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A Assembleia Legislativa e o projeto de construção territorial

da Província de São Paulo (1835-1841).


José Rogério Beier1

RESUMO

Partindo da análise de uma estatística e um mapa da então Província de São Paulo, ambos elaborados por um
engenheiro-militar luso-brasileiro em meados da década de 1830, o presente artigo buscará estabelecer nexos
entre estes objetos e a conjuntura político-econômica provincial durante o período que sucedeu a abdicação
de d. Pedro I. Com isso pretende-se propor uma apreensão destes artefatos culturais como parte de um
projeto de construção territorial encetado por um grupo da elite política e econômica paulista no momento
exato em que este conquistou certa autonomia política e tributária para legislar, dentre outras rubricas, sobre
impostos e o orçamento provincial.

PALAVRAS-CHAVE

Assembleia Legislativa da Província de São Paulo; estatística; História da Cartografia; século XIX.

ABSTRACT

Based on the analysis of a statistic and a provincial map of São Paulo, both produced by a Portuguese-
Brazilian military engineer in the mid-1830, this article aims to establish links between these objects and the
provincial political and economic context during the period that followed the abdication of d. Pedro I.
Therefore, it is intended to propose a seizure of these cultural artifacts as part of a territorial construction
project leaded by a group of São Paulo’s political and economic elite at the exact moment they acquire some
political and tributary autonomy to legislate, among other matters, on taxes and provincial budget.

KEYWORDS

São Paulo Province Assembly; statistics, History of Cartography, 19th Century.

INTRODUÇÃO

A transição do sistema de governo do Antigo Regime para a monarquia constitucional


resultou, na América portuguesa, em um processo de construção de espaços de poderes provinciais
entregues à administração das elites locais. A despeito de esses espaços gozarem de pouca
autonomia política e tributária nos primeiros anos após a Independência do Brasil, percebe-se que
em São Paulo, por exemplo, posições como a de membros do Governo Provisório, deputados das
Assembleias Constituintes ou membros dos Conselhos da Província contavam sempre com
representantes de um grupo socioeconômico específico, nomeadamente, o dos negociantes, grandes
proprietários e senhores de engenho associados ao comércio de açúcar para exportação. Estes,
dentro das limitações que lhes eram impostas pela legislação centralizadora do Primeiro Reinado,
tentavam fazer seus projetos serem aprovados pela Assembleia-Geral e pelo Imperador.
Com a Abdicação de d. Pedro I vieram as reformas liberais que culminaram com o Ato
Adicional de 1834 e a criação das Assembleias Legislativas Provinciais. Através dessas últimas, as
2

elites locais que já ocupavam espaços da administração provincial conquistaram certa autonomia
política e tributária que lhes permitia orientar os principais projetos administrativos segundo o que
consideravam prioritário para o desenvolvimento da Província, isto é, seus próprios interesses2.
Nesse contexto, ao se analisar a legislação aprovada já na primeira legislatura da Assembleia
Legislativa Provincial de São Paulo (1835-37), verifica-se que em março de 1835 alguns deputados
redigiram e fizeram aprovar uma lei encomendando a elaboração de uma estatística e um mapa
provincial, sob a justificativa de se obter informações atualizadas do território e população paulista
para que os deputados pudessem tomar as melhores decisões no âmbito de suas novas atribuições.
O escrutínio do texto dessa lei, em conjunto com os ofícios administrativos trocados entre
membros do governo provincial e o engenheiro responsável pela elaboração da estatística e do
mapa, evidenciam uma clara preocupação da administração paulista com a circulação tanto da
estatística quanto do mapa entre distintos estabelecimentos, tais como as secretarias do governo
provincial, a Assembleia Geral, o Senado Imperial, o recém-criado Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, além de outros interessados, como viajantes estrangeiros e quaisquer pessoas que
quisessem adquiri-los por um preço “razoável”.
Em um momento em que a imprensa havia acabado de se estabelecer e a impressão de
estatísticas e mapas de grandes dimensões ainda era pouco comum, mesmo em centros como o Rio
de Janeiro, tais medidas parecem sugerir mais do que o interesse da administração provincial
paulista no controle do território e da população sob sua jurisdição.
Assim, nas páginas a seguir pretende-se analisar a encomenda de uma estatística e um mapa
provincial de São Paulo em meados da década de 1830, buscando compreendê-los como parte de
um projeto de construção territorial encetado por uma parcela da elite paulista interessada na
elaboração de padrões de representação para aquele território e, sobretudo, no controle da
circulação do conhecimento geográfico que se detinha sobre a Província de São Paulo.

AS ELITES LOCAIS NO GOVERNO DA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO

A transição do sistema de governo de Antigo Regime para a monarquia constitucional


resultou em um processo de construção de espaços de poderes provinciais entregues à
administração das elites locais. Em São Paulo, no período que antecede a emancipação política do
Brasil, os homens escolhidos pelo novo processo eleitoral para ocuparem esses espaços ligavam-se
a dois grupos majoritários: o clã dos ilustrados Andrada, representantes dos negociantes da vila de
Santos; e os grandes proprietários, senhores de engenho e negociantes provenientes ou com
interesses no chamado “quadrilátero do açúcar3”, em especial, os proprietários da vila de Itu.
3

Após a Independência do Brasil e a partir do estabelecimento da Constituição de 1824,


finalmente se estabeleceram instituições legais para o exercício do poder provincial em articulação
com a Corte, isto é, as províncias passaram a ser administradas por seus presidentes e pelos
Conselhos da Presidência. Se o primeiro espaço era de nomeação exclusiva do imperador, o
segundo devia ser composto por membros das elites locais, eleitos pelo Colégio Eleitoral de cada
Província. Em São Paulo, com o desprestígio dos Andradas junto ao imperador a partir de 1823,
estes espaços mantiveram-se ocupados principalmente pelos negociantes e grandes proprietários
ligados à monocultura açucareira, que dividiam o poder com militares, alguns padres seculares de
destaque na capital, além dos bacharéis e doutores em Direito, também residentes naquela cidade.
Ao ocuparem os Conselhos Provinciais, a atuação desses indivíduos orientava-se na
proposição de projetos de lei visando o desenvolvimento das áreas onde tinham interesse
econômico. Exemplos disso são Rafael Tobias de Aguiar e João da Silva Machado, o Barão de
Antonina, que apresentaram projetos para a melhoria da infraestrutura viária na região do Caminho
do Sul ou, ainda, Nicolau de Campos Vergueiro, José da Costa Carvalho e Francisco de Paula
Sousa e Mello, proprietários de grandes fazendas no “quadrilátero do açúcar”, que propuseram
projetos de obras públicas em benefício do escoamento da produção do açúcar, especialmente a
melhoria da estrada de São Paulo – Santos. Todavia, faltava-lhes autonomia política e competência
tributária para a realização de seus projetos, pois ainda que alguns deles tenham efetivamente sido
realizados, mais da metade jamais chegou a ser sancionado após serem submetidos à análise da
Assembleia-Geral ou do Imperador, como determinava a legislação entre 1824-34.
Já no âmbito nacional, esse mesmo grupo da elite, formado por negociantes e grandes
proprietários do “quadrilátero do açúcar”, também acabou eleito para representar a Província junto à
Assembleia-Geral e ao Senado Imperial a partir de 1826, ganhando trânsito político na Corte. Os
tão citados nomes de Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, Francisco de Paula Sousa e Mello,
Diogo Antônio Feijó e José da Costa Carvalho tiveram papel fundamental nos eventos que
culminaram com a Abdicação de d. Pedro I, em 1831, e o começo do período Regencial. Não por
acaso, três deles chegaram a ocupar assentos na Regência entre 1831-37, e Diogo Antônio Feijó
acabou eleito à posição de Regente Uno (1835-37).
Este período pós-abdicação foi marcado pela discussão da reforma constitucional,
culminando com o Ato Adicional de 1834. Este é o momento em que as elites locais, aparelhadas
nos espaços de poder provincial, finalmente conquistam relativa autonomia política e tributária para
a realização dos projetos que consideram prioritários para o desenvolvimento de suas províncias.
Em outras palavras, é apenas a partir da criação das Assembleias Legislativas Provinciais que as
elites locais passam a ter competência para legislar e tocar adiante projetos para suas províncias.
4

A ASSEMBLEIA PROVINCIAL E SEUS ARTEFATOS DE PODER

Sancionado pela Assembleia a 12 de agosto de 1834, o Ato Adicional extinguiu os antigos


Conselhos Provinciais, substituindo-os pelas Assembleias Legislativas Provinciais. Através desta
iniciativa o governo do Rio de Janeiro delegou às províncias parte do poder administrativo a ser
exercido pelo grupo dominante em cada região. Esse novo espaço de poder provincial seria dotado
com capacidade tributária, legislativa e coercitiva, fator preponderante para que a participação das
elites locais no poder fosse marcada pela busca da conciliação com o governo do Rio de Janeiro,
como bem apontou Dolhnikoff4.
O número de deputados de cada Província deveria ser proporcional à sua população. As de
Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, por exemplo, deveriam ser
compostas por 36 deputados, enquanto outras províncias menos populosas contariam com 28 ou 20
representantes. Estes, por sua vez, seriam escolhidos através do mesmo processo indireto pelo qual
se elegiam os deputados para a Assembleia-Geral, isto é, cada eleitor votaria no número de
deputados provinciais a ser eleito, e não apenas em um nome5.
Em seu artigo quarto, o Ato Adicional ordenava que as eleições fossem realizadas
“immediatamente depois de publicada esta reforma6”. Em São Paulo ela demorou um pouco mais
para se realizar, tendo ocorrido apenas em 16 de dezembro de 1834. No entanto, um mês após as
eleições, aos 30 de janeiro de 1835, a Assembleia Legislativa da Província de São Paulo já se
encontrava reunida em uma das salas do antigo palácio do Governo, dando início aos trabalhos de
suas primeiras sessões preparatórias, nas quais os deputados indicariam os nomes do presidente e
dos secretários que comporiam a mesa diretora da casa7.
Os artigos 9º, 10º e 11º regulavam as atribuições e competências das Assembleias
Legislativas, sendo sua função “propor, discutir e deliberar na conformidade dos artigos 81, 83, 84,
85, 86, 87 e 88 da Constituição8”. Dentre as competências das Assembleias Legislativas Provinciais
destaca-se justamente a de “promover cumulativamente com a Assembleia e o Governo gerais a
organização da estatística da Província9”.
Vê-se, portanto, que a partir de 1835 as elites locais passaram a gozar de uma autonomia
que jamais tiveram enquanto ocuparam espaços de poder provincial no período anterior (1821-34).
A partir de então, desde que observassem os limites e competências impostos pelo governo central,
estavam autorizados a criar suas próprias leis, instituírem novos impostos e determinar os
orçamentos provincial e municipal, estabelecendo as prioridades de investimento do governo para o
desenvolvimento da Província.
5

Será justamente nesse contexto que, logo nos primeiros meses de funcionamento da
Assembleia, um grupo de deputados redige e faz aprovar uma lei encomendando a elaboração de
uma estatística e um mapa provincial de São Paulo, como se verá a seguir.

“UM INVENTÁRIO EXACTO DO PAÍS10”

Como já se destacou, o Ato Adicional de 1834 determinou que às novas Assembleias


Legislativas também competia a organização das estatísticas provinciais. Nesse sentido é curioso
observar como já no princípio de 1835, em discurso proferido por ocasião da abertura da primeira
legislatura da Assembleia Provincial, o então presidente da Província, Rafael Tobias de Aguiar,
apontava a importância para aquela casa de se contar com dados atualizados a respeito da população
para que esta pudesse realizar de seus trabalhos:

Um dos primeiros objectos com que deveria occupar vossa attenção, é a população para
sobre ella baseardes vossas medidas legislativas, tanto a respeito da divisão civil, judiciaria
e ecclesiastica, como dos impostos que convem abolir, alterar, ou modificar, mas não posso
apresentar senão os mappas do anno passado, porque dos juizes de direito, aos quaes se
incumbio a coordenação deste trabalho, ministrando mappas parciaes aos juízes municipaes
e de paz, só um apresentou em tempo, ainda que imperfeito, allegando os outros a falta
destes. Sendo, pois, indispensáveis para que taes alterações se façam com inteiro
conhecimento da população, e não tendo o governo meios para apresentar dados exactos,
preciso é que tomeis alguma deliberação a semelhante respeito afim de que os Juizes, ou
outras auctoridades, á quem julgueis conveniente incumbir esta tarefa, a preencham com
exactidão11.

Pelo trecho destacado, vê-se como Tobias de Aguiar associava diretamente a ação
legislativa dos deputados ao conhecimento atualizado da população e do território. Para ele era
sobre o conhecimento da população que deveriam ser tomadas as medidas legislativas e, sem os
“dados exactos” contidos nos “mappas” estatísticos, a atuação da administração provincial se via
bastante dificultada. Não por acaso, tão logo Assembleia Legislativa da Província de São Paulo
começou a funcionar, seus deputados aprovaram a Lei nº 16, de 11 de abril de 1835, em cujo artigo
1º se estabelecia que o Governo “fica autorizado a despender o que for necessário para a redacção e
impressão da estatística da província12”.
Deve-se observar, contudo, que o texto da lei não faz qualquer referência a quem deveria
dirigir os trabalhos. No entanto, verificou-se que em 30 de dezembro de 1835, o engenheiro-militar
Daniel Pedro Müller13 oficiava ao então presidente da Província, José Cesário de Miranda Ribeiro,
acusando recebimento de ofício no qual fora informado de sua nomeação a realização do
levantamento dos quadros estatísticos da província14.
Daniel Pedro Müller encontrou muitas dificuldades em organizar sua estatística e por
diversas vezes teve que adiar a entrega da mesma por conta dos sucessivos atrasos no envio dos
formulários por parte das autoridades municipais, responsáveis pelas coletas dos dados de seus
6

respectivos núcleos urbanos. Tais atrasos, como se pode imaginar, acabaram retardando a impressão
da estatística, que somente acabou publicada em 1838, com o título de Ensaios d’um quadro
estatístico da Província de S. Paulo15.
No que diz respeito à impressão e difusão dessa estatística, é importante ter em conta que
foi apenas a partir da segunda metade do século XVIII e primeiras décadas do XIX, com a
emergência de organismos oficiais encarregados de realizar as pesquisas e reunir as informações
estatísticas, que se passou a ter uma preocupação maior com a sua difusão junto aos governantes e
aos públicos na Europa16. No caso específico da estatística organizada por Müller, como ainda não
havia uma instituição oficial para a direção dos trabalhos estatísticos na década de 1830, quer em
escala nacional, quer em escala provincial, coube à própria Assembleia Legislativa Provincial
determinar que a mesma fosse impressa e o modo como suas cópias deveriam ser distribuídas:

Art. 4º. O Governo remetterá para a secretaria da assembléa provincial 40 exemplares da


estatística assim organizada; e igualmente 5 á câmara dos senadores, 10 á dos deputados da
nação, 2 ao governo central, e 1 a cada uma das assembléas provinciaes do império17.

Tal determinação revela que os deputados da Assembleia Provincial paulista pretendiam


que sua estatística circulasse não apenas entre os órgãos administrativos da Corte, como o Senado e
a Assembleia-Geral, mas também entre as demais províncias do Império. Essa informação ganha
ainda mais relevância se analisada em conjunto com o seguinte trecho do discurso do então
presidente da Província, Bernardo José Pinto Gavião Peixoto, por ocasião da abertura dos trabalhos
da Assembleia Legislativa, em 1837:

Esses trabalhos estatísticos muito poderiam concorrer para aplainar as difficuldades que se
tem encontrado sempre que se trata de fixar os limites entre a provincia de S. Paulo, Minas
Geraes e Rio de Janeiro. Nos exames e observações que se fizerem deve entrar esse objecto
em linha de conta, por isso que a divisão actual, principalmente com o Rio de Janeiro, era
assás prejudicial tanto a uma como a outra provincia pelo extravio de direitos que não se
poderiam acautelar pela incerteza, irregularidade e natureza dos limites, que embaraçam os
respectivos governos na collocação dos Registros e necessaria fiscalisação. [...]. Corrigam-
se dados preciosos para informar ao Governo Imperial sobre este assumpto 18.

Tal trecho explicita um dos usos que a administração provincial pretendia dar à estatística,
isto é, que a mesma servisse de documentação a ser utilizada junto aos órgãos administrativos, quer
da Corte, quer de outras províncias, nas “dificuldades” enfrentadas pelo governo provincial nas
negociações de limites interprovinciais, por exemplo.
Convém recordar ainda que quando se deu a impressão dos quadros estatísticos de Müller,
no final da década de 1830, a imprensa ainda era recente no Brasil, tendo desembarcado no Rio de
Janeiro junto com a transferência da Corte portuguesa àquela cidade, em 1808. Em São Paulo ela
era ainda posterior, estando sua instalação na capital intimamente ligada à criação da Academia de
Direito, em agosto de 182719. Segundo o bibliófilo Rubens Borba de Moraes, a instalação da
7

Faculdade de Direito criou a necessidade de se imprimir, na capital, os manuais que os alunos iriam
utilizar. Não por acaso, dentre os primeiros livros publicados na capital paulista está o Questões
sobre presas marítimas, de José Maria de Avelar Brotero, primeiro lente da Academia de Direito,
impresso na tipografia de Costa Silveira em 183620.
Instalada na Rua de São Gonçalo, nº 14 (atual Praça João Mendes), essa tipografia era de
propriedade de Manoel Francisco da Costa Silveira, paulista, instruído em várias línguas
estrangeiras. Silveira manteve sua tipografia por muitos anos, tendo editado ali diversas obras
literárias e publicações de caráter oficial, dentre as quais o Ensaio d’um quadro estatístico da
Província de S. Paulo, de Daniel Pedro Müller, em 183821.
A impressão e distribuição de dezenas de cópias da estatística entre os órgãos da
administração provincial, a Assembleia-Geral, o Senado e cada uma das demais Assembleias
Provinciais do Império, mais do que mero praxe administrativo, revelam uma intenção na
construção de padrões de representação territorial para a Província de São Paulo, disseminando-os
aos demais centros de poder do país em busca de controlar a circulação do conhecimento geográfico
que se detinha sobre o território. O Ensaio d’um quadro Estatístico da Provincia de São Paulo,
portanto, pode ser entendido como um instrumento de poder que visava, sobretudo, construir uma
representação territorial da Província alinhada aos interesses e desígnios desses grupos.

O “MAPPA CHOROGRAPHICO DA PROVINVIA DE SÃO PAULO”

Embora a legislação que encomendou a redação e impressão da estatística provincial não


fizesse referência à produção de um mapa de São Paulo, verificou-se que o mesmo engenheiro
responsável pela elaboração da estatística havia concluído, um ano antes da publicação desta, o
desenho de um mapa provincial de grandes dimensões. Assim, buscando estabelecer uma possível
relação entre a elaboração da estatística e este mapa, verificou-se que no discurso de abertura das
sessões ordinárias da Assembleia Legislativa paulista de 1838, proferido pelo então presidente da
Província, Bernardo José Pinto Gavião Peixoto, este prestava contas aos deputados sobre o
andamento dos trabalhos para a elaboração da estatística:

As memorias e quadros organizados pelo marechal Daniel Pedroso [sic] Müller, já se


acham na typographia, e espero que cheguem a vossa presença no decurso da presente
Sessão, menos o grande Mappa Chorographico da Provincia porque o mandei lytographar
em França, por não ser possível conseguir este trabalho com perfeição e preço rasoável
dentro do Império22.

O trecho em destaque revela que a elaboração de um grande mapa provincial havia sido
encomendado juntamente com a estatística a Daniel Pedro Müller. No entanto, tal como informou o
presidente, por razões técnicas e econômicas o mapa teve que ser enviado a Paris para ser
8

“lytographado”, fato que acabou determinando que o mesmo não fosse publicado juntamente com
a estatística, como se previa, separando os destinos destes dois objetos23.
Müller concluiu o desenho de sua carta em 1837, como se pode observar pelo cartucho do
mapa. No entanto, em razão da demora do processo que acabou por levar o mapa ao Depôt
Générale de la Guerre24, em Paris, para a elaboração de uma chapa de cobre de onde se tiraria as
cópias do mesmo, acabou impresso apenas em 1841.

Imagem 1: Trecho de cartucho do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo (1841), com destaque para o ano
de conclusão do desenho do mapa, dentre outras informações.

Fonte: Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo. Paris: Alexis Orgiazzi, [1841].
1 mapa, impr.: 96 x 66 cm. Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Sobre essas cópias, um ofício datado dos primeiros dias de 1842 informa que o então
presidente da Província solicitava ao secretário da Assembleia que se apresentasse aos deputados o
mapa feito pelo então já falecido marechal Müller:

De ordem do Exmo. Sñr. presidente da Provincia tenho a honra de passar ás mãos de V. S.,
para que se digne apresentar á Assembléa Legislativa Provincial um exemplar do Mappa
Chorographico d’esta Provincia, desenhado pelo fallecido marechal Daniel Pedro Muller, e
mandado gravar em Paris pelo Governo da Provincia. Vierão cem exemplares
acompanhados da chapa em que foi aberto o mappa, e muitas pessoas tem querido comprar,
mas sua Exa. não tem querido mandar vender, sem que a Assembléa tenha resolvido sobre
o destino que devem ter ; por isso, V. S. terá a bondade de communicar me qualquer
resolução que a mesma Assembléa tomar a respeito para conhecimento e direção do
Governo25.

Como se vê, além da chapa de cobre veio da França cerca de 80 a 100 cópias do mapa.
Mais que isso, o ofício ainda informa que logo após ser apresentado aos deputados, coube a estes
decidir o destino a ser dado às cópias recém-chegadas de Paris. Quanto a isso, um parecer da
Assembleia Provincial, datado de 03 de março de 1843, dá conta que:

As comissões reunidas de Fazenda e Estatística, tendo em consideração o ofício do


governo, acompanhando um exemplar do mappa chorographico desta Província desenhado
pelo falecido marechal Müller, mandado gravar em Paris, declarando o mesmo governo que
vierão cem exemplares, bem assim a chapa em q forão abertos, q muitas pessoas as tem
querido comprar, porém que não se julgando para isso habilitado pede portanto a essa
Assembléa que delibere a este respeito o que mais convier. São por isso algumas comissões
do parecer - que tirados tantos exemplares qto sejão necessários para ficar com 2 na
9

secretaria do mesmo governo, 1 na secretaria do thesouro provincial, 3 na secretaria desta


Assembléa, mais 7 para serem remettidos aos juises de direito das sette comarcas. [ilegível]
os demais [ilegível] fazer vender, por preço rasoável, qtos possão restar 26.

Tal como ocorrera com os exemplares impressos da estatística, os deputados da Assembleia


decidiram distribuir as cópias do mapa entre secretarias e órgãos da administração provincial. Mais
que isso, eles também autorizaram a venda “por preço razoável” dos exemplares que restassem após
a distribuição determinada pela Assembleia.

Imagem 2: Destaque da divisão administrativa sobre o Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo (1841).

Fonte: Destaques elaborados pelo autor sobre o Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo. Paris:
Alexis Orgiazzi, [1841]. 1 mapa, impr.: 66 x 96 cm. Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Convém ainda chamar atenção para o fato de esta ter sido a primeira representação
contendo a totalidade do território paulista a ser impressa, vale dizer, trata-se do primeiro mapa a ter
um grande número de cópias disponíveis para que a administração provincial arbitrasse acerca de
seus destinos e, mais importante, o primeiro mapa a ter uma matriz (em cobre) que garantia a
possibilidade de correções, ampliações e reimpressões.
A opção da administração em enviar a carta para ser impressa em uma oficina parisiense
anexa ao célebre Depôt Générále de la Guerre, sugere a importância conferida a este aspecto de sua
produção, especialmente quando se vê que tão logo os exemplares chegam de Paris e são
apresentados aos deputados, estes decidem distribuir cópias entre institutos científicos, órgãos
administrativos do Império e, até mesmo, colocar à venda alguns exemplares.
Para o geógrafo francês Yves Lacoste, a carta é a forma de representação geográfica por
excelência. Segundo este autor, tal formalização do espaço não é nem gratuita, nem desinteressada,
10

mas sim, um meio de dominação indispensável, de domínio do espaço, de modo que a confecção de
uma carta implica num certo domínio político e matemático do espaço representado, e atua como
um instrumento de poder sobre esse espaço e sobre as pessoas que ali vivem27.
Ao fazer circular diversos exemplares do Mappa Chorographico da Provincia de São
Paulo, a administração paulista explicitava seu interesse na difusão do conhecimento geográfico
contido naquela representação em particular. Mais que isso, tal como já havia ocorrido com a
estatística, o cuidado na definição de alguns aspectos da elaboração deste mapa, como a escolha de
um engenheiro-militar de vasta experiência e reconhecida erudição; as grandes dimensões da carta
ou a sua impressão em um dos principais centros mundiais de produção cartográfica, sugere que
essa mesma administração se esforçava por fazer com que aquele mapa fosse tido como a
representação mais precisa da Província possível de se realizar até então. Tais iniciativas revelam o
interesse de controlar o território não apenas a partir da administração em si, mas também através
da produção e circulação do conhecimento geográfico que se detinha sobre aquele território.
Assim, a encomenda da elaboração deste mapa no âmbito do aparelhamento efetivo da elite
local na administração provincial indica que dentre os propósitos desta carta estava não só a
atualização e ampliação do conhecimento que se detinha da Província para melhor geri-la, mas
também o uso deste artefato como instrumento ideológico na defesa dos interesses mais caros desse
grupo, tais como as disputas por limites com as províncias vizinhas ou a expansão da ocupação do
território em direção ao Oeste, por exemplo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se buscou destacar no decorrer deste artigo, a partir da criação da Assembleia


Legislativa da Província de São Paulo, as elites locais passaram a gozar de certa autonomia política
e tributária para legislar segundo seus interesses. Nesse contexto, chama atenção que dentre as
primeiras leis discutidas e aprovadas pelos deputados estava a elaboração de uma estatística e um
mapa da Província de São Paulo. Trata-se de alguns dos primeiros instrumentos governativos
encomendados por grupos da elite local no âmbito das novas atribuições conquistadas no exercício
do poder provincial. A encomenda e elaboração desses objetos revelam a percepção que a “minoria
dirigente” tinha em relação ao uso de um saber estratégico como “instrumento de poder28”.
Desta forma, entende-se que tanto a estatística quanto o mapa elaborado por Daniel Pedro
Müller constituem-se em artefatos de poder que propunham uma construção territorial da Província
de São Paulo, fruto da perspectiva social, política e econômica de grupos da elite paulista no
controle de uma parcela do poder provincial a partir de 1835. Não menos importante, a circulação
das representações construídas pela Assembleia Provincial é parte de uma estratégia que visava não
11

só controlar o território e população, mas também como este espaço deveria ser visto por outros
grupos detentores de alguma parcela de poder, quer no âmbito provincial, quer no nacional.
Por esta mesma razão, aliás, é possível compreender o interesse da administração em
escolher um de seus profissionais mais conceituados e experientes para a elaboração de ambos os
artefatos (estatística e mapa provincial), na melhor qualidade que a técnica permitia elaborar para a
época, investindo grandes somas em sua elaboração e, principalmente, em sua impressão. Segundo
esta estratégia, quanto mais fosse possível associar esses artefatos à ideia de precisão, maior a
veracidade dos discursos construídos em suas representações e, portanto, melhor para os desígnios
da administração paulista.
Por fim, é importante recordar que o mapa foi pensado para ser encartado na estatística
provincial encomendada ao marechal Müller, mas que houve uma diferença de pouco mais de três
anos entre a impressão desta última e o mapa, o que acabou determinando que ambos tivessem
“vidas próprias” após suas respectivas impressões, não só circulando separadamente por órgãos
administrativos, coleções e bibliotecas, mas também sendo frequentemente analisados por parte da
historiografia como peças separadas, sem conexão uma com a outra a não ser a própria autoria do
marechal de campo reformado Daniel Pedro Müller. Tal dissociação contribuiu para mascarar os
nexos existentes entre o mapa, a estatística e o contexto político de suas produções, uma vez que se
perdia a referência de quem o havia encomendado e, com isso, que são produtos de parte de uma
elite local que acabava de conquistar certa autonomia na administração provincial.

1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo.
2
Sobre este tema, ver os capítulos dois e três da obra de Miriam Dolhnikoff. O pacto imperial: origens do
federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005, p. 81-222.
3
Região formada pelas vilas de Sorocaba, Constituição (atual Piracicaba), Mogi Guaçu e Jundiaí, onde se produzia a
maior parte do açúcar exportado pela Província de São Paulo no período que se estende entre 1765-1840. Para um
estudo pormenorizado sobre o desenvolvimento e declínio da lavoura canavieira de exportação em São Paulo durante
este período, veja-se: Maria Thereza Schorer Petrone. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio 1765-
1851. São Paulo: Difel, 1968, 248p.
4
Cf. Miriam Dolhnikoff. Caminhos da conciliação: o poder provincial paulista (1835-1850). São Paulo, 1993. 145 f.
Dissertação (Mestrado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de
São Paulo, 1993, p. 10-24.
5
Com isso, buscava se garantir que apenas os candidatos capazes de obterem votos em diferentes pontos da Província
ocupariam o cargo. O propósito dos legisladores que redigiram o Ato Adicional era o de criar uma representação
provincial formada apenas por deputados com influência política fora dos limites de seus municípios, isto é, que fossem
“capazes de selar alianças nas diversas localidades”. [Ver: Miriam Dolhnikoff. O Pacto Imperial...Op. Cit., p. 97-99].
6
BRASIL (Império). “Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834”. Faz algumas alterações e addições à Constitiuição Política
do Império, nos termos da Lei de 12 de outubro de 1832. In: Coleccção das Leis do Império do Brasil. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1866, p. 15-23.
7
Eugenio Egas e Oscar Mello reconstituíram os Anais da Assembleia Legislativa da Província de São Paulo no período
de 1835-1881 e, na esteira da comemoração pelo centenário da independência do Brasil, publicaram o resultado de
laborioso trabalho em vários volumes que, doravante, serão referidos como Anais da ALPSP, juntamente com o ano
referente ao volume consultado. [Ver Eugenio Egas; Oscar Motta Mello (orgs.). Annaes da Assembléa Legislativa
Provincial de São Paulo, reconstituição desde 1835-1881. São Paulo: Typographia Piratininga; Secção de Obras d’
“O Estado de S.Paulo”, 1923-1926, vol. 1835, p. 30-34].
8
BRASIL (Império). Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834... Op. Cit., p. 17-18.
9
Idem, p. 17-22.
12

10
Nas primeiras décadas do século XIX, a palavra país possuía um significado distinto do empregado atualmente.
Segundo o dicionário de Luiz Maria da Silva Pinto, publicado em 1832, tal termo era utilizado para designar uma “terra
ou região”. [Ver Luiz Maria da Silva Pinto. Diccionario da Lingua Brasileira por Luiz Maria da Silva Pinto,
natural da Provincia de Goyaz. Ouro Preto: Typographia de Silva, 1832].
11
Anais da ALPSP, 1835, p. 12.
12
SÃO PAULO (Província). Lei n. 16, de 11 de abril de 1835. Autoriza o governo a despender o que for necessário
para a redação e impressão da estatística da província. Disponível em:
<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1835/lei%20n.16,%20de%2011.04.1835.pdf>. Acesso em 01. fev.
2012.
13
De origem germânica, Daniel Pedro Müller nasceu em Oeiras, próximo a Lisboa, em 1785. Assentou praça como
cadete do regimento de artilharia e formou-se como engenheiro-militar, tendo frequentado as aulas na Real Academia
de Marinha e Real Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho, em Lisboa (1795-1802). Veio a São Paulo como
ajudante de ordens do recém-nomeado governador e capitão-general Antônio José da Franca e Horta (1802-1811),
tendo trabalhado a serviço da administração colonial como engenheiro-militar até a emancipação política do Brasil.
Eleito membro do Governo Provisório de São Paulo, em 1821, jurou a Constituição outorgada por d. Pedro I, em 1824,
e serviu ao Império como comandante militar em Montevidéu (1825-26) e na Fortaleza de Santa Cruz (1827-29). Pediu
sua reforma do serviço militar em 1829, sendo atendido pelo Imperador e promovido ao cargo de Marechal de Campo
reformado. Voltou a São Paulo, ficando a serviço da administração provincial e municipal entre 1830-41, sendo
responsável por projetos de obras públicas, além de trabalhos cartográficos, estatísticos e de educação profissional.
Suicidou-se em São Paulo, em agosto de 1841. Para um estudo detalhado da trajetória de Daniel Pedro Müller, veja-se:
José Rogério Beier. Artefatos de poder: Daniel Pedro Müller, a Assembleia Legislativa e a construção territorial da
Província de São Paulo (1835-1849). 2015. Dissertação (Mestrado em História Social) - Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015, p. 31-69.
14
APESP, Registro de Ofícios Diversos, Ordem 873, cx. 78, pasta 1, doc., 188.
15
Para um estudo detalhado da produção dos quadros estatísticos de Daniel Pedro Müller, veja-se: José Rogério Beier.
Artefatos de poder... Op. Cit., p. 113-155.
16
Na Inglaterra e Alemanha isso se dá na década de 1750, enquanto na França teria ocorrido um pouco depois, a partir
da década de 1780. [Ver: Olivier Martin. “Da estatística política à sociologia estatística: desenvolvimento e
transformações da análise estatística da sociedade (séculos XVII-XIX)”. Revista brasileira de História, São Paulo, v.
21, n. 41, 2001, p. 23.
17
SÃO PAULO (Província). Lei n. 16, de 11 de abril de 1835... Op. Cit.
18
Anais da ALPSP, 1837, p. 67.
19
Cf. Cláudia Marino Semeraro. “Início e desenvolvimento da tipografia no Brasil”. In: MASP. História da
Tipografia no Brasil. São Paulo: Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado de São Paulo,
1979, p. 18.
20
Cf. Rubens Borba de Moraes. O bibliófilo aprendiz. Brasília/Rio de Janeiro: Briquet de Lemos/Casa da Palavra,
2005, p. 189.
21
Manoel da Costa Silveira acabou deixando a tipografia para assumir o lugar de Oficial Maior da Academia de Direito
de São Paulo e, em seu lugar, assumiu “J. F. Cabral” (sic) que tocou por algum tempo a tipografia no antigo endereço,
até instalá-la no Palácio do Governo. Sobre a tipografia de Costa Silveira, veja-se: Cláudia Marino Semeraro. Início e
desenvolvimento da tipografia no Brasi... Op. Cit., p. 19.
22
Anais da ALPSP, 1838, p. 63.
23
Em janeiro de 1838, data em que o presidente proferira o discurso na Assembleia Legislativa Provincial, a estatística
elaborada por Müller já se encontrava na tipografia de Costa Silveira, onde acabou sendo publicada meses mais tarde.
Já as folhas do Mappa Chorographico da Provincia de São Paulo só retornariam de Paris, onde foram impressas, em
1841.
24
Criado em 1688 por Luís XIV e seu ministro da guerra, o Marquês de Louvois (1641-1691), o Depôt Générale de la
Guerre foi planejado para organizar os diferentes tipos de engenheiros militares, reunir e conservar toda a
documentação considerada militarmente útil e, sobretudo, aumentar a eficiência na construção das fortificações. A partir
de 1772, passou a arquivar as cartas e relatórios criados pelos engenheiros geógrafos franceses.
25
AH-ALESP. “Ofícios”, caixa 396, número EE42.022.
26
AH-ALESP, “Pareceres”, caixa 396, número EE43.014
27
Cf. Yves Lacoste. A Geografia – isso serve em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988, p. 23.
28
Segundo o geógrafo francês, Yves Lacoste, a articulação de uma gama extremamente variada de conhecimentos
relativos ao espaço e à população que vive sobre ele, revela como este saber é percebido como estratégico por uma
minoria dirigente, que passará a utilizá-lo como instrumento de poder. [Ver: Yves Lacoste. A Geografia – isso serve
em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988, p. 22-26].

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