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TRIBUNAL MARÍTIMO

JN/AHC PROCESSO Nº 31.816/17


ACÓRDÃO

Embarcação sem nome, não inscrita do tipo rabeta. Colisão com pedras e
naufrágio, sem registro de danos ambientais, com óbito de três menores de
idade e embarcação não recuperada. Travessia da Praia do Geladinho para o
Balneário da Mangueira no município de Marabá - PA. Erro de navegação.
Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes Autos.


Consta dos Autos que no dia 21/08/2016, cerca de 17h40min, ocorreu a
colisão com pedras e naufrágio, com a queda na água e morte de passageiros, de uma
embarcação do tipo rabeta, sem denominação, não inscrita e de madeira quando fazia a
travessia da Praia do Geladinho para o Balneário da Mangueira no município de Marabá -
PA, caracterizando o acidente da navegação capitulado no art. 14, alínea “a”, da Lei nº
2.180/54. Não houve registro de danos ambientais, mas ocorreu o óbito de três menores
de idade que se encontravam na embarcação. A embarcação não foi recuperada após o
naufrágio e não se sabe a sua localização.
Não constam maiores dados sobre as características da embarcação que era
de propriedade e conduzida por Irima Pereira Lima, inabilitado que transportava catorze
passageiros.
O IAFN da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental - CPAOR apurou
que, no referido dia e horário, a embarcação colidiu contra pedras e naufragou. As
pessoas que caíram na água gritaram por socorro e foram resgatadas por duas
embarcações regionais. Não havia material de salvatagem a bordo.
Como resultado do evento três crianças desapareceram nas águas do rio
Tocantins.
A equipe do Corpo de Bombeiros localizou o corpo da primeira criança no
dia 22/08 na praia do Tucunaré. Os outros dois corpos foram encontrados no dia 23/08
nas proximidades do balneário da Mangueira, margem esquerda do rio Tocantins.
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(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.816/2017...........................................)
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As crianças, que faleceram em decorrência de asfixia mecânica por
afogamento, eram Eloá Barreto de Matos de 2 anos (Certidão de Óbito – fl. 115), Allan
Iury Barreto Santana de Souza de 7 anos (Certidão de Óbito – fl. 122) e Alerrandro
Ventura Alves de 3 anos (Certidão de Óbito – fl. 126).
O incidente foi comunicado à Polícia Civil do Pará (Superintendência
Regional do Sudeste Paraense - 21ª Seccional de Polícia Civil do Município de Marabá)
tendo sido instaurado inquérito policial (fls. 44 e seguintes).
A Autoridade Policial, em seu Relatório, entendeu que Irima Pereira Lima
praticou homicídio culposo (as três crianças) e expôs a perigo a vida (art. 132 CP) dos
passageiros que sobreviveram (fls. 94/95).
O Delegado observou que, por meio das declarações do inquérito, o
investigado Irima Pereira Lima prestou socorro às crianças e aos adultos e que não fugiu
do local da ocorrência.
Na mesma peça, o Delegado indiciou os parentes dos menores por assumirem
o risco de expor as crianças na travessia e nas condições relatadas.
No Laudo de Exame Pericial Indireto, fls. 12 e seguintes, efetuado no dia 12,
os Peritos concluíram que a causa determinante do acidente foi a imperícia do Condutor
não habilitado da embarcação sem denominação, do tipo “rabeta”, por erro de navegação,
conduzindo sua embarcação sem observar os cuidados marinheiros necessários,
colocando em risco a vida das pessoas que estavam embarcadas.
Dos depoimentos colhidos em sede de IAFN, em síntese, extrai-se que Sr.
João Bosco Benedito de Oliveira, passageiro, declarou (fls. 22/24) que não existiam
equipamentos de salvatagem; que o tempo estava bom, não chovia, as águas estavam
agitadas, o vento era brando e a visibilidade boa. Ao ser indagado sobre a causa do
acidente, disse que a atribuía ao erro de navegação do condutor da embarcação, pois
admitiu que entrou no canal errado ocasionando o acidente. Informou que a embarcação
era de madeira e tinha de 8 a 9 metros de comprimento
Antonia Santana Pereira declarou que (fls. 28/30) que o condutor não
consumiu bebida alcoólica e que o acidente aconteceu devido a embarcação ter batido na
pedra; que as pessoas ficaram boiando, tentando nadar ou apanhar objetos do tipo caixa
de isopor, boia de criança e outros pertences para se salvarem.
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(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.816/2017...........................................)
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Prestaram ainda depoimentos as senhoras Izabel Barreto da Costa e Maria
Gabriela Alves da Silva (fls. 33/35 e 39/40) que, em linhas gerais, estão de acordo com o
acima narrado.
Consta às fls. 83/84 o interrogatório de Irima Pereira Lima na Delegacia de
Polícia do Município de Marabá - PA. Nessa peça o indiciado afirmou que a embarcação
não era cadastrada junto à Capitania dos Portos, que não possuía habilitação para
conduzir embarcações e não sabia informar onde a embarcação se encontra no momento,
e que senão foi retirada do rio por alguém, deveria estar próxima à Itupiranga.
Também disse que realizou buscas para encontrar as crianças desaparecidas,
tendo posteriormente se evadido, pois algumas pessoas queriam linchá-lo.
Declarou que estava arrependido de ter efetuado o transporte; que o realizou
de forma gratuita e que não quer trabalhar mais como canoeiro.
Reportou que o local onde ocorreu o acidente apresentava grandes
correntezas.
No Relatório de IAFN, fls. 142 e seguintes, o Encarregado relatou que o
condutor e proprietário da RABETA, Irima Pereira Lima, apesar de ter sido notificado
por meio de seu filho Edilson da Silva Lima para ir à Capitania dos Portos prestar
esclarecimentos sobre o naufrágio, não compareceu.
O Encarregado concluiu de forma semelhante aos peritos e apontou Irima
Pereira Lima como responsável pelo incidente.
Notificado da conclusão do Inquérito (fls. 151/152), o indiciado não
apresentou defesa prévia
A D. Procuradoria Especial da Marinha, após análise dos Autos, ofereceu
representação em face de Irima Pereira Lima, com fulcro no art. 14, alínea “a”(colisão e
naufrágio) da Lei nº 2.180/54, fundamentando às fls. 160/163.
Após resumir os principais fatos narrados no IAFN, a D. Procuradoria
pontuou que:
i) não foi possível apurar se havia excesso de passageiros a bordo da
RABETA, que não era inscrita, e os depoimentos das testemunhas acerca do
cumprimento e da largura da embarcação eram díspares e que não cabiam diligências
sobre o tema, já que a RABETA não foi reflutuada;
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(Continuação do Acórdão referente ao Processo n° 31.816/2017...........................................)
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ii) seis passageiros, em interrogatório realizado na Polícia Civil, afirmaram
que o representado navegava “por um canal do rio onde existia uma grande correnteza e
funis de água” (fls. 60, 63, 66, 69, 72 e 80); e
iii) o fato dos passageiros não usarem coletes salva-vidas agravou os
resultados do naufrágio.
Por, fim, entendeu a PEM que deve ser responsabilizado Irima Pereira Lima,
na qualidade de proprietário e condutor inabilitado de embarcação do tipo RABETA, sem
denominação, não inscrita, porquanto foi negligente, imperito e imprudente ao i) colocar
sua embarcação, não registrada, para navegar à revelia da Autoridade Marítima, sem
dispor de material de salvatagem; ii) escolher navegar por canal do rio onde havia grande
correnteza e funis de água; e iii) navegar por área em que havia pedras não visíveis,
culminando na colisão com pedra, naufrágio e morte de três crianças.
A representação foi recebida por unanimidade na Sessão Ordinária nº 7.290 ª,
do dia 22/11/2018, com o envio de cópia da representação, da perícia e do relatório do
IAFN ao D. Ministério Público do Pará.
Citado pessoalmente (fls. 189), o Representado, que não apresenta
antecedentes neste Tribunal, foi regularmente defendido por I. Advogado constituído.
A defesa do Representado (fls. 192/199) trouxe a tese da exculpabilidade,
alegando em preliminar que não houve individualização da conduta, de acordo com o
artigo 41 do CP.
Argumentou que o representante ministerial não especificou como chegou à
conclusão que o agente estaria incurso no delito de homicídio culposo; e que a denúncia
não demonstrou de forma clara o liame entre a conduta do acusado e o resultado de morte
das vítimas, não revelando as circunstâncias que configurassem a negligência ou
imperícia, não podendo tais atributos serem presumidos.
Também suscitou a falta de justa causa, invocando o art. 395 do CP, por não
constar dos Autos elementos razoáveis de convicção quanto ao fato típico e sua autoria,
sendo as provas inconsistentes.
No mérito alegou que, pelos elementos de prova colhidos, o órgão acusador
não demonstrou os crimes cometidos e que o acusado teria oportunidade de se defender

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em Juízo durante a instrução criminal. Solicitou a oitiva de oito testemunhas residentes
em Marabá.
Aberta a Instrução, a PEM refutou as preliminares, sustentando, em síntese,
que (fls. 204/205) a representação descreveu de forma minuciosa e objetiva o acidente da
navegação, com todos os elementos e circunstâncias essenciais, calcadas nas provas dos
autos.
Que foram observados os requisitos legais previstos no CPC e do então artigo
62 do RIPTM.
Acrescentou que a representação foi submetida ao juízo de admissibilidade
pelo TM, que a recebeu por unanimidade.
As preliminares suscitadas pelo Representado foram indeferidas em decisão
saneadora não recorrida (fl. 208), pela mesma fundamentação apresentada pela D.
Procuradoria. Ademais, o presente processo trata de acidente da navegação de colisão e
naufrágio, sendo que a conduta do representado foi detalhada na representação oferecida.
Ainda na fase de instrução, foi oportunizado ao Representado apresentar,
justificadamente, as provas que pretendia produzir e ainda manifestar-se sobre a oitiva de
testemunhas, frisando-se que o presente processo trata de apuração de acidentes previstos
na LOTM e não de instrução criminal. No entanto, o representado não se manifestou.
Em Razões Finais, manifestou-se a PEM e, novamente, o Representado se
manteve silente, conforme a certidão à fl. 219.
É o Relatório.
Decide-se:
Relatados os fatos e analisadas as provas carreadas aos Autos,verifica-se que
a causa determinante da colisão e do naufrágio da embarcação deve-se a um erro de
navegação cometido pelo condutor inabilitado, conforme as conclusões a que chegaram
os Peritos e Encarregado do IAFN.
Dos Autos também temos que a PEM entendeu que Irima Pereira Lima, na
qualidade de proprietário e condutor inabilitado de embarcação, foi negligente, imperito e
imprudente ao i) colocar sua embarcação, não registrada, para navegar à revelia da
Autoridade Marítima, sem dispor de material de salvatagem; ii) escolher navegar por
canal do rio onde havia grande correnteza e funis de água; e iii) navegar por área em que
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havia pedras não visíveis, culminando na colisão com pedra, naufrágio e morte de três
crianças.
Em que pese a falta de croquis ou extratos de carta náutica para melhor
análise do local do acidente, entendo que assiste razão à PEM. Os depoimentos prestados
apontam que ocorreu uma colisão com pedras devido a erro de navegação do condutor.
Ademais, no inquérito policial, algumas das testemunhas fizeram alusão que representado
navegava “por um canal do rio onde existia uma grande correnteza e funis de água”.
A ocorrência foi agravada pela falta de coletes salva-vidas a bordo, o que
contribuiu para o lamentável afogamento de três crianças.
Tais fatos não foram contestados pela Defesa, que apresentou apenas
preliminares e expressou o desejo de se manifestar em provas, o que acabou por não
fazer.
Diante do exposto, devem ser julgados procedentes os fundamentos da
representação da Douta Procuradoria, responsabilizando Irima Pereira Lima, na qualidade
de proprietário e condutor da Embarcação não inscrita pelos acidentes da navegação,
capitulados no art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54, por sua conduta imprudente,
imperita e negligente.
Na aplicação da pena deve ser considerado que o Representado não apresenta
antecedentes neste Tribunal e que prestou auxílio nas buscas realizadas.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) Quanto à
natureza e extensão dos acidentes da navegação: colisão com pedras e naufrágio e com
morte de passageiros de bordo de uma embarcação do tipo rabeta, sem denominação, não
inscrita, de madeira, quando realizava a travessia da Praia do Geladinho para o Balneário
da Mangueira no Município de Marabá – PA. Não houve registro de danos ambientais,
mas ocorreu o óbito de três menores de idade que se encontravam na embarcação. A
embarcação não foi recuperada após o naufrágio; b) Quanto à causa determinante: erro de
navegação; c) Decisão: julgar os acidentes da navegação capitulados no art. 14, alínea
“a”, da Lei nº 2.180/54, como decorrente de imprudência, imperícia e negligência do
Representado Irima Pereira Lima por: i) colocar sua embarcação, não registrada, para
navegar à revelia da Autoridade Marítima, sem dispor de material de salvatagem; ii)
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escolher navegar por canal do rio onde havia grande correnteza e funis de água; e iii)
navegar por área em que havia pedras não visíveis, culminando na colisão com pedra,
naufrágio e morte de três crianças. E, considerando as circunstâncias, as graves
consequências do acidente e as atenuantes relatadas, aplicar-lhe a pena de multa de 500
(quinhentas) UFIR, com fundamento no art. 121, inciso VII e § 5º, art. 124, incisos I e
VIII, art. 127, § 2º, art. 135, inciso II. O valor monetário da multa será atualizado em
conformidade com os parâmetros previstos na Resolução 51/2020, do Tribunal Marítimo.
Custas na forma da Lei; e d) Medidas preventivas e de segurança: encaminhar cópia do
referido acórdão ao Douto Ministério Público do Estado do Pará.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 04 de novembro de 2021.

ATTILA HALAN COURY


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 14 de dezembro de 2021.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Encarregado da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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TRIBUNAL MARÍTIMO
AR/FAL PROCESSO Nº 32.496/18
ACÓRDÃO

B/P “TALITA I”. Acidente hiperbárico com mergulhador não habilitado,


Anderson Freitas da Costa Júnior, POP, vítima não fatal, que consta não
ficou com sequelas, durante prática ilegal de pesca da lagosta, com uso de
compressor, nas proximidades da praia de Tabatinga, no município de Nísia
Floresta, RN. Descumprimento do art. 9º da Instrução Normativa nº
138/2006, do IBAMA, por mergulhador sem conhecimento técnico e com
equipamentos inadequados, insuficientes e não homologados, descumprindo
lei específica, inciso II, do parágrafo único, do art. 35, da Lei nº 9.605/1998,
que tipifica como crime ambiental a pesca mediante a utilização de aparelhos,
petrechos, técnicas e métodos não permitidos, e em evidente exposição a
risco. Dolo, negligência e imperícia. Atenuante e agravante. Medidas
preventivas e de segurança. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


Trata-se de analisar o fato da navegação ocorrido cerca das 16h30min do dia
05 de outubro de 2017, caracterizado pelo acidente de mergulho com o tripulante
Anderson Freitas da Costa Júnior, mergulhador não habilitado, a bordo do B/P “TALITA
I”, conduzido por seu proprietário Anderson Freitas da Costa, Pescador Profissional, pai
do vitimado, a cerca de 4 milhas náuticas da praia de Tabatinga, no município de Nísia
Floresta, RN, com danos pessoais, mas sem registro de danos materiais e ambientais.
O B/P “TALITA I”, nº de inscrição 181-004094-9, tem casco de madeira, de
9,10m de comprimento e 3,42m de boca, 5,70 AB, ano de construção 1982, classificado
para navegação em mar aberto, atividade de pesca, era de propriedade de Anderson
Freitas da Costa.
No Inquérito instaurado pela Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte,
foram ouvidas quatro testemunhas e anexados documentos de praxe.
No Laudo de Exame Pericial, fls. 38 a 41, elaborado no dia 17 de outubro de
2017, com anexos de A a C, fls. 42 a 67, consta que embarcação, por ocasião da perícia,
se encontrava fundeada no porto da praia de Pirangi do Sul, Parnamirim, RN,
considerada em bom estado de conservação.
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Os Peritos apresentaram a seguinte sequência de acontecimentos: no dia 05
de outubro de 2017, cerca das 6h, o B/P “TALITA I” suspendeu da praia de Pirangi do
Sul com destino ao local de pescaria conhecido como “Barreta”, aproximadamente a
quatro milhas da Praia de Tabatinga, no município de Nísia Floresta, RN, a fim de pescar
lagosta. O Sr. Anderson Freitas da Costa Júnior, pescador da embarcação, encontrava-se
mergulhando com auxílio de compressor de ar, na profundidade aproximada de 20 a 25
metros. Cerca 16h30min, Anderson Freitas da Costa Júnior subiu à superfície após três
mergulhos de uma hora, com tempo de descompressão de vinte minutos de duração cada;
após um descanso, cerca das 18h30min sentiu-se mal, apresentando os sintomas de enjoo,
dormência nos membros inferiores e tontura. O Comandante resolveu, imediatamente,
regressar para terra, para atendimento médico. O Sr. Anderson Freitas da Costa Júnior, ao
chegar em terra, foi socorrido e levado ao Pronto Atendimento de Pirangi do Sul em
Parnamirim, RN, onde foi atendido, medicado e encaminhado ao Hospital Naval de Natal
(HNNa), dando entrada cerca das 23h, onde foi atendido pelo Dr. Anísio Virgolino da
Silva Filho, diagnosticado com “cefaleia, dores articulares nos membros inferiores”, que
o encaminhou para fazer a descompressão no centro hiperbárico da Base Naval de Natal,
onde foi atendido das 23h30min às 02h40min.
Os Peritos consideraram que o fator operacional contribuiu e concluíram que
a causa determinante do fato da navegação em pauta foi o erro do mergulhador na
descompressão durante o retorno à superfície, por falta de habilitação profissional. Que o
mesmo foi imprudente e imperito, pois sabia dos riscos que aquela atividade poderia
representar para a sua integridade física e, mesmo assim, não sendo habilitado, assumiu
os riscos, utilizando equipamentos inadequados.
Nas fls. 63 a 65, Anexo B, consta o registro fotográfico do B/P “TALITA I”.
O Encarregado do IAFN, fls. 76 a 82, depois de resumir o Laudo de Exame
Pericial e os depoimentos, acompanhando os Peritos, concluiu que o fator operacional
contribuiu, pois a imperícia e imprudência do pescador acidentado, bem como a
imprudência do proprietário e dos demais tripulantes da embarcação contribuíram para
que o acidente de mergulho ocorresse; e apontou como possíveis responsáveis Anderson
Freitas da Costa (proprietário da embarcação), Anderson Freitas da Costa Júnior
(mergulhador), Jameson Martins de Souza (mangueirista), Francimário Lopes de Oliveira
(mergulhador).
Ressaltou, ainda, que “todos os envolvidos nesse acidente são costumeiros
nessa prática ilegal, conforme consta em seus depoimentos, contrariando, desta forma, o

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disposto no Art. 9º da Instrução Normativa nº 138/2006, do IBAMA, que proíbe a captura
de lagostas por meio de mergulho de qualquer natureza. A citada norma proíbe, ainda, as
embarcações que operam na pesca de lagostas, de portar qualquer tipo de aparelho de ar
comprimido e instrumentos adaptados à captura de lagostas por meio de mergulho. Desta
forma, o fato da navegação, em tese, constitui também o crime ambiental capitulado no
inciso II, do art. 35, da Lei nº 9.605/98”.
O Indiciado Anderson Freitas da Costa apresentou Defesa Prévia, fls. 91 a 93,
alegando que no que tange ao citado acidente de mergulho, ressalta que a vítima, tal
como todos os tripulantes da embarcação “TALITA I”, são pescadores artesanais e,
através desta penosa e árdua atividade, obtêm o sustento de suas famílias, valendo
destacar que este é o meio de obtenção de renda da maioria das famílias no município de
Caiçara do Norte, RN, frisando que seus peculiares e conhecidos métodos artesanais são
utilizados há décadas e que, devido à escassez de recursos financeiros e incentivos
governamentais, torna-se inviável a exata adequação às imposições normativas da
atividade, o que faz a necessidade alimentar superar as normatizações, mas não aos
princípios morais, os quais são sobejamente acatados pela classe. Alegou, ainda, que a
vítima, mesmo diante de sua experiência, provavelmente tenha agido com imprudência e
contribuído para o sinistro, conforme dispõe em seu próprio depoimento, onde o mesmo,
por outro lado, também relata que já está sentindo-se bem e, portanto, livre de quaisquer
sequelas ou enfermidades. Que, no que diz respeito à alegação de que a embarcação não
possuiria o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcação ou por suas
Cargas (Seguro DPEM), convém afirmar que isso é algo que precisa ser melhor avaliado,
inclusive, com a oportuna juntada e averiguação da documentação relacionada ao tema,
além de que há de ser ponderada eventual desatenção, em virtude do desconhecimento e
dificuldade de acesso à informações específicas como tais por parte do “Defendente”.
Que, a alegação de que a embarcação em apreço estaria atuando, irregularmente, na
prática da captura de lagostas e, desta feita, teria infringido o disposto no inciso II, do art.
35, da Lei nº 9.605/98, ressalta que tal afirmação não possui respaldo nos autos, uma vez
que os tripulantes do B/P “TALITA I” atuavam na captura de peixes, bem como não há
relato de apreensão de qualquer espécime do referido crustáceo. Que, portanto, a
assertiva não merece prosperar.
O Indiciado Francimário Lopes de Oliveira apresentou Defesa Prévia, fls.
102 a 105, alegando que a notificação referente ao fato de navegação em discussão “não
foi entregue pessoalmente ao Defendente, mas sim a pessoa diversa, neste caso ao Sr.

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Anderson Freitas da Costa, o qual recebeu a notificação”, tendo o repassado
posteriormente, razão pela qual argumenta que tal procedimento viola a pessoalidade da
notificação, pondo em risco uma melhor análise do caso para fins de elaboração de sua
defesa, além de sufocar a atenção ao prazo legal para sua Representação. E, tendo sido
demonstrada a nulidade, bem como os prejuízos advindos dessa inobservância aos
preceitos legais, requereu a decretação da nulidade de todos os atos processuais, a partir
da notificação. Que, no que tange ao citado acidente de mergulho, a vítima, tal como
todos os tripulantes da embarcação “TALITA I”, inclusive o Sr. Anderson Freitas da
Costa, são pescadores artesanais e através desta penosa e árdua atividade obtêm o
sustento de suas famílias, valendo destacar que este é o meio de obtenção de renda da
maioria das famílias no município de Caiçara do Norte, RN, frisando que seus peculiares
e conhecidos métodos artesanais são utilizados há décadas e que, devido à escassez de
recursos financeiros e incentivos governamentais, torna-se inviável a exata adequação às
imposições normativas da atividade, o que faz a necessidade alimentar superar as
normatizações, mas não aos princípios morais, os quais são sobejamente acatados pela
classe. Que, observa-se que a vítima, mesmo diante de sua experiência, provavelmente
tenha agido com imprudência e contribuído para o sinistro, conforme dispõe em seu
próprio depoimento, onde o mesmo, por outro lado, também relata que já está sentindo-se
bem e, portanto livre de quaisquer sequelas ou enfermidades. Que, no que diz respeito à
alegação de que a embarcação não possuiria o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais
Causados por Embarcação ou por suas Cargas (Seguro DPEM), convém afirmar que isso
é algo que precisa ser melhor avaliado, inclusive com a oportuna juntada e averiguação
da documentação relacionada ao tema, além de que, data vênia, há de ser ponderada
eventual desatenção, em virtude do desconhecimento e dificuldade de acesso a
informações específicas como tais por parte do Defendente. Que, quanto à alegação de
que a embarcação em apreço estaria atuando, irregularmente, na prática da captura de
lagostas e, desta feita, teria infringido o disposto no inciso II, do art. 35, da Lei nº
9.605/98, destaca que tal afirmação não possui respaldo nos autos, uma vez que os
tripulantes da embarcação em apreço atuavam na captura de peixes, bem como não há
relato de apreensão de qualquer espécime do referido crustáceo. Portanto, que a assertiva
não merece prosperar.
A D. Procuradoria, fls. 116 a 122, em uniformidade de entendimento com o
Encarregado do IAFN, depois de resumir os principais fatos apurados nos autos,
representou em face de Anderson Freitas da Costa, na qualidade de proprietário e

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tripulante do B/P “TALITA I”; de Anderson Freitas da Costa Júnior, na qualidade de
tripulante (mergulhador) a bordo do B/P “TALITA I de Jameson Martins de Souza, na
qualidade de tripulante (mangueirista) a bordo do B/P “TALITA I; e de Francimário
Lopes de Oliveira tripulante (mergulhador) a bordo do B/P “TALITA I”; todos com
fulcro no art. 15, alíneas “e” e “f”, da Lei nº 2.180/54, por pesca de lagosta através de
mergulho, com uso de compressor de ar, mangueiras e mergulhadores não habilitados,
fundamentando e requerendo a condenação dos Representados.
Alegou, em síntese, que o incidente em exame resultou da inobservância das
normas e procedimentos que versam sobre a atividade subaquática, mais especificamente,
a NORMAM-15/DPC e a Norma Regulamentadora nº 15 – Atividades e Operações
Insalubres, do Ministério do Trabalho e Emprego. Que, o descaso dos Representados para
a salvaguarda da vida humana no mar e a segurança da navegação, sobretudo quanto ao
emprego da embarcação em atividade ilícita, revelou-se inescusável.
Destacou, ainda, que restou demonstrado que os representados são os
responsáveis pelo fato da navegação em comento, eis que nem a vítima, nem os outros
tripulantes eram habilitados para atividade de mergulho, e, além disso, utilizavam
material não homologado para realizar atividade de pesca.
Que, os Representados, tripulantes do pesqueiro “TALITA I” e envolvidos na
atividade de pesca descrita, devem sofrer reprimenda do Egrégio Tribunal Marítimo, pois
concorreram na prática do ilícito penal ambiental, conduzindo seu agir de forma
negligente e imprudente, contrária ao direito, exercendo atividade subaquática sem o
conhecimento técnico e com equipamentos inadequados e insuficientes para tal ofício,
pois utilizavam material não homologado para pesca subaquática de lagostas, em
evidente exposição a risco que acabou por se materializar com o incidente relatado.
Além disso, que o 1º Representado, além de tripulante é também proprietário
do B/P “TALITA I”, e sendo assim, deve responder por empregar embarcação de sua
propriedade na exploração de atividade proibida de modo contínuo e consciente, com
elevado risco a integridade física e saúde dos pescadores, sem a técnica e os meios que a
atividade legalmente requer.
A Representação foi recebida por unanimidade na Sessão Ordinária nº 7.362ª,
de 19 de setembro de 2019, e apenas Jameson Martins de Souza tem condenação neste E.
Tribunal.
Citados, os quatro Representados foram defendidos em Defesa conjunta, fls.
145 a 149, por I. Advogado regularmente constituído, fls. 150, 151, 161 e 162, que

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apresentou preliminares de “inépcia da Representação”, por falta de elementos essenciais;
“nulidade do IAFN”, por “não ter sido formalmente instaurado”; e de “prescrição”.
No mérito, apresentou a tese de culpa exclusiva da própria vítima, por
imprudência, o que autorizaria o arquivamento dos autos; que não agiram com dolo nem
quiseram cometer qualquer ilícito civil; todos eram habilitados e tinham licença para
pesca amadora, o que pode ser provado pelas licenças acostadas; e que “Ocorre que a
vítima foi imprudente e contribuiu para o sinistro, restando pois que as condutas dos
defendentes não são típicas das penas previstas na Lei nº 2.180 de 05/02/54, devendo em
razão disso, o presente procedimento ser arquivado, por não haver nos autos provas
suficientemente fortes que possam sustentar a acusação apresentada” (SIC).
Finalizou requerendo “gratuidade de justiça”, em razão da hipossuficiência
econômica dos representados; que sejam acatadas as preliminares arguidas; o
arquivamento dos autos, por não terem os Representados praticado qualquer ato doloso e
que vá de encontro à legislação mencionada; por ter ocorrido culpa da vítima, por
imprudência; ou que se condene os Representados com a pena de repreensão, prevista no
art. 121, inciso I, da Lei nº 2.18/54, protestando por todos os meios de prova em Direito
admitidas.
Aberta a Instrução, fl. 163 (publicado no e-DTM nº 23, de 18/03/19), a PEM
para Provas e para se manifestar acerca das preliminares arguidas, esta declarou que se
louvava nas provas dos autos, fls. 166 a 168, e requereu despacho saneador indeferindo
as preliminares, se manifestando, em síntese: 1. que não procede a alegação de “inépcia
da inicial”, porque a Representação cumpriu o determinado por lei, descrevendo todos os
elementos e circunstâncias que lhe são essenciais, permitindo a instauração do
contraditório e a ampla defesa, com pedido de condenação, não cabendo a este órgão
definir as penas aplicáveis, competência exclusiva do Tribunal Marítimo; 2. a alegação de
“nulidade do IAFN” também não procede pois este foi formalmente instaurado e não há
prejuízo para os Representados, pois se trata de procedimento preparatório à ação; e 3. a
alegação de “prescrição” também não procede, pois o fato se deu em 05 de outubro de
2017 e foi instaurado o IAFN dentro do prazo quinquenal, nos termos do art. 1º da Lei nº
9.873/1999.
Em Despacho saneador não recorrido, as preliminares foram indeferidas,
acolhendo os argumentos da PEM, e foi aberto prazo para Provas para os Representados
fl. 169 (publicado no e-DTM nº 08, de 23/02/21), mas nenhuma prova adicional foi
produzida, conforme Certidão de fl. 171.

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Encerrada a Instrução, fl. 171 (publicado no e-DTM nº 29, de 25/03/21), a
PEM reiterou os ternos de sua exordial, fl. 172 verso.
Em Alegações Finais para os Representados, fl. 173 (publicado no e-DTM nº
59, de 17/05/21), deixaram decorrer o prazo sem manifestação, conforme Certidão de fl.
156.
É o Relatório.
Decide-se:
De tudo o que consta dos presentes autos, temos que a D. Procuradoria
representou em face de Anderson Freitas da Costa, proprietário e tripulante do B/P
“TALITA I”; Anderson Freitas da Costa Júnior, tripulante (mergulhador); Jameson
Martins de Souza, tripulante (mangueirista); e Francimário Lopes de Oliveira, tripulante
(mergulhador), todos com fulcro no art. 15, alíneas “e” e “f”, da Lei nº 2.180/54, por
pescar lagosta através de mergulho, com uso de compressor de ar, mangueiras e
mergulhadores não habilitados, não observando as normas e procedimentos previstos na
NORMAM 15/DPC e na NR nº 15 – Atividades e Operações Insalubres, do Ministério do
Trabalho e Emprego, em prática do ilícito penal ambiental, de forma negligente e
imprudente, exercendo atividade subaquática sem o conhecimento técnico e com
equipamentos inadequados, insuficientes e não homologado, na pesca subaquática de
lagostas, em evidente exposição a risco que acabou por se materializar com o incidente
relatado. Além disso, o 1º Representado, tripulante, também era o proprietário do B/P
“TALITA I”, devendo responder por empregar sua embarcação na exploração de
atividade proibida de modo contínuo e consciente, com elevado risco a integridade física
e saúde dos pescadores, sem a técnica e os meios que a atividade legalmente requer.
Apenas o 3º Representado, Jameson Martins de Souza, tem condenação neste
E. Tribunal, sendo reincidente.
Os quatro Representados apresentaram Defesa conjunta com preliminares
que foram indeferidas em despacho saneador não recorrido.
No mérito, apresentaram as teses de “culpa exclusiva da própria vítima” (2º
Representado e filho do proprietário do barco); que não agiram com dolo, nem queriam
cometer ilícitos; que eram habilitados e requereram a improcedência da representação, ou
alternativamente, a aplicação da pena de repreensão.
Não podem ser aceitos os pedidos da Defesa, pois, das provas dos autos
temos um Laudo de Exame Pericial e quatro depoimentos que descrevem os fatos como
constam na exordial da PEM e a Defesa dos que estavam a bordo da embarcação não

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negou os fatos.
Anderson Freitas da Costa, fls. 15 e 16, POP, 1º Representado, em síntese,
declarou que era o proprietário do barco de pesca e estava a bordo como tripulante; que
seu filho Anderson Freitas da Costa Júnior, 2º representado, realizou três (3) mergulhos
de 40 minutos e 20 minutos de descompressão, totalizando aproximadamente 1 hora cada
mergulho, utilizando compressor de ar comprimido e mangueira a uma profundidade de
aproximadamente 22 metros; depois do terceiro mergulho, ao retornar à superfície, se
sentiu; a embarcação retornou para a Praia de Pirangi do Sul, e o mergulhador foi
conduzido por um amigo do depoente até o Hospital de Pirangi do Norte e de lá
transferido para o Hospital Naval de Natal, apresentando vômito e diarreia e foi
submetido a tratamento na câmara hiperbárica durante 02h30min, mas que já se
encontrava recuperado; o equipamento de mergulho foi devolvido ao proprietário, Sr.
“JOSÉ”, de Fortaleza; tinha conhecimento que a pesca de lagosta utilizando compressor
de ar comprimido é ilegal, mas que praticava por motivos de dificuldade financeira e por
necessitar de recursos para terminar a reforma de sua embarcação.
Anderson Freitas da Costa Júnior, 2º Representado, POP, fls. 24 e 25,
confirmou o depoimento anterior, que saíram da Praia de Pirangi do Sul, cerca das
04h30min, com 4 tripulantes a bordo para pescar lagostas; declarou que desconhecia que
a pesca da lagosta utilizando compressor de ar comprimido era ilegal, mas que praticou
esta atividade várias vezes, por motivos financeiros; e, no dia, foi pescado cerca de oito
quilos de lagosta.
Jameson Martins de Souza, 3º Representado, não habilitado, fl. 33 e 34,
declarou que era tripulante do B/P “TALITA I” e confirmou os depoimentos anteriores,
que saíram para pescar lagosta com compressor de ar comprimido e mangueira a uma
profundidade de aproximadamente 22 metros; que tinha conhecimento que a pesca da
lagosta utilizando compressor de ar comprimido era ilegal, mas que praticava por
motivos de dificuldade financeira e sustento da família.
Francimário Lopes de Oliveira, 4º Representado, POP, fl. 69 e 70, confirmou
os fatos como descritos acima; tinha conhecimento que a pesca da lagosta utilizando
compressor de ar comprimido era ilegal, mas praticava por motivos de dificuldade
financeira.
Por todo o exposto, com base no conjunto probatório dos autos, devem ser
acolhidos os termos da Representação e responsabilizar os quatro representados por suas
condutas dolosas imprudentes e imperitas, pois assumiram os riscos e estavam cientes de

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suas ilicitudes, como descritas na exordial da PEM.
Na aplicação das penas, deve ser considerado o fato de apenas o 3º
Representado ter antecedentes neste E. Tribunal, de terem ajudado a esclarecer os fatos,
com seus depoimentos e que, do que consta dos autos, a vítima não ficou com sequelas.
Como medidas preventivas e de segurança, com fulcro no art. 21, da Lei nº
2.180/54, enviar cópia do Acórdão ao D. Ministério Público do Estado do Rio Grande do
Norte e, em conformidade com a Resolução nº 48/2020, do Tribunal Marítimo, enviar
cópia do Acórdão ao D. Ministério Público do Trabalho, pelo caráter de trabalho ilícito,
insalubre e perigoso, contra a saúde desses mergulhadores, ao IBAMA, à Secretaria de
Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento -
SAP/MAPA, para implementação de medidas de fiscalização da cadeia produtiva, até a
comercialização, e ainda ao agente da Autoridade Marítima, para divulgação às demais
autoridades locais e às colônias de pesca, como ação educativa e para coibir a ação de
proprietários e armadores envolvidos nesta prática ilícita e perigosa, que tem deixado
graves sequelas à sociedade local.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) Quanto à
natureza e extensão dos fatos da navegação: acidente hiperbárico com mergulhador não
habilitado, Anderson Freitas da Costa Júnior, POP, vítima não fatal, que consta não ficou
com sequelas, durante prática ilegal de pesca da lagosta, com uso de compressor, nas
proximidades da praia de Tabatinga, no município de Nísia Floresta, RN; b) Quanto às
causas determinantes: prática ilegal de pesca de lagostas, em atividade de mergulho,
descumprindo o art. 9º da Instrução Normativa nº 138/2006, do IBAMA, assim como
sem o conhecimento técnico e com equipamentos inadequados, insuficientes e não
homologados, descumprindo Lei específica, inciso II, do parágrafo único, do art. 35, da
Lei nº 9.605/1998, que tipifica como crime ambiental a pesca mediante a utilização de
aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos, e em evidente exposição a risco;
c) Decisão: julgar os fatos da navegação, tipificados no art. 15, alíneas “e” (exposição a
risco) e “f” (emprego de embarcação na prática de ato ilícito), da Lei nº 2.180/54, como
decorrentes de dolo, negligência e imperícia dos Representados, acolhendo os termos da
Representação da Douta Procuradoria Especial da Marinha, e, considerando as
circunstâncias, consequências e atenuante, com fulcro nos artigos 58, 121, incisos I e VII,
124, inciso IX, 127, e 139, inciso IV, alínea “d”, para os quatro Representados e
adicionalmente a agravante do art. 135, inciso I para o 3º Representado, todos os artigos

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da Lei nº 2.180/54, aplicar a pena de multa de 3.000 (três mil) UFIR ao 1º Representado,
Anderson Freitas da Costa, proprietário e tripulante do B/P “TALITA I”, a pena de multa
de 200 (duzentas) UFIR ao 2º e ao 4º Representados. Anderson Freitas da Costa Júnior e
Francimário Lopes de Oliveira, tripulantes (mergulhadores); e a pena de multa de 400
(quatrocentas) UFIR ao 3º Representado, reincidente, Jameson Martins de Souza,
tripulante (mangueirista), valores que serão atualizados em conformidade com os
parâmetros estabelecidos na Resolução nº 51/2020, do Tribunal Marítimo,
cumulativamente com a pena de repreensão para os quatro Representados. Isentos das
custas processuais como requerido por sua defesa conjunta; e d) Medidas preventivas e
de segurança: em conformidade com o art. 21, da Lei nº 2.180/54, e com a Resolução nº
48/2020, do Tribunal Marítimo, enviar cópia do Acórdão ao Douto Ministério Público do
Estado do Rio Grande do Norte, ao Douto Ministério Público do Trabalho, ao
CONATPA do Ministério Público do Trabalho, ao IBAMA, ao SAP/MAPA e ainda ao
Agente da Autoridade Marítima, Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte, para
divulgação às demais autoridades locais e às colônias de pesca, como ação educativa.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 11 de novembro de 2021.

FERNANDO ALVES LADEIRAS


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado:

Rio de Janeiro, RJ, em 26 de novembro de 2021.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por MARINHA DO BRASIL - TRIBUNAL MARITIMO:00394502022970
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=videoconferencia, ou=33683111000107, ou=Secretaria da Receita Federal do Brasil -
RFB, ou=ARSERPRO, ou=RFB e-CNPJ A3, cn=MARINHA DO BRASIL - TRIBUNAL MARITIMO:00394502022970
Dados: 2022.02.11 14:58:19 -03'00'

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