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Sociólogo/Estatístico/Cientista Político/Mestrado em Políticas Públicas/Professor/Escritor. Contatos: (85)
9972.6634. http://robertoeducacional.blogspot.com
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Neocolonialismo no Brasil – a luta pela terra em Ilhéus na década de 30
José Roberto Soares Ribeiro
DADOS TÉCNICOS
Redação: José Roberto Soares Ribeiro
Profissão: Sociólogo/Estatístico/Mestrado em Políticas Públicas e Sociedade/Professor e Escritor.
Ilustração – Desenhos – José Roberto Soares Ribeiro
Contatos:
(85) 9972.6634 – (85) 8749.9120 – (85) 81450.6068
http://riobertoeducacional.blogspot.com
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Neocolonialismo no Brasil – a luta pela terra em Ilhéus na década de 30
José Roberto Soares Ribeiro
OFERECIMENTO
A todas as vítimas da especulação imobiliária, no campo e na cidade. Pessoas que perdem suas
casas para prefeituras corruptas que desapropriam, com base numa falha da Constituição,
expulsando moradores de suas residências. Bem como daquelas pessoas que têm as suas terra
inundadas para a construção de usinas hidrelétricas e/ou açudes para atender aos interesses do
capital, do sistema capitalista de dominação e exploração do trabalho do proletário.
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Neocolonialismo no Brasil – a luta pela terra em Ilhéus na década de 30
José Roberto Soares Ribeiro
Fortaleza – Ceará
2011
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Sociólogo/Estatístico/Cientista Político/Mestrado em Políticas Públicas/Professor/Escritor. Contatos: (85)
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Neocolonialismo no Brasil – a luta pela terra em Ilhéus na década de 30
José Roberto Soares Ribeiro
RESUMO
Este romance trata das lutas pela terra em Ilhéus na década de 30, no Brasil. Tem como base
principal os livros Terras do Sem Fim e São Jorge dos Ilhéus de Jorge Amado. Tomou-se como
metodologia a leitura do livro, e ir narrando conforme os momentos mais marcantes, ou seja, aqueles
que fizeram o livro se tornar conhecido. Assim, a luta pela terra em Terras dos Sem Fins, onde o
coronel Horácio da Silveira e o Senhor Badaró lutaram para conquistar as terras ainda não
desmatadas do Cerqueiro Grande. Estas terras haviam sido analisadas pelos especialistas, onde
descobriram ser a melhor do mundo para o plantio do cacau. Aí, nesse ínterim, um ex-escravo, o
negro Jeremias, que habitava as terras desde o tempo dos quilombos, morre do coração quando um
jagunço do senhor Badaró revelou o início da luta pela terra. No mais, tanto a alta quanto a baixo do
preço do cacau sem revelados em detalhes no livro. É um trabalho de resumo que mostra a luta pelo
cacau como sendo uma luta de neocolonização, no final, os exportadores passam a possuir das
terras do antigos coronéis.
Palavras-chave – coronel, luta pela terra, jagunço, alta, baixa, neocolonialismo
ABSTRACT
This novel tells of the struggles for land in Ilheus in the 30s in Brazil. Is based mainly on the books
Land of Endless and Sao Jorge dos Ilheus Jorge Amado. Was taken as a methodology to read the
book, and go as recounting the most memorable moments, or those who did the book become known.
Thus, the struggle for land in the Land Without Fins, where Colonel Horacio da Silveira and Mr.
Badaro fought to conquer the land not yet cleared the Cerqueiro Grande. These lands had been
analyzed by experts, where they discovered to be the best in the world for the cultivation of cocoa.
Here, meanwhile, a former slave, the black Jeremiah, who inhabited the land since the time of the
Quilombo, dies of heart when a gunman of Mr Badaro revealed the beginning of the struggle for land.
More, both the high and low price of cocoa without disclosed in detail in the book. It is a job summary
which shows the struggle for cocoa as a neo-colonization struggle in the end, the exporters have
come to the lands of the old colonels.
Keywords - colonel, fighting for land, gunman, High, Low, neocolonialism
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Neocolonialismo no Brasil – a luta pela terra em Ilhéus na década de 30
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1 O início
Juca Badaró entrava pelo mato adentro, procurando os jagunços que
estavam esperando a sua chegada. Era noite alta, o mato estava molhado, tinha
chovido muito naquela noite. Em casa, Donana e senhor Badaró estavam na sala de
estar. Conversavam sobre as conquistas da terra. Era a Terra do Serqueiro Grande.
Terra virgem, a melhor terra que tinha para plantar o cacau. Todos queriam para si.
Mas deveria haver ali a conquista da terra, pois o coronel Horácio da Silveira
também era um conquistador de terras.
com o coronel Horácio tinha levado um tiro na perna. Acabou a vida assim, lá na sua
pequena propriedade, pois grande parte fora conquistada pelo Horácio, este fizera
caxixe, grilhagem, tomou conta de tudo.
1.2 Os coronéis
O Coronel Maneca Dantas e o coronel Frederico Pinto eram os que mais
iam a Ilhéus se divertirem nos restaurantes e casas de milionários. Dos
exportadores. O coronel Horácio da Silveira, um dos homens mais ricos da Bahia,
morando em Ferradas, perto de Itabuna, Grapiúna e de Ilhéus não gostava disso.
Ficava lá na sua fazenda, curtindo as plantações de cacau. Só isso. Sua esposa,
Estér, havia falecido há anos. Apenas o seu filho, o Silveirinha ficava andando por
Ilhéus. Não gostava de ir na fazenda, achava que aquilo era coisa de matuto.
Advogado sem causa, apenas vivendo da fortuna do pai, Silveirinha se metia com
assuntos sem importância.
O Coronel Frederico Pinto se metera com uma cantora de boite. Lola
Espíndola era argentina, viera com o Pepe Espíndola. Dois aventureiros que haviam
aplicado o golpe Pulo dos Nove em Salvador. O golpe consistia no seguinte. Eles
alugavam um apartamento em um condomínio de luxo. Lola passava a insinuar-se
para algum grande empresário que morava no prédio. E quando o negócio estava
bem adiantado, eles planejavam o golpe. Assim. Quando ela e o empresário
estavam envolvidos no relacionamento amoroso, Pepe descobria. E ficava atônito,
tudof fingimento. Então, começava a chorar, desesperado. Como, dizia em altos
prantos, como fui enganado assim. Então, o empresário para não ser desmoralizado
perante a sua família, com medo da reação de sua esposa, pois o casal Pepe e Lola
ameaçavam botar a boca no mundo, dava uma quantia bem alta em dinheiro para os
dois. E assim, eles iam aplicando vários golpes em Salvador. Mas acabou sendo
descoberto pela imprensa, pois foi bastante repetido. Os jornais noticiaram, Pepe e
Lola foram presos. Pagaram fiança e foram liberados. Mas resolveram migrar para
Ilhéus, pois o preço do Cacau estava em alta, havia fortuna dos coronéis rolando por
ali. Foi quando o coronel Frederico Pinto, candidato a sofrer o Pulo dos Nove
envolveu-se com Lola. Depois Pepe descobriria e a coisa ficou preta.
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Neocolonialismo no Brasil – a luta pela terra em Ilhéus na década de 30
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1.3 A Alta
Naquele dia o poeta Sérgio Moura viu surgir na Associação Comercial
Carlos Zude e diversos exportadores de Ilhéus. Todos foram convocados. Sérgio era
que o secretário da associação, preparou tudo para a reunião. E todos se reuniram
na grande mesa. Ele, lá do outro lado, estava preparado para fazer a ata, sabia
taquigrafia muito bem. Começou a reunião. E Carlos Zude abriu o assunto.
- Senhores, estamos aqui reunidos para um grande evento. O cacau,
nossa fonte de renda. No entanto, o que nós temos? Nada. Pois a terra, a grande
mina do cacau, está ainda nas mãos dos coronéis, por isso, compramos o cacau
pelo preço que eles querem, impõem. E temos que mudar a situação.
Os exportadores, que eram doze, estavam atentos. Muitos concordavam
com as palavras de Carlos Zude, o presidente da Associação de Exportadores de
Ilhéus.
E Carlos continuou.
- E como iremos fazer. É simples. Aumentaremos o preço do cacau
paulatinamente durante cinco anos. Daremos crédito aos coronéis. Crédito tão alto,
que o coronel não terá dinheiro para pagar a não ser com a safra do ano seguinte.
Tudo hipotecado, as fazendas. Tudo o que eles pedirem, daremos, mas com
assinatura reconhecida em cartório. E vai chegar a um ponto tal que a coisa ficará
difícil, muito difícil. Seria a baixa.
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Neocolonialismo no Brasil – a luta pela terra em Ilhéus na década de 30
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- É isso mesmo, o capitão entende das coisas, ele lê muito – Disse uma
pessoa ao lado.
Capitão João Magalhães, quem diria, quem te viu e quem te vê. Chegara
ali há trinta anos, ele e Margot. Desembarcaram em Itabuna, passaram a ganhar
dinheiro. Ele, jogador profissional de pôquer, Margot, cantora de boate. Haviam sido
atraídos pela riqueza do cacau. Grandes fortunas rolavam por ali. O capitão, que
não tinha nada de capitão, nem de engenheiro, conhecera Juca Badaró, um dos
grandes da terra, em mesa de baralho, boemia. Juca, que gostava de boemia,
música, jogo de baralho e diversão, gostara logo do capitão. Ficaram logo amigos.
Enquanto isso, Margot cantava no palco, agradava aos ouvintes, todos a aplaudiam.
O título de capitão e de engenheiro agrimensor se dera num jogo de baralho, em
Salvador. Um jovem engenheiro recém formado perdera grande fortuna para o
capitão, e, para perder mais, apostara o anel de ouro de engenheiro agrimensor.
Pronto, a partir dali, o capitão João Magalhães passara a ser conhecido no mundo
da boemia como engenheiro e capitão. O nome pegou, e ele não se desgrudava do
anel.
Um dia, logo que tivera início as lutas pelas terras do Serqueiro Grande,
Juca o convidou para fazer umas medições de terras, como ele era engenheiro
agrimensor, seria fácil.
- Pois é, capitão, você gostaria de ir lá na minha fazenda, é só para fazer
umas medições, coisa simples, alguns cálculos de engenharia, assinar a planta e
reconhecer a firma do senhor no cartório. Tenho certeza que o senhor não se fará
de rogado.
O capitão dessa vez gelou. Como é que poderia acontecer um negócio
dele. Procurou se esquivar, mas não teve jeito, Juca já estava ali, com o cavalo
pronto. E ele foif.
Lá no meio dos instrumentos de agrimensor, onde ele nunca tinha visto
um em toda a sua vida, não sabia o que fazer. Mas o que salvou foram os técnicos,
pessoas formadas numa escola profissionalizante de Ilhéus. Eles iam fazendo e o
capitão só olhando, fingindo que entendia do assunto. No final, ele se saiu bem, pois
Juca gostara do serviço.
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Neocolonialismo no Brasil – a luta pela terra em Ilhéus na década de 30
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para vender a dezoito mil réis, mas desisti, pois vi nos jornais e nos comentários que
ele chega fácil a vinte mil réis, e olhe lá se não for a vinte dois, ainda este mês.
Donana enxugou os mãos no pano de prato. Olhou para ele e disse:
- Se Deus quiser, Magalhães, vamos ficar ricos novamente. Pagar nossas
dívidas e aumentar de novo o tamanho da fazenda.
E foram almoçar.
2 Em Ilhéus
Na Associação Comercial era só no que falavam, que o cacau estava
aumentando de preço muito rápido.
selvagens, inclusive as cobras, que ficavam andando por dentro de sua casa de
taipa. Passava o dia ouvindo a musica dos pássaros, dos animais que enchiam a
mata com os seus encantos. Aprendera a amar tudo aquilo. Considerava-se um rei,
sendo servido por uma natureza muito bela. No entanto, o homem branco, o
destruidor da vida e da natureza estava por invadir a sua natureza, a sua mata.
Logo que soube da notícia que os coronéis estavam brigando para invadir
Serqueiro Grande, Jeremias ficou branco, sabia que tudo viraria degradação
ambiental. Colocariam tratores, homens trabalhando, espantando e matando os
animais. Quebrando a mata, queimando tudo para plantar o cacau. Ia embora a vida,
o bem estar. Viriam as doenças, seus animais correriam para outros locais, a maioria
seria morto pelo homem caçador, destruidor. Logo logo as águas ficariam poluídas,
precisariam de muita água, fariam represas, inundariam tudo. Adeus mata selvagem,
natureza bela.
E Jeremias começou a se sentir mal, uma grande angústia. Contração de
morte. Caiu. Sem dar um só palavra. Era o fim. O homem branco, destruidor da
natureza vencera. Era o monstro do capitalismo espalhando o terror e o medo no
mundo.
escola. E eles não sabiam o que fazer. Rui Dantas, namorado de Loja Espíndola,
pedira a ela para que imitasse a letra de Ester. A espanhola fizer aquilo porque
gostava muito do Rui. Só isso. Não cobrara nada. E ele, Rui Dantas, depois que
ganhara a causa do coronel, passou a receber muitos processos, todos queriam que
ele advogasse em suas causas. Cliente agora é o que não faltava, inclusive da
Bahia e do Sudeste do país.
A verdade é que o caxixe reacendera os ânimos, pois relembrava os
velhos tempos das lutas pela terra. Tempos onde o coronel Horácio andava com
uma caravana de burros com seus empregados e jagunços. Quando o sinhô Badaró
também fazia sucesso, cavalgando pelas ruas de Grapiúna, Itabuna, Ferradas e
Ilhéus. Muitos recordavam com saudades aqueles tempos onde a fartura era grande,
muitos tinham as suas terras para plantar. Mas quando os coronéis passaram a
adquirir as pequenas propriedades a força, as pessoas foram ficando empregados e
desempregados. Hoje o que prevalecia era o grande capital, as grandes
propriedades, os açudes, as fazendas com tratores, mecanização agrícola. O
camponês indo para a cidade grande, pedir esmola, trabalhar na construção civil
para receber um salário mínimo miserável. As estatísticas davam que um
trabalhador da construção civil mora em favela nos centros das cidades, nas
metrópoles, ao passo que o empresário da construção civil ganha uma fortuna. Era a
exploração do capital dita pelo marxismo. A este respeito, Joaquim e Sérgio Moura
conversam ali, naquela noite. Sérgio tomando uma caneca de chope e Joaquim
bebendo uma cerveja.
- Pois é, seu Sérgio, a situação é essa. Agora o coronel Horácio, mesmo
sendo um grande explorador de mão de obra, é melhor do que os exportadores, pois
estes representam o neoliberalismo econômico, passam por cima de tudo para
revolucionar a produção, expandir o capital.
- Na verdade, Joaquim, o capitalismo, dito pelo próprio Marx no Manifesto
Comunista, está sempre renovando os meios de produção para se manter. Eles
destroem os antigos meios de produção antes mesmo que estes se ossifiquem. Por
isso estão destruindo as fazendas, mecanizando-as. E mais mão de obra liberada,
desemprego, fome e miséria. É assim o desenvolvimento econômico e o
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esportivo, não para ouvir o comentário do jornalista esportivo, mas para verem os
gols do seu time. Quando terminava o show de gols, saiam da sala.
ao capital exterior, neoliberal. Promove a riqueza e o bem estar e luxo dos ricos,
promove a miséria do homem, expulsa-o de suas casas, constrói ruas, avenidas,
condomínios de luxo. Joga o pobre de sua casa para o meio da rua, para a favela,
para debaixo da ponte. O pobre, expulso de sua pequena casa vai pedir esmola no
sinal, no asfalto. O rico o chama de vagabundo. Brasil, país de injustiça social.
era como se ele ainda fosse vivo, e, quando ele fazia um grande negócio, olhava
para o retrato do pai e dizia para os amigos:
- Maximiliano olha para mim, sorrindo, ele nota que faço excelentes
negócios.
Antônio Vítor foi entrando, limpando mil vezes o sapato no tapete,
pedindo até desculpa interna por estar invadindo o escritório de um senhor tão
educado. Mas Carlos Zude quebrou o gelo e foi logo dizendo:
- Nem precisa explicar, coronel, já sei que o senhor vem vender a sua
safra do ano seguinte. É um prazer recebê-lo. Fernanda, por favor, abra uma conta
de crédito aqui para o nosso amigo coronel Antônio Vítor.
Antônio Vítor, sem jeito, agradeceu ao Carlos Zude:
- Seu Carlos, o senhor sabe, a gente precisa ajeitar uma coisa aqui, outra
ali. É uma roça que não está dando bem, um trabalhador que está exigindo um
pouco mais...
- Ora, coronel, não precisa explicar nada. É um prazer fazer negócio com
o senhor. Afinal, são vários exportadores e o senhor deu preferência a mim,
portanto, merece um brinde.
Carlos Zude pegou uma garrafa de vinho francesa, da melhor qualidade.
Pegou duas taças de cristal legítimo, importadas, e serviu o vinho para ele e para
Antônio Vítor. E, assim que pegou na taça, Antônio Vítor não contou pipoca, virou
todo o conteúdo da taça de uma vez, como quem bebe cachaça.
Enquanto isso, Carlos Zude, que observava, pensou para si mesmo que o
coronel não sabia saborear um vinho francês da melhor qualidade, que deveria ser
bebido aos poucos, degustando, sentindo o paladar, como mandava a etiqueta
social.
Por outro lado, Antônio Vítor pensava justamente o inverso. E ria para si
mesmo, imaginando o seu Carlos Zude bebendo cachaça daquele jeito, devagar,
engasgando-se. E nessa imaginação, achou até que o outro estava lendo os seus
pensamentos, e tomou novamente a compostura de homem respeitador.
Depois que recebeu o dinheiro do empréstimo, Antônio Vítor se despediu
de Carlos Zude, baixando-se inúmeras vezes, de costas, até chegar na porta de
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saída. Pegou o rumo da rua, iria logo mais pegar o ônibus, pois já era tarde, e
Raimunda deveria estar preocupada.
4 O MOVIMENTO EM ILHÉUS
Era grande a expectativa em Ilhéus. Ninguém acreditava no que estava
acontecendo. Um crescimento econômicos jamais visto na história. Os coronéis
esbanjavam nas ruas da cidade. O coronel Maneca Dantas acendia cigarro com a
maior nota que existia, a de cem mil réis. Uma verdadeira febre de riqueza, o preço
do cacau lá em cima. Os navios não paravam de chegar, cheio de turistas,
jogadores de cassino, cantores de bandas, cantores de boates, enfim, aventureiros,
atraídos pela grande riqueza de Ilhéus.
5 A BAIXA
Era uma bela manhã de quinta feira, que seria chamada mais tarde da
quinta-feira negra. O sol batia leve no rosto das pessoas. Uma senhora rica
passeava com o seu cachorrinho. Um homem seu jumentinho vendia verdura.
- Coentro, cebola, batata e olhe o chuchu.
Um ônibus da empresa Martins e Cia entrava pela rua principal de Ilhéus.
Algumas pessoas davam com a mão. Um trem apitava entrando pela cidade, surgia
lá perto do morro da serra. Algumas pessoas esperavam na estação. Dona Fulor de
Aquino, esposa do dono do hotel Ilhéus do Mar, dizia para uma amiga:
- Estou sentindo assim uma coisa esquisita em mim. Não sei, mas era
como se uma notícia não muito boa fosse surgir.
A amiga dela disse:
- Ora, deixa de tolice, que asneira. Vira isso pra lá. Meu Deus, que
pessimismo.
prédios, coisas mais modernas. As pessoas acreditavam que um prédio dava sinais
de progresso. De crescimento econômico e de importância. E em Ilhéus, havia
poucos prédios. Um deles fora comprado pelo coronel Maneca Dantas, logo no início
da alta. Valia dois mil réis. Para a região era uma fortuna.
Na década de trinta construir um prédio de dois andares requeria grande
trabalho de engenharia, pois o concreto armado embora já fosse conhecido, não era
de fácil construção. Requeria ferro, cimento e material para fazer placas. Por isso, os
prédios em sua maioria eram feito com forro de assoalho. Por isso, quando se
entrava em uma casa com forro de assoalho, ouvia-se as pisadas das pessoas em
cima. Aquilo era sinal de orgulho para os donos da casa, sinais de riqueza. Não se
sentia o incômodo do barulho, mesmo atrapalhando uma noite de sono, aquilo soava
como música para os donos da casa. Quer dizer, a vaidade ia além do conforto.
Valia a frase: viva o luxo e morra o buxo.
O dia se passou em meio a uma aparente calma, mas alguma coisa
estava no ar.
Talvez tenham sido os únicos do lado dos coronéis que não tinham
vendido a safra do ano seguinte para futilidades como fizeram os demais coronéis,
com exceção do coronel Horácio.
João Magalhães tentara fazer com o cacau o mesmo truque dos velhos
tempos de jogador de baralho. Mas o blefe não funcionara. E permanecera mais de
trinta anos querendo voltar a ser rico. Investira na produção de mais cacau,
contratara mais alugados, dera um toque na fazenda. Melhorara a produção, mas
eles queriam muito mais, queriam ser novamente importantes.
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Quando veio à baixa, perderam muito dinheiro, mas a fazenda não fora
totalmente comprometida, ainda ficou um dinheiro que deu para comprar em
Salvador uma pensão, próximo à estação rodoviária. Ali eles passaram a hospedar
os conterrâneos de Ilhéus, Itabuna, Grapiúna e Ferradas. Quando eles chegavam na
pensão, começavam a perguntar como ia o cacau, as plantações. Era o hábito, pois,
mesmo não vivendo mais do cacau, a saudade era grande, dos velhos tempos onde
os pais de Donana Badaró eram os donos da terra. Muito ricos. Aliás, os
freqüentadores da pensão, pois havia também um restaurante bar, nem acreditavam
que uma simples dona de uma pensão tivesse sido tão rica como ela afirmara. Mas
como testemunha, havia ao papagaio loiro que não perdera o velho hábito.
- Donana, breve breve voltaremos a ser ricos!
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6 BIBLIOGRAFIA
AMADO, Jorge. Terras dos sem fim. Rio de Janeiro: Record, 1976.
AMADO, Jorge. São Jorge dos Ilhéus. Rio de Janeiro: Record, 1976.
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ÍNDICE
1 O INÍCIO .............................................................................................................................. 7
2 EM ILHÉUS .........................................................................................................................15
5 A BAIXA .............................................................................................................................33
5.1 CAPITÃO JOÃO MAGALHÃES, DONANA BADARÓ E OS DEMAIS PROPRIETÁRIOS NATIVOS DE ILHÉUS ......... 34
6 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................37