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Pastoral
ISSN: 1984-3755
pistis.praxis@pucpr.br
Pontifícia Universidade Católica do
Paraná
Brasil
de Itoz, Sonia
Ethos, fato religioso e diversidade: como selecionar conteúdos e trabalhar estratégias
Revista Pistis & Praxis: Teologia e Pastoral, vol. 6, núm. 2, mayo-agosto, 2014, pp. 399-
421
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Curitiba, Brasil
ISSN 1984-3755
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
[T]
Ethos, fato religioso e diversidade: como
selecionar conteúdos e trabalhar estratégias
[I]
Ethos, religious fact and diversity: how to select
content and work with strategies
[A]
Sonia de Itoz
Mestra em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
São Paulo, SP – Brasil, e-mail: soniadeitoz@gmail.com
Resumo
componente curricular Ensino Religioso. Entendemos, assim, ser necessário ter clare-
za e conhecimento para escolher, eleger e selecionar, para cada faixa etária, conteú-
dos adequados e apropriados, e saber que estratégias desenvolver para um ensino e
uma aprendizagem significativos. A premissa básica e primeira que se coloca é que o
trabalho pedagógico-educacional do Ensino Religioso deve contribuir com o currículo
escolar e com a formação de um cidadão integrado e atuante. Por consequência, o
indivíduo elabora instrumentos de leitura de mundo e insere-se no contexto da própria
vida, a partir da apropriação do conhecimento, contribuindo no respeito ao outro e ao
diferente e desenvolvendo relações de paz e de dignidade para todos.
Abstract
Introdução
“Nas sociedades modernas, somos diariamente confrontados com uma grande massa de informações. As
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novas questões e os eventos que surgem no horizonte social frequentemente exigem, por nos afetarem de
alguma maneira, que busquemos compreendê-los, aproximando-os daquilo que já conhecemos, usando
palavras que fazem parte de nosso repertório. Nas conversações diárias, em casa, no trabalho, com os
amigos, somos instados a nos manifestar sobre eles procurando explicações, fazendo julgamentos e tomando
posições. Estas interações sociais vão criando ‘universos consensuais’ no âmbito dos quais as novas
representações vão sendo produzidas e comunicadas, passando a fazer parte desse universo não mais como
simples opiniões, mas como verdadeiras ‘teorias’ do senso comum, construções esquemáticas que visam dar
conta da complexidade do objeto, facilitar a comunicação e orientar condutas. Essas ‘teorias’ ajudam a forjar
a identidade grupal e o sentimento de pertencimento do indivíduo ao grupo” (MAZZOTTI, 2008, p. 21).
nunca pronta e acabada, já que não há indivíduo nem sociedade que possa
afirmar-se pronto ou completo.
O “Ethos como ninho, identidade, coerência, consciência profun-
da remete para a profundidade maior dos seres humanos, lá onde eles se
encontram com o divino” (MOSER; SOARES, 2006, p. 10), tornando-se
ponto de partida para a compreensão do ser humano, de seus alicerces
interno (subjetivo) e externo (objetivo), que o sustentam. A definição de
Ethos segundo Houaiss (2011) é: “conjunto de costumes e hábitos funda-
mentais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres) e da cultu-
ra (valores, ideias ou crenças), características, costumes e hábitos de uma
determinada coletividade, época ou região” que designa “caráter pessoal;
padrão relativamente constante de disposições morais, afetivas, compor-
tamentais e intelectivas de um indivíduo”.
Nessa dimensão e significado, Ethos torna-se um dos eixos estrutu-
rantes para o trabalho de Ensino Religioso. Pois é a partir do Ethos, ou do
jeito de ser e viver dos indivíduos e grupos, que se estabelece o entendimen-
to para a moral, os costumes e a dimensão de religiosidade no seu aconteci-
mento mais real e palpável, que é o Fato Religioso. Entende-se, desse modo,
que é o ser humano que habita um local que dignifica e faz dele a experiên-
cia localizada, o espaço concreto da presença de transcendência.
Portanto, o jeito de ser e a maneira de viver, o lugar e a morada, ga-
nham um sentido histórico-cultural e definem o Ethos. É a própria prática
existencial, desenvolvida na concretude do espaço-tempo e mediada por
símbolos e significados, que dá sentido e suporte às vivências do cotidia-
no humano. A prática existencial vai tecendo, organizando e confirmando
a complexa realidade das relações sociais, políticas, econômicas, culturais
e religiosas e instaurando um movimento que constitui a dinâmica de ser
e de viver das pessoas e das culturas.
O Ethos pode ser entendido, nesse aspecto, como se fosse uma “se-
gunda natureza”, o “substrato” vital do existir humano e de sua cultura,
mas sempre em permanente processo simbiótico entre o ser e o proce-
der humano, entre o compromisso e a responsabilidade com a alteridade,
entre o que representa e as disposições interiores do agir do indivíduo.
Torna-se dever aclamado e reclamado pela consciência socioindividual,
“O tempo é ‘a tardança daquilo que está por vir’. Acho genial essa formulação, pois mostra o processo de
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realização do tempo (tardança), vindo do futuro em direção do presente” (BOFF, 2000, p. 4).
“Chamamos religiosidade a atitude de abertura da pessoa ao que realmente importa, ao sentido radical
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de sua existência. Implica em não acomodar-se, não ficar parado; alimentar a esperança; ser criativo;
empenhar-se por crescer, estar aberto ao mais profundo, o mais alto, o melhor — não do que os outros, mas
em relação a si mesmo; ultrapassar-se; sair de si, ver as necessidades dos outros — pessoas, categorias,
povos, gêneros, etnias; também dos animais, do nosso planeta. Transcender” (GRUEN, 2010).
sistemas formais próprios das diversas culturas: constitui-se religião, com suas agremiações, símbolos,
cultos, preces, formulações de crenças e normas” (GRUEN, 2010).
“A politicidade da aprendizagem conjuga educação muito mais com aprendizagem, do que com ensino. Aos
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Este pequeno ensaio nos fez explorar uma compreensão inicial das
questões metodológicas do Ensino Religioso, buscadas no entendimento
do Ethos, como jeito de ser e como uma maneira de viver do ser humano.
Como algo concreto da vida cotidiana de um povo e dos indivíduos, situ-
amos o Fato Religioso, integrado aos aspectos culturais e vivenciais das
sociedades humanas. Apresentamos também a ideia da impossibilidade
de avançar como humanidade se a Diversidade não for contemplada e in-
tegrada à vida e ao cotidiano do educar.
Entendemos, assim, que no tratamento e compreensão do Eixo
Temático Ethos o Fato Religioso e a Diversidade são conteúdos e tornam-
-se condições para a construção de um cidadão inserido, situado, crítico,
reflexivo. Ethos, o Fato Religioso e a Diversidade dão origem a estratégias
Referências
Recebido: 10/04/2013
Received: 04/10/2013
Aprovado: 04/07/2013
Approved: 07/04/2013