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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


2º Parte- Petição caso Luana Tamara e BV
Financeira
BELO HORIZONTE
2021

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz De Direito Da 10ª Vara Cível Do Foro


Da Comarca De Belo Horizonte No Estado De Minas Gerais
LUANA TAMARA, brasileira, casada, médica, portadora do documento de
identidade RG ( XXXXXXX), e inscrita no CPF sob o número (XXXXX),
domiciliada nesta Comarca de Belo Horizonte, onde reside na (XXXXXXXXX),
vem, respeitosamente, à elevada presença de Vossa Excelência, por seu, infra-
assinado, Advogado, propor a presente ação pela abusividade de cláusulas
referentes a tarifas bancarias em contrato de financiamento de veículo, em face
de BV Financeira S.A. , sociedade inscrita no CNPJ sob o número
(548.762.565/5555-60), com sede na Comarca de Belo Horizonte, (Rua
Pernambuco, 1338, Centro), pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos.
AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/c PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA
Nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil,pelos motivos fáticos e
jurídicos que passa a expor e aduzir:

I. DOS FATOS:
No dia 21 de janeiro de 2020, Luana celebrou contrato de financiamento
com a BV financeira, tendo como objeto a aquisição de um veículo no valor fipe
de R$35.900,00 (trinta e cinco mil e novecentos reais) a ser pago mediante 48
parcelas mensais, de R$930,43 (novecentos e trinta reais com quarenta e três
centavos) totalizando o valor final do financiamento R$44.660,64 (quarenta e
quatro mil seiscentos e sessenta reais com quarenta e três centavos).

A Autora tomou o financiamento em questão para a aquisição do automóvel


Fiat Palio Sporting 1.6 flex 16v 5p, modelo 2015, ano 2015, cor vermelha, placa
ABC-1213, veículo avaliado na época da contratação em R$38.900,00 (trinta e
oito mil e novecentos reais com zero centavos).
O valor financiado foi de R$28.900,00 (vinte e oito mil e novecentos reais).
Ainda, a contratante efetuou o pagamento de R$10.000,00 (dez mil reais com
zero centavo), a título de entrada para a aquisição do bem.
Considerando os encargos financeiros decorrentes da contratação, o valor
total devido pela Autora foi de R$44.660,64 (quarenta e quatro mil seiscentos e
sessenta reais com quarenta e três centavos). Ainda foi cobrado da Autora,
tarifa de cadastro no valor de R$1.000,00 (um mil reais), tarifa de registro
R$700,00 (setecentos reais) e tarifa de abertura de crédito R$500,00
(quinhentos reais).

II. DA RELAÇÃO DE CONSUMO:


Para iniciarmos as fundamentações, definimos como relação de consumo a
natureza jurídica entre a Autora e a instituição financeira Requerida, de acordo
com a Súmula 297 do Superior Tribunal de justiça:

“O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


Instituições Financeiras”.

III. FUNDAMENTAÇÕES:
Ao celebrar um contrato de financiamento com a Instituição Financeira não
é desconhecido que o consumidor, a parte hipossuficiente da relação, não
dispõe de meios para discutir as cláusulas e condições contratuais dispostas,
uma vez que é apresentada uma minuta padrão de contrato.
Utilizando-se dessa espécie de contrato, conhecido como contrato de
adesão, a ré BV Financeira S.A. inseriu cláusulas que estabelecem tarifas
reconhecidas pelos tribunais superiores como ilegais, por se tratarem de tarifas
que são inerentes à atividade bancária. Ou seja, tarifas que não se referem à
prestação do serviço disposto ao consumidor, mas sim aos serviços inerentes à
própria atividade bancária de concessão de crédito.
O Código de Defesa do Consumidor dispõe em seu artigo 51, inciso IV, que
são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais abusivas que estabeleçam
obrigações ao consumidores incompatíveis com a boa-fé e a equidade.

Art. 51. “São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.”

Nesse sentido, o princípio da força obrigatória dos contratos, também


conhecido como pacta sunt servanda, não pode ser alegado como óbice para
revisão do contrato em tela, posto que algumas das obrigações inicialmente
“acordadas” são abusivas.
Ao celebrarem o contrato foi estabelecida a cobrança da tarifa de
cadastro no montante de R$1.000,00 (um mil reais). A cobrança desta tarifa
pela instituição financeira para fins de abertura de crédito é permitida pela
Resolução nº 3.949/10 do Conselho Monetário Nacional.
No entanto, o Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que
somente é válida a cobrança da tarifa de cadastro quando do início do
relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira, conforme disposto
na Súmula 566 do STJ, bem como no Tema 620 do STJ.

Súmula 566 do STJ: Nos contratos bancários posteriores ao início


da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008, pode
ser cobrada a tarifa de cadastro no início do relacionamento entre o
consumidor e a instituição financeira.”

Tema 620 do STJ: "Permanece válida a tarifa de cadastro


expressamente tipificada em ato normativo padronizador da
autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do
relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira." REsp
1251331/RS e REsp 1255573/RS

Tendo em vista, que a autora mantinha uma relação de consumo


previamente ao contrato de financiamento do veículo, não fará jus à instituição
financeira da cobrança da tarifa de cadastro, uma vez que esta somente
poderia ser cobrada no início do relacionamento entre a autora e a instituição
bancária.
Outra tarifa considerada abusiva na celebração do contrato, é a Tarifa de
abertura de crédito. Essa tarifa representa a cobrança que uma instituição
financeira faz quando um produto de crédito (financiamentos e empréstimos) é
solicitado. O objetivo dessa taxa era restituir os bancos pela oferta desse
crédito aos clientes e era atrelada às parcelas pagas mensalmente.
A partir de 2008, com a vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em
30/04/2008 a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas
(PFs) se restringiu às hipóteses estabelecidas pela norma. Por conta disso, não
se pode mais cobrar TAC em financiamento de carro. Contudo, essa taxa pode
surgir sob outra denominação, pois os bancos embutem o valor nas parcelas
pagas pelos consumidores. Atualmente, apenas contratos realizados até o dia
30 de abril de 2008 ainda são obrigados a pagar essa taxa.
A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC), ou como vem sendo
feito, com outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida apenas nos
contratos bancários anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n.
3.518/2007, em 30/04/2008. (Súmula 565, do STJ).
Acórdão 1176340, 20080710234722APC, Relator: SÉRGIO ROCHA, Segunda
Turma Cível, data de julgamento: 5/6/2019, publicado no DJE: 7/6/2019.
Por fim, a cobrança de taxa de registro do veículo, que serve para a
regulamentação e emplacamento do veículo perante o Detran. Tendo vista com
o valor disposto pela autora de R$700 (setecentos), se encontra relativamente
baixo com relação ao valor real para o registro do veículo.Os valores reais para
o registro são: 1. Emplacamento R$193,26 (cento e noventa e três reais e vinte
e seis centavos); 2. IPVA do veículo adquirido R$1.174,80 (mil cento e setenta
e quatro reais e oitenta centavos); 3. Documentação R$181,87 (cento e oitenta
e um reais e oitenta e sete centavos), totalizando o valor de R$1.549,93 (mil
quinhentos e quarenta e nove reais e noventa e três centavos).
Em síntese, a autora Luana Tamara inicia o pedido contra a empresa BV
Financeira S.A, que visa a aferir a abusividade de cláusulas referentes a tarifas
bancárias de financiamento de veículos.
De acordo com o apresentado pela a autora, as seguintes tarifas estão
sendo cobradas: tarifa de cadastro no valor de 1.000,00 (mil) reais, tarifa de
registro no valor de 700,00 (setecentos) reais e taxa de abertura de crédito no
valor de 500,00 (quinhentos) reais, tendo vista que a taxa de abertura de
crédito não existe mais, não podendo ser cobrada em nenhum financiamento
de veículo.
Ao que se dispõe, a autora adquiriu um veículo no valor de R$38.900,00
(trinta e oito mil e novecentos reais) dividido em 48 parcelas mensais no valor
de R$930,43 (novecentos e trinta reais e quarenta e três centavos), totalizando
o valor do financiamento do veículo em R$44.660,64 (quarenta e quatro mil,
seiscentos e sessenta reais e quarenta e três centavos).
Solicita-se ação de repetição de indébito em dobro, tendo vista que a autora
pagou valores que eram dispostos de forma indevida no financiamento, como
previsto no artigo 884 e 885/CC.

Art. 884. “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de


outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores monetários.”

Art. 885. “A restituição é devida, não só quando não tenha havido


causa que justifique o enriquecimento, mas também se esta deixou
de existir.”

Dispõe o artigo 876 do Código Civil que “todo aquele que recebeu o que lhe
não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que
recebe dívida condicional antes de cumprida a condição.”
Nesse sentido, uma vez demonstrado que as tarifas estabelecidas no
contrato de financiamento do veículo ora debatido foramcobradas
indevidamente, gerando um enriquecimento sem causa para a instituição
financeira, com fulcro do artigo 876 do Código Civil fará a autora jus ao
recebimentos dos valores correspondentes ao indevidamente auferido.
Não sendo imputado a autora à comprovação de que houve o pagamento
indevido, conforme disposto no artigo 877 do Código Civil, uma vez que a
Súmula 332 do STJ dispensa a prova do erro.

"Súmula 322, STJ: Para a repetição de indébito, nos contratos de


abertura de crédito em contracorrente, não se exige a prova do erro.
Por analogia todos os contratos de adesão."

Ademais, o artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor assegura ao


consumidor cobrado em quantia indevida, à repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e
juros legais.
"Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não
será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável."

IV. USO DE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO:


A mediação é uma forma de processo extrajudicial, voluntário e autocompositivo, em que
o terceiro mediador tem o objetivo de aproximar as partes, para que elas negociem
diretamente a solução desejada de seus desentendimentos.
A conciliação é uma forma de resolução de conflitos onde as próprias partes e o juiz ou
conciliador buscam solucionar o problema em conjunto, definindo assim o melhor resultado
para ambos.

V. Em face do exposto, requer a Vossa Excelência:

a) A concessão do benefício da Assistência Judiciária Gratuita, nos termos


dos art. 98, caput, do Código de Processo Civil, em razão de não dispor
dos recursos necessários ao pagamento das custas processuais e
sucumbenciais sem prejuízo de seu próprio sustento;
b) O deferimento da medida liminar, antecipando os efeitos da tutela
para o fim de impedir o Réu de excutir o bem objeto da garantia
fiduciária, bem como impedir a inclusão do nome Autora nos órgãos
de proteção ao crédito;

c) O aprazamento de audiência de mediação e conciliação nos moldes do


inciso VII, do art. 319, do Código de Processo Civil.
d) A inversão do ônus da prova face a hipossuficiência do autor na
supracitada relação de consumo ou verossimilhança dos fatos narrados
pelo autor.

e) Declaração de nulidade das cobranças da Taxa de Tarifa de abertura


de crédito e Tarifa do cadastro.
f) Que o réu seja condenado ao pagamento da restituição em dobro, no
montante de R$3.000,00, referente ao dobro do valor de R$1.500,00, em
razão ao pagamento indevido da taxa de Tarifa de abertura de crédito e a
do cadastro.

g) Declaração de nulidade da cláusula que determina a aplicação de


comissão de permanência, bem como a sua aplicação cumulativa com
multa, juros remuneratórios, moratórios e correção monetária.

h) Afastar a incidência de quaisquer encargos moratórios, face à


inexigibilidade dos encargos ilegalmente aplicados.

i) A condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios nos


parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC;
j)Provará o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito,
notadamente, a documental e a pericial;

Valor da Causa: R$46.860,64

Visto que a partir de 2008, com a vigência da Resolução CMN 3.518/07, a


cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas (PFs) se
restringiu às hipóteses estabelecidas pela norma. Por conta disso, não se pode
mais cobrar TAC em financiamento de carro. Além de a cobrança de tarifa de
registro de contrato pode ser considerada abusiva e até ilegal, pois não está
vinculada a uma contraprestação à pessoa que financia o carro.
Nestes termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 17 de Novembro de 2021.


Jorge Alves Barcelos- OAB 195525/MG

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