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Aula 01

Direito Constitucional p/ OAB 1ª Fase


XXXII Exame - Com Videoaulas

Autor:
Diego Cerqueira Berbert
Vasconcelos
Aula 01
4 de Fevereiro de 2020
Diego Cerqueira Berbert Vasconcelos
Aula 01

APRESENTAÇÃO
Olá, alunos do Estratégia OAB!

Como foram os estudos na aula anterior. Hoje teremos mais um encontro de Direito
Constitucional.

Acredito que vocês irão gostar. Teremos um estudo mais agradável rs (inclusive com
mais exemplos). Faremos a abordagem de um dos temas mais importantes no
estudo para o Exame de Ordem: Direitos Individuais e Coletivos.

Abraços,

Prof. Diego Cerqueira

diegocerqueira@estrategiaconcursos.com.br

https://www.facebook.com/profdiegocerqueira/

@profdiegocerqueira

*Esse curso é desenvolvido pelo Prof. Diego Cerqueira, mas conta com a
participação da Advogada Dra. Lara Abdala na produção do conteúdo para 1ª fase
em Dir. Constitucional.

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Apresentação .............................................................................................0
7. Direitos e Garantias Fundamentais ........................................................2
7.1 – Gerações de Direitos...................................................................................... 2
7.2 – Direitos Fundamentais e suas características ................................................. 4
7.3 – Limites aos Direitos Fundamentais................................................................. 6
7.4 – Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais .............................................. 7
7.5 – Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988 .............................. 8
8 – Direitos Individuais e Coletivos ..........................................................10
8.1 – Remédios Constitucionais ............................................................................ 57
8.1.1 Habeas Corpus ........................................................................................................................57
8.1.2 Mandado de Segurança ..........................................................................................................60
8.1.3 Mandado de Segurança Coletivo ............................................................................................62
8.1.4 Mandado de Injunção ..............................................................................................................64
8.1.5 Habeas Data ............................................................................................................................69
8.1.6 Ação Popular ...........................................................................................................................72

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7. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


Vamos iniciar a aula de hoje comentando um pouquinho acerca dos Direitos e
Garantias Fundamentais.
Sempre quando você pensar nos “direitos fundamentais” (em sentido amplo), tenha
em mente que existe uma diferença basilar entre direitos e garantias fundamentais.
O que seria o direito em si?
Trata-se de um bem constitucionalmente protegido. O direito à informação é um
bem. Ele não é um instrumento. Pelo contrário, é um valor fundamental que a
Constituição confere ao indivíduo dentro do contexto da ordem jurídica nacional.
Tecnicamente, pode-se dizer que os direitos fundamentais são bens
constitucionalmente protegidos. Ou seja, o Constituinte estabeleceu valores
supremos para preservar certos bens. Como exemplo, tem-se a vida, a liberdade, a
propriedade, a informação, a intimidade, etc.
Por outro lado, as garantias fundamentais são formas de proteção desses bens.
São instrumentos dispostos pela Constituição para salvaguardar valores
fundamentais. E, aqui, é possível citar os chamados “Remédios Constitucionais”.
Vamos fazer a relação?

O Habeas Corpus é
o instrumento para
proteção da
liberdade de
A liberdade de locomoção ou
locomocação é um liberdade de ir e vir.
direito fundamental

7.1 - GERAÇÕES DE DIREITOS

“Gerações dos direitos fundamentais....” O que é isso, prof.?


Então. A doutrina nos diz que os direitos fundamentais decorrem de um longo
processo histórico de formação e “amadurecimento”. É fruto de uma “evolução
histórico-social”. Eles não “nasceram” em um único momento. Pelo contrário, são

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conquistas progressivas da humanidade, daí se dizer que admitem uma classificação


por gerações.
Dentro desse contexto, vamos fazer uma rápida revisão para fins de prova!

Ä Primeira Geração: há relação com o processo histórico ocorrido no final


do século XVIII, com as Revoluções Francesa e Americana. Esses direitos,
assim classificados, visam restringir a ação do Estado sob a ordem do
indivíduo. Também chamado de liberdades negativas (valor-fonte
liberdade). Exerce um certo papel de defesa. Ex: propriedade, casamento
(direito civil), liberdade, direitos políticos.

Ä Segunda geração: há relação com o processo histórico após a 2ª guerra


mundial. São prestações que o Estado deveria realizar em prol dos
indivíduos. Por exemplo, políticas públicas, serviços públicos, ordem
social, etc. Havia uma necessidade de exigir do Estado um papel mais
atuante, de maneira positiva. Daí se chamar liberdades positivas. Ex:
direitos culturais, direitos sociais e direitos econômicos.

ÄTerceira geração: há relação com a proteção de interesses que


transcendem a órbita do indivíduo. São os direitos transindividuais ou
supraindividuais. Daí se falar em valor-fonte solidariedade, fraternidade.
Há uma necessidade de proteção dos direitos difusos ou coletivos. Ex:
direito do consumidor, meio-ambiente ecologicamente equilibrado e o
direito ao desenvolvimento.

Um último ponto para fecharmos esse tópico. A expressão “geração de direitos”


não quer dizer que há exclusão de uma sobre a outra. O que ocorre é que os direitos
de uma geração seguinte se acumulam aos direitos das gerações anteriores. Em
virtude disso, a doutrina tem preferido usar a expressão “dimensões de direitos”.

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2ª Geração
•Liberdades negativas •Direitos transindividuais
•Direito de defesa •Liberdades postitivas •Direitos coletivos e difusos
•Direitos do bem-estar
•Valo-fonte liberdade •Valor-fonte solidariedade,
•Valor-fonte igualdade fraternidade

1ª Geração 3ª Geração

No estudo mais à fundo da doutrina do Direito Constitucional, há quem aborde o


tema considerando a existência de direitos de 4ª geração ou até mesmo 5ª geração.
Por exemplo, o prof. Paulo Bonavides inclui entre os direitos de 4ª geração aqueles
relacionados à globalização, direito à democracia, à informação e ao pluralismo.
Nos direitos de 5ª geração, teríamos o direito à paz, por exemplo.1
Agora, para fins de prova, não precisa adentrar nesse nível de detalhamento. Podem
ficar tranquilos. Vamos focar nas 3ª primeiras gerações. :)

7.2 - DIREITOS FUNDAMENTAIS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Vamos agora, de maneira sintética, abordar as características dos direitos


fundamentais apontadas pela doutrina. São elas:
ü Universalidade: entende a doutrina que os direitos fundamentais são
universais, ou seja, abrangem todos os indivíduos. Apesar da existência
de direitos que são outorgados especificamente a um grupo (direitos
dos trabalhadores), o que se deve ter em mente é que há um núcleo
mínimo de direitos que abrange a todos. Por exemplo: o direito à vida
(todo mundo tem o direito à vida, pois é um bem, um valor
fundamental).
ü Historicidade: como comentamos anteriormente, os direitos
fundamentais são conquistas progressivas. Por sua construção decorrer

1
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2008.

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de um processo histórico, seu conteúdo se modifica e se desenvolve ao


longo do tempo.
ü Indivisibilidade: os direitos fundamentais estão inseridos em um
sistema. Juntos, eles formam um todo e o pleno exercício de um deles
depende da garantia e da efetividade dos demais.
ü Inalienabilidade: não podem ser transferidos e, por não possuírem
conteúdo econômico-patrimonial (enquanto essência; valor jurídico-
fundamental), são classificados pela doutrina como inegociáveis.
ü Imprescritibilidade: significa dizer que o decurso do tempo não implica
no desaparecimento do direito. Os direitos fundamentais são sempre
exigíveis.
ü Irrenunciabilidade: quer dizer que o bem (valor fundamental) não é
renunciado ou renunciável. Agora, prestem atenção! O que pode haver
é uma autolimitação voluntária ou até mesmo o não exercício de um
direito em algumas condições. Um exemplo clássico é o programa de
“reality show”. Há uma abdicação temporária da privacidade e/ou
intimidade pelo participante.
ü Relatividade ou Limitabilidade: um direito fundamental pode limitar o
exercício do outro direito no caso concreto. Quando dois ou mais
direitos fundamentais se colidem, não ocorrerá um sacrifício de um
deles, mas sim a ponderação de um pelo outro, em determinada caso
concreto. Dessa forma, não existe direito fundamental que se revista
de um “caráter absoluto”.
ü Complementaridade: essa característica decorre da indivisibilidade. A
interpretação dos direitos fundamentais deve ser analisada em seu
conjunto.
ü Concorrência: o exercício dos direitos fundamentais pode ocorrer de
forma cumulativa. Ex: Direito à vida, dignidade pessoa humana,
liberdade, etc.
ü Efetividade: a satisfação dos direitos fundamentais não ocorre com o
simples reconhecimento abstrato, pois eles possuem como
característica a produção de um efeito real. Assim, os Poderes Públicos
devem buscar a concretização dos valores fundamentais.
ü Proibição do retrocesso: os direitos fundamentais não podem ser
abolidos ou enfraquecidos ou suprimidos. Os direitos já conquistados

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em um dado contexto histórico são frutos de um processo evolutivo de


concretização da dignidade da pessoa humana.
(...)
Avançando um pouco mais nos critérios de classificação, é importante esclarecer
que os direitos fundamentais apresentam uma dupla perspectiva ou dimensão.
Na dimensão subjetiva, os direitos são pensados do ponto de vista do sujeito,
indivíduo. Isto implica dizer que são concebidos como uma defesa do sujeito contra
o abuso do Poder Estatal (direitos de primeira geração) e como uma exigência de
prestações positivas que devem ser realizadas pelo Estado (direitos de segunda
geração).
Já na dimensão objetiva, a análise aqui recai sobre o objeto. Nesta perspectiva, os
direitos fundamentais são valores objetivos básicos2, que funcionam como
diretrizes para a atuação do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) e a relação
entre os particulares. A eficácia irradia em todo o ordenamento jurídico.

7.3 - LIMITES AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Ao analisarmos a pouco as características dos direitos fundamentais, apresentamos


o critério da relatividade ou limitabilidade. Contudo, esta limitação não pode atacar
o chamado núcleo essencial do direito fundamental.
Nesse sentido, a doutrina nos diz que a análise destes limites deve ocorrer a partir
de duas teorias: i) a interna e; ii) a externa. Vamos conhecer um pouco essas duas
ideias.
A teoria interna (teoria absoluta) considera que os limites aos direitos fundamentais
são estabelecidos por meio de um processo interno, ou seja, o núcleo essencial já
é descoberto e delimitado a partir da própria norma que o estabelece (fatores
intrínsecos).
Ocorre, na verdade, uma simples definição de seus contornos e não uma restrição.3
Daí, não se pode falar que são estabelecidos por aspectos externos (por meio da
colisão de direitos fundamentais, por exemplo). A interpretação tem um caráter
meramente declaratório.

2
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional, 14ª ED. Editora Método, 2015, pág. 102.
3
SILVA, Virgílio Afonso da. O conteúdo essencial dos direitos fundamentais e a eficácia das normas constitucionais. In: Revista de Direito do Estado, v4,
2006, pp. 35 – 39.

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Já para a teoria externa (teoria relativa), os limites aos direitos fundamentais (o


núcleo essencial) são estabelecidos no caso concreto, ou seja, por fatores externos
(extrínsecos) ao direito. Exemplo: o direito à liberdade de ir e vir pode sofrer
restrições no caso concreto.
Assim, diante de uma colisão entre direitos fundamentais, os conflitos existentes
serão solucionados pelo juízo de ponderação (harmonização) e pela aplicação do
princípio da proporcionalidade.
Um outro ponto importante para fins de estudo diz respeito à chamada teoria dos
“limites dos limites”. Esta teoria, incorporando os pressupostos da teoria externa,
determina que os limites sofridos pelos direitos fundamentais, através do
legislador, também possuem limites. Dessa forma, o direito fundamental não pode
ser totalmente eliminado, pois o limite imposto deve respeitar o núcleo essencial.
Entretanto, uma pergunta que surge: é possível que a lei imponha restrições aos
direitos fundamentais? Sim!!!!!
É possível que restrições ocorram por meio de lei, desde que o núcleo essencial seja
protegido. E é esta proteção que a teoria “dos limites dos limites” tem como
objetivo, pois defende a existência de limites às restrições criadas pelo legislador.
Então, a partir da leitura acima, perceba que estabelecer o núcleo essencial é o
maior desafio tanto para o exegeta (intérprete) quanto para o próprio legislador.
Para que isto ocorra, eles se utilizarão do princípio da proporcionalidade e seus
três aspectos: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.
Por fim, cumpre destacar que, embora inexista previsão expressa acerca da teoria
dos limites aos limites em nossa Constituição, a jurisprudência e a doutrina
defendem que o dever de proteção ao núcleo essencial se encontra implicitamente
no texto constitucional. Nesse liame, decorre do modelo garantístico adotado pela
Carta Magna.

7.4 - EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Até o século XX, acreditava-se que os direitos fundamentais eram aplicáveis apenas
às relações entre o indivíduo e o Estado. Como essa relação era de um ente superior
(Estado) com um inferior (indivíduo), dizia-se que os eles possuíam “eficácia vertical”.
A partir do século XX, entretanto, surgiu a teoria da eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, que estendeu sua aplicação também às relações entre particulares,
a chamada “eficácia horizontal” ou “efeito externo” dos direitos fundamentais.

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Existem duas teorias sobre a aplicação dos direitos fundamentais: i) a da eficácia


indireta e mediata e; ii) a da eficácia direta e imediata.
Para a teoria da eficácia indireta e mediata, os direitos fundamentais só se aplicam
nas relações jurídicas entre particulares de forma indireta, excepcionalmente, por
meio das cláusulas gerais de direito privado (ordem pública, liberdade contratual, e
outras). Essa teoria é incompatível com a Constituição Federal, que, em seu art. 5º,
§ 1º, prevê que as normas definidoras de direitos fundamentais possuem aplicação
imediata.
Já para a teoria da eficácia direta e imediata, os direitos fundamentais incidem
diretamente nas relações entre particulares. Estes estariam tão obrigados a
cumpri-los quanto o Poder Público. Esta é a tese que prevalece no Brasil, tendo sido
adotada pelo STF.

7.5 - DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Os direitos fundamentais estão previstos no Título II da CRFB/88. O Título II,


conhecido como “catálogo dos direitos fundamentais”, vai do art. 5º até o art. 17 e
divide os direitos fundamentais em 5 (cinco) categorias. Vejamos:

•Direitos Individuais e Coletivos


(art. 5º)
•Direitos Sociais
Direitos (art. 6º - art. 11)
Fundamentais •Direitos de Nacionalidade
(art. 12 – art. 13)
•Direitos Políticos (art. 14 – art. 16)
•Direitos Partidos Políticos (art. 17)

Lembrando que o rol de direitos fundamentais não é exaustivo. Há outros direitos,


espalhados pela Constituição, como o direito ao meio ambiente (art. 225) e o
princípio da anterioridade tributária (art.150, III, “b”), por exemplo.

1. (FGV / XXI Exame de Ordem – 2016) A teoria dimensional dos direitos


fundamentais examina os diferentes regimes jurídicos de proteção desses direitos
ao longo do constitucionalismo democrático, desde as primeiras Constituições

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liberais até os dias de hoje. Nesse sentido, a teoria dimensional tem o mérito de
mostrar o perfil de evolução da proteção jurídica dos direitos fundamentais ao
longo dos diferentes paradigmas do Estado de Direito, notadamente do Estado
Liberal de Direito e do Estado Democrático Social de Direito. Essa perspectiva,
calcada nas dimensões ou gerações de direitos, não apenas projeta o caráter
cumulativo da evolução protetiva, mas também demonstra o contexto de unidade
e indivisibilidade do catálogo de direitos fundamentais do cidadão comum. A
partir dos conceitos da teoria dimensional dos direitos fundamentais, assinale a
afirmativa correta.
a) Os direitos estatais prestacionais, ligados ao Estado Liberal de Direito,
nasceram atrelados ao princípio da igualdade formal perante a lei, perfazendo a
primeira dimensão de direitos.
b) A chamada reserva do possível fática, relacionada à escassez de recursos
econômicos e financeiros do Estado, não tem nenhuma influência na efetividade
dos direitos fundamentais de segunda dimensão do Estado Democrático Social
de Direito.
c) O conceito de direitos coletivos de terceira dimensão se relaciona aos direitos
transindividuais de natureza indivisível de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato, como ocorre com o direito
ao meio ambiente.
d) Sob a égide da estatalidade mínima do Estado Liberal, os direitos negativos de
defesa dotados de natureza absenteísta são corretamente classificados como
direitos de primeira dimensão.

Comentários:
Letra A: errada. Os direitos prestacionais estão ligados ao Estado Social de direito
(direitos 2ª geração).
Letra B: errada. A cláusula da reserva do possível deve ser levada em consideração
na tarefa de concretização dos direitos sociais. O Estado, para concretizar direitos
sociais, depende de recursos econômicos e financeiros.
Letra C: errada. De fato, o direito ao meio ambiente é um direito de 3a geração,
possuindo natureza indivisível. Trata-se, porém, de um direito difuso, cuja
titularidade é indeterminada. Todas as pessoas são titulares do direito ao
ambiente, independentemente de quaisquer circunstâncias de fato que as liguem.

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Letra D: correta. Temos aqui o gabarito! Os direitos de defesa (liberdades


negativas) são classificados na 1ª geração de direitos fundamentais. Estado Liberal
de direito.

8 - DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS


Meus amigos, vamos adentrar agora talvez no ponto mais importante da aula. Peço
a todos uma atenção redobrada. ;) O foco será nas disposições do art. 5º da
Constituição, que contempla os chamados direitos individuais e coletivos.
De antemão, informo-os que iremos fazer uma abordagem verticalizada,
alcançando os pontos essenciais; aqueles incisos mais cobrados e com
entendimento doutrinário e jurisprudencial relevante. Vamos em frente?

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)

Pois bem. Se formos nos apegar à literalidade do caput do art. 5º, vocês irão
perceber que o texto faz referência apenas aos “brasileiros e estrangeiros residentes
no país”. E, aqui, surge a primeira pergunta? “E os estrangeiros não residentes?”
A doutrina e a jurisprudência do STF entendem que qualquer pessoa é possuidora
de direitos fundamentais, seja ela estrangeira ou não, residente ou não, que se
encontre no território nacional. Logicamente, não se pode falar em direitos
fundamentais absolutos (até porque já estudamos, lembra?). Será necessário o
exame do caso concreto. ;)
Em relação à titularidade, é importante esclarecer que as pessoas jurídicas e até
mesmo o próprio Estado também são titulares de direitos fundamentais.

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos


desta Constituição;

Aqui encontramos o princípio da igualdade. A sua compreensão deve ser a de que,


a isonomia significa tratar de forma igual aqueles que se encontram nas mesmas
condições e tratar de forma desigual aqueles que se encontram em condições
distintas, dentro de suas desigualdades.
Cumpre esclarecer que o princípio da igualdade deve ser observado tanto pelo
legislador, quanto pelo aplicador da lei. Para o legislador, tem-se a obrigação de

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não criar leis que tragam tratamento diferenciado às pessoas que se encontrem em
situações equivalentes (a chamada igualdade na lei ou igualdade material).
Assim, o tratamento diferenciado na lei só é permitido quando houver razoabilidade
para tanto. Ex: concurso para agente penitenciário restrito a mulheres
(estabelecimento prisional feminino)4.
Já o intérprete e o aplicador da lei estão impedidos de dispensarem tratamento
diferenciado aos sujeitos quando a lei concedeu um tratamento igualitário
(igualdade perante a lei).
Acerca do tema, o Supremo Tribunal já decidiu que as ações afirmativas são
instrumentos jurídicos que conferem efetividade aos direitos e garantias
fundamentais (igualdade material). Visam corrigir distorções decorrentes da simples
aplicação formal do princípio da igualdade. Ex: cotas raciais nas universidades
públicas5.

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão


em virtude de lei;

Aqui, pessoal, temos o chamado princípio da legalidade. Nas relações particulares,


tal princípio determina que é permitido fazer ou deixar de fazer tudo que não é
proibido pela lei. Já no que tange ao Poder Público, a legalidade possui uma
definição um pouco diferente, pois a Administração Pública só pode fazer aquilo
que a lei permitir. (iremos abordar adiante)
Mas professor, existe diferença entre o princípio da legalidade e o da reserva legal?
Sim. A legalidade possui um sentido mais amplo, pois nele está incluso não só o
respeito à lei formal, mas também ao ato com força de lei e aos atos expedidos nos
limites das leis (atos infralegais). A legalidade, então, trata da lei em sentido material.
Por outro lado, a reserva legal é o princípio da legalidade em sentido estrito. Está
presente quando o texto constitucional expressamente exige a edição de uma lei
em sentido formal ou atos com força de lei (Ex: decretos autônomos) para a
regulamentação de uma matéria.

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou


degradante;

RE 498.900-AgR, Rel. Min. Carmen Lúcia, j. 23-10-2007, Primeira Turma, DJ de 7-12-2007.


4

RE 597285/RS. Min. Ricardo Lewandowski. Decisão: 09.05.2012


5

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IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

De acordo com a leitura acima, a liberdade de expressão está prevista no inciso IV.
Em princípio, a todos é dada a possibilidade de se manifestar, seja oralmente ou por
escrito. Contudo, é vedado por tal inciso a manifestação de pensamento de forma
anônima.
Nessa seara, o Supremo entendeu que o Estado não pode basear o exercício de sua
atividade punitiva unicamente em denúncias anônimas. O que seria isso?
Por exemplo, as autoridades públicas não podem iniciar qualquer medida de
persecução (penal ou disciplinar), apoiando-se, unicamente, para tal fim, em peças
apócrifas ou em escritos anônimos6.
(...)
No tema da liberdade de expressão, o Supremo Tribunal Federal analisou
recentemente um caso interessante: a chamada “marcha da maconha”. Na
oportunidade, a Corte entendeu que o movimento tinha respaldo tanto no direito
de livre manifestação do pensamento quanto no direito de reunião. Olha só:

A proposta de legalização das drogas não é considerada apologia ao crime. A interpretação do Código
Penal que implique na criminalização da manifestação de pensamento neste sentido (legalização das
drogas) é inconstitucional, mesmo que isto ocorra em eventos públicos7.

Mas, professor, então o STF legalizou o uso da maconha? Eu não disse isso rs.
Tecnicamente, a decisão do Supremo não foi no sentido de legalização das drogas,
mas apenas na preservação do direito fundamental de se manifestar a favor ou
contra a legalização. É o respeito ao direito de liberdade de expressão.

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;

Aqui, temos consagrado o direito de resposta e o direito à indenização proporcional


ao dano. Toda a ofensa realizada resulta num direito de resposta do ofendido,

6
RHC 117988/RS. Min. Celso de Mello. Decisão: 16.12.2014
7
ADPF 187, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 15-6-2011, Plenário.

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orientado pelo critério da proporcionalidade, seja o ofendido pessoa física ou


jurídica.
Mas, o que isto significa? Quer dizer que a resposta deve ser proporcional à ofensa.
Assim, deve ser veiculada no mesmo meio de comunicação do agravo (ofensa),
respeitando o destaque e o tempo de publicação.
No que tange à indenização, há previsão da indenização moral, material e por dano
à imagem, sendo estas aplicadas também às pessoas jurídicas, de forma cumulativa8
e proporcionais ao dano causado. Lembrando que a indenização e o exercício do
direito de resposta são independentes, não sendo necessário que o dano venha a
caracterizar uma infração penal.

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado


o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa9


nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou


de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;

O conjunto dos incisos acima assegura a inviolabilidade da liberdade de


consciência e crença, sendo assegurado aos indivíduos o exercício do culto e sua
liturgia.
Em relação ao inciso VII, vale uma atenção especial. Não é Poder Público o
responsável pela prestação religiosa, pois o Brasil é um Estado laico. Quem realiza
essas assistências são as entidades de caráter privado. O que o dispositivo
constitucional garante é o acesso dos religiosos de todas as confissões às entidades
de internação coletiva.
Especificamente, o inciso VIII trata do direito a “escusa de consciência” como regra.
Significa que não ocorrerá a privação de direitos por descumprimento da obrigação
legal imposta a todos, caso o motivo decorra de suas crenças religiosas ou

8
Súmula STJ nº 37: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
9
Há nesses incisos a consagração da chamada liberdade religiosa. Cuidado! Não é Poder Público o responsável pela prestação religiosa, pois o Brasil é um
Estado laico.

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convicções filosóficas ou políticas. Contudo, tal fato não impede que o Estado
imponha ao indivíduo que alegou a escusa o cumprimento de uma prestação
alternativa, desde que esta esteja prevista em lei.
Destaque-se que, na hipótese de haver a recusa no cumprimento dessa prestação
alternativa, aí sim, o indivíduo poderá sofrer restrição de direitos, como a perda de
direitos políticos prevista no art. 15 IV, da Constituição. Para ocorrer tal situação, o
sujeito deve cumulativamente: “recusar-se a cumprir obrigação legal e também a
prestação alternativa fixada pela lei”.
Uma pergunta tiro-curto! E se não houver lei prevendo prestação alternativa? Como
fica?
Nesse caso, o indivíduo que alegou a escusa de consciência não pode ser privado
de seus direitos. Afinal, o preceito é norma constitucional de eficácia contida, de
modo que o direito à liberdade de consciência e crença somente pode ser
restringido pelo legislador quando fixada por lei a prestação alternativa.

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

Com o objetivo de salvaguardar o espaço íntimo do indivíduo, a Constituição


Federal traz expressamente a proteção à intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas. Caso venha a ocorrer violação a esses bens jurídicos, o
preceito constitucional ainda determina que a indenização deve ser tanto moral
quanto material.
No âmbito da jurisprudência, podemos levar o entendimento que a aplicação dessa
indenização pode ser cumulada. Lembrando, logicamente, que o Poder Judiciário
irá analisar o caso concreto e o grau de reprovabilidade da conduta.
Para fins de complemento de estudo, apresentamos a seguir alguns entendimentos
que já foram firmados na jurisprudência em relação ao tema:

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Ä Pessoa Jurídica e dano moral:


A jurisprudência e a doutrina majoritária entendem que a pessoa jurídica
é titular dos direitos previstos no art. 5º da CF/88. Entre eles, temos o
direito à honra e à imagem. Assim, entende-se que a pessoa jurídica pode
sofrer dano moral10, sendo possível a obtenção de indenização no âmbito
do poder Judiciário.

Ä Exame de DNA:
De acordo com o STF, não é possível a condução forçada do suposto pai
para a realização de exame de verificação de paternidade, ou seja, o
exame de DNA. Isto porque, tal coação viola os princípios da dignidade
humana, da integridade física e da intangibilidade do corpo humano.
Todavia, essa recusa gera uma espécie de presunção juris tantum de
paternidade. A matéria, inclusive já foi consolidada pelo STJ: “em ação
investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA
induz presunção juris tantum de paternidade” (Súmula 301 do STJ).

(...)
No tema do direito à privacidade, temos uma novidade jurisprudencial. Lembram
da briga do artista Roberto Carlos para evitar a publicação de sua biografia?
Pois bem. Na ADI 4815, o Supremo Tribunal discutiu a possibilidade de publicação
das chamadas “biografias não autorizadas”. Mas, qual a problemática em si?
Então. Há um confronto entre o direito à intimidade e à liberdade de expressão.
Analisando o caso concreto, o STF entendeu que a liberdade de expressão deveria
prevalecer. Olha só:

“inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou


audiovisuais, sendo por igual desnecessária autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes
(familiares ou pessoas falecidas...)”. (...) “não se escreve apenas a vida de uma pessoa, mas o relato de
um povo, os caminhos de uma sociedade".

Cumpre esclarecer que eventuais abusos por parte dos escritores poderão ser
objeto de ação de reparação de danos pelo biografado. Por exemplo, a disposição
em biografia de fatos inverídicos ou ofensas à honra ou à imagem do artista.
Por último, vamos comentar um pouquinho acerca do chamado sigilo bancário e
fiscal. O sigilo desses dados visa garantir o direito à privacidade. Mas, é importante

10
Súmula 227 STJ - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

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termos em mente que não existe direito fundamental absoluto. Então, é possível
que se tenha a quebra desse sigilo e a obtenção desses dados para fins específicos.
E essa quebra pode ser realizada por quem? Quais são as autoridades permitidas?
No âmbito da jurisprudência do STF e do STJ há entendimento consolidado que
podemos ter as seguintes autoridades atuando nesse processo:
Ä Pode o Poder Judiciário determinar a quebra do sigilo bancário e fiscal.
Ä A quebra do sigilo bancário e fiscal também podem ser realizadas pelas
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI`s) federais, estaduais e
distritais. (iremos comentar um pouco mais à frente do tema das CPI’s. Por
ora leve essa informação).
Ä As autoridades fiscais possuem permissão para requisitar informações
bancárias das instituições financeiras, com base na Lei Complementar nº
105/2001. Essa lei foi considerada constitucional pelo STF, permitindo que
as autoridades fiscais requisitem por ato próprio informações bancárias.
Mas, aqui vale uma observação. Para que ocorra de maneira lícita a
transferência dessas informações é preciso que:
ü Exista um processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal
em curso e;
ü Os exames de tais informações solicitadas sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.
Ä O Ministério Público pode determinar a quebra do sigilo bancário em
situação excepcional: na defesa do patrimônio público em sede de
procedimento administrativo.11

11
MS nº 21.729-4/DF, Rel. Min. Francisco Rezek. Julgamento 05.10.1995.

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Poder Judiciário

Autoridades Fiscais:
Podem requisitar
informações
QUEBRA DO SIGILO CPI Federal ou
protegidas por
BANCÁRIO Estadual
sigilo bancário a
instituições
financeiras

Ministério Público:
Defesa do
patrimônio em
procedimento
administrativo

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar


sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;

O objetivo do princípio da inviolabilidade domiciliar é a proteção da intimidade


e da vida privada do indivíduo. O inciso em questão traz também a proteção do
sossego e a tranquilidade durante o período noturno.
E o que o Supremo entende por “casa”? Então. Segundo a Corte, o conceito se
reveste de um caráter amplo, não alcançando apenas a residência do indivíduo, pois
compreende: i) qualquer compartimento habitado; ii) qualquer aposento ocupado
de habitação coletiva; e iii) qualquer compartimento privado não aberto ao público,
onde alguém exerce profissão ou atividade pessoal.12

12
HC 93.050, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 10-6-2008, Segunda Turma, DJE de 1º-8-2008.

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Assim, estariam incluídos os escritórios e consultórios profissionais, os quartos de


hotel, trailers, barcos. Todavia, bares e restaurantes, por exemplo, não fazem parte
do conceito de casa firmado pelo STF. (pois entende-se que são locais abertos ao
público, via de regra)
Em quais circunstâncias é permitido penetrar na casa de um indivíduo?

Com consentimento Sem consentimento


do morador do morador

A qualquer hora em
caso de flagrante
A qualquer hora delito ou desastre, ou
ainda para prestar
socorro

Não precisa de sob ordem judicial,


autorização judicial apenas durante o dia

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

O inciso em questão trata da inviolabilidade das correspondências e das


comunicações. Vamos analisar com calma, pois temos muitos detalhes.
No tema da inviolabilidade das correspondências e das comunicações
telegráficas, muito embora a literalidade do texto constitucional não faça ressalva
alguma, a jurisprudência entende que na iminência de práticas ilícitas a violação
pode ocorrer.

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Quer um exemplo? O trabalho que é feito pela Receita Federal no combate aos
ilícitos tributários e aduaneiros com o rastreamento de correspondências vindas do
exterior ou remetidas ao exterior. Se, durante um procedimento fiscal regular (com
amparo na lei), restar constatada possível prática de ilícito, haverá violação do
volume para conhecimento da carga ou mercadoria.
Segundo o Supremo Tribunal, para os casos em que a norma constitucional estiver
sendo utilizada com a finalidade de acobertar a prática de ilícitos, será permitido
que lei ou decisão judicial constituam hipóteses para tais interceptações.13
Em relação à comunicação de dados, o entendimento firmado é que a
inviolabilidade garantida aqui é a inviolabilidade da transmissão dos dados e não
aos dados em si.
No âmbito do STJ, temos uma decisão mais recente acerca inclusive do tema do
acesso às mensagens do whatsapp. A Corte Superior entende que:

“Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados
e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda
que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante” (Inf. 583 e 593)

Recentemente, o STJ trouxe outra situação ligada a busca e apreensão por decisão
judicial e firmou o entendimento de que: “Se o telefone celular foi apreendido em
busca e apreensão determinada por decisão judicial, não há óbice para que a
autoridade policial acesse o conteúdo armazenado no aparelho, inclusive as
conversas do WhatsApp”.
Para a análise e a utilização desses dados armazenados no celular não é necessária
nova autorização judicial. A ordem de busca e apreensão determinada já é suficiente
para permitir o acesso aos dados dos aparelhos celulares apreendidos14.
(...)
Avançando um pouco no tema das Comunicações telefônicas, vale destacar a
diferença entre quebra do sigilo telefônico e a interceptação das comunicações
telefônicas.

13
Nas razões do Supremo: “a administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da
ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei 7.210/1984, proceder à
interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir
instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.”13
14
STJ. 5ª Turma. RHC 77.232/SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 03/10/2017.

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A quebra do sigilo telefônico (ou quebra de dados telefônicos) consiste em ter


acesso ao registro telefônico por meio do extrato das ligações (por exemplo, data
da chamada, horário, número do telefone, duração do uso, código de área, etc)
Nesse quesito, a jurisprudência e a doutrina firmaram o entendimento de que, não
apenas o Poder Judiciário pode realizar quebra do sigilo telefônico, mas também as
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s).
Por outro lado, a Interceptação telefônica quer dizer a “quebra do sigilo das
comunicações telefônicas”, ou seja, é a captação da mensagem transmitida
(gravação da conversa). Por permitir o acesso ao conteúdo da conversa, entende-se
que a interceptação das comunicações telefônicas deve ocorrer apenas por meio de
uma ordem judicial.
E quais seriam os requisitos para a ocorrência da interceptação das comunicações
telefônicas? A partir da leitura do inciso XII, temos 03 (três) pressupostos:

Existência de investigação Lei que preveja as


Ordem Judicial criminal ou instrução hipóteses e a forma em
processual penal que esta poderá ocorrer

Nessa seara, além da previsão legal e ordem judicial, a interceptação deve acontecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual. Por ser imprescindível
a existência de uma lei para que haja a interceptação das comunicações telefônicas,
conclui-se que o inciso XII possui eficácia limitada.
Um ponto importante a ser abordado sobre a interceptação é a temática da “prova
emprestada”. A prova emprestada é uma prova produzida em um processo, que é
trasladada para outro processo sob a forma de um documento.15

15
DIDIER JR. Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 52.

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Não há impedimento para que prova obtida por meio da interceptação da


comunicação telefônica (que ocorre no curso de uma investigação criminal ou
instrução processual penal) seja utilizada em outro processo, mesmo que este seja
um processo administrativo disciplinar. Para o Supremo Tribunal:
“dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente
autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução processual penal, podem
ser usados em procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em
relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado
à colheita dessa prova.”16

Em recente decisão, o Supremo Tribunal inclusive confirmou o entendimento acima:


“É possível compartilhar as provas colhidas em sede de investigação criminal para serem utilizadas,
como prova emprestada, em inquérito civil público e em outras ações decorrentes do fato investigado.
Esse empréstimo é permitido mesmo que as provas tenham sido obtidas por meio do afastamento
("quebra") judicial dos sigilos financeiro, fiscal e telefônico.”17

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas


as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

O comando em referência dispõe acerca da liberdade da atividade profissional. A


doutrina entende se tratar de uma norma constitucional de eficácia contida, ou seja,
como regra é garantido a todos o livre exercício do trabalho, ofício ou profissão,
mas a lei pode estabelecer restrições.
Em havendo, a profissão só poderá ser exercida a quem atender as qualificações
legais exigidas. Outrossim, o Supremo Tribunal entende que tal exigência vale
apenas quando houver potencial lesivo à atividade.
Nesse prisma, trouxe como exemplo o exame da Ordem dos Advogados do Brasil.
Para a Corte, o exercício da advocacia demanda um risco coletivo, cabendo ao
Estado limitar o acesso à profissão e o seu exercício. Mas, professor, qual seria o
“risco coletivo”?
Então. Entende-se que a atividade em si demanda um conhecimento técnico mínimo
para evitar danos à coletividade, sobretudo por envolver questões sensíveis no
direito penal, direito de família, sucessões....etc.18

16
STF, Inq 2424, Rel. Min. Cesar Peluso, DJ. 24.08.2007.
17
STF, Inq 3305, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ. 23.02.2016.
18
STF, RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 26/10/11, Plenário, Informativo 646, com repercussão geral.

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XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo


da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Esse é um preceito fundamental que visa assegurar o acesso à informação e,


sobretudo, a proteção da fonte jornalística, permitindo que a imprensa atue na
busca da verdade e na divulgação do fato.
E se houver abuso? Logicamente, o jornalista será responsabilizado pelos conteúdos
publicados, respondendo por dano material, moral e à imagem.

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo


qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
com seus bens;

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos


ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas
exigido prévio aviso à autoridade competente;

Aqui, peço a atenção especial de vocês, pois temos um ponto recorrente em provas.
O inciso XV contempla o chamado direito à liberdade de locomoção ou liberdade
de ir e vir. Trata-se de um bem jurídico constitucionalmente protegido. E, diante de
violação a esse direito, há a garantia constitucional do Habeas Corpus. (remédio
constitucional)
Agora, no caso do inciso XVI a Constituição Federal trouxe o direito de reunião.
Também é um dispositivo bastante cobrado em provas e que merece nossa atenção.
Vamos consolidar as características do direito de reunião.

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Fins pacíficos e sem


armas
Não poderá frustrar outra
reunião convocada
anteriormente para o mesmo
local;
Necessidade apenas de prévio
aviso à autoridade competente;
Protegido por MS e não
HC

Direito de Reunião

XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de


caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter
suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro
caso, o trânsito em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado;

Tecnicamente, o instituto da associação decorre de um ato volitivo (ato de vontade)


visando agregação a um determinado fim. Assim, a associação é uma sociedade e
se diferencia do ato de reunião, tendo em vista possuir um caráter de continuidade,
ou seja, as pessoas não se unem de forma temporária, transitória.
No plano constitucional, a existência de uma associação depende de três condições:
Ä Pluralidade de pessoas;
Ä Surgimento de um ato de vontade dos associados;
Ä Presença da estabilidade na união.
Nota-se que a existência de uma associação não depende da aquisição de
personalidade jurídica. Apesar da possibilidade de se adquirir a personalidade, o

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fato de não promover o registro de seus atos, isso não interfere na existência da
associação. (no plano da realidade)
Enfim, a associação possui uma proteção constitucional, sendo apresentada pelo
legislador constituinte com alguns requisitos.
O primeiro deles diz respeito a sua criação. A entidade associativa deve ser criada
para fins lícitos. O segundo é que a associação não depende de autorização estatal
para funcionar, assim como também não sofre interferência do Poder Público.
Meus amigos, a Carta Magna estabeleceu a liberdade de associação ampla e lícita,
diferentemente da cooperativa que, mesmo não dependendo de autorização estatal
para ser criada, enquanto não houver lei regulamentando o tema não há
possibilidade de sua criação.
Por tal motivo, em relação à criação de associações, a doutrina entende que se trata
de norma de eficácia plena. Mas, no tema das cooperativas, entende ser de eficácia
limitada.
Importante esclarecer que a dissolução compulsória da associação somente ocorre
por decisão judicial que tenha transitado em julgado. Contudo, para ter sua
atividade suspensa, basta uma simples decisão judicial (sem trânsito em jugado).

XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm


legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Aqui se faz presente o instituto da representação processual. O representante


processual é aquele que ingressa em juízo, atuando em nome de terceiro e na
defesa de interesse do representado. Não é considerado parte do processo, mas
mero sujeito que faz com que a parte tenha capacidade para estar em juízo.
(capacidade postulatória)
A partir da leitura do inciso XXI, se conclui que as entidades associativas dependem
de autorização expressa de seus filiados para os representarem processualmente.
Já na substituição processual, o substituto (ao ingressar em juízo) atua em nome
próprio na defesa de interesse do substituído, salvaguardando direito alheio ao
seu, não necessitando de autorização expressa. Nesse aspecto, o substituto é parte
do processo, enquanto que o substituído apenas sofre os efeitos da sentença (não
se encontra no processo). Tecnicamente, a doutrina do direito processual nos diz
que a decisão faz coisa julgada para ambos (substituto e substituído).
Destaque-se que não é permitido que ocorra a representação processual baseada
em uma autorização genérica prevista no estatuto da entidade.

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“a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua
atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados, sendo indispensável que a declaração
expressa e específica seja manifestada por ato individual do associado ou por assembleia-
geral da entidade”

Em decorrência de tal entendimento, a jurisprudência se posicionou no sentido de


que, em ações propostas por entidades associativas, o título judicial somente poderá
ser executado pelos associados cuja autorização para sua propositura tenha sido
expressa.
Peço, agora, a atenção de vocês para que possamos fechar esse tema. No inciso
LXX do art. 5º da CRFB/88 temos uma hipótese peculiar de substituição processual:
Mandado de Segurança Coletivo. A doutrina e a jurisprudência entendem que para
o “MS Coletivo” não há previsão da obrigatoriedade de autorização, conforme a
previsão geral do inciso XXI.
Outrossim, o STF entendeu que em relação aos sindicatos, seja em ação individual
ou coletiva, eles não dependem de autorização expressa dos filiados. A própria
CF/88, em seu art. 8º, III, deu permissão para ele atuarem como substitutos
processuais.

XXII - é garantido o direito de propriedade;


XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e
prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente
poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário
indenização ulterior, se houver dano;

O direito de propriedade é um bem constitucionalmente protegido. Os quatro


incisos acima conjuntamente garantem tal direito, estabelecendo que a propriedade
deve cumprir a função social e que este direito não é absoluto.
Na visão do ilustre jurista José Afonso da Silva, os incisos XXIV e XXV “oferecem os
elementos de suas limitações, permitindo sua desapropriação por necessidade
pública ou utilidade pública ou interesse social, bem como o seu uso pela autoridade

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competente no caso de perigo público iminente” 19. Entende-se, nesse sentido, ser
o direito de propriedade uma norma de eficácia contida.
No caso da desapropriação prevista no XXIV do art. 5° da CF/88 é prévia, justa e em
dinheiro. Esta é a regra, mas o mesmo dispositivo constitucional determina que há
exceções. E, quais seriam essas hipóteses professor? Olha só:

•Competência da União •Competência do •Competência da União


edificado s/ função social
Fins de reforma agrária

•Prévia e justa Município •Desapropriação sem


Imóvel urbano não-

indenização em títulos •A indenização se dará indenização (art. 243)

Desapropriação
da dívida agrária; mediante títulos da •Plantas psicotrópicas ou

confiscatória
•Resgate em até 20 dívida pública de exploração de trabalho
anos; emissão previamente escravo.
•Benfeitorias úteis e aprovada pelo Senado
necessárias serão Federal, com prazo de
indenizadas em resgate de até 10 anos;
dinheiro. (O § 1o art.
184, CF)

Como mencionado acima, o inciso XXV limita o direito previsto no inciso XXII,
trazendo o instituto da requisição administrativa. Trata-se de uma intervenção
restritiva, ou seja, não se retira a propriedade do particular, mas limita o seu
exercício, pois através do chamado Poder de Império (em uma situação de iminente
perigo público), o Poder Público utiliza-se de bens ou serviços de particulares.
Vamos consolidar este tópico?

19
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 113.

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Em caso de iminente perigo público, o


A requisição é compulsória para o
Estado pode requisitar a propriedade
particular, devido ao Poder de Império do
particular. Ex: enchente ou desastre natural
Estado
ou humano

Requisição
administrativa

A propriedade continua sendo do


particular. Há apenas uma cessão gratuita e
O perigo público deve ser iminente
provisória ao Poder Público. Haverá
indenização se houver dano

PS: Entende-se que os entes políticos não podem requisitar administrativamente


bens, serviços e pessoal uns dos outros. Afinal, por conta do modelo federativo
adotado no Brasil, os entes políticos possuem o mesmo “status” hierárquico e a
utilização deste instituto acabaria por ofender o pacto federativo.

XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que


trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os
meios de financiar o seu desenvolvimento;

No tema da propriedade rural, a Constituição de 1988 estabeleceu a garantia de


impenhorabilidade para a pequena propriedade trabalhada pela família. A ideia foi
a proteção dos pequenos trabalhadores rurais que, sem condições de acesso aos
meios de produção, possuem sérias dificuldade em relação a sua subsistência.
Todavia, como já estudamos, não há direito fundamental absoluto e a proteção
constitucional depende da cumulação de dois requisitos:
ü exploração econômica do bem pela família; e
ü origem na atividade produtiva do débito que causou a penhora.
Lembrando que a Carta Magna deixou a cargo da legislação infraconstitucional
definir quais serão as propriedades rurais que poderão ser consideradas pequenas
e como será financiado o desenvolvimento dessas terras.

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de


seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas

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aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do


Estado;

Juntamente com o princípio da publicidade, o direito à informação demonstra a


presença de uma cobrança constitucional de atuação transparente de toda a
Administração Pública (direta e indireta, incluindo empresas públicas e sociedades
de economia mista), que deverá manter os seus administrados informados acerca da
conduta interna de seus agentes.
Contudo, da leitura do dispositivo acima, percebe-se que há uma ressalva prevista
constitucionalmente: o sigilo de informação imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado.
No campo infraconstitucional, temos a Lei nº 12.527/2011, assim chamada de Lei de
Acesso à Informação. Ela acabou regulamentando o tema. (mas, não precisa se
preocupar, pois nosso estudo recai nos aspectos teóricos da CF/88)
Um destaque que deve ser dado aqui é quanto ao remédio (instrumento processual)
utilizado quando há lesão ao direito à informação.
Se estivermos diante de informações próprias, pessoais do impetrante, o remédio
cabível será o Habeas Data (calma que iremos comentar a seguir. Por ora apenas
leve este entendimento).
Por outro lado, para a obtenção de informações de interesse particular ou interesse
coletivo ou geral, o remédio cabível será o Mandado de Segurança. Aqui, não é
cabível o habeas data, pois este é utilizado quando se tratar de interesse particular
referentes à própria pessoa requerente (a informação que apenas ele, titular do
dado, pode ter acesso ou o banco de dados). É uma ação personalíssima (só o titular
da informação pode utilizar este remédio).

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de


taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou


contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos
e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

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O inciso traz a garantia do não pagamento de taxa para dois institutos que são
essenciais ao próprio exercício da cidadania: o direito de petição e o direito à
obtenção de certidões.
Petição é o instrumento utilizado pelo administrado para solicitar algo junto à
administração, sendo endereçado a uma autoridade pública (não judicial). Trata-se
de pedido, reclamação ou requerimento. Através dela, qualquer indivíduo pode
denunciar, seja pessoa física (brasileiros ou estrangeiros) ou até mesmo pessoa
jurídica. Esta denúncia pode se referir a uma lesão concreta, por exemplo, sendo
solicitada a reorientação da situação.
É de natureza não-jurisdicional, tratando-se de um remédio administrativo, ou seja,
não há necessidade de advogado ou qualquer outro formalismo. E, há algum
requisito, professor? Sim!!!! Apenas que o pedido seja escrito. No mais, pode ser
realizado em benefício de interesse próprio, coletivo, da sociedade ou até mesmo
de terceiros.
Já a certidão não se trata de um instrumento, mas de um direito de se obter um
documento que possa atestar um ato ou que possa se comprovar um fato. Ao
exercer o seu direito, o indivíduo obterá uma cópia autêntica de um documento
escrito presente em um processo ou em um livro, que será produzida por autoridade
com fé pública. Exemplo: certidão de nascimento.
Por ser um remédio administrativo, o direito de petição possui como destinatário
qualquer órgão ou autoridade do Poder Público, estando aqui abarcado qualquer
um dos três poderes.
Agora, você sabia que há diferença entre o direito de petição e o direito de postular
em juízo?
O exercício do direito de postular em juízo, como regra, ocorre através de um
advogado (o habeas corpus é uma exceção previsto na CRFB/88). Na visão do
Supremo, ao ajuizar uma ação, o sujeito está postulando em juízo, não cabendo falar
em direito de petição (que é exercido no campo administrativo).

Ä Direito de certidão: é protegido pela via do Mandado de


Segurança. Por qual razão? Tecnicamente, quando se requer
uma certidão, o que se pretende é que o Estado disponibilize
um documento formal com título de fé pública, comprovando a
veracidade da informação (que você já obteve).

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Não caberia um Habeas Data? Então. Este remédio


constitucional serve para obter a informação; acesso à
informação pessoal ou para retificá-la.

XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou


ameaça a direito;

Pessoal, o preceito constitucional em comento traz o chamado princípio da


inafastabilidade de jurisdição. O que é isso professor?
Vamos lá. ;) A nossa Constituição se inspirou no modelo inglês de jurisdição, que é
um sistema de jurisdição una. De acordo com esse modelo, tecnicamente somente
o Poder Judiciário pode fazer coisa julgada material.20
“Mas, prof....não temos a esfera administrativa? SIM!
Um indivíduo pode fazer o uso do contencioso administrativo para satisfação de
direito fundamental. Por exemplo, se ele entender que há uma cobrança abusiva de
um tributo em um determinado auto de infração, ele pode apresentar sua
impugnação como forma de defesa na via administrativa.
Mas, na seara jurídico-processual, isso não é uma condicionante para que ele
ingresse no judiciário e questione o problema. Dito de outra forma, o sujeito não
precisa primeiro ingressar na via administrativa para só depois ir ao judiciário discutir
a matéria.
E digo mais, mesmo que ele ganhe na via administrativa, essa decisão poderá estar
sujeita a controle judicial. A doutrina vai nos dizer que qualquer litígio, concluído ou
pendente de solução administrativa, pode ser levado ao Poder Judiciário.
Agora, uma situação interessante é a seguinte. Se houver pendência de decisão final
em sede administrativa e o sujeito ingressa no poder judiciário para discutir a mesma
matéria, a questão no âmbito da administração pública restará prejudicada.
Por qual razão, professor?
É que comentei no início desse tópico. Somente o Poder Judiciário pode fazer
coisa julgada material. Neste caso, a demanda administrativa será arquivada sem
decisão de mérito.

Existe também o sistema francês, que se relaciona ao contencioso administrativo. Aqui, tanto Administração Pública quanto o Judiciário podem julgar
20

uma lide em caráter definitivo. O Brasil não adota esse sistema.

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Daí a doutrina do Direito Constitucional nos dizer que nosso sistema não aceita
como regra a “jurisdição condicionada” ou “instância administrativa de curso
forçado”. O acesso ao Judiciário independe de processo administrativo prévio
referente à matéria.
Como toda regra tem sempre uma exceção para “quebrar nosso estudo” (rs),
existem algumas temáticas de jurisdição condicionada. Vamos analisar?

Ä Habeas data: nesse remédio constitucional é preciso que haja a


negativa ou omissão por parte da Administração Pública (de acesso às
informações pessoais) para que o indivíduo possa impetrar a ação judicial.

Ä Controvérsias desportivas: nossa Constituição em seu art. 217, § 1º, da


CF/88, estabelece que “o Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias
da justiça desportiva, regulada em lei.”

ÄReclamação Constitucional diante do descumprimento de Súmula


Vinculante pela Administração Pública: o instituto da reclamação é um
instrumento processual utilizado para se levar ao Supremo Tribunal
Federal decisões administrativas (ou judiciais) que estão descumprindo
Súmula Vinculante (art. 103-A, §3º, CRFB/88)21. Em igual sentido, tem-se a
previsão do art. 7º, § 1º, Lei nº 11.417/2006 - “contra omissão ou ato da
administração pública, o uso da reclamação só será admitido após
esgotamento das vias administrativas”.

Um ponto importante é que a garantia de acesso ao Poder Judiciário (e a sua


inafastabilidade) traduz a efetivação do Estado democrático de direito.
O STF já consolidou o tema inclusive com a súmula vinculante nº 28: “é
inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade
de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário”.

21
Tecnicamente, entende-se que a reclamação constitucional é um instrumento processual para se preservar a jurisdição constitucional. Está situada no
campo do direito de petição. Não é uma ação propriamente dita, nem um recurso ou um incidente processual.

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XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a


coisa julgada;

O que seria isso professor? São instrumentos de segurança jurídica trazidos pelo
Constituinte que visam impedir leis ou atos normativos de retroagirem para
prejudicar situações já estabelecidas ou reconhecidas. É a garantia da
irretroatividade das leis.
Mas, ela é absoluta? Logicamente que não (rs). O Estado (em sentido amplo) não
está impedido de criar, por exemplo, leis que possam retroagir em benefício do
indivíduo, trazendo uma situação jurídica mais favorável do que existia sob a vigência
da lei anterior.
O próprio Supremo Tribunal tem o entendimento nessa linha, ao afirmar que “o
princípio insculpido no inciso XXXVI do art. 5º da Constituição não impede a edição,
pelo Estado, de norma retroativa (lei ou decreto), em benefício do particular”.22
(...)
“Mas, professor, eu quero saber o conceito de cada um desses institutos”. Vamos
lá. ;)
Ä Direito adquirido: é um direito que já se incorporou ao patrimônio do
titular, tendo o sujeito cumprido todos os requisitos legais para gozo e
fruição. Ex: aposentadoria. Uma vez satisfeito os requisitos, o indivíduo
faz jus ao benefício previdenciário. Em gozo desse benefício, não pode o
Estado mudar as regras do jogo e prejudicá-lo.
Agora, cuidado com a chamada “expectativa de direito”, que é quando o
indivíduo está próximo a obter o direito, mas ainda não obteve. Ex: faltam
02 anos para se aposentar, mas ainda não se aposentou. (não cumpriu a
idade mínima ou o tempo de contribuição)
A jurisprudência entende que há certas situações nas quais não há que se
falar direito adquirido. Olha só:

22
STF, 3ª Turma, RExtr, nº 184.099/DF, Rel. Min. Octávio Gallotti, RTJ 165/327.

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Não há
direito
adquirido

Normas Mudança do Criação ou Mudança de


constitucionais padrão da aumento de regime
originárias moeda tributos estatutário

Ä Ato jurídico perfeito: quer dizer que há a reunião de todos os


elementos constitutivos exigidos pela lei. Ex: um contrato celebrado hoje,
na vigência de uma determinada lei Y.
Ä Coisa julgada: é a decisão judicial da qual não cabe mais recurso,
tecnicamente.

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de


crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei;

Vamos analisar o tema com cuidado. O que seria a extradição?


Extradição é um instituto jurídico do direito internacional que visa permitir a
cooperação entre Estados Estrangeiros em matéria de direito penal. No plano
fático, o ato de extraditar consiste na entrega de uma pessoa a outro Estado onde
ocorreu a prática do crime, para que neste Estado possa ser julgada.
Doutrinariamente, a extradição pode ocorrer de duas formas: i) a extradição ativa; e
ii) a extradição passiva. Na extradição ativa, o Brasil faz um requerimento a outro
Estado Estrangeiro para que um determinado indivíduo possa aqui ser julgado. Já
na extradição passiva é o Estado estrangeiro quem faz o requerimento ao Brasil
para que lhe seja entregue um certo indivíduo para que possa julgá-lo.
A CRFB/88, em art. 5º incisos LI e LII, trouxe a previsão da chamada extradição
passiva e, aqui, temos algumas limitações importantes, a saber:

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Não. Brasileiro nato não


Qualquer brasileiro E brasileiro
pode sofrer extradição
pode ser extraditado? naturalizado?
passiva

2) Se praticar tráfico
1) Se praticar crime
ilícito de entorpecentes
Pode. Mas, dependerá comum, deve ter
e drogas afins, será
de alguns requisitos: ocorrido antes da
extraditado. Não há
naturalização
limite temporal

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido


processo legal;

Vamos falar um pouco agora acerca de um dos princípios mais basilares que rege
nosso sistema jurídico-processual.
O devido processo legal (due process of law) consiste numa garantia constitucional
(também com previsão no Código de Processo Civil) cujo fim maior é a concretização
da justiça. Dentro desse contexto, temos uma dupla proteção ao indivíduo, seja do
ponto de vista formal seja do ponto de vista material. Vamos raciocinar juntos agora!
Ä Aspecto formal (processual): o indivíduo pode se valer de todos os
instrumentos jurídicos disponíveis para a defesa de seus interesses. Temos
aqui a relação com valores fundamentais, tais como o corolário do
contraditório e da ampla defesa, o acesso à justiça, o direito ao juiz natural,
etc.
Ä Aspecto material (substantivo): se relaciona com o conteúdo e o
respeito aos direitos fundamentais em sua essência, devendo ser balizado
com a aplicação do princípio da proporcionalidade, razoabilidade ou da
proibição de excesso.

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LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados


em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;

Como comentamos a pouco, o contraditório e a ampla defesa são corolários do


princípio do devido processo legal.
Juridicamente falando, a ampla defesa permite ao indivíduo apresentar todos os
elementos lícitos que dispuser para provar a verdade, inclusive com o chamado
direito a não-autoincriminação. Já o contraditório permite ao indivíduo contradizer
todas as questões arguidas pela parte contrária. E, aqui, podemos pensar inclusive
na isonomia das partes no aspecto processual e na equiparação do direito da
acusação com o de defesa.23
No campo jurisprudencial, destacamos a seguir alguns entendimentos importantes
do Supremo Tribunal Federal acerca da matéria. Olha só:

Súmula Vinculante nº 14:

"É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa".

O Supremo Tribunal já decidiu também que nos processos administrativos


disciplinares, a ampla defesa e o contraditório podem ser exercidos
independentemente de advogado. Ou seja, não há necessidade de assistência
advocatícia no curso de um PAD, por exemplo. Nesse sentido, é o teor da Súmula
Vinculante nº 05:

“A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição.”

Outra questão interessante, diz respeito à existência de “condicionantes” no âmbito


dos recursos administrativos. Antigamente, existia uma prática comum da
administração pública em exigir do administrado a apresentação de depósito ou

23
ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado, 5ª edição. Ed. Método, 2010. pp. 176.

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arrolamento de bens para que determinado recurso fosse admitido. Ou seja, o


indivíduo precisava oferecer uma garantia para que sua defesa fosse aceita.
Ocorre, todavia, que o STF analisando tal prática, entendeu por inconstitucional a
medida, editando a Súmula Vinculante nº 21:

“É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para


admissibilidade de recurso administrativo.”

Em igual sentido, tem-se a Súmula Vinculante nº. 28: “É inconstitucional a exigência


de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se
pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário”.

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

Nossa Carta Magna asseverou com preceito basilar a inadmissão do uso de provas
obtidas por meios ilícitos. Essas provas são consideradas ilegais por conter violação
ao direito material. Mas, é importante também fazermos uma observação. Será que
as provas ilícitas invalidam todo o processo?
Então. O Supremo Tribunal tem um entendimento de que a presença de provas
ilícitas não pode ser suficiente para “contaminar” todo o processo, caso existam
outras provas, lícitas e autônomas que foram obtidas por meios válidos
juridicamente.24
O que se deve fazer é, sendo reconhecida a ilicitude de prova, ocorrer o seu
desentranhamento dos autos do processo. Elas devem ser expurgadas e os demais
instrumentos probatórios regularmente coletados devem ser mantidos.
Por fim, para fecharmos esse ponto, vamos apresentar a chamada Teoria dos Frutos
da Árvore Envenenada (“Fruits of the Poisonous Tree”). Segundo essa teoria, uma
árvore envenenada produziria frutos que estariam contaminados. Assim, uma prova
ilícita contaminaria todas as demais que dela derivassem.
Tecnicamente, a doutrina e a jurisprudência entendem que estaríamos diante de
uma ilicitude por derivação. Isto porque, haveria uma espécie de “comunicabilidade
da ilicitude" das provas ilícitas a todas aquelas que dela derivarem”. 25

STF, HC 76.231/RJ, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ: 29.09.1995.


24

APR 20050810047450 DF, Rel. Vaz de Mello, j. 07.02.2008.


25

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LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de


sentença penal condenatória;

Esse inciso traz o princípio da presunção de inocência, que tem por finalidade
proteger a liberdade do indivíduo em razão do poder de império do Estado.
Segundo a Constituição, somente com o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória é que alguém poderá ser considerado culpado. (Já que somente o
trânsito em julgado faz a coisa julgada material).

É meus caros alunos e alunas...mais uma alteração ocorreu e, no finalzinho de 2019,


o STF voltou a entender que a simples decisão condenatória em segunda instância
NÃO permite a execução provisória da pena.
Isso aconteceu no julgamento das ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), em
que se discutiu a constitucionalidade do art. 283 do CPP e o Supremo chegou a
seguinte conclusão:
O art. 283 do CPP, no que condiciona o início do cumprimento da pena ao trânsito em julgado do título
condenatório, tendo em vista o figurino do art. 5º, LVII, da CF, é constitucional (STF. Plenário. ADC
43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019)

Primeiro, vamos ao texto do dispositivo do CPP:


“Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado
ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

Vamos imaginar o seguinte. Digamos que uma pessoa seja condenada em 1ª


instância e, ato contínuo, haja decisão do Tribunal confirmando a sentença. Nas
razões do STF, a confirmação pelo órgão colegiado NÃO pode permitir a execução
do acórdão penal condenatório. Desse modo, o Judiciário precisa aguardar o
julgamento de eventuais recursos ainda existentes.
Na referida decisão, a Corte deixou claro que não há impedimento para que o réu
seja preso antes do trânsito em julgado. Contudo, para isso é necessário que, ao
analisar o caso individualmente, fique demonstrada a presença dos requisitos para
a chamada prisão preventiva, que está prevista no art. 312 do CPP.

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Então, é possível a prisão preventiva antes do trânsito em julgado, mas não a prisão
como execução provisória da pena.

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel26;

Esse é um dispositivo que, quando cai em provas, a banca adora fazer uma
pegadinha. Vamos estudar com cuidado. ;)
A partir da leitura do preceito constitucional, temos alguns requisitos. O primeiro
deles diz respeito ao instituto da prisão. O que a Constituição trouxe de reserva foi
a prisão civil. Não estamos falando de prisão decorrente de sentença penal
condenatória. Fiquem ligados!!!
Outro ponto é que a regra não é a prisão civil por dívidas. Somente de forma
excepcional é que ela poderá ocorrer. E quais seriam as exceções, professor?
Segundo a nossa Constituição, teríamos a pensão alimentícia e a condição do
depositário infiel. No caso da pensão alimentícia, a prisão somente poderá ocorrer
se for decorrente de um inadimplemento voluntário e inescusável. Ou seja, o
indivíduo por ato volitivo e sem qualquer justificativa não quer cumprir a obrigação
de pagar alimentos.
Em relação ao instituto do depositário infiel, se formos levar em consideração a
literalidade da CRFB/88, há possibilidade de sua ocorrência. Todavia, o Supremo
Tribunal Federal tem o entendimento particular que essa prisão não poderá ocorrer.
Vamos explicar um pouco mais.
O Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos, o chamado
Pacto de San Jose da Costa Rica, que estabeleceu a possibilidade de prisão civil
apenas em razão do não pagamento da obrigação alimentícia.
Do ponto de vista jurídico, o Supremo entende que esse tratado internacional versa
sobre o tema de direitos humanos e, embora não tenha sido internalizado com o
rito especial das emendas (art. 5º CF/88), possui uma temática importante, devendo
ser ingresso na ordem nacional com “status” de supralegalidade (abaixo da
Constituição e acima de todas as leis).
Então, professor, o Pacto de San Jose da Costa Rica sobrepõe ao texto da nossa
Constituição? De modo algum. O que acontece, meus amigos, é que o texto da

26
O depósito ocorre quando alguém entrega a outrem um bem para guarda. Assume-se, então, a obrigação de conservar o bem com diligência e de restituí-
lo assim que houver a exigência. Quando assim não se procede, ocorre a figura do depositário infiel.

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CRFB/88 continua válido. Mas, no plano infraconstitucional, a Convenção Americana


suspendeu toda a eficácia das normas que regem a prisão do depositário infiel.
Com feito, na visão do STF, o Pacto de San José produziu um “efeito paralisante”
sobre toda a legislação infraconstitucional que determinava a prisão do depositário
infiel.27 A Corte Suprema, inclusive, consolidou a matéria editando a Súmula
Vinculante nº 25: “É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade de depósito”.

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o
que ficar preso além do tempo fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;

A CRFB/88 traz expressamente que a certidão de óbito e o registro de nascimento


são documentos gratuitos aos reconhecidamente pobres, na forma da lei.
Conforme entendimento firmado pela jurisprudência, o dispositivo constitucional
definiu o mínimo a ser observado pela legislação infraconstitucional.
O Supremo também entendeu que os atos relativos ao nascimento e ao óbito são
considerados base para o exercício da cidadania. Como não haveria impedimento
para a extensão desta gratuidade a outros cidadãos, a conclusão da Corte foi a de
ser possível lei determinar a gratuidade dos assentos do registro civil de nascimento
e de óbito e também a primeira certidão respectiva a todos os cidadãos, sendo esta
constitucional.28
Professor, e a certidão de casamento? Também daria direito?
Então. Entende-se que não há que se falar em gratuidade de certidão de casamento,
por exemplo. Apenas é prevista a garantia para o registro de nascimento e à
certidão de óbito.

LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na


forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

27
RE 466.343-1/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ 03.12.2008
28
Informativo 171 do STF

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De acordo com esse inciso, na forma da lei, também são gratuitos os atos
necessários ao exercício da cidadania. Aqui encontramos um caso de reserva legal,
pois a delimitação dos atos necessários a cidadania ocorre apenas por meio de lei
formal.

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a


razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de
sua tramitação.

§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm


aplicação imediata.

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem


outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Vamos analisar com calma os parágrafos do art. 5º. De acordo com o §1º, são de
aplicação imediata as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais. Isto
significa que as normas constitucionais possuem os meios e os elementos
indispensáveis à sua incidência imediata.

Agora, cuidado para não confundir aplicação e aplicabilidade.


Tecnicamente, tem diferença. As normas definidoras dos direitos e
garantias fundamentais têm aplicação imediata.
Ä O professor José Afonso da Silva entende ter as normas de eficácia
plena e contida “aplicabilidade” direta e imediata, e as de eficácia
limitada “aplicabilidade” mediata ou indireta. Por outro lado, a aplicação
imediata significa que as normas constitucionais são “dotadas de todos os
meios e elementos necessários à sua pronta incidência aos fatos, situações,
condutas ou comportamentos que elas regulam.”.
Ä Portanto, é necessária uma interpretação que busque a maior eficácia
possível das normas em questão, mesmo que ainda não tenham sido
regulamentadas aquelas que necessitam de lei para ter plena eficácia.

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O §2° do art. 5º deixa expresso que os direitos e garantias fundamentais previstos


na Constituição trata-se de rol exemplificativo, ou seja, a enumeração destes na
CF/88 é aberta (sistema aberto de direitos fundamentais). Logo, é permitido que
decorram de princípios adotados pela Constituição e também de tratados
internacionais.
O que importa é a essência, o conteúdo normativo do direito, para que este seja
considerado um direito fundamental. Ao permitir no ordenamento jurídico a
existência de outros direitos fundamentais além dos previstos no seu texto, a
Constituição Federal traz explicitamente a adoção da fundamentalidade material.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que


forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja
criação tenha manifestado adesão.

Até comentamos bem esse ponto quando abordarmos o tema do depositário infiel,
mas vamos reforçar. Determinados tratados e convenções internacionais possuem
um “status” diferenciado, estabelecido pela Constituição Federal. Eles possuem
força de emenda constitucional, desde que cumulativamente:
Ä Versem sobre direitos humanos; e
Ä Sejam aprovados por três quintos dos membros de cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos de votação (mesmo rito das emendas
constitucionais)
E se o tratado versar sobre direitos humanos, mas não for aprovado por esse rito?
No entendimento do Supremo Tribunal, esses tratados possuiriam um status
“supralegal”, estando abaixo da Constituição e acima das demais normas
infraconstitucionais.
Ufa...meus amigos! Concluímos o primeiro bloco dos direitos individuais e coletivos.
Sugiro uma pausa para descanso. Em seguida abordaremos o tema dos Remédios
Constitucionais.

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2. (FGV / XXVIII Exame de Ordem Unificado – 2019) Alisson, cidadão brasileiro,


ingressa com requerimento administrativo, perante a Secretaria Fazendária do
Município Y, pleiteando a revisão do valor do Imposto sobre a Propriedade
Predial e Territorial Urbana (IPTU), uma vez que não concorda com os cálculos
empregados pela autoridade fazendária. Alisson, decorridos 90 dias sem qualquer
atualização no andamento do feito, retorna à repartição administrativa indagando
o porquê da demora. Ele obtém como resposta que o trâmite do procedimento
é sigiloso, mas que seria possível obter uma certidão com as informações
postuladas mediante o pagamento de determinada quantia, a título de “taxa”.
Diante da situação hipotética apresentada, com base no texto constitucional,
assinale a afirmativa correta.
A) A atuação da Secretaria Fazendária revela-se inconstitucional, pois a obtenção
de certidões em repartições publicas, contendo informações de interesse
particular ou de interesse coletivo ou geral, é direito de todos, sem o pagamento
de taxa, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado.
B) Para a obtenção de certidão com informações de direito pessoal, como
manifestação do direito de petição aos órgãos e poderes públicos, pode ser
exigido o pagamento de taxas caso Alisson não demonstre ser hipossuficiente
econômico.
C) Embora inexista óbice à cobrança de taxas para cobrir as despesas com a
emissão de certidões em repartições públicas, ainda que destinadas à defesa e ao
esclarecimento de situações de interesse pessoal, Alisson poderá́ utilizar o habeas
data para obter as informações relativas ao procedimento administrativo
instaurado.
D) Alisson não pode ter acesso ao feito, porque os procedimentos administrativos
que versem sobre matéria tributária são de natureza sigilosa, somente podendo
ser acessados, sem autorização judicial, por advogado regularmente constituído
pelo contribuinte, bem como por órgãos da administração pública direta e
indireta.
Comentário:
Pessoal, questão fresquinha saindo do forno XXVIII Exame OAB. E ela trouxe o
tema do direito à informação combinado com a obtenção de certidões. Nossa
Constituição assevera em seu XXXIV que “são a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas: b) a obtenção de certidões em

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repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de


interesse pessoal;
É assegurado a Alisson o direito de obter certidão, já que está diante de
informações do seu interesse. A certidão, nesse caso, tem amparo constitucional
para a sua não cobrança. Deve ser emitida independentemente do pagamento
de taxas. Portanto, a atuação da autoridade fazendária é inconstitucional.
Gabarito Letra A.

3. (FGV / XXVIII Exame de Ordem Unificado – 2019) Agentes do Ministério do


Trabalho, em inspeção realizada em carvoaria situada na zona rural do Estado K,
constataram que os trabalhadores locais encontravam-se sob exploração de
trabalho escravo, sujeitando-se a jornadas de 16 horas consecutivas de labor, sem
carteira assinada ou qualquer outro direito social ou trabalhista, em condições
desumanas e insalubres, percebendo, como contraprestação, valor muito inferior
ao salário mínimo nacional. Diante da situação narrada, com base na ordem
constitucional vigente, assinale a afirmativa correta.
A) Diante da vedação ao confisco consagrada na Constituição de 1988, o
descumprimento da função social, agravado pela situação de grave violação aos
direitos humanos dos trabalhadores, enseja responsabilização administrativa, cível
e criminal do proprietário, mas não autoriza a expropriação da propriedade rural.
B) O uso de mão de obra escrava autoriza a progressividade das alíquotas do
imposto sobre a propriedade territorial rural e, caso tal medida não se revele
suficiente, será́ possível que a União promova a expropriação e destinação das
terras à reforma agraria e a programas de habitação popular, mediante prévia e
justa indenização do proprietário.
C) A hipótese narrada enseja a desapropriação por interesse social para fins de
reforma agrária, uma vez que o imóvel rural não cumpre a sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária.
D) A exploração de trabalho escravo na referida propriedade rural autoriza sua
expropriação pelo Poder Público, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei, admitindo-se, até mesmo, o confisco
de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido na carvoaria.
Comentário:
Questão sopinha hein (rs)!!! Comentamos na parte teórica. No caso da exploração
de trabalho escravo (ou análoga à condição escrava), acontece o que pessoal?

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Desapropriação confiscatória. E sem indenização ao proprietário. É a incidência


do art. 243, CRFB/88. Gabarito Letra D.
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho
escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a
programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto
no art. 5º.

4. (FGV / XXVI Exame de Ordem Unificado – 2018) Antônio, líder ativista que
defende a proibição do uso de quaisquer drogas, cientifica as autoridades sobre
a realização de manifestação contra projeto de lei sobre a liberação do uso de
entorpecentes. Marina, líder ativista do movimento pela liberação do uso de toda
e qualquer droga, ao tomar conhecimento de tal evento, resolve, então, sem
solicitar autorização à autoridade competente, marcar, para o mesmo dia e local,
manifestação favorável ao citado projeto de lei, de forma a impedir a propagação
das ideias defendidas por Antônio. Nesse sentido, segundo o sistema jurídico-
constitucional brasileiro, assinale a afirmativa correta.
A) Marina pode dar continuidade à sua iniciativa, pois, com fundamento no
princípio do Estado Democrático, está amplamente livre para expressar suas
ideias.
B) Marina não poderia dar continuidade à sua iniciativa, pois o direito de reunião
depende de prévia autorização por parte da autoridade competente.
C) Marina não poderia dar continuidade à sua iniciativa, já que sua reunião
frustraria a reunião de Antônio, anteriormente convocada para o mesmo local.
D) Marina pode dar continuidade à sua iniciativa, pois é livre o direito de reunião
quando o país não se encontra em estado de sítio ou em estado de defesa.
Comentários:
Pessoal, questão fresquinha cobrada no XXVI Exame de Ordem. E mais uma vez
a FGV foi se amparar no estudo dos direitos individuais e coletivos, em especial o
direito de reunião previsto no art. 5º XVI “todos podem reunir-se pacificamente,
sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização,
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”

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No caso prático, Marina embora não precisasse tecnicamente de autorização para


convocar uma reunião (bastando apenas prévio aviso à autoridade competente),
ela não poderia frustrar outra reunião já convocada no mesmo local, o que de fato
ocorreu. Gabarito letra C.

5. (FGV / XXI Exame de Ordem – 2016) Maria é aluna do sexto período do curso
de Direito. Por convicção filosófica e política se afirma feminista e é reconhecida
como militante de movimentos que denunciam o machismo e afirmam o
feminismo como ideologia de gênero. Após um confronto de ideias com um
professor em sala de aula e de chamá-lo de machista, Maria é colocada pelo
professor para fora de sala e, posteriormente, o mesmo não lhe dá a oportunidade
de fazer a vista de sua prova para um eventual pedido de revisão da correção, o
que é um direito previsto no regimento da instituição de ensino. Em função do
exposto, e com base na Constituição da República, assinale a afirmativa correta.
a) Maria foi privada de um direito por motivo de convicção filosófica ou política e,
portanto, as autoridades competentes da instituição de ensino devem assegurar
a ela o direito de ter vista de prova e, se for o caso, de pedir a revisão da correção.
b) Houve um debate livre e legítimo em sala de aula e a postura do professor
pode ser considerada “dura”, mas não implicou nenhum tipo de violação de
direito de Maria.
c) Embora tenha havido um debate acerca de uma questão que envolve convicção
filosófica ou política, não houve privação de direito já que a vista de prova e o
eventual pedido de revisão da correção está contido apenas no regimento da
instituição de ensino e não na legislação pátria.
d) A solução do impasse instaurado entre a aluna e o professor somente pode
acontecer mediante o diálogo entre as duas partes, em que cada um considere
seus eventuais excessos, uma vez que o que houve foi um mero desentendimento
e não uma violação de direito por convicção filosófica ou política.
Comentários:
Questão tranquila, hein? Literalidade do art. 5º, VIII, CF/88: “ninguém será privado
de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-
se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”. Gabarito Letra A.

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6. (XVIII Exame de Ordem Unificado – 2015) Luiz é proprietário de uma grande


fazenda localizada na zona rural do Estado X. Lá, cultiva café de excelente
qualidade – e com grande produtividade – para fins de exportação. Porém, uma
fiscalização realizada por agentes do Ministério do Trabalho e do Emprego
constatou a exploração de mão de obra escrava. Independentemente das sanções
previstas em lei, caso tal prática seja devidamente comprovada, de forma
definitiva, pelos órgãos jurisdicionais competentes, a Constituição Federal dispõe
(A) a propriedade deve ser objeto de desapropriação, respeitado o direito à justa
e prévia indenização a que faz jus o proprietário.
(B) a propriedade deve ser objeto de expropriação, sem qualquer indenização, e,
no caso em tela, destinada à reforma agrária.
(C) o direito de propriedade de Luiz deve ser respeitado, tendo em vista serem as
terras em comento produtivas.
(D) o direito da propriedade de Luiz deve ser respeitado, pois a expropriação é
instituto cabível somente nos casos de cultura ilegal de plantas psicotrópicas.
Comentários:
Segundo o art. 243, CF/88, “as propriedades rurais e urbanas de qualquer região
do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a
exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas
à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização
ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”. O gabarito é
a letra B.

7. (XVIII Exame de Ordem Unificado – 2015) Um grupo autodenominado


“Sangue Puro” passou a se organizar sob a forma de associação. No seu estatuto,
é possível identificar claros propósitos de incitação à violência contra indivíduos
pertencentes a determinadas minorias sociais. Diversas organizações não
governamentais voltadas à defesa dos direitos humanos, bem como o Ministério
Público, ajuizaram medidas judiciais solicitando a sua imediata dissolução.
Segundo a Constituição Federal, a respeito da hipótese formulada, assinale a
afirmativa correta.
(A) A associação não poderá sofrer qualquer intervenção do Poder Judiciário, pois
é vedada a interferência estatal no funcionamento das associações.

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(B) Caso o pedido de dissolução seja acolhido, a associação poderá ser


compulsoriamente dissolvida, independentemente do trânsito em julgado da
sentença judicial.
(C) A associação poderá ter suas atividades imediatamente suspensas por decisão
judicial, independentemente do seu trânsito em julgado.
(D) Apenas se justificaria a intervenção estatal se caracterizada a natureza
paramilitar da associação em comento.
Comentários:
Letra A: errada. O Poder Judiciário poderá atuar para suspender as atividades da
associação ou mesmo para promover a sua dissolução compulsória.
Letra B: errada. A dissolução compulsória de associação depende de decisão
judicial transitada em julgado.
Letra C: correta. É isso mesmo! A suspensão das atividades de associação
depende simplesmente de decisão judicial, que não precisa transitar em julgado.
É o que se extrai do art. 5º, XIX, CF/88.
Letra D: errada. É vedada a existência de associações de caráter paramilitar. No
entanto, é possível que o Poder Judiciário atue, em outros casos, para suspender
as atividades ou dissolver compulsoriamente a associação.

8. (FGV / XVI Exame de Ordem Unificado – 2015) O diretor de RH de uma


multinacional da área de telecomunicações, em reunião corporativa, afirmou que
o mundo globalizado vem produzindo grandes inovações, exigindo o
reconhecimento de novas profissões desconhecidas até então. Feitas essas
considerações, solicitou que alterasse o quadro de cargos e funções da empresa,
incluindo as seguintes profissões: gestor de marketing digital e desenvolvedor de
aplicativos móveis. O presidente da sociedade empresária, pedido formulado,
alegou que o exercício de qualquer atividade laborativa pressupõe a sua devida
regulamentação em lei, o que ainda não havia ocorrido em relação às referidas
profissões. Com base na teoria da eficácia das normas constitucionais é correto
afirmar que o presidente da sociedade empresária:
(A) argumentou em harmonia com a ordem constitucional, pois o dispositivo da
Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício
ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, possui
eficácia limitada, exigindo regulamentação legal para que possa produzir efeitos.

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(B) apresentou argumentos contrários à ordem constitucional, pois o dispositivo


da Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho,
ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer,
possui eficácia contida, de modo que, inexistindo lei que regulamente o exercício
da atividade profissional, é livre o seu exercício.
(C) apresentou argumentos contrários à ordem constitucional, pois o dispositivo
da Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho,
ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer,
possui eficácia plena, já que a liberdade do exercício profissional não pode ser
restringida, mas apenas ampliada.
(D) argumentou em harmonia com a ordem constitucional, pois o dispositivo da
Constituição Federal que afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício
ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, não
possui nenhuma eficácia, devendo ser objeto de mandado de injunção para a sua
devida regulamentação.
Comentários:
O inciso XIII do art. 5o da Constituição determina que é livre o exercício de
qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que
a lei estabelecer. Trata-se de norma constitucional de eficácia contida. Desse
modo, na inexistência de lei que exija qualificações para o exercício de
determinada profissão, qualquer pessoa poderá exercê-la (o exercício da
profissão é livre). Uma vez editada a lei, a profissão só poderá ser exercida por
quem atender às qualificações legais.
Gabarito é a letra B.

9. (FGV / XIV Exame de Ordem Unificado – 2014) A Sra. Maria da Silva é


participante ativa da AMA-X (Associação de Moradores e Amigos do bairro X).
Todos os dias, no fim da tarde, a Sra. Maria da Silva e um grupo de associados
reuniam-se na praça da cidade, distribuindo material sobre os problemas do
bairro. A associação convocava os moradores para esses encontros por meio da
rádio da cidade e comunicava, previamente, o local e a hora das reuniões às
autoridades competentes. Certa tarde, um grupo da Associação de Moradores
do bairro Y ocupou o local que os participantes da AMA-X habitualmente
utilizavam. O grupo do bairro Y não havia avisado, previamente, a autoridade
competente sobre o evento, organizado em espaço público. A Sra. Maria da Silva,
indignada com a utilização do mesmo espaço, e tendo sido frustrada a reunião de

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seu grupo, solicitou aos policiais militares, presentes no local, que tomassem as
medidas necessárias para permitir a realização do encontro da AMA-X. Em relação
à liberdade de associação e manifestação, assinale a afirmativa correta.
(A) A AMA-X deve buscar novo local de manifestação, tendo em vista que o local
de reunião é público e que a associação do bairro Y possui os mesmos direitos de
reunião e manifestação.
(B) A associação do bairro Y deve buscar novo local de manifestação, pois não
tem o direito de frustrar reunião anteriormente convocada para o mesmo local, já
que houve prévio aviso à autoridade competente sobre o uso do espaço público
pela AMA-X.
(C) A AMA-X deve dividir o espaço com a associação do bairro Y, tendo em vista
que o local de reunião é público e que o direito à livre manifestação de ideias é
garantido.
(D) A associação do bairro Y poderá ser dissolvida por ato da autoridade pública
municipal em razão de não ter comunicado previamente à Prefeitura a realização
de suas reuniões em espaço público.
Comentários:
Reza o inciso XVI do art. 5o da CF/88 que todos podem reunir-se pacificamente,
sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização,
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. No caso
exposto, a Associação do bairro Y deverá buscar um novo local para a sua
manifestação, sob pena de frustrar a reunião anteriormente convocada pela AMA-
X. O gabarito é a letra B.

10. (FGV / XII Exame de Ordem Unificado – 2013) A Constituição declara que
todos podem reunir-se em local aberto ao público. Algumas condições para que
as reuniões se realizem são apresentadas nas alternativas a seguir, à exceção de
uma. Assinale-a.
(A) Os participantes não portem armas.
(B) A reunião seja autorizada pela autoridade competente.
(C) A reunião não frustre outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
local.
(D) Os participantes reúnam-se pacificamente.

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Comentários:
De acordo com o inciso XVI do art. 5o da CF/88, todos podem reunir-se
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. A
partir desse inciso, podemos enumerar as características do direito de reunião:
a) Esta deverá ter fins pacíficos, e apresentar ausência de armas;
b) Deverá ser realizada em locais abertos ao público;
c) Não poderá frustrar outra reunião convocada anteriormente para o mesmo
local;
d) Desnecessidade de autorização;
e) Necessidade de prévio aviso à autoridade competente.
Gabarito Letra B.

11. (FGV / XI Exame de Ordem Unificado – 2013) Assinale a alternativa que


completa corretamente o fragmento a seguir. A desapropriação para fins de
reforma agrária ocorre mediante prévia e justa indenização:
(A) Em dinheiro, incluindo-se as benfeitorias úteis e necessárias.
(B) Em dinheiro, mas as benfeitorias não são passíveis de indenização.
(C) Em títulos da dívida agrária, incluindo-se as benfeitorias úteis e necessárias.
(D) Em títulos da dívida agrária, mas as benfeitorias úteis e necessárias serão
indenizadas em dinheiro.
Comentários:
A desapropriação para fins de reforma agrária obedece ao disposto no art. 184
da Carta Magna. É de competência da União e tem por objeto o imóvel rural que
não esteja cumprindo sua função social. Ocorre mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, sendo as benfeitorias úteis e necessárias
indenizadas em dinheiro. O gabarito é a letra D.

12. (FGV / VI Exame de Ordem Unificado – 2012) A Constituição assegura, entre


os direitos e garantias individuais, a inviolabilidade do domicílio, afirmando que
“a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem o

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consentimento do morador” (art. 5º, XI, CRFB). A esse respeito, assinale a


alternativa correta.
(A) O conceito de “casa” é abrangente e inclui quarto de hotel.
(B) O conceito de casa é abrangente, mas não inclui escritório de advocacia.
(C) A prisão em flagrante durante o dia é um limite a essa garantia, mas apenas
quando houver mandado judicial.
(D) A prisão em quarto de hotel obedecendo a mandado judicial pode se dar no
período noturno.
Comentários:
A letra A está correta e a B está incorreta. O conceito de “casa” é abrangente.
Alcança não só a residência do indivíduo, mas também escritórios profissionais,
consultórios médicos e odontológicos, trailers, barcos e aposentos de habitação
coletiva (como, por exemplo, o quarto de hotel).
A letra C está incorreta. Para que haja prisão em flagrante, não é necessário
mandado judicial.
A letra D está incorreta. Considerando-se que o quarto de hotel está abrangido
pelo conceito de casa, a prisão nele ocorrida por ordem judicial só pode se dar
durante o dia. O gabarito é a letra A.

13. (FGV / III Exame de Ordem Unificado – 2011) A Constituição garante a plena
liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (art. 5°,
XVII). A respeito desse direito fundamental, é correto afirmar que a criação de
uma associação:
(A) Depende de autorização do poder público e pode ter suas atividades
suspensas por decisão administrativa.
(B) Não depende de autorização do poder público, mas pode ter suas atividades
suspensas por decisão administrativa.
(C) Depende de autorização do poder público, mas só pode ter suas atividades
suspensas por decisão judicial transitada em julgado.
(D) Não depende de autorização do poder público, mas só pode ter suas
atividades suspensas por decisão judicial.
Comentários:

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A questão cobra o conhecimento dos incisos XVIII e XIX do art. 5o da Constituição:


XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem
de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado.
Assim, temos que a) criação de associações é livre, ou seja, independe de
autorização; e b) as associações só podem ser dissolvidas por decisão judicial
transitada em julgado. Além disso, suas atividades só podem ser suspensas por
decisão judicial (neste caso, não há necessidade de trânsito em julgado). Gabarito
letra D.

14. (FGV / XIX Exame de Ordem – 2016) José, internado em um hospital público
para tratamento de saúde, solicita a presença de um pastor para lhe conceder
assistência religiosa. O pedido, porém, é negado pela direção do hospital, sob a
alegação de que, por se tratar de instituição pública, a assistência não seria
possível em face da laicidade do Estado. Inconformado, José consulta um
advogado. Após a análise da situação, o advogado esclarece, com correto
embasamento constitucional, que
a) a negativa emanada pelo hospital foi correta, tendo em vista que a Constituição
Federal de 1988, ao consagrar a laicidade do Estado brasileiro, rejeita a expressão
religiosa em espaços públicos.
b) a direção do hospital não tem razão, pois, embora a Constituição Federal de
1988 reconheça a laicidade do Estado, a assistência religiosa é um direito
garantido pela mesma ordem constitucional.
c) a correção ou incorreção da negativa da direção do hospital depende de sua
consonância, ou não, com o regulamento da própria instituição, já que se está
perante direito disponível.
d) a decisão sobre a possibilidade, ou não, de haver assistência religiosa em
entidades públicas de saúde depende exclusivamente de comando normativo
legal, já que a temática não é de estatura constitucional.
Comentários:
De acordo com o art. 5º, VII, CF/88, “é assegurada, nos termos da lei, a prestação
de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva”.

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Assim, a direção do hospital não tem razão em sua negativa. Embora o Brasil seja
um Estado laico, a assistência religiosa é direito fundamental. Letra B.

15. (FGV / XXIV Exame de Ordem – 2017) Marcos recebeu, por herança, grande
propriedade rural no estado Sigma. Dedicado à medicina e não possuindo maior
interesse pelas atividades agropecuárias desenvolvidas por sua família, Marcos
deixou, nos últimos anos, de dar continuidade a qualquer atividade produtiva nas
referidas terras. Ciente de que sua propriedade não está cumprindo uma função
social, Marcos procura um advogado para saber se existe alguma possibilidade
jurídica de vir a perdê-la. Segundo o que dispõe o sistema jurídico-constitucional
vigente no Brasil, assinale a opção que apresenta a resposta correta.
A) O direito de Marcos a manter suas terras deverá ser respeitado, tendo em vista
que tem título jurídico reconhecidamente hábil para caracterizar o seu direito
adquirido.
B) A propriedade que não cumpre sua função social poderá ser objeto de
expropriação, sem qualquer indenização ao proprietário que deu azo a tal
descumprimento; no caso, Marcos.
C) A propriedade, por interesse social, poderá vir a ser objeto de desapropriação,
devendo ser, no entanto, respeitado o direito de Marcos à indenização.
D) O direito de propriedade de Marcos está cabalmente garantido, já que a
desapropriação é instituto cabível somente nos casos de cultura ilegal de plantas
psicotrópicas.
Comentários:
Olha só. Estamos diante do direito propriedade previsto no art. 5º (inciso XXII, XIII
e XXIV). No caso em exame, podemos ter a desapropriação, desde que
resguardado o pagamento de indenização. “a lei estabelecerá o procedimento
para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos
nesta Constituição”. Gabarito Letra C.

16. (FGV / XXVII Exame de Ordem Unificado – 2018) Os produtores rurais do


Município X organizaram uma associação civil sem fins lucrativos para dinamizar a
exploração de atividade econômica pelos associados, bem como para fins de
representá-los nas demandas de caráter administrativo e judicial. Anderson,

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proprietário de uma fazenda na região, passa a receber, mensalmente, carnê


contendo a cobrança de uma taxa associativa, embora nunca tivesse manifestado
qualquer interesse em ingressar na referida entidade associativa. Em consulta
junto aos órgãos municipais, Anderson descobre que a associação de produtores
rurais, embora tenha sido criada na forma da lei, jamais obteve autorização estatal
para funcionar. Diante disso, procura um escritório de advocacia especializado,
para pleitear, judicialmente, a interrupção da cobrança e a suspensão das
atividades associativas. Sobre a questão em comento, assinale a afirmativa
correta.
A) Anderson pode pleitear judicialmente a interrupção da cobrança, a qual revela-
se indevida, pois ninguém pode ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado, ressaltando-se que a falta de autorização estatal não configura motivo
idôneo para a suspensão das atividades da associação.
B) As associações representativas de classes gozam de proteção absoluta na
ordem constitucional, de modo que podem ser instituídas independentemente
de autorização estatal e apenas terão suas atividades suspensas quando houver
decisão judicial com trânsito em julgado.
C) A Constituição de 1988 assegura a plena liberdade de associação para fins
lícitos, vedando apenas aquelas de caráter paramilitar, de modo que Anderson
não pode insurgir-se contra a cobrança, vez que desempenha atividade de
produção e deve associar-se compulsoriamente.
D) A liberdade associativa, tendo em vista sua natureza de direito fundamental,
não pode ser objeto de qualquer intervenção do Poder Judiciário, de modo que
Anderson apenas poderia pleitear administrativamente a interrupção da cobrança
dos valores que entende indevidos.
Comentários:
Pessoal, essa questão cobrou o direito de associação. Nossa CRFB/88 nos diz em
seu art. 5º XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar.
O inciso XVIII também nos diz que para criar uma associação não há que se falar
em autorização para tanto: “a criação de associações e, na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal
em seu funcionamento”.

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No caso da taxa associativa, Anderson não está obrigado a pagar, já que


“ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado (inciso
XX)
E, por fim, eventual dissolução da entidade precisa observar o inciso XIX: as
associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;

17. (FGV / XXIX Exame de Ordem Unificado – 2019) Durval, cidadão brasileiro
e engenheiro civil, desempenha trabalho voluntario na ONG Transparência, cujo
principal objetivo é apurar a conformidade das contas públicas e expor eventuais
irregularidades, apresentando reclamações e denúncias aos órgãos e entidades
competentes. Ocorre que, durante o ano de 2018, a Secretaria de Obras do
Estado Alfa deixou de divulgar em sua página da Internet informações referentes
aos repasses de recursos financeiros, bem como foram omitidos os registros das
despesas realizadas. Por essa razão, Durval compareceu ao referido órgão e
protocolizou pedido de acesso a tais informações, devidamente especificadas.
Em resposta à solicitação, foi comunicado que os dados requeridos são de
natureza sigilosa, somente podendo ser disponibilizados mediante requisição do
Ministério Público ou do Tribunal de Contas. A partir do enunciado proposto,
com base na legislação vigente, assinale a afirmativa correta.
A) A decisão está em desacordo com a ordem jurídica, pois os órgãos e entidades
públicas têm o dever legal de promover, mesmo sem requerimento, a divulgação,
em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de
interesse coletivo ou geral que produzam ou custodiem.
B) Assiste razão ao órgão público no que concerne tão somente ao sigilo das
informações relativas aos repasses de recursos financeiros, sendo imprescindível
a requisição do Ministério Público ou do Tribunal de Contas para acessar tais
dados.
C) Assiste razão ao órgão público no que concerne tão somente ao sigilo das
informações relativas aos registros das despesas realizadas, sendo imprescindível
a requisição do Ministério Público ou do Tribunal de Contas para acessar tais
dados.
D) Assiste razão ao órgão público no que concerne ao sigilo das informações
postuladas, pois tais dados apenas poderiam ser pessoalmente postulados por

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Durval caso estivesse devidamente assistido por advogado regularmente inscrito


na Ordem dos Advogados do Brasil.
Comentários:
A questão trata especificamente sobre o direito de receber dos órgãos públicos
informações de interesse coletivo ou geral. Estamos diante de um valor
fundamental garantido a todos pela nossa CRFB/88 (art. 5º XXXIII) “todos têm
direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado”
No campo infraconstitucional temos a Lei de Acesso à Informação – LAI. O art. 8º
estabelece ser “dever dos órgãos e entidades públicas promover,
independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no
âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo ou geral por
eles produzidas ou custodiadas.”. Portanto, a decisão do referido órgão está em
desacordo com a ordem jurídica. Gabarito Letra A

18. (FGV / XXIX Exame de Ordem Unificado – 2019) O diretor da unidade


prisional de segurança máxima ABC expede uma portaria vedando, no âmbito da
referida entidade de internação coletiva, quaisquer práticas de cunho religioso
direcionadas aos presos, apresentando, como motivo para tal ato, a necessidade
de a Administração Pública ser laica. A partir da situação hipotética narrada,
assinale a afirmativa correta.
A) A motivação do ato administrativo encontra-se equivocada, uma vez que o
preâmbulo da Constituição da República de 1988 faz expressa menção à
“proteção de Deus”, também assegurando aos entes federados ampla liberdade
para estabelecer e subvencionar os cultos religiosos e igrejas.
B) O ato expedido pelo diretor encontra plena correspondência com a ordem
constitucional brasileira, a qual veda, aos entes federados, estabelecer cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los ou firmar qualquer espécie de colaboração
de interesse público.
C) A Constituição da República de 1988 dispõe que, nos termos da lei, é
assegurada assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação
coletiva, de modo que a portaria expedida pelo diretor viola um direito
fundamental dos internos.

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D) Inexiste incompatibilidade entre a portaria e a Constituição da República de


1988, uma vez que a liberdade religiosa apenas se apresenta no ensino
confessional, ministrado, em caráter facultativo, nos estabelecimentos públicos e
privados de ensino, não sendo tal direito extensível aos presos.
Comentários:
O ato do diretor da unidade prisional viola o inciso VII do art. 5º da CRFB/88, que
assim dispõe: “é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa
nas entidades civis e militares de internação coletiva”.
O fato do Estado ser laico não impede a prestação de assistência religiosa em
unidades prisionais, pois não é o Estado brasileiro o responsável pela prestação
religiosa. O que o dispositivo constitucional garante é o acesso dos religiosos de
todas as confissões às entidades de internação coletiva. Gabarito Letra C

8.1 - REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS

8.1.1 Habeas Corpus

LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se


achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

Lembram do início da nossa aula? Qual a diferença entre direitos e garantias


fundamentais?
Direitos são bens constitucionalmente protegidos. Ex: liberdade de ir e vir; visa
tutelar um bem fundamental, que é a liberdade de locomoção. Já a garantia é um
instrumento para a concretização desse direito.
Pois bem. O Habeas Corpus é uma garantia fundamental, que se insere no bloco
dos remédios constitucionais. Diz-se “remédio” por ser um meio que o Constituinte
conferiu ao indivíduo para proteção de direito subjetivo, em razão de certa
ilegalidade ou abuso de poder cometido pelo Estado.
A finalidade do Habeas Corpus é servir de instrumento processual (ação judicial)
para proteção de valor fundamental. Tecnicamente, a objetivo do remédio é fazer
cessar uma ameaça ou coação à liberdade de locomoção do indivíduo, diante de um
ato coator praticado com ilegalidade ou abuso de poder.

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Qualquer pessoa física ou jurídica, seja nacional ou estrangeira, bem como menor
ou incapaz, pode impetrar um Habeas Corpus, assim como o Ministério Público
também é parte legítima.
A doutrina entende que, dado o seu caráter universal, o Habeas Corpus prescinde
de outorga de mandato judicial que autorize o impetrante a agir em favor daquele
que sofreu o constrangimento ilegal.
Ainda, não é preciso advogado para o ingresso da ação judicial, bem como eventual
interposição de Recurso Ordinário Constitucional contra decisão proferida no HC.

Ä Agora, aqui vale uma observação. A legitimidade ativa do Habeas


Corpus é ampla. Mas, em relação ao beneficiário do remédio
constitucional, pessoa jurídica não pode ser paciente do HC. Isso é lógico
prof... ela não tem como ter sua liberdade de locomoção sendo cerceada.
Exatamente. Rsrs ;)

E quem comete um ato que viola a liberdade de locomoção do indivíduo?


É o legitimado passivo. Está relacionado a uma autoridade coatora, seja ela de
caráter público ou particular. Autoridade coatora é aquele agente que determinou
a prisão ou a restrição da liberdade de ir e vir do indivíduo. Em linhas gerais, temos
um ato coator praticado por Juiz, Delegado...
Até aqui tudo bem, mas um particular pode mesmo cometer um ato coator? SIM!!!
Um exemplo seria um diretor de um hospital particular que se nega a liberar o
paciente até que as despesas médicas sejam pagas.
No campo jurisprudencial, o STF entende que o órgão competente está
desvinculado à causa de pedir (fundamento do pedido) e ao pedido. Ou seja,
havendo convicção sobre a existência de um ato ilegal, ainda que não mencionado
pelo impetrante (autor da ação) na peça inicial, o Poder Judiciário pode conceder a
ordem de soltura. 29

STF, HC 69.421/SP, DJ, 1, de 28.08.1992.


29

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Um aspecto interessante acerca do Habeas Corpus diz respeito às prisões militares


disciplinares. Aqui, há uma privação da liberdade do militar por ter cometido uma
transgressão disciplinar de caráter grave.
E nossa Constituição Federal de 1988 trouxe algo sobre o tema professor? Sim.
Temos essa possibilidade em seu artigo 5º, inciso LXI, segundo a qual:

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;

Então, quer dizer que o militar pode ser preso? Pode sim! “Mas, não caberia Habeas
Corpus para discutir se o ato coator foi ilegal ou não?”
A nossa CRFB/88, em seu art. 142, § 2º, estabeleceu que “Não caberá habeas
corpus em relação a punições disciplinares militares”. O entendimento do STF
acerca desse dispositivo é que, para discutir o mérito (motivo ou objeto) das
punições disciplinares militares não há que se falar em cabimento do Habeas
Corpus.
Entretanto, é cabível Habeas Corpus para discutir a legalidade de punições
disciplinares militares como, por exemplo, aspectos relacionados à competência do
agente e a concessão de ampla defesa e contraditório.
Por último, importante esclarecer que, diante de situações de instabilidade
institucional, como no caso do estado de defesa ou estado de sítio, entende-se que
Habeas Corpus poderá ser restringido. (mas não suprimido).

HABEAS
CORPUS

Só pode ser
Proteger a Caráter Advogado não é
Legitimados impetrado a Legitimados
liberdade de Preventivo ou indispensável /
Ativos favor de pessoa Passivos
locomoção Repressivo Isento de Custas
natural

Qualquer pessoa, Autoridade


física ou jurídica, Pública
nacional ou
estrangeira

Pessoa
Privada

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8.1.2 Mandado de Segurança

LXIX– conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido


e certo, não amparado por “habeas corpus” ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

O Mandado de Segurança é um remédio constitucional que possui certa


particularidade. Trata-se de um instrumento processual utilizado para combater
certos comportamentos ilegais e abusivos da administração pública ou de agentes
que atuam no exercício das atribuições do públicas.
A ilegalidade ocorre, por exemplo, quando a autoridade coatora não age em
conformidade com a lei. Já o abuso de poder, por outro lado, ocorre quando o
agente atua fora dos limites de sua competência.
Temos algumas características importantes acerca do Mandado de Segurança e, a
primeira delas, diz respeito à natureza da ação. Estamos diante de uma ação judicial
que possui natureza residual. Ou seja, somente é possível o uso deste remédio se
não houver a possibilidade do Habeas Corpus ou do Habeas Data. Daí a doutrina
nos dizer que o instituto é esculpido pelo Princípio da Subsidiariedade.
O Habeas Corpus nós acabamos de estudar e está relacionado à liberdade de
locomoção do indivíduo. Já o Habeas Data, está relacionado à obtenção de
informações próprias do impetrante (que lhe digam respeito); ou a retificação desses
dados. (fiquem tranquilos, iremos estudar adiante).
Um outro requisito fundamental é que estamos diante de um instrumento que visa
proteger direito líquido e certo do impetrante. Mas, o que seria isso prof.?
Direito líquido e certo é aquele de constatação evidente e imediata, ou seja, que
não precisa de qualquer comprovação futura para o seu reconhecimento. Por
exemplo, quando o autor ingressa com um Mandado de Segurança, ele precisa
demonstrar de plano a existência de um ato coator que está violando direito
subjetivo fundamental. E essa demonstração ocorre com a juntada de uma prova
documental.
Em termos processuais, não há que se falar na chamada dilação probatória, que
seria o estabelecimento de prazo para se produzir provas ao longo do processo
(periciais, testemunhais...).

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De acordo com a jurisprudência do STF, o conceito de direito líquido e certo está


relacionado à prova pré-constituída, em que a matéria de fato é tida como
incontroversa. Os fatos devem estar devidamente comprovados e documentados
no momento do ingresso da ação.
Mas, será que o direito também precisa ser incontroverso? Essa é uma questão
muito interessante. Vejamos!
O Supremo Tribunal, analisando esse ponto especificamente, consolidou o
entendimento de que a discussão sobre a matéria de direito pode ocorrer num
Mandado de Segurança sem problema algum. A prova pré-constituída é sobre a
matéria de fato. Nessa seara, tem-se a Súmula 625 do STF:
“controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança”.

Avançando um pouco em nosso estudo, vamos pensar acerca da legitimidade ativa.


Quem pode impetrar um Mandado de Segurança?

Todas as pessoas físicas ou jurídicas,


nacionais ou estrangeiras, domiciliadas ou
não no Brasil Ministério Público

Mandado de Segurança

As universalidades (que não chegam a ser


Alguns órgãos públicos (órgãos de grau pessoas jurídicas) reconhecidas por lei
superior), na defesa de suas prerrogativas como detentoras de capacidade processual
e atribuições para a defesa de seus direitos
Ex: massa falida/ espólio

Um detalhe importante é que o Mandado de Segurança pode ser repressivo


(quando o ato coator já ocorreu) ou preventivo (quando ainda não ocorreu o ato que
viola direito fundamental, mas há iminência de sua ocorrência).
No caso do “MS repressivo”, é importante observar o prazo para sua impetração. A
Lei 12.016/09, que rege o Mandado de Segurança, estabeleceu um prazo de 120

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dias contados a partir da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do


ato a ser impugnado. (que ocorre com a publicação na imprensa oficial)
“Professor, e se o indivíduo perder esse prazo?” Não caberá mais o remédio.
Todavia, ele poderá utilizar-se de uma ação de procedimento comum (antiga ação
ordinária), só que agora precisará discutir toda a matéria de fato, o que na prática
processual demandará mais tempo.
Com efeito, cumpre esclarecer que no Mandado de Segurança não há condenação
ao pagamento dos honorários advocatícios (ônus de sucumbência). Há apenas
custas processuais.
Para fecharmos esse tópico, a jurisprudência entende algumas situações do não
cabimento do MS. Vamos dar uma olhadinha só por desencargo de consciência (rs).

Ä Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial da qual caiba


recurso com efeito suspensivo;
Ä Não cabe mandado de segurança contra ato administrativo do qual
caiba recurso com efeito suspensivo.
O detalhe é que, em havendo possibilidade de recurso suspensivo, não há
que se falar em mandado de segurança. Isto porque, o direito já está
protegido pela própria suspensão. No entanto, temos uma exceção:
Súmula nº. 429/STF “a existência de recurso administrativo com efeito
suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão
de autoridade”.
Ä Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial transitada em
julgado;
Ä Não cabe mandado de segurança contra lei em tese, exceto se
produtora de efeitos concretos;

8.1.3 Mandado de Segurança Coletivo

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:


a) partido político com representação no Congresso Nacional;

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b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente


constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;

O mandado de segurança coletivo é uma ação judicial que também se insere


dentro do bloco dos remédios constitucionais. Trata-se de um instrumento que tem
por finalidade proteger um grupo ou categoria de pessoas diante de ato, omissão
ou até mesmo abuso de poder por parte de uma autoridade.
Mas, prof., não é a mesma coisa do Mandado de Segurança?
Então, quando falamos em Mandado de Segurança Coletivo a tutela é diferente.
Visa-se amparar os direitos coletivos e individuais homogêneos. Não estamos
falando de direito subjetivo individual do autor (como ocorre no MS individual)
Além disso, o texto constitucional fez uma reserva no que tange aos legitimados
ativos. Não temos aqui uma “cláusula aberta”. Pelo contrário, só quem pode
impetrar essa ação são as figuras descritas nas alíneas “a” e b”. Vamos consolidar?

Organização sindical
e/ou entidade de classe

Associação legalmente
constituída e em
Partido político com funcionamento há pelo
representação no menos um ano, em
Congresso Nacional defesa dos interesses
de seus membros ou
associados

Mandado de
Segurança
Coletivo

Pessoal, uma observação! A doutrina e a jurisprudência esclarecem que a exigência


de um ano de constituição e funcionamento da alínea “b” diz respeito apenas às
associações, jamais às entidades sindicais e de classe.
(...)

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Estão lembrados quando abordamos o tema da substituição processual? Então.


Este é um instituto aplicável ao Mandado de Segurança Coletivo. Quando se
ingressa com esta ação judicial, o legitimado ativo atua em nome próprio, mas para
a defesa de outrem. (grupo ou categoria de pessoas).
Por exemplo, quando o sindicato ingressa com um Mandado de Segurança Coletivo,
em termos processuais, a ação é encampada em nome do próprio sindicato (é ele o
autor da ação). Mas, a tutela aqui é de terceiros, no caso, dos filiados. O interesse
invocado pertence à categoria, como na situação de se discutir recebimento de
verbas salarias, direito de greve; assistência à saúde, etc.
Agora, o detalhe mais importante. Será que essa substituição processual demandará
uma autorização expressa dos titulares do direito em questão?
O Supremo Tribunal entende que não precisa de uma autorização expressa de cada
membro ou associado. Olha só a Súmula 629:

A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados
independe da autorização destes.

Outrossim, o STF entende que os direitos defendidos pelas entidades da alínea “b”
não precisam se referir a todos os membros. É o teor da Súmula 630:

A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão
veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.

8.1.4 Mandado de Injunção

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma


regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania
e à cidadania;

O comando acima nos diz que o Mandado de Injunção será aplicado diante da “falta
de norma regulamentadora” que inviabilize o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e as prerrogativas inerentes à nacionalidade, soberania e cidadania.
Temos aqui um remédio constitucional utilizado quando uma norma de eficácia
limitada da Constituição não for regulamentada. Cuidado, pois não estamos falando

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de uma ação judicial manejada com a finalidade de regulamentar direito


infraconstitucional. O preceito é para regulamentação de comando da Constituição.
E, no aspecto da eficácia limitada das normas constitucionais, a doutrina e
jurisprudência vai nos dizer que:
“as normas constitucionais que permitem o ajuizamento do mandado de injunção não decorrem de
todas as espécies de omissões do Poder Público, mas tão só em relação às normas constitucionais de
eficácia limitada de princípio institutivo de caráter impositivo e das normas programáticas vinculadas ao
princípio da legalidade, por dependerem de atuação normativa ulterior para garantir sua
aplicabilidade.”30

Assim, estão de fora do cabimento do “MI” as normas constitucionais definidoras


de princípios institutivos ou organizativos de natureza facultativa, pois delas não
emana um dever estatal de legislar.
(....)
Assim, em relação ao cabimento do Mandado de Injunção, podemos concluir que
são necessários 03 pressupostos:

Falta de norma que


regulamente uma norma
constitucional programática
propriamente dita ou que
defina princípios institutivos
ou organizativos de natureza
impositiva;

Nexo de causalidade entre a


omissão do legislador e a
impossibilidade de exercício
de um direito ou liberdade
constitucional ou prerrogativa
inerente à nacionalidade, à
soberania e à cidadania;

O decurso de prazo razoável


para elaboração da norma
regulamentadora
(retardamento abusivo na
regulamentação legislativa).

30
MI 6440 / DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes. Julg. 03.05.2018.

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Importante esclarecer que tanto as omissões de caráter total quanto as omissões de


caráter parcial31 ensejam a impetração do remédio. “Omissão parcial, professor (...)”.
Isso mesmo. A omissão parcial é quando há uma regulamentação de parte do
preceito constitucional (a outra parte continua omissa). É diferente de uma norma
defeituosa. Aqui, o legislador regulamentou a matéria. No entanto, a legislação
infraconstitucional não conseguiu trazer o alcance e sentido pretendido pela Carta
Magna.
No que tange ao legitimado ativo, pode ser impetrante da ação qualquer pessoa,
seja ela física ou jurídica, que esteja inviabilizada de exercer direito subjetivo
fundamental por conta da ausência de regulamentação do texto da CRFB/88.
Assim como os demais remédios constitucionais, o Mandado de Injunção em si (o
instrumento processual) nunca dependeu de uma regulamentação para ter plena
eficácia. Todavia, recentemente foi promulgada a Lei nº 13.300/2016, que acabou
sistematizando em um único diploma legislativo aquilo que já era aplicado no âmbito
da jurisprudência.
“E a nova legislação trouxe a figura do Mandado de Injunção Coletivo, professor?”
Sim. Ela trouxe a previsão expressa desta espécie, determinando que os direitos, as
liberdades e as prerrogativas protegidas são pertencentes, indistintamente, a uma
coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria.
Vamos dar uma olhadinha no art. 12:

Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:


I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente
relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos
interesses sociais ou individuais indisponíveis;
II - por partido político com representação no Congresso Nacional, para
assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus
integrantes ou relacionados com a finalidade partidária;
III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar
o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade
ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e

ADI 1484 DF, DJ 28/08/2001.


31

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desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto,


autorização especial;
IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente
relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos
individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art.
5o da Constituição Federal.

Alguma novidade? Podemos dizer que, além da analogia com o Mandado de


Segurança Coletivo que a jurisprudência já aplicava, agora temos a participação do
Ministério Público e da Defensoria Pública enquanto legitimados ativos. Fiquem
ligados!!!!
(...)
Avançando no tema, vamos analisar a eficácia da decisão do Mandado de Injunção.
Ela foi discutida durante muito tempo pela jurisprudência e pela doutrina, que
levantaram duas teses: a teoria não concretista e a concretista.
A corrente não concretista entende que a decisão apenas realizará uma
recomendação ao legislador para que regulamente o direito. Assim, a decisão
judicial não pode exercer a função legislativa, suprindo a omissão e assegurando o
exercício do direito ao autor, como também não pode impor que o Poder Legislativo
elabore a norma faltante. Era o entendimento antigo que se tinha no âmbito do
Supremo Tribunal.
Por outro lado, a corrente concretista determina que na decisão do Mandado de
Injunção, o Judiciário deve adotar uma postura ativa, ou seja, não basta reconhecer
a omissão legislativa, é necessário efetivar a concretização do direito. Esta corrente
possui duas vertentes: i) concretista geral e ii) concretista individual.
ü Na concretista geral, a decisão terá efeito erga omnes, pois o seu alcance irá
além do caso concreto em análise, atingindo todos os titulares do direito
enquanto a omissão legislativa permanecer.
ü Na concretista individual, os efeitos da decisão se limitam as partes do caso
concreto, (eficácia “inter partes”). Aqui mais uma vez ocorre uma divisão em:
concretista direta e concretista intermediária.
Ä A primeira defende que a implementação do direito para o autor seja
realizada pelo Judiciário de forma direta e imediatamente.
Ä Já a intermediária, defende que não cabe ao Judiciário a concretização
imediatamente do direito do autor da ação. Primeiro, o órgão omisso será
comunicado e haverá um prazo para suprir a omissão. Contudo, se a norma

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regulamentadora não for elaborada, então as providências necessárias para a


concretização do direito serão realizadas pelo Judiciário.
A corrente concretista tem sido a nova posição adotada pelo STF desde 2007. Uma
das primeiras manifestações ocorreu no caso “MI 712”, em que foi determinado a
aplicação por analogia da Lei nº 7.783/89 (Lei de greve aplicada ao setor privado)
no caso de greve no serviço público, enquanto a lei prevista no art. 37, VII, CF/88
não fosse editada.
Outra situação que demonstra o entendimento atual do STF é o conteúdo da Súmula
Vinculante sobre a concessão de aposentadoria especial para servidores públicos.
Há a previsão da necessidade da edição de uma lei complementar para o pleno
exercício do direito constitucional à aposentadoria dos servidores “cujas atividades
sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física” (art. 40, § 4º, III).
Após diversos mandados de injunção cujo objeto era a falta desta lei, o STF editou
a Súmula Vinculante nº 33, que assim determinou:

“Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre
aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de
lei complementar específica”.

Ao analisar a eficácia subjetiva da decisão, nota-se que a Lei nº 13.300/2016 adotou,


como regra, a teoria concretista individual, pois consta no caput do seu art. 9º que,
em mandado de injunção, “a decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e
produzirá efeitos até o advento da norma regulamentadora”.
Contudo, o §1º do mesmo artigo traz a possibilidade de a eficácia da decisão ser
ampliada, ou seja, passando a ter eficácia ultra partes ou erga omnes, quando isso
for inerente ou indispensável ao exercício do direito, liberdade ou da prerrogativa
objeto da impetração.
Outrossim, ao analisar a Lei nº 13.300/2016, percebe-se que o Legislador adotou a
corrente intermediária quanto ao reconhecimento da mora legislativa (art. 8º). Isto
porque, reconhecida a mora, será deferida a injunção para:
Ä determinar um prazo razoável será estipulado para a elaboração da
norma regulamentadora pelo impetrado; e
Ä estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das
liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições

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em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los,


caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado.
Meus amigos, em termos de “MI” é isso. Ah... lembrei (rs)...não esqueçam de um
detalhe na hora prova: o mandado de injunção não é instrumento judicial gratuito
e, para a sua impetração, há a necessidade da assistência de advogado.

MANDADO DE
INJUNÇÃO

Suprir falta de norma Qualquer pessoa física


Não há isenção de
regulamentadora d ou jurídica, nacional ou Legitimados Passivos
custas
comando da CF estrangeira

Autoridade que se
omitiu à proposição da
lei ou ato normativo

8.1.5 Habeas Data

LXXII - conceder-se-á "habeas-data":


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo;

Vamos comentar um pouco acerca da figura do Habeas Data. Trata-se de um


remédio constitucional que possui duas condições de cabimento:
Ä o acesso a informações próprias (que digam respeito à pessoa),
presentes em registros de bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público;
Ä o direito de retificar dados, também presentes em banco de dados de
entidades governamentais ou de caráter público, caso o impetrante não
deseje fazer tal retificação por um processo sigiloso, judicial ou
administrativo.

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No plano infraconstitucional, há uma terceira situação que pode implicar na


impetração do habeas data. Ela está prevista na Lei no 9.507/97, que disciplina o rito
processual deste remédio. Vejamos:
Ä para anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou
explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável e que esteja sob
pendência judicial ou amigável.
Do ponto de vista processual, entende-se que o habeas data é uma ação de natureza
civil, rito mais célere e que tem como objetivo o ato de obter, acrescentar ou retificar
uma informação.
A legitimidade ativa cabe a qualquer pessoa física ou jurídica, brasileira ou
estrangeira. Contudo, é importante esclarecer que não é possível ter acesso às
informações de terceiros por meio desta medida judicial. Trata-se de uma ação
personalíssima.
Poderão ser sujeitos passivos do habeas data (i) entidades governamentais da
Administração direta e indireta; e (ii) pessoas jurídicas de direito privado que
mantenham banco de dados aberto ao público (banco de dados de caráter público).
E quanto ao banco de dados de caráter privado? Então. A doutrina e a jurisprudência
entendem não ser cabível. Muito cuidado!!!! Por exemplo, o prof. Diego deseja
obter informações do seu cadastro no setor de RH do Estratégia Concursos. Será
que cabe Habeas Data? Não. É um banco de dados de caráter privado. (da própria
instituição de ensino)
O art. 8º da Lei no 9.507/97 determina que petição inicial deverá ser instruída com
prova:

I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias


sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze
dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação no cadastro do interessado quando
este apresentar explicação ou contestação sobre o dado, ainda que não
seja constatada a sua inexatidão, ou do decurso de mais de quinze dias
sem decisão.

Percebam que o impetrante ao ingressar com um Habeas Data deve comprovar a


negativa ou o decurso do tempo sem resposta da autoridade administrativa. Trata-
se de um requisito de admissibilidade da ação: o interesse de agir da parte. Este

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tema inclusive já foi sedimentado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça - Súmula


02 do STJ:

Não cabe o habeas data se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa.

Lembram das exceções ao princípio da inafastabilidade do exercício do poder


jurisdicional? Pois bem. O Habeas data é uma dessas exceções. É uma hipótese de
“jurisdição condicionada” prevista no ordenamento jurídico.
Outra informação importante para fins de estudo é a disposição do inciso LXXVII do
art. 5º da CF/88, que estabelece a gratuidade de justiça. Isto significa que não há
custas judiciais e ônus de sucumbência para o Habeas Data. No entanto, vale
esclarecer que a assistência de um advogado é necessária. Cuidado com essa
pegadinha, viu? ;)

No âmbito da jurisprudência, em 2015 o Supremo Tribunal entendeu que


o habeas data pode ser utilizado pelo contribuinte como instrumento para
adquirir informações sobre ele constantes nos órgãos de arrecadação da
administração tributária.
A ideia, meus amigos, é que o contribuinte tem direito de preservar o
status do seu nome, seu planejamento empresarial, sua estratégia de
investimento e até mesmo questões relacionadas à gestão de tributos
pagos ao fisco.32 Segue trecho do RE 673.707/MG transcrito abaixo:

Ä “o habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção,


pelo próprio contribuinte, dos dados concernentes ao pagamento de
tributos constantes de sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos
órgãos administração da fazendária dos entes estatais”.

32
RE 673.707/MG. Rel. Min. Luiz Fux. 17.06.2015.

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HABEAS DATA

Direito à informação,
retificação ou
assentamento de dados - Qualquer PF ou PJ,
Legitimados Passivos Há isenção de custas
constante de registros ou nacional ou estrangeira
bancos de dados

Entidades governamentais ou
PJ de caráter público que
tenham registros ou banco de
dados, ou, ainda, PJ de direito
privado detentoras de banco
de dados de caráter público

8.1.6 Ação Popular

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

A ação popular é um dos instrumentos previstos na Constituição para viabilizar a


participação do cidadão na vida pública, exercendo um controle dos atos do Poder
Público. Ao ingressar com tal medida, o que se busca é a anulação do ato lesivo ao
patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural.
Uma primeira observação! Não é permitida a impetração da ação popular contra
decisões judiciais, pois são atos praticados pelo Poder Judiciário cujo conteúdo é
jurisdicional. Só cabe ação popular contra a atuação administrativa do Poder
Público33.
“E quem tem legitimidade para ingressar com a ação popular, professor?” Ótima
pergunta! Pegadinha clássica cobrada em prova. Muita atenção aqui, pois o

33
STF, Petição nº 2.018-9/SP, Rel. Ministro Celso de Mello, de 29/06/2000.

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dispositivo constitucional traz expressamente que “qualquer cidadão é parte


legítima”.
Assim, a condição de cidadão é alcançada quando o nacional adquire a qualidade
de eleitor. Isto significa que apenas a pessoa física em pleno gozo de seus direitos
civis e políticos pode utilizar-se do remédio constitucional, seja de maneira
preventiva ou repressiva.
O STF, inclusive, já editou inclusive a Súmula nº 365 que determina: “Pessoa jurídica
não tem legitimidade para propor ação popular.”
Outrossim, de acordo com o art. 1º, § 3º da Lei 4.717/65 “A prova da cidadania,
para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele
corresponda”.
Caso o ato lesivo não seja questionado pelo cidadão por meio da ação popular,
poderia o Ministério Público impetrá-la? NÃO! Apenas quem tem a qualidade de
“cidadão” pode utilizar este remédio constitucional. O Ministério Público atua como
fiscal da lei apenas nas ações populares. (art. 127 da CRFB/88).

Aqui vale uma observação (inclusive caiu no XXIX Exame de Ordem)

Ä O Ministério Público pode atuar como “substituto do autor”. Tal fato


irá ocorrer quando o autor da ação (cidadão) ainda é parte no processo,
mas acaba sendo omisso. O MP atuará cumprindo ônus processuais
imputados ao autor.

Ä O Ministério Público pode atuar como “substituto do autor”. Tal fato


irá ocorrer quando o autor desiste da Ação Popular. Assim, em havendo
interesse público, o MP terá tem a faculdade de prosseguir com a ação.
Agora, cuidado. Será vedado ao MP desistir da “AP”. O poder de escolha
recai no ato de suceder ou não o autor.

(...)
Avançando no estudo, vamos analisar agora os legitimados passivos. O art. 6º da Lei
4.717/65 nos diz que

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“A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra
as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou
praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os
beneficiários diretos do mesmo”.

Todas as pessoas
jurídicas em nome
das quais o ato
ou contrato lesivo
foi (ou seria)
praticado

Ação
Popular
Autoridades, os
administradores e Todos os
os servidores que beneficiários
participaram do diretos do ato ou
ato lesivo ou se contrato lesivo
omitiram

Cumpre destacar que, para o STF, ocorrendo o dano já está caracterizada a


lesividade. Assim, não é necessária a comprovação de efetivo dano material
(pecuniário).
Outro ponto digno de nota é que não há prerrogativa de foro na Ação Popular.
“Professor, então quer dizer que se um Presidente da República ou um parlamentar,
por exemplo, cometer um ato lesivo ao patrimônio público será julgado na 1ª
instância? Isso mesmo. ;)
Para fecharmos o estudo dos remédios constitucionais, duas informações:
Ä Não há prazo decadencial para o ajuizamento da ação popular; e
Ä A ação judicial não gera para o autor, em regra, a obrigação de pagar
custas judiciais e o ônus da sucumbência (honorários advocatícios da outra

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parte). A obrigação somente ocorrerá caso seja comprovada má fé do


autor.

19. (FGV / XXII Exame de Ordem – 2017) A Lei nº 13.300/16, que disciplina o
processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo, surgiu
para combater o mal da síndrome da inefetividade das normas constitucionais.
Nesse sentido, o seu Art. 8º, inciso II, inovou a ordem jurídica positivada ao
estabelecer que, reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a
injunção para estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos,
das liberdades ou das prerrogativas reclamados, ou, se for o caso, as condições
em que o interessado poderá promover ação própria visando a exercê-los, caso
não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado. Considerando o
conteúdo normativo do Art. 8º, inciso II, da Lei nº 13.300/16 e a teoria acerca da
efetividade das normas constitucionais, assinale a afirmativa correta.
a) Foi adotada a posição neoconstitucionalista, na qual cabe ao Poder Judiciário
apenas declarar formalmente a mora legislativa, atuando como legislador
negativo e garantindo a observância do princípio da separação dos poderes, sem
invadir a esfera discricionária do legislador democrático.
b) Foi consolidada a teoria concretista, em prol da efetividade das normas
constitucionais, estabelecendo as condições para o ativismo judicial, revestindo-
o de legitimidade democrática, sem ferir a separação de Poderes e, ao mesmo
tempo, garantindo a força normativa da Constituição.
c) Foi promovida a posição não concretista dentro do escopo de um Estado
Democrático de Direito, na qual cabe ao Poder Judiciário criar direito para sanar
omissão legiferante dos Poderes constituídos, geradores da chamada “síndrome
da inefetividade das normas constitucionais”, em típico processo objetivo de
controle de constitucionalidade.
d) Foi retomada a posição positivista normativista, concedendo poderes
normativos momentâneos aos juízes e tribunais, de modo a igualar os efeitos da
ação direta de inconstitucionalidade por omissão (modalidade do controle
abstrato) e do mandado de injunção (remédio constitucional).
Comentários:

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A Lei nº 13.300/2016 adotou a corrente concretista intermediária individual para


os efeitos do mandado de injunção.
O Poder Judiciário não se limitará a declarar a mora legislativa; ao contrário,
buscará concretizar o direito, garantindo a efetividade das normas constitucionais.
Dessa forma, por meio de uma atuação ativa do Poder Judiciário (ativismo judicial)
será garantida a força normativa da Constituição. O gabarito é a letra B.

20. (FGV / XVI Exame de Ordem Unificado – 2015) J.G., empresário do ramo
imobiliário, surpreendeu-se ao tomar conhecimento de que seu nome constava
de um banco de dados de caráter público como inadimplente de uma dívida no
valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). Embora reconheça a existência da
dívida, entende que o não pagamento encontra justificativa no fato de o valor a
que foi condenado em primeira instância ainda estar sob discussão em grau
recursal. Com o objetivo de fazer com que essa informação complementar passe
a constar juntamente com a informação principal a respeito da existência do
débito, consulta um advogado, que sugere a impetração de um habeas data.
Sobre a resposta à consulta, assinale a afirmativa correta.
(A) O habeas data não é o meio adequado, já que a ordem jurídica não prevê a
possibilidade de sua utilização para complementar dados, mas apenas para
garantir o direito de acessá-los ou retificá-los.
(B) Deveria ser impetrado, em vez de habeas data, mandado de segurança, ação
constitucional adequada para os casos em que se faça necessária a proteção de
direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data.
(C) Deve ser impetrado habeas data, pois, embora o texto constitucional não
contemple a hipótese específica do concreto, a lei ordinária o faz, de modo a
ampliar o âmbito de incidência do habeas data como ação constitucional.
(D) O habeas data não deve ser impetrado, pois a lei ordinária não pode ampliar
uma garantia fundamental prevista no texto constitucional, já que tal configuraria
violação ao regime de imutabilidade que acompanha os direitos e as garantias
fundamentais.
Comentários:
A Lei no 9.507/97, que regula o direito de acesso a informações e disciplina o rito
processual do habeas data prevê que esse remédio constitucional pode ser usado
para anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação

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sobre dado verdadeiro, mas justificável que esteja sob pendência judicial ou
amigável. O gabarito é a letra C.

21. (FGV / XV Exame de Ordem Unificado – 2014) Pedro promoveu ação em


face da União Federal e seu pedido foi julgado procedente, com efeitos
patrimoniais vencidos e vincendos, não havendo mais recurso a ser interposto.
Posteriormente, o Congresso Nacional aprovou lei, que foi sancionada,
extinguindo o direito reconhecido a Pedro. Após a publicação da referida lei, a
Administração Pública federal notificou Pedro para devolver os valores recebidos,
comunicando que não mais ocorreriam os pagamentos futuros, em decorrência
da norma em foco. Nos termos da Constituição Federal, assinale a opção correta.
(A) A lei não pode retroagir, porque a situação versa sobre direitos indisponíveis
de Pedro.
(B) A lei não pode retroagir para prejudicar a coisa julgada formada em favor de
Pedro.
(C) A lei pode retroagir, pois não há direito adquirido de Pedro diante de nova
legislação.
(D) A lei pode retroagir, porque não há ato jurídico perfeito em favor de Pedro
diante de pagamentos pendentes.
Comentários:
O enunciado informa que não cabe mais recurso contra a ação favorável ao
pedido de Pedro. Trata-se, portanto, de coisa julgada, que não pode ser
prejudicada por lei (art. 5o, XXXVI, CF). O gabarito é a letra B.

22. (FGV / XIV Exame de Ordem Unificado – 2014) Isabella promove ação
popular em face do Município X, por entender que determinados gastos
realizados estariam causando graves prejuízos ao patrimônio público. O pedido
veio a ser julgado improcedente, por total carência de provas. Inconformada,
Isabella apresenta a mesma ação com fundamento em novos elementos, e, mais
uma vez, o pedido vem a ser julgado improcedente por carência de provas. Nos
termos da Constituição Federal e da legislação de regência, assinale a opção
correta.
A) Sendo o pedido julgado improcedente, haverá condenação em honorários
advocatícios.

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B) A improcedência por ausência de provas caracteriza a má-fé do autor popular.


C) A reiteração na propositura da mesma ação acarreta o pagamento de custas
pelo autor popular.
D) As custas serão devidas se declarada, expressamente, a má-fé do autor
popular.
Comentários:
Versa o inciso LXXIII do art. 5o da Constituição que qualquer cidadão é parte
legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
A letra A está incorreta. Não cabe condenação em honorários advocatícios na
hipótese de o pedido ser julgado improcedente, a não ser que seja comprovada
má-fé do autor.
A letra B está incorreta. A ausência de provas, por si só, não caracteriza a má-fé
do autor da ação popular.
A letra C está incorreta. Não há tal previsão em nosso ordenamento jurídico. A
reiteração na propositura da ação popular não acarreta o pagamento de custas
por ele.
A letra D está correta. Caso a má-fé do autor seja declarada expressamente, serão
devidas as custas judiciais. O gabarito é a letra D.

23. (FGV / XIII Exame de Ordem Unificado – 2014) A ação de habeas data, como
instrumento de proteção de dimensão do direito de personalidade, destina-se a
garantir o acesso de uma pessoa a informações sobre ela que façam parte de
arquivos ou banco de dados de entidades governamentais ou públicas, bem como
a garantir a correção de dados incorretos. A partir do fragmento acima, assinale
a opção correta.
A) Conceder-se-á habeas data para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante ou de parente deste até o segundo grau,
constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou
privadas.

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B) Além dos requisitos previstos no Código de Processo Civil para petição inicial,
a ação de habeas data deverá vir instruída com prova da recusa ao acesso às
informações ou o simples decurso de dez dias sem decisão.
C) Do despacho de indeferimento da inicial de habeas data por falta de algum
requisito legal para o ajuizamento caberá agravo de instrumento.
D) A ação de habeas data terá prioridade sobre todos os atos judiciais, com
exceção ao habeas corpus e ao mandado de segurança.

Comentários:
A letra A está incorreta. O habeas data é ação personalíssima, só sendo cabível
para assegurar o conhecimento de informações relativas ao impetrante.
A letra B está incorreta. A Lei no 9.507/97 prevê, em seu art. 8°, que a petição
inicial do habeas data deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem
decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação no cadastro do interessado quando este
apresentar explicação ou contestação sobre o dado, ainda que não seja
constatada a sua inexatidão, ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão.
A letra C está incorreta. O recurso cabível, nesse caso, é a apelação, não o agravo
de instrumento.
A letra D está correta. É o que prevê o art. 19 da Lei no 9.507/97.

24. (FGV / XI Exame de Ordem Unificado – 2013) Em atenção às recentes


manifestações populares, fora noticiado na TV que determinados deputados
estaduais de dado Estado da Federação estavam utilizando a verba do orçamento
destinada à saúde para proveito próprio. Marcos, cidadão brasileiro, insatisfeito
com a notícia e de posse de documentação que denota indícios de lesão ao
patrimônio de seu Estado, ajuíza Ação Popular no Juízo competente em face dos
aludidos deputados e do Estado. Em atenção ao disciplinado na Lei n. 4.717/65,
que trata da Ação Popular, assinale a alternativa incorreta.

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(A) Marta, cidadã brasileira, residente e domiciliada no mesmo Estado, pode


habilitar-se como litisconsorte de Marcos.
(B) Na mesma linha da ação de Mandado de Segurança, o direito de ajuizá-la decai
em 5 (cinco) anos.
(C) O Estado, a juízo de seu representante legal, em se afigurando útil ao interesse
público, poderá atuar ao lado de Marcos na condução da ação.
(D) Sendo julgada improcedente a ação movida por Marcos, poderá este recorrer,
além do Ministério Público e qualquer outro cidadão.
Comentários:
A letra A está correta. Qualquer cidadão pode se habilitar como litisconsorte ou
assistente na ação popular, nos termos do art. 6º, § 5º da Lei n.º 4.717/65.
A letra B está incorreta. Não há prazo decadencial para o ajuizamento da ação
popular.
A letra C está correta. O Estado, quando útil ao interesse público, poderá
ingressar na ação popular, ao lado do autor. Nos termos do art. 6o, § 3º da Lei
n.º 4.717/65, a pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato
seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá
atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo
do respectivo representante legal ou dirigente.
A letra D está correta. Uma vez julgada improcedente a ação popular, o autor.
bem como qualquer cidadão e o Ministério Público são legitimados a interpor
recurso, nos termos do art. 19, § 2º da Lei n.º 4.717/65.
Gabarito: Letra B.

25. (FGV / X Exame de Ordem Unificado – 2013) Em relação aos remédios


constitucionais, assinale a afirmativa correta.
(A) O habeas data pode ser impetrado ainda que não haja negativa administrativa
em relação ao acesso a informações pessoais.
(B) A ação popular pode ser impetrada por pessoa jurídica.
(C) O particular pode figurar no polo passivo da ação de habeas corpus.
(D) O mandado de segurança somente pode ser impetrado quando as questões
jurídicas forem incontroversas.

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Comentários:
A letra A está incorreta. O habeas data somente pode ser impetrado quando
houver o interesse de agir, configurado pela recusa da entidade governamental
ou de caráter público a dar acesso às informações pessoais.
A letra B está incorreta. Somente o cidadão pode impetrar ação popular.
A letra C está correta. De fato, o particular também pode figurar no polo passivo
do habeas corpus. É o caso de hospital que se recuse a dar alta a paciente, por
exemplo.
A letra D está incorreta. De acordo com a súmula no 625, do STF, controvérsia
sobre matéria de direito não impede a concessão de mandado de segurança.
O gabarito é a letra C.

26. (FGV / IX Exame de Ordem Unificado – 2012) A respeito da ação de habeas


corpus, assinale a afirmativa incorreta.
(A) Pode ser impetrado por estrangeiro residente no país.
(B) É cabível contra punição disciplinar militar imposta por autoridade
incompetente.
(C) Não é meio hábil para controle concreto de constitucionalidade.
(D) A Constituição assegura a gratuidade para seu ajuizamento.
Comentários:
A letra A está correta. Os estrangeiros, residentes ou não no Brasil, podem
impetrar habeas corpus.
A letra B está correta. O habeas corpus não é cabível contra punição disciplinar
militar.
A letra C está incorreta. O habeas corpus é, sim, ação cabível para o controle
concreto de constitucionalidade. O gabarito é a letra C.
A letra D está correta. De acordo com o inciso LXXVII do art. 5o da Constituição,
são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os
atos necessários ao exercício da cidadania.

27. (FGV / VII Exame de Ordem Unificado – 2012) O mandado de segurança


coletivo NÃO pode ser impetrado por:

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(A) organização sindical.


(B) partido político com representação no Congresso Nacional.
(C) entidade de classe de âmbito nacional.
(D) associações paramilitares.
Comentários:
De acordo com o inciso LXX do art. 5o da Constituição, o mandado de segurança
coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída
e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados.
A Carta Magna proíbe a criação de associações de caráter paramilitar (art. 5o,
XVII, CF). Gabarito: Letra D.

28. (FGV/ IV Exame de Ordem Unificado – 2011) Determinado congressista é


flagrado afirmando em entrevista pública que não se relaciona com pessoas de
etnia diversa da sua e não permite que, no seu prédio residencial, onde atua como
síndico, pessoas de etnia negra frequentem as áreas comuns, os elevadores
sociais e a piscina do condomínio. Ciente desses atos, a ONG Tudo Afro relaciona
as pessoas prejudicadas e concita a representação para fins criminais com o intuito
de coibir os atos descritos. À luz das normas constitucionais e dos direitos
humanos, é correto afirmar que
(A) o crime de racismo é afiançável, sendo o valor fixado por decisão judicial.
(B) o prazo de prescrição incidente sobre o crime de racismo é de vinte anos.
(C) nos casos de crime de racismo, a pena cominada é de detenção.
(D) o crime de racismo não está sujeito a prazo extintivo de prescrição.
Comentários:
De acordo com o inciso XLII do art. 5o da Constituição, a prática do racismo
constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
da lei. O gabarito é a letra D.

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29. (FGV/ IV Exame de Ordem Unificado – 2011) O habeas data não pode ser
impetrado em favor de terceiro porque visa tutelar direito à informação relativa à
pessoa do impetrante. A respeito do enunciado acima, é correto afirmar que:
a) ambas as afirmativas são verdadeiras, e a primeira justifica a segunda.
b) a primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa.
c) a primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira.
d) ambas as afirmativas são falsas.
Comentários:
O habeas data é ação personalíssima, só podendo ser impetrada para garantir
acesso a informações do impetrante. Não pode ser impetrada em favor de
terceiro. O gabarito é a letra A.

30. (FGV / IV Exame de Ordem Unificado – 2011) A respeito da garantia


constitucional do acesso ao Poder Judiciário, assinale a alternativa correta.
(A) O Poder Judiciário admitirá ações relativas à disciplina e às competições
desportivas paralelamente às ações movidas nas instâncias da justiça desportiva.
(B) De acordo com posição consolidada do Supremo Tribunal Federal, não ofende
a garantia de acesso ao Poder Judiciário a exigência de depósito prévio como
requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a
exigibilidade de crédito tributário.
(C) A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
(D) É assegurado a todos, mediante pagamento de taxas, o direito de petição aos
Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.
Comentários:
A letra A está incorreta. O art. 217, § 1º, da CF/88, determina que “o Poder
Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas
após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.”
A letra B está incorreta. O STF considerou que “é inconstitucional a exigência de
depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se
pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário”. (Súmula Vinculante no 28).
A letra C está correta. É o que prevê o inciso LXXVIII do art. 5o da Constituição.

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A letra D está incorreta. O direito de petição independe do pagamento de taxas


(art. 5o, XXXIV, CF). Gabarito: Letra C.

31. (FGV / XX Exame de Ordem Unificado – 2016) José, brasileiro de dezesseis


anos de idade, possuidor de título de eleitor e no pleno gozo dos seus
direitos políticos, identifica, com provas irrefutáveis, ato lesivo do Presidente da
República que atenta contra a moralidade administrativa. Com base no fragmento
acima, assinale a opção que se coaduna com o instituto jurídico da Ação Popular.
A) José, desde que tenha assistência é parte legítima para propor Ação Popular
em face do Presidente da República perante o Supremo Tribunal Federal.
B) José, ainda que sem assistência é parte legítima para propor Ação Popular
em face do Presidente da República perante o juiz natural de primeira instância.
C) José, ainda que sem assistência, é parte legítima para propor Ação Popular em
face do Presidente da República perante o Supremo Tribunal Federal.
D) José não é parte legítima para propor Ação Popular em face do Presidente
da República, porque ainda não é considerado cidadão.
Comentários:
Meus amigos, questão tranquila hein? Estudamos que ato lesivo que atenta contra
à moralidade administrativa e praticado por cidadão temos a Ação Popular.
Em relação ao legitimado ativo, é considerado cidadão aquele que estiver em
pleno gozo de seus direitos políticos. E o título de eleitor dá ao nacional (nato ou
naturalizado) a condição de cidadão brasileiro. No caso da questão, ainda que
José seja menor, ele possui 16 anos e está em pleno gozo de seus direitos
políticos. Assim ele é legitimado para impetrar ação popular e não há necessidade
de assistência de um responsável legal.
A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade é, via
de regra, do juízo competente de primeiro grau. Gabarito Letra B.

32. (FGV / XXIV Exame de Ordem Unificado – 2017) Atos generalizados de


violência e vandalismo foram praticados nas capitais de alguns estados do país,
com ações orquestradas pelo crime organizado. Identificados e presos alguns dos
líderes desses movimentos, numerosos políticos, com apoio popular, propuseram
a criação, pela forma juridicamente correta, de um juízo especial para apreciação
desses fatos, em caráter temporário, a fim de que o julgamento dos líderes presos

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se revele exemplar. Ao submeterem essa ideia a um advogado constitucionalista,


este afirma que, segundo a ordem jurídico-constitucional brasileira, a criação de
tal juízo:
A) é constitucional, pois o apoio popular tem o condão de legitimar a atuação do
poder público, ainda que esta seja contrária ao ordenamento jurídico vigente.
B) é inconstitucional, em razão de vedação expressa da Constituição da República
de 1988 à criação de juízo ou tribunal de exceção.
C) necessita de previsão legislativa ordinária, já que a criação de juízos é
competência do Poder Legislativo, após iniciativa do Poder Judiciário.
D) pressupõe a necessária alteração da Constituição da República de 1988, por
via de emenda, de maneira a suprimir a vedação ali existente.
Comentários:
Essa questão cobrou o entendimento do art. 5º XXXVII - não haverá juízo ou
tribunal de exceção. No caso prático, não há possibilidade de criação desse juízo
especial com objeto de punir a prática de vandalismo e a violência. Isso equivaleria
a um juízo ou tribunal de exceção. Gabarito Letra B

33. (FGV / XXV Exame de Ordem Unificado – 2018) Jean Oliver, nascido em
paris, na França, naturalizou-se brasileiro no ano de 2003. Entretanto, no ano de
2016, foi condenado, na França, por comprovado envolvimento de tráfico ilícito
de drogas (cocaína), no território francês, entre os anos de 2010 e 2014. Antes da
condenação, em 2015, Jean passou a residir no Brasil. A França, com quem o
Brasil possui tratado de extradição de Jean, a fim de que cumpra, naquele país, a
pena de oito anos à qual foi condenado. Apreensivo, Jean, procura um advogado
e o questiona acerca da possibilidade de o Brasil extraditá-lo. O advogado, então,
responde que, segundo o sistema jurídico constitucional brasileiro, a extradição
A) não é possível, já que, a Constituição Federal, por não fazer distinção entre o
brasileiro nato e o brasileiro naturalizado, não pode autorizar tal procedimento.
B) não é possível, pois o Brasil não extradita seus cidadãos nacionais naturalizados,
por crime comum praticado após a oficialização do processo de naturalização.
C) é possível, pois a Constituição Federal prevê a possibilidade de extradição em
caso de comprovado envolvimento com tráfico ilícito de drogas, ainda que
praticado após a naturalização.

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D) é possível, pois a Constituição Federal autoriza que o Brasil extradite qualquer


brasileiro quando comprovado o seu envolvimento na prática de crime hediondo
em outro país.
Comentários:
Opa!!!! Pra fecharmos o estudo de hoje, vamos a uma questão de 2018 cobrada
no XXV Exame OAB. Aqui pessoal, não tivemos surpresas. A FGV cobrou o
entendimento literal do art. 5º, LI, da nossa Constituição: “nenhum brasileiro será
extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”. Assim, Jean Oliver, na condição
de brasileiro naturalizado pode sim ser extraditado diante do comprovado
envolvimento com tráfico ilícito de drogas. Gabarito Letra C.

34. (FGV / XXIX Exame de Ordem Unificado – 2019) O Município X, visando à


interligação de duas importantes zonas da cidade, após o regular procedimento
licitatório, efetua a contratação de uma concessionária que ficaria responsável
pela construção e administração da via. Ocorre que, em análise do projeto básico
do empreendimento, constatou-se que a rodovia passaria em área de preservação
ambiental e ensejaria graves danos ao ecossistema local. Com isso, antes mesmo
de se iniciarem as obras, Arnaldo, cidadão brasileiro e vereador no exercício do
mandato no Município X, constitui advogado e ingressa com Ação Popular
postulando a anulação da concessão. Com base na legislação vigente, assinale a
afirmativa correta.
A) A Ação Popular proposta por Arnaldo não se revela adequada ao fim de
impedir a obra potencialmente lesiva ao meio ambiente.
B) A atuação de Arnaldo, na qualidade de cidadão, é subsidiária, sendo
necessária a demonstração de inércia por parte do Ministério Público.
C) A ação popular, ao lado dos demais instrumentos de tutela coletiva, é
adequada à anulação de atos lesivos ao meio ambiente, mas Arnaldo não
precisaria constituir advogado para ajuizá-la.
D) Caso Arnaldo desista da Ação Popular, o Ministério Público ou qualquer
cidadão que esteja no gozo de seus direitos políticos poderá́ prosseguir com a
demanda.
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O disposto na alternativa “D” está em conformidade com o previsto na Lei da


Ação Popular 4.717/65, que em seu art. 9º prevê que o seguinte: “Se o autor
desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais
nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a
qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do
prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento
da ação”.
Com efeito, na hipótese de desistência da Ação Popular, tal fato não prejudicará
o prosseguimento da demanda. Será possível a continuidade da ação pelo MP ou
qualquer cidadão que esteja no gozo de seus direitos políticos. Gabarito Letra D

35. (FGV/XXX Exame de Ordem Unificado – 2019) O Supremo Tribunal Federal


reconheceu a periculosidade inerente ao ofício desempenhado pelos agentes
penitenciários, por tratar-se de atividade de risco. Contudo, ante a ausência de
norma que regulamente a concessão da aposentadoria especial no Estado Alfa,
os agentes penitenciários dessa unidade federativa encontram-se privados da
concessão do referido direito constitucional. Diante disso, assinale a opção que
apresenta a medida judicial adequada a ser adotada pelo Sindicato dos Agentes
Penitenciários do Estado Alfa, organização sindical legalmente constituída e em
funcionamento há mais de 1 (um) ano, em defesa da respectiva categoria
profissional.
A) Ele pode ingressar com mandado de injunção coletivo para sanar a falta da
norma regulamentadora, dispensada autorização especial dos seus membros.
B) Ele não possui legitimidade ativa para ingressar com mandado de injunção
coletivo, mas pode pleitear aplicação do direito constitucional via ação civil
pública.
C) Ele tem legitimidade para ingressar com mandado de injunção coletivo, cuja
decisão pode vir a ter eficácia ultra partes, desde que apresente autorização
especial dos seus membros.
D) Ele pode ingressar com mandado de injunção coletivo, mas, uma vez
reconhecida a mora legislativa, a decisão não pode estabelecer as condições em
que se dará́ o exercício do direito à aposentadoria especial, sob pena de ofensa
à separação dos Poderes.

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O Mandado de Injunção é um remédio utilizado em caso de omissão a um direito


constitucional, ou seja, quando não ocorre a regulamentação exigida pela
CRFB/88 para o exercício de um direito.
A CRFB/88 não traz a previsão expressa do mandado de injunção coletivo, por
isso o STF sempre fez uma analogia com o mandado de segurança coletivo
entendendo que os legitimados ativos seriam os mesmos.
Atualmente, temos a Lei 13.300/2016 disciplinando não só o mandado de
injunção individual, mas também o coletivo. Nessa legislação foi unificado todo o
entendimento jurisprudencial e encontramos a resposta da questão exatamente
no inciso III, do art. 12 transcrito abaixo:
Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:
III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o
exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de
parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que
pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial;
Gabarito Letra A

36. (FGV/XXX Exame de Ordem Unificado – 2019) Giuseppe, italiano, veio ainda
criança para o Brasil, juntamente com seus pais. Desde então, nunca sofreu
qualquer tipo de condenação penal, constituiu família, sendo pai de um casal de
filhos nascidos no país, possui título de eleitor e nunca deixou de participar dos
pleitos eleitorais. Embora tenha se naturalizado brasileiro na década de 1990, não
se sente brasileiro. Nesse sentido, Giuseppe afirma que é muito grato ao Brasil,
mas que, apesar do longo tempo aqui vivido, não partilha dos mesmos valores
espirituais e culturais dos brasileiros. Giuseppe mora em Vitória/ES e descobriu o
envolvimento do Ministro de Estado Alfa em fraude em uma licitação cujo
resultado beneficiou, indevidamente, a empresa de propriedade de seus irmãos.
Indignado com tal atitude, Giuseppe resolveu, em nome da intangibilidade do
patrimônio público e do princípio da moralidade administrativa, propor ação
popular contra o Ministro de Estado Alfa, ingressando no juízo de primeira
instância da justiça comum, não no Supremo Tribunal Federal. Sobre o caso, com
base no Direito Constitucional e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
assinale a afirmativa correta.

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A) A ação não deve prosperar, uma vez que a competência para processá-la e
julgá-la é do Supremo Tribunal Federal, e falta legitimidade ativa para o autor da
ação, porque não possui a nacionalidade brasileira, não sendo, portanto,
classificado como cidadão brasileiro.
B) A ação deve prosperar, porque a competência para julgar a ação popular em
tela é do juiz de primeira instância da justiça comum, e o autor da ação tem
legitimidade ativa porque é cidadão no pleno gozo de seus direitos políticos,
muito embora não faça parte da nação brasileira.
C) A ação não deve prosperar, uma vez que a competência para julgar a
mencionada ação popular é do Supremo Tribunal Federal, muito embora não falte
legitimidade ad causam para o autor da ação, que é cidadão brasileiro, detentor
da nacionalidade brasileira e no pleno gozo dos seus direitos políticos.
D) A ação deve prosperar, porque a competência para julgar a ação popular em
tela tanto pode ser do juiz de primeira instância da justiça comum quanto do
Supremo Tribunal Federal, e não falta legitimidade ad causam para o autor da
ação, já que integra o povo brasileiro.

Comentários:
O art. 5º da Lei 4.717/65 estabelece que a competência para o julgamento da
ação popular é determinada pela origem do ato lesivo a ser anulado. Em regra, a
competência será do juízo de primeiro grau. Ainda sim, no caso da ação,
Giuseppe é brasileiro naturalizado e tem legitimidade ativa. É cidadão e está em
pleno gozo de seus direitos políticos.
Agora, um ponto de destaque. O fato de alguém ser cidadão não implica dizer
necessariamente que fará parte de uma nação. Para que isso ocorra que o sujeito
venha a partilhar dos mesmos valores. Nação decorre de um vínculo no aspecto
histórico, cultural, econômico e linguístico. É necessário o sentimento de
pertencer à comunidade.
Gabarito Letra B
(..)
Pessoal, concluímos a aula de hoje. Superamos o tema mais cobrado em provas. ;)
Forte abraço a todos e até a próxima. ;)
Prof. Diego Cerqueira

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