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Facebook da Escolinha de Arte do Recife:

https://www.facebook.com/ Escolinha-de-Arte-do- Recife-297718153583689/

Noemia Varela
o Movimento Escolinha de Arte (MEA)
Esta história começa em Recife, no ano de 1953, quando um grupo
formado por Noemia Varela, Augusto Rodrigues,Ulisses
Pernambucano,Paulo Freire,Francisco Brennand, Aloísio Magalhães,
Hermilo Borba e Lula Cardoso Aires cria a Escolhinha de Arte do
Recife.

Noemia sempre foi uma defensora de uma escola inclusiva, que


comprometa-se de coração a:
“educar cada um e não apenas selecionar os capazes ou os
suscetíveis de se ajustarem aos programas estabelecidos e
compulsórios” (Noemia, 2201a)

FRANGE, Lucimar Bello Pereira. Noêmia Varela e a arte. Belo Horizonte: C/Arte,

Ela foi diretora técnica da Escolinha de Arte do Brasil (RJ), e a partir de


1961, coordenou seus Cursos Intensivos de Arte Educação (CIAEs).

Seu intento era o de formar o “artista-professor, inserido numa outra


forma de trabalho criativo, capaz de captar sua sensibilidade,
pensamento e ação criadores para renovação da escola “ (varela,2001a)
Noemia é uma crítica contundente das escolas que utilizam a arte como
enfeite, como decoração, o que segundo a Mestra apresenta uma arte
em educação :

“em sinal vermelho, não evoluída, não revolucionária e, assim sendo,


sem a marca libertária, sem o espaço para a necessária iniciação no
exercício do ato criador, e da descoberta da forma carente de
dimensão filosófica..

Logo em minha ótica, sem a sua legítima atribuição de transformar o


mundo, na parte essencial que lhe cabe, na arte de
educar” (Varela,2001b, 221)

Veja parte do depoimento de Dona Noemia Varela, diretora da Escolinha de Arte


do Recife, sobre o Movimento Escolinhas de Arte e Arte/Educação no Brasil que faz
parte do vídeo da Exposição intitulada - Noemia Varela: uma vida, fazeres e
pensares.

https://www.youtube.com/watch?v=8CWf-

Sua preocupação sempre foi com a qualidade das iniciativas, sendo a


escola um constate espaço de pesquisa

“um centro experimental onde se cultiva e se acredita na educação


como fonte de vida, de unidade” (VARELA, 1977).
A reflexão sobre a formação do arte educador é uma marca na sua
trajetória, sua “plurimetodologia criativa” faz com que esteja sempre
rodeada de perguntas:

“Que se forme um arte-educador sempre a serviço do ser humano e


não da instituição.” (VARELA, 1986: 26)

“Quais as relações da arte com a educação que poderão melhor


delimitar o lugar e a natureza do processo de formação do arte-
educador?

O que dá mais a pensar sobre esta questão e que ainda não foi
pensado? Que é necessário desaprender para encontrar o
caminho mais sábio que nos leve à elaboração mais rica do
processo de formação do arte educador?” (VARELA, 1986)

Inspirados por Noemia, continuamos este diálogo interior, seguindo


seu conselho de que:
“não há modelo perfeito nem único, na educação criadora, para ser
imitado e seguido – uma vez que cada educador sendo ele próprio
singular e único como ser humano, tem o potencial necessário para
encontrar, criar novos métodos e formas de ensinar, mais
sensivelmente, dentro de seus limites e possibilidades.” (VARELA, 1977:
54)

Rever o pensamento de Noemia Varela é fundamental e suas


reflexões são precisas e contemporâneas. Ela tinha clareza de que
o fundamento da formação do arte educador estava em
reacender em cada um

“as conquistas do homem como ser inventivo, fértil em sua


imaginação e capacidade de construir o mundo.”

Referência Vídeo :

Noemia Varela, de barro, de vidro, de barro

http://lucimarbello.com.br/site/

Referências textos :

BARBOSA, Ana Mae (Org.) História da Arte-Educação. São Paulo: Max


Limonad, 1986.

VARELA, Noêmia. Criatividade na escola e formação do professor. In:


FRANGE,Lucimar Bello. Noêmia Varela e a arte. Belo Horizonte: C/
Arte, 2001a.

VARELA, Noêmia. Movimento Escolinhas de Arte: imagens e idéias. In:


FRANGE, Lucimar Bello. Noêmia Varela e a arte. Belo Horizonte: C/
Arte, 2001b.

VARELA, Noêmia. O desafio da formação de recursos humanos para a


educação através da arte. In: Anais do I Congresso Latino Americano
de Educação através da Arte. Rio de Janeiro: SOBREARTE, 1977.
Ilo Krugli e o Teatro Vento Forte

Diretor, ator, escritor, educador, artesão, bonequeiro, dramaturgo,


cenógrafo, figurinista, compositor, carpinteiro, iluminador, artista
plástico, bordadeiro,.

Um inovador, formador de muitos outros artistas e um apaixonado


pelo imaginário infantil.
Ilo Krugli começou a ensinar na Escolinha de Arte do Brasil, em
1963. Junto com Pedro Dominguez, iniciou o seu curso de teatro de bonecos, frequentado por
muitos artistas, entre as quais Lucia Coelho, Silvia Aderne, Laís Aderne,
e Cecília Conde.

A História do Barquinho é um canto à liberdade e foi criado um


pouco antes de 64, “ fazíamos com os alunos, então é a liberdade,
querer ser livre e passar por tempestades e voltar a renascer e ficar
junto com quem se ama, soltar as amarras”.

Histórias de Lenços e Ventos de 1974 estava impregnado com a forte


experiência vivida no Chile com a morte de Allende.

“Nessa época, a gente viaja para o Festival de Curitiba e todo mundo se encantou com o
espetáculo que se chama

“História dos Lenços e Ventos”

Foto: Rogério

que deflagra o grupo Vento Forte. Em 1972 o Barquinho


virou um espetáculo,
Fizemos no Museu de Arte Moderna... vindo a concorrer, e
ganhar o primeiro lugar,
É uma catarse coletiva! Nunca imaginei uma coisa dessas e nem estava
no Festival no Teatro
preparado para isso. Durante um ano passaram mais de cem mil Gláucio Gil, patrocinado
pela Secretaria de
Cultura.
1972
pessoas. Teve uma época que chegamos a fazer três espetáculos por dia. Uma catarse em cima
desse momento que estava se vivendo.”

(Trecho da entrevista concedida ao Tear)

Ilo Krugli é o fundador do grupo de Teatro Ventoforte, sediado primeiro no Rio de Janeiro e a
partir de 1980 em São Paulo.
O grupo adota o nome devido a crítica positiva de Ana Maria Machado ao teatro infantil.

São mais de 40 prêmios ganhos ao longo de três décadas, 30 peças, inúmeras viagens por
países da América Latina, Europa
e Estados Unidos

No trabalho de Arte Educação


seu ponto de partida é a
expressão.

Num trabalho contínuo de


criação, de improvisação,
buscando abrir a sensibilidade e
o auto-conhecimento.

“As pessoas saem das escolas


sabendo mexer com materiais,
não sei se sabem tanto ter a
percepção da criança e dos
jovens. Não sei... Acho que nem deve ter muita prática em cima disso! Acho que fazem muitos
trabalhos massivos...
Peça As Quatro Chaves, com o grupo Teatro Vento Forte, de São Paulo/SP, no
Eu detesto a palavra ”técnica”. Teatro Violeta Arraes.

Agora eu vou dar aula de técnica


de não sei o que, de exercícios. E te
abrem as marcações. È um movimento expressivo e não é tão caótico, não é o que pinta. Há
processos, há exigências, uma certa profundidade, um acúmulo de experiências. Como se
expandir a ideologia se continuar sendo apenas a realização das experiências artísticas e não
abrir…"

Veja esta roda de entrevista que conta um pouco deste processo :

Outras referências para navegar :


Site do Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude: www.cbtij.org.br

Site da Enciclopédia Itaú Cultural:

www.itaucultural.org.br/enciclopedia/

http://aplauso.imprensaoficial.com.br/
edicoes/12.0.813.190/12.0.813.190.pd
Palavra e Fantasia
A prosa poética de Bartolomeu nos convida à uma participação lírica
no mundo. Os acontecimentos do cotidiano são relembrados num
tom metafórico que dá asas ao leitor

“ Aprendi a ler com o meu avô.. Meu avô escrevia nas paredes da casa, eu
tinha uma casa muito grande. Ele escrevia tudo o que
acontecia na cidade nas paredes. Quem morreu, quem
casou, quem viajou, quem matou, quem traiu, tudo ele
escrevia e eu ficava perguntando: “que palavra é essa?”,
“que palavra é aquela ?”, então de repente eu sabia ler.
Quando eu entrei para a escola, até hoje eu brinco
muito, eu tinha tanta necessidade de ser amado que eu
fazia de conta que não sabia ler nem escrever e
aprendia tudo de novo para a professora gostar de
mim.”
No grego a origem da palavra, pedagogo significa parteira, aquele que ajuda o outro a vir à luz.
O exercício do pedagogo é esse, ajudar o outro vir à luz.

Em sua artesania com as palavras o poeta caminha para o ofício de


Educador e sua atenção aos sentidos o leva a um questionamento
filosófico do processo cognitivo humano:

“Nessa época em que eu estudava Filosofia, eu tive um contato com a


teoria do Merleau Ponty, que dá a grande sacada da educação
contemporânea quando começa a trabalhar com os sentidos na
fenomenologia da percepção. E ele fica muito tempo olhando para o sol e
ele descobre que o olhar toca. O ouvido também é tátil, quando você ouve
uma boa música você arrepia o corpo inteiro. O gosto tem memória.

O homem é inteiro, o homem não é dividido em sentidos, um sentido leva


a outro, um sentido está contido em outro. Ele fala belamente que o
primeiro objeto de leitura é o olhar do professor, porque tem pessoas
que nos olham e nos afastam. E tem pessoas quando nos olham, que
nos acariciam.”

Sua vereda é a da Arte Educação, mas esclarece:


ade, ela tem essa incapacidade de ouvir, ela só fala. Então, a escola encontrou a
pedagogia da verdade, só ela que fala. Ela tem a certeza da verdade, ela não faz
uma pedagogia da dúvida. . Eu nasci e fui criado por via de dúvidas. Eu adoecia
e minha mãe chamava um médico por via de dúvida, mas por via de dúvida ela
me dava um chá e por via de dúvida ela acendia uma vela e por via de dúvida ela
mandava benzer, então, quando eu ficava curado, ficava curado por via de
dúvidas. E eu peguei a metáfora como uma maneira de dúvida. A metáfora na
literatura... A metáfora, mais do que uma figura de linguagem, é uma ação
democrática. É quando você constrói um objeto e você dá entrada para todo
mundo: cada um entra com o que pode, cada um faz o que pode. É uma coisa
que é bonita na literatura, que é do Foucault isso, que, o que o sujeito lê não é o
que eu escrevo, mas é o silêncio que eu deixo entre as palavras. A metáfora é
isso. É aí que a arte entra, na metáfora que existe em qualquer obra de arte. Ela
não é só uma figura literária, é uma figura da arte.”

“ O que é o homem? O homem é um verbo em carne viva. E o que é um


verbo? É uma palavra que tem movimento, é uma palavra que tem ação.
Andar, pular, cantar. O verbo é uma palavra de ação. E o que é uma palavra
de ação? O verbo tem três tempos: presente, passado e futuro. E o que é a
vida? É presente, passado e futuro.

A gente cumpre o verbo. Então, o homem é essa palavra encarnada, essa


palavra fascinante.”

Link da entrevista :https://youtu.be/fbRrCTudoA0

Vivemos reinventando incansavelmente o nosso passado. Os processos criativos


são comovidos por nossas faltas, por nosso amor
“Arte é aquilo que você não dá conta de ver sozinho. A beleza te leva a uma
solidão profunda e você só encara quando você traz alguém para ver com
você.Você está lá no Museu do Prado, sozinho em Madri, de repente, você vê um
quadro, uma escultura do Adriano. E você pensa: “Mas Fulana que deveria ver
isso!”.Você vai ao cinema e acha o filme lindo. E antes de terminar você fala: “Mas
era Fulano que deveria estar aqui”. É uma coisa erótica a arte, ela tem que juntar,
aproximar, amarrar. Ela não dá conta sozinha.Você não dá conta da beleza! A
beleza é o que nos aproxima, que nos amarra, que nos junta.”

“A gente só fantasia aquilo que a gente não tem. A fantasia é a falta. Então, a
arte é o que me falta. Eu escrevo o que me falta. E o sujeito lê o que falta
nele. Entre o escritor e o leitor há um diálogo de faltas. Então, um diálogo
muito frágil, muito tênue, um diálogo muito sensível, muito refinado. Eu não
vou escrever o que eu tenho, eu sempre escrevo o que eu não tenho. Se a
arte é feita de fantasia, ele só fantasia o que não tem. O que eu tenho não é
a questão. A arte tem essa coisa, passa por essa delicadeza.”

Movimento por um Brasil literário : https://youtu.be/6vVfeTrSYM8


CECÍLIA CONDE
A minha luta é pelo espaço da música nas escolas públicas.
“Nós fizemos um encontro e, eu, em 68, indo para a Assembléia Legislativa
pedindo a volta da música nas escolas. É uma batalha, porque eu acho que
privando o ser humano da arte você não está desenvolvendo uma forma de
pensamento e de habilidade que só a arte pode dar. Porque a música trabalha
com o tempo e espaço e arte trabalha com formas, a dança com corpo, volume,
altura, com espacialidade.

“Com 17 anos comecei a trabalhar com o Augusto. Rodrigues Achava ele louco,
porque ele tinha uma cabeça, em educação, avançadíssima. Ele abriu várias portas,
pelo menos no Rio de Janeiro, para o movimento da arte- educação.”

Então, você prescindir o indivíduo de uma formação é como você prescindir de um


pensamento matemático, de língua, de geografia, história, da ciência. Acho que a
gente tem que formar por uma formação geral, humana, de tudo que o ser humano
produz. Principalmente a arte, que é o que dá a diferença... A cultura... E a arte está
dentro dela. A diferença... A marca do indivíduo! É a diferença do animal. Quer dizer,
essa capacidade do ser humano de simbolizar, de criar, de expressar”
Cecília Fernandez Conde nasceu em 1934 no Rio de Janeiro.Compositora e
diretora musical.

Realiza trabalhos de "ambientação musical" para os principais grupos cariocas


dos anos 70, especialmente o Teatro Ipanema, que fazem parte de um conjunto
de inovações cênicas que forjam a estética praticada nas encenações teatrais do
período.

EL RETABLO DE MAESE PEDRO Sala Cecília Meireles Temporada de 1966

Cecília defende uma maior divulgação do trabalho desta época “tem que falar de Pedro
Muniz A educação desvinculada da arte não marca, não dá o insight. A arte permite
você estar aberto a outras formas de pensar e de sentir. Você trabalha com a inteligência
sensível, isso é fundamental na educação.

Defensora incansável da Música para todos Cecília declara :

“Eu tenho esperança da volta da música na escola primária. Acho que seria
fundamental na criancinha do pré, bem pequena,
começar a trabalhar. Porque ela tem a expressão musical, ela não tem a artística
musical, mas ela tem espontânea. Ela canta, ela dança, ela cria poemas. Ela não
tem consciência, mas está tudo latente lá. Como ela é pesquisadora, ela vê as
coisas como são feitas... Ela vai na terra e tira a planta por curiosidade. Cheira,
toca, lambe... Então, ela está atenta. Nós é que atrofiamos esse ser humano. E a
arte-educação é para ampliar esse horizonte. Dar possibilidade dele usufruir e
aprender. Porque ficou muito na fruição.

Não é só lazer e entretenimento.

Ela é realmente a vida. A arte é você estar respirando.”


Arte e Partilha de saberes
entrevista : Laís Aderne
“Sou filha de Sílvio e Celina.Minha mãe era de uma família do Sul, meu pai era de
uma família da Bahia. Na época da separação do Brasil de Portugal , a família
Guimarães tomaram o nome de uma árvore do cerrado: Aderne. Uma região que
vai acolher o projeto que é um dos fortes esteios do meu trabalho de arte-
educação em comunidade : Olhos d’Água

Conta como foi que nasceu o projeto ?

“Quando cheguei pra trabalhar em Brasília, a Universidade não tinha casa pra me
oferecer, então me hospedou no Hotel Nacional. Eu fiquei com um problema
porque eu tinha um filho de um ano. Resolvi comprar uma terrinha em Olhos
d’Água e fomos construindo nos finais de semana.

Foi aí que eu conheci esse povo que tinha vivido uma experiência maravilhosa
em termos culturais e que depois tinha perdido tudo isso com a construção de
Brasília. Brasília foi aquela nave-mãe que desceu do espaço e que tomou conta
da região sem trazer junto com os engenheiros, arquitetos, sociólogos e
antropólogos comprometidos, que deveriam ter assegurado a continuidade da
cultura dessa região.
Em 1972 nós já tínhamos começado a perceber que Olhos D’Água tinha
determinadas coisas que eu não sabia.

MEMÓRIA DA ARTE EDUCAÇÃO

As casas eram todas fechadas. Tinha saído a sede do município para a beira da
estrada na construção de Brasília e ali e virou um povoado que perdeu coisas
preciosas como a sua tecnologia própria para serra d’água, que tinha energia na
praça... Era puxar um fiozinho, amarrar com um prego e as luzes começavam a
acender. Era uma coisa fantástica.

Conta como foi o processo?

Eu pedi às professoras da escola que toda sexta-feira de tarde nós nos


encontrássemos para conversar sobre as coisas da comunidade. Então foi assim
que eu comecei a ouvir as histórias. Nós parávamos para tomar um chazinho, um
chá de alfavaca, uma hora uma trazia um biscoitinho, outra hora uma trazia um
pão de queijo e de repente nós estávamos ali revivendo momentos importantes
da história da comunidade. Eu tomei conhecimento que não havia possibilidade
nenhuma de comprar o sal dentro da região: era a única coisa que não podia
comprar na região. Eles viajavam em viagem de carro de boi durante seis meses
para ir e voltar no Triângulo Mineiro. Dessa viagem eles traziam aquilo que era
mais necessário, um sapato para uma noiva... Porque todo o mais eles faziam ali.
Eles curtiam o couro, faziam os sapatos, plantavam algodão, tingiam, fiavam, era
tudo feito ali. Nem a roupa era comprada fora.

Então os mascates, eventualmente – muito raramente – passavam pela região,


mas passavam mais os ciganos que traziam o cobre, traziam alguns elementos
que vendiam também para a região. Os tachos para fazer os doces vinham dos
ciganos. Nesse momento de idas e vindas eles traziam também os repasses da
tecelagem da área do Triângulo. Eu ouvi que era ali que estava uma conexão
maior com outra cultura da região. Mais tarde, nós criamos a Feira doTroca.

Criamos, porque eu vim ao Rio para um seminário. Vim para ajudar a


coordenação. Quando eu ouvi uma arte- educadora judia que vivia em
Laranjeiras e que ela contou uma experiência que os meninos não davam mais
bola para os brinquedos no prédio dela e então ela pensou que seria uma boa
prática se uma vez por mês houvesse uma troca de brinquedos com as crianças
do prédio. Foi assim que veio a idéia para mim. Uma feira de trocas! A troca para
eles é a “tiragem” aqui dessa região . A experiência que eles tinham antes da
construção de Brasília era com a troca, com o escambo. Nós não podíamos
chamar de Feira da Tiragem porque eu pensei assim, “o povo não vai saber o
que é isso”. E assim nós chamamos de Feira do Troca que impulsionou as
crianças a também fazerem as coisas que estavam sendo trocadas pelos seus
pais, pelos avós, pelos seus padrinhos. As crianças começaram a querer
aprender.

A feira foi criada no primeiro de junho e no primeiro domingo de dezembro. Era


preciso resgatar tudo aquilo que estava morto. Então, era preciso que a gente
desse um tempo para que as pessoas produzissem e no final desse tempo, que
era seis meses, havia uma feira. E a feira virava exposição e virava o momento da
festa também.

“Essa experiência de Olhos D’Água foi muito importante. Mais importante do


que qualquer outra experiência que eu tenha realizado na Universidade.”
Por quê foi tão importante?

Porque era uma experiência com o povo diretamente. Com os fazeres culturais
de uma população, com a sabedoria do povo. E estava antecipando aquilo tudo
que Paulo Freire disse no momento em que eu o entrevistava para a minha tese.
“Paulo, qual o maior problema da educação?” Ele disse assim, “É a dicotomia
entre o fazer e pensar”. Essa relação com a comunidade é uma relação entre

fazer e pensar, o pensar da comunidade, a sabedoria do povo, mas também o


sentido do povo, é a sua cultura, são as microrregiões brasileiras que fazem
todos os Brasis que nós temos.
A escola foi criada para atender a formação das crianças da comunidade que
tinham um determinado conceito de vida, um pensamento, uma linha de
trabalho, mas a escola foi se distanciando dessa microrregião e a escola foi
assumindo despoticamente a condição do processo sem ouvir aqueles que eram
seus partícipes. Dentro dessa linha que a educação precisava retomar. Foi assim
que em nossos encontros começamos a ver que precisávamos falar aquilo que
era necessário na comunidade.
Olhos D á́ gua criou para mim a necessidade de continuidade do processo, que
foi o nascimento de um projeto muito mais amplo que nós estamos chamando
https://www.facebook.com/ecomuseudocerrado/timeline

São sete municípios que a gente trabalha com ecologia humana, ambiental,
social, cultura e desenvolvimento. A auto-sustentabilidade com bases na cultura,
levando em conta que as grandes civilizações do mundo tiveram a cultura como
carro-chefe e não carro de reboque como acontece no Brasil.
Então nos temos que ter consciência também nas nossas reflexões que era
necessário perseguir as estruturas adequadas que o Brasil já teve em termos de
Educação, as escolas que foram fechadas como por exemplo, os Liceus de Artes
e Ofícios. E foi nessa perseguição a essas metodologias e linhas de trabalho que
mais tarde eu vim a criar em Belém uma experiência de dois anos, a
implementação do

Sistema de Educação e Cultura para o Desenvolvimento Sustentável.


Desse sistema nasceram dois liceus, resgatando a cerâmica marajó e tapajônica
para um total de 1.200 crianças, esse liceu com três anos funcionamento ficou
entre as cem melhores escolas do Brasil.
Artigo sobre a experiência na Confaeb

E depois perdeu isso por causa da política partidária. Mudou a política, quem
está num partido não atende outro partido, porque partido não é inteiro e a
sociedade é um todo, que deveria juntar as suas partes para ser um todo inteiro.
Dentro dessa linha nós estamos perseguindo a própria arte-educação passe a
trabalhar esse sentido da unidade na diversidade.
Eu convoco a ação dos arte-educadores para uma ação mais anarquista do que
acadêmica para fazer a nossa vontade virar verdade. E esse país de muitos Brasis
poder dar as mãos e efetivamente ser um país desenvolvido com base na sua
cultura.

MEMÓRIA DA ARTE EDUCAÇÃO


Angel e Klaus Vianna : Uma parceria criativa de vida inteira

Conheça o trabalho de Klaus Vianna http://www.klaussvianna.art.br/

Angel Vianna
“Dançar ultrapassa qualquer obstáculo na vida”

Observadora e dedicada, Angel Vianna se declara apaixonada por


gente. Uma pessoa encantada com o movimento, a diversidade de
formas e a delicadeza das articulações do corpo humano.

“Aprendi com as crianças o sentimento de tocar, Aprendi como


sentir o toque sua força e resistência “

Criadora de um método singular de ensino da dança e de consciência


corporal, (MAV) Angel é antes de tudo uma pesquisadora da Anatomia
e Cinesiologia Humana.
O corpo não tem fim.

Ele é perfeito e tem um mistério.

Quanto mais você conhece, mais você quer conhecer “ Frente a este mistério é
preciso muita dedicação. Angel Vianna ensina que todo corpo precisa ser
respeitado, observado e tratado com cuidado. Em sua escola não existem limites
para dançar.

Entrevista Rio TV Câmara

https://youtu.be/eTmL7chCtec

“Tem gente que nasce e morre e não sabe que viveu, porque não tem atenção
com a vida

“ Apesar de todo o conhecimento de que dispõe acerca de si


mesmo, o homem continua a constituir -se no mistério”
WOSIEN, 2000
Saiba mais :
Idança NET : Entrevista Angel Viana

https://www.youtube.com/watch?v=0KnBfbeGfvY

Acervos :

http://www.angelvianna.art.br/

http://www.klaussvianna.art.br/

Escola e Faculdade de Dança Angel Vianna

http://www.escolaangelvianna.com.br/blog/

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