Você está na página 1de 6

1

Aula 28.08.19
Todos os líquidos se tornam mais viscosos com a diminuição da temperatura.
Assim, quando uma pessoa entra em estado de choque devido a um acidente, por
exemplo, a temperatura de seu corpo cai; consequentemente aumenta a viscosidade do
sangue. Isso pode produzir uma queda do fluxo sanguíneo. Essa é uma das razões pelas
quais as vítimas de acidentes devem ser cobertas para evitar uma diminuição grande de
suas temperaturas.
Tabela 1 – Valores de 𝜂 para alguns gases e líquidos. Fonte: Okuno et al. (1982).
Fluido Temperatura (℃) 𝜂(𝑁 ∙ 𝑠⁄𝑚2 )
Glicerina 20 1,49
Sangue 37 4 × 10−3
Mercúrio 20 1,55 × 10−3
Plasma do sangue 37 1,5 × 10−3
Etanol 20 1,20 × 10−3
Acetona 25 3,16 × 10−4
Vapor de água 100 1,25 × 10−5
Hélio 20 1,94 × 10−5
16 0,13
{ {
Óleo de máquina leve 38 3,4 × 10−2
0 1,79 × 10−3
20 1,00 × 10−3
{
Água 37 6,91 × 10−4
100 {2,82 × 10−5
0 1,71 × 10−5
Ar {18 {1,83 × 10−5
40 1,90 × 10−5

1.11 Tensão Superficial


As propriedades de superfície aparecem sempre que houver duas substâncias em
contato. Essas substâncias podem ser: líquido-líquido, líquido-gás, líquido-sólido, ou
sólido-gás. Essas propriedades de superfície se devem à assimetria das forças entre as
moléculas dos dois meios na interface entre as superfícies. A Figura 8 ilustra o caso de
um líquido contido num recipiente aberto. Dentro do líquido, ou de um sólido, cada
molécula é cercada por outras que a atraem e, em repouso, a força resultante média
sobre cada molécula é nula. Na superfície, no entanto, isso não ocorre, e a força
resultante média que age sobre cada molécula é dirigida para dentro da substância.
Como consequência, as moléculas da superfície estão submetidas a uma força não-nula
que as mantém ligadas à substância. Dessa maneira, a uma dada superfície pode-se
associar uma energia potencial de superfície que é proporcional a sua área.
Convencionou-se chamar de tensão superficial, 𝛾, a energia potencial de superfície por
unidade de área. Para qualquer substância, a tensão superficial é constante a uma dada
temperatura e é medida em 𝐽⁄𝑚2 .

Figura 8 – Diferença entre as forças que atuam sobre uma molécula da superfície e sobre outra do interior
do líquido. Fonte: Okuno et al. (1982).
2
A fim de minimizar sua própria energia potencial de superfície, a área superficial
de uma substância tende a diminuir. No entanto, para o sólido, essa diminuição não é
possível porque as forças de coesão intermoleculares são muito intensas, tornando
muito difícil a mudança de forma para diminuir a área superficial. Isso não significa,
entretanto, que a energia potencial superficial dos sólidos seja nula. A evidência disso é
o fato de que é necessária a realização de um trabalho para riscar ou trincar a
superfície de um sólido.
Se a substância for um líquido e está sobre uma superfície lisa, a interface com o
gás tenderia a uma forma esférica onde a energia potencial seria mínima. No entanto,
dependendo de condições como, por exemplo, a natureza do líquido, a superfície pode
assumir uma forma elíptica. Esse é o caso da superfície de uma gota de mercúrio que,
se não for muito pequena, adquire uma forma elipsoidal. Entretanto, a superfície final
será sempre curva e lisa, não podendo conter protuberâncias, pois a presença dessas
representa a existência de uma força dirigida para fora do líquido, o que não ocorre.
Em aplicações biológicas a energia potencial de superfície e, consequentemente,
a tensão superficial, são de grande importância toda vez que houver duas ou mais
substâncias em contato. Por exemplo, a tensão superficial desempenha um papel
fundamental no funcionamento dos pulmões em animais, da traqueia de insetos, ou do
movimento de pequenos insetos sobre uma superfície líquida. Existem alguns tipos de
artrópodes que carregam consigo uma bolha de ar quando submergem nas águas de um
lago e usam-na como reservatório de oxigênio; a existência dessa bolha depende das
propriedades de superfície da interface entre o ar e a água.
A fim de aumentar a superfície de um líquido, é necessário que algumas
moléculas de camadas não-superficiais sejam levadas para a superfície. Isso só será
possível se um trabalho for realizado sobre as mesmas, ou seja, se houver um aumento
na energia potencial de superfície devido ao aumento da área. Uma maneira de verificar
esse fato está ilustrada na Figura 9. Uma película (ou filme) de face dupla de um líquido
(por exemplo, água com sabão) é formada na parte interna de um quadro constituído de
um arame em “U” fixo e um arame deslizante, de largura ℓ, ligando os dois braços do
“U”. O trabalho 𝑊 realizado pela força 𝐹⃗ , aplicada perpendicularmente ao arame
deslizante, para esticar a película de um comprimento ∆𝑥 é:
𝑊 = 𝐹 ∙ ∆𝑥 (9)
e corresponde ao aumento da energia potencial de superfície. Esse aumento na energia
potencial de superfície por unidade de área da película é:
𝑊 𝐹 ∙ ∆𝑥
= (10)
𝐴 2(ℓ ∙ ∆𝑥)
onde ℓ ∙ ∆𝑥 é o aumento na área e o fator 2 corresponde às duas faces da película. Esse
trabalho por unidade de área corresponde à tensão superficial. Assim, para uma película
de face dupla como o filme de sabão:
𝐹
𝛾𝑑 = (11)
2ℓ
Para uma película de face simples ou única, por exemplo, a superfície do leite contido
num copo,
𝐹
𝛾𝑠 = (12)

Dessa maneira, pode-se imaginar que a tensão superficial exprime a força por
unidade de comprimento necessária para manter o perímetro da superfície de uma
3
substância fechada. Essa força atua tangencialmente à superfície e perpendicularmente
ao perímetro.
A energia potencial de superfície e, consequentemente, a tensão superficial,
dependem da natureza das substâncias em contato, assim como de suas temperaturas. A
Tabela 2 mostra a tensão superficial de alguns líquidos na interface líquido-ar à
temperatura de 20℃. Na Tabela 3 está ilustrada a variação da tensão superficial da
água com a temperatura na interface líquido-ar.

Figura 9 – Medida da tensão superficial. Fonte: Okuno et al. (1982).

Tabela 2 – Valores da tensão superficial na interface líquido-ar à temperatura de 20℃.


Fonte: Okuno et al. (1982).
Substância 𝛾 (10−3 𝑁⁄𝑚)
Éter 17
Clorofórmio 27
Benzina 29
Óleo de oliva 32
Água 73
Mercúrio 465

1.12 – Capilaridade
Num recipiente de vidro contendo líquido, a superfície de separação entre o
líquido e o ar é, em geral, horizontal na região central e curva nas proximidades do
vidro. Esse fenômeno se tornará mais acentuado se um tubo capilar for introduzido no
recipiente, como mostra a Figura 11. Além da curvatura da superfície do líquido, o
menisco dentro do tubo capilar, existe também um desnível entre as superfícies do
líquido no tubo e no recipiente. Esse desnível pode ser positivo, quando a coluna dentro
do capilar for mais alta, ou negativo, quando ocorrer o contrário. Tanto o formato do
menisco como essa diferença de nível depende da relação entre as forças de adesão e
de coesão. No caso da água contida num capilar de vidro (Figura 11a), o menisco é
côncavo e o desnível é positivo, ao passo que no caso do mercúrio (Figura 11b), o
menisco será convexo e o desnível negativo.

Figura 11 – Curvatura de líquido num tubo capilar em relação a sua superfície livre no recipiente. (a) Na
água, 𝑝1 − 𝑝0 = 𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝑔ℎ. (b) No mercúrio, 𝑝1′ − 𝑝0 = 𝜌𝐻𝑔 𝑔ℎ′ . Fonte: Okuno et al. (1982).

O fenômeno em que um líquido sobe até determinada altura dentro de um tubo


capilar, quando este é colocado dentro do recipiente que o contém, se chama ação
4
capilar. A altura alcançada depende da natureza do líquido e do tubo e do raio do
capilar.
Considere uma coluna de líquido de densidade 𝜌 que subiu até a altura ℎ acima
do nível externo, como ilustra a Figura 11a. Se o líquido estiver em equilíbrio, a força
associada à tensão superficial deve contrabalançar o peso da coluna do líquido. A força
resultante devida à tensão superficial atuando sobre a superfície de contato é dada por:
𝑅𝛾 = 2𝜋𝑟𝛾 (13)
onde 𝑟 é o raio do capilar e 𝛾 é a tensão superficial do líquido. O componente horizontal
dessa força é nulo, pois contribuições diametralmente opostas se anulam. O
componente vertical é a soma das contribuições verticais, isto é:
𝑅𝛾,𝑣𝑒𝑟𝑡𝑖𝑐𝑎𝑙 = 2𝜋𝑟𝛾𝑐𝑜𝑠𝛼 (14)
O peso da coluna de líquido é:
𝑃 = 𝑚𝑔 = 𝜌𝜋𝑟 2 ℎ𝑔
Em equilíbrio:
𝑅𝛾,𝑣𝑒𝑟𝑡𝑖𝑐𝑎𝑙 = 𝑃
2𝜋𝑟𝛾𝑐𝑜𝑠𝛼 = 𝜌𝜋𝑟 2 ℎ𝑔 ⇒ 2𝛾𝑐𝑜𝑠𝛼 = 𝑟𝜌𝑔ℎ
Assim, a altura alcançada pelo líquido no capilar é:
2𝛾𝑐𝑜𝑠𝛼
ℎ= (15)
𝑟𝜌𝑔
No caso em que o ângulo 𝛼, entre a força tensão superficial e a parede do capilar, é
muito pequeno, 𝑐𝑜𝑠𝛼 ≅ 1, a Eq.15 se reduz a:
2𝛾
ℎ= (16)
𝑟𝜌𝑔
Para a água e um grande número de líquidos contidos em capilares de vidro, a Eq.16 é
aplicável, pois 𝛼 ≅ 0°.

Exercício 1.29
Um tubo capilar imerso em água provoca a ascensão de uma coluna líquida de
8,37𝑐𝑚 de altura; imerso em mercúrio provoca uma depressão de 3,67𝑐𝑚. (a) Qual o raio
do tubo capilar? (b) Quanto vale a tensão superficial do mercúrio? Dados: tensão
superficial da água a 25℃: 72 × 10−5 𝑁⁄𝑚; massas específicas da água e do mercúrio:
0,998𝑔⁄𝑐𝑚3 e 13,6𝑔⁄𝑐𝑚3 . Respostas: (a) 𝑟 ≅ 1,75 × 10−4 𝑚; (b) 𝛾𝐻𝑔 = 430 × 10−3 𝑁⁄𝑚.
Solução:
(a) Considerando o raio do capilar pequeno:
2𝛾 2𝛾
ℎ= ⇒ 𝑟=
𝑟𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝑔 𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝑔ℎ
Substituindo os valores:
2(72 × 10−3 𝑁⁄𝑚)
𝑟= ≅ 1,75 × 10−4 𝑚 ≅ 0,175𝑚𝑚
(0,998 × 103 𝑘𝑔⁄𝑚3 )(9,8𝑚⁄𝑠 2 )(8,37 × 10−2 𝑚)

(b) As alturas da coluna líquida na água e no mercúrio são dadas por:

2𝛾á𝑔𝑢𝑎 2𝛾𝐻𝑔
ℎá𝑔𝑢𝑎 = ℎ𝐻𝑔 =
𝑟𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝑔 𝑟𝜌𝐻𝑔 𝑔
5
Assim:
2𝛾á𝑔𝑢𝑎
ℎá𝑔𝑢𝑎 𝑟𝜌á𝑔𝑢𝑎 𝑔 𝜌𝐻𝑔 ℎ𝐻𝑔
= ⇒ 𝛾𝐻𝑔 = 𝛾
ℎ𝐻𝑔 2𝛾𝐻𝑔 𝜌á𝑔𝑢𝑎 ℎá𝑔𝑢𝑎 á𝑔𝑢𝑎
𝑟𝜌𝐻𝑔 𝑔
Substituindo os valores:
(13,6𝑔⁄𝑐𝑚3 )(3,67𝑐𝑚)
𝛾𝐻𝑔 = (72 × 10−3 𝑁⁄𝑚) ≅ 430 × 10−3 𝑁⁄𝑚
(0,998𝑔⁄𝑐𝑚3 )(8,37𝑐𝑚)

Exercício 1.30
Dois tubos capilares, cujos diâmetros valem 1,0𝑚𝑚 e 1,4𝑚𝑚 são inseridos num
líquido cuja densidade é 0,95𝑔⁄𝑐𝑚3 . Observou-se que a diferença de altura do líquido
nas colunas é de 1,2𝑐𝑚. Considerando o ângulo de contato igual a 0°, qual a tensão
superficial do líquido? Resposta: 𝛾 ≅ 97,8 × 10−3 𝑁⁄𝑚.
Solução:
A altura da coluna líquida em cada tubo capilar é dada por:
2𝛾 2𝛾
ℎ1 = ℎ2 =
𝑟1 𝜌𝑔 𝑟2 𝜌𝑔
Logo:
2𝛾
ℎ1 𝑟1 𝜌𝑔 ℎ1 𝑟2 𝑑2 ⁄2 𝑑2
= ⇒ = = =
ℎ2 2𝛾 ℎ2 𝑟1 𝑑1 ⁄2 𝑑1
𝑟2 𝜌𝑔
Como ℎ1 − ℎ2 = 1,2𝑐𝑚, então:
ℎ1 𝑑2 ℎ2 + 1,2𝑐𝑚 1,4𝑚𝑚
= ⇒ =
ℎ2 𝑑1 ℎ2 1,0𝑚𝑚
1,2𝑐𝑚
1,4ℎ2 = ℎ2 + 1,2𝑐𝑚 ⇒ ℎ2 = = 3,0𝑐𝑚
0,4
Portanto,
2𝛾 𝑟2 𝜌𝑔ℎ2
ℎ2 = ⇒ 𝛾=
𝑟2 𝜌𝑔 2
Substituindo os valores:
(0,70 × 10−3 𝑚)(0,95 × 103 𝑘𝑔⁄𝑚3 )(9,8𝑚 ⁄𝑠 2 )(3,0 × 10−2 𝑚)
𝛾= ≅ 97,8 × 10−3 𝑁⁄𝑚
2

Exercício 1.26
O tubo de Pitot é usado para medir a velocidade do ar nos aviões. Ele é formado
por um tubo externo com pequenos furos 𝐵 (quatro são mostrados na figura a seguir)
que permite a entrada de ar no tubo; este tubo está ligado a um dos lados de um
manômetro na forma de um tubo em U. O outro lado do manômetro está ligado ao furo
𝐴 na frente do medidor, que aponta no sentido do movimento do avião. Em 𝐴 o ar fica
estagnado e em 𝐵 a velocidade do ar é presumivelmente igual à velocidade do ar em
relação ao avião. (a) A partir da equação de Bernoulli mostre que:

2𝜌𝑔ℎ
𝑣=√
𝜌𝑎𝑟
6
onde 𝜌 é a massa específica do líquido contido no manômetro e ℎ é a diferença entre os
níveis no tubo em U. (b) Suponha que o tubo contém álcool (𝜌 = 810𝑘𝑔⁄𝑚3 ) e que
ℎ = 54,0𝑐𝑚. Qual é a velocidade do avião em relação ao ar (𝜌𝑎𝑟 = 1,03𝑘𝑔⁄𝑚3 )? (c) (c) O
tubo de Pitot de um avião que está voando a grande altitude mede uma diferença de
pressão de 969𝑃𝑎. Qual é a velocidade do avião em relação ao ar se a massa especifica
do ar nessa altitude é 0,031𝑘𝑔⁄𝑚3?
Respostas: (b) 𝑣 ≅ 328𝑘𝑚⁄ℎ; (c) 𝑣 ≅ 900𝑘𝑚⁄ℎ

Solução:
(a) Da equação de Bernoulli com 𝑦1 = 𝑦2 :
1 1
𝑝𝐴 + 𝜌𝑎𝑟 𝑣𝐴2 = 𝑝𝐵 + 𝜌𝑎𝑟 𝑣𝐵2
2 2
Como o ar fica estagnado em 𝐴 (𝑣𝐴 = 0) e em 𝐵 a velocidade do ar é
presumivelmente igual à velocidade do ar em relação ao avião (𝑣𝐵 = 𝑣), então:
1
𝑝𝐴 = 𝑝𝐵 + 𝜌𝑎𝑟 𝑣 2
2
Do teorema de Stevin ∆𝑝 = 𝑝𝐴 − 𝑝𝐵 = 𝜌𝑔ℎ. Logo:
1 1
∆𝑝 = 𝑝𝐴 − 𝑝𝐵 = 𝜌𝑎𝑟 𝑣 2 ⇒ 𝜌𝑔ℎ = 𝜌 𝑣2
2 2 𝑎𝑟
2𝜌𝑔ℎ
𝑣=√
𝜌𝑎𝑟

(b) Supondo que o tubo contém álcool (𝜌 = 810𝑘𝑔⁄𝑚3) e que ℎ = 54,0𝑐𝑚, temos que
a velocidade do avião em relação ao ar (𝜌𝑎𝑟 = 1,03𝑘𝑔⁄𝑚3 ) é:

2(810𝑘𝑔⁄𝑚3 )(9,8𝑚⁄𝑠 2 )(54,0 × 10−2 𝑚)


𝑣=√ ≅ 91,2𝑚⁄𝑠 ≅ 328𝑘𝑚 ⁄ℎ
1,03𝑘𝑔⁄𝑚3

(c) Como ∆𝑝 = 𝑝𝐴 − 𝑝𝐵 = 𝜌𝑔ℎ, então:

2𝜌𝑔ℎ 2∆𝑝
𝑣=√ =√
𝜌𝑎𝑟 𝜌𝑎𝑟
Substituindo os valores:
2(969𝑃𝑎)
𝑣=√ ≅ 250𝑚 ⁄𝑠 ≅ 900𝑘𝑚 ⁄ℎ
0,031𝑘𝑔⁄𝑚3

Você também pode gostar