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Justiça Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

10/05/2022

Número: 0601032-77.2020.6.13.0241
Classe: AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL
Órgão julgador: 241ª ZONA ELEITORAL DE SABARÁ MG
Última distribuição : 16/12/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Abuso - De Poder Econômico, Abuso - De Poder Político/Autoridade
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ELEICAO 2020 RODOLFO TADEU DA SILVA PREFEITO ISABELLE MARIA GOMES FAGUNDES DE SA (ADVOGADO)
(AUTOR) ANA CAROLINA DINIZ DE MATOS (ADVOGADO)
RODOLFO TADEU DA SILVA (AUTOR)
WANDER JOSE GODDARD BORGES (INVESTIGADO) RODRIGO OLIVEIRA MATTAR NAVES (ADVOGADO)
VICTOR CARNEIRO FRANCO DE CARVALHO (ADVOGADO)
LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR
(ADVOGADO)
ANDRE MARTINS SONEHARA (ADVOGADO)
HENRIQUE NAVES PEREIRA (ADVOGADO)
LUCAS AUGUSTO PEREIRA SILVA (INVESTIGADO) RODRIGO OLIVEIRA MATTAR NAVES (ADVOGADO)
VICTOR CARNEIRO FRANCO DE CARVALHO (ADVOGADO)
LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR
(ADVOGADO)
ANDRE MARTINS SONEHARA (ADVOGADO)
HENRIQUE NAVES PEREIRA (ADVOGADO)
WILLIAM LUCIO GODDARD BORGES (INVESTIGADO) RODRIGO OLIVEIRA MATTAR NAVES (ADVOGADO)
VICTOR CARNEIRO FRANCO DE CARVALHO (ADVOGADO)
LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR
(ADVOGADO)
ANDRE MARTINS SONEHARA (ADVOGADO)
HENRIQUE NAVES PEREIRA (ADVOGADO)
JOH FIDENCIO MIRANDA (INVESTIGADO) LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR
(ADVOGADO)
RODRIGO OLIVEIRA MATTAR NAVES (ADVOGADO)
VICTOR CARNEIRO FRANCO DE CARVALHO (ADVOGADO)
ANDRE MARTINS SONEHARA (ADVOGADO)
HENRIQUE NAVES PEREIRA (ADVOGADO)
EVANEZIO FIDENCIO MIRANDA (INVESTIGADO) VICTOR CARNEIRO FRANCO DE CARVALHO (ADVOGADO)
RODRIGO OLIVEIRA MATTAR NAVES (ADVOGADO)
LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR
(ADVOGADO)
ANDRE MARTINS SONEHARA (ADVOGADO)
HENRIQUE NAVES PEREIRA (ADVOGADO)
EVANILDA NOVAIS FERREIRA COSTA (INVESTIGADO) LUCIO DOMINGUES DE MEDEIROS (ADVOGADO)
PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
10501 10/05/2022 16:31 Sentença Sentença
0648
JUSTIÇA ELEITORAL
241ª ZONA ELEITORAL DE SABARÁ MG

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (11527) Nº 0601032-77.2020.6.13.0241 / 241ª ZONA ELEITORAL


DE SABARÁ MG
AUTOR: ELEICAO 2020 RODOLFO TADEU DA SILVA PREFEITO, RODOLFO TADEU DA SILVA
Advogados do(a) AUTOR: ISABELLE MARIA GOMES FAGUNDES DE SA - MG130782-A, ANA CAROLINA DINIZ
DE MATOS - MG135963-A
INVESTIGADO: WANDER JOSE GODDARD BORGES, LUCAS AUGUSTO PEREIRA SILVA, WILLIAM LUCIO
GODDARD BORGES, JOH FIDENCIO MIRANDA, EVANEZIO FIDENCIO MIRANDA, EVANILDA NOVAIS FERREIRA
COSTA
Advogados do(a) INVESTIGADO: RODRIGO OLIVEIRA MATTAR NAVES - MG160426, VICTOR CARNEIRO
FRANCO DE CARVALHO - MG130911, LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR - MG150044, ANDRE
MARTINS SONEHARA - MG138250, HENRIQUE NAVES PEREIRA - MG161001
Advogados do(a) INVESTIGADO: RODRIGO OLIVEIRA MATTAR NAVES - MG160426, VICTOR CARNEIRO
FRANCO DE CARVALHO - MG130911, LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR - MG150044, ANDRE
MARTINS SONEHARA - MG138250, HENRIQUE NAVES PEREIRA - MG161001
Advogados do(a) INVESTIGADO: RODRIGO OLIVEIRA MATTAR NAVES - MG160426, VICTOR CARNEIRO
FRANCO DE CARVALHO - MG130911, LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR - MG150044, ANDRE
MARTINS SONEHARA - MG138250, HENRIQUE NAVES PEREIRA - MG161001
Advogados do(a) INVESTIGADO: LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR - MG150044, RODRIGO
OLIVEIRA MATTAR NAVES - MG160426, VICTOR CARNEIRO FRANCO DE CARVALHO - MG130911, ANDRE
MARTINS SONEHARA - MG138250, HENRIQUE NAVES PEREIRA - MG161001
Advogados do(a) INVESTIGADO: VICTOR CARNEIRO FRANCO DE CARVALHO - MG130911, RODRIGO
OLIVEIRA MATTAR NAVES - MG160426, LEONARDO RIBEIRO CALDEIRA BRANT JUNIOR - MG150044, ANDRE
MARTINS SONEHARA - MG138250, HENRIQUE NAVES PEREIRA - MG161001
Advogado do(a) INVESTIGADO: LUCIO DOMINGUES DE MEDEIROS - MG127586

SENTENÇA

1 – Relatório

Vistos etc.

Rodolfo Tadeu da Silva, candidato a prefeito no Município de Sabará, devidamente qualificado


nos autos, ajuizou ação de investigação judicial eleitoral por abuso de poder político e econômico em face de
WANDER JOSÉ GODDARD BORGES, prefeito eleito em Sabará nas eleições municipais de 2020 pela
Coligação ‘Sabará no Rumo Certo', LUCAS AUGUSTO PEREIRA SILVA, vice-Prefeito eleito em Sabará nas
eleições municipais de 2020 pela Coligação ‘Sabará no Rumo Certo', WILLIAM LÚCIO GODDARD BORGES,
vereador eleito em Sabará nas eleições municipais de 2020, JOH FIDÊNCIO MIRANDA, EVANEZIO
FIDÊNCIO MIRANDA, EVANILDA NOVAIS FERREIRA COSTA, ASSOCIAÇÃO DAS VILAS REUNIDAS,
NÚCLEO ESPORTIVO & CULTURAL ASCOMVILAS e ASSOCIAÇÃO ALTO DO MIRANTE, todos
qualificados nos autos.
Aduziu, em síntese, que os réus incorreram em diversas condutas ilícitas que violaram o
princípio da isonomia no processo eleitoral, em inequívoco abuso do poder político e econômico.

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Inicialmente, alegou que os réus se utilizaram da associação Ascomvilas, entidade
subvencionada pelo poder público, para pedir voto aos eleitores, através de serviços de telemarketing. Além
disso, segundo a parte autora, durante o período eleitoral houve aumento expressivo de verba pública
destinada à associação e utilização da sede da associação para a prática de atos partidários.
Por seu turno, a parte autora, alegou, ainda, que os réus se utilizaram da Associação Vila São
José para distribuição de cestas básicas, hortifruti e marmitex, como forma de propaganda eleitoral. Ainda de
acordo com a parte autora, os réus se utilizaram de veículo oficial da prefeitura para a entrega das benesses.
Alegou, por conseguinte, que houve cessão indevida de servidor público para campanha
eleitoral em horário de expediente, o que constitui conduta vedada pelo ordenamento jurídico.
Por fim, a parte autora aduziu que os réus Wander e Lucas, no mês de novembro do ano
eleitoral, anteciparam a data de entrega das cestas básicas aos servidores da Municipalidade, com fito
exclusivamente eleitoreiro e em evidente abuso de poder político e econômico .
Pugnou, ao final, pela procedência da presente ação de investigação judicial, com a cassação
dos registros de candidaturas dos réus, diante da configuração do abuso de poder político e econômico e
prática de conduta vedada, aplicando-lhes multa e pena de cassação do registro e, ainda, aplicando-se a pena
de inelegibilidade pelo período de 8 (oito) anos.
No ID Num. 62609656, decisão que excluiu do polo passivo a ASSOCIAÇÃO DAS VILAS
REUNIDAS, NÚCLEO ESPORTIVO & CULTURAL ASCOMVILAS e da ASSOCIAÇÃO ALTO DO MIRANTE.
Citados, os investigados apresentaram contestação no ID Num. 82141171. Preliminarmente,
arguiram a inépcia da petição inicial, alegando, em suma, que dos fatos narrados não se chega a uma
conclusão lógica, mormente no que diz respeito à participação de cada um dos representados nas ilicitudes que
lhe são falsamente imputadas.
No mérito, aduziram que os fatos não são verdadeiros, não havendo provas de que os
investigados tenham praticado qualquer ilícito eleitoral. Consoante aduzido pelos investigados, os mesmos
nunca ofereceram, doaram, prometeram ou entregaram a nenhum eleitor bem ou vantagem pessoal, de forma
ilícita. Juntaram documentos.
Audiência de instrução no ID Num. 99876951 e Num. 100863073.
A parte autora apresentou alegações finais no ID Num. 101478367, pugnando pela procedência
da ação, ante a comprovação dos fatos alegados.
O Ministério Público apresentou alegações finais no ID Num. 100786147, pleiteando a
procedência da presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral.
Os investigados apresentaram alegações finais no ID Num. 103387263.
Foi requerido pela parte autora, ID Num. 103438605, o desentranhamento das alegações finais
apresentadas pela parte contrária, por serem intempestiva.
É o relatório. Passo à fundamentação.

2 - Fundamentação

2.1 – Do pedido de desentranhamento das alegações finais dos investigados

A parta autora requereu o desentranhamento das alegações finais apresentadas pelos


investigados sob o fundamento de serem intempestivas.
Compulsando os autos, verifico que as partes foram intimadas para apresentação de alegações
finais em 02 de dezembro de 2021 (ID Num. 100997370), contudo, os investigados somente apresentaram
alegações finais em 24 de fevereiro de 2022 (ID Num. 103387263), intempestivamente, portanto.
Deste modo, indefiro o pedido de desentranhamento, contudo, comprovada a intempestividade,
referida peça não será objeto de análise por este Juízo.

2.2. - Preliminar de inépcia da petição inicial

Os investigados, em sede de preliminar de contestação, arguiram a inépcia da petição inicial,


alegando, em suma, que dos fatos narrados não se chega a uma conclusão lógica, mormente no que diz
respeito à participação de cada um dos representados nas ilicitudes que lhe são falsamente imputadas.
Inicialmente, cumpre anotar que os requisitos da petição inicial encontram-se enumerados nos
artigos 319 e 320 do CPC, quais sejam, o juízo a que é dirigida, nomes e qualificação das partes, causa de

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pedir, pedido e suas especificações, valor da causa, as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade
dos fatos alegados e a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação
(quando aplicável).
No caso dos autos, após detido exame da exordial, verifico que todos os requisitos se acham
presentes. Com efeito, a peça de ingresso contém pedido certo e determinado, causa de pedir, narração lógica
dos fatos e possibilidade jurídica, consubstanciada na descrição pormenorizada de cada fato atribuído aos
investigados.
Ante o exposto, rejeito a preliminar. Passo, pois, ao exame do mérito.

2.3. - Mérito

Trata-se de ação judicial de investigação eleitoral por abuso de poder político e econômico, em
que a parte autora, aduz, em síntese, que os investigaram incorreram em condutas que violaram o princípio da
isonomia no processo eleitoral do Município de Sabará no ano de 2020, caracterizando abuso de poder político
e econômico.
Ab initio, cumpre anotar que a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) tem assento
constitucional e previsão legal no artigo 22 da LC 64/1990. A AIJE tem por finalidade a apuração de abuso de
poder político ou econômico, “cuja gravidade influa na normalidade e legitimidade do exercício do poder de
sufrágio popular, bem como a apuração de condutas em desacordo com as normas da Lei 9.504/97”.

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à
Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e
circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder
econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em
benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito:

(…)

XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o
resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.

FATOS 01 E 02

A parte autora alegou, inicialmente, que os investigados se utilizaram da Associação das Vilas
Reunidas, Núcleo Esportivo & Cultural ASCOMVILAS, entidade social subvencionada pelo Município, para
realização de propaganda eleitoral com pedido explícito de votos para a chapa eleitoral do atual prefeito, via
telemarketing. Aduziu também que houve aumento expressivo da verba destinada à associação no ano
eleitoral.
Aduziu, ainda, que os investigados se utilizaram das associações Ascomvilas e Alto do Mirante
e da máquina pública para entregar benesses a toda a população, com o fito de beneficiar a própria campanha
eleitoral, desequilibrando o pleito eleitoral.
Nos termos do art. 73 da Lei 9504/97, são proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as
seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

I - ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes
à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios,
ressalvada a realização de convenção partidária.

(...)

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IV - fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político ou coligação, de distribuição
gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo Poder Público;

(…)

§ 10. No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por
parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de
programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o
Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa

§ 11. Nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o § 10 não poderão ser executados por entidade
nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida.

Quanto ao uso de telemarketing para propaganda eleitoral, o art. 25 § 2º, da Resolução


23.404/2014 do TSE estabelece que “é vedada a realização de propaganda via telemarketing, em qualquer
horário (Constituição Federal, art. 5º, X e XI, e Código Eleitoral, art. 243, VI).”
Após detida análise dos autos, verifico que o conjunto probatório é amplo, constituído por firmes
depoimentos testemunhais e prova documental que demonstram que os investigados, de fato, incorreram em
abuso de poder político e econômico.
O substrato probatório comprova que os investigados se utilizaram de associações civis e da
própria máquina estatal para realização de campanha eleitoral e propaganda via telemakerting, condutas
vedadas pelo ordenamento jurídico. Vejamos.
Primeiramente, destaco a prova documental produzida. A parte autora acostou aos autos
diversas imagens extraídas de redes sociais, cuja veracidade não foi objeto de impugnação específica pelos
investigados, que comprovam a vinculação direta dos investigados às associações Ascomvilas e Alto do
Mirante. Pode-se afirmar, inclusive, pela prova documental produzida e pelos depoimentos colhidos em
audiência, que o investigado William Borges, irmão do também investigado e atual prefeito Wander Borges, é
pessoa que exerce grande influência nas associações supracitadas.
As imagens dos investigados e seus assessores distribuindo cestas básicas e outros
mantimentos comprovam a conotação eleitoral da ação.
Corrobora a prova documental, as testemunhas ouvidas em Juízo. Destaco, primeiramente, a
testemunha Francyelle Camilly de Souza Oliveira que confirmou que recebeu áudio, via grupo de whatsapp,
acerca de uma ligação de um representante da associação Ascomvilas com pedido de voto para os candidatos
a prefeito, vice-prefeito e vereador, ora investigados. Ainda de acordo com a testemunha, no áudio a
representante da associação vincula a continuidade dos serviços à manutenção dos atuais gestores municipais.
A testemunha afirmou, por fim, que por meio de mídias sociais, visualizou nas páginas de
facebook das associações Ascomvilas e Associação Alto do Mirante vinculação direta, através de fotos, com o
vereador William Borges, ora representado.
A testemunha Gláucia Amorim da Silva, ouvida em Juízo, afirmou que recebeu ligação de um
representante da Ascomvilas na semana da eleição, com pedido de votos para o candidato a prefeito e
vereador, respectivamente, Wander Borges e William Borges. Ainda de acordo com a testemunha, o número de
seu celular foi disponibilizado por ela em cadastro da própria Ascomvilas. A testemunha informou que, na
referida ligação, a representante da Ascomvilas afirmou que para continuidade dos serviços era necessária a
eleição dos referidos candidatos.
Por seu turno, a testemunha Daniela Sodré, ouvida em Juízo, também afirmou que ouviu, via
grupo de whatsapp, uma gravação acerca de uma ligação de um representante da Ascomvilas para
determinada pessoa com pedido de voto para os investigados Wander Borges e William Borges, vinculando a
continuidade das atividades da associação à eleição dos atuais governantes.
A testemunha esclareceu que no grupo de whatsapp no qual o áudio foi divulgado havia alguns
políticos locais, tendo inclusive o investigado Wander Borges participado do grupo por determinado período, e

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que quando da divulgação do áudio no grupo não houve manifestação de nenhum dos políticos rechaçando o
conteúdo.
A testemunha também afirmou que é fato público e notório no Município de Sabará que o
investigado William Borges é pessoa vinculada à associação e que a servidora pública Joh Miranda, assessora
do vereador William Borges, foi fotografada na associação Alto do Mirante distribuindo alimentos para as
pessoas, imagens estas divulgadas em redes sociais.
A testemunha afirmou, por fim, que em períodos eleitorais era nítido que a associação Alto do
Mirante se tornava mais atuante, por exemplo, com maior volume de distribuição de alimentos.
A testemunha Eloiza Maria Guerhardt de Souza, ouvida em Juízo, afirmou que recebeu vários
áudios em determinado grupo de whatsapp, cujo conteúdo era relativo a uma ligação de representante da
Ascomvilas para um munícipe de Sabará com pedido de voto para os então candidatos Willian Borges e
Wander Borges.
A testemunha afirmou que é possível verificar, através da página de facebook da Ascomvilas,
que o vereador William Borges é vinculado à instituição, dada as inúmeras fotos e marcações com o vereador e
que funcionários da Prefeitura são vistos com frequência na associação. A testemunha afirmou, ainda, que
chegou a tirar uma foto de um veículo do vereador dentro da sede da associação.
A testemunha afirmou que Joh Miranda, assessora do vereador William Borges, era vista com
frequência na associação Alto do Mirante, inclusive através de postagens realizadas por ela em redes sociais.
Nas imagens a referida assessora era vista com uma blusa do partido do vereador William Borges.
A testemunha afirmou que presenciou e viu a van do vereador e funcionários entregando cestas
básicas e que também soube por terceiros acerca destas mesmas entregas realizadas por veículos da
Prefeitura de madrugada durante o período eleitoral.
A testemunha aduziu também que trabalha ao lado de uma escola municipal e que, na semana
das eleições, houve entrega de cestas básicas no local e que tomou conhecimento, através de beneficiários
das cestas, que houve adiantamento na entrega das mesmas.
A testemunha afirmou, ainda, que uma paciente do posto de saúde em que ela trabalha foi ao
local e afirmou que o vereador William havia intercedido no caso dela, de acordo com uma informação prestada
por uma assessora da Ascomvilas, e que a consulta com a oftalmologista seria marcada. A paciente esclareceu
também que houve pedido de voto em troca da interseção em seu favor. Por fim, a testemunha afirmou que a
associação Alto do Mirante se tornou bastante ativa no período eleitoral.
Portanto, a partir dos elementos probatórios constantes dos autos, é possível constatar que o
investigado William Borges exerce forte influência junto à associação Ascomvilas, instituição esta
subvencionada pelo poder público, e que referida instituição foi utilizada pelos investigados para realização de
campanha eleitoral, inclusive via telemarketing.
Neste ponto, destaca-se o depoimento da testemunha Eloiza Maria Guerhardt de Souza, a qual
afirmou que presenciou o veículo com o slogan do vereador na sede da instituição Ascomvilas e funcionários
entregando cestas básicas.
Ainda de acordo com a prova documental produzida, é possível verificar que a assessora do
vereador William Borges, Joh Miranda, ora investigada, além de participar diretamente das atividades da
associação, conforme se extrai das imagens e depoimentos, também integrou o conselho fiscal da associação
Ascomvilas.
Conquanto os investigados tenham alegado que não incorreram nas condutas imputadas, as
provas colacionadas (fotos e depoimentos), aliadas à ausência de impugnação específica das fotografias,
comprovam a vinculação direta dos candidatos às associações Ascomvilas e Alto do Mirante e a utilização
destas instituições para fins eleitorais.
A parte autora também colacionou imagens demonstrando que veículos oficiais e servidores
municipais uniformizados estavam entregando cestas básicas e tirando fotos em nítido caráter eleitoral,
inclusive com a presença do então candidato à releição Wander Borges e seu irmão, William Borges, candidato
a vereador.
Os investigaram aduziram que a entrega das cestas básicas constitui programa municipal
aprovado em lei, entretanto, ao que se verifica das imagens colacionadas não é somente o cumprimento do
programa municipal, mas sua utilização como instrumento de campanha eleitoral.
Não se olvide da existência e eventual importância do programa municipal, mas a sua utilização
como meio de campanha eleitoral, sem dúvida, macula o equilíbrio da disputa eleitoral.
Destaco, por fim, que conquanto a testemunha Nivia Soares da Silva Esteves, que exerceu a
função de Secretária de Assistência Social durante determinado período no município de Sabará, tenha
afirmado a existência de parcerias com associações do terceiro setor no município, inclusive para eventual

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distribuição de alimentos, o que se extrai das imagens divulgadas pelas próprias entidades civis em redes
sociais é uma vinculação específica com o vereador William Borges e o então prefeito Wander Borges, inclusive
quando da divulgação acerca de distribuição de cestas básicas e outros gêneros alimentícios, a evidenciar de
maneira clara a conotação eleitoral da ação.
A vinculação é verificada também pela participação direta de servidores municipais do
Município, inclusive de cargos comissionados, mormente a assessora e investigada Joh Miranda.
Portanto, resta suficientemente demonstrado o abuso do poder econômico e político uma vez
comprovado o uso da estrutura das associações Ascomvilas e Alto do Mirante, a primeira inclusive
subvencionada pelo poder público municipal, em benefício e privilégio das candidaturas dos investigados
William Borges, Wander Borges e Lucas Pereira. Também restou comprovado, consoante acima explanado, a
utilização de programa social do Município como instrumento de campanha.
Tais fatos quebraram a igualdade de oportunidades e macularam a lisura dos meios
empregados na campanha eleitoral.

FATO 3

Alega a parte autora, também, a ocorrência de cessão indevida de servidor eleitoral para
realização de campanha eleitoral em horário de expediente, conduta vedada pela legislação ordinária.
Após análises das provas, verifico que a parte autora comprovou, através das fotos
colacionadas, que Joh Soares e seu irmão Evanezio, ambos servidores públicos, distribuíram cestas básicas
durante o dia, em horário de expediente, inclusive com utilização de uniforme da prefeitura e na presença dos
então candidatos William Borges e Wander Borges, caracterizando utilização indevida de servidor público para
atos de campanha. Ressalto que os investigados não comprovaram que os referidos servidores públicos
estivessem licenciados no período em questão, nos termos do artigo 373, II, do CPC, aplicado
subsidiariamente.

FATOS 4 E 5

Por fim, a parte autora argumentou que os investigados se utilizaram da sede da Ascomvilas
para atos de campanha eleitoral e que o Município de Sabará, então sob a gestão dos investigados, antecipou
a data de entrega das cestas básicas aos servidores públicos com fito exclusivamente eleitoreiro e em evidente
abuso de poder político e econômico.
Com relação à suposta antecipação das cestas básicas entregues mensalmente aos servidores
públicos municipais, em que pese as alegações da parte autora, não há nos autos elementos probatórios firmes
acerca das referidas alegações Neste ponto, destaco o depoimento da testemunha Geraldo da Fonseca que,
ouvida em Juízo, afirmou que é servidor público e recebe as cestas básicas mensalmente. Afirmou que as
cestas normalmente são entregues entre os dias 10 e 12 de cada mês e que não houve quanlquer alteração no
mês das eleições.
Por seu turno, a testemunha Nilo Teotônio Soares, afirmou em Juízo que o programa de entrega
de cestas básicas ocorre desde o ano de 2005 aos funcionários cuja renda esteja de acordo com os critérios
estabelecidos. Esclareceu que as cestas básicas são entregues, em regra, nas segundas sextas-feiras de cada
mês, que o cronograma é estabelecido no início de cada ano e que não há variação de itens.
Quanto à Ascomvilas, sua utilização como instrumento de campanha eleitoral restou
devidamente comprovado pelos elementos já coligidos e exaustivamente analisados acima.

3 – Conclusão

Ante o exposto, com fundamento no artigo 22, inciso XIV, da Lei Complementar no 64, de 18 de
maio de 1990, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO para CASSAR os registros e, por consequência, os
mandatos dos representados WANDER JOSÉ GODDARD BORGES, LUCAS AUGUSTO PEREIRA SILVA e
WILLIAM LÚCIO GODDARD BORGES e declarar a inelegibilidade dos mesmos para as eleições a se
realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes ao pleito de 2020. Declaro, ainda, a inelegibilidade de JOH
FIDÊNCIO MIRANDA, EVANEZIO FIDÊNCIO MIRANDA, EVANILDA NOVAIS FERREIRA COSTA para as
eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes ao pleito de 2020.
Remeta-se cópia de todo o procedimento ao Ministério Público com vista à apuração de
eventual improbidade administrativa e instauração de ação penal, se for o caso.

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Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Sabará, 10 de maio de 2022.

Anna Carolina Goulart Martins e Silva


Juíza de Direito

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