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Educação Física

e Saúde
Material Teórico
Prevenção de Doenças, Educação em Saúde é Promoção da Saúde

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Evelyn Ribeiro

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Prevenção de Doenças, Educação
em Saúde é Promoção da Saúde

• Prevenção de Doenças;
• Educação em Saúde;
• Promoção da Saúde;
• Determinantes Sociais de Saúde;
• Escolas Promotoras de Saúde.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Identificar as diferenças entre as ações de prevenção de doenças,
educação e promoção da saúde na manutenção da saúde individual
e coletiva;
· Conhecer aspectos fundantes das estratégias de prevenção de doen-
ças e promoção da saúde;
· Reconhecer a importância do contexto escolar na promoção da saú-
de e da atividade física.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Prevenção de Doenças, Educação em Saúde é Promoção da Saúde

Prevenção de Doenças
Ações orientadas que têm como objetivo evitar o aparecimento de doenças
específicas, reduzindo o aumento de casos novos e os casos já existentes nas populações.

Essas ações, em sua maioria de caráter informativo, devem considerar tanto o


estilo de vida adotado pelo indivíduo, quanto o meio no qual ele se insere (moradia,
transporte e trabalho, entre outros), pois esses fatores juntos, muitas vezes, resultam
no desenvolvimento de agravos transmissíveis ou não à saúde.

Educação em Saúde
É a combinação de múltiplas experiências de aprendizagem e de intervenções
educativas planejadas para possibilitar o desenvolvimento de ações voluntárias (i.e.
sem imposição, com compreensão e aceitação dos objetivos educativos propostos),
que contribuam para a melhora e manutenção da saúde.

Na educação em saúde, as ações têm como objetivo modificar o comportamento


do indivíduo, incentivando-o a adotar comportamentos positivos como a prática
regular de atividades físicas e o consumo diário de frutas, legumes e verduras.

As estratégias utilizadas por intervenções baseadas na educação em saúde in-


cluem aconselhamento, presencial ou por telefone, individual ou em grupos de
discussão mediados por profissionais da Área da Saúde, envio de mensagens de
incentivo à adoção do comportamento de interesse ou informativas via telefone ce-
lular ou e-mail, website interativo e informativo e distribuição de material informa-
tivo, como folders e panfletos. Essas intervenções, geralmente, ocorrem no local
de trabalho, nas Escolas, muitas vezes, com o auxílio dos professores de Educação
Física, sendo estes incentivados a promover mudanças no seu conteúdo progra-
mático e a discutir tópicos ou desenvolver atividades relativas ao comportamento
de interesse e em Unidades Básicas de Saúde/Clínicas Médicas, contando com o
apoio de médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde.

Promoção da Saúde
Ações que, como aquelas planejadas para a prevenção de doenças, devem
considerar, também, o meio em que o indivíduo vive e os serviços, assim como a
qualidade deles, aos quais têm acesso. Desse modo, promoção da saúde envolve
ações do âmbito global de um Estado e a singularidade e autonomia do indivíduo.

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Nesse sentido, promoção da saúde é mais do que culpar o indivíduo por não
adotar comportamentos saudáveis, incluindo não só o aspecto pessoal (caracterís-
ticas individuais) como também a compreensão das necessidades e os motivos que
contribuem para que ele não pratique, por exemplo, atividades físicas regularmente.

Assim, ações de promoção da saúde são aquelas direcionadas ao indivíduo/co-


munidade e à proposição de mudanças nas Políticas Públicas, possibilitando que se
adote o comportamento de interesse, resultando na melhora e ou na manutenção
da saúde da população.

Dessa forma, as intervenções de promoção, no caso da atividade física, pode-


riam incluir campanhas informativas veiculadas pelos meios de comunicação em
massa (rádio e televisão, entre outros); alterações nos meios de transporte, favo-
recendo o deslocamento em menor tempo; no trabalho, ampliando-se a oferta de
empregos nas regiões periféricas das grandes capitais; nos equipamentos de lazer
(praças, parques e clubes públicos); na segurança, facilitando o deslocamento ativo
para o trabalho/escola; a utilização dos espaços públicos de lazer.

O SUS – Sistema Único de Saúde, Sistema Público de Saúde do Brasil, atua em


todo o território nacional e define o cuidado com a saúde em três níveis, sendo o
primeiro, a atenção básica, que desenvolve ações de promoção, prevenção, diag-
nóstico, tratamento e reabilitação, considerando as características do ambiente no
qual as pessoas vivem, trabalham e se relacionam.

As equipes multiprofissionais dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, atuando


nas Unidades Básicas de Saúde, desde 2008, junto à Estratégia de Saúde da Fa-
mília, favorecem as discussões, o planejamento e o desenvolvimento das ações de
prevenção, educação e promoção da saúde, compreendendo o indivíduo em sua
totalidade e analisando as possibilidades locais; porém, o horário de funcionamento
das Unidades Básicas de Saúde coincide com o chamado horário comercial, perío-
do em que grande parte da população adulta também está fora de suas residências,
trabalhando, com exceção das pessoas idosas já aposentadas.

Dessa forma, parte da população que se beneficiaria das ações de prevenção,


educação e promoção da saúde faz uso das Unidades Básicas de Saúde somente
para consultas médicas e, na maioria das vezes, quando o agravo à saúde já existe.

Desde 2005, o Ministério da Saúde vem financiando o desenvolvimento de


estratégias de promoção da saúde em todo o território nacional. A grande maio-
ria dessas estratégias tem como alvo a promoção da atividade física, atinge mais
de 100 pessoas, é voltada para as pessoas idosas ou grupos de risco/doentes
acometidos, principalmente, por diabetes e hipertensão arterial, desenvolve ações
de comunicação, informação e educação, quando oferece atividades práticas, tem
preferência por caminhadas orientadas ou aulas de ginástica, estrutura suas sessões
entre 30 e 60 minutos, oferece as atividades em praças e parques e nos períodos
da manhã e da tarde.

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UNIDADE Prevenção de Doenças, Educação em Saúde é Promoção da Saúde

Poucos programas alcançam as populações rural, ribeirinha e de floresta, desen-


volvem ações ambientais e políticas, têm como público alvo crianças adolescentes e
adultos e oferece atividades em cinco ou mais dias da semana e no período noturno.

Esse retrato reforça as discussões sobre se as estratégias de atividade física de-


senvolvidas no Brasil seriam ações de promoção ou incentivo da atividade física e
se têm como caráter a redução na incidência, especialmente, das Doenças Crôni-
cas Não Transmissíveis.

Os dias e horários de oferta das atividades são compatíveis com horário de tra-
balho/estudo da maioria dos adultos e poucas mudanças ambientais ou políticas
são realizadas para facilitar o acesso dessa população a esse serviço.

Além disso, poucas atividades são direcionadas a crianças e a adolescentes, fase


na qual se observa, atualmente, aumento nos casos de agravos crônicos como o
diabetes e a hipertensão arterial.

Talvez mudanças nas políticas de segurança resolvessem parte do problema,


possibilitando que crianças, adolescentes e adultos realizassem suas atividades em
equipamentos de lazer próximos às suas residências (praças e parques, por exem-
plo), ainda que sem a supervisão de um profissional de Educação Física, como
brincadeiras ou caminhadas.

Determinantes Sociais de Saúde


Para avançarmos, parece-me importante entendermos, ou pelo menos iniciar-
mos, uma reflexão, sobre o termo saúde, por muito tempo definido simplesmente
como ausência de doenças.

A Organização Mundial de Saúde define saúde como um estado de completo


bem-estar físico, mental e social, e não somente como a ausência de doenças ou
invalidez; possivelmente, um estado inatingível para a grande maioria das pessoas.

O simples fato de estar inserido em uma sociedade, convivendo com pessoas


criadas segundo as regras de suas origens, com personalidades diferentes e opiniões
divergentes, gera tensões que afetam em menor ou maior grau o bem-estar mental,
o que resultaria, de acordo com a definição apresentada, uma saúde pior ou ruim.

Talvez, seja mais coerente pensar saúde como um continuum com polos positivos
e negativos5. A proximidade a um ou outro polo depende dos comportamentos
adotados. Assim, a prática regular de atividades físicas, uma alimentação balanceada
e o sexo seguro deixariam o indivíduo mais próximo do polo positivo (vida),
enquanto o consumo de drogas e excesso de álcool, o sedentarismo e o estresse,
por exemplo, poderiam levá-lo para perto do polo negativo (morte).

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A redação do Art. 3º da Lei nº 8.080, de 1990, que dispõe sobre as condi-
ções para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o fun-
cionamento dos serviços correspondentes a ela, alterada pela Lei nº 12.864, de
2013, inclui a atividade física, aliada à alimentação, à moradia, ao saneamento
básico, ao meio ambiente, ao trabalho, à renda, a educação, ao transporte, ao lazer
e ao acesso aos bens e serviços essenciais, como um determinante e condicio-
nante à saúde.

A saúde, assim como seus fatores determinantes e condicionantes, é um direito


de todo cidadão brasileiro. Desse modo, podemos entender que, embora como
citado, os comportamentos adotados nos conduzam para a vida ou a morte (polos
positivo e negativo), a saúde não depende exclusivamente do indivíduo, mas tam-
bém dos bens e serviços aos quais ele tem acesso.

Como exemplo, vamos imaginar uma pessoa moradora de uma região de baixo
nível socioeconômico, da cidade de São Paulo, que reside em uma área invadida
e, portanto, não tem acesso a saneamento básico, segurança ou equipamentos
públicos de lazer.

Além disso, a residência dela está localizada na periferia da cidade e seu trabalho
é na região central, sendo necessário, todos os dias, que essa pessoa utilize o trans-
porte público, atualmente, ineficiente e insuficiente, para se deslocar.

Ademais, a renda mensal é suficiente apenas para a compra de produtos essen-


ciais. A questão é como um indivíduo que convive com tantos problemas sociais e
estruturais consegue adotar um estilo de vida saudável, que o deixe cada vez mais
próximo ao polo positivo? Será que a água à qual tem acesso é potável? Será que
suas refeições são balanceadas, incluindo, no seu dia as cinco porções de frutas,
verduras e legumes? A renda mensal garante a compra dos ingredientes básicos das
refeições dos brasileiros: arroz e feijão? Como desenvolver ações de prevenção de
doenças ou educação em saúde com esse indivíduo?

A inclusão da atividade física à Lei nº 8.080 é baseada nos inúmeros estudos


que comprovam os efeitos benéficos da atividade física tanto na manutenção,
quanto na recuperação da saúde, especialmente, sobre as Doenças Crônicas Não-
-Transmissíveis, como o diabetes, a hipertensão arterial e as doenças cardiovasculares.

No Brasil, se, em 2008, a inatividade física entre adolescentes e adultos (≤ 14


anos) tivesse sido eliminada, de 3 a 5% dos casos reportados das principais Doen-
ças Crônicas Não-Transmissíveis, naquele ano, teriam sido evitados e a expectativa
de vida aumentada em 0,31 ano.

O aumento nos níveis de atividade física da população brasileira poderia pro-


duzir, ainda, efeito sobre os custos do Sistema de Saúde com as Doenças Crôni-
cas Não-Transmissíveis.

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UNIDADE Prevenção de Doenças, Educação em Saúde é Promoção da Saúde

O resultado do estudo de Bielemann et al. (2010), caso todos os moradores da


cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, tornassem-se fisicamente ativos, é que os
custos com o uso de medicamentos para o tratamento da hipertensão arterial e do
diabetes reduziriam 12%, e com as hospitalizações em decorrência das doenças do
aparelho circulatório, 50%.

O entretenimento e outras facilidades oferecidas pelo rápido avanço da tecnologia,


como videogames interativos, nos quais é possível jogar em duplas ou grupos, sem
sair de casa, utilizando para isso a Internet, questões de segurança e estrutura
para fazer uso dos equipamentos públicos de lazer ou se deslocar ativamente
(caminhando ou pedalando), que contribuem para a adoção de um estilo de vida
fisicamente inativo, somados a, por exemplo, hábitos alimentares inadequados
(consumo excessivo de fastfood, refeições congeladas e industrializadas, açúcar,
gorduras e sal) favorecem o aparecimento de novos casos de Doenças Crônicas
Não-Transmissíveis também entre a população jovem, as crianças e os adolescentes.

Diante do importante papel da atividade física na prevenção e controle das


Doenças Crônicas Não-Transmissíveis e também na melhora de aspectos psico-
lógicos, como melhora do bem-estar e redução da depressão, mostra-se de suma
importância discutirmos sobre os fatores determinantes para a prática regular de
atividades físicas.

Entre adultos, esses fatores incluem o gênero: os homens são mais ativos do
que as mulheres; a idade: a atividade física reduz com o aumento da idade; o
nível socioeconômico, a escolaridade e a cor da pele: pessoas com menor nível
socioeconômico, menor escolaridade e negras praticam menos atividade física no
tempo de lazer e mais atividade física no trabalho.

Um estudo conduzido em uma região de baixo nível socioeconômico da cidade


de São Paulo mostrou, ainda, que o suporte social (receber convites de amigos), a
poluição e a segurança foram fatores percebidos e determinantes para a prática de
atividade física entre os adultos estudados.

Entre crianças e adolescentes, os fatores associados à prática de atividade física


não diferem muito daqueles associados aos adultos. Os resultados de um estudo
realizado com estudantes do Ensino Médio de escolas da rede pública de ensino da
cidade de São Paulo, São Paulo, mostrou que os meninos praticavam mais ativi-
dade física do que as meninas, que esta prática reduzia com o aumento da idade,
que quem participava das aulas de Educação Física era mais ativo comparado a
quem não participava e que aqueles que faziam uso de tabaco, ingeriam bebidas
alcoólicas e assistiam televisão por tempo superior a 2 horas por dia eram menos
ativos fisicamente.

Cabe refletir e discutir sobre as aulas de Educação Física Escolar como fator de-
terminante para a prática regular de atividades físicas entre crianças e adolescentes:

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1. A recomendação atual de atividade física para crianças e adolescentes é
de que esta população deveria envolver-se, diariamente, em atividades de
intensidade moderada à vigorosa por, no mínimo, 60 minutos;
2. No Brasil, os estudantes têm de 2 a 3 aulas de Educação Física por semana,
com duração variando de 40 a 50 minutos;
3. Parte considerável das aulas é destinada à organização da turma (trajeto
até a quadra, registro da frequência dos alunos e orientações sobre as
atividades que serão desenvolvidas).

Ainda que, durante as aulas, não fosse reservado tempo para a organização
da turma e o tempo total da aula fosse destinado à participação dos alunos em
atividades físicas moderadas e/ou vigorosas, garantiríamos, no máximo, 50 minutos
de atividade física por dia. Porém, talvez, atingir a recomendação de atividade física
para crianças e adolescentes não é e não deveria ser um dos objetivos das aulas de
Educação Física Escolar.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), estão entre os objetivos


da Educação Física Escolar:
[...]
• Reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábi-
tos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionan-
do-os com os efeitos sobre a própria saúde e de recuperação, manuten-
ção e melhoria da saúde coletiva;
• Solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, regu-
lando e dosando o esforço em um nível compatível com as possibilidades,
considerando que o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competên-
cias corporais decorrem de perseverança e regularidade e devem ocorrer
de modo saudável e equilibrado;
• Conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem
como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de
lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e
um direito do cidadão.

Assim, a Educação Física Escolar deveria apresentar inúmeras possibilidades


de se movimentar e ferramentas para que o aluno possa gerir sua própria
atividade física extra ambiente escolar, praticando a atividade que mais o
agrade e fazendo uso dos equipamentos públicos de lazer existentes no
entorno da sua residência.

E mais: para que este seja capaz de divulgar, informar e incentivar a prática regular
de atividade física na comunidade em que vive, contribuindo para a manutenção/
melhora da saúde coletiva.

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UNIDADE Prevenção de Doenças, Educação em Saúde é Promoção da Saúde

Escolas Promotoras de Saúde


A Escola se mostra como o local ideal para a realização de intervenções de
prevenção e promoção da saúde, pois permite a implantação de ações interdisci-
plinares e intersetoriais. Ainda é na Escola que os estudantes passam grande parte
do seu dia.

Neste contexto, é possível levantar, planejar e desenvolver ações a partir das ne-
cessidades dos estudantes e da comunidade local. Conhecer a realidade do aluno,
mais do que auxiliar na escolha e na forma de trabalho dos conteúdos de uma de-
terminada disciplina, contribui para o levantamento das demandas locais de saúde
e a elaboração de intervenções promissoras, que alcançaram tanto os estudantes
quanto outros membros da comunidade na qual estão inseridos, favorecendo a me-
lhora e/ou manutenção da saúde coletiva (estudantes e comunidade).

A efetividade de uma ação de promoção da saúde, no âmbito escolar ou não,


depende do conhecimento prévio das características da comunidade, de suas de-
mandas e necessidades.

Dessa forma, certamente, uma intervenção de promoção da atividade física não


corresponde às expectativas do pesquisador ou do profissional da saúde que a pla-
nejou se implementada em uma comunidade, na qual a demanda seja o aumento
no número de crianças com quadro de diarreia em decorrência da ausência de re-
des de tratamento de esgoto e água potável, ou discutir sobre alimentação saudável
em uma comunidade de baixo nível socioeconômico, na qual a única refeição de
parte das crianças é aquela oferecida pela escola.

Nesse contexto, os moradores da comunidade não estão preocupados em bus-


car equipamentos públicos de lazer no entorno ou substituir o deslocamento passi-
vo (transporte coletivo) até o trabalho/escola pela caminhada ou pelo uso da bici-
cleta, mas, sim, em buscar soluções imediatas e eficazes no controle do problema,
necessitando, não de incentivadores de prática de atividades físicas, mas de suporte
para cobrar dos órgãos competentes seus direitos como cidadãos.

O papel social da Escola inclui, também, o empoderamento da comunidade,


atingindo, inicialmente, o aluno, favorecendo a formação do cidadão crítico que
conhece e luta por seus direitos e, posteriormente, a comunidade, na qual as
mudanças serão promovidas, principalmente, pela atuação do estudante, utilizando
e compartilhando as informações adquiridas na Escola na identificação e busca da
resolução dos problemas.

Planejar intervenções que atinjam o estudante e a comunidade requer estabe-


lecer parcerias dentro e fora da Escola. Nesse sentido, no âmbito escolar, a inter-
disciplinaridade tem papel fundamental; afinal, conteúdos que permitem reflexões
sobre a sua aplicação prática no contexto real do estudante, envolvem discussões
além daquelas proporcionadas somente pela Matemática, Língua Portuguesa, Ge-
ografia ou Educação Física.

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Desse modo, uma Escola localizada em uma área de risco para alagamentos,
especialmente, no verão, poderia, por exemplo, realizar um projeto que levasse o
estudante a compreender que a responsabilidade sobre este fato está dividida entre
Governo e comunidade e oferecer ferramentas para que ele proponha mudanças
em sua comunidade e conheça os caminhos que deverá percorrer para cobrar so-
luções da autoridade local.

Os conteúdos pertinentes ao tema poderiam ser discutidos pelos professores das


diferentes Disciplinas, respeitando a área de conhecimento de cada um:
• Educação Física poderia discutir sobre as formas de reciclagem e reutilização
dos materiais de reciclagem, assim como confeccionar brinquedos e jogos. Es-
ses materiais poderiam ser utilizados durante os intervalos, promovendo, inclu-
sive, o aumento do nível de atividade física dentro da Escola e, talvez, fora dela;
• Matemática proporia uma análise da taxa anual de mortalidade e prevalência
de doenças, como, por exemplo, a leptospirose, ocasionadas por situações de
alagamento;
• Geografia poderia falar sobre a identificação do relevo local e o quanto ele con-
tribui para os alagamentos na região, assim como discutir propostas de mudan-
ças ambientais que poderiam, caso realizadas pela autoridade local, reduzir os
alagamentos, especialmente no verão, quando o volume de chuva é maior.

Seria possível, ainda, realizar aulas integradas, nas quais dois professores de
Áreas de Conhecimento diferentes discutiriam um mesmo tópico, proporiam
debates entre os estudantes/comunidade e a autoridade local sobre o assunto;
visitas a cooperativas de catadores de materiais recicláveis e indústria responsável
pela reciclagem desses materiais; parceria com uma cooperativa próxima e os
moradores da comunidade, para que os materiais recicláveis fossem separados
e colocados nas lixeiras das residências em dias diferentes aos da coleta de lixo
(serviço da Prefeitura), para que os catadores pudessem retirá-los; parceria com a
Unidade Básica de Saúde próxima para que os profissionais desta UBS pudessem
discutir com os estudantes o impacto dos alagamentos na saúde da população e
com um jurista que pudesse esclarecer o quê e de que forma a comunidade poderia
cobrar soluções da autoridade local etc.

As parcerias citadas mostram a importância da intersetorialidade na Escola para


promover saúde. Neste caso, ainda que no âmbito escolar, as ações podem ser
planejadas por profissionais de outros setores, como Unidades Básicas de Saúde
ou Clubes Públicos, em conjunto com os professores da Escola, e implementadas
por uma ou outra classe. Como exemplo, temos o Programa Saúde na Escola,
ação proposta pelo Governo Federal no Plano de Ações Estratégias para o
Enfrentamento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis no Brasil (2011-2022),
que propõe a integração e articulação da Educação e da Saúde, contribuindo para
a melhoria da qualidade de vida dos estudantes.

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UNIDADE Prevenção de Doenças, Educação em Saúde é Promoção da Saúde

O Plano de Ações Estratégias para o Enfrentamento das Doenças Crônicas


Não-Transmissíveis no Brasil (2011-2022), lançado em 2011, tem como objetivo
promover o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas efetivas,
integradas e sustentáveis, baseadas em evidências, para prevenir e controlar as
doenças crônicas não-transmissíveis e seus fatores de risco, como, inatividade física,
tabagismo, consumo excessivo de álcool, alimentação não saudável e obesidade.

Esse plano tem, entre suas metas nacionais, entre os anos de 2011 e 2022, a
redução da taxa de mortalidade prematura por Doenças Crônicas Não-Transmissí-
veis, a redução da prevalência de obesidade em crianças, adolescentes e adultos, o
aumento da prática de atividade física no lazer e do consumo de frutas e hortaliças,
e a redução do consumo médio de sal.

O Programa Saúde na Escola tem como objetivo proporcionar a formação inte-


gral dos estudantes por meio de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças
e de atenção à saúde, considerando as vulnerabilidades que comprometem o desen-
volvimento de crianças e adolescentes matriculados na Rede Pública de Ensino.

O público alvo do programa inclui estudantes do Ensino Fundamental, Gestores


e Profissionais de Educação e Saúde, comunidade escolar, estudantes do Ensino
Profissional e Tecnológico e da Educação de Jovens e Adultos e suas ações devem
estar em concordância com o projeto político-pedagógico das escolas, o contexto
escolar e social e o diagnóstico local de saúde do estudante.

As ações propostas pelo programa incluem: avaliação nutricional, antropomé-


trica, detecção precoce de hipertensão arterial sistêmica, promoção de atividades
físicas e corporais, promoção da alimentação saudável e de segurança alimentar
dos estudantes e educação continuada e capacitação dos profissionais de educação
e da saúde e de jovens.

O Ministério da Saúde também inclui no Programa Saúde na Escola ações edu-


cativas voltadas para a prevenção e redução do tabagismo e consumo de álcool e
propõe, ainda, a promoção da alimentação saudável junto ao Programa Nacional
de Alimentação Escolar.

As intervenções em atividade física e comportamento sedentário testadas no


contexto escolar têm se mostrado efetivas no aumento do nível de atividade física
do público jovem.

A promoção da atividade física, nesse ambiente vale-se de estratégias de educa-


ção, atividades práticas, alterações estruturais e organizacionais:
• Currículo da Disciplina de Educação Física: a proposta é alterar o currículo
da Disciplina por meio da inclusão de conteúdos educativos que sugerem discus-
sões conceituais e práticas da atividade física como entender a atividade física
em suas quatro dimensões (lazer, trabalho, deslocamento e em casa), diferenciar
inatividade física e sedentarismo, conhecer a prevalência de atividade física, ina-
tividade física e sedentarismo e o impacto deles na saúde de crianças e adoles-
centes, identificar barreiras individuais e coletivas para a prática de atividades

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físicas e os equipamentos de lazer existentes dentro da comunidade e compreen-
der as fases de um treinamento físico e a importância de se respeitar cada uma
(aquecimento, parte principal e relaxamento). Outra proposta de alteração do
currículo é a ampliação da carga horária da Disciplina de Educação Física;
• Reestruturação dos intervalos: disponibilidade de materiais (bolas, cordas,
bambolês e outros de interesse dos estudantes) para que, durante o intervalo,
os alunos possam se organizar e praticar atividades físicas. Nesse caso, as ati-
vidades são livres e, portanto, não necessitam da supervisão de um professor
de Educação Física;
• Aulas extras de Educação Física: ministradas antes ou após o período de
aula, pelo professor responsável pelas aulas de Educação Física no período
regular ou por um professor contratado especificamente para esta função. As
aulas são práticas e as atividades propostas escolhidas de acordo com as pre-
ferências do público participante;
• Substituição do mobiliário escolar: propõe a troca das carteiras tradicionais
da sala de aula por carteiras ajustáveis, que permitam aos alunos assistir às
aulas em pé ou sentados. O desfecho primário desse tipo de intervenção é
reduzir o tempo sentado em sala de aula, ou seja, reduzir o comportamento
sedentário na escola;
• Quebras do comportamento sedentário: consiste no desenvolvimento de
atividades, no período de aula, de quebra do tempo sentado. Essas atividades
podem ser estruturadas ou não, como ir à Biblioteca para o empréstimo de
livros ou deixar os alunos, em algum espaço livre, à vontade, com bolas ou
cordas disponíveis, para realizarem atividades que os agradem;
• Reestruturação do espaço físico e dos recursos: refere-se à construção de
novos espaços ou instalações de equipamentos que incentivem o aumento da
prática de atividade física, como a instalação de bicicletários no estacionamen-
to da Escola, contribuindo para o deslocamento ativo dos estudantes. Outra
possibilidade é a compra de materiais, considerando as preferências dos estu-
dantes, que deixem as aulas de Educação Física mais atrativas. Os materiais
também podem ser emprestados durante o intervalo ou no contraturno, desde
que a Escola tenha espaços livres que não serão utilizados pelos professores
naquele período;
• Publicidade: pôsteres e folders educativos contendo informações sobre, por
exemplo, os benefícios da prática regular de atividades físicas na infância e na
adolescência, a recomendação atual de atividade física para esta população são
eventos de atividade física previstos na comunidade e em locais adequados, no
entorno da Escola, nos quais os estudantes podem praticar atividade física no
tempo livre;
• Eventos: realização de eventos de atividade física nos fins de semana, en-
volvendo, além dos estudantes, os familiares e outros membros da comu-
nidade: campeonatos, fim de semana esportivo (atividades que atendam a
diferentes preferências e idades), passeios ciclísticos, caminhadas, corridas
ginástica na praça etc.

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UNIDADE Prevenção de Doenças, Educação em Saúde é Promoção da Saúde

Como discutido, o termo promoção remete a ações integradas dos diferentes


Setores, favorecendo a adoção do comportamento pretendido. Desse modo, como,
então, as principais estratégias apresentadas acima, aplicadas num único contexto
e sob a responsabilidade, inicialmente, da Equipe Gestora e do Corpo Docente,
poderiam promover saúde e atividade física?

A Escola, na verdade, aqui, é o ponto de partida para que a promoção da


saúde e da atividade física ocorra. Nesse ambiente, podem-se aplicar as primeiras
ações, envolvendo estudantes e comunidade, e buscar parcerias com os órgãos
competentes, a partir das demandas identificadas. Por exemplo:
• Ações: distribuição de folders sobre a importância da prática regular de ativi-
dades físicas e estratégias para se alcançar a recomendação diária para crian-
ças e adolescentes; construção de bicicletário para incentivar o deslocamento
ativo dos estudantes e funcionários da Escola;
• Problema/demanda: já nos primeiros dias de uso, estudantes e funcionários
tiveram dificuldade para se descolar, com segurança, até a Escola devido à
ausência de ciclovia ou ciclo-faixa;
• Solução: articulação da comunidade escolar com as Secretarias Municipais de
Transporte e Urbanismo e Planejamento para verificar a viabilidade da cons-
trução de ciclovias ou ciclo-faixas que possibilitem o descolamento ativo dentro
da comunidade e estações de trem e metrô próximas.

Assim, a partir da identificação de novas demandas, Escola e comunidade, juntas,


buscam soluções e se apóiam na cobrança pelos seus direitos, com o objetivo de
melhorar a qualidade de vida e a saúde coletiva.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção
CZERESNIA, D. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In:
______; FREITAS, CM (org.) Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio
de Janeiro, RJ: Fiocruz, 2003.
Atividade física e saúde em crianças e adolescentes
FLORINDO, A.A.; RIBEIRO, EHC. Atividade física e saúde em crianças e adolescentes.
In: De Rose JR D, RÉ AHN. Esporte e atividade física na infância e na adolescência:
uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2009.
Efetividade em indicadores de atividade física de uma intervenção com estudantes do ensino médio
DEL DUCA, G. P.; BARROS, M.V.G.; et al. Efetividade em indicadores de atividade
física de uma intervenção com estudantes do ensino médio. Revista Brasileira de
Cineantropometria e Desempenho Humano; Florianópolis 2014;16 (S1): S13-5.
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