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40 Infecção pelo vírus da

imunodeficiência humana

linfócitos
Pontos-chave
• HIV é uma infecção letal do retrovírus transmitido T
pelo sangue e fluidos corporais.
• HIV danifica os linfócitos levando a alterações CD4
severas das células imunes T. Meses
AIDS
• Infecções
• Defesas contra fungos, vírus, micobactéria e Vírus
Fungo
ou anos • Neoplasias
parasitas estão particularmente prejudicadas. Micobactéria • Encefalopatias
• Doenças auto-
• A doença clínica (doença HIV) se manifesta após Parasitas
imunes
uma longa latência—com tumores, infecções e
outras características.
• Manifestações comuns são o Sarcoma de Kaposi Morte
e os linfomas; infecções pelo herpes-vírus e
pelo papiloma-vírus, candidíase e criptococose, Fig. 40.1 Desenvolvimento do HIV/AIDS
tuberculose e toxoplasmose.
• A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) é
o termo usado quando a contagem de linfócitos T
HIV
CD4 abaixa para menos de 200 células/ml.
• A terapia anti-retroviral pode prolongar a vida no Infecção inicialmente
Infecção primária
HIV/AIDS, mas pode causar doença cardíaca e oculta (latente)
muitos outros efeitos colaterais.
Febre glandular acima de
três meses

Produção de anticorpos
Doença pelo vírus da (soroconversão)
Doença HIV

imunodeficiência humana Infecções, p. ex.,


candidíase acima de
10-15 anos de idade

Nas pessoas saudáveis com mais de 5 anos de idade, HIV danifica os lin-
fócitos CD4 e outras AIDS
com o sistema imunológico funcionando normalmente, células
a contagem de células T CD4+, geralmente alcança de
500 a 1.500 células/ml. Estes imunócitos são cruciais Infecções, tumores e
danos cerebrais
para defesa do hospedeiro contra fungos, vírus, mico-
bactérias e parasitas. Fig. 40.2 Desordens no HIV/AIDS
A infecção com o retrovírus RNA, conhecido como
vírus da imunodeficiência humana — anteriormente
denominado “vírus tipo III T-linfotrópico humano” 40.2), embora o tratamento anti-retroviral atual possa
(HTLV-III) —, produz infecção pelo HIV que, eventu- prolongar a vida.
almente, danifica linfócitos T, especialmente, os CD4+,
conseqüentemente, causando imunodeficiência. No
momento em que há predisposição para infecção por
fungo, vírus, micobactéria e/ou parasitas e o apare- Incidência
cimento de doenças clínicas, a condição é designada A AIDS foi primeiramente reconhecida nos EUA, no
“doença HIV”. Isso depois progride, com o tempo, início dos anos 1980 em homens da população gay;
para síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), contudo, a infecção foi, subseqüentemente, reconhe-
defi nida como contagem de linfócitos T CD4+ em ou cida como existente na África algumas décadas antes,
abaixo de 200 células/ml na presença da infecção por ao menos desde os anos 1950. A epidemia alastrou-se
HIV. O resultado é a morte prematura (Figs. 40.1 e mundialmente do epicentro da África, em grande parte
305
4 Desordens sistêmicas relevantes e outras

nos socialmente excluídos e nos países em desenvolvi- através de transfusões de sangue infectado ou fato-
mento onde o HIV/AIDS é a principal causa de morte res coagulantes do sangue ou transplantes.
em adultos jovens e está aumentando em crianças. A • raramente em ambiente hospitalar, por agulhas ou
incidência mundial varia muito, a uma média de aproxi- outros objetos cortantes com sangue contaminado
madamente 50% em algumas populações na África com o HIV (ferimentos por agulhas) ou menos fre-
subsaariana. qüentemente após o sangue infectado ter entrado
em um corte aberto de um trabalhador ou em uma
membrana mucosa (p. ex., boca, olhos ou dentro do
Idade nariz).
• raramente pela saliva, presumivelmente por causa
Pelo mundo inteiro, os adultos ativos sexualmente da proteção oriunda da:
continuam sendo o grupo mais afetado, mas o número
de casos em crianças continua subindo, principalmente,
• SLIP1 (protease leucocitária secretória 1)
pelo aumento da prevalência da infecção em mulheres • peroxidases
grávidas. • trombospondina-1
• transmissão pelo receptor do sexo bucal é menor (es-
timado em 0,04% por atividade) que a transmissão
Sexo pelo receptor do sexo anal (0,82%/por atividade).
No mundo inteiro existe pouca ou nenhuma diferença
Barreiras de precaução são altamente efetivas na pre-
quanto ao sexo de indivíduos afetados pelo HIV.
venção da transmissão em todas as situações sociais
e de trabalho, exceto para ferimentos com agulhas. A
Distribuição geográfica transmissão é mais bem prevenida por:

A epidemia do HIV: • Abstinência


• Fidelidade
• parece ter se originado na África subsaariana, pro- • Preservativo sempre
vavelmente no Zaire e na República dos Camarões.
• o índice diminuiu na maior parte dos países desen-
volvidos.
• no mundo todo espalhou-se, principalmente pela via Etiologia e patogênese
heterossexual, porém, a incidência ainda é alta entre
os homens que fazem sexo com homens (HSH). • Existem dois tipos principais de HIV responsáveis
• na CIS e na Ásia representa uma grande preocupação. pela infecção pelo HIV, porém pouca diferença en-
• não é incomum estar acompanhada pela infecção tre a patogênese, manifestações da infecção, trata-
com outros agentes transmitidos via sanguínea (p. mento ou prognóstico. Há também muitas cepas de
ex., vírus da hepatite) e/ou infecções sexualmente cada vírus:
transmissíveis (p. ex., sífilis). • HIV-1 é o mais comum no mundo todo
• HIV-2 alastrou-se principalmente para a África
Ocidental.
• Infecção pelo HIV infecta células com receptores
Fatores predisponentes e CD4.
• Os linfócitos T-helper CD4+ infectados e células da
transmissão glia do cérebro tornam-se disfuncionais e morrem.
O HIV está presente nos tecidos e fluidos corporais A contagem de células CD4 cai (e existe uma queda
(incluindo sangue e saliva) das pessoas infectadas pelo da relação das células CD4/CD8) e há uma deficiên-
vírus. O HIV é transmitido: cia imune progressiva e demência.
• A proteção imune mediada por células T, portanto,
• facilmente através do compartilhamento de agu- diminui e os pacientes tornam-se predispostos a in-
lhas e/ou seringas (principalmente por drogas in- fecção com leveduras e fungos, vírus, micobactérias
jetáveis). e parasitas:
• comumente pelo intercurso sexual sem proteção • As infecções resultam de patógenos externos ou de
com uma pessoa infectada. O risco de transmissão organismos comensais (p. ex., eles causam pouco
varia, conforme as práticas sexuais: intercurso anal ou nenhum dano óbvio no hospedeiro imunocom-
tem maior risco que o vaginal; e intercurso genital petente); que se tornam patógenos oportunistas:
tem maior risco que o sexo bucogenital ou bucoa- • Patógenos exógenos incluem especialmente Pneu-
nal. mocystis carinii, tuberculose e micobactéria atípica,
• algumas vezes de mulheres infectadas pelo HIV como o Mycobacterium avium-intercellulare, o para-
para os recém-nascidos, antes ou durante o nasci- sita Toxoplasma gondii e algumas micoses.
mento ou através da amamentação após o nasci- • Patógenos oportunistas incluem espécies de
mento. Candida e outros fungos e alguns herpes-vírus
• menos comumente (e agora muito raramente nos — especialmente o vírus herpes simples (HSV),
países onde o sangue é investigado para o HIV), vírus varicela-zoster (VZV), vírus Epstein-Barr
306
Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana
4

Fig. 40.3 Candidíase na AIDS Fig. 40.5 Histopatologia do sarcoma de Kaposi

para órgãos linfóides, mas o resultado da resposta


imune somente suprime parcialmente o HIV e alguns
vírus escapam, levando a uma deterioração gradual da
função imune e das células T CD4+.

Doença HIV
A doença HIV (infecção pelo HIV sintomática) aparece
com o declínio progressivo da contagem de CD4 após
um longo período de incubação, que pode se estender
por 5-15 anos ou mais. Em seguida a pessoa pode
desenvolver:

Fig. 40.4 Sarcoma de Kaposi • infecções: as mais importantes infecções são pneu-
monia por Pneumocystis carinii (PCP), candidíase
(Fig. 40.3), criptococose, herpes-vírus (especial-
(EBV), citomegalovírus (CMV) e herpes-vírus mente HSV, VZV, EBV e CMV) e parasitas, como a
humano-8 (HHV-8). Alguns vírus podem cau- toxoplasmose e a leishmaniose. A tuberculose está
sar neoplasias; HHV-8 causa sarcoma de Ka- aumentando nas pessoas infectadas pelo HIV, o que
posi, EBV causa linfoma e alguns papilomavírus pode implicar a resistência da micobactéria a uma
humanos (HPV) podem causar carcinoma cer- variedade de drogas antituberculose (tuberculose
vical, anal e bucofaríngeo. multirresistente a drogas: TBMRD ou TBAR).
• neoplasias: os principais tumores parecem estar
relacionados a vírus e incluem sarcoma de Kaposi
associado ao HHV-8 (Figs. 40.4 e 40.5), linfomas as-
Características clínicas sociados ao EBV e carcinomas cervical e anal asso-
ciados ao HPV.
Infecção aguda pelo HIV • anorexia, diarréia, emagrecimento, envelhecimento
A infecção aguda pelo HIV, em sua maioria, passa desa- prematuro e fenômenos auto-imunes, como a trom-
percebida já que as características não são específicas. bocitopenia.
Em um terço à metade dos infectados, durante o perío- • algumas vezes doença neuropsiquiátrica: estas po-
do de 4-7 semanas de rápida replicação imediatamente dem corresponder a demência e outras síndromes
seguida da exposição, pode haver febre, mal-estar, cerebrais. Uma condição neurológica degenerativa
linfoadenopatia, mialgia e outras características mimeti- caracterizada por um grupo de apresentações clí-
zando febre glandular. A soroconversão e a resposta nicas, incluindo perda da coordenação, oscilação
imune específica ampla do HIV-1 ocorrem, geralmente, do humor, perda de inibição e disfunção cognitiva
dentro de 30-50 dias. Altos níveis de RNA HIV estão difusa, é a complicação do sistema nervoso central
presentes no sangue. mais comum da infecção pelo HIV.

Infecção pelo HIV AIDS


Esse é um período assintomático e variável, muitas A AIDS é a mais severa manifestação da infecção pelo
vezes por anos, quando o vírus está latente. Há uma HIV. O Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos
viremia maciça com uma ampla disseminação do HIV EUA lista numerosas infecções oportunistas e neopla- 307
4 Desordens sistêmicas relevantes e outras

Tabela 40.1
Classificação do CDC para o HIV e a AIDS
B Sinais e sintomas
A Infecção pelo HIV progressivos da infecção pelo HIV,
Contagem de CD4 (céls/ml) aguda, assintomática ou LPG não AIDS C AIDS

1 >500 A1 B1 C1

2 200–499 A2 B2 C2

3 <200 A3 B3 C3

Características clínicas Infecções oportunistas


Fadiga Citomegalovírus disseminado
Febre Herpes simples crônico disseminado
Mal-estar Leucoencefalopatia multifocal progressiva
Perda de peso Tuberculose
Diarréia Micobacteriose atípica
Linfoadenopatia Pneumonia por Pneumocystis carinii
Emagrecimento Candidíase do esôfago, brônquios e pulmão
Candidíase bucal Criptosporidiose crônica
Leucoplasia pilosa bucal Toxoplasmose cerebral
Herpes-zoster Isosporíase
Trombocitopenia imune Histoplasmose disseminada
Herpes perianal Coccidiodomicose disseminada
Esplenomegalia Criptococose
Estrongiloidíase extra-intestinal
Neoplasias secundárias
Sarcoma de Kaposi
Linfoma: primário do cérebro
Linfoma não-Hodgkin

sias que, na presença da infecção pelo HIV, constituem var, úlceras de várias etiologias infecciosas e outras
um diagnóstico de AIDS (Tab. 40.1) e, em 1993, o critério lesões podem também ser observadas.
para o diagnóstico da AIDS foi expandido para incluir • Lesões bucais podem:
a contagem de células T CD4+ em ou abaixo de 200 • indicar infecção pelo HIV naqueles previamente
células/ml na presença da infecção pelo HIV. Pessoas não diagnosticados.
vivendo com AIDS muitas vezes têm perda de peso, • serem usadas nas decisões de estadiamento e
diarréia, candidíase bucofaríngea, infecções nos pul- terapia.
mões, cérebro, olhos e outros órgãos, sarcoma de Kaposi • causar dor ao paciente e problemas estéticos.
e linfoma e complexo de demência da AIDS. • Essas doenças bucais têm uma série de característi-
cas comuns, que geralmente são:
Prognóstico • não absolutamente específicas para HIV/AIDS,
mas são uma manifestação do defeito imune;
O prognóstico do HIV/AIDS tem sido invariavelmente conseqüentemente, lesões similares podem ser
ruim e a morte é praticamente inevitável; entretanto, vistas em outros defeitos imunes.
existem raros pacientes que mostram extraordinária • geralmente é mais provável que se manifestem
resistência genética. Agentes anti-retrovirais têm sido quando a contagem de células CD4 cai para ní-
desenvolvidos e podem retardar significativamente a veis baixos.
progressão da doença pelo HIV. • visto provavelmente onde a higiene bucal é defi-
ciente.
• provavelmente onde há também má nutrição.
Características bucais • provavelmente mais observada se o paciente é
As características bucais do HIV/AIDS refletem o tabagista.
defeito imune da célula T e são, deste modo, a conse- • muitas vezes controladas, ao menos tempora-
qüência das infecções fúngicas e viróticas (Tabs. 40.1, riamente, pelo tratamento anti-retroviral (en-
40.2 e Quadro 40.1): tretanto, algumas lesões — como zoster e
verrugas — têm aumentado desde o advento da
• As mais comuns são a candidíase (candidose) e a terapia anti-retroviral; ver adiante).
leucoplasia pilosa.
• A gengivite necrosante, periodontite avançada, sar-
308 coma de kaposi, linfoma, doença de glândula sali-
Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana
4
Tabela 40.2
Lesões bucais no HIV/AIDS
Tipo de desordem Exemplos Manifestações

Infecção Virótica Herpes simples Ulceração

Herpes-zoster Ulceração e dor

Citomegalovírus Ulceração

Vírus Epstein-Barr Ulceração, linfoma,


leucoplasia pilosa

Herpes-vírus humano 8 Sarcoma de Kaposi

Papiloma-vírus humano Papilomas e verrugas

Molusco contagioso Pápulas

Fúngica Candida Lesões brancas ou


Cryptococcus neoformans vermelhas, ulcerações ou
Geotrichium candidum nódulos
Histoplasma capsulatum
Mucoracea
Aspergillus
Bacteriana Mycobacterium tuberculosis Ulceração ou nódulo
Micobactéria não- tuberculose
Escherichia coli
Klebsiella pneumoniae
Actinomyces israelii
Bartonella (Rochalimaea) Angiomatose epitelióide
henselae e quintana

Flora periodontal Ver texto

Protozoária Leishmania Ulceração ou nódulo

Auto-imune Úlceras aftosas


Doença de glândula salivar pelo HIV
Trombocitopenia

Outras Paralisia facial


Neuralgia do trigêmeo
Distúrbio no paladar
Queilite exfoliativa
Hiperpigmentação

(teste de soro) é negativo — mas isso é um resultado


Diagnóstico da infecção pelo HIV falso-negativo. Neste estágio somente testes sofisti-
Considerável compaixão é exigida no diagnóstico de tão cados para HIV RNA vão detectar o vírus.
catastrófica infecção, levando em conta o seu impacto, • Anticorpos anti-HIV geralmente tornam-se detec-
virtualmente em todos os aspectos da vida do indivíduo, táveis em seis semanas.
bem como de sua família e demais pessoas relacionadas, • O ensaio imunoabsorvente de ligação de enzimas
eventualmente resultando numa doença desagradável, (ELISA) para anticorpos p24 do HIV é o principal tes-
dolorosa e incapacitante e o seu tratamento. A confiden- te sorológico utilizado, mas deve ser repetido e pode
cialidade deve ser mantida a todo tempo e o consenti- necessitar de confirmação pelo teste de Western blot.
mento e visão do paciente devem sempre ser considera- Reações falsas são conhecidas, porém são raras.
dos, incluindo a informação de outros profissionais de
saúde quanto a qualquer detalhe do paciente envolvido.
Deve sempre haver uma consulta apropriada:

• A infecção pelo HIV num estágio muito precoce


Conduta da doença HIV
pode manifestar produção de anticorpo indetec- Poucos, ou nenhum, paciente têm remissão espontânea
tável e, portanto, o teste para anticorpos anti-HIV e, portanto, o tratamento é quase que invariavelmente 309
4 Desordens sistêmicas relevantes e outras

combinada (TARC) aumentou a expectativa de


➤ Quadro 40.1 vida, porém também complicações cardíacas.
• inibidores da protease são usados junto com inibi-
Classificação das lesões bucais na doença dores da transcriptase reversa como terapia anti-re-
pelo HIV troviral de alta atividade (HAART) (Cap. 5).
Grupo I: Lesões fortemente associadas com a
• HAART reduziu significativamente a incidência
infecção pelo HIV
da maioria das infecções e aumentou substancial-
• Candidíase mente a vida. Entretanto, algumas infecções, como
herpes-zoster e verrugas provocadas pelo HPV au-
• eritematosa
mentaram.
• hiperplásica
• na era da TARC, os efeitos das drogas podem cau-
• pseudomembranosa (sapinho)
• Leucoplasia pilosa (EBV) sar mais morbidade que a AIDS.
• Gengivite HIV
• Gengivite ulcerativa necrosante Há algumas controvérsias quanto ao aumento da do-
• Periodontite HIV ença cardíaca e infarto do miocárdio e em que ponto a
• Sarcoma de Kaposi terapia deve ser introduzida e sobre a importância da
• Linfoma não-Hodgkin profilaxia das infecções. Vacinas contra o HIV ainda
estão muito no início.
Grupo II: Lesões menos comumente associadas com
a infecção pelo HIV
• Ulcerações atípicas (bucofaríngeas)
• Púrpura trombocitopênica idiopática Lesões bucais na doença
• Doenças das glândulas salivares
• boca seca pelo HIV
• aumento de volume unilateral ou bilateral das glândulas
salivares maiores
• Infecções viróticas (outras que não o EBV) Candidíase bucal relacionada ao
• citomegalovírus
• vírus do herpes simples HIV
• papilomavírus humano (lesões verrucosas) – condiloma Níveis bucais de C. albicans e outras leveduras estão
acuminado, hiperplasia epitelial focal e verruga vulgar aumentados na infecção pelo HIV, e a infecção é
• vírus da varicela-zoster – herpes-zoster e varicela comum.
Grupo III: Lesões possivelmente associadas com a A candidíase bucal é:
infecção pelo HIV
• Uma miscelânea de doenças raras • a infecção oportunista mais comum nas pessoas in-
fectadas pelo HIV
• muitas vezes é a manifestação inicial da infecção
pelo HIV sintomática
• observada em algum momento em pelo menos 90%
indicado, porém em raros casos a doença progride
dos pacientes infectados pelo HIV
muito devagar e pode apenas, em um estágio bem adi-
• observada em todos os grupos de risco, especial-
antado, manifestar-se com complicações sérias.
mente nos usuários de drogas injetáveis infectados
Desde que a AIDS foi primeiramente reconhecida
pelo HIV.
há aproximadamente 20 anos, um progresso extraordi-
nário tem sido feito na melhora da qualidade e duração
A candidíase bucal está relacionada a:
da vida das pessoas infectadas pelo HIV. Essa melhora
tem ocorrido por causa do:
• defeito imune; em geral, a freqüência do isolamen-
to de espécies de Candida cresce com o aumento da
• melhor reconhecimento dos processos das doenças
severidade da doença pelo HIV e com a diminuição
oportunistas.
do CD4 e/ou relação CD4/CD8
• melhor terapia para complicações agudas e crôni-
• xerostomia e outras alterações salivares na infecção
cas.
pelo HIV, tais como a redução da calprotectina, IgA,
• a introdução da quimioprofilaxia contra pneumo-
lactoferrina e anticorpos anti-Candida
nia por Pneumocystis carinii (PCP), toxoplasmose,
• tabagismo
complexo do Mycobacterium avium e infecções bac-
• uso de antimicrobianos.
terianas. Sulfametoxazol/Trimetoprima, em parti-
cular, reduz não somente a incidência da PCP, mas
também as infecções bacterianas e por toxoplasmo- Etiologia e patogênese
se.
• o desenvolvimento da terapia anti-retroviral (TAR). • Leveduras colonizam aproximadamente 85% das
Porém, muitas drogas são propensas a reações co- bocas das pessoas infectadas pelo HIV.
laterais severas e talvez, mais significativamente, • Os linfócitos CD4 estão deficientes no infiltrado ce-
310 surja resistência (Cap. 5). A terapia anti-retroviral lular das lesões de cândida na infecção por HIV.
Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana
4
• A Candida albicans causa mais de 85% das candidía- • Novos microorganismos, tal como a C. dubliniensis,
ses bucais, porém mais de 35 cepas foram encontra- relacionada à C. albicans, tem surgido, porém pelo
das. menos até o presente momento permanece ampla-
• A cepa de Candida geralmente permanece constan- mente sensível ao fluconazol.
te. A recorrência é, em geral, causada por uma cepa • Cerca de 25% dos pacientes infectados pelo HIV com
persistente; entretanto, ocasionalmente, uma cepa candidíase possuem C. albicans e outras espécies.
diferente aparece e pode haver reinfecção sexual.
• C. albicans isoladas de pessoas infectadas pelo HIV
podem apresentar-se aumentadas: Características clínicas
• formação de hifas com invasão epitelial Ver também Capítulo 23.
• secreção de aspartil proteinases
• aderência às células epiteliais bucais • A monilíase (candidíase pseudomembranosa) é
• resistência a drogas antifúngicas, especialmente uma das mais evidentes lesões bucais na infecção
anfotericina, traconazol e fluconazol, mesmo pelo HIV e tende a estar associada com a baixa de
sem exposição prévia. contagem de CD4, tipicamente menos que 200 célu-
• Os sorotipos de C. albicans mudam do biotipo pre- las/ml (Fig. 40.3).
dominante A para o sorotipo B com a progressão • Outros tipos de candidíase também podem ser ob-
da doença HIV, embora este último seja encontrado servados, especialmente:
especialmente em homens homossexuais, indepen- • eritematosa; de fato, essa forma de candidíase
dente do estado sorológico. pode ser uma manifestação precoce comum da
• O sorotipo B, em particular, parece resistente à flu- infecção pelo HIV e apresenta-se como lesões
citosina e ao fluconazol, porém o itraconazol pode maculares rosadas ou vermelhas, tipicamente
continuar sendo atuante. no palato e dorso da língua e muitas vezes mis-
• Aproximadamente 15% das candidíases na doen- turadas com lesões brancas (Fig. 40.6).
ça pelo HIV são devido a espécies não-albicans, in- • estomatite angular (queilite)
cluindo: • glossite romboidal mediana
• C. krusei • candidíase hiperplásica.
• C. tropicalis
• C. parapsilosis
• C. lambica Diagnóstico
• C. kefyr
O diagnóstico é principalmente clínico, auxiliado pelas
• Torulopsis glabrata
investigações discutidas no Capítulo 23.
• Saccharomyces cerevisiae.
• Infecções com espécies não-albicans estão aumen-
tando, coincidentemente, com o aumento do uso
crônico da terapia antifúngica. Tratamento
• A C. Krusei e a T. glabrata em particular estão se O tratamento inicial da candidíase bucal na doença
tornando um problema considerando que elas são pelo HIV é exigido, não somente por causa do descon-
menos responsivas ao fluconazol. forto, mas também porque focos podem agir como
• Novas espécies intimamente relacionadas à C. kru- reservatórios para se alastrar, particularmente, para o
sei, tal como a C. inconspicua, estão surgindo e são esôfago:
resistentes ao fluconazol.
• Fatores predisponentes, como o tabagismo e a xe-
rostomia devem ser primeiramente controlados.
• O tratamento para infecção pelo HIV com anti-re-
troviral e inibidores da protease podem auxiliar na
resolução.
• Antifúngicos; terapia tópica para candidíase como
a violeta de genciana, nistatina, anfotericina ou
clotrimazol é, inicialmente, muitas vezes eficaz em
aproximadamente 14 dias; entretanto, recaídas são
comuns e esses agentes não são sempre de paladar
agradável ou aceitáveis por crianças. Falhas são
principalmente atribuídas à imunodeficiência la-
tente e devido a:
• muitos medicamentos
• problema gastrointestinal
• sabores não-agradáveis de alguns agentes
• Intolerância a droga.
Fig. 40.6 Candidíase eritematosa na doença pelo HIV; a abóbada • A profilaxia antifúngica deve ser também conside-
palatina é um local típico rada. A resistência antifúngica é agora um problema 311
4 Desordens sistêmicas relevantes e outras

principalmente em HIV/AIDS e outros estados imuno-


comprometidos.
Leucoplasia pilosa:

• está associada ao EBV


• geralmente afeta as margens laterais da língua
(Figs. 40.7 e 40.8)
• produz uma lesão branca que não é removida por
raspagem com gaze
• não é conhecida como lesão cancerizável
• é um indicador de mau prognóstico
• pode estar associada ao linfoma em outra parte

O diagnóstico é em grande parte clínico, suportado pela


Fig. 40.7 Leucoplasia pilosa evidência do EBV e geralmente com o teste sorológico
para o HIV. O tratamento, muitas vezes, não é necessá-
rio, porém a condição, freqüentemente, é tratada com o
aciclovir ou outros agentes ativos contra o EBV ou com
agentes anti-retroviróticos.

Sarcoma de Kaposi
Sarcoma de Kaposi (SK):

• origina-se das células endoteliais


• tem sido denominado câncer gay por alguns desde
que seja transmitido sexualmente especialmente
em HSH e observado raramente em crianças infec-
tadas pelo HIV e hemofílicos
• é causado pelo vírus identificado recentemente
Fig. 40.8 Histopatologia da leucoplasia pilosa HHV-8, que é transmitido sexualmente, muitas ve-
zes como uma co-infecção com o HIV. Como todos os
herpes-vírus, este é um vírus DNA que é observado
clínico significante nas pessoas infectadas pelo HIV, mais comumente onde a higiene é precária e perma-
especialmente em usuários de drogas intravenosas, nece latente após a infecção. É encontrado na saliva
mesmo nos pacientes que não fizeram uso de fluco- • apresentam-se inicialmente como máculas verme-
nazol, já que a resistência pode ser transferida, e es- lhas, azuis ou púrpuras assintomáticas
pécies resistentes ao fluconazol podem ser transmi- • progridem para pápulas, nódulos ou úlceras e po-
tidas entre os pacientes. Resistência ao azole parece dem tornar-se dolorosos
surgir por causa das alterações nas enzimas fúngi- • muitas vezes envolve a pele ou mucosa da cabeça e
cas ou permeabilidade. Os fatores de risco incluem: pescoço
• defeito imune severo • é mais comum em torno da face (especialmente no
• uso prévio de fluconazol, especialmente inter- nariz) e boca
mitente ou terapia com dose baixa. Felizmente, • ocorre especialmente na junção do palato duro e
ainda pode haver resposta clínica ao fluconazol mole ou na gengiva superior anterior (Fig. 40.4)
na candidíase resistente ao fluconazol e à anfo-
tericina; o cetoconazol e o itraconazol podem O diagnóstico do SK deve ser confirmado pela biópsia
permanecer eficazes clinicamente. A terapia (Fig. 40.5), considerando que uma lesão clinicamente e
nos casos de resistência ao fluconazol, portanto, histologicamente semelhante, porém distinta, causada
inclui: anfotericina tópica ou altas doses orais pela bactéria Bartonella (Rochalimaea) henselae ou quin-
de fluconazol (200-600mg/dia), fluconazol sus- tana pode causar a lesão angiomatose epitelióide, que
pensão bucal, cetoconazol (400mg/dia) ou itra- responde bem a antibióticos. O tratamento do SK bu-
conazol (200-400mg/dia). Voriconazol ou cal é muitas vezes através de injeções intralesionais de
acetato de caspofungina podem ser indicados. vimblastina ou quimioterapia sistêmica. O SK respon-
de mal à radioterapia.

Leucoplasia pilosa Linfomas


A leucoplasia pilosa é uma lesão comum, corrugada Os linfomas são cada vez mais observados na AIDS e
312 (ou “pilosa”) e branca geralmente observada na língua, são muitas vezes:
Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana
4
é através da melhora da higiene bucal, debridamento,
clorexidina e algumas vezes metronidazol.

Úlceras bucais
As úlceras bucais podem aparecer na doença pelo HIV,
porém são, obviamente, lesões comuns em muitas pes-
soas não infectadas pelo HIV. As úlceras podem não
estar relacionadas com a infecção pelo HIV ou podem
estar relacionadas a:

• úlceras do tipo aftosas, especialmente do tipo maior


• neoplasias, como o sarcoma de Kaposi ou linfoma
Fig. 40.9 Gengivite necrosante na AIDS • patógenos oportunistas, como os herpes-vírus (her-
pes simples, varicela zoster, EBV, CMV), fungos (p.
ex., histoplasmose ou criptococose), micobactéria
(p. ex., tuberculose ou micobactéria não-tuberculo-
sa (MBNT)) ou protozoários (p. ex., leishmaniose)
• uso de droga

As úlceras podem ser parte da doença generalizada,


como a infecção disseminada por citomegalovírus,
criptococose disseminada ou linfoma disseminado, e
com isso uma consulta médica pode ser de grande aju-
da se não for mandatória. O diagnóstico pode ser difícil
e a biópsia com estudos do DNA microbiano pode ser
indicada. O tratamento depende da etiologia, entretanto
a clorexidina e analgésicos tópicos podem ser úteis. An-
timicrobianos ou outras terapias específicas são muitas
vezes indicados para o controle das lesões, dependendo
do caso. Fatores estimulantes de colônias de granulóci-
Fig. 40.10 HPV e HSV na AIDS tos ou talidomida podem ajudar na ulceração tipo aftosa
não-específica.

• linfomas não-Hodgkin
• parte da doença difusa
• observados na gengiva superior/fauce
• associado ao EBV Outras lesões bucofaciais
• quase resistente à terapia
Um amplo espectro de outras lesões bucofaciais pode
O diagnóstico deve ser confi rmado pela biópsia. ser observado no HIV/AIDS, incluindo os seguintes:
O tratamento é a quimioterapia.
• aumento dos linfonodos cervicais, como parte da
linfoadenopatia generalizada persistente.
• sinusite crônica, que pode estar relacionada a pató-
genos bacterianos ou, cada vez mais, a patógenos
Doença gengival e periodontal fúngicos, como a aspergilose ou zigomicose.
• parotidite e xerostomia (doença de glândula salivar
Gengivite ulcerativa necrosante (Fig. 40.9) e periodont- – HIV), observada particularmente nas crianças in-
ite podem ser características da infecção pelo HIV e fectadas pelo HIV. As lesões salivares císticas são
tipicamente: cada vez mais reconhecidas.
• infecções pelo HSV (Fig. 40.10).
• ocorrem desproporcionalmente ao nível de higiene • infecções pelo HPV, em particular verrugas geni-
bucal e controle de placa tais (condiloma acuminado) na ou em volta da boca
• são dolorosas (Fig. 40.10).
• são localizadas • neuropatias cranianas, como a paralisia facial, dor
• causam rápida perda do osso alveolar ou perda sensorial.
O diagnóstico é clínico. A possibilidade de HIV/
AIDS é aumentada onde há lesões sugestivas associadas
ou onde há alto risco para infecção pelo HIV evidente, Sites
como no usuário de droga intravenosa. O tratamento http://www.cdcnpin.org
313
4 Desordens sistêmicas relevantes e outras

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