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Revista Eletrônica de Educação Física

ADIPOSIDADE, PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE


GORDURA E NÍVEIS DE ATIVIDADE FÍSICA EM
ATLETAS DE NATAÇÃO COM MAIS DE 50 ANOS
Prof. Msd. Paulo Cesar Barauce Bento
Uniandrade
Cyntia Mara Zilli Casagrande
Silvana de Lara
Vanderlei Luiz Christoff Lick
Mestandos UFRS

1. INTRODUÇÃO
Atualmente um fato que tem chamado atenção dos diversos profissionais da área da
saúde, é a constatação de que há um envelhecimento populacional e este é um fenômeno
mundial que atinge tanto os países desenvolvidos como os países em desenvolvimento. Vários
fatores têm contribuído para este fato entre eles a evolução da medicina no tratamento e no
controle das doenças a melhoria das condições sócias econômicas e a preocupação com a
adoção de um estilo de vida saudável (Leavel, Clark citado por Faria Júnior,1999). No Brasil este
fenômeno também tem se constatado, o crescimento da população com mais de 60 anos
devido à redução da taxa de fecundidade, a queda das taxas de mortalidade e a migração (Veras
citado por Farias Júnior, 1999). Estudos destacam que o Brasil será até 2025 a sexta nação com
o maior número de idosos em todo o mundo Faria Júnior (1999). Portanto a adoção de políticas
públicas que incluam a população idosa e permitam o acesso as atividades que visem a melhoria
da qualidade de vida são de fundamental importância. O envelhecimento acarreta modificações
físicas e fisiológicas importantes entre elas a diminuição de determinadas capacidades
funcionais, diminuição de massa óssea e muscular e aumento da gordura corporal. O aumento
da gordura corporal e o padrão de distribuição de gordura estão relacionados com uma série
de doenças crônico degenerativas. Tendo em vista ser a atividade física reconhecidamente
importante na promoção e prevenção da saúde objetivamos analisar o treinamento de uma
modalidade esportiva, a natação, e sua relação com os índices indiretos de avaliação da
quantidade de gordura corporal e do seu padrão de distribuição.

1.1 Obesidade
A obesidade segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma epidemia de
proporções mundiais. A proporção de obesos no mundo atinge taxas de 10 à 25% da população
européia ocidental , 20 à 25% da população americana e no Brasil já atinge 10% da população,
Nahas (1999). A obesidade caracteriza-se pelo acúmulo excessivo de gordura em nosso corpo,
mais especificamente armazenada na forma de tecido adiposo. Segundo Nahas (1999), embora
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fatores genéticos tenham sido destacados em algumas pesquisas como importantes para
determinar o grau de obesidade individual, tem se igualmente concluído que o estilo de vida
ativo é um aliado fundamental quando se pretende aumentar o gasto energético para reduzir o
peso corporal.
Estatisticamente a taxa de mortalidade para um mesmo grupo etário é maior entre
indivíduos obesos Nahas (1999) e existe uma associação entre o excesso de gordura corporal
e inúmeras doenças da era moderna como: doenças cardiovasculares, renais, digestivas,
diabetes, problemas hepático e ortopédicos. Tão importante como o excesso de gordura
corporal o padrão de distribuição do tecido adiposo altera os riscos para a saúde na obesidade,
Kacth e McArdle (1996). O padrão de distribuição de gordura pode ser do tipo andróide ou em
forma de maçã, onde o excesso de acúmulo de gordura se localiza acima da cintura (central),
prevalência em homens ou do tipo ginóide ou em forma de pêra onde o excesso de gordura se
acumula na região das coxas ou do quadril (periférica), prevalência nas mulheres. O padrão de
distribuição de gordura central está associadas a níveis sangüíneos de glicose e triglicerídeos
aumentados assim como maior possibilidade de hipertensão. Esses indivíduos estão sob risco
aumentado para a diabetes e morte por doenças do coração enquanto que as mulheres
apresentam um risco aumentado para desenvolverem câncer de útero e de mama, Kacth e
McArdle (1996).
Desenvolvido por Quetelet e conhecido por Índice de Massa Corporal (IMC), que é
expresso como massa corporal em quilogramas dividido por estatura em metros ao quadrado,
(Ross citado por Costa, 1999) tem sido largamente utilizado em saúde pública como um preditor
de sobrepeso e obesidade. Embora para a medida de um indivíduo o IMC possa expressar
maior concentração de massa muscular e não de excesso de gordura em estudos populacionais
geralmente uma alta prevalência de sobrepeso significa obesidade, pois a massa corporal magra
é pouco variável, ( Sichieri citado por Costa, 1999). Portanto inúmeros estudos tem utilizado o
IMC para identificação da prevalência de sobrepeso e obesidade em diferentes populações
Costa (1999). Segundo a (OMS) é considerado obeso o indivíduo com IMC igual ou superior à
30 kg/m2. Da mesma forma, a Relação Cintura Quadril (RCQ), que é obtido pela divisão da
circunferência da cintura pela circunferência do quadril, tem sido utilizada com freqüência
como indicador de deposição de gordura na região abdominal (central). Trata-se de
procedimentos simples e de baixo custo para medidas individuais e de grupos populacionais,
Costa (1999), segundo NAHAS, (1999), o RCQ superior à 0,95 para homens e 0,85 para mulheres
pode representar um risco aumentado para a saúde.

1.2 Obesidade e atividade física


A atividade física regular é importante na prevenção de diversas doenças e também
auxilia no controle do peso e diminuição da gordura corporal. Para Nahas (1999) todas as
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atividades físicas, tais como, esportes, exercícios, tarefas domésticas, caminhar para o trabalho
e a própria atividade laboral podem ser úteis, pois promovem um gasto calórico determinado.

1.3 Envelhecimento e atividade física


O processo de envelhecimento causa um declínio gradual da capacidade funcional a
partir dos 30 anos aproximadamente., embora o declínio acelerado na capacidade funcional se
dá por volta dos 70 anos de idade (Cunningham et al citado por Matsudo e Matsudo 1992) .
Dentre as modificações causadas pelo envelhecimento temos o aumento da quantidade de
gordura corporal, diminuição da capacidade aeróbia, volume muscular, força, potência,
velocidade, coordenação e flexibilidade. Porém o treinamento regular pode diminuir este
declínio, Maglischo, (1982). Pode-se observar melhorias notáveis e rápidas com o treinamento
físico até mesmo os 90 anos de idade, Kacth e McArdle, (1996). Para um mesmo grupo etário as
pessoas fisicamente ativas podem manter para as funções fisiológicas 25% mais elevadas para
a mesma faixa etária que uma pessoa sedentária, Kacth e McArdle, (1996). Mais que o
envelhecimento ou impacto causado por doenças crônicas parece ser o desuso das funções
fisiológicas o fator de maior impacto para os efeitos do envelhecimento, Matsudo e Matsudo,
(1992).

2. Objetivos
2.1 Avaliar de forma indireta os níveis de adiposidade dos atletas de natação master através do
cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC).
2.2 Avaliar o perfil de distribuição de gordura corporal de forma indireta através do cálculo da
Relação cintura Quadril (RCQ)
2.3 Analisar a influência da freqüência semanal com a qual os atletas realizam seus treinamentos
nos referidos índices antropométricos.

3. Metodologia
A amostra foi constituída por 76 atletas de natação master com idade a partir de 50
anos participantes do Troféu Master Curitiba ++ nos dias 17 e 18 de março de 2001 (Tabela
1).

Tabela 1: Amostra

N° de Atletas Freqüên cia


Masculin o 51 67%
F em i n i n o 25 33%
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Durante a realização do Campeonato foi aplicado um questionário onde constavam:
data de nascimento, idade, categoria a que o atleta pertencia (tabela 2), sexo, acompanhamento
médico, rotina de treinamento e se foi atleta na juventude.

Tabela 2: Categoria

Categ oria
N° de Atletas Freqüên cia
(idade)
50 a 54 17 22%
55 a 59 13 17%
60 a 64 19 25%
65 a 69 17 22%
70 a 74 3 4%
75 a 79 7 9%

As variáveis antropométricas avaliadas foram: peso (P), estatura (E), circunferência da


cintura (CC) e circunferência do quadril (CQ).
Para a mensuração da circunferência da cintura utilizou-se o ponto médio entre a costela
inferior e a crista ilíaca. Para a mensuração da circunferência do quadril utilizou-se a região de
maior protuberância, ou seja, maior extensão entre a crista ilíaca e a coxa (glúteo máximo).
Os atletas foram subdividos conforme o número de sessões de treinamento semanal
em 04 grupos: Grupo 1 (3 vezes por semana), Grupo 2 (4 vezes por semana), Grupo 3 (5 vezes
por semana) e Grupo 4 (6 vezes por semana ou mais.
Para análise estatística utilizou o procedimento ANOVA ONE WAY com nível de significância
de 0,05.

3.1 Materiais
Foram utilizadas uma balança eletrônica da marca Filizola com precisão de 100 gramas,
um estadiômetro tipo trena com precisão de milímetros e fitas antropométricas com precisão
de milímetros.
4. Resultados e discussão
A atividade esportiva deve ser precedida e regularmente acompanhada por uma avaliação
das condições de saúde do praticante, sobretudo no caso deste público com idade acima de
50 anos. Um dos aspectos investigados por este estudo foi se os atletas de natação participantes
deste evento realizam um acompanhamento médico regular, os resultados (Tabela3) demonstram
que a maioria dos atletas realiza este acompanhamento.
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Tabela 3: Acompanhamento médico regular

N° de Atletas Freqüência
S im 63 82,8%
Não 13 17,2%

Outro aspecto de interesse do nosso estudo foi o de identificar se os participantes de


competições de natação master foram na infância e juventude atletas de natação ou se iniciaram
seus treinamentos e participação em competições mais tarde, ou seja, quando adultos. Os
resultados (tabela 4) demonstram que neste caso a grande maioria não foi atleta na juventude
e começou a competir mais tarde.

Tabela 4: Foi atleta na juventude

N° de Atletas Freqüência
S im 26 34,2%
Não 50 65,8%

Com relação ao número de sessões semanais de treinos os resultados apresentados para


o masculino (Tabela 5) nos mostram que os atletas treinam pelo menos três vezes por semana
podendo chegar a seis ou mais sessões de treinamentos. O número de sessões utilizadas para
a maioria dos atletas foi de cinco vezes semanais. Para as atletas do sexo feminino (Tabela 6)
os resultados foram os mesmos com relação as freqüências, ou seja de três à seis ou mais
vezes por semana. Para este grupo observou-se que a maioria treina três ou cinco vezes por
semana.
Tabela 5
5: Freqüência semanal de treinamento – Atletas masculinos

N ° d e se ssõe s
N° de Atletas Freqüência
p or se m a n a

3 vezes 15 29,4%

4 vezes 7 13,7%

5 vezes 21 41,2%

6 vezes 8 15,7%
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Tabela 66: Freqüência semanal de treinamento – Atletas femininos

N ° d e se ssõe s
N° de Atletas Freqüência
p or se m a n a

3 vezes 10 40,0%

4 vezes 3 12,0%

5 vezes 9 36,0%

6 vezes 3 12,0%

Nas tabelas 7 e 8 temos os resultados médios para as variáveis avaliadas e para os


IMC e RCQ. Ao analisarmos os valores médios do IMC comparando aos valores de referência
propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) onde são considerados obesos os
indivíduos com IMC igual ou superior à 30 Kg/m2 constatamos que os atletas master de
natação encontram-se em níveis desejáveis. Para o RCQ segundo NAHAS (1999) valores
Para
superiores à 0,95 e 0,85 para homens e mulheres respectivamente estão associados à um
padrão de distribuição de gordura do tipo andróide e portanto os indivíduos apresentam
um risco para a saúde aumentado. Neste caso também os resultados apresentados indicam
que os atletas de natação master avaliados encontram-se em níves desejáveis para a
manutenção de um bom estado de saúde.

Tabela 7: Variáveis (masculino)

Peso (kg) Estatura (cm) IMC Kg/m 2 CC (cm) CQ (cm) RC Q


M éd i a 75,10 166,0 26,79 91,92 101,07 0,91
D.P. 13,08 10,0 3,01 13,93 11,03 1,26

Tabela 8: Variáveis (feminino)

Peso (kg) Estatura (cm) IMC Kg/m 2 CC (cm) CQ (cm) RC Q


M éd i a 68,29 161,0 26,21 86,39 100,84 0,86
D.P. 13,12 10,0 3,42 13,69 9,67 1,42

Quanto a relação entre número de sessões de treinamento e valores do IMC e RCQ


não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas tanto para o masculino
(Gráficos 1 e 3) quanto para o feminino (Gráficos 2 e 4), (p>0,05) .
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Gráfico 01 Gráfico 02
Relação Cintura Quadril (masculino) Relação Cintura Quadril (Feminino)

1 0,88

0,84
0,96

RCQ
RCQ

0,8
0,92 0,76

0,72
0,88
3X 4X 5X 6X
3X 4X 5X 6X
Frequência Semanal Frequência Semanal

Gráfico 3 Gráfico 4
Índice de Massa Corporal (Feminino) Índice de Massa Muscular (Masculino)

28,00 29

27,00 28

26,00 27
IMC

IMC
25,00 26

24,00 25

23,00 24
3X 4X 5X 6X 3X 4X 5X 6X
Frequência Semanal Frequência semanal

5. Conclusão
Todos os grupos apresentaram valores médios tanto para o IMC e RCQ dentro de
padrões desejáveis para a manutenção de bons níveis de saúde, o que demonstra ser o exercício
físico um aliado importante para o controle de peso e para o padrão de distribuição de gordura.
Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos em função da freqüência
semanal de treinamentos o que pode indicar que 3 vezes por semana de treinamentos em
natação são suficientes para manutenção de níveis adequados de adiposidade corporal.
Considerando-se a limitação deste estudo sugere-se que para estudos posteriores se utilizem
outros métodos para determinação de gordura corporal e que se controlem outras variáveis
importantes como a dieta alimentar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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