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Resolução das atividades e fichas

Página 106 e 107 – representação mais ou menos


estruturada,
1 A forma como o ser humano, desde que estável, que tenho de mim próprio e que
nasce, se relaciona com o meio e com os ou- os
tros muda a cada momento que passa. A outros têm de mim. A identidade é
partilhada,
construção da identidade é um processo di-
na medida em que os outros
nâmico e inacabado. A nossa identidade (tudo
reconhecem
aquilo que somos) altera-se em função de um
aquilo que eu sou. Esta continuidade não im-
conjunto variado de ocorrências e de acasos.
plica que não haja possibilidade de
Imaginemos um estudante do décimo ano do mudança.
Curso de Ciências e Tecnologias que pretende A identidade constrói-se ao longo da vida, por
ingressar na universidade e frequentar a li- isso implica mudança, um conjunto de altera-
cenciatura em Engenharia Civil. No décimo ções decorrentes do desenvolvimento do
segundo, contacta, pela primeira vez, com os ciclo
conteúdos da disciplina de Psicologia. Aí, de vida. Cada ser humano desempenha dife-
descobre uma vocação especial para analisar 3 rentes papéis, mas, ao mesmo tempo, man-
e tentar compreender o comportamento hu- tém uma certa coerência interna. Desta
mano. A sua orientação vocacional altera-se. forma, continuidade e mudança combinam-
Agora, pretende, com a certeza que nunca ti- -se no processo de construção da identidade.
vera antes, ser psicólogo, abrir um consultó-
rio e exercer Psicologia Clínica. Ele já não é A identidade pessoal tem como como a
principais
mais a mesma pessoa, com a mesma identi-
componentes as perceções, os sentimentos
dade. A experiência do presente alterou a sua
e
representação do passado e as suas expecta-
as representações que uma pessoa tem de
tivas acerca do futuro. si
Como no caso anterior, tantos são os exem- própria. Este conjunto de elementos permite
plos de situações que podem ter influência ao indivíduo reconhecer e ser reconhecido so-
(condicionar, determinar), positiva ou negativa- cialmente. A identidade constitui-se
mente, a construção da identidade e da per- integração de todas as experiências do sujeito,
sonalidade, ou a inter-relação dos traços que de toda a sua história de vida.
caracterizam a identidade construída. O con- A identidade pessoal é um fenómeno com-
dutor de automóveis de corrida que é pai pela plexo e multidimensional. No processo de
primeira vez, o jovem adolescente que deixa o 4
construção da identidade está sempre envol-
seu país para ir trabalhar no estrangeiro, a vida uma dimensão biológica – o nosso
criança que é agredida por um colega de corpo
turma, a operária fabril que ganha a lotaria – e uma dimensão relacional – a nossa identi-
têm algo em comum, todos vivenciam situa- dade constrói-se na relação com os outros em
ções que, pelos seus impactos, alteram, mais todas as fases da vida. A identidade é, por-
ou menos substancialmente, as suas formas tanto, um processo biorrelacional.
de ver o mundo e os outros, mas, principal-
mente, as suas identidades e a forma de se A génese da identidade, o seu desenvolvi-
verem a si próprios. mento ao longo de toda a vida, está
marcada
2 A identidade é o sentimento intrínseco de ser pela relação com os outros, na família, na es-
o mesmo, permitindo que nos reconheçamos cola, em todos os grupos sociais. A identi-
como sujeitos únicos, como atores das nos- dade é, ao mesmo tempo, ser como os
sas experiências – passadas, presentes e fu- outros
turas. A identidade assegura a continuidade e ser diferente dos outros. O conceito de
do que somos – “eu sou sempre a mesma identidade está ligado ao conceito de alteri-
pessoa”. A continuidade corresponde ao sen- dade, porque a identidade tem uma compo-
timento de nos reconhecermos os mesmos, nente social, na medida em que a forma
como
ao longo do tempo. Essa continuidade corres-
nos olhamos a nós próprios é muito influen-
ponde, também, a uma certa estabilidade
ciada pela forma como os outros olham
para
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medida, a construção da identidade é tam- que o sujeito se reconheça através dos valo-
bém, e não é menos, oposição, encerramento res que partilha com a sua sociedade.
relativamente ao outro, e é por essência dife- Assim, mesmo na interseção destas identida-
renciação. Os outros são o meu espelho bidi- des, o sujeito é uma entidade única, mas plu-
recional, na medida em que me vejo e vejo ral nas suas manifestações.
os
outros a verem-me. A identidade constrói-se 6 As múltiplas facetas da identidade não com-
na coerência deste processo contraditório prometem, por si só, a coerência interna da
de pessoa, mas podem criar situações de crise
aproximação e afastamento em relação de identidade. A pessoa não é o somatório, a
aos justaposição, das várias facetas da identi-
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outros. dade, não é o simples somatório dos papéis
que desempenha. Cada pessoa é diferente e
a Normalmente, utiliza-se o conceito de identi-
dade no singular, mas identidade é um con- vivência das diferentes identidades assume
ceito complexo que se manifesta, participar especificidade no concreto, na vida
segundo
pessoal de cada um. Há pessoas em quem
alguns autores, em diferentes tipos de identi-
essa diferenciação identitária coloca proble-
dades: identidade pessoal, identidade
social mas de coerência interna, e outras pessoas
e identidade cultural. O sujeito é uma enti- em que a vivência da dispersão de papéis é,
dade plural que integra diferentes manifesta- até, motivadora e impulsionadora da realiza-
ções. Mas a sua unicidade, apesar dos múlti- ção pessoal.
plos papéis desempenhados, não está Um dos campos da psicologia atual é o es-
A identidade social (identidade tudo das crises de identidade, que resultam
reporta-se à consciência social que temos de das grandes transformações sociais e tecno-
nós próprios e que resulta da interação lógicas e que teve grandes repercussões no
que trabalho. Por exemplo, o caso dos operários
estabelecemos no meio em que estamos in- que foram perdendo a sua identidade de
pela (criança, jovem, adulto), pelo classe, em virtude da automatização. Outro
(homem, mulher), pela profissão (operário, caso é o resultante dos fluxos migratórios
médico, que têm como consequências um conjunto de
e outros aspetos que re-
professor, cabeleireiro) problemáticas que remetem frequentemente
fletem opções pessoais (militante político, despor- para as questões da crise de identidade –
tista). Aos papéis desempenhados correspon- uma delas é o caso dos filhos dos imigrantes
dem expectativas e representações sujeitos à influência cultural dos países de
sociais acolhimento que veicula a sua cultura de ori-
que integram uma dada identidade. Quando gem.
digo “sou aluno”, manifesto uma 7
identidade A construção da identidade pessoal decorre
social que resulta da pertença ao grupo so- num tempo, inscrevendo-se na nossa história
cial dos alunos, relativamente ao qual de vida, nas nossas vivências pessoais permi-
existe tindo que nos reconheçamos na coerência
uma série de representações, a que corres- criada pela integração dos acontecimentos.
pondem deveres e direitos. Essas represen- Esta temporalidade remete para a história in-
tações geram expectativas que me dividual, que é única, na forma como, dia
permitem
após dia, é tecida. Contudo, importa lembrar
reconhecer e ser reconhecido enquanto
que esta história pessoal transporta também
aluno.
a história da espécie e a história da cultura.

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