional aos jornais de opinião: metamorfoses da imprensa periódica no
Brasil. Texto inédito, gentilmente cedido pelo autor.
80
A condição de tipógrafo aqui tratada consiste no entendimento dos vários processos de impressão e não
meramente na condição de proprietário de tipografia.
38
39
que de lá vieram com a Corte Real82, especialmente a partir de 1808. Pela análise dos
resposta, em agosto de 1818, foram emitidos dois documentos pela Junta Diretora. No
Lourenço José Alves Reis, na administração, função que ocupou repetidas vezes, como
referido, desde 1816. No segundo documento, por sua vez, havia um reconhecimento
assinado por tabelião da decisão anteriormente tomada. Ou seja, pela junção dos dois
81
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. s.d. Doc.8.
82
Pela leitura de muitos dos anúncios do jornal Diário do Rio de Janeiro, outros nomes podem ser
identificados como funcionários da tipografia: Luiz Manuel Pereira e Francisco Rodrigues de Almeida,
identificados como mestre-de-prensas e mestre-livreiro, respectivamente, através da seção “achados e
perdidos”. Diário do Rio de Janeiro, 05 de junho de 1821.
83
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. Doc. 16, 24 de
dezembro de 1817.
84
Renato Berbert de Castro destacou que, em 1822, o “mestre de imprensa” José Francisco Lopes, para
assumir a direção da Tipografia oficial baiana da cidade de Cachoeira, requereu o salário anual de 400 mil
réis mais o valor de 100 mil réis de gratificações por trabalhos extras. Apesar de ter a gratificação negada,
recebeu dez anos de salário adiantados. Ver, Renato Berbert de Castro. Tipografia Nacional e Imperial... Op.
cit.,
pp. 8 - 10.
85
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. Outubro de
1818.
39
40
da Impressão Régia. Uma prática que já se realizava há alguns anos, mas que somente
agora era definitivamente reconhecida, depois de uma busca pessoal pelo próprio
empregado86.
Ordem de Cristo” 87. Tal qual afirmou o suplicante, a condecoração foi dada pelo monarca
a todos os seus súditos como forma de reconhecimento dos trabalhos “extras”, em torno
laços com seus novos súditos, fortalecendo a relação destes com os representantes da
nobreza89. A ascensão profissional seria, por outro lado, a solução para problemas
século XIX (e, especialmente, após 1818), D. João VI produziu uma “boa safra de
comendas das três ordens militares (Cristo, Santiago e Avis). Nesse sentido, “a liberalidade
86
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. 24 de dezembro
de 1817.
87
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro, doc. 7, s. d.
88
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro, doc. 1, s. d.
89
Infelizmente, não foram encontradas muitas das respostas das solicitações de Meireles.
90
Maria Beatriz Nizza da Silva. Ser nobre na colônia. São Paulo: Editora da UNESP, 2005.
91
Idem. Ibidem, p. 264.
40
41
a complexa teia de relações sociais em que esteve inserido. Nesse sentido, enunciam o
caminho delicado e sinuoso dos mecanismos de ação dos órgãos da Coroa: um empregado
fiel e habilitado que indicado para diversas funções importantes conquistou o devido
reconhecimento, mesmo que tempos depois. Contudo, cabe indagar: o que teria levado
censores contribuiu para dar destaque ao funcionário? Talvez a junção das duas hipóteses
nos leve a alguma resposta acerca de sua trajetória. Respostas difíceis de atingir, mas que
Rio de Janeiro93.
Dentre todos os aspectos apreendidos da leitura dos manuscritos que tratam da vida
ordenado. De outro lado, como visto, são constantes também elogios por parte de diretores
e censores dispensados a sua pessoa, salientando entre outros elementos, sua honra e boa
reputação. Nos dois casos, encontramos testemunhos que mostram um indivíduo em busca
de melhoria de sua condição de vida, e de seu papel no meio em que vivia. Da mesma
92
Idem. Ibidem, p. 262.
93
Para Sirinelli, a história cultural pode ser um marco para a história política revigorada. Esta última, no
entendimento do autor, deve “analisar não somente os comportamentos individuais e coletivos e seus efeitos,
mas também aquilo que se relaciona com a percepção e as sensibilidades”. Jean François Sirinelli. “De la
demeure à l’agora. Por une historie culturelle du politique”. In: Serge Berstein, & Pierre Milza (dir.). Axes et
méthodes de l’historie politique. Paris: PUF, 1998, pp. 381- 398.
41
42
arrebanhou testemunhas de peso, que acabaram sendo de suma importância para o êxito de
sua causa. Vale observar que, embora tenha iniciado a ocupação dos cargos a partir de
A primeira delas foi por intermédio do tabelião José Pires Garcia, que lhe
confirmou o ordenado anual de 292$000 (duzentos e noventa e dois mil réis)94. Ao que
tudo indica, tal quantia assinalada pelas autoridades aparecia em consonância com o
costume. A título de comparação – o que muitas vezes serve como instrumento de análise
de 126$968 (cento e vinte e seis mil, seiscentos e noventa e oito réis)95, como parte por
cada sócio proprietário. Embora esta quantia não seja o total do valor recebido na função,
está a menos da metade do que Zefferino passou a receber. Em outras palavras, no lugar de
Ferreira de Araújo Guimarães, insatisfeito com a permanência dos valores que lhe eram
Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, sugerindo dois modos de ser melhor
94
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro, doc.16, fl.1, 24
de dezembro 1817.
95
Maria Beatriz Nizza da Silva. A Gazeta do Rio de Janeiro... Op. cit., p. 12.
96
Como revisor, Zefferino recebeu “o valor de costume para o cargo”, não especificado nas fontes. Como
vice-administrador, o funcionário havia solicitado o ordenado de 350$000 (trezentos e cinqüenta mil réis).
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro, doc.16, fl.1, 24 de
dezembro 1817.
42
43
assegurou Maria Beatriz Nizza, com metade do rendimento líquido do seu trabalho; no
segundo, ocupar-se-ia apenas da redação, recebendo 100$000 (cem mil réis) por mês, além
de uma cota, parte do dividendo igual à de cada sócio. Naquela ocasião, além de ter seu
pedido negado, o redator perdeu o cargo, pois, segundo Maria Beatriz Nizza, os oficias
achavam que seu trabalho era muito bem pago. O episódio, nessa perspectiva, constitui
uma demonstração clara, concluiu a autora, de que “o prestígio valia mais que trabalho”97.
prestígio capaz de ser retribuído, senão com condecorações, com o devido pagamento de
seus trabalhos. Por outro lado, verificamos que o salário conquistado pelo empregado era
de alto valor quando cotejado com os recebidos pelos funcionários da imprensa oficial no
Reino de Portugal ou mesmo com aqueles apresentados por trabalhadores de ramo similar.
universo humano que compunha o ofício de impressão da régia oficina apresentava outros
ocupações99. Sendo assim, o aprimoramento técnico proporcionado por esse sistema, era
iniciavam recebendo a quantia de $160 (cento e sessenta réis), diários. Após um ano na
função, seriam aumentados para o valor de $400 (quatrocentos réis), também diários100. De
acordo com os valores da época, a soma de $160, equivalia a dois números avulsos de
alguns dos principais jornais da Corte. Ao contrário do que ocorreu com Zefferino, como
97
De acordo com a autora, para trabalhar na redação da Gazeta, Manuel Ferreira de Araújo Guimarães
recebia a quantia de 901$988 (novecentos e um mil e novecentos e oitenta e oito mil réis anuais). Maria
Beatriz Nizza da Silva. A Gazeta do Rio de Janeiro... Op. cit., p. 18.
98
Alfredo de Carvalho. “Gêneses e Progressos da Imprensa Periódica no Brasil”. In: Centenário da imprensa.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo Consagrado à Exposição Comemorativa do
Primeiro Centenário da Imprensa periódica no Brasil, v.2. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908.
99
Idem. Ibidem, p. 26.
100
Seguindo seu raciocínio, trabalhando de segunda a sábado, os aprendizes ganhariam mensalmente 3$200
(três mil e duzentos réis), o que daria 38$400 (trinta e oito mil e quatrocentos réis) por ano, valor
perfeitamente possível, quando comparados ao salário recebido por Zefferino Meireles.
43
44
língua, pois muitas vezes eram incumbidos de produzir a cópia no lugar dos corretores,
posteriormente demonstrada por Meireles, no efetivo exercício das inúmeras funções nas
século XIX. Dito de outro modo, o olhar treinado nos detalhes do campo da impressão; o
convívio direto com outros letrados; a formação em diversas línguas e a sua ligação com
Sob essa ótica, averigua-se que por seu percurso profissional, tendo sido ainda,
apenas como intermediário na relação entre sua cultura e sociedade, mas também enquanto
“criadores ou mediadores” de cultura “em potencial”103. Mesmo que o jornalismo ainda não
101
Alfredo de Carvalho. “Gêneses e Progressos da Imprensa Periódica no Brasil”. In: Centenário da
imprensa. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Op. cit. v. 2, p. 26.
102
Nelson Schapochnick. “Malditos Tipógrafos”. In: I Seminário… Op. cit.
103
Jean François Sirinelli. “Os intelectuais”. In: René Rémond. Por uma história política. Rio de Janeiro:
FGV, 2003, pp. 231- 267.
44
45
medieval. Desse modo, ao unir reflexão e labor, Vitor de Meireles estaria mais próximo, ao
que Jacques Le Goff apontou como um “artesão do espírito”104. Para Le Goff, o intelectual
surgiu no século XII, embora compreendido com outro nome, veio como resultado do
industrial105. De acordo com essa linha, Vitor de Meireles seria um intelectual no sentido
amplo: produtor de cultura, não apenas pelo exercício da reflexão em seu cotidiano, mas
também pelo labor diário na lida com um corpo de maquinários e na experiência com todo
o universo erudito. No que toca a uma atmosfera específica de afirmação de uma esfera
Nesse sentido, estando presente por treze anos nos trabalhos em torno da imprensa
cultura impressa carioca, quando o jogo de forças colocava em cheque o futuro do Império
reflexão e labor não são pontos separados da condição do intelectual. Ao contrário do que
104
Jacques Le Goff. Les intellectuels au Moyen Age. 2ªed. Paris: Editions Seuil, 1985.
105
Idem. Ibidem.
106
Antônio Cândido. Formação da Literatura Brasileira (momentos decisivos). 5ªed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1975, pp. 218 - 225.
45
46
administradores, deram aqueles homens de saber, “um relevo inesperado”107. Daí sua
tomava ainda como critério de identidade a participação nos grandes problemas sociais109.
consolidou sua postura ativa, desta vez preocupada com a melhoria da cidade e na
moldagem de novas formas de viver, em consonância com os novos rumos tomados pela
sua análise acerca da formação da elite política e da elite intelectual no Império luso-
americano, a historiadora Lúcia Neves destacou que Zefferino Meireles compunha o grupo
cuja idade oscilava entre 20 e 50 anos. Grupo, portanto, na opinião da autora, composto
aos anseios dos principais nomes de peso político do período, ou seja, na defesa pela
manutenção da monarquia. Sua vivência, entre políticos e letrados, fez com que o cotidiano
107
Idem. Ibidem.
108
Segundo Antônio Cândido, com a independência política e a subseqüente formação do Império do Brasil,
o intelectual considerado como artista cede lugar ao intelectual considerado como pensador e mentor da
sociedade, mais preocupado, desta vez, com a aplicação prática das idéias. Ver: Antônio Cândido. Formação
da Literatura .. Op. cit., pp.218-225. A despeito dos manuscritos que cortam sua vida, as principais idéias de
Zefferino Meireles foram encontradas no periódico Diário do Rio de Janeiro, tema de nosso segundo
capítulo.
109
Antônio Cândido. Formação da Literatura ... Op. cit., p. 221.
110
Antônio Cândido. Formação da Literatura ... Op. cit., p. 221.
46
47
principais interlocutores no processo que vai da imprensa oficial até a criação do Diário do
Rio de Janeiro, e mais tarde, da Tipografia do Diário, empresa na qual dedicou os últimos
Silvestre Pinheiro Ferreira era português, tendo nascido na cidade de Lisboa em 1769.
Chegando ao Rio de Janeiro em 1809, fez carreira sólida na área da administração pública e
das letras112. Para completar seus rendimentos, a partir de 1813, ministrou curso de
filosofia no Seminário de São Joaquim. No mesmo ano, atuou como escritor, na redação do
filosofia, especialmente pela escrita da obra Preleções Philosophicas114, cujo texto original,
diretor da Tipografia Régia e da Fábrica de Cartas de Jogar. No ano de 1819, fora escolhido
111
Os constantes requerimentos ao monarca, além de contato com tal esfera de poder, revelavam, além de
tudo, um intenso anseio de crescimento por parte do empregado.
112
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Silvestre Pinheiro Ferreira”. In: Ronaldo Vainfas. Dicionário do
Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 674.
113
Marco Morel. “Pátrias Polissêmicas: República das Letras e imprensa na crise do Império português na
América”. In: Lorelai Brilhante Kury (org.). Iluminismo e Império no Brasil. O Patriota (1813-1814). Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, 2007. p. 29.
114
Segundo Antônio Paim, Ferreira buscou na obra, conciliar as teses dos fisiocratas a dos smithianos, no
grande mérito de ter compreendido que o problema central consistia no da representação. Antônio Paim.
“Prefacio”. In: Silvestre Pinheiro Ferreira. Preleções Phiilosophicas: sobre a teoria do discurso e da
linguagem, a estética, a diciosina, e a cosmologia. 2ªed. Rio de Janeiro: Editorial Grifalbo, 1970.
115
Antônio Cândido. Formação da Literatura ... Op. cit., p. 2 18.
47
48
chamou atenção para as qualidades do empregado, eficiente, segundo ele, não só como
oficina régia, Pinheiro Ferreira atuou como um importante agente que muito colaborou na
Estimamos que as lisonjas dos homens de poder, na Corte, tiveram especial papel para que
Como Pinheiro Ferreira, outro nome de peso (diretor e censor da Impressão Régia),
que testemunhou a favor de Zefferino foi José da Silva Lisboa. Como espelho para aqueles
que desejavam ingressar na carreira pública, Silva Lisboa teve uma presença bastante
1756, formou-se aos 23 (vinte e três) anos, na Universidade de Coimbra. Atuou nas áreas
Província da Bahia, sua terra natal119. Segundo atestou Lúcia Neves, aos quarenta e um
116
Sobre o assunto, ver o verbete de Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Silvestre Pinheiro Ferreira”. In:
Ronaldo Vainfas. Dicionário do Brasil Imperial ... Op. cit., p. 674.
117
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. Doc.16, fl.1, 24
de dezembro de 1817. “Reconhecimento de Silvestre Pinheiro Ferreira a Zefferino Vitor de Meireles por seus
cargos”. Rio de Janeiro. Doc. 12, 14 agosto de 1817.
118
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. Doc.16, fl.1, 24
de dezembro de 1817. “Atestado de confirmação dos diversos empregos ocupados por Zefferino Vitor de
Meireles”. Rio de Janeiro. Doc. 4, fl.1, 12 dezembro de 1817.
119
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “José da Silva Lisboa” In: Ronaldo Vainfas (org.). Dicionário do
Brasil Imperial ... Op. cit., pp. 429 - 430.
120
Idem. Ibidem.
48
49
Junta diretora da Impressão Régia e a de censor régio. Em tais funções, esteve como outra
Além dos cargos destacados, foi ainda membro da Real Junta do Comércio e
tange ao universo das Letras, seu nome é um dos mais ativos na tradução de obras
fundo histórico, publicados na Corte. Comporia, nesse sentido, o que Lúcia Neves
O futuro Visconde de Cairu destacou-se ainda por ter escrito inúmeras obras de
economia política122, dedicando muitas delas ao Príncipe Regente. Segundo registrou Isabel
todos os países” 124. Sendo assim, de acordo com a autora, o censor e diretor da imprensa
oficial, nos anos que antecederam a independência, identificou algumas das idéias
veiculadas através dos panfletos e dos novos jornais com a imprensa francesa do “Terror”
escreveu carta a D. João VI, solicitando permissão para enviar esclarecimentos ao censor
121
Idem. Ibidem.
122
Um balanço das distintas visões dadas pela historiografia a José da Silva Lisboa, pode ser visto em:
Fernando Novais & José Jobson de Andrade Arruda. “Prometeus e Atlantes na forja da nação”. In: José da
Silva Lisboa. Observações sobre a Franqueza da Indústria, e Estabelecimento de Fábricas no Brasil.
Brasília: Senado Federal, 1999, p. 99. Para Novais e Arruda, Silva Lisboa, na esteira de Adam Smith,
privilegiava a liberdade econômica em contraposição à indústria. A defesa da liberdade, segundo os autores,
para Cairu, “significava o contraponto inelutável às restrições coloniais interpostas pela metrópole”. Op. cit.,
p. 29.
123
Isabel Lustosa. “Cairu, panfletário: contra a facção gálica e em defesa do trono e do altar”. In: Lúcia
Maria Bastos Pereira das Neves, Marco Morel & Tânia M. Bessone da Cruz Ferreira. História e imprensa –
representações culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro: Faperj / DP&A, 2006, pp. 275 - 330.
124
Isabel Lustosa. “Cairu, panfletário: contra a facção gálica e em defesa do trono e do altar”. In: Lúcia
Maria Bastos Pereira das Neves, Marco Morel & Tânia M. Bessone da Cruz Ferreira. História e imprensa –
representações culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro: Faperj / DP&A, 2006, pp. 275 - 330.
125
Idem. Ibidem.
49
50
Silva Lisboa sobre a proibição que fez a respeito do “Discurso Recitado na Villa de
Povos a verdade”, no intuito de evitar “demagogias”129. Por outro lado, não ousou desafiar
de seus cargos. Vale notar, como parte essencial dos instrumentos da ação letrada, que o
Por outro lado, torna-se interessante ressaltar, que Lisboa (como tantos, aqueles em
que interveio com sua pesada mão proibitiva), teria, ele próprio, sido censurado pelo
panfleto: Heroicidade Brasileira, saído à luz em 1821131. De acordo com Isabel Lustosa,
126
ANRJ. Desembargo do Paço. Caixa 171, pacote 4, doc.78. s.l , s.d.
127
Idem, fl.2.
128
Idem. Ibidem.
129
Idem. Ibidem.
130
Idem. Ibidem.
131
Isabel Lustosa. “Cairu, panfletário: contra a facção gálica e em defesa do Trono e do Altar”. In: Lúcia
Maria B. P. das Neves, Marco Morel & Tânia Maria Bessone da C.Ferreira. História e imprensa ... Op. cit.,
pp. 275-295.
132
Isabel Lustosa. “Cairu, panfletário ... Op.cit.. p. 281.
50
51
portuguesas do Reino do Brasil, refletindo a luta de Cairu contra o que considerava como
“facção gálica”133. Pinheiro Ferreira e Silva Lisboa, agentes culturais e políticos, desta vez,
teriam sido as vítimas do sistema que eles próprios alimentavam, em uma clara
demonstração dos caminhos sinuosos e dos perigos causados pela aplicação de uma análise
Ao avaliar a censura no período, Maria Beatriz Nizza ressaltou que, mesmo após o
decreto de liberdade de imprensa (02 de março de 1821), a censura era um braço forte de
conforme destacou a autora, se, de um lado, acabava com a censura prévia; de outro,
pelo sistema, o impressor era obrigado a fornecer dois exemplares das provas, que seriam
distribuídas a dois censores régios, aguardando seu parecer. Ao diretor caberia permitir a
de letrado foi, como os primeiros, seu chefe direto, enquanto diretor da impressão do
governo: José Bernardes de Castro. Conforme assegurou Innocencio Silva, Castro era
da Junta Diretora da Imprensa Régia137. Como diretor, Bernardes de Castro esteve por duas
vezes (entre os anos de 1808 e 1821). No cargo, atuou ao lado de outros letrados e
133
Idem. Ibidem.
134
Maria Beatriz Nizza da Silva. A Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822) ... Op. cit., p. 269.
135
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Mariano José Pereira da Fonseca” In: Ronaldo Vainfas (org.).
Dicionário do Brasil Imperial ... Op. cit., pp. 526 - 527.
136
Maria Beatriz Nizza da Silva. A Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822) ... Op. cit., p. 269.
137
Innocêncio Francisco da Silva. Dicionário Bibliographico Portuguez. v. 12 .Lisboa: Imprensa Nacional,
1884, p. 258.
51
52
com Meireles, integrava o núcleo luso-americano que atuava ao redor de Rodrigo de Souza
colaborador do periódico O Patriota. O jornal, por sua vez, foi um órgão de promoção dos
estudos científicos europeus e das idéias liberais recém chegadas na Corte. Em 1817,
quando de volta a seu posto na direção da Impressão Régia, a pedido do próprio Meireles,
Castro foi mais um ilustre que contribuiu para elevar a imagem de Meireles frente ao poder
funções.
Como Bernardes de Castro, foi também diretor e censor da real tipografia, o letrado
Mariano José Pereira da Fonseca. Embora não estejam presentes nos documentos
declarações suas a respeito do funcionário Zefferino, estima-se que esteve no convívio com
Pereira da Fonseca construiu brilhante carreira. Dentre sua formação e experiência, pode-se
destacar que se formou em Matemática e Filosofia por Coimbra; foi Deputado da Junta do
funções, esteve atuante ainda no governo de Pedro I, sendo Conselheiro e responsável pela
138
Sobre a importância política da Academia de Ciências de Lisboa, ver o segundo capítulo deste trabalho.
139
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. Rio de Janeiro. Doc.16, fl.1, 24
de dezembro 1817. “Reconhecimento de José Bernardes de Castro a Zefferino Vitor de Meireles por seus
cargos”. Rio de Janeiro. Doc.17, fl.1, 02 de outubro de 1817.
140
Idem. fl.1.
141
Conforme registrou Innocêncio, Mariano José Pereira da Fonseca permaneceu como diretor da Impressão
Régia até 1815, quando foi substituído por José Saturnino da Costa Pereira. Ver: Innocêncio Francisco da
Silva. Dicionário … Op. cit., p. 318.
142
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Mariano José Pereira da Fonseca” In: Ronaldo Vainfas (org.).
Dicionário do Brasil Imperial.,. Op., cit., pp. 526 -527.
52
53
impressão oficial, destaca-se ainda o diretor José Saturnino da Costa Pereira144. Formado
Ordem de Cristo, tendo sido, mais tarde, sócio do Instituto Histórico e Geográfico
traduziu para o português o tratado elementar de mecânica, do físico “Mr. Francoeur”, para
uso de seus alunos146. No curso de seus estudos, esteve estreitamente preocupado com os
destinada a uma variedade de assuntos. Entre elas, destacam-se dicionários, obras ligadas à
Meireles, José Saturnino foi testemunho de que o empregado ocupou na Impressão Régia
Tantos elogios vieram por conta dos pedidos do empregado que, por sua vez,
solicitados ao monarca. Nestes termos, Zefferino procurava seguir uma ordem antiga,
editada por d. Rodrigo, presente no decreto de maio de 1808, cujas cláusulas ressaltavam a
143
Uma amostragem da formação e da inserção desses personagens no contexto da formação do Império luso-
americano, pode ser vista em Otávio Tarqüínio de Souza. “O meio intelectual na época da independência”.
In:_______ História dos fundadores do Império do Brasil – fatos e personagens em torno de um regime. v. 9.
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1960.
144
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. C 606;19. Rio de Janeiro.
Doc. 14, 02 de outubro de 1818.
145
Innocêncio Francisco da Silva. Dicionário … Op., cit.
146
Augusto Vitorino do Sacramento Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. v. 5. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, p. 185.
147
Idem. Ibidem.
148
Zefferino Vitor de Meireles. BN-DMss. Coleção Documentos Biográficos. C 606; 19. Rio de Janeiro. Doc.
14, 02 de outubro de 1818.
53
54
necessidade de confirmação dada pelo monarca149. Nas palavras de Marco Morel, tais
grupo que, segundo o autor, “emprestou racionalidade à análise dos problemas coloniais e
No que respeita a sua formação nas Artes e nas Letras, não nos foi possível
encontrar vestígios de uma educação formal, seja em Coimbra, seja nos trópicos. Da
mesma maneira, os bens deixados por ocasião de sua morte, não indicam imóveis ou
objetos sinalizadores de grandes posses, os quais poderiam ter proporcionado viagens com
letrado, tornou-se, portanto, possível devido aos longos anos que passou dedicado aos
trabalhos na Impressão Régia (de 1808 a 1821)154. Este espaço de formação técnica e
ideológica ganha ainda mais relevância como o âmbito que promoveu sua socialização
entre os demais membros de uma elite letrada (e política), pela ocupação que exerceu e
cultura monárquica. Nesses termos, a Impressão Régia, pode ser considerada como sua
maior instituição de identidade48. Sua passagem por lá, apresenta-se ainda como tendo sido
de suma importância enquanto um dos fatores mais representativos para suas conquistas
149
Ibidem.
150
Marco Morel. “Pátrias polissêmicas: República das Letras e imprensa... Op. cit.
151
Sobre a influência da geração de 1790 e da figura de Dom Rodrigo de Souza Coutinho, ver: Kenneth
Maxwell. “A geração de 1790”. In: _______Chocolates, piratas e outros malandros: ensaios tropicais. São
Paulo: Paz e Terra, 1999, pp. 157 - 208.
152
Kenneth Maxwell. “A geração de 1790” ... Op., cit., p. 191.
153
Kenneth Maxwell. “A geração de 1790” ... Op., cit., p. 191.
154
Apesar de não encontramos documentos que confirmem a saída da Impressão Régia, suas declarações por
meio do Diário do Rio de Janeiro, demonstram um desejo do tipógrafo em dedicar-se apenas à redação do
seu jornal, emitido a partir de 1821. Diário do Rio de Janeiro, nº 4, 05 de julho de 1821.
48
Sobre a importância das instituições na formação das elites letradas no Império do Brasil, ver: José Murilo
de Carvalho. A construção da ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro: Campus, 1980. Cap. I.
54
55
posteriores, quando, por exemplo, veio a obter licença real para imprimir seu periódico nos
prelos oficiais155.
Pela análise de seu Invetário Post Mortem156 foi possível verificar que a família do
marido e pai, Sr. Meireles, vivia sem grandes luxos, tirando seu sustento do próprio
respeito a vida deste importante tipógrafo, registramos que as informações aqui expostas
foram possíveis na medida em que encontramos este documento, que apesar de não
apresentar detalhes como bairro de moradia e/ou ano de nascimento e chegada na América,
forneceu dados importantes, os quais nos ajudaram a compor o que Pierre Bourdieu
Ainda que desconheçamos sua aparência física, pudemos perceber alguns de seus
costumes e gostos pela análise do perfil de suas roupas e objetos pessoais. No somatório de
seus bens foram encontradas algumas louças, como porcelanas inglesas; pratarias, entre
garfos e castiçais; pedras, como topázio branco; além de muitas jóias de ouro, alfinetes,
cordões e “correntes”. Pelas poucas roupas deixadas por Zefferino, verifica-se que nutria
uma conduta de homem simples, sem luxo em seus hábitos, deixando – entre dez lenços,
dois casacos e três meias – apenas um colete, um chapéu de palha e uma camisa de
cambrais158. Na relação de seus bens, encontramos ainda quatro escravos jovens, três
mulheres e um rapaz, este último contando apenas 16 (dezesseis) anos. Vale observar que,
juntos, os cativos compunham um terço do valor total de sua herança. Em outras palavras,
seus escravos compunham, ao lado de sua tipografia, o maior valor econômico para a
155
Moreira de Azevedo registrou que antes de fundar a Tipografia do Diário, Vitor de Meireles obteve
licença de seis meses para imprimir seu Diário do Rio de Janeiro na Impressão Régia. Manuel Duarte
Moreira de Azevedo.“Origem e desenvolvimento da imprensa no Rio de Janeiro”... Op. cit.
156
ANRJ. “Inventário Post Mortem de Zefferino Vitor de Meireles”. ID. 34570. Notação: 8371, maço 433.
157
Para a noção de superfície social, ver: Pierre Bourdieu. “A ilusão biográfica”. In: M. M. Ferreira &
J. Amado (orgs). Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1996, pp. 183 - 191.
158
ANRJ. Inventário Post Mortem de Zefferino Vitor de Meireles. ID. 34570. not. 8371, maço 433.
55
56
atenção para dois prelos de pás usados e 108 tipos de long-primer159. Estimamos que toda
esta quantidade de tipos tenha sido acumulada e guardada durante anos, talvez na
Impressão Régia, talvez em sua própria casa, sendo utilizados, mais tarde, nos trabalhos em
torno de sua “empresa”, iniciados em 1822. Vale registrar que todo esse processo veio por
meio da viúva Maria Luiza de Jesus Vianna ao solicitar ao Juizado de Órfãos, para que
fosse realizada a abertura do inventário em razão de seu filho menor, cujo nome e idade
Para realizar a avaliação dos bens tipográficos deixados por seu marido, como
Manuel Joaquim da Silva Porto, importantes livreiros da Corte; Genuíno de Almeida Costa
Prensas da Tipografia Nacional161. Dos longos anos em que esteve na imprensa régia, é de
autodidata, como alguns outros profissionais de seu meio162, realizando contatos políticos
importantes, participando de uma rede que entrelaçava cultura e poder. Em outras palavras,
o impressor e redator, vivia num “pequeno mundo estreito”, cujo laços, segundo Jean-
159
Ibidem.
160
ANRJ. Inventário Post Mortem de Zefferino Vitor de Meireles. ID. 34570. not. 8371, maço 433, fl. 70.
161
Em 1822, a antiga Imprensa Régia passou a chamar-se de Tipografia Nacional. Laurence Hallewell. O
Livro no Brasil – sua história. São Paulo: EdUSP, 1985.
162
Oliveira Lima destacou que era comum na Corte a formação profissional através de empreendimento
individual. Manuel de Oliveira Lima. D. João VI no Brasil:1808-1821. 3ªed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996,
p. 72.
56
57
tais afinidades foram de grande valia para que o tipógrafo obtivesse sucesso na subseqüente
Diderot, a maioria dos que exerciam as chamadas Artes Mecânicas, a faziam por
de seu ofício164.
Um dos escolhidos pela justiça para avaliar seus bens foi Manoel Joaquim da Silva
Porto. Sua amizade com Silva Porto, possivelmente, veio a partir da venda e da
colaboração de escritos para o seu periódico, o Diário do Rio de Janeiro, em sua loja de
livros, uma das mais conhecidas e freqüentadas da época165. Estabelecido na cidade desde
1811, Silva Porto montou sua própria tipografia em 1822, um mês antes de seu colega,
Meireles. Segundo Lúcia Neves e Tânia Bessone, ao mesmo tempo em que criava seu
próprio negócio, a Oficina de Silva Porto e Companhia, feita em sociedade com Felizardo
Régia, em 1822166, sendo ainda, a partir desse mesmo ano, distribuidor da Gazeta do Rio de
Janeiro. Acredita-se que a aproximação entre os dois proveio da atividade que lhes era
comum, além da convivência nos anos de 1821 e 1822 no interior da Impressão Régia. Pela
leitura do Diário do Rio de Janeiro, verifica-se que havia entrada, em sua loja de livros,
163
Jean François Sirinelli.”Os intelectuais”. René Remónd. Por uma nova ... Op. cit., p. 231-167.
164
Denis Diderot & Jean Lerond D’Alembert. Enciclopedia ou Dicionário raciocinado das ciências, das
artes e dos ofícios por uma sociedade de letrados: discurso preliminar. São Paulo: UNESP, 1989, p. 91 (grifo
meu).
165
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Tânia M. Bessone da Cruz Ferreira. “Livreiros no Rio de Janeiro:
intermediários culturais entre Brasil e Portugal ao longo do oitocentos”. Atas eletrônicas do 3º Colóquio do
PPRLB. Rio de Janeiro: Real Gabinete de Leitura, 2006. http//.www.realgabinete.com.br. Página acessada em
novembro de 2007.
166
Nesse ano, conforme foi destacado, ainda na Imprensa Régia, Zefferino concentrava suas atenções como
redator do Diário do Rio de Janeiro, até o mês de abril, quando montou sua Tipografia do Diário, situada,
inicialmente, na Rua dos Barbonos (atual Evaristo da Veiga).
57
58
periódico167. Em 1821, sua loja de livros, situada na Rua da Quitanda, nº41, foi também
no próximo capítulo, Silva Porto assinava a autoria de muitos dos Sonetos patrióticos
As relações pessoais do tipógrafo Meireles podem ser vistas, do mesmo modo, pela
avaliação dos colaboradores do jornal. Anunciantes e/ou financiadores que, por meio de
Se seus nomes não vêm à tona, pode-se ter uma avaliação de sua importância se
distritos. Mesmo, em boa parte do tempo, sem a presença de Zefferino, foram 57 anos
visão de Pierre Rosanvallon, o liberalismo171 constituiu uma cultura criada por intelectuais
167
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Tânia Maria Bessone da Cruz Ferreira. “Livreiros no Rio de
Janeiro: intermediários culturais... Op. cit., p. 2
168
Diário do Rio de Janeiro, nº1, 1º de junho de 1821.
169
Alguns dos colaboradores do jornal serão mostrados no segundo capítulo deste trabalho.
170
Diário do Rio de Janeiro, nº 1, 1º de março de 1822.
171
Pierre Rosanvallon ressaltou a polissemia e a complexidade do conceito de liberalismo. Para o autor, o
liberalismo existe em relação a um movimento, a um processo de ação e de reflexão, não podendo ser medido
por sua imobilidade. Sendo assim, completou que o liberalismo acompanhou a entrada das sociedades
modernas numa nova era de representação do vínculo social entre indivíduo e autoridade. Pierre Rosanvallon.
“Pensar o liberalismo”. In:_______ O liberalismo econômico: história da idéia de mercado. São Paulo:
Bauru, 2002, pp. 7-18. No caso luso-americano, os conceitos tomaram formas específicas na imprensa,
conforme destacou Lúcia Neves, “paralelamente à palavra, surgia o adjetivo”. Os constitucionais eram
58
59
europeus, tendo sido posta “em atividade no mundo moderno e que, a partir do século 17,
americano, tomava a força pela “imagem de futuro a alcançar”173. Embora sua opinião
esteja nas “entrelinhas” dos documentos analisados, o constitucionalismo seria uma forma
de poder que balizaria sua postura liberal, ou seja, a defesa do soberano mediante o
juramento e a obediência à Constituição lusa. Como salientou desde o início, e como será
abordado adiante, ao receber as matérias para seu jornal, exigia o editor Meireles que estas
atendessem aos limites da razão174. Postura, ao nosso ver, que deflagra sua diretriz política.
sua vida como tipógrafo – e que não nos foram possíveis, muitas das quais, identificar –,
havia, do mesmo modo, embates marcantes, que definiram alguns episódios de sua
trajetória. No mês seguinte do atentado que provocou sua morte, resguardando-se de novas
“queiram em todos os anúncios declarar nome e moradia para o redator guardar a devida
viúva, Maria Luiza de Jesus Viana, enfrentava continuidade, “não obstante os desejos que
adversários dos chamados corcundas”. Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. Corcundas e constitucionais...,
p. 153.
172
Idem, Ibidem. Op. cit., p. 18.
173
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Liberalismo político no Brasil: idéias, representações e práticas
(1820-1823)”. In: Lúcia Maria Paschoal Guimarães & Maria Emília Prado (orgs.). Liberalismo no Brasil
imperial: origens, conceitos e prática. Rio de Janeiro: Revan, 2001, p. 79.
174
Zefferino Vitor de Meireles. “Plano de trabalho para o estabelecimento de um útil e curioso Diário”.
Diário do Rio de Janeiro, nº 1, 01 de junho de 1821.
175
Diário do Rio de Janeiro, nº 9, 10 de setembro de 1822.
176
DRJ. 31 de dezembro de 1822. Como agentes da cultura impressa, quando diante da morte de seus
maridos, algumas viúvas acabaram dando continuidade aos trabalhos de impressão na cidade no início do
59
60
Diante de tão distintas realizações no campo das Letras, entendemos, que a figura
de Zefferino Vitor de Meireles, conjugou múltiplas formas que acabaram por alimentar
nossa perspectiva de compreendê-lo pelo que Aníbal Bragança entendeu como impressor-
tipografia e pelo domínio das técnicas de impressão do texto, cujo núcleo era a oficina
tipográfica. Nesse sentido, a trajetória de vida deste importante agente cultural e político do
discurso político (e jornalístico) dessa curiosa personagem podem ser vistos pela análise
das páginas de seu Diário do Rio de Janeiro, as quais serão apresentadas no próximo
capítulo.
CAPÍTULO 2:
O periódico Diário do Rio de Janeiro circulou na Corte por longos anos. De forma
ininterrupta, esteve atuante entre os anos de 1821 e 1878. Por sua extensão cronológica e
histórica, nas palavras de historiadores “o Diário era mais velho que o Império”178. Como
século XIX. Como exemplo, temos o caso da viúva de Manuel Antonio da Silva Serva (1819), que manteve
ao lado do sócio, José Teixeira de Carvalho, a tipografia do falecido comerciante português, instalado na
Bahia, desde 1811. Maria Beatriz Nizza da Silva. “Manuel Antonio Silva Serva”. In: ________ (coord.).
Dicionário da história ... Op. cit, pp. 758 -759.
177
Aníbal Bragança. Livraria ideal: do Cordel à bibliofilia. Niterói: Eduff, 1999.
178
No ano de 1845 saiu à luz nos meses de julho e agosto. Cf. “Catálogo de jornais e revistas do Rio de Janeiro
existentes da Biblioteca Nacional (1808-1889)”. Anais da Biblioteca Nacional. Edição fac-similada, 1881, e
ainda: Marcello de Ipanema & Cybelle de Ipanema. “Imprensa na Regência – observações estatísticas e de
opinião pública”. Rio de Janeiro: Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Brasileiro.
vol. 307, abr - jun, 1975, p. 93.
60
61
comerciantes; das maneiras de apreensão das notícias por seu público; das novas relações
peculiar absorção das luzes em terras americanas. Um contexto que deixava de ser colonial
para “vestir-se” sob novas roupagens. Dito de outro modo, após uma leitura atenta, o
uma vez mitigado pelos intelectuais lusos, apresentou na Corte impactos específicos,
uma espécie de arena da cidadania que começava a se delinear por meio também da
179
Na concepção do professor François - Xavier Guerra, o advento da Modernidade teve como essência a
invenção do indivíduo. Nesse sentido, o indivíduo concreto, agente empírico, presente, segundo o autor, em
toda a sociedade, converteu-se, a partir da Ilustração, no que chamou de “sujeito normativo das instituições”.
Sobre a Modernidade e seus impactos políticos e culturais na América espanhola, ver: François-Xavier Guerra.
Modernidad y independências: ensayo sobre los revoluciones hispânicas. Madrid: MAPFRE, 1992, p. 85.
180
A expressão é utilizada por Maria Lúcia Pallares-Burke, a respeito do periódico inglês The Spectator.
Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke. The Spectator. O Teatro das Luzes. Diálogo e imprensa no século XVIII.
São Paulo: Editora HUCITEC, 1995, p. 27.
61
62
imprensa181. Da mesma maneira, era através desse importante impresso que a Tipografia do
Diário, mantinha-se em constante interação com a sua sociedade. Afinal, uma publicação
regular era fonte representativa para manter o sustento das tipografias. A análise deste
condições que permitiram a sobrevivência da Tipografia do Diário, haja vista que a família
situados no contexto de separação do Império luso-americano era, sem dúvida, seu diálogo
acerca da necessidade de sua participação nas questões mais prementes da política. Autores
muitas das questões postas pela ação da imprensa. A vigilância sobre o exercício do poder
intervenção dos redatores nos assuntos que diziam respeito à feitura da primeira
181
No aspecto quantitativo, o movimento da imprensa em 1824 e 1825 declinou, voltando a erguer-se
somente a partir do ano seguinte, proporcionada pela instalação da Assembléia Geral do Brasil, em 1826.
182
Epígrafe do jornal: A Malagueta. Foi publicado na Corte entre os anos de 1821 e 1832 (com três
interrupções). A Malagueta, nº 1, 18 de dezembro de 1821.
183
O historiador Marcello Basile, em sua dissertação de Mestrado, ressaltou a carência de estudos que
analisem a influência de teóricos europeus no discurso e nas práticas da imprensa no Império brasiliense.
Marcello Otávio Néri de Campos Basile. Anarquistas, Rusguentos e Demagogos: os liberais exaltados e a
formação de uma esfera pública na corte imperial (1829-1834), 2000, Cap V. [Dissertação de Mestrado]. Rio
de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
62
63
maior espaço em suas poucas páginas. Diante desse vasto conjunto documental e peculiar
historiadores, ao longo dos séculos XIX e XX, matizados por diretrizes teóricas diversas,
voltaram-se para seu estudo, especialmente no período inicial, que diz respeito à passagem
“folhas” entendidas como culturais e/ou comerciais. Em outros casos, tais periódicos foram
utilizados apenas como fonte documental, não recebendo, assim, tratamento que
aspectos fundamentais para uma compreensão mais detida das transformações dadas tanto
no campo das relações sociais, quanto no que respeita à própria história da imprensa no
Império do Brasil.
Nesse sentido, e no que toca ao tema desta seção, o periódico, Diário do Rio de
segunda metade do século XIX, mas que deixou marcas, contudo, ao longo de quase todo o
século passado -, como um “jornal de anúncios”. Segundo essa visão, o periódico teria se
que tal noção revelava uma visão mais restrita da noção do político, acabando por delimitar
suas preocupações na busca de apreender os fatos sob uma óptica vertical, pautada na
hierarquia de poder do Estado. De acordo com essa vertente, a hierarquia social era o ponto
63
64
obediência dos súditos ao rei e à sua Corte, chegados para “civilizar” os trópicos.
Moreira de Azevedo, cuja ênfase estava voltada para a evolução de uma linha cronológica
dos periódicos; com destaque para seus precursores e suas origens. Em seus escritos,
destacou que o Diário do Rio de Janeiro foi a primeira “folha” a publicar anúncios e
notícias locais, posto que, como era de costume em uma sociedade intensamente movida
pela oralidade, até aquele momento, segundo o autor, os avisos manuscritos eram afixados
nas portas de igrejas ou nas esquinas das ruas184. No que respeita à análise do conteúdo do
periódico, nossa pesquisa verificou que ao autor não foi possível realizar a leitura do jornal,
haja vista sua afirmação equivocada do valor de venda, tanto no que diz respeito ao
exemplar único, quanto de seu valor por meio de assinatura mensal, o que invalida ainda o
epíteto criado, Diário do vintém185. Conforme observado em nosso estudo, o Diário do Rio
de Janeiro iniciou sua publicação custando quarenta réis, o dobro do que pregou a
historiografia186.
década de quarenta, centraram suas atenções também na escrita dos redatores. Sendo assim,
184
Alguns historiadores, como Nelson Werneck Sodré e Brasil Gerson, reafirmam estas características como
mera reprodução de Azevedo. Cf. Manuel Duarte Moreira de Azevedo. “Origem e desenvolvimento da
imprensa no Rio de Janeiro”. Rio de Janeiro: Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico
Brasileiro... Op. cit., p. 106.
185
Nelson Werneck Sodré. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, p. 50; Carlos
Rizzini foi, talvez, o único a destacar o valor avulso correto. Cf. Carlos Rizzini. O livro, o jornal e a
tipografia no Brasil: 1500 -1822. Rio de Janeiro / São Paulo. Kosmos, 1945, p. 372.
186
De acordo com Licurgo Costa & Barros Vidal, o Diário do Rio de Janeiro “gozava de grande
popularidade não só pelo seu preço, - ‘vinte réis o exemplar’ – como também pela independência com que
seu redator escrevia seus artigos”. Licurgo Costa & Barros Vidal. História da evolução da imprensa
brasileira. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1940, p. 19.
64
65
redatores são vistos sob vários ângulos: heróis188, mártires189 ou agitadores dos pasquins190.
poder, oriundos, assim, da luta de forças antagônicas. Visto ainda como veículo de
anúncios, o Diário do Rio de Janeiro foi ressaltado a partir da ênfase na sua contraposição
à política, ou seja, enquanto participante de uma imprensa “neutra”, cuja existência não
teria interferido na cena pública, constituindo, portanto, uma “folha omissa”191. Sua
período, reflexos, por sua vez, de acordo com essa linha, da disputa por espaço de ação
entre grupos econômicos na busca pela hegemonia192. Quase vinte anos depois, em 1985, o
tratar o Diário do Rio de Janeiro, “por seus pequenos anúncios”. Por ter resultado na morte
187
Os elogios eram direcionados aos redatores: José da Silva Lisboa e Frei Tibúrcio José da Rocha. As
críticas à linguagem utilizada nos pasquins, foram dirigidas especialmente aos redatores: Cipriano Barata e a
Antônio Borges da Fonseca. Cf. Helio Vianna. Contribuição à história da imprensa brasileira. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1945. Gondin da Fonseca. Biografia do jornalismo carioca (1808-1889). Rio de
Janeiro: Editora Quaresma 1941, p. 283. Carlos Rizzini. O livro, o jornal e a tipografia no Brasil:
1500 -1822. Rio de Janeiro / São Paulo: Kosmos, 1945, p. 372. Laurence Hallewell. O livro no Brasil: sua
história. São Paulo: EDUSP, 1985.
188
Gondin da Fonseca. Biografia do jornalismo carioca (1808-1889). Rio de Janeiro: Editora Quaresma
1941, p. 283.
189
Laurence Hallewell. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: EDUSP, 1985, p. 45.
190
Hélio Vianna. Contribuição à história da imprensa brasileira. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945, p.
405.
191
Nelson Werneck Sodré. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad,1999, pp. 50 -51, Carlos
Rizzini também considerou o Diário enquanto “omisso a questões políticas”. Carlos Rizzini. O livro, o jornal
e a tipografia no Brasil: 1500 -1822. Rio de Janeiro / São Paulo: Kosmos, 1945, p. 372
192
Um traço comum destes pesquisadores com os da década anterior, no entanto, foi a preocupação em dar
conta de uma vastidão de informações, a partir da confecção de uma única obra, em que o mote era conferir
destaque aos chamados “periódicos políticos”. Cf. José Honório Rodrigues. Revolução e contra-revolução no
Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves editora S.A, 1975, pp. 164 -166.
65
66
de seu redator, o periódico foi entendido pelo autor como “um desastre”, no que diz
francesa194, tais estudos promoveram um repensar das relações entre cultura e poder.
nosso objeto, neste novo cenário, no qual nos vemos imersos, o Diário é utilizado como
esferas sociais, o Diário do Rio de Janeiro ainda não foi contemplado com análise mais
aprofundada, a qual almejasse compreender sua importância tal qual produto e agente de
seu tempo, influenciando e sendo influenciado pelas novas diretrizes liberais, recém
Buscando preencher tal lacuna, a partir da leitura exaustiva de suas matérias, seus
193
Laurence Hallewell. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: EDUSP, 1985, p. 45.
194
Sobre a participação da imprensa como agente histórico, ver: R. Darnton & D. Roche (orgs.) Revolução
Impressa. A imprensa na França 1775-1800. São Paulo: Edusp, 1996.
195
Anúncios do Diário do Rio de Janeiro, circunscritos nos anos de 1821 e 1822, foram utilizados por Lúcia
Bastos enquanto documentos históricos, atores políticos e testemunhas das transformações de seu tempo. Cf.
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência
(1820-1822). Rio de Janeiro: Revan / FAPERJ, 2003. Marcello Basile utiliza-se da contextualização dos
jornais da época para traçar e analisar o panorama da imprensa e sua relação com a esfera pública literária e
política, no tempo do Governo Regencial. Cf. Marcello Otávio Néri de Campos Basile. O Império em
construção: projetos de Brasil e ação política na Corte Regencial, 2004. [Tese de Doutorado]. Rio de
Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
66
67
Zefferino Vitor de Meireles, através do Diário do Rio de Janeiro, criou um meio no qual
imersa nos rumos da modernização. Em busca de uma análise que ultrapasse sua dimensão
nação, bastante difundidos por seus colaboradores, especialmente nos anos de 1821 e 1822.
Se havia uma noção recorrente nos informes dados ao público leitor pelo periódico
Diário do Rio de Janeiro, certamente era aquela na qual destacava a utilidade de sua
existência. Publicado pela primeira vez em junho de 1821, o periódico esteve inserido em
preocupação quanto à legitimidade de sua prática, face à vigilância do governo. Seu caráter
utilitário, no entanto, aparecia como uma forma de afirmação enquanto órgão de auxílio à
coisa pública, pelos serviços que propunha, e assim conseguir manter seu negócio de pé.
De outro lado, sua postura deflagrava a ação de um letrado que, identificado com as idéias
196
De acordo com Carlos Rizzini, em 21 de março de 1821, o monarca d. João VI assinou decreto a
permitindo a ação da imprensa fora do Reino de Portugal. Cf. Carlos Rizzini. O livro, o jornal e a tipografia
no Brasil: 1500 -1822. Rio de Janeiro / São Paulo: Kosmos, 1945. Para Morel, essa atitude simboliza a
disputa de autoridade entre as Cortes revolucionárias da Cidade do Porto e os Bragança. Sobre o surgimento
da imprensa no Brasil, cf. Marco Morel e Mariana Monteiro de Barros. Imagem, palavra e poder: o
surgimento da imprensa no Brasil no século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. Cap. I.
67
68
destacavam. Como muitas das obras impressas e dos periódicos surgidos à época, sua
importância pode ser dimensionada a partir dos artigos selecionados pelo redator, ou seja,
dos anúncios e avisos, sejam do governo, sejam de particulares, que reunidos, expressavam
Guerra. Desse modo, pensando na força de seu periódico enquanto espaço de construção de
modos de viver e pensar, Zefferino Vitor de Meireles, fazia crescer seu principal
redação e edição diárias, de acordo com o Meireles, seu ofício seria uma “penosa tarefa”199,
logo que, em razão do bom acolhimento que felizmente vai tendo esta árdua
empresa, possa prudentemente dedicar-se unicamente a este ramo de serviço
Público esmerar-se em levar, quanto lhe for possível, ao maior grau de
perfeição tão útil estabelecimento, cujas grandes vantagens, talvez em breve
tempo, a experiência comprovará de uma maneira infragável [...]200
Tal visão, encontrada da mesma maneira em muitos outros documentos que cortam
XVIII, cresciam, desta vez, e cada vez mais, nos trópicos. Para o historiador Francisco
197
Para o tratamento da esfera pública na América ibérica, nos valemos das assertivas do professor François-
Xavier Guerra. De acordo com Guerra, a esfera pública é fruto da participação de variados estratos sociais,
resultado de experiências culturais comuns, não podendo ser demarcada apenas pela atuação de uma única
classe. François-Xavier Guerra. Modernidad y independências: ensayo sobre los revoluciones hispânicas.
Madrid: MAPFRE, 1992.
198
Diário do Rio de Janeiro, nº 5, 05 de junho de 1821.
199
Idem, nº 1 a 30, 01 a 30 de junho de 1821.
200
Idem, nº 6, 6 de junho de 1821.
68
69
da idéia de herança para aproximar-se a uma “aquisição possível”, como “uma força
crítico201.
luz por esse movimento cultural, o historiador destacou quatro pilares, nascidos na Europa,
estratégias, tendo a imprensa atuação inequívoca. Como parte de uma elite intelectual,
Zefferino Meireles recebeu e repassou os valores apreendidos nessa nova cultura de crítica.
Embora não fossem críticas diretamente ao soberano, foram trazidas à tona por sua
imprensa opiniões essenciais para a formação de uma nova forma de convívio social. Dos
quatro valores destacados por Falcon, apresentavam-se com maior intensidade deste lado
através de manuais cujo teor ensinava como deveriam ser entendidas algumas obras -
201
Francisco José Calazans Falcon. Iluminismo. 4ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1994, p. 65.
202
Idem. Ibidem. Op. cit., p. 65.
69
70
muitas delas ligadas ao Constitucionalismo, posto em causa nas reuniões das Cortes de
econômicos, pautado nas diretrizes lusas, norteadas pelo uso prático da razão. O
humanitarismo, por sua vez, esboçava-se intrínseco à tolerância, que longe de ligar-se ao
tema religioso, aparecia no sentido de ajuda aos mais necessitados. O caráter humanitário e
a tolerância podem ser vistos nos trópicos como germes da filantropia moderna204.
Pombal. No cargo de Primeiro Ministro do rei José I, Pombal exerceu uma política
ultramarinas. Sua forte presença nos negócios de Estado durou cerca de vinte anos. Sua
notoriedade veio a partir de 1755, por conta das metas criadas para a reconstrução da
cidade de Lisboa, abatida após forte terremoto. No governo josefino, Pombal conquistou
inúmeros adeptos para sua política. Seu plano de reformas, representou um meio de ampliar
apresentada, no que ficou conhecido como reformismo ilustrado. Em 1777, diante da morte
de José I, Pombal deixou o poder, dando lugar a um novo momento político, no contexto da
70
71
especialmente, pela atuação de seu afilhado, Dom Rodrigo de Souza Coutinho. A partir de
rainha, Souza Coutinho, comandando postos-chave da política, deu início a uma renovação,
Nesse sentido, através de sua política, contribuía para articular o utilitarismo pragmático
206
Lorelai Brilhante Kury e Oswaldo Munteal Filho. “Cultura Científica e sociabilidade intelectual no Brasil
setecentista: um estudo acerca da Sociedade Literária do Rio de Janeiro”. Acervo, vol. 8, n. 01/ 02, jan-dez,
1995, pp. 105 -122.
207
Ana Rosa Cloclet da Silva. Inventando a nação. Intelectuais Ilustrados e Estadistas Luso-brasileiros na
Crise do Antigo Regime português (1750-1822). São Paulo: Editora Hucitec / Fapesp, 2006.
208
Idem. Ibidem, p.112.
209
Oswaldo Munteal Filho. “Política e natureza no reformismo ilustrado de d. Rodrigo de Souza Coutinho”.
In: Maria Emília Prado (org.). O Estado como vocação: idéias e práticas políticas no Brasil oitocentista. Rio
de Janeiro: Access, 1999.
71
72
conhecimento científico deveria ser aplicado de forma prática e eficiente para ser capaz de
mudar a rota de uma futura decadência econômica do Reino de Portugal. A figura de Souza
qual uma fonte e uma alternativa para o sentido da colonização, ou seja, como um elemento
útil ao Estado. Sendo assim, Dom Rodrigo priorizou o incentivo e o aproveitamento dos
Na visão de Maria Odila Dias, era de interesse da Coroa incentivar os estudos práticos e, a
partir da transmigração da Corte real portuguesa para o Brasil, ampliar o número daqueles
que poderiam desenvolver uma formação científica. Foi nesse sentido, defendeu a autora,
sobre a natureza, cujos termos, preconizados pelos homens de letra franceses, a partir da
Encyclopédie, acabou por ser a palavra de ordem do pensamento europeu do século XVIII e
210
Oswaldo Munteal Filho. Uma Sinfonia para o Novo Mundo: a Academia Real de Ciências de Lisboa e os
caminhos da Ilustração luso-brasileira na crise do Antigo Sistema Colonial, 1998, p. 235. [Tese de
Doutorado]. vol. 2. Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
211
Maria Odila da Silva Dias. “Aspectos da ilustração no Brasil”. Rio de Janeiro: Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, nº 278, 1969, pp. 105-170.
212
Em seu último capítulo, Ana Rosa C. da Silva, trata da dinâmica de idéias e projetos políticos forjados no
reformismo ilustrado através da análise do pensamento e das ações andradinas no processo que a autora
chamou de “invenção da Nação”. Cf. Ana Rosa Cloclet da Silva. Inventando a nação. Intelectuais Ilustrados
e Estadistas Luso-brasileiros na Crise do Antigo Regime português (1750-1822). São Paulo: Editora Hucitec
/ Fapesp, 2006, cap. V, pp. 337 - 412.
213
Lorelay Brilhante Kury. “Descrever a pátria, difundir o saber”. In: ________ (org.). Iluminismo e Império
no Brasil. O Patriota (1813-1814). Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2007, p. 143.
214
Idem. Ibidem.
72
73
aparece representado na imprensa pelo jornal Diário do Rio de Janeiro, que, por meio do
especialmente através da flora medicinal e sua divulgação. Já nos anos iniciais de sua
Camargo215. Em 1811, saiu dos prelos da régia oficina, a obra: Memória sobre o encéfalo-
cele curado no Hospital Real Militar da Corte do Rio de Janeiro, e recolhida por
pragmática do conhecimento, em seu sentido amplo, uma vez como assunto na imprensa,
Beatriz Nizza da Silva, naquele tempo “os livreiros do Rio de Janeiro, se preocupavam
espaço nas páginas de seu jornal as publicações que atendessem aos quesitos “que a razão e
a sua natureza exigissem”218. Por suas palavras, verifica-se que o periódico apresentou uma
feição bem mais rica daquela difundida pela historiografia. Após uma leitura mais detida de
215
Rubens Borba de Moraes & Ana Maria de Almeida Camargo. Bibliografia da impressão Régia. São
Paulo. EDUSP/ Livraria Kosmos Editora, 1993, p. XIX. Muitas das publicações da Impressão Régia podem
ser encontradas em Carlos Rizzni. O livro, o jornal e a tipografia no Brasil: 1500 -1822. Rio de Janeiro / São
Paulo: Livraria Kosmos, 1945, p. 321.
216
BIBLIOTECA NACIONAL. Seleção de cento e cinqüenta livros e periódicos impressos da 1808 a 1958.
Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1958.
217
Maria Beatriz Nizza da Silva. Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821). São Paulo: Editora
Nacional, 1977, p. 147.
218
Zefferino Vitor de Meireles. “Plano de trabalho para estabelecimento de um útil e curioso Diário”. Diário
do Rio de Janeiro, nº 1, 1º de junho de 1821, p. 1.
73
74
seu jornal, nota-se uma postura norteada pelo objetivo de instruir o público leitor acerca das
inovações científicas do mundo europeu, contribuindo para fazer da cidade sede do Império
português, um local “digno” de abrigar costumes mais modernos, tão em voga na Europa.
Como metas de realização de seu grande ideal, publicado durante todo o mês de junho,
ganhava destaque a idéia de contribuir através de uma “tão útil publicação”219. Sendo
Sobre a inovação destacada, informava que o europeu “Mr. Precht”, inventou um aparelho
para iluminar o edifício do Instituto Politécnico da cidade de Viena221. Vale lembrar que o
pública da cidade-Corte222.
Seção bastante comum nos números iniciais, era a que trazia os assuntos relativos
cobre e, segundo o redator, “com poucas necessidades de conserto” 223. Embora possam ser
encontradas em várias partes do jornal, estas seções não se apresentavam como anúncios.
Constituíam informes sem autoria, que podem ser atribuídos aos desejos do próprio
219
Diário do Rio de Janeiro, nº 1 a 30, 1 a 30 de junho de 1821.
220
Ibidem, nº 7, 07 de junho de 1821.
221
Ibidem.
222
Nosso recorte temporal trata dos anos compreendidos entre 1821 e 1825. Neste período, foram intensos os
anúncios relacionados a melhorias no espaço físico da cidade.
223
Diário do Rio de Janeiro, nº 6, 06 de junho de 1821.
74
75
verifica-se uma grande sensibilidade aos apelos da técnica em sua aplicação prática nas
pelos homens de letras e de ciência em relação aos mais necessitados, fortalecida ao longo
do século XIX, especialmente na Europa. Nesta condição, por suas páginas, o Diário fazia
chegar aos trópicos novas possibilidades de lidar com as enfermidades urbanas, seja no que
224
Virgínia de Albuquerque de Castro Buarque. Mundanismo e brisa renovadora: moral e sociedade no Rio
de Janeiro Imperial (1850-1870), 1994. [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
225
DRJ , nº 2, 02 de agosto de 1821.
226
DRJ, nº 4, 05 de agosto de 1822.
227
DR J, nº 5, 05 de junho de 1821.
75
76
médicos (e do redator) com a miséria. Vale observar que os grupos compostos de homens e
mulheres brancos e pardos pobres, somados aos escravos africanos, constituíam maioria
filantrópica: a pobreza como um mal, uma doença que devia ser curada com a ajuda de um
saber médico que ganhava espaço na Corte. Conforme mostraram Magali Engel e Maurício
ajuda dos grupos privilegiados aos menos abastados. De acordo com os autores, a cultura
iluminista européia condenava as formas de ajuda feitas, até então, pela Igreja – como, por
utilitarismo, no auxílio aos mais necessitados. A sua vertente política estava implícita pela
aproximação e algum controle dos grupos pobres, possibilitadas pelo saber médico. Um
228
DRJ, nº 6, 08 de fevereiro de 1822.
229
Ibidem.
230
Magali Engel & Maurício Zeni. “Filantropia”. In: Ronaldo Vainfas (org.). Dicionário do Brasil Imperial.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2002 , pp. 278 - 279.
231
Idem. Ibidem, p. 278
76
77
Literatura232. No início de junho 1821, mês de seu nascimento, publicou informes que
existentes233. Um ano depois, em junho de 1822, publicava curiosa notícia sobre a mudança
da cor da pele de um indígena. Segundo o redator, um índio, cuja doença não foi
mencionada, aos sessenta anos, passava a apresentar porções claras em seu corpo234. Talvez
deste, mas de muitos dos jornais surgidos à época235. Como parte das transformações de
seu tempo, Zefferino refletia e reagia de formas peculiares, cujos elementos apresentam-se
bastante disponíveis pela leitura de suas páginas no contexto. Certamente, pode-se afirmar
que a veia comercial era a grande marca de sua especificidade. Todavia, esta característica
reunia em si pequenos outros aspectos que atendiam a questões diversas e grupos sociais
distintos. Por essa razão, para realizar a análise de seu material nos valemos do conjunto de
dos editais e avisos do governo; discursos do Príncipe Regente, Pedro I, serão considerados
232
Annaes Fluminenses de Ciências, Artes e Litteratura. O exemplar existente na Fundação Biblioteca
Nacional é de janeiro de 1822.
233
DRJ, nº 3, 03 de junho de 1821.
234
DRJ, nº 10, 10 de junho de 1821.
235
Tânia Ferreira utiliza-se do termo para tratar o periódico O Patriota, como um órgão herdeiro do
iluminismo inglês. Ao nosso ver, o Diário do Rio de Janeiro é, do mesmo modo, herdeiro daquele movimento
cultural, mitigado sob ótica da política lusa. Cf. Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira. “Redatores,
livros e leitores em O Patriota”. In: Lorelai Brilhante Kury (org.). Iluminismo e Império no Brasil. O Patriota
(1813-1814). Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 2007, pp. 41- 66.
236
As seções “Notícias particulares” compunham avisos mais ligados a negociações ou chamados de um
indivíduo leitor-anunciante a outro, um leitor possível. Os anúncios de vendas, compras, aluguéis eram
dispostos em outro espaço, conforme mostraremos mais adiante, nesta seção.
77
78
bastante grandes237. Traço comum à época, os escritos vinham como uma feição artesanal:
quatro a oito páginas, apresentando preço médio de vendagem de $40 (quarenta réis). Nos
matérias traziam a opinião de seus redatores acerca dos episódios ocorridos. No caso do
Diário do Rio de Janeiro, a postura de seu editor, Meireles, que escrevera durante um ano e
comentários dispostos entre uma matéria ou outra. Em busca também de pinçar seu
A primeira imagem destacada, aparece logo no início das matérias. Acima de todas,
alegoria mitológica romana: a Voz Pública. Como se sabe, a Voz Pública, representava a
incansavelmente nos dias e nas noites, levando a notícia aos quatro cantos do mundo. No
237
Vale lembrar, como referido no primeiro capítulo, que Zefferino Meireles montou inicialmente seu
periódico nos prelos da Impressão Régia, passando a estabelecimento próprio em março de 1822.
238
De acordo com Carlos Rizzini, a figura fazia uma menção à alegoria romana conhecida como Fama ou
Voz Pública. Apareceu no jornal nos meses de junho a novembro de 1821. Carlos Rizzini. O livro, o jornal e
a tipografia no Brasil: 1500 -1822. Rio de Janeiro / São Paulo. Kosmos, 1945, p. 372.
78
79
79
80
De acordo com Pierre Grimaldi, a Voz Pública habitava um palácio nos confins do
universo239. De lá, enviava de volta as notícias que lhe chegavam, vigiando o mundo
inteiro. No tempo do Diário, no entanto, a figura parecia informar o público sobre os novos
verificar nos periódicos e panfletos da Corte, uma postura ativa que não mais aguardava
passivamente as resoluções, mas que, ao contrário, contracenava com os fatos que viriam a
liberdade de consciência”241.
Outro recurso imagético do qual lançava mão, pode ser visto ao final daquelas
comunicações, sendo construída, desta vez, pela figura de Hermes. Na mitologia grega,
Hermes era, dentre outras atribuições, além de mensageiro dos Deuses, o Deus protetor dos
trazia asas na cabeça e nos pés. Na cabeça, usava ainda um chapéu de abas largas,
239
Pierre Grimaldi. Dicionário da mitologia grega e romana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, p. 165.
240
Ana Cristina Araújo. “Um império, um reino e uma monarquia na América: as vésperas da independência
no Brasil”. In: István Jancsó (org.). Independência, história e historiografia. São Paulo: HUCITEC / Fapesp,
2005, pp. 235 -270.
241
Idem. Ibidem, p. 235.
242
DR J, nº 5, 05 de junho de 1821.
80
81
cruzadas, enroscadas em uma “vara de ouro”243. Esta alegoria foi utilizada durante os
primeiros quatro meses do jornal, quando o número de anúncios não ocupava toda sua
extensão. Após esse tempo, talvez devido ao aumento do volume dos anúncios, a figura não
mais apareceu. Ao que consta, foi utilizada inicialmente também como recurso para ocupar
os espaços deixados por uma possível falta de matérias. Da mesma maneira, tal
procedimento pode revelar a visão do redator acerca do peso informativo das imagens, no
o apelo ao livre trânsito da palavra. As asas (elemento presente nos dois casos), podem
do público em relação aos fatos e na busca de sua resolução. Nas palavras do curador Ivan
culturais245.
243
Idem. Ibidem. Op. cit.
244
A figura do Deus, Hermes, aparece de junho de 1821 a outubro de 1821, sempre ao final das matérias,
variando de tamanho.
245
Ivan Gaskell. “História das imagens”. In: Peter Burke (org.). A Escrita da História: novas perspectivas.
São Paulo: Ed.UNESP, 1992, pp. 237 - 272.
81
82
82
83
período, tendo sido utilizado com mais intensidade na imprensa a partir de 1870. A este
mensagem246. Nas páginas do Diário do Rio de Janeiro, no entanto, tal recurso editorial,
em outros termos muito utilizado atualmente na imprensa industrial, não passou ileso pelas
mãos de Zefferino. A opção em lançar mão da imagem mostra-nos, mais uma vez, um
grande entendimento acerca de seu ofício; desta vez, dedicado à expansão de seu próprio
entendimento do valor do comércio para a sociedade moderna européia, dos séculos XVIII
modo e, contrapondo a “errônea idéia” de hierarquia, de uns sobre outros, atuaria pela
The Spectator, Pallares-Burke destacou que para seus redatores, seriam “imperfeições do
246
Marco Morel e Mariana Monteiro de Barros. Imagem, palavra e poder: o surgimento da imprensa no
Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, pp. 64 -70.
247
Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke. The Spectator. O Teatro das Luzes. Diálogo e imprensa no século
XVIII. São Paulo: Editora HUCITEC, 1995.
248
Idem. Ibidem. Op. cit., p. 83.
83
84
Coroa portuguesa a examinar a capitania do Ceará, em 1799 e a de Cabo Verde, nos anos
sobre o comércio. Em texto publicado nas páginas do jornal O Patriota, no ano de 1814,
comércio civiliza ao promover a pacificação da relação dos costumes, assim como viabiliza
contatos e afirma o poder do Estado. Nesse sentido, na visão de Feijó, a prática comercial
seria uma forma de superação das limitações impostas a estes habitantes, residentes da
constituía duas faces da mesa moeda. A própria postura de Zefferino de montar um órgão
com grande espaço dedicado aos serviços urbanos, no lugar de assumir uma postura
iluminismo tropicalizado, moldado, como foi visto, pelos valores monárquicos lusos, o
Diário do Rio de Janeiro crescia em meio à idéia da expansão das trocas e do valor do
comércio no sentido amplo: uma atividade lícita, legítima, ao mesmo tempo, expressão do
249
Idem. Ibidem. Op. cit., p. 86.
250
O Patriota circulou na Corte entre os anos de 1813 e 1814. Como periódico doutrinário, seus redatores
almejavam difundir as luzes nos trópicos. Cf. Lorelai Brilhante kury (org). Iluminismo e Império no Brasil. O
Patriota (1813-1814). Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2007.
251
Apud. Manoel Luiz Salgado Guimarães. “As Luzes para o Império: história e progresso nas páginas de O
Patriota”... Op. cit., p. 95.
252
Idem. Ibidem.
253
Cabe ressaltar o espaço dedicado a anúncios sobre a publicação e venda de obras em geral, as quais
passavam a integrar a vida dos habitantes da Corte do Rio de Janeiro.
84
85
mundo moderno. Basta lembrar que o contexto vivia mudanças na relação do jogo de
poder, em que a política do Príncipe Dom João VI, em favor da Inglaterra, simbolizado no
mercadorias na ex-colônia.
com que, a partir de agosto de 1821, o editor e redator Meireles, passasse a numerar os
anúncios publicados. Com essa medida, segundo o próprio, teria como acompanhar melhor
seus resultados. A partir de então, ao final de seus números, emitia o aviso dos “anúncios
cujos fins já foram realizados”255. Ao noticiar essa mensagem, Meireles parecia ter
cumprido sua tarefa. Ademais, tal postura constituía mais uma maneira de conquistar a
o Diário do Rio de Janeiro, passou por nova estruturação de páginas, com uso otimizado
possuir duas colunas. Nesse ínterim, ao sair dos prelos da Impressão Régia, o periódico
apresentou o dobro do número de anúncios. Deve-se ressaltar que em uma cidade que
crescia, as páginas deste Diário serviam também como meio de acesso de uns aos outros. O
aviso a seguir refere-se a questões mais simples do cotidiano: “Joaquim José Gomes
Rodrigues faz ciente ao Respeitável Público aviso a um Caixeiro Antônio que esqueceu
254
Zefferino Vitor de Meireles. Diário do Rio de Janeiro, nº 10, 11 de abril de 1822.
255
DRJ, nº 2, 02 de agosto de 1821.
256
DRJ, nº 6, 09 de janeiro de 1824.
85
86
Se não era lido pelo seu receptor direto, alvo de seu “problema”, ao menos teria por
86
87
verificamos uma linha crescente do número de anúncios. De acordo com Lúcia Neves,
desde o início da década de vinte, nas ações desses periódicos, “os acontecimentos diários
atrasados, eram feitas, a partir de então, a público. Em janeiro de 1824, Luiz Manoel
anúncio anterior, feito pela proprietária da casa onde morou, situada na rua do Conde,
causa”259. Segundo Luiz Manoel, seu aluguel costumava ser pago na forma bimestral e o
bimestre atual não havia vencido. Segundo afirmou, estava apenas passando uma
temporada com a família em seu sítio, localizado em São Gonçalo. Manuel enfatizava sua
indignação, desejando que a proprietária não ousasse “desacreditá-lo” com “coisa tão
imprensa como canal de construção de opiniões. A veiculação correta dos fatos era de
suma importância, portanto, para a defesa e manutenção da honra e dos lugares sociais.
No vasto universo temático abordado pelo periódico, havia grande destaque para
auxílio aos negociantes e comerciantes da cidade. De acordo com Maria Beatriz Nizza, a
imprensa era o único meio posto à disposição dos negociantes nacionais e estrangeiros para
257
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Leituras e leitores no Brasil: o esboço frustrado de uma esfera
pública de poder”. Revista Acervo, v. 8, nºs. 01/ 02, jan-dez, 1995, pp. 123 - 138.
258
Diário do Rio de Janeiro, nº 5, 08 de janeiro de 1824.
259
DRJ, nº 3, 04 de dezembro de 1822.
260
DRJ, nº 2, 03 de janeiro de 1824.
87
88
demonstra sua grande importância. Sabemos que a dinâmica e o papel dos portos no
sociedades; leilões, além de chamadas de credores aos seus clientes, na busca pelo
pagamento de suas dívidas. Dentro da grande categoria considerada aqui como comércio,
(aulas); obras publicadas; tecidos (“fazendas”), ferragens, material para desenho; serviços
eficiência no ensino eram bastante comuns263. Como se sabe, questões ordinárias como, por
enterro dos mortos, constituíam grande problema a ser resolvido na cidade, especialmente
do homem moderno com seu habitat. Ao serem postas a público enquanto preocupações
coletivas, a busca pela cidadania vertia na chamada esfera pública. Nas palavras de
de participação e pela sua capacidade de atuar como uma instância crítica de pressão da
261
Maria Beatriz Nizza da Silva. Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821). São Paulo: Ed.
Nacional, 1977, p. 147.
262
Conforme afirmou o redator, as observações meteorológicas seriam recolhidas ás sete horas da manhã, ao
meio dia e às cinco horas da tarde do dia anterior à sua publicação. Zefferino Vitor de Meireles. “Plano para o
Estabelecimento de um útil e curioso Diário”. Diário do Rio de Janeiro, 1 a 30 de junho de 1821.
263
DRJ, nº 8, 10 de fevereiro de 1825.
88
89
maneira de os indivíduos enxergarem seu papel na sociedade, uma vez que redefiniam os
por “evidenciarem anseios e objetivos”268 de sua sociedade. Uma das ações editoriais mais
horário e local para a efetiva entrega dos mesmos. Segundo Juliana Gesuelli, nos anúncios
encontramos uma questão fundamental para a história da leitura: a interação do leitor ativo
com o jornal a partir de relatos cotidianos e “os interesses que o leitor desejava transmitir
no momento em que optou por utilizar-se desse espaço como um meio privilegiado de
interação social”269. A disposição dos assuntos no Diário do Rio de Janeiro, pode ser
melhor visualizada a partir de sua classificação, conforme disposto no gráfico abaixo. Para
o espaço de quatro páginas, optamos em considerar a valoração de 25% para cada uma
delas.
264
Marcello Otávio Néri de Campos Basile. Anarquistas, Rusguentos e Demagogos: os liberais exaltados e a
formação de uma esfera pública na corte imperial (1829-1834), 2000, p. 327.[Dissertação de Mestrado]. Rio
de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
265
Juliana Gesuelli Meirelles. A Gazeta do Rio de Janeiro e o impacto na circulação de idéias no Império
luso-brasileiro (1808-1821), 2006, p. 62. [ Dissertação de Mestrado]. Universidade Estadual de Campinas.
266
Idem. Ibidem.
267
Embora trate da análise da imprensa em período posterior, suas considerações ajudaram sobremaneira
nosso entendimento acerca da significação e do impacto dos anúncios do Diário do Rio de Janeiro. Lilia
Moritz Schwarcz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadania em São Paulo, no final do século
XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
268
Idem. Ibidem. Op. cit., p. 99.
269
Juliana Gesuelli Meirelles. Op. cit., p. 133.
89
90
Gráfico 1:
5% 3% 1relativos a escravos
8%
8% 40% 2informações gerais
3assuntos dedicados aos militares
4editais do governo
5obras, periódicos e folhetos publicados
36% 6Avisos do redator
forma inversa, ou seja, de baixo para cima. Bastante comum, era reservar um espaço
pequeno, em quase todos os números, para informes do redator ao público (3%). Em tais
recepção dos anúncios, algumas notícias que continham as exigências para publicações. As
maneira, tal qual é mostrado no gráfico 1, eram comuns avisos acerca da disponibilidade à
venda de novas obras publicadas (5%), seja na forma de panfletos, folhetos ou periódicos
ou livros. Em todo o período analisado, verificamos uma linha ascendente no tamanho dos
alguns números, meia pagina do jornal. Espaço garantido, tinham ainda os avisos do
governo (8%). Uma das maiores anunciantes, eram a Intendência da Polícia e o Senado da
90
91
somente da figura da Voz Pública e do horário das missas e dias santos. Foram incluídos na
assinatura de José Bonifácio. Após a efetiva separação, era em nome de Dom Pedro I que
destinados ao grupo dos militares (8%). Dirigidos do governo para seus membros ou de
anunciantes individuais para seus iguais ou subordinados. Pela leitura atenta de suas
páginas, verificou-se que o Diário constituiu um veículo que recebeu notável dedicação de
muitas das corporações militares. Um espaço Diário, que tornava possível, o diálogo
O gráfico aponta ainda para a maciça presença dos “informes gerais” (36%). Na
referida classificação, optamos por agrupar tipos variados de anúncios. Nesse sentido,
escravidão ou às obras para leitura. Por outro lado, a influência na dinamização do diálogo;
270
Infelizmente, não foi possível encontrarmos vestígios que informassem se os avisos do Governo eram
feitos de forma gratuita como os avisos.
91
92
Por fim, o gráfico mostra ainda a grande importância do jornal enquanto um balcão de
escravos (40%). A grande quantidade de anúncios relativos ao tema revela a intensa atuação do
informação, era altamente utilizado pelos donos de escravos. Infelizmente, não foi possível
do gráfico 2:
Gráfico 2:
0
1821 1822 1823 1824 1825
271
Conforme recorrentemente afirmado pelos administradores,na publicação de todos os anúncios (que era
feita gratuitamente), era dada a preferência aos provenientes dos assinantes, não podendo, assim, ser
considerada hipótese de aumento arrecadação dos editores.
92
93
próprio redator era possuidor de três escravos, cujos valores correspondiam a uma parcela
Conforme referido, nos anos contemplados por esta pesquisa, o número de vendas
informavam sobre a sua preferência em vendê-los para regiões de fora da Corte. Embora
não tenham exposto os motivos de tal preferência, talvez seja possível uma especulação:
distantes entre si, os cativos veriam dificultados possíveis ajuntamentos para fugas. Da
mesma maneira, uma vez vendidos para longe, estariam impedidos de retornar
ressaltada por Lília Schwarcz, indica que as fugas dos cativos “davam-se de maneira
de cativos (seja para o trabalho doméstico, seja para ocupação em armazéns); os pedidos de
cativos encontrados. Vale ressaltar que, como outra característica do período, os anúncios
fuga e/ou cicatrizes que pudessem facilitar seu reconhecimento. Dessa forma, analisar
aspectos dos anúncios trazidos à luz pelo Diário do Rio Janeiro constitui uma forma de
pensar a sociedade carioca em consonância com valores híbridos: enquanto modo de fazer
imprensa nos moldes postulados pelo mundo moderno - pela defesa da opinião e do diálogo
272
Ver inventário post mortem, localizado no primeiro capítulo deste trabalho.
273
Lilia Moritz Schwarcz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadania em São Paulo, no final
do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 138.
93
94
aos modos de viver advindos da colonização portuguesa de outrora e que deixava marcas
uma só direção. Ao contrário, “assumiu muitas formas diferentes entre diferentes grupos
sociais”274. Com base nesta diretriz - que marcou os caminhos de uma renovação nas
abordagens da história cultural -, buscamos entender algumas das ações políticas da escrita
textos com o contexto específico. Relações marcantes no convívio dos habitantes da Corte
carioca, inseridas, por sua vez, nos conflitos e referenciais políticos tributários do
lembrou a professora Maria Beatriz Nizza, a leitura era ensinada de forma dinâmica, como
um convite mais acessível, tanto por seu preço, quanto pelo modo de apresentar as
274
Robert Darnton. “História da leitura”. In: Peter Burke. A escrita da história. São Paulo: UNESP, 1992,
pp. 201-212.
275
Sobre o movimento vintista, em uma perspectiva distinta da questão classista burguesa, ver: Valentin
Alexandre. Os sentidos do Império. Questão nacional e questão colonial na crise do Antigo Regime
português. Porto: Afrontamento, 1993.
276
A professora Maria Beatriz Nizza da Silva proferiu a Conferência: “Embelecer e enobrecer a sede da
Corte”, no Congresso 1808: a corte no Brasil (Niterói: Universidade Federal Fluminense, março de 2008). O
Congresso proporcionou um espaço de repensar as relações político-culturais luso-americanas, em tempo de
aniversário dos duzentos anos da chegada da família real nos trópicos.
94
95
riqueza de elementos dispostos em suas páginas, entretanto, demonstra que o contato com
a informação tomava outras formas. Nos muitos textos escritos por seus leitores é patente o
teor mais ligado a uma formação política que, em tese, abria-se a todos, pela multiplicação
da notícia, proporcionada pela imprensa. Quanto a essas formas, em virtude dos debates
nação.
culturais de difícil captação, a análise dos conceitos mostrou-se instrumento crucial para
melhor dimensionarmos as relações entre o tempo passado e os fatos vividoa por aqueles
conceitos por meio de suas páginas, desse modo, constitui lançar luz sobre questões mais
mundo complementares entre redator e leitores278. Como afirmou Maria de Lourdes Lyra,
277
Diário do Rio de Janeiro, nº 3, 04 de julho de 1821.
278
Vale lembrar que o redator acabou falecendo em novembro de 1822. Nesse sentido esteve à frente das
publicações do Diário do Rio de Janeiro por cerca de um ano e meio, de 1821 a 1822.
95
96
uma identificação anterior dos naturais do Brasil com a nacionalidade portuguesa”279. Vale
lembrar que muitos de seus subscritores (e leitores) viviam as mesmas condições políticas,
ou seja, a disputa entre grupos pela valorização de projetos que atendessem suas
páginas, era posta como causa urgente a discussão do que era entendido como pátria.
virtudes lusas compunham os sentimentos entre portugueses dos dois hemisférios. Durante
nação aparecia especialmente revestida, antes de tudo, pelo significado de ser português.
para a idéia de um cenário de fraternidade entre os indivíduos dos dois lados do Atlântico.
valores de seu imaginário enquanto dispositivos possíveis de luta para selar o bom
Ao Nome Português
Nome excelso, que imenso espaço abrange;
Do Pólo Ocidental ao disco ardente;
Tocha acesa na luz do rico Oriente;
Senhor das palmas, que produz o Ganges:
Tu que fizeste os públicos alfanges;
Largar com susto ao Malabar ingente;
Espantar as horríficas falanges:
Tu que vives no Céu, no Mar, na Terra;
Impresso nos padrões da heroicidade,
A tenaz opressão de nós desterra:
Este canto, que inspira a liberdade,
Excelso Nome Português encerra
Contigo no salão da Eternidade.
279
Maria de Lourdes Viana Lyra. “Pátria do cidadão: a concepção de pátria / nação em Frei Caneca”. Revista
Brasileira de História, v. 18, nº 36, 1998.
96
97
no coração dos súditos; o caráter heróico e eterno de sua história. Características moldadas
em um passado distante, mas que perpassavam ao longo de sua história, recebendo novas
historiador István Jancsó chamou a atenção para a estreita ligação entre a Monarquia e seus
americanos, entendiam-se como portugueses por serem todos súditos do Rei de Portugal.
português nascido nas quatro partes do mundo o era por integrar um Estado cujo
sacrossanto princípio da unidade [é] a Monarquia [...] a quem tem a fortuna de pertencer”.
Foi nesse contexto que a reflexão sobre as concepções de pátria e de nação se impôs e, nos
esquemas teóricos então esboçados no mundo português, seus sentidos foram sendo
280
Diário do Rio de Janeiro, nº 5, 06 de agosto de 1821. (grifo meu).
281
István Jancsó. “Independência, Independências”. In:_________ (org.) Independência: história e
historiografia. São Paulo: Hucitec / Fapesp, 2005, p. 18.
282
Para Darnton, uma outra forma de apreensão das formas de leitura é a captação dos modos de como ela foi
ensinada em cada cultura. A este respeito, ver: Robert Darnton. “História da leitura”. In: Peter Burke. A
escrita da história. São Paulo: UNESP, 1992, p. 201.
97
98
conforme o mesmo Darnton destacou, o ato de ler não é “simplesmente uma habilidade,
mas uma maneira de estabelecer significado, que deve variar de cultura para cultura”283.
A opinião acerca dos rumos da nação portuguesa era conduzida de forma a ressaltar
a fraternidade dos povos de seu Império, tendo sido, nestes meses, a principal notícia
trazida pelo veículo. Assim como outros periódicos situados no mesmo período, o Diário
forma ou de outra, como visto, não deixava escapar questões políticas mais urgentes285.
habitantes dos “dois hemisférios”. Isto se registra, em parte, pelo que lembraram os
historiadores István Jancsó e João Paulo G. Pimenta, ou seja: “a força coesiva do conjunto
constituir apenas uma parte (das mais importantes) de um Império venturoso, capaz de
subsistir, mesmo diante da força da natureza. Sua opinião pode ser vista em diversos
localização do território que, a despeito de inúmeros outros reinos como, por exemplo, o do
Canadá; o de São Domingos e o da Suíça, “não nos consta ter havido terremoto, pelo
283
Idem. Ibidem.
284
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Leitura e leitores no Brasil (1820-1822): o esboço frustrado de
uma esfera pública de poder”. Acervo. v. 8, nº 01/ 02, jan - dez, 1995, p. 129.
285
É válido ressaltar que o universo político do período é encontrado de maneira mais direta durante os anos
em que o jornal esteve redigido e editado por Zefferino Meireles. Após o seu falecimento, em novembro de
1822, o novo administrador e a “viúva Meireles”, publicaram um jornal mais dedicado a anúncios em geral.
Os fatos políticos não recebiam, desse modo, comentários por parte de leitores, apenas vinham retratados por
aviso do governo e nas entrelinhas dos anúncios.
286
István Jancsó & João Paulo G. Pimenta. “Peças de um mosaico (ou apontamentos para o estudo da
emergência da identidade nacional brasileira)”. In: Carlos Guilherme Mota (org.). Viagem Incompleta – a
experiência brasileira (1500-12000). Formação: histórias. São Paulo: Senac, 2000, p. 140.
287
Diário do Rio de Janeiro, nº 6, 06 de junho de 1821.
98
99
terremoto político, urgia por parte das elites intelectuais fornecerem ao público uma leitura
dos eventos, seja diretamente ou por meio de metáforas. No início de 1822, preocupado
próprio periódico um texto sobre os últimos acontecimentos, cujo título era: Memória
o editor Meireles deixava claro a sua insatisfação quanto ao desejo das Cortes portuguesas
englobando múltiplas comunidades locais, que uma vez localizadas nos trópicos, uniam-se
por um território composto pelas mesmas instituições e por um mesmo governo” 292. Os
laços que muitos dos colaboradores do Diário buscavam manter firmes, apareciam ainda
288
Ibidem.
289
Ibidem, nº 10, 12 de janeiro de 1822.
290
Ibidem.
291
Ibidem.
292
François-Xavier Guerra. “A nação na América espanhola: questão das origens”. Revista Maracanan. ano
1, nº 1, 1999 / 2000, pp. 9 - 30.
99
100
perpetuavam), e os dois lados do Atlântico. Da mesma maneira, muito recorrente nos textos
são os vocábulos nação e pátria. Vale observar, que tais termos possuíam conotações
No início do século XIX, o termo nação possuía dois significados principais que,
embora coexistisem, eram bastante distintos entre si. Conforme ressaltou Morel, um
293
Diário do Rio de Janeiro, nº 7, 07 de agosto 1821. Grifo meu.
294
O autor destaca a provisoriedade e a historicidade dos conceitos em seu diálogo com o contexto e com os
agentes políticos. A este respeito, ver: Reinhart Koselleck. “Uma História dos Conceitos: problemas teóricos
e práticos”. Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, nº 10, 1992. Do mesmo autor, ver: Reinhart
Koselleck. Futuro pasado. Para uma semântica de los tiempos históricos. Barcelona/ Buenos Aires / México:
ediciones Paidos, 1993.
295
Reinhart Koselleck. Futuro pasado. Para uma semântica de los tiempos históricos. Barcelona / Buenos
Aires / México: ediciones Paidos, 1993, p. 15.
296
Para Koselleck, “o tiempo historico (...) está vinculado a unidades políticas y sociales de acción, a ombres
concretos que actúan y sufren, a sus instituiciones y organizaciones. Todas tienen (...) um ritmo temporal
propio”. Op. cit., p. 14.
297
Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke. “Quentin Skinner”. In: _________. As muitas faces da História. Nove
entrevistas. São Paulo: UNESP, 2000. Cap. 9.
100
101
primeiro era “mais antigo, de conteúdo étnico”298. Um segundo, era intrínseco ao âmbito
Quanto ao primeiro, foi encontrado nos anúncios do Diário, nas seções em que o assunto
no Rio de Janeiro estavam baseadas no local de nascimento, suas nações (Brasil ou partes
da África) 300. Um exemplo do segundo conceito pode ser visto em um soneto, escrito pela
leitora Marianna Pimentel Maldonado301. Seu escrito evocava questões pautadas em uma
prioridade desses textos, que eram emitidos dentro do espaço comum de suas quatro
páginas em relação aos anúncios. Segundo “D.Marianna Pimentel”, seu escrito era
destinado a “uma sua amiga”302, residente da Corte. O texto, exposto aqui em parte, era
ainda como espelhos e miragens, para usar as noções levantadas pelo historiador Marco
298
Marco Morel. “Pátrias polissêmicas: República das Letras e imprensa na crise do Império Português na
América”. In: Lorelai Brilhante Kury (org.). Iluminismo e Império no Brasil. O Patriota (1813-1814). Rio de
Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 2007, pp. 15 - 40.
299
Idem. Ibidem.
300
Segundo a autora, “um escravo brasileiro poderia ser chamado de ‘Maria parda’ ou ‘José crioulo’,
enquanto que um africano seria ‘Maria Moçambique’ ou ‘Antônio Angola’. Cf. Mary C. Karasch. A vida dos
escravos no Rio de Janeiro (1808-1850)”. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
301
Diário do Rio de Janeiro, nº 2, 02 de agosto de 1821.
302
Ibidem.
303
Ibidem. (grifo meu)
101
102
Morel304. No caso de Mariana Pimentel, sua amiga pode ser entendida como seu espelho
formando suas miragens. É possível verificar ainda que a autora deixa transparecer o
desejo de união da pátria, deflagrando aquilo que Xavier-Guerra entendeu – para o caso da
mãos do príncipe regente, seu herói. Conforme registrou Maria de Lourdes Lyra, naquele
América”307.
Em junho do mesmo ano, foi publicado outro Soneto dedicado “A Sua Majestade”,
escrito por Joaquim Manoel de Faria e Abreu, professor régio de gramática, promotor do
Juízo e procurador fiscal da Comarca de Sabará308. Ao lado deste, vendiam-se escritos com
formam e executam”309. Na concepção do redator e tipógrafo Silva Porto, por sua vez, a
glória de ser português, veio a partir de sua pátria. Como local de seu nascimento, a cidade
A cidade do Porto
304
Marco Morel. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na
Cidade Imperial (1820-1840). São Paulo: HUCITEC, 2005. Cap. VI.
305
François-Xavier Guerra. “A nação na América espanhola: questão das origens”. Revista Maracanan,
ano 1, nº 1, 1999 / 2000, pp. 9 -30.
306
Maria de Lourdes Viana Lyra. “Pátria do cidadão: a concepção de pátria / nação em Frei caneca”. Revista
Brasileira de História, vol.18, nº 36, 1998. DRJ, nº 22, 24 de junho de 1821.
307
Idem, Ibidem. Op. cit.
308
Diário do Rio de Janeiro, nº 9, 10 de agosto de 1821.
309
DRJ, nº 3, 04 de julho de 1821.
102
103
jornal após a independência política do Reino do Brasil. A partir dos meses finais de 1822,
Império do Brasil. O decreto de janeiro de 1823, revelou uma nova relação posta entre
“Brasileiros” e “portugueses”.
310
DRJ, nº 4, 05 de julho de 1821.
311
Ibidem, nº 5, 06 de julho de 1821.
312
Diário do Rio de Janeiro, nº 19, 21 de janeiro de 1823.
103
104
reinos, a partir de então, apareciam em pólos distintos, norteados por interesses divergentes.
Conforme frisaram István e Pimenta, “numa situação de crise a urgência de sua superação
percebido como desordem”314. Foi nesse contexto que emergiu o conceito de brasileiro, o
qual, antes inexistente, começava a ser cunhado na concepção do indivíduo fiel à “Causa do
período que se seguiu à independência, o sentido político da nação, remetendo aos membros de
uma unidade política de caráter associativo. Em outras palavras, crescia uma maneira nova de
passividade para fundir-se nas noções de pátria, línguas, costumes, dando vez a um
outras palavras, caberia ao Estado informar quem fazia e onde estariam as causas da
313
István Jancsó & João Paulo G. Pimenta. “Peças de um mosaico (ou apontamentos para o estudo da
emergência da identidade nacional brasileira”. In: Carlo Guilherme Mota (org.). Viagem Incompleta – a
experiência brasileira (1500-12000). Formação: histórias. São Paulo: Senac, 2000, p. 143.
314
Idem. Ibidem.
315
Diário do Rio de Janeiro,n , 21 de janeiro de 1823. É interessante observar que nesse momento, a idéia do
brasileiro enquanto indivíduo nascido nas dimensões territoriais americanas, no novo Império do Brasil,
surge no bojo do crescimento da concepção romântica de construção da nação; pela idéia da existência de um
povo miscigenado, fruto de um passado e, portanto, de uma história e línguas comuns, resultado do processo
colonizador.
316
Em seu estudo, o autor se debruça sobre a nova linguagem política trazida à tona pela Revolução francesa.
Cf. François–Xavier Guerra. “Metamorfoses do conceito de Nação durante os séculos XVII e XVIII”. In:
István Jancsó (org.). Brasil: formação do Estado e da Nação. São Paulo: HUCITEC / Fapesp / Unijuí, 2003.
317
Diário do Rio de Janeiro, nº 12, 15 de junho de 1824.
104
105
os “Brasileiros” “às armas”, para adesão à luta contra os “pernambucanos”, definidos por
região. Nessa perspectiva, o nome escolhido pelo governo para a liderança da região, José
Carlos Mayrink da Silva Ferrão, acabou por aumentar os conflitos em torno da questão da
de toda a complexidade dos fatos, que englobavam aspectos econômicos e políticos, o que
Conforme ressaltado por Lyra, desde o início de 1822, quando era intensa a defesa
importante líder, o frade carmelita Joaquim do Amor Divino Caneca, uma concepção
divergente do que era então pregado pelo governo, acerca da noção de pátria. Segundo
assegurou a autora, para Frei Caneca, era falsa a idéia de pátria enquanto lugar de
nascimento320. Esta seria considerada, então, enquanto uma das razões para as inimizades
verificamos que eram professores, políticos, redatores e tipógrafos. Ou seja, uma parcela da
elite intelectual que através do Diário expressava e formava os demais grupos sociais.
Diário, a consideração dos leitores enquanto situados no grupo das elites, de todo modo,
318
Ibidem.
319
Marco Morel. Frei Caneca: entre Marília e a pátria. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000, p. 76.
320
Maria de Lourdes Viana Lyra. “Pátria do cidadão: a concepção de pátria / nação em Frei caneca”. Revista
Brasileira de História, vol. 18, nº 36, 1998.
321
Idem. Ibidem.
105
106
tais escritos são reveladores de sua preocupação com o encaminhamento dos fatos
políticos, bem como de alguns questionamentos de seu papel e lugar naquela sociedade.
redator emitiu aviso, em julho de 1821 (portanto, um mês depois de seu início), avisando
A partir desses escritos e declarações oficiais nota-se que o Diário deixa de ser uma
simples vitrine de notícias para se apresentar enquanto um veículo capaz de conter os mais
demonstra sua identificação com a evolução da cidade e pode ser vista na tabela abaixo:
TABELA 1:
Conforme mostrado na Tabela 1, havia uma estreita aliança entre o editor e redator
análise, foram constantes os anúncios de boticas como locais de assinatura de novas obras.
322
DRJ, nº 4, 05 de julho de 1821.
106
107
De acordo com Eulália Lobo323, o censo de 1821, apesar de conter falhas, expressou para o
período 79.000 habitantes, sendo 54,4% de homens livres e 45,6% de escravos. Sendo
assim, entendemos que a quantia de cerca de mil exemplares como tiragem do Diário do
Para tanto, a concepção dos indivíduos acerca de sua identificação com a pátria e
com sua nação constava nas prioridades de suas ações. Nesse sentido, nota-se que nas
de referenciais culturais (e simbólicos); manifestados não apenas pelo ato de ler, mas
também pelo ato de fidelidade, ao comprometer-se com ela, e fazê-la repercutir dentro e
323
Eulália Maria Lobo. História administrativa do Rio de Janeiro (do capital comercial ao capital industrial
e financeiro). Rio de Janeiro: IBMEC, 1978.
324
Como afirmou Roger Chartier, a leitura é uma prática cultural e, antes de tudo, “uma ação criadora,
inventiva e produtora”, não podendo ser anulada no texto lido. Cf. Roger Chartier. Práticas de leitura. São
Paulo: Editora Estação Liberdade, 1996, p. 78.
107
108
CAPÍTULO 3:
Segundo registrou Wilson Martins, durante muitos anos, no âmbito da Idade Média
européia, a “impressão de tipos” era uma “arte que se punha em segredo”. As cópias de
textos manuscritos eram feitas à mão por copistas eclesiásticos, que iam aos poucos
do autor, estas eram características do mundo moderno que começava e as letras impressas
eram suas contemporâneas325. Como afirmou Roger Chartier, uma vez criado e saído das
325
Wilson Martins. A palavra escrita. História do livro, da imprensa e da biblioteca. 2ª ed. São Paulo: Ática,
1996. O crescimento do individualismo moderno, em um plano mais geral, pode ser visto em: Luis Dumont.
O individualismo. Uma perspectiva da antropologia moderna. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1985.
108
109
prensas, o impresso, avulso ou regular, desde seu início, tornava-se dependente das
estudos debruçados sobre esta temática sinalizaram a chegada da prensa a partir das ações
do tipógrafo judeu português Antonio Isidoro da Fonseca, deixando de lado, muitas vezes,
outros indícios acerca de sua existência. De todo modo, como visto em capítulos anteriores,
seja em que cenário tenha sido iniciada, o estabelecimento de uma imprensa regular ganhou
peso no Rio de Janeiro, a partir de 1808. De acordo com essa perspectiva, inicialmente,
apresentou-se em sua face oficial, como fruto da necessidade de mudanças mais amplas,
bem como da difusão das ordens régias e das notícias européias nos trópicos, desde cedo
com intensa vigília. Seja em solo americano ou europeu, nas palavras de Roger Chartier, “a
ao conteúdo dos impressos, deixando de lado sua relação com local de em que era
Isto posto, o estudo da imprensa não pode prescindir de uma análise de seu espaço de
criação, seja na sede de uma antiga casa de um homem público, seja no térreo de um
constituírem como espaços públicos muitas vezes abertos a todos aqueles interessados, seja
para financiar publicações, seja para adquirir informações por meio de compras eventuais,
109
110
Pela atividade de venda de seus impresso e livros, bem como de todo o tipo de mercadoria,
economia de mercado, seja pelo viés da realização de uma pedagogia política por meio das
idéias disseminadas por sua produção. Na intenção de observar sua dinâmica, foram
perspectiva de melhor alcançarmos seu perfil editorial, foi contemplada toda a gama de
produções encontradas.
oitocentos, vivia-se uma peculiar recepção e subseqüente moldagem dos valores liberais na
controle mais rígido do governo e fazia transparecer sob a ação de particulares a nova
cultura política liberal. Na Corte, tais novidades eram difundidas e vendidas a passos
110
111
simbólicos, quase imperceptíveis para seus contemporâneos toma grande importância por
estar intimamente ligado aos sistemas de poder. Ao circularem entre o público, portanto,
não começou na Corte, mas na Província da Bahia, pelas mãos de Manuel Antonio da Silva
Serva (1811). Embora sejam grandes os percalços em se buscar indícios que digam respeito
foi possível por meio da fundação de empresas comerciais que necessitavam passar por
toda uma rotina de licenças reais. Em geral, os propulsores dessa nova atividade, assim
edificavam na América uma dupla sociabilidade, baseada na estreita relação entre comércio
como visto no segundo capítulo, o comércio era entendido como parte de um movimento
amplo trazido pelo Iluminismo331. Assim, “o século novo” europeu332, entendia comércio e
329
Na visão de Pierre Bourdieu, o poder simbólico é um poder invisível e, por isso, quase imperceptível. No
entanto, possui um grande alcance na transformação social. Cf. Pierre Bourdieu. A economia das trocas
simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974. Do mesmo autor, ver: _______ O Poder Simbólico. Lisboa: Difel,
1989.
330
Cabe ressaltar que são muitas as lacunas para um estudo sobre as produções de tipografias particulares na
Corte. Para nos auxiliar em nossa abordagem, utilizamos a proposta de agir como um detetive, na junção de
pistas, no acompanhamento dos sinais, a fim de juntá-los e construir um sentido para a história. Cf. Carlo
Gizburg. “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”. In: ________ Mitos, emblemas e sinais: Morfologia e
História. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
331
Verbete “Commerce”. In: Denis Diderot & Jean Lerond D’ALembert. Enciclopedia ou Diccionaire
Raisonné dês Sciences, dês Arts et dês Métiers (1751-1772). Ed.integral. Marsanne: Édition Redom, s.d. CD-
Room.
332
Eduardo Frieiro. O diabo na livraria do Cônego. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1957.
111
112
comércio, de cultura e de política. De acordo com essa perspectiva, fazer comércio era
Bahia333. A fundação da Tipografia de Silva Serva ocorreu apenas três anos após a
Laurence Hallewell, Silva Serva era um antigo comerciante de Lisboa que chegou à Bahia
em fins do século XVIII, vendendo, entre outros objetos, “móveis, cristais e livros
importados da Europa”. No mesmo ano, Silva Serva teria recebido permissão do governo
para ir até a Inglaterra, adquirir seu primeiro prelo. No curso da viagem, contratou artesãos
que o auxiliariam em seu novo estabelecimento. A tão esperada permissão para abrir sua
oficina veio no ano seguinte, quando em viagem pela Corte do Rio de Janeiro. De acordo
com Hallewell, ao que tudo indica, os projetos de Silva Serva apontavam para a direção de
montar uma biblioteca nos moldes da Biblioteca Real da Corte. As obras que abordam sua
trajetória, apontam para o amplo diálogo e comércio travado entre o comerciante baiano e a
Corte do Rio de Janeiro. Seu principal contato teria sido com o livreiro Silva Porto, que
passou, posteriormente, a ser seu distribuidor. Os altos preços cobrados pelos prelos
oficiais da Impressão Régia, contribuíram para a possibilitar sua entrada no ramo. Sua
presença na Corte pode ser vista em muitos dos anúncios dos periódicos da cidade do Rio
333
Sobre o tipógrafo Silva Serva, cf. Maria Beatriz Nizza da Silva. A Idade de Ouro do Brasil e as formas de
sociabilidade baianas. In: Lúcia Maria Bastos Pereiras das Neves; Marco Morel & Tânia Maria Bessone da
Cruz Ferreira (orgs.). História e Imprensa. Representações culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro:
DP&A, 2007, pp. 155 -175.
334
Laurence Hallewell. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: EDUSP, 1985, p. 57. Ver também: Wilson
Martins. A palavra escrita... Op. cit.
112
113
Inglaterra fora-lhe negada, recebendo ajuda do governo apenas para sanar poucas dívidas.
Alguns historiadores apontam o tipógrafo como o primeiro particular a investir na área dos
materiais impressos. Ao longo dessa atividade, Silva Serva esteve muitas vezes na Corte,
estabelecendo contatos até 1819, vindo a falecer em uma dessas viagens e deixando sua
empresa nas mãos de sua viúva, a qual manteve seu negócio, formando uma nova
À luz do que ressaltou Tânia Bessone, lidar com impressos no período constituía
uma “aventura”, levada a cabo por corajosos homens de letras (redatores e/ou editores) e
comerciantes, desejosos de divulgar suas opiniões e idéias e atingir um público leitor mais
amplo. Nessa perspectiva, segundo a autora, riscos pessoais e financeiros eram constantes,
pois tais indivíduos dependiam de subscrições e outros apoios, já que a leitura não era
anúncios sobre a construção de prensas não são fáceis de encontrar o que pode indicar a
335
Laurence Hallewell. Op. cit., p. 60.
336
Tânia Maria Bessone da Cruz Ferreira. “Redatores, livros e leitores em O Patriota”. In: Lorelai Brilhante
Kury (org.). Iluminismo e Império no Brasil. O Patriota. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007, p. 45 .
337
DRJ, nº 4, 05 de janeiro de 1822. Quanto às ruas, a primeira recebe atualmente o nome de Rua dos
Andradas; e a segunda, de Rua Buenos Aires. Joaquim Manuel de Macedo. Memórias da Rua do Ouvidor.
Rio de Janeiro: Cia das Letras, 1995. Cap. XIV.
113
114
Como visto no anúncio acima, das cinco prensas solicitadas, duas eram destinadas
aos tipógrafos Moreira e Garcez; uma para a Tipografia Nacional; uma sem indicação de
proprietário (apenas dizia ser encomendada para Rua da Cadea, nº 50 – atual Rua da
Quanto aos tipógrafos, no âmbito da Corte imperial, a partir de 1821, outros nomes
começavam a se apresentar ao lado de Silva Serva. Dentre eles, como referido, tiveram
destaque Manuel Joaquim da Silva Porto e o Zefferino Vitor de Meireles. Sua presença,
demonstraram que Silva Porto era ainda integrante da Sociedade Literária de Monte Pio,
marcando, para além de uma identificação afetiva, uma estreita presença nos dois lados do
tipografia esteve altamente imbricada a questões políticas que tomavam conta da cena
Nacional, no intervalo de quatro anos, a Tipografia Silva Porto e Cia, publicou cento e
Tipografia do Diário, emitindo, no intervalo de dez anos, 77 títulos. Após sua morte, em
1822 (assunto de nosso primeiro capítulo), sua viúva, Maria Luiza de Jesus, deu
338
Ibidem.
339
De acordo com os autores, Silva Porto era tesoureiro da referida Sociedade. Cf. Cybelle de Ipanema e
Marcello de Ipanema. Silva Porto: livreiro na Corte de D.João - editor na independência. Rio de Janeiro:
Editora Capivara, 2007, p. 81.
340
BNRJ. “Catálogo de Tipógrafos Brasileiros”. Seção de Obras Raras. Rio de Janeiro, s.d.
341
ANRJ. Maria Luiza de Jesus Viana. Inventário post-mortem. Notação 4447. Maço 0246.
114
115
seu casamento com Nicolau Lobo Vianna, a Tipografia do Diário passou a chamar-se:
Tipografia 1821 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1831
Silva 02 56 18 27 14
Porto342
Do - 18 3 8 2
Diário343
Fonte: BIBLIOTECA NACIONAL. “Tipografia de Silva Porto e Cia” e “Tipografia do Diário”. Catálogo de
tipógrafos brasileiros. Rio de Janeiro, s.d.
para dimensionar a importância das tipografias no seu espaço sócio, cultural e político. Os
âmbito dos gabinetes para chegar à cena pública, intensamente abordados e reformulados
por meio da imprensa. De início, a visualização conjunta das tabelas indica um ofício
uma imprensa movida pela nova conjuntura cultural e política, em que o crescimento da
palavra pública era proporcional à sua imbricada teia, em cujas tramas o leitor teve
Após a explosão inicial, e por conta dos novos rumos tomados pela política
342
A Tipografia de Silva Porto existiu entre os anos de 1821 e 1825.
343
A Tipografia do Diário surge em 1822. Em 1821, o periódico, Diário do Rio de Janeiro, era impresso na
Tipografia da Impressão Régia. Tal veículo, foi contabilizado apenas em 1822.
115
116
vertiginosamente, apenas retornando com nova força por volta de 1828, quando a imagem
do Imperador já não mais atendia aos anseios de muitos grupos sociais. De acordo com
Lúcia Neves, entre os anos de 1821 e 1822, as tipografias particulares eram em número de
cinco: a de Moreira & Garcez; do Diário, Silva Porto; a Oficina dos Annaes Fluminenses
tipografias. Para o período compreendido entre 1821 e 1831, Paulo Berger, por sua vez,
uma análise quantitativa dessas “oficinas” de impressão, pela própria mobilidade das
sociedades que eram feitas e desfeitas em um “piscar de olhos”. Para além dos motivos
apontados, deve-se destacar que a discrepância analítica referente aos dados quantitativos
de financiar produções em ritmo constante por meio das assinaturas periódicas. Tal fator
contribuía para que ocorresse uma alta rotatividade nas publicações. Em segundo lugar, o
pequeno capital acumulado nas mãos dos tipógrafos (proprietários) para investimento no
seguidos345.
Em terceiro lugar, as constantes associações, levadas a cabo por esses mesmos agentes,
344
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves.Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência
(1820-1822). Rio de Janeiro: Revan / FAPERJ, 2003, p. 93. Recentemente, nova pesquisa desenvolvida
destacou que estiveram atuantes dezenove tipografias. Marco Morel, Fernanda Costa Carvalho de Andrade &
Myriam Paula Barbosa Pires. História da imprensa no Brasil império: abordagem metodológica e síntese
histórica (1822-1849). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Rede Alfredo de Carvalho /
Faperj / CNPq), 2004. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Trabalho de iniciação científica).
345
Inicialmente a Tipografia do Diário funcionou na Rua dos Barbonos (atual Rua Evaristo da Veiga), nº 72.
Dois anos depois (1824), teria mudado para a Rua da Ajuda, nº 39. Em 1825, passou para o nº 105, da mesma
rua. Em 1828, passou para outro número da mesma rua. Infelizmente, não encontramos indícios que sinalizem
as razões das mudanças de endereço.
116
117
essa oficinas particulares fundadas mais com entusiasmo do que capital, para defender os
atividade, como referido, tê-la como principal negócio representava ainda correr grandes
riscos, não só financeiros, como também políticos. Tais sociedades, provocavam também
constantes mudanças nos nomes de seus estabelecimentos, razão principal das disparidades
Cadeia, n°95, a Tipografia de Torres e Costa. Em 1828, Francisco Luis Caldas e Souza,
reclamadas348.
pequeno número de assinantes (em torno de 136) que continha. Destacou, entretanto, que
poderia continuar apenas no caso de triplicar o número de assinantes (o que daria em torno
de quatrocentos)349. No mesmo ano, o português José Vitorino dos Santos e Souza lançou o
346
Rubens Borba de Moraes. Livros e bibliotecas no Brasil colonial. São Paulo: SCCT-SP, 1979.
347
Paulo Berger. A tipografia no Rio de Janeiro: 1808 -1900. Rio de Janeiro: Companhia Indústria Nacional
de Papel Pirahy, 1984.
348
Diário do Rio de Janeiro, n°1, 01 abril de 1822.
349
O Volantim, n°41, 18 out. 1822. Embora o periódico tenha circulado até o n° 50, sua existência foi curta,
pois sua periodicidade era diária, não saindo apenas em dias santos e feriados.
117
118
publicou ser seu único número, caso “não houvesse mais subscritores do que até agora se
tem apresentado”350. Outro caso, foi o do periódico Macaco Brasileiro (1822), impresso na
Tipografia de Silva Porto & Cia, que, segundo um historiador, embora tenha vindo à luz
quartas e sextas e completar as faltas de edições com números extras352. Em abril de 1822,
a Tipografia do Diário recebeu carta contendo reclamações do público leitor sobre faltas no
Diário do Rio de Janeiro. Sua resposta veio em seguida, ao publicar que “o mesmo redator
agradece cordialmente as advertências, que algumas pessoas, sem dúvida zelosas do Bem
Público, lhe têm feito sobre as faltas, que têm notado no serviço do Diário (...)”353.
Mariana Monteiro de Barros consideraram esse momento como chave em que se delineava
Regime, para uma nova sociabilidade em que se fortaleciam e se consolidavam debates por
350
O periódico encerrou com apenas um exemplar. Annaes Fluminenses de Letras, Artes e Litteratura, nº 1,
janeiro de 1822. Apud Carlos Rizzini. O livro, o jornal e a tipografia no Brasil: 1500 - 1822. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 1988, p. 368.
351
Carlos Rizzini. O livro, o jornal e a tipografia no Brasil 1500 -1822. São Paulo: Imprensa Oficial do
Estado / Imesp, 1988, p. 371.
352
O Spectador Brasileiro, n°1, 01 jul. 1824. Sobre a atuação deste importante livreiro e editor, ver Marco
Morel. “A revolução nas prateleiras da Rua do Ouvidor”. In: ________ As transformações dos espaços
públicos. Imprensa , atores políticos e sociabilidade na Cidade Imperial (1820-1840). São Paulo: HUCITEC,
2005. Cap. I.
353
Diário do Rio de Janeiro, n°1, 01 abril de 1822.
354
Marco Morel e Mariana monteiro de Barros. Imagem, palavra e poder... Op. cit., p. 77.
118
119
só as livrarias serviam como pontos de encontro e serviços para os redatores, como também
oitocentos, pode ser sugestiva uma comparação com a atividade oficial. Em análise acerca
das obras saídas dos prelos da imprensa régia no período, Lúcia Neves destacou a
produção de 115 títulos. A tratar-se do espaço de dez anos (1821 a 1831) nosso
levantamento apresentou (na tabela acima) a quantia de 191, apenas em duas. Embora trate
de contexto inicial, o levantamento da autora nos ajuda a visualizar o teor dos impressos,
bem como do perfil dos leitores e idéias em voga no entorno da idéia de Independência. De
acordo com Lúcia Neves, era através dos impressos e das obras que se difundia o
caráter pragmático das elites pelo peso das obras incluídas na categoria Ciências e Artes.
Por outro lado, se cresciam as publicações de caráter útil, eram ainda de grande peso
especialmente publicados entre os anos de 1821 e 1823, cujo teor contribuiu para veicular e
355
Otávio Tarqüínio de Souza. História dos fundadores do Império do Brasil - Fatos e personagens em torno
de um regime..., pp. 32 - 34. Sobre este assunto, ver Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves; Tânia Maria
Bessone da Cruz Ferreira. “Livreiros franceses no Rio de Janeiro - 1808-1823”. In: História Hoje - Balanço
Perspectiva. IV Encontro Regional da ANPUH. Rio de Janeiro: Associação Nacional dos Professores
Universitários de História, 1990, pp. 190 - 202.
119
120
gráfico seguinte:
Educação
5%
8% Religião
10%
Artes e Literatura
55%
12%
Dedicadas aos redatores (cartas ou
5%
escritos nos jornais)
5% Economia
Outros
Fonte: Catálogo de Tipógrafos Brasileiros. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro (Seção de Obras Raras).
O gráfico 5 foi elaborado com base nos 288 títulos apontados, entre periódicos e
Nacional (1821-1831)357. Embora tenha sido feito sob parâmetros diferentes da tabela de
Lúcia Neves, o gráfico registra o crescimento dos impressos pela força das publicações
particulares e pela participação do púbico leitor quanto aos assuntos que emergiam à ordem
do dia. As metáforas aparecem lado a lado à veemência da linguagem. Quanto ao teor dos
impressos, a porção dedicada às Artes e Literatura tinha peso considerável (12%), trazendo
356
Lúcia Maria Bastos Pereiras das Neves. Corcundas e constitucionais... Op. cit., p. 34.
357
Os catálogos utilizados foram: catálogo manuscrito disposto na seção de Obras Raras e o catálogo
On-line. www.bn.br. Página acessada em março de 2008. O catálogo manuscrito foi retirado de circulação em
dezembro de 2007, ficando acessível apenas o catálogo on-line, em um total de 244 títulos. As publicações de
Silva porto foram cedidas pela professora Lúcia Maria Bastos, em um total de 114. As tipografias
responsáveis pela publicação desses títulos foram: Tipografia de Gueffier e Cia; Tipografia de Pierre
Plancher; Tipografia de Torres; Tipografia de Lessa e Pereira; Tipografia do Diário; Tipografia de Moreira e
Garcez; Tipografia de Dalbin e Cia; Tipografia de Cunha e Vieira; Tipografia Imperial e Constitucional de
Villeneuve e Cia; Tipografia de Roger Ogier; Tipografia de Silva Porto.
120
121
impressos, tanto nos folhetos quanto nas páginas de periódicos, constavam matérias
dedicadas aos redatores (10%). Alguns chamavam atenção para os “erros” em seu
alcance de uma solução. Havia ainda aqueles que apoiavam os redatores em questões
políticas.
Império do Brasil; cobrança dos leitores à Câmara Municipal por melhorias no serviço
público. Uma análise mais geral do gráfico 5, aponta para a brutal quantidade de
impressões de teor estritamente político (55%). Cabe ressaltar que ao longo desses nove
traduzido não apenas pelas posições parciais e centralizadoras de Pedro I, mas também
bem mostra a historiografia recente, tais eventos cruzavam-se com o crescimento de uma
expressão pública que via na imprensa sua principal saída, doutrinando comportamentos,
Uma questão sugestiva pode ser a de pensarmos de que maneira chegavam à cena pública.
121
122
impresso358.
Como se sabe, muito da leitura dos impressos era fruto da formação de grupos
cidade feito por Andréa Slemian (anos de 1821 e 1822), aponta que as regiões onde se
Como principais pontos, a autora destaca a rua da Quitanda; balizados pelas ruas da
Cadeia, de um lado; e pela rua dos pescadores, em extremo oposto359. O ponto crucial
destacado é a conhecida Rua Direita (atual Rua 1º de Março). A partir daí, pode se
dimensionar, em parte, de que forma esses atores culturais, homens de negócios e das
Mais do que pensar em sua dimensão no papel de disseminar uma pedagogia das luzes,
estudar o papel da imprensa no início do século XIX é refletir sobre sua relação e
estradas que ligavam a cidade eram rudes e exigiam o uso de carruagens, puxadas a cavalo
ou burros, com “terrenos lavradios e pastos”. O autor destacou, por exemplo, que o sítio de
Matacavalos (Rio Comprido), por sua vez, era “um lameiro seguido que cansava os animais
de transporte que, por sua vez, morriam afadigados”. As praças principais eram Rossio
de Luiz Edmundo, a rua colonial era “fedida, de terra batida em sulcos e crateras, com
358
Roger Chartier. “As práticas urbanas do impresso”. In: ________ Livros e leitores no Antigo Regime. São
Paulo: UNESP, 2004.
359
Andréa Slemian. “mapa da área de concentração das livrarias e do comércio em 1821-1822”. In: _______
Vida política em tempo de crise: Rio de Janeiro (1808-1824). São Paulo: HUCITEC, 2006, p. 74.
360
José Honório Rodrigues. Revolução e contra-revolução no Brasil. vol.2. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves, 1975, pp. 72-76.
Idem. Ibidem. Op. cit., p. 76.
122
123
poças, viveiros de rãs e mosquitos”. Mesmo uma das ruas mais movimentadas foi descrita
Entretanto, como ressaltou Marco Morel, ao receber a Corte Real, desde 1808, o
Duas condições que então se sobrepunham, passando, a partir daí, a abrigar conjuntamente
receberia forçosas modificações362. A produção dos impressos, por sua vez, esteve em
consonância com essas transformações uma vez que passou de um espaço único e oficial
para difundir-se em novas casas particulares. Apesar disso, convém ressaltar que tanto as
difundidas na imprensa esteve por muitos anos (desde a chegada da Corte Real) regulados
pelo mesmo órgão: a Intendência da Polícia. Sendo assim, “organizar a cidade” e as idéias
De acordo com Max Fleuiss a Intendência da Polícia foi criada nos moldes de seu
original luso, cabendo ao órgão atribuições amplas. Na perspectiva do autor, além dos
problemas iniciais nos quais estavam envolvidos, a instalação dos recém chegados e a
era responsável por abrir estradas e cuidar de sua conservação; fiscalizar e auxiliar a
361
Luiz Edmundo. O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis. Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, 1932, pp. 14 -33.
362
Marco Morel. As transformações dos espaços públicos. Imprensa, atores políticos...Op. cit., p. 157.
363
Max Fleuiss. História administrativa do Brasil. Separata do Diccionário Histórico, Geográfico e
Etnográfico do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1923.
123
124
Quanto à sua dimensão política, Andréa Slemian completou, destacando que as práticas
pública e controle dos habitantes, cuja ação abria espaço para reprimir ainda os
comportamentos tidos como indesejáveis. Para tanto, segundo a autora, cabia vigiar as
atividades dos redatores e tipógrafos, haja vista sua condição enquanto agentes
contribuintes para que a política passasse a ser uma referência mais presente no cotidiano
dos habitantes da cidade, tanto pela proximidade com a Corte, quanto com a chegada de
Após essas descrições é possível se ter uma idéia das possibilidades dos impressos
saírem dos prelos e circularem pela cidade, portanto, tornava-se um desafio bem maior do
que uma análise apenas política poderia revelar. Em sua maioria, os impressos eram
entregues nas casas dos anunciantes por meio de recibos assinados. Por outro lado, para
compensar os atrasos nas entregas das folhas, a difícil circulação pelos mais diversos
distritos poderia também estimular seus habitantes a irem diretamente aos respectivos
estabelecimentos de venda, como nas boticas, nas livrarias, nas tipografias, entre outros.
364
Idem. Ibidem. Op. cit., pp. 89 - 91. Cf. Marieta Pinheiro de Carvalho. Uma idéia de cidade ilustrada: as
transformações urbanas da nova Corte portuguesa (1808-1821). Dissertação de Mestrado, 2006. Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Idem. Ibidem. Op. cit., pp. 60 – 69.
365
Andréa Slemian. “A cidade, a corte, a Intendência Geral da Polícia”. In: ________ Vida política em tempo
de crise: Rio de Janeiro (1808-1824). São Paulo: Hucitec, 2006, p. 74.
124
125
dos novos espaços púbicos que surgiam366. Nesse sentido, é possível afirmar que,
coletivas etc., que sob a ótica das autoridades também poderiam carregar consigo
Barata mostrou o ambiente de alargamento dos espaços públicos desde o século XVII368.
Destacou, do mesmo modo, como uma mesma sociedade pode ser ao mesmo tempo
distintos referenciais369.
Durante o Primeiro Reinado, para além dos locais mais herméticos na formalidade de
havia também os espaços que congregavam os mais diferentes núcleos de pessoas que se
reuniam para encontros, comércio e /ou leituras em grupo. Algumas delas resultavam em
366
Marco Morel. As transformações dos espaços públicos. Imprensa, atores políticos... Op. cit., p. 151.
367
Tânia Maria Bessone da Cruz Ferreira. “Redatores, livros e leitores em O patriota”...
Jordi Canal. “Historiografia y sociabilidad en la España contemporánea: Reflexiones con término”. Vasconia.
Cadernos de Historia-Geografia, nº. 33, 2003, pp. 11- 27.
368
Alexandre Mansur Barata. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790 -1822).
Juiz de Fora: Ed. UFJF. São Paulo: Annablume, 2006. Ver também: Andréa Slemian. Vida política em tempo
de crise... Op. cit., p. 19.
369
João Paulo Garrido Pimenta. Resenha de Alexandre Mansur Barata . Maçonaria, sociabilidade ilustrada e
independência do Brasil (1790-1822). Almanack Braziliense. v. 6, p. 6, 2007. www.almanackusp.br. Página
acessada em 10 de julho de 2008.
125
126
são) indispensáveis para a elaboração de novas idéias. Sobre esta questão, destacou que, na
defendeu que estudar a dinâmica dos espaços públicos e as novas formas de sociabilidades,
Modernidade. Nesse sentido, completou que, por sua difusão, e pelos imaginários que
Em outra obra, ao lado de outros autores, destacou o avanço de tais estudos nas últimas
Modernidade373. Em sua obra, esta última aparece como uma ruptura com o Antigo
370
Morel, Marco Morel. As transformações dos espaços públicos. Imprensa, atores políticos ... Op. cit.,
p. 221.
371
Marcello Otávio Néri de Campos Basile. O Império em construção: projetos de Brasil e ação política na
Corte Regencial (1829-1834), 2004. [Tese de Doutorado]. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
372
François-Xavier Guerra. Modernidad y independencias. Ensayos sobre lás revoluciones hispânicas.
Madrid: MAPFRE, 1992, p. 302.
373
François-Xavier Guerra e Annick Lampérière. Los espacios públicos em Ibero América. Ambigüidades y
problemas. México: Fondo de Cultura Econômica, 1998, p. 6. Em sua dissertação de Mestrado, Marcello
Basile discute a atualidade referente aos conceitos formulados por Habermas, expondo uma auto-avaliação do
autor e alguns de seus redimensionamentos acerca da questão da esfera pública. A este respeito, ver: Marcello
Otávio Néri de Campos Basile. Anarquistas, Rusguentos e Demagogos: os liberais exaltados e a formação de
uma esfera pública na corte imperial (1829-1834), 2000. [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: Instituto
de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cap. VIII.
374
Os referidos autores destacam alguns outros aspectos na constituição de Habermas em pensar a esfera
pública como uma esfera burguesa e baseada em formas de comunicação de elites. Para ele, o Antigo Regime
não é o precursor da Modernidade, mas sim, uma “heterogeneidade entre dos épocas de la historia humana”,
como um longo período histórico cujas raízes encontram-se na Idade Média e na feudalidade, prolongando-se
em muitos campos e ambientes até a Ilustração. Cf. François-Xavier Guerra e Annick Lampérière. Los
espacios públicos em Ibero América. Ambigüidades y problemas... Op. cit., pp. 9 -14. A obra em questão é:
126
127
apontam, “o abstrato espaço público moderno constitui mais um dos espaços (...) em que se
públicos mostrou-se anterior à existência de uma esfera pública literária375. No que toca a
espaço físico, levantada por Marco Morel. Com base nesse referencial, o espaço público da
tais indivíduos dirigiam-se à tipografia para deixar seu produto, acreditando ser ali um local
venda mais rápida. Ademais, cabe completar que criavam ainda um ambiente privilegiado
para a materialização, através dos impressos, de uma cultura política liberal - ainda que de
Jungen Habermas. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da
sociedade burguesa. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1984.
375
“o abstracto espacio publico moderno es todavia uno más de los espacios (...) em los se congregam,
comunican y actúan los hombres”. Cf. François-Xavier Guerra e Annick Lampérière. Los espacios públicos
em Ibero América. Ambigüidades y problemas...Op. cit., p. 10.
376
O autor chama a atenção para as novas concepções no estudo das sociabilidades. Ressalta os perigos de
uma separação rígida entre os espaços formais e informais. Entretanto, as formas de sociabilidades informais
são demarcadas enquanto associações espontâneas, realizadas em espaços abertos. Cf. Marco Morel. As
transformações dos espaços públicos... Op. cit., p. 221.
127
128
O anúncio abaixo mostra como o dia-a-dia dos negócios na cidade tornou-se mais
Nesse sentido a figura do redator ou tipógrafo era essencial para alinhavar relações
sociais novas e posições de uma cidadania, mesmo que limitada. Conforme lembrou José
valores e de uma história que lhes fossem comuns, faz parte do processo de
composição de tais grupos, bem como de sua relação com seus iguais. Os espaços de
várias, mas que conviviam lado a lado, em um processo que se fazia a cada momento.
um dos pontos mais importantes na cidade. Dispor das informações de venda, bem como
vendê-las propriamente, mostra uma outra face da tipografia, não somente como um espaço
de seus habitantes.
377
DRJ, nº 5, 05 de fevereiro de 1823.
378
José Murilo de Carvalho. Desenvolvimiento de la ciudadanía no Brasil. México: Fondo de Cultura
Economica, 1995.
379
DRJ, nº 4, 06 de fevereiro de 1822.
128
129
não só anunciava a perda de escravos como ainda informava a interessados a respeito dos
pelo jornal. O anúncio de 1º de maio de 1823 informou estar com “Mr Jourdan” as
informações sobre um “um preto” que fora encontrado381. Além de escravos, eram comuns
avisos acerca de todo tipo de objetos, como chapéus, pulseiras, caixas, etc382. Três meses
antes, a própria tipografia anunciou a venda de bilhetes de loteria do Teatro São João383.
modo, os conflitos em torno dos locais de venda serem usados como espaços de ações
especialmente o fato dela ter sido assinada em uma tipografia. Ainda que ela fosse um
“lugar mui decente”, não o era para se tratar de “negócio popular de maior transcendência”.
380
DRJ, nº 14, 13 de dezembro de 1822.
381
DRJ, nº 1, 1º de Maio de 1823.
382
DRJ, nº 9, 09 de maio de 1823.
383
DRJ, nº 6, 07 de fevereiro de 1823.
384
O Patrício Observador (pseudônimo). O pelotiqueiro desmascarado. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário,
1822.
385
Ibidem, p. 1.
129
130
como um espaço público político. Ressalte-se que o local onde seis mil assinantes
folheto, uma Representação de tal teor, para ser assinada por “todas as classes de
Representação Municipal386. Mas a razão porque tudo isto se fez fora da ordem, desviando-
se o povo de se reunir em uma Assembléia Municipal, como ele desejava, e como se tem
praticado em todas as mais ocasiões, era para ter lugar a inspiração, que se devia fazer a
cada assinante para votar que a eleição de deputados fosse imediata, foi na tipografia,
Patrício Observador”, não se conformava em ter na tipografia essa reunião que congregou,
segundo ele, seis mil assinaturas. Para o autor, essa representação valia “tanto quanto
nada”. Convém observar que tal embate ocorria pelo fato de que o autor defendia o respeito
às decisões das Cortes, enquanto João Soares Lisboa defendia as eleições diretas388. Como
visto, a legitimidade da tipografia como espaço público era negada. Não somente em
assuntos, desde folhetos políticos até reclamações de particulares em sua própria defesa.
ser vista pela ordem de seleção do escritos, que variavam de acordo com os eventos
386
Ibidem, p. 2.
387
Ibidem, p. 3.
388
Ibidem, pp. 4 -5.
130
131
políticos. Emitir impresso em tempo de grandes mutações mostrava-se, desse modo, crucial
suas páginas:
políticos, alguns livreiros também se recusavam a vender materiais que não fossem
identificados com suas condutas. Outro fato recorrente nos anúncios da época era o
A urgência do Parecer integra toda uma série de publicações de cunho político que
atendia aos anseios do público em acompanhar as resoluções das Cortes lisboetas quanto aos
rumos do Império luso-americano. Uma vez perdido o rei, d. João, para Portugal, dois meses
antes, cresciam as expectativas em torno das novas resoluções de união ou separação dos
Reinos. Não só as publicações feitas pelas tipografias particulares, mas também a imprensa
389
DRJ, n° 1, 01 junho de 1821.
390
DRJ, nº 18, 20 de junho de 1822.
131
132
alguns sucessos do Brasil”, escrito pelo militar Theodoro José Biancardi. Segundo o
redator, este material “não tem podido sair à luz pela afluência de outros (...), mas sai com
muita brevidade”392.
tipografias em nosso entender pode ser compreendida de acordo com o que Norberto
Bobbio chamou de relações de poder. Na opinião de Bobbio, em seu significado mais geral,
não estando apenas ligada à prática governamental, a idéia de poder designa “a capacidade
ação dos agentes em seu núcleo de produção, qual seja, a tipografia, é analisar relações
sociais e refletir acerca de seu alcance. Em outras palavras, o homem não é apenas como
muitas vezes, letrado, a tipografia crescia como um espaço híbrido que mesclava as funções
de espaço privado e ao mesmo tempo público. Como espaço pertencente a uma só pessoa, a
391
Compilador Constitucional, Político e Literário Brasiliense, n° 1, 05 de janeiro de 1822.
392
Diário do Rio de Janeiro, n°2, 3 de janeiro de 1822. Cf. Almanaque da Cidade do Rio de Janeiro para o ano
de 1817. Rio de Janeiro: RIHGB, v. 282, pp. 97 - 236, jan. / mar., 1969, pp. 97 – 236.
393
N. Bobbio; N. Metteucci & G. Pasquino. “poder”. Dicionário de Política. 5ªed. São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo / Brasília: UnB, 2004, pp. 933 - 943.
394
Idem. Ibidem. Op. cit., p. 933.
132
133
tipografia podia selecionar os materiais destinados aos prelos bem como a entrada das
pessoas desejadas e evitar a presença daqueles que não faziam parte do círculo de amizade
(ou negócios) do redator. Por outro lado, ao materializar opiniões que sairiam escritas e
estariam, conseqüentemente, dispostas nas páginas dos impressos, seu espaço deixava de
ser apenas particular para entrar na categoria de espaço público, não apenas físico, mas
possibilidade de integração entre diferentes atores históricos, nas esferas literária e cultural,
concretizam tais esferas. De acordo com tal perspectiva, a tipografia deixa de desempenhar
informais, bem como suas respectivas atividades, no âmbito da Corte do Rio de Janeiro,
Fonte: Carlos Rizzini (1988); Marco Morel & Mariana Monteiro de Barros (2003); Marco Morel
(2005); Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves (2003); Marcello Basile (2004); periódico - Diário do
Rio de Janeiro (1821-1825).
133
134
distintos grupos sociais. Tais encontros poderiam ser de caráter variado. Questões individuais
cotidiano dos moradores da Corte carioca. Como locais de realização de leituras (e venda de
mercadoria), o quadro sinaliza para práticas privadas, exercidas nas livrarias, nas boticas ou
nas tipografias; para as públicas, em voz alta, conjugada e discutida nas ruas. Cortejos e
impressos os juízos de seus autores acerca dos fatos, também contribuíram para suas
de apreendermos o perfil da tipografia fundada por Zefferino Meireles foi a leitura de boa
parte de sua produção. Como uma empresa impressora, a primeira delas, já tratada aqui, a
principal, que lhe deu sustentação, foi o veículo: Diário do Rio de Janeiro. Por outro lado se
a análise de um único impresso, mesmo que bastante representativo, como no caso, não é
suficiente para demonstrar uma atividade tão dinâmica, esta última pode ser vista em maior
número delas apresentando melhor seu perfil. Não apenas folhetos avulsos, mas também
empresa397.
395
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves & Humberto Fernandes Machado. “Uma sociabilidade das ruas”. O
Império do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, pp. 216 – 225.
396
Enfocamos que em virtude do avançar do tempo e da necessidade de entrega e defesa desta dissertação, a
análise das publicações da referida tipografia ficou restrita a uma breve contextualização. Aproveitaremos as
sugestões da Banca Examinadora para aprofundar algumas questões posteriormente e mesmo na confecção de
sua forma final da entrega ao Programa de Pós Graduação a que estamos vinculados.
397
Agradecemos ao professor Marcello Basile por suas intervenções em Seminários e Colóquios ao longo de
2006 e 2007. Graças à sua atenção, foi possível compreendermos as tipografias enquanto empresas
134
135
meio ao contexto político turbulento de 1822, constituiu um dos órgãos de maior participação
lusa, em que o rei tivesse a participação ativa na execução e revogação das leis. Já em seu
primeiro número, apresentava assuntos mais prementes para políticos e letrados. Segundo o
redator (não identificado), a Constituição era o mais “vasto assunto que ocupa ao todos os
E acrescentava:
Jurando os Brasileiros essa Constituição que fizessem as Cortes Gerais,
juravam o pacto, que eles mesmos deviam fazer como Membros do
Corpo Político; porque sendo o Brasil parte integrante do Reino Unido
era por isso também uma parte contratante, sem nenhuma diferença de
Portugal401.
Como se vê, o periódico vai se revelando contrário às atitudes da Cortes Gerais reunidas
em Lisboa pois, segundo alegou, seus agentes tiraram do Brasil
comerciais, cujas impressões atendiam a pedidos de cunho político distintos, não estando, portanto,
determinada em toda sua produção por um viés político determinado.
398
A Fundação Biblioteca Nacional possui oito números do periódico. Era vendido nas lojas do Diário; da
Gazeta; de Paulo Martim e de João Batista dos Santos. Sem indicação de redator.
399
O Constitucional, nº 1, setembro de 1822.
400
Ibidem, nº 2, setembro de 1822.
401
Ibidem.
402
Ibidem, nº 4, setembro de 1822.
135
136
Brasileiros, meus Patriotas, e vós que fostes Portugueses, mas que sois
Brasileiros, por adoção, e que não conheces outra pátria senão aquele
país de onde tirastes os preciosos socorros, que remetidos a Portugal
conservaram a vida a vossos irmãos, aqueles país onde tendes feito, ou
contais fazer a vossa fortuna, e que é Pátria de vossas esposas, ou que
será de nossos filhos ! Está dito!403.
seções, de nome: Reflexões, publicava opiniões políticas que versavam sobre a relação entre
estrangeiras. No seu primeiro número, publicou o artigo: Minas Gerais, onde criticava as
Províncias do Brasil. De acordo com Lúcia Neves, o redator de O Papagaio era Luís
Moutinho de Lima e Silva. Como intelectual e homem público, atuou como “braço direito de
José Bonifácio”, tendo colaborado na secretaria de Estado. De formação ampla, foi professor
de língua latina no Rio de Janeiro, além de ter desenvolvido estudos na área da lógica, da
retórica, e das línguas francesa, inglesa e italiana. Além de ter servido em várias missões
juntos aos Estados Unidos e à França, foi sócio do IHGB, e de outras academias no
temporária de seus trabalhos, por julgar já estar consolidada a opinião pública sobre os
403
Ibidem.
404
O jornal, O Papagaio, custava um valor normal na época, em se tratando de periódicos de quatro páginas.
Esteve publicado na Tipografia de Moreira e Garcez até a edição de número 08, passando à Tipografia do
Diário, existindo até o número 12.
405
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. Corcundas e constitucionais... Op. cit., p. 84.
François-Xavier Guerra e Annick Lampérière. Los espacios públicos em Ibero América. Ambigüidades y
problemas... Op. cit., p. 10.
136
137
interesses “brasileiros” e por estar no poder d. Pedro I. O veículo chegou a publicar doze
Mar da Praia Grande (1823)407. Circulando na Corte entre os meses de agosto e outubro de
1823, possuiu 27 números, todos dedicados à política do momento. Em suas páginas, havia
grande espaço reservado às cartas recebidas de seus leitores. Eram, em sua maioria, dirigidas
ao redator, o qual procurava responder muitas delas, demonstrando uma intensa interlocução
com o público. Sua identificação política girava em torno de divulgar a imagem de d. João VI
Ministério composto em 1823, alertando-os para os abusos de autoridade por parte dos
como competente para exercer suas funções interinamente; seis cartas e notas escritas por
Thomaz Antônio de Villanova Portugal a José Estevão Grondona (cônsul de Sua Majestade
sarda no Rio de Janeiro); cópia do regulamento de Sua Majestade Sarda pela marinha
Cipriano Barata. Vale observar que seu empenho em esclarecer os fatos ao público, em
406
O Papagaio, nº 12, 20 de maio de 1822.
407
Nelson Werneck Sodré engana-se ao atribuir a redação do periódico a Cipriano José de Almeida Barata.
No entanto, traz importantes considerações detalhadas sobre a imprensa da época. Cf. Nelson Werneck Sodré.
História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, pp. 94 - 95.
408
Uma tentativa de catalogação dos periódicos da época foi feita como projeto de Iniciação Científica,
durante a graduação por Marco Morel; Fernanda Costa Carvalho de Andrade & Myriam Paula Barbosa Pires.
História da imprensa no Brasil Império: abordagem metodológica e síntese histórica...
137
138
intenso “diálogo” com a política, levou-o ao Tribunal do Júri, onde teve que prestar contas
Afora as folhas políticas, a mesma tipografia publicou por dois meses o periódico
Semanário Mercantil. Nascido em junho de 1823, na Tipografia de Silva Porto e Cia, mudou
quatro vezes seu local de impressão. Após passar pela Tipografia Nacional e pelos prelos de
Inicialmente, constituía um veículo dedicado a publicar súmulas dos periódicos (até outubro
Assembléia (1823), voltou-se quase inteiramente ao comércio marítimo, mudando seu nome,
Quanto aos documentos avulsos emitidos pela “imprensa do Diário”, conforme referido,
defendia:
409
Idem. Ibidem.
410
Era vendido na mesma loja do Diário do Governo, de J. G. Guimarães. Posteriormente, era oferecido
também no escritório do corretor Ribeiro de Barros, lugar no qual também recebia anúncios. Como muitos
dos jornais da época, possuía quatro páginas divididas em duas colunas. Cf. Marco Morel; Fernanda Costa
Carvalho de Andrade & Myriam Paula Barbosa Pires. História da imprensa no Brasil Império: abordagem
metodológica ...
411
A. de A. B. Memória para Perpetuar a gratidão dos Brasileiros e Portugueses Compatriotas no Brasil.
Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1822, p. 6.
138
139
referenciais. Embora sem indicação do mês que teria originado sua escrita e publicação, o
1821, começava a crescer a imagem do príncipe regente, Pedro I, como um herói, capaz de
também os liberais nascidos na América lusa, temiam que a partida do Príncipe Regente
No mesmo ano, outro folheto, intitulado: Carta de um pedreiro ao seu amigo, tratava
dos riscos de se romper “o equilíbrio político entre Portugal e Brasil”413. Lançando mão do
recurso de metáforas da época, o autor trazia ao público seu “sonho” político. Como
maçons, seu Grão Mestre era D.João VI, que estava em Portugal. Nesse sentido, defendia
no panfleto Nova questão Política415. Como afirmou o redator, seu objetivo era mostrar
quais seriam as vantagens “que hão de resultar aos Reinos do Brasil e de Portugal
conservarem entre si uma união sincera, pacífica e leal”416. Na opinião do autor, o assunto
412
Hamilton de Mattos Monteiro. “Da independência à vitória da ordem”. In: Maria Yedda Linhares. História
Geral do Brasil. 5ªed. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1990, pp. 89 -125. Um balanço historiográfico do tema
pode ser encontrado em: Wilma Peres Costa. “A independência na historiografia brasileira”. In:
Independência, história e historiografia. São Paulo: HUCITEC / FAPESP / Unijuí, 2005, pp. 53 – 118.
413
Carta de um pedreiro ao seu amigo, Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, s.d., p. 5.
414
Ibidem.
415
Nova Questão Política. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1 de junho de 1822.
416
Nova Questão Política... Op. cit., p. 1.
139
140
Portugal deveria agir com prudência, para não atacar as honras, os direitos, os interesses, as
portugueses; e geográfica, como lugar de estalagem para portugueses, bem como para
embarcações com destino ao Oriente. Norteado por uma política baseada na razão, e
das obras dos autores: D. Luiz da Cunha, Southey; Marques de Pombal e Abade du
Pradt418.
publicações de todo o tipo. A referida tipografia recebia financiamento do Soneto feito pelo
sonetos de sua autoria, que foram recitados a Pedro I, enaltecendo sua figura:
417
Ibidem.
418
Ibidem. Op. cit., pp. 1- 3.
419
Manoel de Freitas Magalhães. Sonetos recitados nas noites dos dias 22, 23 e 24 de setembro na
respeitável presença de S.AR pelo padre Manoel de Freitas Magalhães da Província do Espírito Santo. Rio de
Janeiro: Tipografia do Diário, 1822, p. 7.
420
Sonetos recitados nas noites dos dias 22, 23 e 24 de setembro na Respeitável presença de S.AR. pelo
padre Manoel de Freitas Magalhães, da Província do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário,
1822, p. 6.
140
141
Tal qual destacado na letra do hino, ao negar os direitos do Reino do Brasil nas Cortes
de Lisboa, o Congresso passou a ser visto como um órgão opressor e a separação dos
reinos, por sua vez, tornava-se, no bojo de tais enfrentamentos, a única saída para manter a
Holanda, o despotismo das Cortes serviu para enfraquecer “a opinião de que enquanto
Reino, o Brasil se achava livremente unido a Portugal, por um pacto revogável”, acabando
Não somente compostas por interesses políticos mais gerais e construídos por meio de
421
Evaristo da Veiga. Independência ou Morrer. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1822.
422
Conforme afirmam Lúcia Neves e Humberto Fernandes Machado, no primeiro semestre de 1822 ganhava
terreno a idéia de separatismo. A pressão portuguesa para o retorno do príncipe regente para Lisboa,
fracassou, ficando este, como se sabe, em solo americano. Cf. Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves &
Humberto Fernandes Machado. O Império do Brasil... Op., cit., p. 79.
423
Sérgio Buarque de Holanda. “A herança colonial – sua desagregação”. In: História Geral da Civilização
Brasileira. O Brasil Monárquico. 3ª ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962, p. 17.
141
142
Moraes contra três majores424, de onze páginas, o brigadeiro narrava justificativas para
seus procedimentos. Recebendo apoio de muitos nomes de peso, em um total de vinte oito
assinaturas, entre militares e clérigos, que assinaram seu escrito na proposta de acusação de
(...) divulgou nessa Vila, que a Representação feita a SAR. tinha sido
extraviada, e sufocada: o que causou bastante dissabor a todos os
seus bons habitantes pela demora de chegarem a SAR os votos de
fidelidade426.
No ano seguinte, 1823, outro documento coletivo foi emitido por financiamento dos
ocorrido em maio de 1823. Como se sabe, o projeto de Constituição que até então estivera
em pauta, previa “um forte controle do parlamento sobre o soberano e um certo grau de
424
Representação a favor do Brigadeiro José Manoel de Moraes contra três majores. Rio de Janeiro:
Tipografia do Diário, 1822, pp. 1-11.
425
Ibidem.
426
Narração dos procedimentos da Vila de Itu, em conseq6uência dos fatos de 23 de maio de 1822 na Cidade
de São Paulo. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1822, p. 1.
427
Hamilton de Mattos Monteiro. “Da independência à vitória da ordem ... Op. cit., p.121.
142
143
esta última constituía um “seguro liame, que juntava e reunia a grande família Brasileira”.
Esperavam, assim, que “Sua Majestade Imperial” atendesse aos juramentos prestados por
todos. Suplicaram o retorno dos presos e exilados “ao seio de suas províncias”. Além disso,
pediam que fossem retirados os militares portugueses, “com o fim justíssimo de promover
a tranqüilidade desta cidade e província, e poupar as vidas e dar sossego aos portugueses
um “Corretivo aos escritores” que abusassem da liberdade de imprensa430. Como se vê, não
apenas casos individuais, mas também as questões políticas das mais relevantes passavam
pública, muitos indivíduos comuns, inseridos em profissões distintas, recorriam aos prelos
folheto de duas páginas, o Sargento Mor Joaquim Ignácio da Costa reclamou ao Soberano
sua prisão, segundo o mesmo: “despótica e arbitrária”. Segundo ele, era inocente da
Nesse sentido, denúncias da mais variada ordem eram trazidas a público pela imprensa
oitocentista. O folheto: Apelo à opinião pública, narrou a história da viúva D. Anna Maria
428
Ata que se lavrou em Conselho a bem da tranqüilidade da Bahia, perturbada pela notícia da dissolução
da Assembléia Constituinte e legislativa. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1823. A comissão foi
composta do ex-deputados Francisco Agostinho Gomes; José Lino Coutinho; Miguel du Pin de Almeida,
Antonio Calmon Du Pin de Almeida; o Desembargador Antonio da Silva Teles, os doutores José Avelino
Barboza, Antonio Policarpo Cabral; e ao vigário Vicente Ferreira de Oliveira; Coronel Governador das
Armas: Felisberto Gomes Caldeira, além de Comandantes de Batalhões.
429
Ibidem. Op. cit., p. 1.
430
Ibidem. Op. cit., p. 3.
431
Joaquim Inácio da Costa. Carta ao Príncipe Regente queixando-se das injustiças do Conselho do Governo
Temporário na questão do roubo do pau-brasil. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1823.
143
144
família prejudicada pela partilha incorreta de sua herança. O impresso em questão trata de
uma séria denúncia que Manuel Felizardo faz contra José Joaquim Pimentel, na qual este é
acusado de iludir, e mesmo roubar, Dona Anna Maria de Jesus, durante o período em que
Pimentel foi seu procurador para gerir a herança que o marido lhe deixara. Realizando uma
espécie de vigília das ações de Pimentel, Manuel Felizardo de Carvalho Almeida, após a
morte de Anna Maria, afirmou que tal herança não chegou corretamente aos seus
descrita, Pimentel iniciou sua defesa, por meio de folheto: A Verdade em campo contra o
apelo a opinião pública feito por Manuel Felizardo Carvalho Almeida. Neste, afirmava
que Dona Anna Maria viveu por um tempo com seu sobrinho, José Gomes Ferreira, na
chácara que lhe deixara o marido. Entre muitas acusações, destacou que o sobrinho, com
títulos de seu Procurador, “havia estragado todos os bens do casal por escrituras dolosas
(...) chegando a ponto de reduzir a dita viúva a maior miséria (...) e dolosa alienação de
seus bens”. Ressaltou ainda que Manuel Felizardo tornou-se procurador dos herdeiros,
iniciando, a partir de então, uma campanha de acusações. Como se vê, além da questão
destinada à justiça, o caso estampa a necessidade de exposição dos fatos ao público, como
Em outro impresso, emitido três anos depois (1827), José Antonio de Azevedo publicou
Segundo Botelho, o referido juiz teria comandado seus escravos na invasão de seu
432
Manoel Felizardo de Carvalho Almeida. Apelo à opinião pública. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário,
1824.
433
Agradecemos à professora Lúcia Bastos pelo fornecimento deste folheto, o qual muito contribuiu para
facilitar nosso entendimento acerca do desenrolar dos fatos ocorridos. Cf. José Joaquim Pimentel. A Verdade
em campo contra o apelo a opinião pública feito por Manuel Felizardo Carvalho Almeida. Rio de Janeiro:
Tipografia do Diário, 1824, p. 2.
434
Carta ao redator do Diário Fluminense. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 11 de abril de 1827.
144
145
armazém435. De acordo com Botelho, o armazém servia como “depósito dos gêneros e
mantimentos que produz sua lavoura para vender e exportar”436 e fora invadido para
finalidade de roubo. Os escravos invasores foram dominados por seus agregados e parentes
e levados à prisão437.
Em outro caso, ocorrido dois anos depois, o padre Joaquim Cláudio Viana das Chagas
foi acusado de acúmulo de cargo, nas eleições para vereadores da câmara Municipal, Juiz
de Paz e Suplente438. Sendo assim, pedia para inserir no periódico sua resposta. Segundo o
padre, estava sendo alvo de críticas de João Batista Reis. Pela leitura do respectivo texto,
foi possível verificar que tais acusações foram emitidas em agosto de 1829 e lidas somente
dois meses depois. Infelizmente não se sabe como a informação chegou ao autor, no
entanto, o impresso pode ser um claro exemplo do tempo de repercussão das notícias na
época439.
folheto que desmentia a notícia de que estaria sendo desonesto com seu sogro, ao cuidar da
partilha dos bens440. No mesmo período, Feliciana Maria das Chagas tornou público uma
reclamação que fez à Justiça sobre a posse “de certos terrenos”441. Segundo relatou, os
435
Antonio Machado Botelho. Carta aberta aos ilustres concidadãos protestando contra Francisco Viera de
Souza, juiz ordinário da Vila de Cantagalo. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1827. Neste mesmo ano,
saía à luz um impresso de cerca de 30 páginas, contendo uma espécie de análise das finanças do Banco do
Brasil. O Paulista e o Mineiro conversavam sobre as receitas e despesas do referido Banco e como melhorar
sua administração. Cf. O mineiro (pseudônimo). O Paulista, e o Mineiro em seria conversação, promovida
por encontro casual sobre o estado atual do Rio de Janeiro, precedido do apurado de finanças do Tesouro
Publico para com o Banco do Brasil. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1829.
436
Idem. Ibidem.
437
Neste ano de 1827, a Tipografia do Diário publicou ainda um pequeno plano de rifa, de uma página. Os
prêmios de loteria bem como as rifas faziam parte das novas práticas cotidianas na cidade, sendo publicada
também por outras empresas impressoras. João André Cogoy. Plano de Rifa. Rio de Janeiro: Tipografia do
Diário, 1827.
438
Joaquim Cláudio Viana das Chagas. Carta aos redatores da Aurora Fluminense. Tipografia do Diário: Rio
de Janeiro, 1829.
439
O padre é autor de três escritos entre junho e outubro de 1829. Na ânsia de se defender contra a acusação
de acúmulo de cargos. Cf. Joaquim Cláudio Viana das Chagas. Resposta do autor ao inimigo dos déspotas.
Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1829. O escrito tem datação e local de ter sido escrito em Valença, 28
de junho de 1829.
440
Luis dos Santos Marrocos. Defesa de Luís dos santos Marrocos contra um artigo de Cândido José de
Sousa Mursa inserto no ‘ Diário Mercantil’. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 18 de outubro de 1830.
441
Feliciana Maria das Chagas. Aviso ao Público. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 11 de julho de 1831.
145
146
terrenos foram “usurpados” pelos monges do Mosteiro de São Bento. Para Feliciana, “é
incompatível com os servos do senhor possuir bens de raiz”442. Pelo nome do folheto: Aviso
ao Público, o impresso tornava-se um alerta para aqueles que se viam lesados por outrem.
A autora, por sua vez, demonstrava estar inserida no mundo das letras, pois usava “a
Assim como Feliciana muitos dos indivíduos, cidadãos ativos (votantes) ou não,
passavam seus anos norteados por uma nova relação com eventos. O fácil acesso a uma
tipografia e a possibilidade de ver seu mundo privado ganhar força a público, faziam com
que uma trajetória individual ganhasse projeção, por meio de leituras, apoios ou repulsas.
Gladys Sabina Ribeiro mostrou como essas questões aparentemente isoladas e pessoais
Nesse período, de saída do Imperador Pedro I, o Império vivia uma intensa luta política
clubes e associações espontâneas e, mesmo, nas ruas. Foi também por meio da imprensa,
atrelada muitas vezes a essas mesmas sociedades que esses homens uniam direção da
Ainda em 1831, a mesma tipografia lançava o folheto Oração fúnebre do enterro dos
Farroupilhas. Com sua linguagem direta, atacava: “não somente prego para farroupilhas,
prego também para aqueles que por meio de uma sincera conversão, possam de boa mente
adotar meus conselhos, e ainda entrarem no grêmio de gente honrada”. Pelo escrito, nota-se
442
Idem. Ibidem. Op. cit., p. 1.
443
Ibidem.
444
Gladys Sabina Ribeiro. “Nação e cidadania em alguns jornais da época da Abdicação: uma análise dos
periódicos O Repúblico e O Tribuno do Povo”. In: Mônica Leite Lessa; Silvia Carla Pereira de Brito Fonseca
(orgs.). Entre a Monarquia e a República: imprensa, pensamento político e historiografia (1822-1889).Rio
de Janeiro: EdUERJ, 2008, pp. 35 - 60.
146
147
corrente ano, à Nação Brasileira, no dia 14, tendo marchado para a Praça da Constituição,
uma decisão coletiva, tais indivíduos levaram à prensa uma Representação destinada ao
Governo, contendo os nomes, segundo eles, “dos maiores Inimigos do Império”. No texto,
exigiam a soltura de alguns presos e pediam para que alguns outros fossem expulsos446.
445
Oração fúnebre do enterro dos Farroupilhas do dia sete de outubro, recitada na Igreja da Lampadoza.
Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1831, p. 3. Cf. Marcello Octávio Néri de Campos Basile. “Luzes a
quem está nas trevas: a linguagem política radical nos primórdios do Império”.In: Topoi: revista de história,
nº3. Rio de Janeiro: 7 letras, setembro de 2001.
446
Exposição dos acontecimentos da noite de 14 e 15 do mês de julho do corrente ano, à Nação Brasileira.
Rio de Janeiro: Tipografia do Diário, 1831, p. 1.
447
RIO DE JANEIRO. Decreto de 16 de dezembro de 1830. Artigo 303. Arquivo da Cidade do Rio de
Janeiro. Livro de Registro dos Estabelecimentos de Oficinas de Impressão, Litografia e Gravura, código
43.1.22. 1830. Legislação Municipal.
147
148
crescimento dos grupos de oposição. Pelo que destaca Paulo Berger, “este decreto nunca
foi obedecido com muito rigor”448. O acirramento das disputas políticas durante o ano de
1830 e a crescente participação dos impressos na esfera pública, resultava, cada vez mais,
em medidas de coerção. Este fato apresentou-se como um dos motivos que teria levado a
E ainda:
A completa vigilância por meio deste Edital revela a crise de autoridade pela qual
passava o Império do Brasil, em 1831. Em relação à imprensa, este foi momento de maior
social. Nesse sentido, este foi contexto de bastante notoriedade e participação, uma vez que
sua ação colaborou para o desenlace dos fatos que se apresentaram durante o Primeiro
governo regencial450.
448
Paulo Berger. A Tipografia no Rio de Janeiro (1808-1900). Rio de Janeiro: Companhia Indústria Nacional
de Papel Pirahy, 1984, p. 41.
449
RIO DE JANEIRO, Edital de 05 de março de 1831, Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro. Código do
Processo Criminal. 1831. Legislação Municipal.
450
Quadros com a curva de produção quantitativa na Regência e no Primeiro Reinado, pode ser visto em:
Marcello de Ipanema & Cybelle de Ipanema. “Imprensa na Regência – observações estatísticas e de opinião
pública”. Rio de Janeiro: Revista do Instituo Histórico, Geográfico e Etnográfico Brasileiro, vol. 307,
abr - jun, 1975, pp. 91- 95.
148
149
Considerações finais
enfrentamento de inúmeros desafios. O esboço de uma cultura letrada e sua relação com
novas formas de fazer a imprensa e a política são questões que perpassam boa parte dos
(1775-1800). Revolução Impressa. A imprensa na França 1775-1800. São Paulo: Edusp, 1996.
149
150
Brasil. Em consonância com estudos recentes, os quais privilegiam os espaços físicos como
compreendidos entre 1821 e 1831 altamente relacionada às novas questões urbanas que se
impressos publicados por esta “empresa”, esboçavam novas formas dos indivíduos cariocas
lidarem com seus problemas. Como um espaço público de produção e venda de impressos
Meireles, demonstram um grande anseio dos indivíduos que lhe eram contemporâneos
interagirem com todo esse processo, fazendo valer tanto suas opiniões mais imediatas
Impressão Régia, no curso de treze anos, Meireles representou, ao lado de muitos eruditos,
uma elite cultural amplamente envolvida com a tarefa de civilizar a cidade, buscando
enquadrá-la de acordo com os padrões europeus vigentes. Entre suas estratégias, estava a
sociabilidades.
expressou suas opções políticas e contribuiu com uma espécie de missão esclarecedora, tão
comum aos intelectuais do período, fazendo da política uma questão a ser discutida no
cotidiano. Por sua atividade específica, ou seja, o manejo das palavras, esteve altamente
150
151
ainda não ter sido contemplado em estudo vertical na historiografia, o veículo Diário do
Rio de Janeiro abrigou em seus anúncios distintas noções de pátria. Como um órgão de
e do enraizamento da notícia.
trópicos contou com uma ampla ajuda não só dos impressos como também dos espaços
contavam com a presença e financiamento de folhetos por parte de muitos dos seus
Pedro I, a referida tipografia funcionou como uma “empresa” que produzia impressos de
grande interferência não apenas na política, mas também na forma com que esses
indivíduos tratavam a si mesmos e aos seus iguais. Opinião e cidadania, portanto, eram
informações principais e ordens para que fossem vendidas em sua própria sede. Ou seja:
151
152
âmbitos sociais.
Fontes:
- Fontes manuscritas:
Inventário post mortem de Zefferino Vitor de Meireles. Juízo de Órfãos. ID: 34.570.
Maço 433.
Inventário post-mortem de Maria Luiza de Jesus Viana. Juízo de Órfãos. Notação 4447.
Maço 0246.
152
153
- Fontes manuscritas:
- Fontes impressas:
2. Atalaia, 1821-1823.
4. O Constitucional, 1822.
7. O Papagaio, 1822.
8. O Espelho, 1821-1823.
9. Macaco Brasileiro,1822.
153
154
13. O Volantim,1822.
- Fontes manuscritas:
154
155
Bibliografia:
Obras de Referência:
GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio de Janeiro. 5ª ed. São Paulo:
Editora Lacerda, 2000.
155
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KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850)”. Trad. Pedro
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_________ As muitas faces da História. Nove entrevistas. São Paulo: UNESP, 2000.
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_________ “Uma história presente”. In: ________(org.). Por uma História Política.
Trad. Dora Rocha. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
162
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SLEMIAN, Andréa. Vida política em tempo de crise: Rio de Janeiro (1808-1824). São
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SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria coroada. O Brasil como corpo político autônomo,
1780 -1831. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1999.
163
164
SOUZA, Otavio Tarquínio de. História dos fundadores do Império do Brasil - fatos e
personagens em torno de um regime. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1960.
164
165
ANEXO 1:
- Biblioteca Nacional
Ano: 1831
Aparição extraordinária e inesperada do velho venerando ao Resende. Diálogo havido
entre eles, sobre a atual situação política do Brasil.
165
166
Ano: 1830
Observações à memória Lucas José Alvarenga, com as suas notas e um resumo da sua
vida escrita pelo mesmo. Por José Lucas de Alvarenga.
Defesa de Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, contra um artigo de Candido Jose
de Souza Mursa inserto no Diário Mercantil de 13 de Janeiro de 1830. Por Luiz
Joaquim dos Santos Marrocos.
Igreja de Santa Cruz dos Militares. Compromisso da Imperial Irmandade da Santa Cruz
dos Militares.[s.a].
Oração da ação de graças que o Corpo de Ordenanças da corte rendeu ao altíssimo pelo
restabelecimento da preciosíssima saúde do Senhor D. Pedro I... recitada em a Capela de
Nossa Senhora da Glória no Rio de Janeiro. Souto Maior.
Ao Publico. (contesta que faz o autor contra o Sr. Queiroz, procurador de Leandro
Antonio Ferreira...). Por José Antonio de Azevedo Cirne.
Ano: 1829
O Paulista, e o Mineiro em seria conversação, promovida por encontro casual
sobre o estado atual do Rio de Janeiro, precedido do apurado de finanças do Tesouro
Publico para com o Banco do Brasil . O Mineiro (pseudônimo).
Copia do Ofício do exmo. Sr. Bispo Capelão mor. Lúcio Soares Teixeira de Gouveia.
166
167
Ano: 1828
Carta e exposição que serve de defesa ao ex-diretor do corte e cobre da casa da moeda
desta Corte, dirigida ao Ilustríssimo Senhor Doutor, João da Silveira Caldeira, provedor da
mesma casa. João Justino de Araújo.
Defesa contra os ataques de João Caetano dos Bantos. Por José Luis Boaventura.
Protesto contra o cirurgião Jerônimo Ribeiro dos Santos por não ter acompanhado um
recrutamento.
Cópia de uma carta chegada proximamente do Maranhão a qual faço imprimir para que
o Púbico fique sabendo o que vai por aquela província & C.
Srs. redatores da Aurora cartas em favor do Ouvidor José Antonio de Sequeira e Silva,
escrito por José Ribeiro de Faria e pelo “O cidadão Brazileiro”.
Ano: 1827
167
168
Plano de rifa que faz João André Cogoy, na rua do ouvidor nº125, de várias jóias,
as quais se há de extrair com a próxima 7ª loteria do Imperial Teatro de S. Pedro de
Almeida.
Ano: 1826
Ano: 1825
Defesa do Bacharel Cipriano José Barata contra as falsas acusações da devassa tirada
em Pernambuco em novembro e dezembro de 1824. Por Cipriano José Barata de Almeida.
Ano: 1824
Semanário Mercantil.
Aos verdadeiros amigos de SMI e do Brasil. Por Silvestre Antunes Pereira da Serra.
A verdade em Campo contra o apelo à opinião pública feito por Manuel Felizardo
Carvalho e Almeida. Por José Joaquim Pimentel.
168
169
Ano: 1823
Ata que se lavrou em Conselho composto dos cidadãos do Clero, Nobreza e Povo a
bem da tranqüilidade da Província da Bahia em 17 de dezembro.
Ano: 1822
Brasil e Portugal ou Reflexões sobre o estado do Brasil. Por Heliodoro Jacinto de Araújo
Carneiro.
Carta de um pedreiro ao seu amigo, em que lhe refere um sonho que teve a respeito
das Cortes.
Carta sobre o n°62, do Correio do Rio de Janeiro, dirigida aos habitantes desta
Província, a fim de se acautelarem, e premunirem contra os que se inculcam para serem
seus deputados. O Pelotiqueiro desmascarado (pseudônimo).
Sonetos feitos e recitados nas noites dos dias 22,23 e 24 de setembro na respeitável
presença de S.A.R., pelo Padre Manoel de Freitas Magalhães da província do Espírito
Santo. Por Manoel de Freitas Magalhães.
O Brasil visto por cima (carta a uma senhora sobre as questões do tempo). Por José
Silvestre Rebello.
169
170
170