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Simões, Júlio Assis

"A maior categoria do país": notas sobre a


constituição do aposentado como ator político

"A t-1AIORCATEGORIA DO PAiS":


NOTAS SOBRE A CONSTITUIÇÃO DO APOSENTADO COMO ATOR POLiTICO

Julio Assis Sim5es


Doutorado Ciências Sociais - IFCH - Unicamp

Trabalho c'.presentado no GT "Cultura e política", no 18º Encontro Anual


da Associaçâo Nacional de Pós-Graduaçâo e Pesquisa em Ciências Sociais
- PINF'OCS, 1994.
, -,

.
'
, 1
1

tiA i"1AIOR CATEGORIA DO PAiS"::

NOTAS SOBRE A CONSTITUIÇÃO DO APOSENTADO COMO ATOR POLÍTICO

Julio Assis SimSes


Doutorado Ciências Sociais! Unicamp

Nos anos 90, os problemas relativos à aposentadoria e Previd&ncia

Ç-}anhal~am uma visibilidade entre ()=.. principais.

responsáveis por isso foram os próprios aposentados, que ocuparam as

j o rn e is,
Y-Llac~:.!, f:~ TVs. com s·uas f i Ias diante das ag'encias b,"'.ncár·ias.
e

suas manifestaçSes de protesto contra o arrocho dos beneficios pagos

pe la PrevidEin cia Socia 1 especialmente durante a mobilizaçâo pelos

1!:j·7'1.., entrr-2 .199.1 e 1992:, quando até ~':ipanhar-E.(m


Da pDl:í..ciauLi novo

movimento de aposentados e pensionistas contribuiu decisivamente para


..J ._
esquecimen·to públicD qu.e u""

aposentadoria padeceu pelo menos nas duas últimas décadas~ relegada ao

âmbito do debate técnico e acadêmico. O aposentados voltaram a ser um

problema social relevante, objeto de atençâo e discussâo pública mais

arnp 1,,,.
, ra rrov a luz à cJimel'1sâo politicd da

Previdência Social, mas também a questSes relacionadas com a condiçâo

dos velhos na sociedade brasileira.

EE.ta c:omunicaç~~o pretende eXC:l.minar, ainda que ele mane:~i


ra

partir dessas mobilizaçSes recentes e o que o novo movimento de

.i.n d cal~
í.
como idosos~ Ltrna categoria apat-entemen te

ume:\ e:spéc::,ie
dE! corporaçâo, com interesses, demandas e formas de

organizaçâo próprias. Farei 1SS0 através de uma análise das falas de


lideranças e participantes das associaç3es de aposentados, proferidas

em discursos públicos e em entrevistas.1 Acredito que esse é um passo

fundamental para entender como esse movimento foi capaz de obter grau

momento em que a recesslo, o desempregb e a crise econ6mica afetavam -

tanto (ou mai~,) outrEls parc:e1as dei p opu 1Elç:~ío

bl~asi1(=::ir-a_, .i n c 1 L{ ~~, i \/(~ i;;_lçJum~:'_s

Paralelamente, tento delineElr o movimento de demElrcElçlo e apagElmento

de fronteiras simbólicas, da ênfase e acobertamento de diferenças que

caracterizam o processo multifacetado de formaçlo do aposentado como

atol'-político.

r--.nío
fo í a primeirEl vez que aposentados sai.ram em defesa dE? seu::-

in ten?sses no Brasi 1 • é no\!idadr-2 um movimento unitário

c:~po~"-entEldos.
Convém, pcn-tõ:into, de inicio, estElbelec:er- rElpioElmente EIS-

difen;~nça_~~ entrf.-? o novo movimento de -::\


posen taclos (?

anteriores de presslo e mobilizaçlo. Grosso modo, pode-se dizer que,

organizadas (como bancários, ferroviários, marítimos) que obtinham os

b€:::fl e f .:í. c i C)~;:-!' ê.i tr-El\/és-[lEI de suas- 1.


ideranç:Els

sindicais junto aos Institutos de Aposentadoria ( I APs-) ,

ge~-'iarn !·-·eCLJ.}I""~·OS:;ç)c:<lític:cJ'=.. e ecorfôrriico=:. ifnpc,~.-tarJtes.2 A aposer:t.ado."ia

~ Os daóos que sustentam esta comunicação (exceto aqueles cuja fonte está indicada e notas) fazem ?ar:e da pesquisa de
(ampo sobre os siqnifi(ados políticos e culturais do movimento de aposentados e pensionistas que desenvolvo para minha
tese de doutorado em Ciências Sociais no IFCH-Uni[a~p, SGO orientação da PraTa. Dra. buita Grin Debert. As entrevistas
foram feitas com participantes da AssDciaçâo de Metalargicos Aposentados de Campinas, da Uni~D de Associaç5es e
Departamentos de Aposentados e Pensionistas da Baixada Santista, e de lideranças de algumas federações estaduais e da
COBAP. Na realização das entrevistas contei com a importante colaboração de Ana Claudia Chaves Teixeira, Lia lamshi e
Paulo André A. Setti, estudantes de Ciências Sociais da Unicamp.
2 A bibliografia a respeito é vasta. Para uma cara[terizaç~o geral das peculiaridades da política social no Brasii
pode-se consultar, entre outros, W.Guilherme dos Santos, Cidadania e justiça; a politica social na ordeB brasileira. Rio
< •

uma Il mo erí e pc 1í t i C~3 " forte para 1íderr.es sindica.is E:

partidários. Essa fonte de poder político, que os sindicatos detinham

graças. a su,~ inserçâo na. f-2str·utura dos institl...\tos,foi perdida no

reglme militar instaurado em 1964~ que promoveu a unificaçâo do

de e

desvincularam a luta pelos direitos de previdência e assistência

social da luta sindical mais ampla -- esta, cada vez mais voltada para

as quest5es salariais especificas dos trabalhadores da ativa.

Estabeleceu-se, entlo, um período de relativo silêncio político em

torno das quest5es referentes à aposentadoria. Esse silêncio só

começaria a ser quebrado no decurso dos anos 80~ quando -- a partir da

d= é:t::.sociaçé5e::: .. aposen tc~.dos e de

departamentos sindicais ,?,p0=:.f.;)n


t.ados <Abriu-se para os aposentados

iS.tEiS. c{
pen!::;ion pers.peCT..lva açâo rE~iv ind i ca ti v a ampla~

unificada e aut6noma em relaçâo às distintas categorias profissionais.

Ao longo dos anos 80, até depois da mobilizaçâo pelos 147%, no inicio

anos· 9() , de a.posenta.dos ~ ar-tieu 1a.dE


•·:;:.
.

organizaçlo nacional, passaram de um papel assistencialista marginal e

limitado condi<;:âo de re p t·Mest?n T..a.n L.t7!S r-econhec:i.dos àas

1'. e i vind i cações do s, benef i ciár ios da F're\i


id·er:cia j uri t.o a comi ss:.5es e

conselhos governamentais.

de Janeiro, Campus, 1987; e Sonia Draibe, "As políticas sociais brasileiras: diagnósticos e perspectivas'. in: Para a
década de 90: prioridades e perspectivas de políticas públicas. Brasília IPEAíIPLAN, 1989, p.l-bb. Estudos importantes
J

sobre a previdência social são: Amélia Cohn, Previdência social e processo político nQ Brasil. São Paulo, Moderna, 1980;
Gilherto Hochman, "Aprendizado e difusâo na constituiçlo de políticas: a Previdência Social e seus técnicos."
Rev isi:e brasilE·j ra de Cién,:::ias Soc.ials, nQ 7, p.84-9Bj Janes Mallol', fi. polItica dE
previdência social no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1986; Jaime A. A. Oliveira e Sonia M. F. ieixeira, (II)Previdência
social; 60 anos de história da previdência no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1989.
- -------~----------

, ""
\.

Fode-se distingui r tr';2s momen tos impor-te.ntes nesse pt-ocesso. O

primeiro é o inicio dos anos 80, quando começaram a proliferar em todo

o pais ações judiciais contra descumprime.ntos da lei por pe.r-te do

INPS. Ocorreu que.~ a partir de 1979, as aposentadorias deveriam sofrer

reajustes semestrais~ de acordo com a política salarial de correçâo do

~:;Cl.li!:iric!
rnín i.mo .. E:ntl~etclnto, rantre J979 e J984, o II····JPS
ha\/i.é:l.
c\dot.ado

para proceder ao

cálculo da primeira aposentadoria e aos reajustes posteriores, o que

resultou. n·:':I
aplicaç;âo de :indices inferiores aos estabelecido<:.;. pela.

politica salarial vigente. A lei 7.604, de 1987, determinou ao INPS a

atualizaçâo dos b€~neficios, mas as an ter ior'-es ~

correspondentes ao periodo 1979-1984, nâo foram pagas, o que propiciou

a oportunidade para diversos grupos aposentados ingressarem com ações

de v í.ncu lad aa ou nâo s .i n d i c:atos:.


,

articularam ações judiciais coletivas contra a Uniâo. A grande malorla

dessas pendências judiciais foram decididas em favor dos aposentados,

obtidos através dessas ações na Justiça.

Confederaçâo Brasileira de

Aposentados e Fensionistas em 198~.:',foi um saldo organizativo

importantt:.'7dessCl. mo b x l i zaç;âo. A COBAF' <:.;·e


propunha a congn,-~qar", E~m

nivel nacional, entidades represen~a~1vas de aposentados, reformados e

pens:.i.onis:.tC:\:::.,
quais.quer que Tossem S·U'::IS or-iç.tens:.
p ro f issionais. Sâo

e i. ori 1.:::. ta~;


pE'ns, e podem a SE': í: i lialr' qua 1quel~

nLIC 1. f2D, +o
di!:?pal'-tamen ~I uri í.ã o (-?tC., qUE:
aposentados e/ou pensionistas de determinada profissâo~ cidade, estado

o segundo momento importante foi a movimentaçâo em torno da

e 1Eáçâo do Cong r-esso Con st.í. tuinte e, em seguida ~ da e 1abol~é,.çâo cio

capitulo t.~ seguridade


con<::'.titucional n,;:'lat.i\io social" 1'.:t86
De<::'.de a

fedel'-aç;ões associaçõe:s aposE~n tadDs.

pensionist.as organizaram a

audiâncias com ministros de Estado,


. .
.:'tDmJ..n:l ..
~
s ·cr-aç.~o

e parlamentares do Congresso Constituinte, c:ons.eguiF'am

repreSEm t.an tes seus no Grupo de Trabalho r-r "';'-


t-' C\.
-.
c-"\

Reestruturaçâo da Previdância Social. Esse esforço de mobilizaçâo

também trouxe avanços na organizaçâo. Até abril de 1989 havia mais de

600 associações do base e nove federações (SP, RJ, RS, PR, SC, MG, 80,

BA, PE) integradas à COBAP. A maior Federaçâo estadual de aposentados

e pensiDnistas, a de Sâo Paulo r'eunia, ern 19':Y() , 11.9

associações e cerca de 300.000 aposentados filiados.!

147%". Tudo corneçou F!m sf."!tembr-ode 19ci.1., quando o <3alálr-io m.ín í.mo

recebeu um aumento de 147,06% mas os beneficias da Previdância Social

'fOI'''am em apenas Ao determinar

reduz .1.
do , o F~~dera I
Gov't"'frno baseou-se numa in ter-pn2taç~~0 con':5test3.de,

das disposições das lei 8.212 e 8.213, que haviam implantado os Planos

de Beneficios e Custeio da Previd~ncia e estipulavam novas regras para

o r'p""j US.tE' do s benef i c i.os,


, des"lincu 1ando--os do sa 1.
át-io mínimo. Plc;ões

judiciais contra a Portaria dDS 54,6% foram impetradas em diferentes

3 Ct. Eneida G. M. Haddad, A VElhice de velhos trabalhadores; o cenário! o noviJenro e as políticas SOCIaIS. Tese de
Doutoramento. Sao Paulo, FFLCHiUSP, 1991, p.13v, 141.
pontos do pa.ís éi p.:3.rtir-
de setembro De 1991. Em .FI de novE~mbro de

concedeu liminar determinando o pagamento do reajuste de 147,06%~

retroativo a setembro daquele ano~ p ara todos os aposentados e

pensionistas do pais. Esta última decisâo tornou-se manchete dos

p rLn c i.pai.ss do pais no ~:::.f2gu.i.n


t€~ ':3.nun
c arido í que os.

o Governo reagiu argumentando que conceder o reajuste pretendido

Sur.:H··emoTr: i bun al Feder·é•.


I suspendeu os pagamen tos do 147% an tes do

Natal de 1991. A mobilizaçâo dos aposentados cresceu nas semanas

seguintes" com a r-ea.lização de caminhadas e atcr:5 púb Lí co s em ···,ária':3

C:'::1pi
tai s. A incer-t.e;;~aquan t.o ao pagament.o 1 e\/ava os 1.00S:·OS a 3. ongas

filas de espera à porta dos bancos, diariamente exibidas na imprensa e

na TV. A morte de um aposent.ado na fila de espera em um banco no Rio

de ..J<:~ne:tr-o
f oi, ampl2\men1.:E!d i.vu Lq eda ~\ época!. o tf.~
super- .i n ·i::E~nden

Loce l cio c'. um " ·:.i- culpa é dos próprios

aposentados, que querem ir todos ao mesmo tempo ver a cor do dinheiro;

~:~:~C) velho:::., cloent.E~s:.


e Li pai
est.r··es:.sélclos". cio m í.n i et.ro f··lagr·i~do

Trabalho e Previd~ncia Social, apareceu na imprensa queixando-se que

os aposen t.i::ido~:;
r·I'::I\/ iam sido !l esquecidos!l e o própr·.i o i" i 1. ho nâo o

procurava há meses. A comoção pública com a quest~o chegou ao auge em

:,28 de j anei r-o cie 1.992, quando o aposentado Quin t.ino Cecrüne 1 foi

agredido a cor-onhadas por um policial militar ao participar de um ato

de protesto em Florianópolis (SC). A agressâo foi r-egist.r-ada pela TV,

peito nu €":n<::.;::lngüE~lItE:lcio,
ce!'·c<"dod€!: po l Lcí.e í.a,
principais jornais do pais na dia seguinte. Após sucessivas batalhas

jueliciais e a demissâo elo ministro r··!agt-i,4


os aposentados acaba~-am

vitoriosos: em agosto de 1992, a 1·"linistério da Pf-e···/icH~ncia


Social

adiantou 10% do débito e montou um calendário para pagar o restante em

12 parcelas, a qual vem senda cumprida desde dezembro de 1992.

A mobilizaçâo pelos 147% foi decisiva para a legitimaçâo das

dos aposentados e pensionistas. Basta dizer que enquanto no Congresso

da COBAP em Duque de Caxias (RJ), em novembro de 1991, no inicio da

efervesc€ncia dos 147%, nenhuma autoridade pública local, regional ou

nacional esteve presente ou se fez representar, o Congresso de 1993,

em Sa 1\'!.9.dor(SA), contou com a presença do Governador da Sahia,

Antonio Carlos Magalhâes, e do Ministro da Previdªncia Social, Antonio

!.=ir i + to .

(~ d imens:~D pelo drama surpreendeu a.n c I US1.ve


. a:::·

org"xniZi:":lf;.i:)eS
de apo<3(entcl.dose pen"":.ioni~5·t.a.?.,;,
pois os 1.c~7:i~ €'2r<::im
\..I.fila

beneficiários da Previdªncia, que em março de 1991 recebiam malS de um


~., eÓn »
E:: nc\ \/.1. arn obtido a pena:::.o o-ficial :::õ.l1" ,: b /n em

setembr-o. N:0:o ca.be!; po rt an to, imê:l.(J in ê:l.r qu.e .:.~


grande mobi li :zaçâo se

de~:;encadeou os· diretamente iriter&?S.SE?=.

imediatos dos aposentados e pensionistas como um todo. De certa forma,

os 147% acabaram simbolizando todo o acúmulo de perdas nos beneficios

4 Ü ministro Antonio Magri era titular das pastas do Trabalho e Previdªncia Social, que haviam sido unificadas no início
do Governo ColIor. As duas pastas voltaram a ser separadas quando itamar Franco assumiu a presidfncia, em outubro de
1992. Assumiu então o Ministério da Previd~ncia Social o deputado Antonio Britto.

--------------- .~-------
8

marcante e profunda na situaç10 dos velhos na sociedade brasileira. Na

época, matéria de um jornal paulista mostrava estas declaraç8es do Sr.

J ac:; Bica I ho ~ 66 anos, r-ecém---in


tegrado .3. Federaç10 de f~pos.?ni.:.adose

Pensionistas de S~o Paulo:

Os:.ve lhos:. cOfneç>:" rarn


rr ci ·:;;e
s·enti r mu i to o p r' .i.m i.d
o s, , daí S.UF·g
iu
re vo 1ta .
f?SS,':i li

"(; lut,::\
pat-,,~
mim E!~:.t3
s.endo b03. (-'!gitouc<. minr":cl.
vi.dc,."~'

tent3rmos entender o quê, c<.·f ina I, o movimento dos

aposE'n t.ados. E: pt:2nsionistas est3v3 c:omuni C:Elndo à sociedade b,··as:.il


eil'-a

em geral sobre 3 situaç10 dos aposentados e dos idosos, vejamos

rapidamente como s10 as assoc:i3ç8es que o constituem.

Falar das características das 3ssoclaçCes permite-nos delinear

algumas formas de segmentaç10 e alinhamento internas ao movimento de

para

presidente da Federaç~o de Aposentados e Pensionistas de S10 Paulo e

também ex-candidato a deput.ado estadu31 e 3 prefeito de Jundi3i pelo

PT dest3C:3ndo quatro diferentes tipos de associ3ç8es.

[I primei r-o tipo S·::<'Ci a.s associ,3ç8es "cor-para ti vistas. !I. Ser-iam os

fundos de previdênci3 mantidos por algumas estatais, como o B3nc:o do

Brasil, a LOSlpa etc., que oferecem aposent3doria suplementar e outros

benE~fi c: i. CIS " Gc:ddino as:- ch:::lm3 "c:orpol~at.i\/ist.i:ls"


para frisar- seu

C iôl. r é. tE.'r " r-('2=; t; r í, ti vo:: , ao (.:J ar" Elnt.:L I"em pr i\/i I éq ios ~1. um n :..:tm.?!'""o .i d o
r-ecluz

o Folha dr S. Paulo, 2 fev, 1992, p.l0.


de aposentados. Para Galdino, assim como para outros aposentados que

nâo j::Hõ:rtencem
a es,=·es fundos, essas associações, cons.ider-adas "r ica ss" ,

"o apos.E~ntado que I~ecebe benef c i oe por' urna dE'ssi::IS


.í cai;.:a,=-
nâo
se interessa pela luta nacional dos aposentados, nlo considera
i. c i.os,do Il\iSSum preocupaç:"?'o pess-o.:O\
os- bE·!nE~f 1" .

(J s(?gundD tipo ~5:3.CI c ,01i f:" f.-2speci


"".saS.f::;ocia~;~-:;(·2·:::,
"~5ind.i -j' i C <='. S '", E: l.:.;.~~- s.â

exclusivas de uma categoria particular de trabalhadores (p.

Aposentados do Petróleo de Santos, etc.). Geralmente, as aSSOClaçoes

sindicais especificas nlo tªm sede própria, reúnem-se em espaços

cedidos pelos respectivos sindicatos e deles dependem financeiramente.

recentemente, algumas associElções sindicais es.pecí ficas

con~".eguido obter' alguma clu-tonomia econórni co--admini strati va (caso da

Associaçlo dos Aposentados do Petróleo de Santos, por exemplo).

o tipo a'=·5.0claç<.":)es
"eclética'5" :' que

di i:: (?rE'!!fi
tr::::~-; E?mbor-a manteni,am cDm todos

direções sindicais. As associações sindicais ecléticas costumam dispor

de um montante maior de recursos próprios, sejam originários de

cor:tribuiçõE'S individuai.s CILl de por-'centagens em ações judiciais

vitoriosas contra o Governo, o que lhes permite, em alguns casos, ter

sede própria. Slo, por isso, mais independentes da máquina sindical e

agem com maior autonomia. Galdino dirige uma associaçâo deste último

tipo (a dos Aposentados de Jundiai), que é freqilentemente citada por

lideranças aposentados de diferentes orientações politicas e sindicais

como exemplo de entidade bem-sucedida. Segundo Galdino, d~ associaçSes


10

sindicais especificas e das ecléticas formam a maioria dentre as

"fiJ.ic~das. à COBAF', f::! é delas que pr ovêm as p r í.n c peí aí lideranças do

movimento.

a tr-a.vés in i ci,,:1,
rLv a de can di.d et.o ss em busca votos. Eequndo

cios

manifesta seu desagrado Olan~e desse tipo de associaçâo, acusando-as

de possibi l.i têU- de político-partidários

espúrios e desmobilizadores. ~ comum ouvir de militantes aposentados

que .:3, pol Lc c e í pCI.r"tid~,ria deve ser' sempre mé.,ntida "do lado de f o r e"

n po 1í "i.: i c a " rejeit.ada nas '::lSsoc.i2.çÕes quando

significa uma infiltraçâo, uma ameaça de partidarizaçâo do movimento.

r·;If.:IS. a. Ilpolitic2l," adqu.il·"·(e ou t ro ~:::.:Lqnificado quõ'\ndo é u",,'3da no senti"do

cje "pc.)lit.i2~é':\Ç::~tC)il <::!., !!c:c.nsc:ient ..i2:aç:âoll E'! <;::·e C)pé.1f::! a "a!.:::,=..i~~.;.t:.E·j'lc:iali.~~.rnc)!! E?

".i.mF~diati~:;mo!1,

E0T :i. céc:,i.a na in tE~r"mF=d


iaç~âo j u r ieli Ci:':\ do qU.e com 2\ IImcibiI i zii:\ç:âoII dos

fi 1 iadc)~::;. entre i:3.5 mais "mo b.i I izad,:\s"

I"ecor"rente de d.i.sti.nç:~D pol.:í.tica-

~:;.imból.i.ca. entre e ger-a. cate(Jorias acusatÓt-ias

COI"I~e
1 3. cionadas: as de

"partidê'lrias", de "nâo i:en'2m vida própria", encjI".I.antD as;. "mebilizad<3.s"

;;~cusam i.'IS "a<:=..s;.i.stenci.al i·:;ta~;!I de "empl~es.as do aposentadDs.", 11 e::-;l:ens.ões.

de 8:::· c: ~.-.itê) r-".i CJ::;' de clc:l'~lC){38.0C)S II ~

Em parte essas diferenças sâo retóricas porque em verdade a

atividade cotidiana das várias associações gira em torno da prestaç~o


---~----~----------

11

" .-., .l.. '


.l.n TOrrnB.çe:.eS sobre .~
O"" d.irei tos 2.pOSen \..aoos Et condu.ç~o df::?

processos na Justiça atividades que poderiam ser consideradas

eminentemen te !I assis-cen cia li st2,S!t. f~S a·:::,soc.1.2.çC.>es,


em ger-,:;.l,
mantf2ln

reuni5es e debates regulares entre seus filiados, publicam boletins e

jornais de periodicidade e formatos irregulares (conforme os recursos

dis.pon:í..···./eis,.)~,
qUE:: ':'itt...lê\li;·:<.im
;;:\5· infDI~mações. ~".obre o movimf.~nto quant.o

sobre os direitos dos aposentados. Há, de todo modo, diferenças entre

elas no que se refere ao grau de engajamento na organizaçâo de

junto às Federaç5es e a Confederaçâo e à participaçâo dos congressos

estaduais anuais e do congresso nacional t.I.1. 2./1 ua l.


L- • "'
n

Entre os elementos básicos e recorrentes na elaboraçâo discursiva

Como 2\ i~i !""inDU, p or:

e >~errl p 1c! , Sr' • Cid e>:·-pr-es.iden


te da OO=:"

(ipos.entadD~, r·letalt.:'.r·gicDs.
de Cé~mpir-ias.(atualmente Vf:?rec,;.dor
pe lo F'FL

lOCi.::tl):

"Nós. temos que lut.cH-, a gente n:~o está com o cnapeu nê, m:;-(o,
porque nós somos a maior categoria oeste pais. Hoje deve ter
uns 12, 13 milhões de aposentados. Qual é a categoria que tem
isso') O qu e está e<.contecendo conosco é um deslei>:o I"

A par disso, colocam-se criticas públicas ao Estado, aos governos

---------
responsabilizados pel\:::.. n:;:·duçâo do

benefícios previdenciários~ malversaçâo de fundos~ desvio de verbas~

Os po 1 :!. t.i CClS, de ~:;ó

., • .?'J

procurarem os aposentados na e121çces e oepols

':::;intet.izE:\
o SI", Cid Fer"t-f!',il'-a
o s::,entiment.c)
012 "OI'"fc\r"lc:iade
F,ol.:í.i::ica"
dos,

Os panfletos e discursos públicos das lloeranças dos aposent.ados

elaboram esses dois element.os a quantidade numérica de aposentados

e a falta de atençâo e apoio do poder público e dos políticos -- para

enfatizar a disposiçâo e a capacidade dos aposentados e conclamá-los a

unirem-se para a lut.a. Assim, um manifest.o da Federaçâo de Aposentados

ameaça explícita:

il urn clE\/E: =.e!


ç}e)\/E;"("ri C~ C\ \/ a 1 i. c;dc) en t Ire cru t t-·o~:. pC1n t.o s
~I pf.7!1 o !I

tratamento que dá aos aposentados e pensionistas. Somos treze


mi.lhc50~<::;, dE'! hOfflE'r"ir:"
f?, mulhF.21~es.E~!, cadc\ \ie;.~ frlctl,S oi"'gc\ni;:~E~,cios!,
seremos sem dúvida uma importante força política que pode
eleger um governo, mas que pode derrotá-Io caso insista em nos

Paulo~

desta sociedade de
interess2s~ o Estado está nâo a serviço do desenvolvimento e
do interesse social, mas sim voltado para interesses outros
que nâo atingem as necessidades básicas da populaçâo de
idosos~ aposentados e pensionistas. Portanto, ninguém irá
resolver nossos problemas se nâo tivermos capacidade para
i s~;c:; n E: j"',é):.=;:. t.E:·~{J)C)::~
I> Ci:::. .idC)~.Ci=:' t'êm, C::~:.-=. C:li:)c)S:.E?n t€:\dc;s. t;Z~'rn, as:·

6 Apud José Prata de Araújo, A luta que CODQYFU o Brasil. Belo Horizonte, 1992, p.22.

------ ------------ ------------------


·cem. E dt~monstramos
pensioni<::;i.:'i::-<'S isso nc\ lu t.e em dF2'rc;?sa
do

Clrel. t o d os
• 4·/h
~ -~'" e na luta em defesa da F're\/idÊJrscia SClc.1.e:'(lu !I'-;J'

Como exemplifica a fala de Galdino, a luta pelos 147% adquiriu o

poder de demonstrar simultaneamente o menosprezo dos governos para com

os mé
•.is 'leI hos e a. capacidade de luta destes, n·,c::\:::..,- figurds

.
oos
..
.1.0CtSc!·;s,

dos aposentados e das pensionistas. Essa fala tem um sentido peculiar,

po s , diantf.~ cj(",-.
í 1...I.m,õ:\ platé.ii::\
mi::;.jot-itariam('2nte
compost,::tpor ".i.dO~30,,:.!1
(·:=:m

pensionistas, o orador se esforça por destacar o que poderia ser comum

a +ocí a a populaç.:âo mi!:\isvelha. Ela e>:pressa um momento E)ITI que o

movimento dp aposentados, dentro de sua perspectiva de assegurar maior

vivamente pela criaçâo de uma identidade entre todos os participantes

potenciais na luta pelos direitos dos mais velhos.

Este f2sforço difen:2nça.s e aspectos ql...l.(;?

pos.sibi 1i tam a construç:~o de uma identidade comum e potencia lmentt''Ô'

fni:";.is e mp 1a convive, porém , com outl'-as formas de r-epor- E! 1,õ\oorat-


t'-ee

fronteiras e distâncias e enfatizar especificidades. Pode-se dizer, a

principio que a identidade do aposentado é construida mediante a

oposiçâo a uma imagem da velhice passiva e dependente, decorrente de

um visâo preconceituosa geral em relaçâo aos velhos que estaria

presente inclusive na orientaçâo de certos programas voltados à

7 Apud Julio Assis Simões e Laura Antunes Maciel ícoord.l, Pátria Alada fsquartejada. Sâo Paulo, FMSFfSM[!DFH, 1992,
p.lil. Estou propositalmente confrontando faias de lideranças aposentadas de orientaçâo politico-sindical e político-
partidária distintas não para minimizar essas diferenças -- que se revelam, por exemplo, na insinuação de balóino de um
[onluio entre o Estado e os interesses das camadas socialmente dominantes --, mas porque neste momento interessa-me
ressaltar o esforço comum das lideranças na produção de uma nova identidaDe do aposentado.
14

')\.JU começar- a ela.bor-ar-(:?sse ponto indicando pr'imeir-eHnente alguns

e 1emen tos. bás.i.cos. da cDn5tr-uç:~O da ident.idade do aposentado em

cont.r-aposiç;âü a (2ster-eótipos e pr-econcei'cos 50ciais~ que podem 521'-

r-e-fr~t-·enc:i.c':i
A "maior- Ci:~.t~=gDr-ia
do pais":

"É bom qUE~ t.o d o mundo :::.aiba~apos.ent.ado n:~o é velho bobo,


louco, nâo. Nós tivemos um trabalho, nós sabemos o que
l:n-ecisE;.rnos\::.'
nós E\incli::í tt'?mo:~que s.ust.f:.'?ntar-
nossa -fõ.~m:.\.l
i.Cl .•

( ... ) A intenç~o nossa é tir-ar- essa imagem de que aposentado é


velho~ nâo pr-esta mais, está mor-r-endo. Nós nâo estamos
mD!rr-E~ndonâo, est"".iflos.v i.v.i.nho a da si 1v a ,"

como muitas outr-as ouvidas em entr-evistas, assume

explicitamente a intençâo do movimento de mar-car- uma nova imagem dos

idosos aposentados. Temos aqui r-eunidas: a enfase na saúde e no

cliscer-nimen·to, contr-a os ester-eótipos do velho "caduco" e "no 'fim da

1in ha" ; c~ 'enf as·e no p,:':i::;.sado


de 1 hadolr,
t.r-aba como contraponto ·=IOS·

estE'r-eót.iIJO~,do vF~lhD "in"".tivo", que ~I ::.Ó pE:n sa (-2fft

~nfase na condiçâo de pr-ovedor- e ar-r-imo de família, contr-a a imagem do

man i f E;!S t2.fil a plreocupaç~-3:o com idéia de \_,

a sociedade, considerando-a uma das pr-incipais dificuldades tanto para

a or-ganizaç~o do movimento de aposentados quanto par-a sua relaçâo com

o r-esto da sociedade.- A contr-aposiç~o a isso é feita pr-incipalmente

pela r-efer~ncia ao aposentado com alguém ainda obrigado a gar-antir- nâo

apenas o pr-ópr-io sustento como também o de seus dependentes, suger-indo

que ao idoso ainda cabe um papel ativo e impor-tante junto à familia.

6 Cf. a fala de Antonio Galàino reproduziàa em Prata de Araújo, op. cit., p. 14.
Nas entrevistas, raramente os aposentados se queixam de maus

tl~atos:.na própria famí 1ia ou de descas·o da parte do s fi 1h05,. As

referências diret.as às pl~óprias farn.í


1 iE(s cos,tumem mostt-'31'-o idoso

aposentado como alvo de respeito e reconhecimento=

"Eu, tenho qu et ro filhos c~."sé.\dos,qua+ro riorae , uma filha


ca<::;<=lda,
um gE,nr-o:,oito netos. ç\c:)o
ra há pouco E:U 5,ofl"1.uma
cil'·-U.l~C]i<·:i
no pé, fiquei u.m m'ê:::; no hoc,;pital. OUé'.ndo f2U s.ai d o
hospital, todos ·os filhos queriam que fosse morar com eles •..
Teve um filho, o mais velho, que me colocou na casa dele que
ri8rf! rBctl'·'aj!.:;" celffs tele\li~:;.~~c;!, tE:!lE-::-forie~ 5.CtT2\ pr a tLtlr'rf:c( s.f:?:nt.i::í.r'· E~
CDnV,=i'-~:;2U'-
comigo".. Eu, C!~ lei cin co f i 1hDs E? eIs n:!.(os~'3,bemo
que fazer de preocupaçâo comigo. Nâo querem que eu trabalhe,
tem aquela preocupaçâo de medo que eu morra. Hoje eu vejo até
vizinhos meus, que o filho briga com o pai, toca o pai na rua,
nâo quer saber do pai. Os meus filhos, as minhas noras tomam
bên ç~~o dE' mim pa ra dor·mir." (Sr. Sebas.ti:~o I"ío!~eira,Ass.ociaçãc,
dos Aposentados Metalúrgicos de Campinas).

"Eu tent"lo uma 1ill-'lae dois. filho, o a dois casados .• Eu s·ou


TellZ com meus filhos. Os meus filhos, quando chegam em casa,
os homens, pegam na mâo da minha esposa, beija a mâo de minha
esposa, beija meu rosto ... n]o é porque tâm 29, 30 anos, foram
criados nesse esquema ..• Eu tenho uma chácara, aqui em Carlos
Gomes (distrito de Campinas), entâo cheguei e falei~ vou
pa~".sar é\ chácc:'\t-.:~ pr-i::~ VOCâ5. t.1"'e's p ra n:~o tel~ p!~oblema. Uma
seman<::\cJE~poi';:; el.es mE.' 'falal~am:!'D sr-. vai vend~?t-~,v ai I...tS~"'Ir o
dinheiro pra passear com mam]e, gasta o dinheiro. Se a gente
qu.i~::;€'2r-
u.m"'lchá.cal'''2" ,':3.
ÇJEn't.(," vai compr2.r". Ele~s dchi:3.mqu~:,' E":!...I,

deve::. US,·ci\''' tudo qUE·' p rocluzi E'1i'I s.aLlc:le, f;?m ~';€'2r-v


aço , ,"In t.E'~::, d€'~
aposentado, que eu oaste agora, aproveite aquilo que eu
fi.z ••• " (Sr'. r'u1 t.on Finhei!"o, ~~s:.sociaç]D de ?'ipos.ent.ados,
Met.alúrgicos de Campinas)

Essas falas sâo, no entanto, relativizadas por referâncias do tipo

filho maltrata o pai" eT.C. As falas que =>-= l~eferem a soft-imento5.

advindos com a velhice, a perda da posiçâo de prDvedor, o abandono da

familia, o descaso e o int.eresse materialista mesquinho das geraç5es

mais novas indicam que esses s]o acontecimentos freqüentes, mas quase
----- ------------------.

, .

"Hoj e nó~. aposentados ~ rió s que es.tamos na tet-ceit-a idade~.


temos visto ceÍlclS clamor-osa:::.~ temos visto companheir-o:::. que
batalharam a vida toda e que~ sem salário digno para
sobreviver, estâo sendo jogados nos asilos, nos lugares mais
horroro~50s que podem e;.:.istirpara u.m sel~ humerio , um cachot-I·-o
nâo teria condiç~es de viver lá. Nós temos companheiros nossos
que participaram dessas lutas, que estâo nesses quadr-os
hOI"Tí,·.tE>is, porque a família os deí xou , Nós sabemos que t-em
companhE,il~os hoj E' no:::; asi 105 que est:::\oà mingua,
r, e ~.abemos
que tfm filhos muito bem de vida. Infelizmente essa ger-açâo de
<,:,:,.(]or-,=,-
nâo qU(:?I'- m.:3.:ls saber- rm..i 1.":0 d.::;..
gente. T€::m m<'iis ou t.r a ~
í.

aqueles que mantém a estabilidade no lar é porque existe algum


interesse dos filhos, querem ter a casinha, o automóvel .. " Na
verdade, mesmo assim, o trato é diferente. Os filhos de hoje
querem saber ° quanto a gente tem, o que pode dar pra eles. Na
verdade, quando a gente está dependendo dos filhos é triste.
ElE?S tOe'ir! {3. v d a deles.,
í En quan t o E'stâcJ f?ffi CaS,Eó. \/cic'i? ~:t:Ln(Ji-3.
con tl"·O1a um pouco, ma,,:·quandc:< começ:a a cc:\sar, "',"emnO!~.3, vem
genro, a coisa muda, e eles lá querem saber da gente? Por
.i sso que a gente tem de lutar pr a tel~ um salár-io digno para
nâo precisarmos depender dos filhos também. ~ triste você ter
de chegar par-a U!T. -f i 1 ho e fa 1 ai"·"me arr-uma aí um d in hei r o para
as compras do m-es". Eu acho que a nossa luta permanece dentro
desse campo também!, dentro do 1ar·, porqu€~ se a g€~nte n:~o
cons~"'?guiruma estabilidad(o?, .::". velhice~ a solidâo, é triste ... li

~~r. eid Ferreira, Associaçâo dos Metalúrgicos Aposentados de


Campil"1é,~.) .

Um da dos Metalúrgicos de

Campinas associou esse conflito de geraçoes a uma mudança de caráter

ffi2.1S amplo nas relaç8es familiares, com a incapacidade atual do homem


.- ." .. .
~::;u:::.tent2.r-
sozinho ·9. r amx 1 .i a ,

nora~ que aumenta o seu poder de influenciar as decis8es relatlvas aos

dispêndios domésticos pelo fato de contribuir diretamente para a renda

familiar:

"Houve uma situação que mudou no By-asil, ou no murvd o , as


·feministas, a.s !TIU 1hen2s corne caram a traba 1har e a oCt.tpa.ro
trabalho do homem. Antigamente o homem trabalhava para
su.stent':'if~ a f am L'ia , hoje í d. mulh~~f~ pt-ecisa tf~<3.balha.ri-:? n o ã

ganha igual •.• Quando o aposentado vai pedir para o filho um


dinheiro, o filho nâo vai negar, mas ele sabe que vai procurar
um pr-oblema na família dele, porque a mulher já trabalha para
ajt.tda!'- a conc3tr-Lt:.\.r quc::.lquer cois,::,f2 elE.' vai ·tir-af'-pé,r-Eld2.t-
para o aposentado. O aposentado tem vergonha de pedir dinheiro
PI'··O fí.Lho por- m.:3.i~=. dinheit-o qUf? o filho tenha".
1/

um

era vivido por ele próprio:

"Eu TlCO l"!fTi <:':.itU2.ção difícil, porque o q l.\ E'~ ~7:':'


u çJ i~n h CI ii:~\
C) d ~{
mais, meus filhos trabalhavam e davam dí.n hsei.r-o em CE'.·5a~ ho i e
eu nâo tenho mais dinheiro, o dinheiro que eu fiz na poupança
j'! C) j E.~ t·? s t ,:':~:'.
a c -:::1. b .;;;1, nd C) I! ••

com suas afirmaç5es


.. .-.
e reT.lCE:nCl.EI~;;!,
.
indicElr d

(tando no âmbito privado quan~o no público) exclusivamente em funçâo

deveriam estar malS obrigadas a se preocupar com o próprio sustento.

Agir aSSlm parece ser ainda o mesmo que pedir caridade, nao direitos.

Como se o velho, enquanto tal, apenas despertasse pena ou desprezo. Um

de {::lpo'5E'n t.Eldos

tl i\ió:;~. qL\E7'rE::ITICJ::::. qL.tE~ E:!2.t.e pa.:í.<:':. ~e C) \/e.l ho


r-l-:=!spe.l por
que ele é hoje~ mas por aquilo cjue ele 'foi" .

Dai a enTase dos aposentadDs militantes na condição de ex-

trabalhadores, numa longa vida de dedicação ao trabalho, no fato de já

com a dificuldade de manterem suas famílias. 1550 parece refletir não

velhice, que quase ninguém de~ela assumir

mas também a lÓqica de um sistema previdenciário baseado na

----------- --------- -------


18

contribuíram. A ªnfase na condiçâo de ex-trabalhadores que ainda sâo

aFT'imos de família pode ::.·er viste. como um esforço de conSETvar" <::\:::>

prerrogativas 02'1 ética masculina do provedor, característica das

consideraçâo para com os aposentados e'os idosos em suas

sociedade em geral.9

As lideranças do movimento de aposentados nâo sâo apenas ex-

t rabsI hadon=!s ~ met::'.,


na sua 9 j'-ande maior ia, e:-:-a
ti vi stas sind i cai s.

Essa identidade de ex-sindicalistas é um elemento importante na auto-

afirmaçâo da capacidade de luta dos aposentados e na criaçâo da nova

!:::.ent.ido
E'm reldç:~\()c:tdois:. TOcos:. b2\si.cos de contre..st.e: os Ç.!j"·upos
de

voltados

lideranças sindicdis da ativa. Consideremos cada um deles.

o com os:· (J!'"UPOS de

inicialmente numa distinçâo entre atividade e velhice. FreqUentemente,

oe ctposr-2nte.dosmi 1 i tê\nb:~s;d~=claram que n o


ã se s€~ntem vel ho~:; pon:jue

elinda es:.tâo "ativos", "ocupados:.", "brigando". Os mais .i.d oso a, ~tS VE':zes·

s~:?:ovistos como "inativos",

"ve Lh i n nos" carentes e passivos que "se aposentaram da v d a '!


á , É claro

que os aposentados militantes reconhecem que os programas de !'terceira

~ SDbr~ a idéia de securo individual na estruturaçlD do sistema prevloencliflD brasileiro, ver Sonia Draibe, As
políticas sociais brasileiras: diagnósticos e perspectivas. In: Para a d'cada dr 90: prioridades E perspEcti.as de
pO!lrlCaS públicas. Brasilia, lPEA/IPLAN, 1989, p.1-66. Sobre a ética masculina do provedor nas classes trabaihadoras
urbanas, ver Alba Zaluar, A láquini e a revolta. São Paulo, Brasiliense, 1985.
,-

idade" promovem uma série de 1'-:3.tivid.:3.des:." iÍlteres~3antes pa.ra. os idoso~,

em mas co s.t urnam acrescentar qL\2 essas:· atL.!idades:. são

fu.nd21.menta 1men tt'"? de um Hdescar~s:.o!l ~I um !!re'frigél~io!l , L\!Tl·;;:'.

"di.·v'ersão". {~ principal e t i.v d e d e ,


í qu.e e, a ..
relVln d'lcaçao,
- a luta pelos

o-rF::!'·f::cfam.

Pires~ liderança da Federaçâo dos Aposentados p Pensionistas do Rio de

!!A r.:)e::.s:.clc:\ só 125·1:2 v i, ...


/a enquan to 1LI ta ~I quando
órgâos todos param e ela eEt.3. mor t.e "

No 1 imi t.e ~ o=:· p r oq r erne e ele "terceira ielade" são vis.tos. corno for-mas

de segr-egar ou infantil.izé\l~ os mai'::; velhos e insinua·-·',;:.e qLH;:? elE'?s

.idosos:

"Eri t.ã o qu,õ'lndo o mov í.merrt c dos aposentados:. comel;:a a Sf"d

desenvolver l ... ), observamos que o movimento da terceira


idade e o movimento dos idosos ganham impulso junt.o aos órgâos
púb l .i ca':. e~;taduai~.;, f edF:!t-EliS!I muri i c i pai ~3, j il '::;12 i: a 1ündo
inclusive em faculdade da terceira idade, cuja conotaçâo nâo é
1 ,':1 d ('2 ,;1P r-ove J_ '-a.r- f2S'·S(:;"
ElqUt::'~ f.?Sp L r i t.O d e e >: pf=~r·.1. 'i2n c i 2'. , nE'm (:, d ~2
dar" a o .i.n d i.v ícf u o a oportunidclde de re'::·ili.:~ar- Elquilo que E de)
seu ego P que porventura nâo p8de realizar em decorrência do
mercado de trabalho, da sobrevivência da família. Nâo se trata
dr..: b~.;{.ilE?, df? dEI!"-s(.;2\1r, de lElzer, mas de reEllizéI.r, em c:€~ntnJ~'
comunitários de idosos, com jovens etc.~ algo que lhe d~
sa<...1.s·fa.ç.~o intima de est~.;1.r con"t.l'·ibuindo com a.t(]um,,,, co a a c!t"'2 í

dentro de sua entidade de classe, ele sentir que pode ajudar e


tem condições de ffiudat- dentro de si e p a r a a 'fami Li a , 11 (St-.
,:;mt.onio Ga 1 d i n o ~ F'ederação de ;ipo~.entados E' FG:nsion i. stas de
Sâ o i::~2.Lt 10)

1' ••• 0 Fórum da Terceira Idade é um pouco usado pelo Governo do


EstCido, po r qu e eles dão ár-ea de la;::et-·, aquela. coisa toda., (:"'2

parece que tlra o sen,-100 da luta que a gente está fazendo em


prol do aposentado, ou em prol do idoso. A gente acha que tem
cluE: tE: I" 1 a~~e:2r t.ambém, todo mundo t.em que t(~r a SUéI. ho r a de
1 ~=I.;;~er, mas hor-,,:\ de luta, de !~eiv indic<"::I.çâo tcímbém. has e 1E'~'
f i C::,::im ~:::.epi:1r·a.dD=.~,só C.iPcIY-fE!cE·m n€'i!ss:,es mDmento~:.. II (E'r-. J DâD
-- ---- -------------------

20

i larquesini,
T
Fedet-ai;.;:ãa
do s Aposentadc:"!s e Pensionistas dE' ~-)·::IO
Paulo) :1.(;>

o movimento dos aposentados reflete a experifncia da grande

maioria de sr::?uscompontes, que são homens e e>:--ati·v'is:.tas


sindicais: ..

Nessa medida, o movimento se mantém no horizonte das lutas de caráter

redistributivo e por direitos civis, e· é dessa forma que se apresenta

coma uma causa importante para a sociedade como um todo. As lideranças

visibilidade das quest5es relacionadas à seguridade social sem dispor

de um poder eficaz de pressão como a greve, par exemplo~

"Nâo tf?fOOS:. o poder- de press:.ão da greve, nem idade e s: ..


;?,údepa ra
en·fr~",n t'3r- Cl. lu ta que estamos en fren t.arid o , ape':5,:::l.l'-
de ·ter-mos
cons~.eguido E!;O_ tos. acima de nossas própr iEIS forças:,. I s.so se
deve em grande parte a um trabalho de conscientização de nossa
inserção na sociedade. Não há família brasileira que não tenha
aposentado, que não tenha um conhecimento objetiva dos
problemas do aposentado e isso facilita o nosso posicionamento
na sociedade, onde buscamos respaldo. (Sr. Luiz Viégas, ex-
presidente da Federação dos Aposentados e Pensionistas do Rio
elE,:, .J 21 n E' i r o )

Mas as associaç5es de aposentados, embora façam parte de um

movimento social de características (com mecanismos de

1'"·er)I'··E'<=..(:~ntc\ç:ãD
E·' consti tui ção de I idF::ranças) s;~::ío
também E's.paç:Ds;dE:?

enriquecimento da vivªncia pessoal, de ampliação da sociabilidade, de

permitem a recriação de uma prática coletiva mas também reformulam a

própria vida privada.1~ 03 aludimos a isso de passagem, ao citarmos a

Vejamos outras falas expreSSlvas nesse sentido:

"Eu r~=:so}'\/i
\/il~ pêu-a c\ associação p2,I~a descanr·egar a mente.
Porque voc&e ficando isolado dentro da sua casa ou sentado num

10 Depoimento em Eneida Haddad, op. (it., p. 120.


11 Sobre essas questões ver Eunice Durham, Movimentos sociais, a construção da cidadania. Novos Estudos Cebrap, n° 10,
outubro de 1984, p.24-30.
21

jar-dim vo cê (,2St~. ':;;empr-e


com o pensamento bobo. E voe'e tendo
LHna ati\/idade:: .. E?t...t, por- e>~E?rrlplo, aqLli na a=.sc,ciaçãci~ eLl não
ganho um tos t~~o, e·u n~~o gan no n ad a , Ganho só a passagem de
ônibus. par-a v r pa;r'a a ê"ls.sociação e voLt.e r , Isso daqui
í é um
colir-io, um alivio, uma coisa que distr-ai a mente .. Eu tive em
Amer-icana, em São Paulo, é uma preocupação atrás da outr-a, eu
estou preocupado agor-a com o Dia do Aposentado. ~ uma
cor-rer-ia, você pensa? Nâo é fácil, não. Tem que fazer- convite
par-a todas as autor-idades de Campinas, tem que fazer- convite
para todas as emissoras de rádio, telvisão, jornais. Eu estou
ocupado com alguma coisa. F bem ocupado. (8r-. Francisco 80do;,
Associação dos Aposentados Metalórgicos de Campinas)

"8r:2 voe'e 2I.n.:'.\li~';2I.I'''


bem, a 2I.S">~.:.OCi2.Ç~!:\O
é um meio do i:':\po'.:'Sf2nt:ac
-ruqi;r.da :::.oli.d~(o. ç.! maiol" do€~nça do idoso é 2<.:::,olic:l~io .. Ele
p€~r-df2o f'í.Ltio qu aricío os filhos ficam maior-€'~:::...Se· elf:?:~s c:r-i~':im
~:·ua::; fcMi'líliê:'ts,
eles e:::.quecem do pai. {:) malor-J..a deles nem
lembram mais que ~em pai. Alguns ficam inclusive renegados ao
c orrv Lv io f"ilmiliat-, quer- d í.z e r , o f Lho palra n:~o ter tl'-abalho í

coloca ele num asilo, e aqui é um lugar ondeo aposentado vem,


ele briga, ele discute, ele encontr-a velhos amigos. Isso é um
meio dele proporcionar um fuga da solidâo. Ao mesmo tempo ele
está cuidando dos interesses dele. Ele per-manece ativo na sua
memór ia. f'::l sua c ep ací.dad e mentC\ 1 está tt-abaI hando PO!"Cjue e 1 s'
está se ocupando de alguma coisa. Ele está indo à briga, ele
tem prazer- de sair no movimento para mostr-ar que ele ainda é
e t a vo , qu e €?le é um Lu t.e dor . [>e urne fC)lr'rna qel~Mé{l!i

psicologicamente, a associaçâo é um bem par-a o aposentado. Mas


C]fE-:'r-ecE'~-' étlçJL.~ma c o ísa \lant.ajcl=:.a é sr..) riC$ n',f.?io jLt;.-ídicc, .. II (E'jl-=
Francisco Arromba, Associação dos Metalúrgicos Aposentados de
C-3fnpinaE)

Passemos agora ao outro foco de contr-aste, as lideranças sindicais

quanto àE questões de interesse dos aposentados é freqUentemente

,?Ieida, m,,-~sl~ar-aiTH?nteconsta dos discur-sos públicos do mo v i.rnorit.o cic;~:;

é:\pc:)~:;ent.adc.)s:. !t quase só apar-ecendo nas entrevistas. Ela se exprime

p r'
imord 1 men te· ri a ss quei ;·:as contra
i,::;. o despr!::~zo com que O"" m i 1 i tan tes

sindicais da ativa tr-atam das questões relacionadas à aposentadoria e

Previdância. Os aposentados r-eclamam que os dirigentes sindicais, como

os pol i tiCD~:., na épocc:~ cli:\S eleições, q ..


'-,~
c:;,
os

tr<':ibalh2<.dor-es.
da c'\ti···/a
"se (esquE·cem qU.e um dia t.ambém V~~D fici:õlr

velho:::.", "S:.E:, !"l:~o


mudar- F:le5:. v o
ã pas:.sal~ê'lITIf!:~s·miiil
coí.s.e ? , "t·::'\lvP2
nem
chequem a se apos~:;)ntarl!;que "o aposenta.do hoje est.3.no fim da. vida '::2

a Previd?ncia vai responder pela sobreviv?ncia do trabalhador que vai

se e.-tposentat- a(na.nh~~ll; que os sindicatos nâo percebem que 11 E-?s:::.e

-t -i•.. ~.a....
problema da Seguridade Social (.J_ mais respeito aos trabalhadores da

ativa que a nós: quem tem direito a beneficio é quem está trabalhando,

qUiC:?mtc.:::m aciden tE.' dE? tr-él.bc:l).


ho é quem está tl~abê"~).
t-·'ê":inc:lO"
; que as·

com r::. ('0 tem si tentam manipular os

<~poS::.E?ntado~::.
tl'··atC":\ndo·-·c)S
corno "coitadinhos", mélS.~:.:2.0 hostis. à r t or.orn.í.e
a!..

das associaç5es e já criaram obstáculos p a rt.ac í.p e ç ã o da COBAP rioe

Conselhos de Seguridade e Previd?ncia Social.1z

o ex-presidente da COBAP \12 ex-candidato a deputado federal pelo


r· ..•..
y••• ,

II .t;j) !l Sr. Osvaldo Lourenço, comenta a falta de participaçâo dos

sindicalistas da ativa na do capítulo consti t.u ci on al

referente à Seguridade Social~

'I E::.s:.f:-:: cap.:í.


tul o foi p re "\:..1. Célmente um T.rélba 1 r·,o",2>: c 1.u s ívo do::::.
aposentados, porque os trabalhadores da ativa nâo estavam
entendendo o alcance da seguridade social ... Mesmo porque eles
\i :.i..nh0.m ci<7? um di tadur··,:-:<., df~ um pE:~·-:Lodo di té';l.
tOI~ ié':ll E·2mque f oí,
modificado todo o conceito do que é previd?ncia soc:i.al... Eles
viviam em torno do economicismo, do assistencialismo, do
corporativismo ... Já o contrário aconteceu com os aposentados,
porque os aposentados "\:.em a sua conduçâo feita por lideranças
que participaram do movimento sindical nas décadas de 50 a 80,
e rnuí.t.o s del<=s" como f~U, por e;.:€;,mplo,que n a oc.:".si:~o(;:?t·-·3
dirigente do sindicato dos empregados na administraçâo do
pOi'-·CO de Santos. e ta.mbém de uma espécie de centr-al sindic,,:?,l
qUE: era C) Fór·un: Sindical, que congregava naquela. época, ;:17
sindicatos da Baixada Santista ... Ent10 esse foi o motivo da
maior-o ~wesenç:a;. de uma mobil .i za o maior dos aposentados.
ç ã I!

12 Na época dos confrontos entre o movimento de aposentados e o Governo Collar, que antecederam a mobilização pelos
147J.! a irritação das lideranças dos aposentados se voltou tanto contra o líder da Força Sindical, Luiz Antonio de
Medeiros -- que em julho de 1991, quando foi sancionado o Plano de Custeio e Benefícios, apareceu na TV como o
"responsável pela conquista" -- Quanto contra a CUT -- cuja corrente majoritária, num acorGO com o ex-ministro Magri, do
Trabalho e Previdincia Social! em 1991, aceitou indicar para os Conselhos de Previd~ncia e Seguridade e Cadastro
Nacional do Trabalhador nomes de asposentados em substituiçlo àqueles que representavam a COBAP e haviam sido vetados
pelo ministro. CT. Prata de Araújo, op, (it" p.27-29.
-,

Essa fala é interessante porque procura inverter o alvo das

cateqorias aCLtS·ct. tór- ia:- !!as.s.i=.tenciali-::.ta ll


, . "col~pora ti \1 i. s.ta"

li eccmomi c i. sta!l ~ f r"eqüen temen te di r i 1;1 idas ao sind i ca 1 ismo !Ipopu 1 ist.:=.\!!

\/01 tando-'as cori t I~ a o sind i cal i smo contempOt-"2inf20,

independentemente de sua orientaçâo politica. H ruptura com o modelo

de .1964·

e participaç~o sindical e politica que estabeleceram

nC)\/B.S fr~c)nteir~c.is sirnbólicas ent' ....


e tr"'abl?~ll·~iadc'ir-E's !~\/elhosll e "riovo s " e

se traduzi.ram num "conflito de gerações". Piss.im, os· I!no\/os.", baseados·

numél. valC:!riz~"\ç~lo da au.tonomia em relaçâo à po Lí t í.c e f-:? ao Es.tC:,.do,

'l:enderi:~m a acusar' os "",felhos" de "pelegos" e "õ:\ssistenci.alistas"; e

estes, por sua vez, baseados na valorizaçâo da disciplina do trabalho

E·? das conquistas. do pas.saclo mé:ll'-c:ada~; por uma fc)l'··te !~E~laçãD com o

-c(-?nderarr, 11 no\/c}::~:.
i!
de e

apos.f:?n t <.-lci os.

pi.::I.1'" t i eu]. é'\I'-I'!'!E'rl te "-iqueJ E2~:· que de

!!c:omunis.t.:=.\'! OLl '!p(::=:tet:<ista--p!'-é--'~"J41!---- aCUSE;'.mos sirldicaliEt~"s. da at.1.\/,:=,\

de fomentarem a falsa

imagem de quc-= \/e1 hos sindicalistas erél.m todos e

. t; a.L,. J.zaíe!Tf
cr as, uma f.::,ls.a oposição eri tre assistenciali.smo e

o caso da dos

Aposentados do Petróleo de Santos (ASTAIPE) que diverge da orientação

13 Ci. a análise de Elina G. F. Peçanha e Regina l. M. Morei, "Gerações operarias: rupturas e continuidades na
e~peri~n(ia dos metalúrgicos do Rio de Janeiro", R~vista Brasileira de CiÊncias Sociais, na. 17, p. 68-83. Sobre a
concepção de "gerações" como categorias que refletem distinções de espaço social e formas de açâo política entre
"jovens" e 'velhos", ver P. Bourdieu, "A juventude é apenas uma palavra" in gu~st;e5 de sociologia. Rio de Janeiro,
Marco Zero, p. 112-121.
-- ---------------

-~ -,
24

do :-:;indic.::>.to da ca.tegor-ia; ligado à CUT. Na vis~o do Sr. Bruno;

lid&"2r3nç3 da ASTAIF'E, a nova geF'açâo de dirigentes sindicais c\llleaça

pr.i\/ar os s.l.nd.1.catos uma sér-ie de serviços que benef i ci arn

trabalhadores e ex-trabalh3dores:

t:JE=:. (os:. di.l~içJEnt.E:'=:. cio s.Lnd i c a t.o ) t.ém ou t ra tí.c.e do que li.> ó

sindicalismo. Por exemplo, a nossa sede é uma sede bonita, 3té


rica mesmo, isso foi construido com recurso próprio do
t.rabalhador. Nâo houve empréstimo de jeito nenhum. Essa turma
i'\chc:\ que ="inclicc\l :\.s.mo n:~o é i~".="o. Tem de começ;3r" t.ur.io dE'
baixo. Nós n~o concordamos. Foi uma coisa que nós construimos.
Nâo e;d.sb:'? t'?s·s·e assist.encialismo que eles f a l arn , Houve umi':\
época que nâo tinha nada .•• O INPS sempre foi ruim. O INAMPS
sempre foi ruim. Ent~o nós pusemos o laboratório, o gabinete
df-;nt,::?'.t-io (;:::tudo o ma i s, , Isso deve permanecel'·. Começ:am POt-' aí
as divergéncias entre o pessoal mais ant.igo, que é o
aposen t<::"\do, e o pessoa 1 jovem. 11

Concluirei esti=".s notas r-epassando os pontos que m(~ p.::>.recem mais.

importantes .•
. ..
(J movimento un i f i ci:"do e pensJ.onJ.s.t.::\s:. qLtf.?

se constituiu desde o inicio dos anos 80 e recentemente se legitimou

como representante dos interesses dos benEficiários d3 Previdéncia é

uma resposta à situaçâo de orfandade PO!l~lCa na qual os aposentados

COlocados desde o fim do antigo sistema dE Na

. ~,
o rq an 1 zaç.=.\o do movimento dE'sempenha.m papel fundamen t.a I antigos

ati \/1.s:.tas e l.l.deres. s.indi cais ~ e a v i sâo das as:.s:,ociaç;ões tendf:? a

n:d letir a. e::·:periência deste:=- homens .. 1e9 i ti.me.ç;âo da

representatividade de.") mO\limento, i'01. de cruc:ial a

mobi, 1i ;::a.çâo f?m t.orno dos. J47~';' que, m.:3.i


s· do que uma rei v i.nd.i caç:;io

I'''ec:!i:~tr-ibutiva F!~;;;.pf:2C:.\.T.1C:3,
dr'amê:\ti;:~ou tantc) a cris.e C:!"" Fre\/id'i2nC::L""

Social quanto"" situaçâo dos velhos na sociedade brasileira.

-----'
O,::; apos€?nti:'J.do':5 S(;:.> ident.i.ficaram como "a maior- categol~i2-. do país" e

trataram de demonstrar insistentemente que,. embora

v í.voe , l úc í do a , ativos, capazes e d.ispostos pat-a. a "lut.a". F'roc:ur,:::~r-;:;\m

questionar a idéia de que os velhos s~o seres dependentes, passivos,

um lado" corno ~'iomE'ns qUf2 ainda prE~c::is.am ç.lar-ê?ntil~ (""I s.us.tentc) de S·E~US:·

dependentes e que ainda detém um papel importante junto à família, ou

que merecem respeito e consideraçâo pelo seu passado de trabalhadores.

De outro lado, interessados em obter o apoio da sociedade à sua causa

e em estabelecer uma identidade geral com os oprimidos,

representar também a luta mais geral pelos direitos dos mais velhos.

éi posen tados. elaboram s·ua identidade pol.:i.t.icC":i

contrastando-se com os grupos envolvidos com os programas de "terceira

"s:~o eie La z e r e n o de
ã luta" .--.-. e com os·

ativl.st.as sinc:lic<'-:1.is e

"col~por-ati.\/:i.st2\S:.", "('2conomic.:\.!:::.tas", "pE:>nsam que n ã o V:~D en\-'f~lr·lecr::?lr.",

"qu(;?t-em me'.fi.i pu l i:!\r- o c'pD~.:.;en


tado " f'" despr-eze\!n o poton cíeI dE~ 1uta deS";;tf?"

Notemos ainda que certas categorias acusatórias eneiereçadas aos grupos

---- como

"a~::.si.s.tenciê\lis.mol! p "me\nipule\ç~o partidél~ial! sâo eventualmpnte

usad3.s por 1.i d e r ari ç:as. de algumas 3.ssc ci


f açÕf-.?:::. contra n2-.

dinZil'ni c:a da identificaçào de adversérios e aliados em diferentes

mov i.rns-n t o de cDmbina C2.íact.er" í s·ti car::o fDrmais

coml...\nitér.i.o,i.S (~ 'fund(;? qUf?',,,.t.ões de cunho "dist.~-.ibut.i\lo" com as qu.c-?dí z ern

1'-e,":,pE2ito ~\ "~:.Ir-i:\mi!:lt.ic2\dElE -for-miAS de v í.d e ' para retomar os termos de

---~
...•
26

Ha.i:'E'~-ma.s.
1.4 F'ode--se dizer que, a través do mov í.msen t.o , os aposent.ados

estâo reconquistando um espaço de intervençâo politica legitima numa

questâo crucial para os destinos do pais e voltando a ser uma cobiçada

política eleitor-aI (o ex-ministro Antonio Britto que

diga .. além de proporcionarem a eles próprios a oportunidade de

~,:,.ecJui
ir' Cé\r-r··E!i. r·é,!:::· po 1i. +í. cas. Fazem .i ssso questic'nando pl'-€1concE?i.
to<::,.
e

estereótipos sobre a velhice -- ainda que de forma as vezes divagante,

lLm.ite d a
j·-et.:.t.cente, e, embora traduzam uma experi&ncia particular

de envelhecimento~ t&m contribuído para colocar em novas perspectivas

brasileira contemporânea.

14 ef. J. Habermas, "New social movements'~ JeIos, na 40, 1981~ p. 33-37. Habermas usa ambas as expressões para
distinguir a mudança na natureza dos conflitos sociais no capitalismo óe hem-estar contemporâneo. Os conflitos teriam
deixado de se referir a áreas de reproduç~o material, nlo seriam mais canalizados através de partidos e organizações
formais nem poderiam ser contornados ~ediante compensações oferecidadas pelo sistema de bem-estar. Ao contrário, os
"novos movimentos sociais' surgiriam nas áreas de reprodução cultural, integração social e socialização; manifestar-se-
iam por formas de protesto infra-institucionais e extraparlamentares; e girariam em torno a defesa de estilos de vida
ameaçados ou da prática de estilos de vida renovados. Através da análise que fazemos do novo movimento de aposentados e
pensionistas -- que tanto cDloca de;andas materiais em torno dos beneficios da Previdlncia, quanto questiona a posiçâo
dos velhos na sociedade -- vemos que aquelas duas Tormas de conflito não são excluóentes, como parece sugerir Habermas,
mas podem fundir-se num lesmo movimento social.

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