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Módulo Incidência e Crédito Tributário

Seminário II: Crédito tributário, lançamento e espécies de lançamento


tributário
Turma: 2021.02-ICT-BHZ-T
Aluna: Alessandra Cristina Nunes da Cunha Borges

Questões
1. Considerando os conceitos de norma, incidência e crédito tributário,
responda:
a) Que é lançamento? Definir o conceito especificando: quem pode lançar,
se é ato ou procedimento e qual a sua finalidade.
O vocábulo lançamento é ambíguo, ou seja, experimenta mais de uma
acepção e, por esta razão, se faz necessário, antes de avançar no tema, definir
precisamente com qual significado empregamos essa palavra.
Nesta empreitada, Eurico Diniz de Santi enumera dez significados para a
expressão lançamento, sendo quatro de utilização técnica-comercial-contábil e
seis colhidos da legislação tributária e doutrina especializada.
Segundo o autor o lançamento pode significar: (i) procedimento
administrativo da autoridade competente (Art. 142 CTN); (ii) ato-norma
administrativo, ou seja, norma individual e concreta (Art. 145 do CTN, caput)
resultante do procedimento administrativo tendente a apurar a prática do fato
gerador; (iv) procedimento administrativo que se finaliza com o ato de inscrição do
débito em dívida ativa; (v) atividade material desenvolvida pelo sujeito passivo
para calcular o tributo devido; (vi) norma individual e concreta resultante dessa
apuração do sujeito passivo, possível de posterior homologação (Art. 150 do
CTN).
Já para Paulo de Barros Carvalho, lançamento é o processo de
determinação do sujeito passivo e apuração da dívida tributária, como é
lançamento, também a norma individual e concreta, posta no sistema com a
expedição do ato de lançamento”.
Com essa classificação elimina-se o problema em definir se o lançamento
seria um ato ou procedimento administrativo. A depender da realidade com que
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esteja atuando o jurista o lançamento poderá ser um procedimento ou ato.


Todavia, sempre se estiver referindo à norma individual e concreta que dá azo à
obrigação tributária estará presente um ato e nunca um procedimento.
Assim, na linha do que ensina o Professor Paulo de Barros Carvalho,
lançamento, é ato jurídico administrativo, da categoria dos simples, constitutivos e
vinculados, mediante o qual se insere na ordem jurídica brasileira uma norma
individual e concreta, que tem como antecedente o fato jurídico tributário e, como
consequente, a formalização do vínculo obrigacional, pela individualização do
sujeito ativo e passivo, a determinação do objeto da prestação, formado pela base
de cálculo e correspondente alíquota, bem como pelo estabelecimento dos
termos espaço-temporais em que o crédito há de ser exigido pelo ente público
competente, ou seja, a autoridade administrativa.
b) É correto afirmar que o lançamento tributário se apresenta em três
espécies? Se positiva a resposta, qual o critério que orienta tal
classificação, ou seja, o que diferencia uma espécie da outra?
O Código Tributário Nacional cuida de três diferentes espécies de
lançamento por declaração, de ofício e por homologação
Paulo de Barros Carvalho desfecha forte crítica à conceituação do código por
considerar que o critério utilizado na classificação, o grau de participação do
sujeito passivo na feitura do lançamento, é nota característica do procedimento
de lançamento e não do ato. Além disso, o procedimento não estará
necessariamente presente em todos os atos de lançamento, o que evidenciaria a
inutilidade da classificação empregada pelo código, ainda mais em se
considerando que o lançamento é ato administrativo e, portanto, o grau de
participação do sujeito passivo nesse ato é irrelevante para empreender sua
classificação.
Já Eurico Diniz de Santi endossa as críticas sustentando não ter sentido
"teórico classificar o ato administrativo de lançamento sob o enfoque de qualquer
daqueles critérios propostos pelo CTN, pois são exteriores à estrutura desta
norma individual e concreta, em nada corroboram para o deslinde dessa
estrutura normativa.
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Todavia, embora não seja função do código classificar ou apresentar


conceitos sobre os institutos que regula, essa política legislativa tem a finalidade
de definir e delimitar, de forma precisa, o campo de atuação do preceito
normativo, orientando o intérprete quando à correta e adequada compreensão
dos preceitos normativos, razão pela qual se adota, no presente trabalho, as
modalidades de lançamento previstas no CTN.
No lançamento direto ou de ofício, Hugo de Brito Machado leciona a
iniciativa é da autoridade fazendária, seja porque o sujeito passivo não tem o
dever de tomar qualquer iniciativa, seja porque o dever estabelecido em lei não
foi cumprido.
No lançamento por declaração, o sujeito passivo presta informações ao
fisco, mediante solicitação ou em cumprimento à obrigação previamente fixada
em lei, para que a autoridade fiscal tenha conhecimento das informações
relacionadas à matéria de fato indispensáveis à formalização do lançamento, do
qual será intimado o sujeito passivo para adimplir a prestação.
Por fim, no chamado lançamento por homologação, “a lei estabelece para
o sujeito passivo o dever de fazer a apuração do valor do crédito tributário, e
ainda, o dever de fazer o pagamento deste, independentemente de qualquer
manifestação da autoridade administrativa”.
c) O chamado lançamento por homologação é efetivamente lançamento?
E o lançamento por declaração?
Consoante exposto, segundo a lei, a modalidade de homologação seria a
hipótese legal de lançamento. Entretanto, segundo parte da doutrina e diante do
que assinala a professor Paulo de Barros Carvalho, o chamado “lançamento por
homologação” é um ato de introdução de norma jurídica, individual e concreta
produzida pelo administrado em decorrência de autorização legal que dá
competência ao contribuinte para constituição do crédito tributário.
Quanto ao lançamento por declaração, parte da doutrina sustenta que
quando o crédito tributário é constituído por declaração do sujeito passivo, não
há lançamento ou auto de infração, e sim uma confissão de dívida, mesmo na
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hipótese dos tributos sujeitos a lançamento por homologação, em que o


administrado antecipa o pagamento.
Por outro lado, da análise do art. 147 do CTN, depreende-se que ocorre
uma ação conjunta entre Fisco e Contribuinte (contribuinte presta informações
por meio de declaração para que o Fisco então efetue o lançamento com base
nas informações prestadas).
d) O lançamento tem eficácia declaratória e/ou constitutiva? O que é
declarado e/ou constituído? Quando isso ocorre?
Para a grande maioria dos autos o lançamento é declaratório. Partidários
dessa corrente são Luciano Amaro, Geraldo Ataliba e Amílcar Araújo Falcão.
Paulo de Barros Carvalho, todavia, sustenta que o lançamento é a norma
individual e concreta que constitui a relação jurídica tributária e,
consequentemente, também a obrigação tributária criando o dever subjetivo de
recolher o tributo e o direito do fisco de exigi-lo.
Outros autores que também entendem constitutivo o lançamento são
Américo Lacombe e José Souto Maior Borges. Observe que a conclusão a que
se chega depende do sistema de referência que se utiliza das premissas
adotadas pelo operador do direito. No sentido de que a obrigação tributária
nasce já no momento da ocorrência do fato gerador, é possível chegar à
conclusão de que o lançamento não cria a obrigação tributária, mas a declara,
tendo, portanto, natureza declaratória. No caso da teoria da linguagem e
adotando as mesmas premissas adotadas pelo professor Paulo de Barros
Carvalho, seria muito difícil para o intérprete chegar a uma conclusão diferente
da constituição da relação jurídica tributária.
Assim, conclui-se que a natureza jurídica do lançamento tributário é tema
tão controverso que a depender das premissas adotadas as conclusões a que o
intérprete chegará poderão ser as mais variadas.
Majoritário, todavia, é o pensamento no sentido de que o lançamento
possui dupla finalidade: declarar a obrigação e constituir o crédito.
Fato = hipótese de incidência = obrigação tributária.
Obrigação tributária + lançamento = crédito tributário
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e) Confrontar as noções de tempo no fato e tempo do fato.


Tempo no fato – momento em que ocorre o evento tributável, o próprio
critério temporal da regra matriz: tempo do fato – momento de produção da
norma concreta individual.
Então, com base no lançamento de um tributo, temos que: uma coisa é o
evento ocorrido que possibilitou a causa. A outra, o enunciado que transforma
o ocorrido, em fato. Esse anunciado protocolar é conteúdo do lançamento
(suporte físico, texto, veículo introdutor de norma individual e concreta). Temos,
então, um fato do mundo (evento) e outro fato do mundo (enunciado
protocolar): o segundo tematiza o primeiro, relatando-o, dando-lhe, através da
linguagem competente, realidade jurídica. O ato de enunciação (lançamento),
destarte, constituiria o fato jurídico tributário: transformaria o evento em fato
através do relato em linguagem competente.
f) O que é erro de fato e erro de direito? E mudança de critério jurídico?
O erro de fato ocorre quando a autoridade administrativa apura fatos não
conhecidos ou não provados por ocasião do lançamento tributário, seja por
ignorância do fisco, seja por ocultação do contribuinte. Tomando ciência destes
fatos em tempo hábil, o fisco tem o dever de efetuar o lançamento.
O erro de direito ocorre quando o lançamento é feito ilegalmente, em
virtude de ignorância ou errada interpretação da lei.
Por fim, a mudança de critério jurídico ocorre quando a autoridade
jurídica simplesmente muda a interpretação da legislação tributária,
substituindo por outra, não declarando que uma delas esteja incorreta.

2. Dado o auto de infração fictício (anexo I), pergunta-se:


a) Identifique as normas individuais e concretas veiculadas no respectivo
auto de infração;
O AI compreende duas normas individuais e concretas quais sejam: o
lançamento do tributo (ICMS) e a penalidade pelo não pagamento do tributo
(multa de 50%).
Quanto à regra-matriz, temos:
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I – Norma individual e concreta para o lançamento:


No antecedente: critério material = transferir ou fazer circular
mercadorias entre estabelecimentos (saída de mercadorias);
Critério Espacial: entre os estados;
Critério temporal: período entre 01/01/2014 a 02/02/2015
No consequente:
Critério pessoal: sujeito ativo = Fazenda Pública do Estado de São
Paulo; sujeito passivo: bate o pé indústria e calçados LTDA;
Critério quantitativo: base de cálculo – R$ 64.440,48; alíquota – 18% =
R$ 11.599,29
II – Norma individual e concreta para a sanção:
No antecedente
Critério material: não recolher o imposto em razão de transferir ou fazer
circular mercadorias entres estabelecimentos;
Critério especial: entre os Estados;
Critério temporal: período de 05/05/2015
No consequente
Critério pessoal: sujeito ativo: Fazenda Pública do Estado de São Paulo;
sujeito passivo: Bate o pé indústria e Calçados LTDA;
Critério Quantitativo: Multa de 50% sobre o valor do imposto de R$
5.799,64, acrescidos de juros de mora no valor de R$ 1.275.92.
b) Confronte as noções de (i) auto de infração – documento, (ii) ato
administrativo de imposição de multa, (iii) ato administrativo de
lançamento e (iv) ato de notificação;
c) Em sua opinião, em que instante nasce a obrigação tributária? E o
crédito tributário? E, a multa tributária? Que significa “constituição
definitiva do crédito”?

3. Empresa XXX, contribuinte de IPI, declara e formaliza seus créditos e


débitos, compensa tais valores (não-cumulatividade) e, de acordo com a
lei, realiza o pagamento do saldo devedor conforme discriminado abaixo:
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Posteriormente, o Fisco Federal glosa os créditos de IPI utilizados pela


empresa devedora, sem, contudo, efetuar o lançamento de qualquer valor a
título de tributo. Em seguida, encaminha para inscrição na dívida ativa os
valores não pagos em razão do aproveitamento indevido dos créditos (R$
200.000,00), pois entende não ser necessário o lançamento de ofício. Esses
valores, por sua vez, são acrescidos das penalidades que o Fisco entende
cabíveis, além dos juros de mora. Na sua opinião, está correto o proceder da
Fazenda? Ainda, o aproveitamento de créditos da não-cumulatividade pode
ser equiparado a pagamento antecipado? A glosa, por sua vez, resultaria em
não pagamento? Justifique sua resposta (Vide anexo II e III).

4. Com relação ao lançamento por homologação, pergunta-se:


a) Que é homologação? O que se homologa: (i) o pagamento efetuado
antecipadamente; (ii) a norma individual e concreta posta pelo contribuinte; ou
(iii) ambos? Justifique sua resposta.
b) Quando se verifica a homologação expressa? Trata-se de ato
administrativo? Ainda, é possível revisar-se o ato homologatório
expresso? Há no direito positivo a possibilidade de pagamento de
tributos sem lançamento?

5. A Lei n. 10.035/00 estabelece que serão executados, nos autos da


reclamação trabalhista, os créditos previdenciários devidos em
decorrência da decisão proferida pelos Juízes e Tribunais, resultantes de
condenação ou homologação do acordo. Pergunta-se: a decisão judicial,
cognitiva ou homologatória, constitui o crédito tributário? E, eventuais
acordos posteriores entre os litigantes? Há necessidade de lançamento?
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Como ficam os princípios do contraditório e da ampla defesa? (Vide


anexos IV, V e IV).

6. Sobre as hipóteses correlatas às alterações do lançamento, responda:


a) Há diferença entre erro de direito e mudança de critério jurídico, para
fins de revisão do lançamento tributário? Há possibilidade de revisão do
lançamento fundado em erro de direito? E em erro de fato? Qualquer erro
de fato é suficiente para fundamentar a alteração do lançamento? (Vide
anexos VII, VIII e IX).
b) A alteração da base de cálculo, ou da sistemática de apuração do tributo
pode ser feita mediante retificação do lançamento? A eleição errônea da
base de cálculo, ou da sistemática de apuração configura-se como erro de
fato, erro de direito ou mudança do critério jurídico? Tem o condão de
acarretar anulação do lançamento? (Vide anexos X, XI e XII)

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