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Maratona da vida

Tenho-vos penduradas na ombreira da cama. Acordo e o sol que penetra pelos estores
faz-vos brilhar, iluminando o quarto, quase como se me desse os bons dias. Olho para vocês e
trazem-me memórias inesquecíveis, de pura felicidade, naquele tempo em que tudo era
descomplicado e colorido. Hoje pus-vos na mochila, para conhecerem a minha nova realidade
e saírem da vossa zona de conforto.

Inventando uma melodia a D. Paula enumerava os nossos nomes, para que não nos
esquecêssemos de ir para as aulas. Eu lá lhe dizia dislaliamente, “Paua, Paua, tu és muito
mauca, mas eu gosto de ti assim”.

Sempre que o almoço era peixe, fazíamos beicinho e convencíamos a D. Fátima a


deixar-nos saltar a refeição principal. Às escondidas da D. Fernanda, ela dava-nos mais um
pudim.

Tudo mudou. Éramos todos mais felizes. Todos os dias inventávamos uma nova
brincadeira, que na verdade consistia sempre no mesmo: alguém a correr em voltas para me
tentar apanhar, mas eu escondia-me muito bem e, talvez, por isso, vos tenha recebido. A
exigência alterou-se, para algo que não estávamos habituados e fomos obrigados e crescer
demasiado rápido.

Foram me entregues no final do 2º ciclo, e ainda hoje, sempre que vos encaro,
questiono-me se vocês não terão sido as medalhas que ganhei no início da maratona da vida.

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