4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Simulado ENAMA
DIREITO CONSTITUCIONAL
Professor Danniel Adriano
Questão 1
No Município Alfa, há mais de dez anos, a população
sempre que necessita de atendimento médico acaba
dirigindo-se para os Municípios vizinhos, posto que as
filas de espera para uma consulta de rotina chegam a
atingir mais de dois anos. Caio, promotor recém
nomeado para atuar na Comarca, constata que o
problema na demora dos atendimentos decorrido da
defasagem no quadro de pessoal, que conta com
pouquíssimos médicos. Visando garantir o direito à
saúde da população de Alfa, Caio ajuíza uma ação civil
pública, requerendo a condenação do Município à
obrigação de realizar novo concurso para a contratação
de novos médicos. O Município, por seu turno, alega que
não pode o Poder Judiciário intervir na política pública
em questão, sob pena de violação à separação dos
poderes. Após o regular processamento, o magistrado
corretamente:
a) Poderá intervir na referida política pública, já que há
deficiência grave do serviço; contudo, em lugar de
determinar medidas pontuais, deve apontar as
finalidades a serem alcançadas e determinar à
Administração Pública que apresente um plano e/ou os
meios adequados para alcançar o resultado.
b) Não poderá intervir, já que, uma vez estabelecida uma
política pública, não é dado ao Poder Judiciário imiscuir-
se nela, sem violação à função típica do Poder Executivo.
c) Poderá intervir na referida política pública, já que há
deficiência grave do serviço, podendo determinar,
inclusive, a realização de concurso público para a
contratação de médicos, única via possível para
solucionar o problema.
d) Não poderá intervir na referida política pública, posto
que há mais de uma solução possível, como, por
exemplo, o remanejamento de recursos humanos ou a
contratação de organizações sociais (OS) e organizações
da sociedade civil de interesse público (OSCIP).
e) Poderá intervir na referida política pública,
independentemente de estar constatada a existência de
grave deficiência do serviço, posto que os direitos
fundamentais são normas constitucionais autoaplicáveis
às quais deve ser garantida máxima efetividade.
Comentários
Gabarito: A.
Debruçando-se sobre a possibilidade de o Poder
Judiciário intervir em políticas públicas, o Supremo
Tribunal Federal, recentemente, fixou as seguintes teses
no Tema 698:
“1. A intervenção do Poder Judiciário em políticas
públicas voltadas à realização de direitos fundamentais,
em caso de ausência ou deficiência grave do serviço, não
viola o princípio da separação dos poderes. 2. A decisão
judicial, como regra, em lugar de determinar medidas
pontuais, deve apontar as finalidades a serem
alcançadas e determinar à Administração Pública que
apresente um plano e/ou os meios adequados para
alcançar o resultado; 3. No caso de serviços de saúde, o
déficit de profissionais pode ser suprido por concurso
público ou, por exemplo, pelo remanejamento de
recursos humanos e pela contratação de organizações
sociais (OS) e organizações da sociedade civil de
interesse público (OSCIP)”.
Com base no decidido pelo STF e analisando a questão
em tela, torna-se evidente que o juiz do caso concreto
poderá intervir, já que há uma grave deficiência no
serviço (a fila de espera para atendimento médico chega
a quase dois anos). Contudo, não deverá o magistrado,
de pronto, determinar a realização de concurso público,
como pedido pelo Ministério Público, mas sim apontar a
finalidade a ser alcançada pelo Poder Executivo
municipal, o qual poderá superar o déficit de pessoal não
só por concurso, mas também pelo remanejamento de
recursos humanos e pela contratação de organizações
sociais (OS) e organizações da sociedade civil de
interesse público (OSCIP).
Questão 2
Cláudio, magistrado recém-empossado, depara-se no
seu primeiro mês no exercício da função com um
interessante caso. Valéria, pessoa com deficiência,
ajuizou uma ação pleiteando que as estações de metrô
construíssem rampas de modo a assegurar a
acessibilidade. Embora o serviço metroviário posse
mantido pelo Estado Beta, Valéria ajuizou a ação contra
o Município Gama. Cláudio, então, condena o Município
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a construir as rampas, e afasta o argumento de
ilegitimidade passiva formulado com base no _____,
princípio segundo o qual se garante que as Constituições
não sejam despidas de força normativa, de modo que
devem prevalecer interpretações que contribuam para
que as normas constitucionais tenham uma eficácia
ótima, adotando-se o sentido que lhes dê mais eficácia.
Posteriormente, contudo, a decisão de Cláudio foi
reformada pelo Tribunal de Justiça respectivo, com base
no _____, que determina que O intérprete não pode
chegar um resultado que subverta o esquema
organizatório-funcional estabelecido pela Constituição.
Os princípios interpretativos utilizados foram,
respectivamente:
a) Princípio da unidade e o princípio da harmonização.
b) Princípio do efeito integrador e o princípio da
harmonização.
c) Princípio da força normativa da constituição e o
princípio da justeza.
d) Princípio do efeito integrador e o princípio da justeza.
e) Princípio da força normativa da constituição e o
princípio da harmonização.
Comentários
Gabarito: C.
O princípio da unidade é aquele segundo o qual a
Constituição é um sistema único de regras e princípios,
de modo que todos os seus enunciados normativos
devem ser interpretados tendo em vista o todo.
O princípio da harmonização é aquele segundo o qual,
quando houver a colisão entre duas ou mais normas
constitucionais, o intérprete deve preservar ao máximo
os bens jurídicos tutelados, evitando o sacrifício total de
uns em relação aos outros.
O princípio do efeito integrador dispõe que, na solução
de problemas jurídico-constitucionais, deve-se priorizar
os critérios ou pontos de vista que favoreçam a
integração política e social. Constituição é o elo social.
O princípio da força normativa preocupa-se em garantir
que as Constituições não sejam despidas de força
normativa, tornando-se em meras folhas de papel.
Segundo esses princípios, ao interpretarmos o texto
constitucional, devem prevalecer soluções e pontos de
vista que contribuam para que as normas constitucionais
tenham uma eficácia ótima, adotando-se o sentido que
lhes dê mais eficácia.
O princípio da justeza dispõe que o intérprete não pode
chegar um resultado que subverta o esquema
organizatório-funcional estabelecido pela Constituição.
Deve-se respeitar a repartição de funções delineada pelo
constituinte.
Com base nessas definições, torna-se evidente que os
princípios utilizados foram o princípio da força normativa
e o princípio da justeza.
Questão 3
Foi ajuizada uma ação por Kokashi, japonês residente no
Brasil; Juarez, mexicano não residente no país, mas que
aqui se encontrava de férias; Ilson, brasileiro
naturalizado; Marmoaria Santa Fé Ltda., pessoa de
direito jurídico privado; e Clóvis, cachorro da raça
pinscher. Na ação, todos os requerentes alegam ser
titulares de direitos fundamentais que foram violados.
Ao proferir a sentença, o juiz, acertadamente:
a) Considerou que somente Kokashi e Ilson eram
titulares de direitos fundamentais;
b) Considerou que somente Kokashi, Juarez, Ilson e a
Marmoaria Santa Fé Ltda. eram titulares de direitos
fundamentais.
c) Considerou que todos eram titulares de direitos
fundamentais.
d) Considerou que apenas Kokashi, Juarez e Ilson eram
titulares de direitos fundamentais.
e) Considerou que nenhum deles eram titular de direitos
fundamentais.
Comentários
Gabarito: B.
O art. 5º, caput, da CF/88 atribui, de forma expressa, a
titularidade dos direitos fundamentais ali elencados
somente aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País”.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal é tranquilo ao
apontar que estrangeiros não residentes e apátridas
também são titulares, dada a universalidade desses
direitos (HC 94.016).
Ainda, reconhece-se que as pessoas jurídicas podem ser
titulares de direitos fundamentais, desde que
compatíveis com as suas finalidades.
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De outro lado, não se tem reconhecido, a despeito de
algumas correntes doutrinárias discordarem, que os
animais são titulares de direitos fundamentais. É esse o
atual posicionamento do E. STF – ver: RE 153.531.
Nesse cenário, todos são titulares de direitos
fundamentais, exceto Clóvis (animal).
Questão 4
Joana ajuizou uma ação perante o Juizado Especial Cível,
na qual pretende ver declarada a inexigibilidade de um
débito frente ao plano de saúde por ela contratado. O
principal fundamento veiculado é o de que a lei que
instituiu a possibilidade de referida cobrança é
inconstitucional. Foi proferida sentença desfavorável a
Joana, que, não conformada, recorreu. Júlio, Caio e
Marcelo, juízes atuantes na Turma Recursal, ao
depararem-se com a questão, entenderam que seria o
caso de declarar incidental a inconstitucionalidade da lei
aludida. Nessa circunstância:
a) Não poderão Júlio, Caio e Marcelo declarar
incidentalmente inconstitucional a lei, devendo remeter
todo o processo ao Tribunal Pleno do Tribunal, para
decidir a questão por maioria absoluta, nos termos do
art. 97 da CF/88.
b) Não poderão Júlio, Caio e Marcelo declarar
incidentalmente inconstitucional a lei, devendo remeter
somente a questão constitucional ao Tribunal Pleno do
Tribunal, para decidir a questão por maioria relativa, nos
termos do art. 97 da CF/88.
c) Não poderão Júlio, Caio e Marcelo declarar
incidentalmente inconstitucional a lei, devendo remeter
somente a questão constitucional ao Órgão Especial do
Tribunal, para decidir a questão por maioria absoluta,
nos termos do art. 97 da CF/88.
d) Poderão declarar incidentalmente a uma vez que a sanção não tem o condão de convalidar
inconstitucionalidade da referida e dar provimento ao
recurso inominado em favor de Júlia.
e) Não poderão Júlio, Caio e Marcelo declarar
incidentalmente inconstitucional a lei, devendo remeter
somente a questão constitucional ao Tribunal Pleno do
Tribunal, para decidir a questão por maioria absoluta,
nos termos do art. 97 da CF/88.
Comentários
Gabarito: D.
O art. 97 da CF traz a cláusula de reserva de plenário,
dispondo que: “Somente pelo voto da maioria absoluta
de seus membros ou dos membros do respectivo órgão
especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público.”
No caso tratado, contudo, deve-se considerar que o
órgão composto por Júlio, Caio e Marcelo é uma Turma
Recursal, que não possui natureza jurídica de Tribunal.
Por essa razão, conforme sedimentado entendimento do
STF, não se aplica a cláusula de reserva de plenário (AgR
em ARE 792.562), podendo a própria Turma declarar
incidentalmente a inconstitucionalidade da lei.
Questão 5
Jorge ajuizou uma ação contra Paulo, pretendendo
rediscutir a relação contratual entre eles estabelecida.
Para tanto, Jorge argumenta que se aplica ao caso em
concreto a Lei Y. Paulo, em sua contestação, rebate o
argumento de Jorge, afirmando que a Lei Y é
inconstitucional, pois o projeto de lei que seu início ao
seu processo legislativo foi apresentado por
parlamentar, quando deveria ter sido apresentado pelo
Chefe do Poder Executivo. Jorge, em réplica, concorda
que o referido projeto de lei é de iniciativa privativa do
Chefe do Poder Executivo, mas afirma que tal vício
restou superado pela concordância demonstrada pelo
Chefe do Poder Executivo quando da sanção.
O juiz, no caso concreto, constatando que, de fato, o
projeto de lei era de iniciativa reservada ao Chefe do
Poder Executivo, deverá:
a) Declarar incidentalmente a sua inconstitucionalidade,
vício de iniciativa.
b) Declarar que a lei é constitucional, uma vez que o vício
de iniciativa restou convalidado pela sanção
presidencial.
c) Submeter a constitucionalidade ou não da lei ao
Supremo Tribunal Federal, que possui competência
privativa para deliberar acerca de questões
constitucionais.
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d) Declarar que a lei é inconstitucional no dispositivo da
sentença, uma vez que a sanção não tem o condão de
convalidar vício de iniciativa.
e) Declarar que a lei é constitucional no dispositivo da
sentença, uma vez que o vício de iniciativa restou
convalidado pela sanção presidencial.
Comentários
Gabarito: A.
Inicialmente, deve-se constar que referida lei é
formalmente inconstitucional. Uma vez deflagrado o
processo legislativo por quem não tinha a iniciativa para
fazê-lo, como no caso, não haverá possibilidade de
convalidação, ainda que seja aposta a sanção pelo
próprio legitimado. Nesse sentido:
“(...) 1. Sanção executiva não tem força normativa para
sanar vício de inconstitucionalidade formal, mesmo que
se trate de vício de usurpação de iniciativa de
prerrogativa institucional do Chefe do Poder Executivo.
O processo legislativo encerra a conjugação de atos
complexos derivados da vontade coletiva de ambas as
Casas do Congresso Nacional acrescida do Poder
Executivo. Precedentes. (...). Ver: ADI 6.337, STF.
Uma vez fixada a inconstitucionalidade, ela poderá-
deverá ser declarada incidentalmente pelo juiz na
sentença. O fará, contudo, na fundamentação, restando
ao dispositivo a decisão acerca da questão principal.
Questão 6
Denise, juíza federal, recebe conclusos os autos de um
processo no qual se discutia a limitação à publicidade de
fumígenos. A parte autora, uma grande empresa do
ramo tabagista, buscava ver anulada multa aplicada por
violar atos normativos recentemente editados que
limitaram seu direito à publicidade. A parte autora alega
que seus direitos à liberdade de expressão e de livre
iniciativa haviam sido violados pela nova normativa. A
referida norma proibiu a propaganda visual nos locais de
venda, permitindo a exposição dos produtos. Também
aumentou o espaço para a advertência sobre os
malefícios do fumo, que deve cobrir toda a face posterior
e uma das laterais das embalagens. Ao proferir a sua
sentença, Denise acertadamente decidiu que:
a) Houve violação somente à liberdade de expressão,
uma vez que a restrição estabelecida foi
desproporcional.
b) Houve violação somente à livre iniciativa, sendo certo
que não pode o Estado determinar que uma empresa
faça propaganda contra o próprio produto.
c) Não houve violação à liberdade de expressão ou à livre
iniciativa, uma vez a limitação à publicidade de
fumígenos encontra respaldo no texto constitucional, já
que visa a promover outros direitos fundamentais, como
a vida e a saúde.
d) No caso em concreto houve violação à liberdade de
expressão e à livre iniciativa, posto que as restrições à
publicidade de produtos supostamente perigosos
somente podem ocorrer quando baseados em estudos
científicos sobre os riscos e os impactos do consumo
desses produtos, o que não ocorreu no caso.
e) Não houve violação à liberdade de expressão e ou à
livre iniciativa, uma vez que tais direitos são relativos e
podem ser restringidos sempre que houver interesse por
parte da autoridade pública.
Comentários
Gabarito: C.
O STF possui firme entendimento no sentido de que são
constitucionais as limitações à publicidade de fumígenos,
não havendo que se falar em restrição indevida à
liberdade de expressão ou à livre concorrência, quando
as limitações sejam baseadas em estudos científicos que
atestam os malefícios causados pelo consumo do
referido produto.
Nesse sentido:
EMENTA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ART. 3º, CAPUT e §§ 2º, 3º, 4º, 5º E 6º, DA LEI Nº
9.294/1996. PRODUTOS FUMÍGENOS, DERIVADOS OU
NÃO DO TABACO. RESTRIÇÕES À PROPAGANDA
COMERCIAL. ADVERTÊNCIAS SANITÁRIAS NAS
EMBALAGENS. PRELIMINARES REJEITADAS.
ADITAMENTO ACOLHIDO. EPIDEMIA DO TABAGISMO.
CONVENÇÃO-QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
CONTROLE DO TABACO (CQCT). OBSERVÂNCIA DO
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. PREVALÊNCIA DA
TUTELA DA SAÚDE. PRIORIDADE ABSOLUTA DA
PROTEÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
CONCRETIZAÇÃO DOS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA
REPÚBLICA. IMPROCEDÊNCIA. 1. A Confederação
Nacional da Indústria (CNI), entidade sindical de nível
superior que congrega as empresas da indústria
nacional, enquadra-se na hipótese de legitimação
prevista no art. 103, IX, CF. Rejeitada a preliminar de
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ilegitimidade, por existir pertinência temática entre seus
fins institucionais e a controvérsia constitucional posta.
As restrições impugnadas afetam os interesses das
fabricantes dos produtos fumígenos, responsáveis pela
propaganda da marca e dos produtos e pelas
embalagens. 2. É da linha decisória deste Supremo
Tribunal Federal a prejudicialidade por alterada a norma
contestada. Inexistência de inovação substancial a ponto
de exigir a reconstrução do quadro argumentativo em
nova ação. Rejeitada a preliminar de prejuízo, com
acolhimento do aditamento da petição inicial. 3. A
propaganda comercial encontra proteção constitucional,
por ser manifestação da liberdade de expressão e
comunicação. Na arquitetura dos direitos fundamentais,
que não comporta direitos absolutos, sujeita-se a
restrições, desde que proporcionais, na proteção de
outros valores públicos. 4. A atividade empresarial, em
todas as suas facetas, inclusive a publicitária, submete-
se aos princípios da ordem econômica e há
compatibilizar-se com a concretização dos demais
direitos fundamentais. 5. O art. 220, § 4º, CF, no sentido
de que a propaganda do “tabaco, bebidas alcoólicas,
agrotóxicos, medicamentos e terapias” pode sofrer
“restrições legais” explicita a possibilidade e a
importância das limitações publicitárias dos produtos
notadamente nocivos. 6. A propaganda comercial pode
sofrer restrição legal de variada intensidade e, de modo
proporcional, ser afastada para a tutela de outros
direitos fundamentais. A expressão “restrição”, no art.
220, § 4º, CF, não traduz limitação apriorística à
ponderação de valores resultante da aplicação do
princípio da proporcionalidade no caso concreto. 7.
Surgem constitucionais as restrições da publicidade dos
produtos fumígenos, derivados ou não do tabaco,
limitada à exposição dos produtos nos postos de venda,
e a imposição de advertência sanitária acompanhada de
imagem, por se mostraram adequadas, necessárias e
proporcionais em sentido estrito, no contexto
multifacetado das políticas públicas de combate ao fumo
e de controle do tabaco. 8. Prevalência da tutela da
saúde (art. 6º, CF) e incidência da proteção prioritária da
criança e do adolescente (art. 227, CF). Concretização
dos objetivos fundamentais da República (art. 3º, CF),
mediante o estabelecimento de limites à atividade
empresarial, no trato de problema de saúde pública de
grande proporção. Limitada a livre iniciativa, na
dimensão expressiva e comunicativa, para a construção
de uma sociedade mais livre, justa e solidária, o
desenvolvimento nacional sustentável, a redução de
desigualdades e a promoção do bem de todos. 9.
Inocorrência de delegação legislativa ao atribuir-se, ao
Ministério da Saúde, a tarefa de especificar as
advertências sanitárias. Competência regulamentar de
segundo grau para fiel execução da lei. Aplicação do
precedente formado ao julgamento da ADI 1075 (Rel.
Min. Celso de Mello, Pleno, j. virtual de 25.9 a
05.10.2020, DJe 19.10.2020). 10. Ação conhecida e
pedido julgado improcedente.
Ver: ADI 3311, STF.
Assim, a alternativa correta é a letra C.
Questão 7
Ivone pretende Ivone ver estendida para si uma
vantagem patrimonial reconhecida a outros servidores
públicos estaduais. Para tanto, formulou pedido
administrativo junto ao Secretário Estadual, que lhe
negou o pedido por ato administrativo fundamentado.
Inconformada, Ivone impetra mandado de segurança
impugnando ato praticado. No polo passivo do mandado
de segurança, impetrado perante a Justiça Federal, foi
indicado como autoridade coatora o Ministro da
Educação. Ainda, foi formulado, na inicial, o pedido de
concessão de liminar para sustar o ato praticado. Bruno,
juiz da causa, recebeu a petição inicial corrigindo o polo
passivo, mas indeferiu a liminar sob o fundamento de
que é vedado por lei a concessão da liminar na aludida
hipótese.
No caso, Bruno agiu:
a) Corretamente ao receber a inicial, mas
incorretamente ao indeferir a liminar.
b) Corretamente ao receber a inicial e ao indeferir a
liminar.
c) Incorretamente ao receber a inicial e corretamente ao
indeferir a liminar.
d) Incorretamente ao receber a inicial e ao indeferir a
liminar.
e) Corretamente ao receber a inicial, mas deveria ter
remetido o mandado de segurança imediatamente à
Justiça Estadual, após conceder a liminar.
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Comentários
Gabarito: D.
No caso, a autoridade coatora era o Secretário Estadual
de Educação. Logo, o MS deveria ter sido impetrado
contra o Estado e apontada como autoridade coatora o
referido Secretário. O erro na indicação do polo passivo,
neste caso, acarreta a extinção do MS, posto que sua
correção levaria à necessidade de remessa dos autos à
Justiça Estadual.
Veja, nesse sentido, a jurisprudência do STJ:
Deve ser admitida a emenda à petição inicial para corrigir
equívoco na indicação da autoridade coatora em
mandado de segurança, desde que a retificação do polo
passivo não implique alteração de competência
judiciária e desde que a autoridade erroneamente
indicada pertença à mesma pessoa jurídica da
autoridade de fato coatora. Precedentes citados: AgRg
no REsp 1.222.348-BA, Primeira Turma, DJe 23/9/2011;
e AgRg no RMS 35.638/MA, Segunda Turma, DJe
24/4/2012. AgRg no AREsp 368.159-PE, Rel. Min.
Humberto Martins, julgado em 1º/10/2013.
“Em que pese o argumento de ilegitimidade passiva ad
causa, da autoridade apontada como coatora, aplica-se
a Teoria da Encampação adotada pela Corte Federal
(STJ). Precedente: "A jurisprudência desta Corte firmou
entendimento segundo o qual, a aplicação da teoria da
encampação, que mitiga a indicação errônea da
autoridade coatora em mandado de segurança, tem
lugar quando presentes os seguintes requisitos: (i)
vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou as
informações e aquela que determinou a prática do ato;
(ii) manifestação sobre o mérito nas informações
prestadas, e; (iii) ausência de modificação na
competência constitucionalmente estabelecida." (AgInt
no RMS 39.158/MG, Rel. Ministra Regina Helena Costa,
Primeira Turma, DJe 11/05/2017).”
No que toca à liminar, o art. 7º, § 2º da Lei n. 12.016/09,
que dispunha que: “Não será concedida medida liminar
que tenha por objeto a compensação de créditos
tributários, a entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior, a reclassificação ou
equiparação de servidores públicos e a concessão de
aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de
qualquer natureza.”, foi declarado inconstitucional pelo
STF na ADIN 4296. Logo, não poderia ter o magistrado
indeferido o pedido com base neste dispositivo.
Questão 8
Joaquim, bacharel em Direito, foi aprovado para
ingressar em pós-graduação oferecida por uma
universidade pública. Faltando um mês para o início das
aulas, Joaquim é surpreendido com a cobrança pela
matrícula no referido curso. Inconformado, Joaquim
ajuíza uma ação pretendendo cancelar a cobrança.
O magistrado do feito corretamente:
a) Julgou procedente o pedido, posto que o art. 206, IV,
da CF/88 prevê que a gratuidade do ensino público em
estabelecimentos oficiais é um dos princípios do ensino.
b) Julgou improcedente o pedido, sob o argumento de
que não pode o Poder Judiciário realizar o controle sobre
atos administrativos praticados por universidade, já que
lhes é garantida a autonomia administrativa, pelo art.
207, caput, da CF/88.
c) Julgou procedente o pedido, já que o acesso aos níveis
mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um.
d) Julgou improcedente o pedido, pois a garantia
constitucional da gratuidade de ensino não obsta a
cobrança por universidades públicas de mensalidade em
cursos de especialização.
e) Julgou procedente o pedido, uma vez que o prazo legal
para a cobrança de matrícula é de sessenta dias antes do
início das aulas, sob pena de inexigibilidade do valor.
Comentários
Gabarito: D.
No Tema 535, o STF fixou a tese segundo a qual a
garantia constitucional da gratuidade de ensino não
obsta a cobrança por universidades públicas de
mensalidade em cursos de especialização.
Veja-se que a situação aqui narrada é diversa daquela
estabelecida na SV 12, a qual estabelece que “a cobrança
de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o
disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal”. Aqui,
não estamos tratando de graduação, mas de pós-
graduação lato senso.
Questão 9
Janaína, após seis anos de estudo, chegou à prova oral
para ingresso na magistratura do Tribunal de Justiça do
Estado Alfa. Após ter feito boa prova, foi surpreendida
com uma reprovação. Inconformada, Janaína pretende
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recorrer administrativamente do resultado. Nesse
cenário, é correto afirmar que:
a) Será cabível o recurso administrativo tão somente se
o objeto do recurso for a impugnação de alguma questão
que esteja fora do conteúdo programático ou suscitar
outras violações formais ao edital ou à Resolução.
b) Será cabível o recurso administrativo contra a prova
oral de concurso de magistratura para impugnar os
critérios de correção aplicados pelo examinador.
c) Não é cabível recurso administrativo de prova oral nos
concursos da magistratura, tampouco será cabível o
ajuizamento de ação ou impugnação perante o CNJ.
d) Não é cabível recurso administrativo de prova oral nos
concursos de magistratura em nenhuma hipótese,
tampouco impugnação perante o CNJ. Será cabível,
contudo, o ajuizamento de ação.
e) Não é cabível recurso administrativo de prova oral nos
concursos de magistratura em nenhuma hipótese. Será
cabível, contudo, impugnação perante o CNJ ou o
ajuizamento de ação.
Comentários
Gabarito: A.
O STF possui o entendimento de que somente cabe
recurso administrativo contra a prova oral nos concursos
da magistratura se o recurso tiver por objetivo impugnar
alguma questão que esteja fora do conteúdo
programático ou suscitar outras violações formais ao
edital ou à Resolução. Desse modo, não é cabível o
recurso se o objetivo for impugnar os critérios de
correção aplicados pelo examinador para as repostas
dadas.
Ver: MS 32.042.
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA.
ADMINISTRATIVO. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.
CONCURSO PÚBLICO PARA INGRESSO NA
MAGISTRATURA. PROVA ORAL. FORMULAÇÃO DE
QUESTÕES SOBRE TEMAS NÃO CONTEMPLADOS NO
PONTO JURÍDICO SORTEADO. INTERPOSIÇÃO DE
RECURSO ADMINISTRATIVO. ALEGADA INVIABILIDADE
DE REVISAR A NOTA OBTIDA PELO CANDIDATO (ART. 70,
§ 1º, DA RESOLUÇÃO CNJ n. 75/2009). DETERMINAÇÃO
DE EXCLUSÃO DO CERTAME. IMPOSSIBILIDADE.
DISTINÇÃO ENTRE A IRRETRATABILIDADE DA NOTA
ATRIBUÍDA AO CANDIDATO EM PROVA ORAL E O
EXECÍCIO DO CONTROLE ADMINISTRATIVO DA
LEGALIDADE. VINCULAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO ÀS
NORMAS ESTABELECIDA NO EDITAL DE CONCURSO
PÚBLICO. ORDEM DE SEGURANÇA CONCEDIDA.
Questão 10
Jacinto, magistrado, teve contra si instaurada uma
sindicância na Corregedoria do Tribunal ao qual estava
vinculado. Antes de ser efetivamente julgado, o
Conselho Nacional de Justiça instaurou procedimento
administrativo disciplinar e condenou-o à pena de
censura. Jacinto, inconformado, ajuizou uma ação
perante a Justiça Federal, afirmando que a competência
do CNJ se limitaria à revisão de eventual decisão final
proferida pela Corregedoria, com o prazo limite de um
ano para fazê-lo.
A partir do caso narrado, é correto afirmar que:
a) A ação foi corretamente ajuizada perante a Justiça
Federal, devendo ser processada e julgada por um juiz
federal.
b) A ação foi corretamente ajuizada perante a Justiça
Federal, mas deverá ser processada perante órgão
fracionário do Tribunal Regional Federal respectivo.
c) A ação foi incorretamente ajuizada perante a Justiça
Federal, sendo competência do Supremo Tribunal
Federal processar e julgar as ações que tenham por
objeto ato do Conselho Nacional de Justiça.
d) A ação foi incorretamente ajuizada perante a Justiça
Federal, sendo competência do Superior Tribunal de
Justiça processar e julgar as ações que tenham por
objeto ato do Conselho Nacional de Justiça.
e) A ação foi incorretamente ajuizada perante a Justiça
Federal, sendo competência da Justiça Estadual
processar e julgar o feito.
Comentários
Gabarito: C.
O Supremo Tribunal Federal, superando seu
entendimento anterior, fixou a tese segundo a qual:
“Nos termos do artigo 102, inciso I, alínea ‘r’, da
Constituição Federal, é competência exclusiva do
Supremo Tribunal Federal processar e julgar
originariamente todas as decisões do Conselho Nacional
de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público
proferidas nos exercício de suas competências
constitucionais respectivamente previstas nos artigos
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
103-B, parágrafo 4º, e 130-A, parágrafo 2º, da
Constituição Federal.” (ADI n. 4.412).
Logo, a competência para processar e julgar o caso será
do STF.
DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO
Professora Juliana Morais
Questão 11
José é empregado de uma empresa há cinco anos e é
sindicalizado. Ele decide se candidatar a um cargo de
direção no sindicato de sua categoria. Após registrar sua
candidatura, a empresa decide dispensá-lo, alegando
crise financeira.
Diante dessa situação, aponte a alternativa CORRETA,
considerando o Ordenamento Jurídico e a Jurisprudência
dos Tribunais Superiores:
A – Se a empresa comprovar a alegada crise financeira,
José não fará jus à reintegração, pois a dispensa não terá
sido arbitrária, mas sim fundada em motivo econômico
ou financeiro.
B – Caso José tivesse sido eleito, ocupando a 9ª posição
como suplente da diretoria, faria jus à garantia provisória
de emprego, eis que o artigo 522 da CLT - que limita os
membros da diretoria a no máximo 7 -, não foi
recepcionado pela Constituição Federal, em razão do
princípio de liberdade de organização sindical nela
preconizado.
C – Havendo extinção da atividade empresarial no
âmbito da base territorial do sindicato, não há razão para
subsistir a estabilidade de José.
D – O registro da candidatura do empregado a cargo de
dirigente sindical durante o período de aviso prévio,
ainda que indenizado, assegura-lhe a estabilidade, já que
o aviso prévio integra o contrato de trabalho para todos
os efeitos legais.
E – Se José tivesse se candidatado para o Conselho Fiscal,
também faria jus à garantia provisória de emprego,
porque o Conselho Fiscal, juntamente com a Diretoria,
compõe a Administração do Sindicato, na forma do
artigo 522 da CLT.
Comentários
A questão trata da garantia provisória do dirigente
sindical, prevista no artigo 8º, VII, da Constituição
Federal, e no artigo 543, § 3º, da CLT.
A alternativa “A” está INCORRETA.
O artigo 8º, VII, da Constituição Federal, dispõe ser
“vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir
do registro da candidatura a cargo de direção ou
representação sindical e, se eleito, ainda que suplente,
até um ano após o final do mandato, salvo se cometer
falta grave nos termos da lei”.
Dessa forma, diversamente do que ocorre com os
titulares da representação dos empregados na CIPA (Art.
165 da CLT); bem como com os representantes dos
trabalhadores na empresa (Art. 510-D, § 3º, da CLT), para
os quais está vedada apenas a dispensa arbitrária
(entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo
disciplinar, técnico, econômico ou financeiro), o
dirigente sindical só pode ser dispensado se cometer
falta grave nos termos da lei.
Cabe notar que o TST pacificou sua jurisprudência no
sentido de que é requisito para dispensa do dirigente
sindical por justa causa o ajuizamento de inquérito
judicial, senão vejamos:
O dirigente sindical somente poderá ser dispensado por
falta grave mediante a apuração em inquérito judicial,
inteligência dos arts. 494 e 543, §3º, da CLT
SUM-379 DIRIGENTE SINDICAL. DESPEDIDA. FALTA
GRAVE. INQUÉRITO JUDICIAL. NECESSIDADE
O dirigente sindical somente poderá ser dispensado por
falta grave mediante a apuração em inquérito judicial,
inteligência dos arts. 494 e 543, §3º, da CLT.
A alternativa “B” está INCORRETA.
A teor do artigo 522 da CLT, a “administração do
sindicato será exercida por uma diretoria constituída no
máximo de sete e no mínimo de três membros e de um
Conselho Fiscal composto de três membros, eleitos esses
órgãos pela Assembléia Geral”.
Por outro lado, o artigo 543, § 3º, da CLT dispõe ser
“vedada a dispensa do empregado sindicalizado ou
associado, a partir do momento do registro de sua
candidatura a cargo de direção ou representação de
entidade sindical ou de associação profissional, até 1
(um) ano após o final do seu mandato, caso seja eleito
inclusive como suplente, salvo se cometer falta grave
devidamente apurada nos termos desta Consolidação”.
O TST, examinando os referidos dispositivos legais à luz
da Constituição Federal de 1988, pacificou o
entendimento de que o artigo 522 da CLT foi
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
recepcionado pela Constituição Federal, de modo que a
garantia provisória do dirigente sindical está limitada a
sete dirigentes sindicais e igual número de suplentes.
Cabe transcrever a Súmula 369, II, do TST:
SUM-369 DIRIGENTE SINDICAL. ESTABILIDADE
PROVISÓRIA (redação do item I alterada na sessão do
Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012
– DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
II - O art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição
Federal de 1988. Fica limitada, assim, a estabilidade a
que alude o art. 543, § 3.º, da CLT a sete dirigentes
sindicais e igual número de suplentes.
Dessa forma, caso José tivesse sido eleito, ocupando a 9ª
posição como suplente da diretoria, NÃO faria jus à
garantia provisória de emprego, eis que excedido o
número máximo de 7 dirigentes sindicais e 7 suplentes,
previsto no artigo 522 da CLT.
A alternativa “C” está CORRETA.
Conforme pacificado pelo TST na Súmula 369, IV,
“havendo extinção da atividade empresarial no âmbito
da base territorial do sindicato, não há razão para
subsistir a estabilidade”.
Com efeito, diferentemente da garantia provisória da
gestante (Art. 10, II, b, do ADCT) ou do empregado
acidentado (Art. 118 da Lei 8.213/91), que tem natureza
subjetiva, a estabilidade do dirigente sindical não é
pessoal, mas sim objetiva, visando assegurar o livre
exercício da atividade sindical no âmbito da empresa.
Sendo de natureza objetiva, uma vez encerrada a
atividade da empresa na base territorial do sindicato
para o qual o empregado foi eleito, essa modalidade de
estabilidade não mais se justifica, não havendo mais
sequer empregados a serem representados.
A alternativa “D” está INCORRETA.
Segundo a Súmula 369, V, do TST, o registro da
candidatura do empregado a cargo de dirigente sindical
durante o período de aviso prévio, ainda que indenizado,
não lhe assegura a estabilidade, visto que inaplicável a
regra do § 3º do art. 543 da Consolidação das Leis do
Trabalho.
A alternativa “E” está INCORRETA.
Membro de conselho fiscal de sindicato não tem direito
à estabilidade prevista no artigo 543, § 3º, da CLT e 8º,
VIII, da CF/1988, já que sua competência é limitada à
fiscalização da gestão financeira do sindicato, não
representando ou atuando na defesa de direitos da
categoria respectiva. Nesse sentido, o TST editou a OJ
365 da SBDI-1/TST:
OJ-SDI1-365 ESTABILIDADE PROVISÓRIA. MEMBRO
DE CONSELHO FISCAL DE SINDICATO. INEXISTÊNCIA (DJ
20, 21 E 23.05.2008)
Membro de conselho fiscal de sindicato não tem direito
à estabilidade prevista nos arts. 543, § 3º, da CLT e 8º,
VIII, da CF/1988, porquanto não representa ou atua na
defesa de direitos da categoria respectiva, tendo sua
competência limitada à fiscalização da gestão financeira
do sindicato (art. 522, § 2º, da CLT).
Questão 12
Mário trabalha como técnico administrativo em uma
autarquia federal há cinco anos, contratado sob o regime
celetista. Recentemente, ele descobriu que os servidores
estatutários da autarquia recebem adicional por tempo
de serviço - quinquênio, em razão de previsão no
Estatuto, enquanto os servidores celetistas não têm
acesso a esse benefício. Decidido a buscar seus direitos,
Mário ajuíza uma ação judicial postulando o pagamento
do adicional por tempo de serviço, com base no princípio
da isonomia.
Diante dessa situação, analise as assertivas a seguir:
I – A competência material para processar a julgar a ação
ajuizada por Mário é da Justiça do Trabalho, já que se
trata de demanda ajuizada por servidor contratado pelo
regime celetista.
II – Caso os técnicos administrativos celetistas da
autarquia federal resolvessem entrar em greve, em
razão da ausência de extensão do adicional por tempo
de serviço para os servidores celetistas, a competência
para julgar a abusividade do movimento também seria
da Justiça do Trabalho, já que a autarquia adota o regime
celetista.
III – Considerando que Mário postula parcela de natureza
administrativa, a competência será da Justiça Comum,
independentemente do regime adotado pela autarquia.
IV – Caso houvesse sido ajuizada ação tratando sobre
controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de
seleção e de admissão de pessoal e eventual nulidade do
certame realizado pela autarquia federal, a competência
seria da Justiça Comum, ainda que adotado o regime
celetista.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Considerando o Ordenamento Jurídico e
Jurisprudência STF, estão CORRETAS as assertivas:
A – I, II e IV, apenas.
B – I e II, apenas.
C – III e IV, apenas.
D – III, apenas.
E – I, apenas.
Comentários
A assertiva I está INCORRETA.
O STF, no RE 1288440, concluiu ser da Justiça Comum a
competência para julgar ação ajuizada por servidor
celetista contra o Poder Público, em que se pleiteia
parcela de natureza administrativa, conforme tese fixada
no tema 1143 de repercussão geral:
Tema 1143 de RG: A Justiça Comum é competente para
julgar ação ajuizada por servidor celetista contra o Poder
Público, em que se pleiteia parcela de natureza
administrativa.
Dessa forma, a competência material para processar a
julgar a ação ajuizada por Mário é da Justiça Comum, já
que a parcela pleiteada tem natureza administrativa e
decorre de previsão estatutária, independente do
regime celetista adotado em sua contratação.
A assertiva II está INCORRETA.
O STF, no RE 846854, entendeu que a JUSTIÇA COMUM,
federal ou estadual, é competente para julgar a
abusividade de greve de servidores públicos celetistas da
Administração pública direta, autárquica e fundações
públicas, fixando a seguinte tese de repercussão geral:
Tema 544 de RG: A justiça comum, federal ou estadual,
é competente para julgar a abusividade de greve de
servidores públicos celetistas da Administração pública
direta, autarquias e fundações públicas.
A assertiva III está CORRETA.
Conforme já analisado, o STF, no RE 1288440, concluiu
ser da Justiça Comum a competência para julgar ação
ajuizada por servidor celetista contra o Poder Público,
em que se pleiteia parcela de natureza administrativa,
conforme tese fixada no tema 1143 de repercussão
geral:
Tema 1143 de RG: A Justiça Comum é competente para
julgar ação ajuizada por servidor celetista contra o Poder
a Público, em que se pleiteia parcela de natureza
administrativa.
Dessa forma, a competência material para processar a
julgar a ação ajuizada por Mário é da Justiça Comum, já
que a parcela pleiteada tem natureza administrativa e
decorre de previsão estatutária, independente do
regime celetista adotado em sua contratação.
A assertiva IV está CORRETA.
O STF, analisando o RE 960429, em que se discutiu a
competência material para processar e julgar
controvérsias nas quais se pleiteiam questões afetas à
fase pré-contratual de seleção e de admissão de pessoal
e eventual nulidade do certame, em face de pessoa
jurídica de direito privado, concluiu ser da Justiça
Comum a competência para processar e julgar tais
controvérsias, fixando a tese de repercussão geral
constante do tema 992:
Tema 992 de RG: Compete à Justiça Comum processar e
julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual
de seleção e de admissão de pessoal e eventual nulidade
do certame em face da Administração Pública, direta e
indireta, nas hipóteses em que adotado o regime
celetista de contratação de pessoas, salvo quando a
sentença de mérito tiver sido proferida antes de 6 de
junho de 2018, situação em que, até o trânsito em
julgado e a sua execução, a competência continuará a ser
da Justiça do Trabalho.
Assim, compete à Justiça Comum processar e julgar
controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de
seleção e admissão de pessoal e eventual nulidade do
certame em face da Administração Pública, direta e
indireta (abrangidas, inclusive, as empresas públicas e
sociedades de economia mista), nas hipóteses em que
adotado o regime celetista de contratação de pessoas.
Dessa forma, caso houvesse sido ajuizada ação tratando
sobre controvérsias relacionadas à fase pré-contratual
de seleção e de admissão de pessoal e eventual nulidade
do certame realizado pela autarquia federal, a
competência seria da Justiça Comum.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
DIREITO CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL
Professor Leonardo Tavares
Questão 13
Determinado sujeito está sendo investigado em
inquérito policial por suposto envolvimento em roubo
(art. 157, caput do CP). A autoridade policial procede ao
seu indiciamento formal. Com relação à prisão
temporária prevista na Lei 7.960/89 e considerando o
julgamento das ADIs 3360/DF e 4109/DF pelo Supremo
Tribunal Federal, assinale a alternativa correta.
a) Não é possível a prisão temporária nesse caso, mesmo
havendo fundadas razões de autoria ou participação do
indiciado.
b) A prisão temporária é admissível, em tese, para o
crime em questão; inclusive, em caso de urgência, pode
ser executada antes da expedição do mandado de prisão.
c) A prisão temporária só é admitida para os crimes
previstos em lei (art. 1º, III da Lei 7.960/89), admitindo-
se a analogia ou a interpretação extensiva do rol previsto
no dispositivo, de maneira a vedar a proteção
insuficiente.
d) Eventual suficiência e cabimento de medidas
cautelares diversas têm reflexos na apreciação da prisão
temporária, medida voltada à investigação, que toma em
conta as condições pessoais do indiciado e que deve ser
justificada em fatos novos ou contemporâneos que a
fundamentem.
e) Eventual prisão temporária que fosse decretada teria
o prazo ordinário de 5 dias; o decurso desse prazo
contido no mandado de prisão não acarretaria a soltura
do preso, devendo o juiz ser instado a reapreciar a
questão, podendo determinar a soltura mediante o
respectivo alvará.
Comentários
Gabarito: D
a) Errada. Em tese, na situação apresentada, é possível a
prisão temporária. O crime de roubo é previsto na alínea
‘c’ do inc. III do art. 1º da Lei 7.960/89.
Lei 7.960/89. Art. 1° Caberá prisão temporária:
III - quando houver fundadas razões, de acordo com
qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria
ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
b) Errada. Embora, em tese, admitida, a prisão
temporária somente poderá ser executada depois da
expedição de mandado.
Lei 7.960/89. Art. 2º § 5° A prisão somente poderá ser
executada depois da expedição de mandado judicial.
c) Errada. Segundo a decisão do STF nas ADIs referidas, é
“vedada a analogia ou a interpretação extensiva do rol
previsto no dispositivo”.
d) Certa. A prisão temporária é voltada à investigação,
deve tomar em conta as condições pessoais do indiciado,
a suficiência e cabimento de medidas cautelares diversas
têm reflexos na sua apreciação (prisão temporária como
última ratio), e, deve ser justificada em fatos novos ou
contemporâneos, segundo o julgamento das referidas
ADIs:
Lei 7.960/89. Art. 1° Caberá prisão temporária:
I - quando imprescindível para as investigações do
inquérito policial;
STF (ADIs 3360/DF e 4109/DF) - Interpretação conforme
a Constituição Federal ao art. 1º da Lei 7.960/1989 e
fixou o entendimento de que a decretação de prisão
temporária autoriza-se quando, cumulativamente: [...] 3)
for justificada em fatos novos ou contemporâneos que
fundamentem a medida (art. 312, § 2º, CPP); 4) a medida
for adequada à gravidade concreta do crime, às
circunstâncias do fato e às condições pessoais do
indiciado (art. 282, II, CPP); 5) não for suficiente a
imposição de medidas cautelares diversas, previstas nos
arts. 319 e 320 do CPP (art. 282, § 6º, CPP).
e) Errada. Conquanto o prazo ordinário seja de 5 dias,
não há necessidade de intervenção judicial para soltura,
nem de expedição de alvará no caso de decurso.
Lei 7.960/89. Art. 2º § 7º Decorrido o prazo contido no
mandado de prisão, a autoridade responsável pela
custódia deverá, independentemente de nova ordem da
autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em
liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da
prorrogação da prisão temporária ou da decretação da
prisão preventiva.
Questão 14
Quando do oferecimento de denúncia em face de Carlos,
pela prática do crime de homicídio culposo, o Ministério
Público requereu a prisão preventiva do acusado,
fundamentando o pedido no fato de o denunciado
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
possuir outras condenações por delitos culposos e,
ainda, por não possuir residência fixa na comarca.
Analisando o pedido do MP, assinale a alternativa
correta.
a) Não cabe a decretação da prisão preventiva do
acusado, mas é possível a imposição de medida cautelar
diversa da prisão.
b) Neste caso, o fato de o acusado possuir antecedentes
permite a decretação da sua prisão preventiva, com
fundamento na garantia da ordem pública.
c) Não cabe a decretação da prisão preventiva do
acusado, mas é possível a decretação da prisão
temporária.
d) É cabível a decretação da prisão preventiva do
acusado diante do fato de ele não possuir residência fixa
na comarca, para assegurar a aplicação da lei penal.
e) É possível a decretação da prisão preventiva do
acusado por conveniência da instrução criminal, para
garantir que as testemunhas possam depor livremente.
Comentários
Gabarito: A
a) Certa. Não cabe a decretação da prisão preventiva
porque não se está diante de hipótese de
admissibilidade. O crime pelo qual o acusado foi
denunciado é ‘culposo’ e não doloso, como dispõe a lei.
Por outro lado, ele também não é reincidente em crime
doloso. Todavia, é possível a imposição de medida
cautelar diversa da prisão, porque se trata de crime para
o qual a pena prevista é privativa de liberdade (art. 283,
§2º, CPP).
CP. Art. 121. § 3º Se o homicídio é culposo: Pena -
detenção, de um a três anos.
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será
admitida a decretação da prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de
liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em
sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto
no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; [...]
Art. 283. § 1º As medidas cautelares previstas neste
Título não se aplicam à infração a que não for isolada,
cumulativa ou alternativamente cominada pena
privativa de liberdade.
b) Errada. Conforme o artigo 313 do CPP, não cabe a
preventiva por se tratar de crime culposo. Quando não
preenchida alguma hipótese de admissibilidade a prisão
preventiva não pode ser decretada, por mais que
necessária ou presentes seus requisitos e pressupostos
(art. 312, CPP).
c) Errada. Como se viu, não cabe a decretação de prisão
preventiva e, tampouco, de prisão temporária, que só
tem espaço em fase de investigação (não é o caso, já tem
denúncia) e tem requisitos específicos, não sendo
cabível em relação a homicídio ‘culposo’ (art. 1º da Lei
7.960/89).
d) Errada. Por mais que presente o requisito (pouco no
enunciado para essa conclusão) garantia de aplicação da
lei penal (art. 312, CPP), não caberia a prisão preventiva
no caso, que não se enquadra em nenhuma hipótese de
admissibilidade.
e) Errada. Nem se cogitou do requisito conveniência da
instrução criminal (art. 312 do CPP) no enunciado. Por
mais que presente, mais uma vez, seria inviável a
preventiva.
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria e de
perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
DIREITO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO
Professor Rogério Cunha
Questão 15
João e Marcos, servidores da Secretaria de Fazenda do
Município Alfa, recém empossados, debatem sobre os
impostos de competência do município definidos na
Constituição da República de 1988, e também que o
município tem direito a percentuais de receitas de
impostos da União, dos Estados e do Distrito Federal,
tendo Marcos afirmado corretamente que, o Município
Alfa tem direito a:
A) 21,5%, através do Fundo de Participação dos
Municípios, do imposto sobre renda e proventos de
qualquer natureza;
B) 65% do produto da arrecadação do imposto do Estado
sobre a propriedade de veículos automotores terrestres
licenciados em seu território;
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
C) 26,5%, através do Fundo de Participação dos
Municípios, do imposto sobre produtos industrializados;
D) 50% do produto da arrecadação do imposto do Estado
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestações de serviços de transporte interestadual
e intermunicipal e de comunicação;
E) 70% do imposto sobre operações de crédito, câmbio e
seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários, se
for Município de origem do ouro como ativo financeiro.
Comentários
Gabarito – Letra E
Letra A – ERRADA – Na forma do art. 159, I “b” da
Constituição Federal o percentual da receita do IPI, IR e
IS a ser transferido pela União, via o Fundo de
Participação dos Municípios é de 22,5%.
Letra B – ERRADA – Conforme a previsão do art. 158, III
da CF/88 pertencem aos municípios 50% (cinquenta por
cento) do produto da arrecadação do imposto do Estado
sobre a propriedade de veículos automotores
licenciados em seus territórios e, em relação a veículos
aquáticos e aéreos, cujos proprietários sejam
domiciliados em seus territórios.
Letra C – ERRADA - vide letra A
Letra D – ERRADA – Conforme a previsão do art. 158, IV
da CF/88 pertencem aos Municípios 25% (vinte e cinco
por cento) do produto da arrecadação do imposto do
Estado sobre operações relativas à circulação de
mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação;
Letra E – CORRETA. Na forma do art. 153, §5º da CF/88 o
ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou
instrumento cambial, sujeita-se exclusivamente à
incidência do IOF, devido na operação de origem; a
alíquota mínima será de um por cento, assegurada a
transferência do montante da arrecadação na seguinte
proporção: trinta por cento para o Estado, o Distrito
Federal ou o Território, conforme a origem e setenta por
cento para o Município de origem.
Questão 16
Sarah, Mara e Mirian, vereadoras do Município Beta,
travaram intenso debate a respeito da denominada
imunidade tributária recíproca. Sarah entendia que essa
imunidade vedava que um ente federativo cobrasse
qualquer tributo de outro ente dessa natureza. Mara,
por sua vez, defendia que a imunidade recíproca é
extensiva à empresa pública prestadora de serviço
postal, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos
serviços vinculados a suas finalidades essenciais ou às
delas decorrentes, observados os balizamentos
constitucionais. Por fim, Mirian ressaltou que essa
imunidade aplica-se a seus beneficiários na posição de
contribuinte de direito e contribuinte de fato. Ao analisar
o entendimento das três, Joana concluiu, corretamente,
que:
A) apenas Sarah está correta;
B) apenas Mara está correta;
C) apenas Mirian está correta.
D) todas estão certas;
E) todas estão erradas;
Comentários
Gabarito: B
Letra A – ERRADA – A afirmação de Sarah está errada, já
que a previsão do art. 150, VI, “a” da CF/88 é limitada aos
impostos e, na forma do art. 149-B, parágrafo único da
CF a imunidade tributária recíproca aplica-se também à
CBS (contribuição sobre bens e serviços do art. 195, V)
não abrangendo as demais espécies tributárias.
Letra B – CORRETA- A afirmação está correta já que após
a EC 132/23 expressamente se incluiu no §2º do art. 150
da CF/88 a empresa pública prestadora de serviço postal,
no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços
vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes.
Letra C – ERRADA – A alternativa contraria o
entendimento do Tema Repercussão Geral 342 “A
imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus
beneficiários na posição de contribuinte de direito, mas
não na de simples contribuinte de fato, sendo irrelevante
para a verificação da existência do beneplácito
constitucional a repercussão econômica do tributo
envolvido.”
Letra D – ERRADA – vide letra A,B e C;
Letra E – ERRADA – vide letra A,B e C.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
DIREITO ADMINISTRATIVO
Professor Rodolfo Penna
Questão 17
Imagine as seguintes situações hipotéticas:
I – João foi condenado, em 1ª instância, por ato culposo
de improbidade administrativa, não havendo
comprovação alguma de dolo na sua conduta. Houve
recurso para o Tribunal de Justiça. Porém, antes que o
recurso fosse julgado, entrou em vigor a Lei nº
14.230/2021.
II – Gustavo foi condenado, em 1ª instância, por praticar
ato visando fim proibido em lei, na regra de
competência, com fundamento no art. 11, inciso I da Lei
de Improbidade Administrativa. Houve recurso para o
Tribunal de Justiça. Porém, antes que o recurso fosse
julgado, entrou em vigor a Lei nº 14.230/2021.
Nesse contexto, é correto afirmar que
a) a condenação será mantida em ambos os casos.
b) a condenação será mantida somente em relação a
João.
c) a condenação será mantida somente em relação a
Gustavo.
d) a condenação será integralmente mantida em relação
a João e parcialmente em relação a Gustavo.
e) a condenação não poderá ser mantida em ambos os
casos.
Comentários
Solução rápida
A alternativa E está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
A condenação não poderá ser mantida em ambos os
casos, tendo em vista que a Lei nº 14.230/2021 retroage
para alcançar fatos pretéritos não atingidos pela coisa
julgada, ante a revogação da modalidade culposa do ato
de improbidade administrativa, em relação a João, e a
revogação do art. 11, inciso I da LIA cumulada à
tipificação taxativa dos atos que atentam contra os
princípios da Administração Pública (ARE 843989/PR,
ARE 803568 AgR-segundo-EDv-ED e AgInt no AREsp
2.380.545-SP).
Solução completa
A alternativa E está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
Vamos à análise específica de cada situação:
I – João foi condenado, em 1ª instância, por ato culposo
de improbidade administrativa, não havendo
comprovação alguma de dolo na sua conduta. Houve
recurso para o Tribunal de Justiça. Porém, antes que o
recurso fosse julgado, entrou em vigor a Lei nº
14.230/2021.
Nesse caso, a condenação não poderá ser mantida em
relação a João, dada as seguintes razões:
1 – A Lei nº 14.230/2021 suprimiu a modalidade culposa
de improbidade administrativa.
2 – O STF definiu que a revogação da modalidade culposa
do ato não pode retroagir para alcançar fatos pretéritos
atingidos pela coisa julgada. Porém, retroage em relação
aos atos de improbidade administrativa culposos
praticados na vigência da Lei nº 8.429/1992, desde que
não exista condenação transitada em julgado.
Vejamos:
Por força do art. 5º, XXXVI, da CF/88, a revogação da
modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa, promovida pela Lei nº 14.230/2021, é
irretroativa, de modo que os seus efeitos não têm
incidência em relação à eficácia da coisa julgada, nem
durante o processo de execução das penas e seus
incidentes.
STF. Plenário. ARE 843989/PR, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 18/8/2022 (Repercussão Geral –
Tema 1199) (Info 1065).
Dessa forma, como a vigência da Lei nº 14.230/2021
operou antes da formação da coisa julgada em relação a
João, e não há provas de dolo em sua conduta, a
condenação não poderá ser mantida.
II – Gustavo foi condenado, em 1ª instância, por praticar
ato visando fim proibido em lei, na regra de
competência, com fundamento no art. 11, inciso I da Lei
de Improbidade Administrativa. Houve recurso para o
Tribunal de Justiça. Porém, antes que o recurso fosse
julgado, entrou em vigor a Lei nº 14.230/2021.
A condenação também não poderá ser mantida em
relação a Gustavo, dada as seguintes razões:
1 - A Lei nº 14.230/2021 revogou o art. 11, inciso I da LIA,
cuja redação é apresentada a seguir:
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que
atenta contra os princípios da administração pública
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou
regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
competência [...];
2 - O STF, no Tema 1.199, concluiu que as alterações
benéficas da Lei nº 14.230/2021 poderiam ser aplicadas
aos processos em curso, mesmo que já houvesse
condenação, desde que ainda não tivesse coisa julgada.
Esse raciocínio vem sendo aplicado pelo Supremo
também em relação às alterações promovidas no art. 11
da LIA, mesmo que não tratadas expressamente no Tema
1.199. Confira-se:
[...] 1. A Lei 14.231/2021 alterou profundamente o
regime jurídico dos atos de improbidade administrativa
que atentam contra os princípio da administração
pública (Lei 8.249/1992, art. 11), promovendo, dentre
outros, a abolição da hipótese de responsabilização por
violação genérica aos princípios discriminados no caput
do art. 11 da Lei 8.249/1992 e passando a prever a
tipificação taxativa dos atos de improbidade
administrativa por ofensa aos princípios da
administração pública, discriminada exaustivamente nos
incisos do referido dispositivo legal.
2. No julgamento do ARE 843989 (Tema 1.199), o
Supremo Tribunal Federal assentou a irretroatividade
das alterações da introduzidas pela Lei 14.231/2021 para
fins de incidência em face da coisa julgada ou durante o
processo de execução das penas e seus incidentes, mas
ressalvou exceção de retroatividade para casos como o
presente, em que ainda não houve o trânsito em julgado
da condenação por ato de improbidade.
3. As alterações promovidas pela Lei 14.231/2021 ao art.
11 da Lei 8.249/1992 aplicam-se aos atos de
improbidade administrativa praticados na vigência do
texto anterior da lei, porém sem condenação transitada
em julgado.
4. Tendo em vista que (i) o Tribunal de origem condenou
o recorrente por conduta subsumida exclusivamente ao
disposto no inciso I do do art. 11 da Lei 8.429/1992 e que
(ii) a Lei 14.231/2021 revogou o referido dispositivo e a
hipótese típica até então nele prevista ao mesmo tempo
em que (iii) passou a prever a tipificação taxativa dos
atos de improbidade administrativa por ofensa aos
princípios da administração pública, imperiosa a reforma
do acórdão recorrido para considerar improcedente a
pretensão autoral no tocante ao recorrente.
5. Impossível, no caso concreto, eventual
reenquadramento do ato apontado como ilícito nas
previsões contidas no art. 9º ou 10º da Lei de
Improbidade Administrativa (Lei 8.249/1992), pois o
autor da demanda, na peça inicial, não requereu a
condenação do recorrente como incurso no art. 9º da Lei
de Improbidade Administrativa e o próprio acórdão
recorrido, mantido pelo Superior Tribunal de Justiça,
afastou a possibilidade de condenação do recorrente
pelo art. 10, sem que houvesse qualquer impugnação do
titular da ação civil pública quanto ao ponto.
[...]
STF. Plenário. ARE 803568 AgR-segundo-EDv-ED, Rel.
Min. LUIZ FUX, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgado em 22/08/2023.
O STJ no mesmo sentido: AgInt no AREsp 2.380.545-SP.
Dessa forma, considerando a revogação do art. 11, inciso
I da LIA, a ausência de trânsito em julgado e a tipificação
taxativa dos atos que atentam contra os princípios da
Administração Pública, essa revogação deve retroagir
para atingir a conduta de Gustavo, que se torna atípica.
Assim, sua condenação não poderá ser mantida.
Em suma:
A condenação não poderá ser mantida em ambos os
casos, tendo em vista que a Lei nº 14.230/2021 retroage
para alcançar fatos pretéritos não atingidos pela coisa
julgada, ante a revogação da modalidade culposa do ato
de improbidade administrativa, em relação a João, e a
revogação do art. 11, inciso I da LIA cumulada à
tipificação taxativa dos atos que atentam contra os
princípios da Administração Pública.
A alternativa A está incorreta. A condenação não poderá
ser mantida em ambos os casos, tendo em vista que a Lei
nº 14.230/2021 retroage para alcançar fatos pretéritos
não atingidos pela coisa julgada, ante a revogação da
modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa, em relação a João, e a revogação do art.
11, inciso I da LIA cumulada à tipificação taxativa dos atos
que atentam contra os princípios da Administração
Pública.
A alternativa B está incorreta. A condenação não poderá
ser mantida em ambos os casos, tendo em vista que a Lei
nº 14.230/2021 retroage para alcançar fatos pretéritos
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
não atingidos pela coisa julgada, ante a revogação da
modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa, em relação a João, e a revogação do art.
11, inciso I da LIA cumulada à tipificação taxativa dos atos
que atentam contra os princípios da Administração
Pública.
A alternativa C está incorreta. A condenação não poderá
ser mantida em ambos os casos, tendo em vista que a Lei
nº 14.230/2021 retroage para alcançar fatos pretéritos
não atingidos pela coisa julgada, ante a revogação da
modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa, em relação a João, e a revogação do art.
11, inciso I da LIA cumulada à tipificação taxativa dos atos
que atentam contra os princípios da Administração
Pública.
A alternativa D está incorreta. A condenação não poderá
ser mantida em ambos os casos, tendo em vista que a Lei
nº 14.230/2021 retroage para alcançar fatos pretéritos
não atingidos pela coisa julgada, ante a revogação da
modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa, em relação a João, e a revogação do art.
11, inciso I da LIA cumulada à tipificação taxativa dos atos
que atentam contra os princípios da Administração
Pública.
Questão 18
O órgão público XYZ publicou edital de licitação. Dentre
os interessados no processo licitatório, encontravam-se:
I – a EMPRESA ALFA, que está impossibilitada de
participar de licitações em decorrência de sanção que lhe
foi imposta;
II – FERNANDO, único proprietário da EMPRESA ABC e
primo de agente público que desempenha função
importante na referida licitação;
III – a EMPRESA BETA, que há 2 (dois) anos foi condenada
judicialmente, com trânsito em julgado, por submissão
de trabalhadores a condições análogas às de escravo.
A Lei nº 14.133/2021 NÃO permite a disputa:
a) da EMPRESA ALFA e de FERNANDO.
b) da EMPRESA ALFA e BETA.
c) da EMPRESA ALFA, apenas.
d) de FERNANDO, apenas.
e) da EMPRESA ALFA, de FERNANDO e da EMPRESA
BETA.
Comentários
Solução rápida
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
A EMPRESA ALFA não poderá participar da licitação, por
expressa vedação do art. 14, inciso III da Lei nº
14.133/2021.
FERNANDO poderá participar da licitação, visto que
primo é parente de 4º grau e a Lei nº 14.133/2021 veda
a participação daquele “que mantenha vínculo de
natureza técnica, comercial, econômica, financeira,
trabalhista ou civil com dirigente do órgão ou entidade
contratante ou com agente público que desempenhe
função na licitação ou atue na fiscalização ou na gestão
do contrato, ou que deles seja cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o
terceiro grau, devendo essa proibição constar
expressamente do edital de licitação” (art. 14, inciso IV).
A EMPRESA ALFA não poderá participar da licitação, por
expressa vedação do art. 14, inciso VI da Lei nº
14.133/2021.
Solução completa
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
I – a EMPRESA ALFA, que está impossibilitada de
participar de licitações em decorrência de sanção que lhe
foi imposta;
A EMPRESA ALFA não poderá participar da licitação.
Vejamos:
Art. 14. Não poderão disputar licitação ou participar da
execução de contrato, direta ou indiretamente:
[...]
III - pessoa física ou jurídica que se encontre, ao tempo
da licitação, impossibilitada de participar da licitação em
decorrência de sanção que lhe foi imposta;
II – FERNANDO, único proprietário da EMPRESA ABC e
primo de agente público que desempenha função
importante na referida licitação;
FERNANDO poderá participar da licitação. Considerando
que primo é parente de 4º grau, vejamos:
Art. 14. Não poderão disputar licitação ou participar da
execução de contrato, direta ou indiretamente:
[...]
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
IV - aquele que mantenha vínculo de natureza técnica,
comercial, econômica, financeira, trabalhista ou civil
com dirigente do órgão ou entidade contratante ou com
agente público que desempenhe função na licitação ou
atue na fiscalização ou na gestão do contrato, ou que
deles seja cônjuge, companheiro ou parente em linha
reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
devendo essa proibição constar expressamente do edital
de licitação;
III – a EMPRESA BETA, que há 2 (dois) anos foi condenada
judicialmente, com trânsito em julgado, por submissão
de trabalhadores a condições análogas às de escravo.
A EMPRESA ALFA não poderá participar da licitação.
Vejamos:
Art. 14. Não poderão disputar licitação ou participar da
execução de contrato, direta ou indiretamente:
[...]
VI - pessoa física ou jurídica que, nos 5 (cinco) anos
anteriores à divulgação do edital, tenha sido condenada
judicialmente, com trânsito em julgado, por exploração
de trabalho infantil, por submissão de trabalhadores a
condições análogas às de escravo ou por contratação de
adolescentes nos casos vedados pela legislação
trabalhista.
As alternativas A, C, D e E estão incorretas.
Questão 19
Henrique sofreu ato ilícito praticado pelo Estado em
2004. Em 2008, ajuizou ação de indenização. Nesse
mesmo ano, o Juiz competente ordenou a citação, via
despacho, interrompendo a prescrição. Você, como
Magistrado da demanda, alerta a assessoria de que a
prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a
correr:
a) por mais 5 anos, com fundamento no Decreto nº
20.910/32.
b) por mais 5 anos, com fundamento na Súmula 383 do
STF.
c) por mais 2 anos e 6 seis meses, com fundamento no
Código Civil.
d) por mais 2 anos e 6 seis meses, com fundamento na
Súmula 383 do STF.
e) por mais 3 anos, com fundamento no art. 206 do
Código Civil.
Comentários
Solução rápida
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão.
. Se o prazo prescricional para ajuizar ação contra a
Fazenda Pública é interrompido, ele voltará a correr pela
metade do tempo. É o que prediz a Súmula nº 383/STF:
Súmula 383-STF: A prescrição em favor da Fazenda
Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir
do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de
cinco anos, embora o titular do direito a interrompa
durante a primeira metade do prazo.
Solução completa
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão.
O Decreto nº 20.910/32 dispõe em seu artigo 1º:
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos
Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação
contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja
qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos
contados da data do ato ou fato do qual se originarem.
Portanto, a norma trata da prescrição quinquenal em
favor do Estado.
Em regra, quando um prazo prescricional é
interrompido, ele volta a correr do zero, reinicia-se o
prazo. A Fazenda Pública, no entanto, goza de um
benefício quanto a este aspecto. Se o prazo prescricional
para ajuizar ação contra a Fazenda Pública é
interrompido, ele voltará a correr pela metade do
tempo. É o que prediz a Súmula nº 383/STF:
Súmula 383-STF: A prescrição em favor da Fazenda
Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir
do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de
cinco anos, embora o titular do direito a interrompa
durante a primeira metade do prazo.
A alternativa A está incorreta. O prazo será de 2 anos e 6
meses, a partir do despacho que ordena a citação, com
fundamento na Súmula 383/STF, não havendo que se
falar em prazo de cinco anos, pois essa é uma das
prerrogativas da Fazenda Pública.
A alternativa B está incorreta. O prazo será de 2 anos e 6
meses, a partir do despacho que ordena a citação, com
fundamento na Súmula 383/STF, não havendo que se
falar em não havendo que se falar em prazo de cinco
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
anos, pois essa é uma das prerrogativas da Fazenda
Pública.
A alternativa C está incorreta. O prazo será de 2 anos e 6
meses, a partir do despacho que ordena a citação, com
fundamento na Súmula 383/STF, sendo que as
disposições do Código Civil não regem a relação em
comento, nesse aspecto.
A alternativa E está incorreta. O prazo será de 2 anos e 6
meses, a partir do despacho que ordena a citação, com
fundamento na Súmula 383/STF, não havendo que se
falar em prazo de 3 anos, previsto no Código Civil, pois
este rege a pretensão indenizatória entre particulares.
Questão 20
Considere que o Poder Judiciário tenha determinado a
prisão cautelar de Marcos, no curso de regular processo
criminal que apurou crime de homicídio.
Posteriormente, Marcos foi absolvido pelo júri popular.
Em liberdade, ajuizou ação de indenização em face do
Estado, alegando a responsabilidade civil deste, pelo fato
de ter ocorrido prisão cautelar e posterior absolvição
pelo júri popular, caracterizando erro judiciário. Nesse
contexto,
a) Marcos assiste razão em suas alegações, devendo ser
indenizado pelo Estado, uma vez que a Constituição
Federal admite a responsabilidade civil por erro
judiciário.
b) Marcos assiste razão em suas alegações, desde que o
erro judiciário tenha sido confirmado pelos Tribunais
Superiores.
c) Marcos não assiste razão em suas alegações, pois a
regular decretação de prisão cautelar por si só não
enseja a condenação do Estado.
d) Marcos não assiste razão em suas alegações, pois o
reconhecimento da responsabilidade acarretaria ofensa
à coisa julgada.
e) Marcos não assiste razão em suas alegações, pois o
Poder Judiciário é soberano.
Comentários
Solução rápida
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
Em regra, prevalece o entendimento doutrinário e
jurisprudencial pela ausência de responsabilidade civil
do Estado por atos tipicamente jurisdicionais.
Entretanto, é apontada uma situação excepcional, em
que será possível a responsabilidade civil do es-tado por
ato jurisdicional: trata-se da situação prevista no art. 5º,
LXXV, da CF, que dispõe o seguinte:
Art. 5º (...) LXXV - o Estado indenizará o condenado por
erro judiciário, assim como o que fi-car preso além do
tempo fixado na sentença;
O erro judiciário deve ser considerado aquele erro
teratológico, substancial e inescusável. Sobre esse tema,
é a posição do STF,
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRISÃO
CAUTELAR DETERMINADA NO CURSO DE REGULAR
PROCESSO CRIMINAL. POSTERIOR ABSOLVIÇÃO DO RÉU
PELO JÚRI POPULAR. DEVER DE INDENIZAR. REEXAME DE
FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. ATO JUDICIAL
REGULAR. INDENIZAÇÃO. DESCABIMENTO.
PRECEDENTES.
1. O Tribunal de Justiça concluiu, com base nos fatos e
nas provas dos autos, que não restaram demonstrados,
na origem, os pressupostos necessários à configuração
da responsabilidade extracontratual do Estado, haja
vista que o processo criminal e a prisão aos quais foi
submetido o ora agravante foram regulares e se
justificaram pelas circunstâncias fáticas do caso
concreto, não caracterizando erro judiciário a posterior
absolvição do réu pelo júri popular.
2. Inadmissível, em recurso extraordinário, o reexame
dos fatos e das provas dos autos. Incidência da Súmula
nº 279/STF.
3. A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que,
salvo nas hipóteses de erro judiciário e de prisão além do
tempo fixado na sentença, previstas no art. 5º, inciso
LXXV, da Constituição Federal, bem como nos casos
previstos em lei, a regra é a de que o art. 37, § 6º, da
Constituição não se aplica aos atos judiciais quando
emanados de forma regular e para o fiel cumprimento
do ordenamento jurídico.
4. Agravo regimental não provido.
STF - AI: 803831 SP, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de
Julgamento: 19/03/2013, Primeira Turma, Data de
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Publicação: DJe-091 DIVULG 15-05-2013 PUBLIC 16-05-
2013.
Solução completa
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
Em regra, prevalece o entendimento doutrinário e
jurisprudencial pela ausência de responsabilidade civil
do Estado por atos tipicamente jurisdicionais.
Entretanto, é apontada uma situação excepcional, em
que será possível a responsabilidade civil do es-tado por
ato jurisdicional: trata-se da situação prevista no art. 5º,
LXXV, da CF, que dispõe o seguinte:
Art. 5º (...) LXXV - o Estado indenizará o condenado por
erro judiciário, assim como o que fi-car preso além do
tempo fixado na sentença;
O erro judiciário deve ser considerado aquele erro
teratológico, substancial e inescusável. Sobre esse tema,
é a posição do STF,
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRISÃO
CAUTELAR DETERMINADA NO CURSO DE REGULAR
PROCESSO CRIMINAL. POSTERIOR ABSOLVIÇÃO DO RÉU
PELO JÚRI POPULAR. DEVER DE INDENIZAR. REEXAME DE
FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. ATO JUDICIAL
REGULAR. INDENIZAÇÃO. DESCABIMENTO.
PRECEDENTES.
1. O Tribunal de Justiça concluiu, com base nos fatos e
nas provas dos autos, que não restaram demonstrados,
na origem, os pressupostos necessários à configuração
da responsabilidade extracontratual do Estado, haja
vista que o processo criminal e a prisão aos quais foi
submetido o ora agravante foram regulares e se
justificaram pelas circunstâncias fáticas do caso
concreto, não caracterizando erro judiciário a posterior
absolvição do réu pelo júri popular.
2. Inadmissível, em recurso extraordinário, o reexame
dos fatos e das provas dos autos. Incidência da Súmula
nº 279/STF.
3. A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que,
salvo nas hipóteses de erro judiciário e de prisão além do
tempo fixado na sentença, previstas no art. 5º, inciso
LXXV, da Constituição Federal, bem como nos casos
previstos em lei, a regra é a de que o art. 37, § 6º, da
Constituição não se aplica aos atos judiciais quando
emanados de forma regular e para o fiel cumprimento
do ordenamento jurídico.
4. Agravo regimental não provido.
STF - AI: 803831 SP, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de
Julgamento: 19/03/2013, Primeira Turma, Data de
Publicação: DJe-091 DIVULG 15-05-2013 PUBLIC 16-05-
2013.
A alternativa A está incorreta. Embora a Constituição
Federal admita a responsabilidade civil do Estado por
erro judiciário, não é o caso de Marcos, pelos motivos já
explicados.
A alternativa B está incorreta. O requisito de
confirmação pelos Tribunais Superiores não tem
previsão constitucional/legal.
A alternativa D está incorreta. O reconhecimento de
responsabilidade civil por ato jurisdicional, quando
cabível, não ofende a coisa julgada.
A alternativa E está incorreta. Como dito alhures,
prevalece o entendimento doutrinário e jurisprudencial
pela ausência de responsabilidade civil do Estado por
atos tipicamente jurisdicionais. Isso não significa que o
Poder Judiciário é soberano, nesse aspecto. Em situações
excepcionais, será possível a responsabilidade civil por
ato jurisdicional.
Questão 21
Gilberto estava estudando para concurso público com
sua amiga Juliana, quando esta perguntou para ele sobre
as peculiaridades conferida às agências reguladoras.
Nesse caso, a resposta correta de Gilberto foi de que as
agências reguladoras
a) possuem autonomia financeira e administrativa.
b) estão sob subordinação hierárquica.
c) são as únicas entidades da Administração Pública
competentes para regular a atividade econômica.
d) seus dirigentes adquirem vitaliciedade após três anos
de exercício.
e) seus dirigentes são servidores efetivos em cargo de
confiança.
Comentários
Solução rápida
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão. As agências reguladoras são espécie de
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
autarquia, porém, constituídas sob um regime especial
que lhe confere maior autonomia técnica, administrativa
e financeiro-orçamentária, bem como atribuições
especiais para exercício de seu objetivo institucional.
O art. 3º prevê diversos instrumentos que compõem o
regime especial das agências reguladoras:
Art. 3º A natureza especial conferida à agência
reguladora é caracterizada pela ausência de tutela ou de
subordinação hierárquica, pela autonomia funcional,
decisória, administrativa e financeira e pela investidura a
termo de seus dirigentes e estabilidade durante os
mandatos, bem como pelas demais disposições
constantes desta Lei ou de leis específicas voltadas à sua
implementação.
Solução completa
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
As agências reguladoras são espécie de autarquia,
porém, constituídas sob um regime especial que lhe
confere maior autonomia técnica, administrativa e
financeiro-orçamentária, bem como atribuições es-
peciais para exercício de seu objetivo institucional.
O art. 3º prevê diversos instrumentos que compõem o
regime especial das agências reguladoras:
Art. 3º A natureza especial conferida à agência
reguladora é caracterizada pela ausência de tutela ou de
subordinação hierárquica, pela autonomia funcional,
decisória, administrativa e financeira e pela investidura a
termo de seus dirigentes e estabilidade durante os
mandatos, bem como pelas demais disposições
constantes desta Lei ou de leis específicas voltadas à sua
implementação.
A alternativa B está incorreta. Na verdade, as agências
reguladoras são marcadas pela ausência de
subordinação hierárquica.
Art. 3º A natureza especial conferida à agência
reguladora é caracterizada pela ausência de tutela ou de
subordinação hierárquica, pela autonomia funcional,
decisória, administrativa e financeira e pela investidura a
termo de seus dirigentes e estabilidade durante os
mandatos, bem como pelas demais disposições
constantes desta Lei ou de leis específicas voltadas à sua
implementação.
A alternativa C está incorreta. O Estado também exerce
a atividade regulatória pela Administração Direta e por
meio de autarquias.
A alternativa D está incorreta. A lei de criação da agência
reguladora prevê que o mandato do dirigente será por
prazo determinado, estabelecido na lei, não havendo
possibilidade de sua exoneração ad nutum. Por este
motivo, o dirigente da agência reguladora somente
poderá perder o cargo por: i) condenação criminal
transitada em julgado; ii) processo administrativo
disciplinar (por falta funcional prevista em lei); e iii)
renúncia.
Além disso, em regra, o mandato do dirigente não
coincide com o mandato do Chefe do Poder Executivo.
Pode até ser o mesmo prazo (4 anos), mas os mandatos
terminarão em datas diferentes.
A alternativa E está incorreta. Os dirigentes das agências
reguladoras não são servidores efetivos em cargo de
confiança. São indicados pelo Chefe de Poder Executivo
e devem ser aprovados pelo Poder Legislativo. Neste
caso, após a indicação do indivíduo a assumir o cargo, o
indicado passará por uma sabatina no órgão legislativo
indicado na lei (normalmente o Senado Federal, se a
agência for federal), que aprovará ou não a sua
nomeação.
Questão 22
O Prefeito Luiz do Município Alfa promoveu um grande
evento esportivo em determinado bairro da cidade. No
local, foram afixados diversos cartazes com fotos e nome
do Prefeito Luiz, do secretário de esporte e do secretário
de saúde, com a frase "Juntos pelo esporte, saúde e bem-
estar da coletividade", para promover os indivíduos.
Considerando tal situação hipotética, há clara violação
do princípio constitucional da
a) precaução.
b) publicidade.
c) eficiência.
d) impessoalidade.
e) sindicabilidade.
Comentários
Solução rápida
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão. O princípio da impessoalidade estabelece
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
que a atuação da Administração Pública não pode ter
caráter pessoal nem ser movida por sentimentos ou
vontades pessoais do Administrador.
Sob o aspecto da vedação à promoção pessoal, o
princípio da impessoalidade estabelece que as
realizações da Administração Pública não podem ser
divulgadas como feito pessoal do agente público que a
representa. São feitos da própria Administração Pública.
Trata-se da aplicação da teoria do órgão ou da
imputação. Esta teoria determina que a vontade do
agente se confunde com a vontade do órgão. Logo,
quando o agente emite um ato volitivo, é a vontade do
órgão que está sendo manifestada e não a vontade
particular do agente público.
Solução completa
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão. O princípio da impessoalidade estabelece
que a atuação da Administração Pública não pode ter
caráter pessoal nem ser movida por sentimentos ou
vontades pessoais do Administrador.
Sob o aspecto da vedação à promoção pessoal, o
princípio da impessoalidade estabelece que as
realizações da Administração Pública não podem ser
divulgadas como feito pessoal do agente público que a
representa. São feitos da própria Administração Pública.
Trata-se da aplicação da teoria do órgão ou da
imputação. Esta teoria determina que a vontade do
agente se confunde com a vontade do órgão. Logo,
quando o agente emite um ato volitivo, é a vontade do
órgão que está sendo manifestada e não a vontade
particular do agente público.
A alternativa A está incorreta. O princípio da precaução
consiste na necessidade de se evitar catástrofes antes
que ela de fato ocorra. De acordo com Carvalho Filho ,
pode-se denominar este postulado também de princípio
da prevenção, embora se reconheça que há resistência
da doutrina quanto a essa equivalência.
De acordo com o autor, o referido princípio tem origem
no direito ambiental, cuja aplicação ocorre quando há
risco de danos graves e degradação ambiental, em que
se exige medidas preventivas de for-ma imediata para
evitar a ocorrência destes prejuízos ambientais, ainda
que não exista certeza científi-ca absoluta acerca da
natureza e da dimensão do dano ambiental.
A alternativa B está incorreta. O princípio da publicidade
determina a divulgação de informações e das atividades
da Administração Pública, tornando-os públicos e
acessíveis à sociedade. Estabelece o dever de
transparência em toda a atuação do Poder Público, vez
que o seu titular e destinatário da atividade
Administrativa – a coletividade – deve ter ciência da
atuação dos Entes Públicos.
A alternativa C está incorreta. O princípio da eficiência
foi inserido expressamente na Constituição Federal pela
Emenda Constitucional 19/1998, apelidada de “emenda
da reforma administrativa”, em razão das diversas
alterações promovidas nos institutos relacionados à
Administração Pública.
A eficiência é a busca dos melhores resultados práticos
(produtividade), por meio da melhor atuação possível,
de forma célere e com redução dos desperdícios
(economicidade). O que se exige é que atue com
diligência, presteza e bom desempenho funcional. Trata-
se de princípio relacionado à boa administração.
A alternativa E está incorreta. O princípio da
sindicabilidade, de acordo com a doutrina, trata-se do
poder de controle sobre a atuação estatal. O conceito
abrange tanto o controle realizado pela própria
Administração Pública sobre seus atos, quanto o
controle externo realizado pelo Poder Judiciário e pelo
Poder Legislativo com auxílio dos Tribunais de Contas.
Sindicabilidade, portanto, é o caráter controlável dos
atos administrativos. Consiste em vetor indispensável ao
Estado Democrático de Direito, desde que se rompeu
com os regimes autoritários, em que a atuação estatal
não poderia ser objeto de controle, uma vez que era
vigente a ideia de que os reis e os seus agentes, como
representantes do rei, não estavam sujeitos a erros (“the
king can do not wrong”).
Questão 23
Maria pleiteou determinado ato discricionário perante a
Administração Pública competente, que se quedou
inerte em relação ao pedido efetuado, eximindo-se de
tomar decisão há mais de dois anos. Sobre essa situação,
é correto afirmar que
a) não é cabível controle de ato discricionário
administrativo pelo Poder Judiciário.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
b) Maria poderá buscar a via judicial para impugnar a
inércia da Administração, devendo o Poder Judiciário
proferir decisão quanto ao ato pleiteado.
c) Maria poderá buscar a via judicial para impugnar a
inércia da Administração, pois a inércia, nesse caso,
caracteriza abuso de poder, de modo que o Poder
Judiciário poderá determinar prazo para o exame do
pedido.
d) Maria poderá buscar a via judicial para impugnar a
inércia da Administração, mas o Poder Judiciário não
poderá determinar prazo para o exame do pedido.
e) Maria não poderá buscar a via judicial para impugnar
a inércia da Administração, embora, em regra, admita-se
o controle jurisdicional de ato discricionário
administrativo.
Comentários
Solução rápida
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão. No controle judicial, relativo à Administração
Pública, verifica-se a legalidade ou legitimidade dos atos
administrativos, nunca o mérito administrativo. Segundo
a doutrina moderna, nesse controle de legalidade,
também chamado de "controle de juridicidade", o Poder
judiciário pode controlar os atos não apenas em relação
às leis, mas também em confronto com todo o
ordenamento jurídico, aí incluídas as súmulas
vinculantes, decisões vinculantes dos Tribunais
Superiores, princípios expressos e implícitos, dentre
outros.
Além da legitimidade, o Poder Judiciário também realiza
o controle administrativo relativamente ao abuso de
poder (desvio de poder e excesso de poder) e à teoria
dos motivos determinantes, podendo anular ato
administrativo se verificada a inexistência ou falsidade
dos motivos declarados que ensejaram a prática do ato.
Por estes motivos, o Judiciário somente poderá anular o
ato administrativo irregular, nunca poderá revogá-lo,
tendo em vista que a revogação decorre de controle de
mérito (conveniência e oportunidade). Por outro lado, é
importante ressaltar que o Judiciário não está proibido
de realizar o controle de atos discricionários. Pelo
contrário, poderá apreciar a juridicidade destes atos,
apenas devendo se abster de realizar apreciação do seu
mérito administrativo.
Além disso, o Poder Judiciário, ao anular um ato
administrativo, não pode substituir o administrador
praticando outro em seu lugar. Deverá determinar que o
administrador tome as providências necessárias.
Solução completa
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão. No controle judicial, relativo à Administração
Pública, verifica-se a legalidade ou legitimidade dos atos
administrativos, nunca o mérito administrativo. Segundo
a doutrina moderna, nesse controle de legalidade,
também chamado de "controle de juridicidade", o Poder
judiciário pode controlar os atos não apenas em relação
às leis, mas também em confronto com todo o
ordenamento jurídico, aí incluídas as súmulas
vinculantes, decisões vinculantes dos Tribunais
Superiores, princípios expressos e implícitos, dentre
outros.
Além da legitimidade, o Poder Judiciário também realiza
o controle administrativo relativamente ao abuso de
poder (desvio de poder e excesso de poder) e à teoria
dos motivos determinantes, podendo anular ato
administrativo se verificada a inexistência ou falsidade
dos motivos declarados que ensejaram a prática do ato.
Por estes motivos, o Judiciário somente poderá anular o
ato administrativo irregular, nunca poderá revogá-lo,
tendo em vista que a revogação decorre de controle de
mérito (conveniência e oportunidade). Por outro lado, é
importante ressaltar que o Judiciário não está proibido
de realizar o controle de atos discricionários. Pelo
contrário, poderá apreciar a juridicidade destes atos,
apenas devendo se abster de realizar apreciação do seu
mérito administrativo.
Além disso, o Poder Judiciário, ao anular um ato
administrativo, não pode substituir o administrador
praticando outro em seu lugar. Deverá determinar que o
administrador tome as providências necessárias.
A alternativa A está incorreta. O Brasil adotou o sistema
de jurisdição una (unicidade de jurisdição – sistema
inglês), em que apenas o Poder Judiciário possui a
atribuição de decidir de maneira definitiva sobre a
regularidade da atuação dos particulares e da
Administração Pública.
A alternativa B está incorreta. O Poder Judiciário, ao
analisar um ato administrativo discricionário, não pode
substituir o administrador praticando outro em seu
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
lugar. Deverá determinar que o administrador tome as
providências necessárias.
A alternativa D está incorreta. O Poder Judiciário, ao
analisar um ato administrativo discricionário, não pode
substituir o administrador praticando outro em seu
lugar, mas deverá determinar que o administrador tome
as providências necessárias.
A alternativa E está incorreta. Maria poderá buscar o
controle jurisdicional do ato administrativo
discricionário, que será analisado apenas sob o aspecto
da legalidade, conforme dito alhures.
Questão 24
Com vistas a melhor compreender as normas e a
jurisprudência que que versam sobre os agentes
públicos, Anderson passou a explorar o tema como
maior profundidade, vindo a formar suas conclusões nas
seguintes frases:
I - A sentença proferida no âmbito criminal repercute na
esfera administrativa quando reconhecida a inexistência
material do fato, a negativa de autoria e a ausência de
provas.
II - A equiparação de carreira de nível médio a outra de
nível superior constitui forma de provimento derivado
permitido pela Constituição Federal.
III – Os militares estão autorizados a acumularem cargos
públicos.
Ele está correto nas conclusões:
a) Somente I.
b) Somente II.
c) Somente III.
d) II e III.
e) I e III.
Comentários
Solução rápida
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
A primeira conclusão está incorreta. A sentença
proferida no âmbito criminal somente repercute na
esfera administrativa quando reconhecida: a) a
inexistência material do fato; ou b) a negativa de sua
autoria. Assim, se a absolvição ocorreu por ausência de
provas, a Administração Pública não está vinculada à
decisão proferida na esfera penal (RMS: 32357 DF).
A segunda conclusão está incorreta. Segundo o STF, “é
inconstitucional — por força da regra do concurso
público (art. 37, II, CF/88) — lei estadual que, ao
reestruturar determinada carreira, permite a
transposição de servidores para cargos com atribuições
e requisitos de ingresso distintos daqueles exigidos na
ocasião do provimento originário” (ADI 5510/PR).
A terceira conclusão está correta. Segundo a CF, os
militares poderão acumular cargos públicos, nos moldes
do art. 37, inciso XVI, desde que com prevalência da
atividade militar (art. 42).
Solução completa
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
I - A sentença proferida no âmbito criminal repercute na
esfera administrativa quando reconhecida a inexistência
material do fato, a negativa de autoria e a ausência de
provas;
Incorreto. A sentença proferida no âmbito criminal
somente repercute na esfera administrativa quando
reconhecida:
a) a inexistência material do fato; ou
b) a negativa de sua autoria.
Assim, se a absolvição ocorreu por ausência de provas, a
Administração Pública não está vinculada à decisão
proferida na esfera penal.
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL.
ILÍCITO ADMINISTRATIVO. PROCESSO DISCIPLINAR:
DEMISSÃO. COMISSÃO PROCESSANTE COMPOSTA POR
SERVIDOR EM ESTÁGIO PROBATÓRIO. ARTS. 149 E 150
DA LEI N. 8.112/1990. NORMAS PELAS QUAIS SE
POTENCIALIZAM OS PRINCÍPIOS DA INDEPENDÊNCIA E
DA IMPARCIALIDADE DO JULGADOR ADMINISTRATIVO.
VINCULAÇÃO ENTRE O INSTITUTO DA ESTABILIDADE E O
DO ESTÁGIO PROBATÓRIO. PRECEDENTES. VÍCIO
FORMAL CORRIGIDO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:
PREJUÍZO À DEFESA NÃO DEMONSTRADO (PAS DE
NULLITÉ SANS GRIEF). PROPORCIONALIDADE E
RAZOABILIDADE DA PENA APLICADA: ATO VINCULADO
DO ADMINISTRADOR: PRECEDENTES. ABSOLVIÇÃO NA
ESFERA CRIMINAL POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS:
INDEPENDÊNCIA RELATIVA DAS ESFERAS PENAL, CIVIL E
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
ADMINISTRATIVA. PRECEDENTES. RECURSO ORDINÁRIO
EM MANDADO DE SEGURANÇA AO QUAL SE NEGA
PROVIMENTO.
[...]
3. É pacífica a jurisprudência deste Supremo Tribunal no
sentido da independência relativa das esferas penal e
administrativa, havendo repercussão apenas em se
tratando de absolvição no juízo penal por inexistência do
fato ou negativa de autoria. Precedentes.
[...]
STF - RMS: 32357 DF - DISTRITO FEDERAL 9991751-
44.2013.1.00.0000, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data
de Julgamento: 17/03/2020, Segunda Turma, Data de
Publicação: DJe-091 17-04-2020.
II - A equiparação de carreira de nível médio a outra de
nível superior constitui forma de provimento derivado
permitido pela Constituição Federal.
Incorreto. O art. 37 da CF/88 dispõe:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
[...]
II - a investidura em cargo ou emprego público depende
de aprovação prévia em concurso público de provas ou
de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;
Além disso, é o entendimento firmado na Súmula
Vinculante nº 43:
Súmula Vinculante nº 43: É inconstitucional toda
modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público
destinado ao seu provimento, em cargo que não integra
a carreira na qual anteriormente investido.
Assim, de acordo com os parâmetros do princípio do
concurso público, o STF, ao ser chamado para analisar
demanda na qual leis estaduais equiparavam carreira de
nível médio com outra de nível superior, decidiu:
É inconstitucional — por força da regra do concurso
público (art. 37, II, CF/88) — lei estadual que, ao
reestruturar determinada carreira, permite a
transposição de servidores para cargos com atribuições
e requisitos de ingresso distintos daqueles exigidos na
ocasião do provimento originário.
STF. Plenário. ADI 5510/PR, Rel. Min. Roberto Barroso,
redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
6/6/2023.
III – Os militares estão autorizados a acumularem cargos
públicos.
Correto. Segundo a CF,
Art. 42 - Os membros das Polícias Militares e Corpos de
Bombeiros Militares, instituições organizadas com base
na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.
[...]
§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios o disposto no art. 37, inciso XVI,
com prevalência da atividade militar.
Art. 37, XVI - é vedada a acumulação remunerada de
cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade
de horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de
profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;
As alternativas A, B, D e E estão incorretas.
Questão 25
Luciano é proprietário de um terreno e decidiu iniciar a
construção de sua casa própria. Para tanto, contratou
uma empresa especializada em obras residenciais.
Contudo, após três meses de trabalho, a obra foi
embargada por estar em desacordo com o ordenamento
jurídico. Nesse caso, evidencia-se o exercício do
a) Poder Hierárquico.
b) Poder de Polícia.
c) Poder Disciplinar.
d) Poder Normativo.
e) Poder Regulamentar.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Comentários
Solução rápida
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão. Trata-se de claro exercício do Poder de Polícia,
que é a prerrogativa que a Administração Pública possui
para, na forma da lei, restringir, condicionar ou
regulamentar o exercício de direitos, o uso de bens e a
prática de atividades privadas, sempre objetivando
atingir o interesse público.
O conceito de poder de polícia também é extraído do art.
78 do Código Tributário Nacional:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da
administração pública que, limitando ou disciplinando
direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de intêresse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à
tranqüilidade pública ou ao respeito à propri-edade e
aos direitos individuais ou coletivos.
Solução completa
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão. Trata-se de claro exercício do Poder de Polícia,
que é a prerrogativa que a Administração Pública possui
para, na forma da lei, restringir, condicionar ou
regulamentar o exercício de direitos, o uso de bens e a
prática de atividades privadas, sempre objetivando
atingir o interesse público.
O conceito de poder de polícia também é extraído do art.
78 do Código Tributário Nacional:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da
administração pública que, limitando ou disciplinando
direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de intêresse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à
tranqüilidade pública ou ao respeito à propri-edade e
aos direitos individuais ou coletivos.
A alternativa A está incorreta. O poder hierárquico
consiste na atribuição concedida ao administrador para
organizar e distribuir as funções de seus órgãos de
maneira vertical, estabelecendo uma relação de
subordinação. Tem por objetivo a organização da função
administrativa, que ocorre por meio da existência de
níveis de subordinação.
A alternativa C está incorreta. O poder disciplinar
consiste na prerrogativa que a Administração Pública
possui para investigar e punir os agentes públicos que
praticarem infrações funcionais (estatutários e
celetistas) e os demais administrados sujeitos à disciplina
especial administrativa, após o regular procedimento
administrativo pautado no contraditório e na ampla
defesa.
Trata-se, em verdade, de um poder-dever ou dever-
poder, tendo em vista que a autoridade que tomar
conhecimento de infração funcional e não tomar
qualquer providência para punição dos culpados, deverá
ser responsabilizada.
As alternativas D e E estão incorretas. O poder normativo
ou poder regulamentar é a prerrogativa da
Administração Pública para a edição de atos
administrativos gerais e abstratos com efeitos erga
omnes (se aplicam a todos), ou seja, é a atribuição para
a edição de normas gerais.
Questão 26
Manoel, agente de contratação, se deparou com um
requerimento realizado por certo contratado, para fins
de promover o reequilíbrio econômico-financeiro do
respectivo contrato de prestação de serviços contínuos
com dedicação exclusiva de mão de obra, em
decorrência da majoração de determinado tributo de
comprovada repercussão nos preços ajustados. De
acordo com a Lei nº 14.133/2021, é correto afirmar que
se trata de
a) fato do príncipe.
b) fato da Administração.
c) cláusula exorbitante.
d) caso fortuito.
e) interferências imprevistas.
Comentários
Solução rápida
alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão. O fato do príncipe é um fato extracontratual e
genérico praticado pela Administração Pública que
repercute no contrato administrativo, tornando a sua
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
execução pelo particular impossível ou extremamente
onerosa em virtude do aumento dos custos. Exemplo
tradicional de fato do príncipe é o aumento da alíquota
de tributo que incide sobre o objeto do contrato.
A lei prevê expressamente uma espécie de fato do
príncipe, qual seja, a criação, extinção, majoração ou
redução de tributos ou encargos legais, bem como, a
superveniência de disposição legal, que repercu-tam
sobre o contrato, acarretando a sua revisão para mais ou
para menos:
Lei 8.666/93: Art. 65 (...) § 5º Quaisquer tributos ou
encargos legais criados, alterados ou ex-tintos, bem
como a superveniência de disposições legais, quando
ocorridas após a data da apresentação da proposta, de
comprovada repercussão nos preços contratados,
implicarão a revisão destes para mais ou para menos,
conforme o caso.
Lei 14.133/2021: Art. 134. Os preços contratados serão
alterados, para mais ou para menos, conforme o caso, se
houver, após a data da apresentação da proposta,
criação, alteração ou extinção de quaisquer tributos ou
encargos legais ou a superveniência de disposições
legais, com comprovada repercussão sobre os preços
contratados.
Solução completa
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão. O fato do príncipe é um fato extracontratual e
genérico praticado pela Administração Pública que
repercute no contrato administrativo, tornando a sua
execução pelo particular impossível ou extremamente
onerosa em virtude do aumento dos custos. Exemplo
tradicional de fato do príncipe é o aumento da alíquota
de tributo que incide sobre o objeto do contrato.
A lei prevê expressamente uma espécie de fato do
príncipe, qual seja, a criação, extinção, majoração ou
redução de tributos ou encargos legais, bem como, a
superveniência de disposição legal, que repercu-tam
sobre o contrato, acarretando a sua revisão para mais ou
para menos:
Lei 8.666/93: Art. 65 (...) § 5º Quaisquer tributos ou
encargos legais criados, alterados ou ex-tintos, bem
como a superveniência de disposições legais, quando
ocorridas após a data da apresentação da proposta, de
comprovada repercussão nos preços contratados,
implicarão a revisão destes para mais ou para menos,
conforme o caso.
Lei 14.133/2021: Art. 134. Os preços contratados serão
alterados, para mais ou para menos, conforme o caso, se
houver, após a data da apresentação da proposta,
criação, alteração ou extinção de quaisquer tributos ou
encargos legais ou a superveniência de disposições
legais, com comprovada repercussão sobre os preços
contratados.
A alternativa B está incorreta. O fato da Administração é
a ação ou omissão da Administração Pública contratante,
especificamente relacionada ao contrato administrativo,
que impede, retarda ou torna excessivamente oneroso o
seu cumprimento pelo contratado.
A alternativa C está incorreta. Cláusula exorbitante é
prerrogativa conferida à Administração Pública que lhe
confere uma posição superior ao contratado, podendo
impor a sua vontade de forma unilateral em
determinados casos.
A alternativa D está incorreta. Caso fortuito evento
natural imprevisível ou inevitável que impede ou torna
excessivamente onerosa a execução contratual.
A alternativa E está incorreta. Interferências imprevistas
são elementos materiais preexistentes, que oneram
excessivamente ou impedem a execução contratual,
porém as partes somente tomam conhecimento após o
início da execução do contrato.
São situações extraordinárias, que já existiam antes da
celebração do ajuste, porém, em virtude de sua condição
excepcional, não foi prevista e, se houvesse sido, teria
ensejado a celebração do contrato em outros termos,
com a inclusão dos custos extraordinários.
DIREITO CIVIL
Professor Paulo Sousa
Questão 27
Amaro, brasileiro domiciliado na Inglaterra, desapareceu
depois de ocorrer um acidente em uma viagem de
cruzeiro que fazia. Passados dez anos, iniciam-se os
procedimentos para a sucessão definitiva, já que a
probabilidade de que Amaro esteja vivo é praticamente
inexistente. Em relação à sucessão do patrimônio de
Amaro, é correto afirmar que:
a) será processada pela lei brasileira;
b) será processada pela lei do país que for soberano em
relação ao local do náufrago do cruzeiro;
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
c) a capacidade dos herdeiros de Amaro domiciliados no
Brasil será definida pela lei inglesa;
d) será processada pela lei inglesa, a depender da
natureza dos bens do patrimônio;
e) será processada pela lei inglesa.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra E.
O Direito brasileiro adota a doutrina da Territorialidade
Moderada. Ou seja, a LINDB aplica, ao mesmo tempo, o
princípio da territorialidade, como nos arts. 8º e 9º, e o
princípio da extraterritorialidade, como nos arts. 7º e
10).
Relativamente à sucessão por morte ou por ausência,
rege o art. 10 da LINDB: deve-se obedecer à lei do país
em que domiciliado o defunto ou o desaparecido,
qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. A lei
do domicílio do herdeiro ou legatário regula a
capacidade para suceder.
Assim, se o falecido era domiciliado nos EUA, segue-se a
lei americana quanto à sucessão. Porém, se o herdeiro
estava domiciliado na França, a lei francesa deve ser
seguida para se verificar que tem ele capacidade para
suceder, ainda que a lei americana se aplique à sucessão
em si. Se o falecido contraiu obrigação no Brasil, a lei
brasileira regerá o cumprimento dessa obrigação, de
uma sucessão que segue a lei americana, cujo herdeiro
deve seguir a lei francesa sobre capacidade sucessória.
Se o falecido é estrangeiro, a sucessão de seus bens,
situados no Brasil, será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de
quem os represente, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do de cujus.
Ou seja, aplica-se a lei brasileira, em regra, mas se
permite a aplicação da lei estrangeira, desde que mais
favorável aos herdeiros brasileiros. Vale lembrar que,
por se tratar de legislação estrangeira, deve a parte
provar nos autos sua aplicabilidade, dado que
excepciona aqui o princípio jura novit curia. O art. 14 da
LINDB deixa isso bastante claro, aduzindo que o juiz pode
exigir de quem invoca lei estrangeira prova do texto e da
vigência.
Comentário curto
As alternativas A, B e D estão incorretas. Será processada
de acordo com a lei inglesa, já que Amaro era domiciliado
na Inglaterra, conforme o art. 10 da LINDB: “Art. 10 A
sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país
em que domiciliado o defunto ou o desaparecido,
qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.”
A alternativa C está incorreta. A lei brasileira irá regular
a capacidade para suceder dos herdeiros de Amaro,
conforme o §2º do art. 10 da LINDB: “§ 2º A lei do
domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade
para suceder.”
A alternativa E está correta. Será processada de acordo
com a lei inglesa, já que Amaro era domiciliado na
Inglaterra, conforme o art. 10 da LINDB: “Art. 10 A
sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país
em que domiciliado o defunto ou o desaparecido,
qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.”
Questão 28
Marcos foi selecionado para participar de um programa
de reality show por uma emissora de TV famosa.
Analisando o contrato, ainda antes de efetivamente
integrar o elenco do referido programa, Marcos se
deparou com uma cláusula que indicava que a emissora
teria direito de usar sua imagem de forma irrestrita, com
câmeras ligadas durante todo o tempo de transmissão,
por até 02 (dois) anos após o fim do programa ou de sua
saída precipitada, por algum dos meios de eliminação
nas funções lá exercidas.
Em relação à referida cláusula, é correto afirmar que:
a) a cláusula é válida, visto que os direitos de
personalidade de Marcos são, independentemente de
sua natureza, em qualquer condição;
b) a cláusula só seria válida se o prazo do direito de
imagem fosse de 01 (um) ano;
c) a cláusula só seria válida se o prazo do direito de
imagem cessasse assim que Marcos saísse do programa;
d) a cláusula é válida, já que o prazo não é
indeterminado, tendo previsão de fim;
e) a cláusula não é válida, visto que a limitação prevista
na cláusula é geral.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra E.
Uma das características dos direitos de personalidade é
a sua irrenunciabilidade.
• Irrenunciáveis
• Insuscetíveis de renúncia ou limite
• Mas são renunciáveis os efeitos patrimoniais dos
direitos de personalidade
Cuidado, porém, porque o Enunciado 4 da I Jornada de
Direito Civil esclarece que o exercício dos direitos da
personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde
que não seja permanente nem geral. Veja, o EXERCÍCIO
pode sofrer limitação, não o direito!
É o que acontece com o direito à intimidade e o direito à
imagem das pessoas que participam de reality shows que
as expõem na televisão 24 horas por dia. Nesse caso, sua
intimidade está sendo devassada publicamente, com o
seu consentimento. Trata-se de situação na qual o
exercício do direito à intimidade foi limitado pela própria
pessoa, voluntariamente, de maneira temporária e
específica.
Quando saem do programa, essas pessoas passam a
exercer seu direito à intimidade novamente de maneira
ampla. Se alguém instalar uma câmera na casa dessa
pessoa e transmitir as imagens ao vivo pela internet,
comete ato ilícito e o Poder Judiciário promoverá a
proteção do direito violado (a limitação voluntária do
exercício era específica). Igualmente, se a própria rede
de televisão o fizer, cometerá ato ilícito, pelo que não
pode ela alegar a renúncia ao direito à privacidade (a
limitação voluntária do exercício era temporária).
Indo adiante, o Enunciado 139 da III Jornada de Direito
Civil prevê que os direitos da personalidade podem
sofrer limitações, ainda que não especificamente
previstas em lei. Não podem ser exercidos com abuso de
direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e
aos bons costumes, evidentemente.
O Enunciado, assim, amplia e, em certa medida,
contraria, o sentido do art. 11, dado que a limitação
voluntária pode ocorrer não apenas nos casos previstos
em lei. Até porque, concorde comigo, em que lei está
previsto o direito dos BBBs limitarem seu direito à
intimidade durante o programa? Desafio você a apontar
um dispositivo tão específico; desafio você a encontrar
um juiz que vai deferir uma indenização milionária a um
BBB porque ele teve a “intimidade violada” porque
aceitou participar do programa...
Comentário curto
As alternativas A, B, C e D estão incorretas. O exercício
dos direitos da personalidade podem sofrer limitação
voluntária. Porém, essa limitação não pode ser nem geral
e nem permanente. No caso do enunciado, apesar de a
cláusula em questão indicar o prazo de 02 (dois) anos
(não sendo permanente, portanto), é dito que a
emissora poderá usar os direitos de imagem de Marcos
de forma irrestrita, o que indica uma limitação geral,
configurando um risco de violação dos direitos da
personalidade dele.
A alternativa E está correta, conforme explicação acima.
Questão 29
Alberto, executivo renomado, casado com Paula, foi
viajar a trabalho para outro país. Contudo, seu voo não
chegou ao destino, pois o avião caiu no oceano. O corpo
de Alberto não foi encontrado. Com base no caso
assinale a alternativa correta:
a) pode ser declarada a morte presumida de Alberto,
sem decretação de ausência, somente podendo ser
requerida depois de esgotadas as buscas;
b) poderá ser decretada a morte presumida de Alberto
após a declaração da ausência, assim que a lei autorizar
a abertura da sucessão definitiva;
c) o juiz deverá decretar a ausência e nomear curador
para a administração os bens do ausente, que será seu
cônjuge, desde que não esteja separada de fato há mais
de dois anos;
d) será considerada como data do falecimento de
Alberto o dia em que forem encerradas as buscas;
e) a sentença declaratória de morte presumida será
averbada em registro público.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra A.
O fim da pessoa significa o fim de sua capacidade. De
acordo com o art. 6º do CC/2002, ela termina, no caso da
pessoa natural, com a morte. A extinção da pessoa
jurídica tem regime próprio, evidentemente, pois a
pessoa jurídica não morre. Mais uma vez, assim como o
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
termo ser humano, o termo morte é um conceito que
não pertence ao Direito.
O que significa morte é, hodiernamente, um conceito
médico, artificial, de morte encefálica, ou seja, a
cessação da atividade cerebral atestada por médico, em
resumo. Por isso, atualmente, a morte sempre deve ser
provada mediante atestado de morte, segundo o art. 9º,
inc. I do CC/2002.
Porém, nem sempre se poderá atestar a morte de uma
pessoa, inequivocamente. Em regra, isso ocorrerá
porque para se atestar a morte de uma pessoa é
necessário... uma pessoa. Mas quando pessoa não há,
como se faz? Para solucionar esse problema, o Direito
Civil se vale de um dos meios de prova permitidos, a
presunção, ou seja, presume-se a morte da pessoa.
São quatro as possibilidades de se presumir a morte de
uma pessoa atualmente. Três delas previstas no CC/2002
e uma na legislação especial. Uma das hipóteses
previstas no CC/2002 exige prévia declaração de
ausência; duas das hipóteses previstas no CC/2002 e a
hipótese da legislação especial não exigem.
Quando haverá presunção de morte sem prévia
declaração de ausência? Em resumo, em situações em
que a morte é altamente provável, ainda que não
comprovada, segundo o art. 7º do CC/2002. Porém, para
tanto, nesses casos somente poderá ser requerida a
decretação de morte presumida depois de esgotadas as
buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento:
1. SE FOR EXTREMAMENTE PROVÁVEL A MORTE DE
QUEM ESTAVA EM PERIGO DE VIDA (INC. I DO ART. 7º),
COMO NOS CASOS DE ACIDENTES AÉREOS NO MAR,
DESAPARECIDO DURANTE UMA NEVASCA NUMA
EXPEDIÇÃO DE MONTANHISMO, UM JORNALISTA EM
UMA ZONA DE DISTÚRBIO CIVIL;
2. se alguém, desaparecido em campanha ou feito
prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o
término da guerra (inc. II do art. 7º);
3. no caso de pessoas desaparecidas entre 02/09/1961 a
05/10/1988 (Regime Militar de exceção vigente no país,
incluindo período pré-Golpe e pós-Golpe), sem notícias
delas, detidas por agentes públicos, envolvidas em
atividades políticas ou acusadas de participar dessas
atividades (Lei nº. 9.140/1995).
Nesses casos, não há necessidade de se passar pelo
calvário do longo procedimento de ausência. Desde já,
verificada alguma dessas três hipóteses legais, presume-
se a morte da pessoa, diretamente com a decisão
judicial.
Comentário curto
A alternativa A está correta, pois tendo em vista ser
extremamente provável a morte de Alberto, dado o
perigo de vida, poderá ser decretada a sua morte
presumida, sem prévia decretação de ausência, desde
que esgotadas as buscas, conforme o art. 7º, inciso I e
parágrafo único, do CC/02: “Art. 7º Pode ser declarada a
morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for
extremamente provável a morte de quem estava em
perigo de vida;”.
A alternativa B está incorreta, conforme a explicação da
alternativa anterior.
Questão 30
José firmou contrato de compra e venda de uma prensa
térmica com a empresa “Camisas e Fotos”, tendo
parcelado o pagamento em cinco anos. A máquina
serviria personalizar camisas para venda, tudo com o
exclusivo intuito de gerar renda familiar, já que antes não
existia. Em razão da importância da máquina, José deu
em garantia o seu único bem: o imóvel em que morava
com a família.
Passado um tempo do início da produção das camisas, o
negócio não evoluiu como planejado e José não teve
condição de adimplir o contrato. Em razão do
inadimplemento, a empresa “Camisas e Fotos” ajuizou
execução do valor e, não sendo possível encontrar
outros bens, requereu que fosse utilizada a garantia para
o adimplemento.
Quanto a essa situação e com base no entendimento do
Superior Tribunal de Justiça, é correto afirmar que:
a) o bem de família é impenhorável em qualquer
situação;
b) o bem de família indicado é impenhorável, sendo nula
a cláusula de garantia do contrato;
c) é possível que o bem sofra os efeitos da execução, já
que não se aplicará a impenhorabilidade ao caso;
d) a impenhorabilidade somente será afastada se a
garantia feita constar no registro do imóvel;
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
e) o bem de família indicado é impenhorável, sendo
anulável a cláusula de garantia do contrato em razão de
erro.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra C.
As exceções da impenhorabilidade do bem de família
estão previstas no art. 3° da Lei 8.009/90, sendo elas:
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento
destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no
limite dos créditos e acréscimos constituídos em função
do respectivo contrato;
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os
direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o
devedor, integre união estável ou conjugal, observadas
as hipóteses em que ambos responderão pela dívida;
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial,
taxas e contribuições devidas em função do imóvel
familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido
como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para
execução de sentença penal condenatória a
ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em
contrato de locação.
Em relação à exceção prevista no inciso V, a
jurisprudência do STJ sedimentou, em síntese: a) o bem
de família é impenhorável, quando for dado em garantia
real de dívida por um dos sócios da pessoa jurídica
devedora, cabendo ao credor o ônus da prova de que o
proveito se reverteu à entidade familiar; e b) o bem de
família é penhorável, quando os únicos sócios da
empresa devedora são os titulares do imóvel
hipotecado, sendo ônus dos proprietários a
demonstração de que a família não se beneficiou dos
valores auferidos (EAREsp 848.498/PR).
Comentário curto
A alternativas A está incorreta. Há situações em que a
impenhorabilidade é afastada, conforme a Lei
nº8.009/90
A alternativas B está incorreta. Conforme será visto no
gabarito, esse caso foi entendido pelo STJ como razão
para afastar a impenhorabilidade do imóvel, já que a
receita advinda do bem seria revertida para a família.
A alternativas C está correta. Conforme importante
julgado do STJ: CIVIL. DIREITO REAL DE GARANTIA.
HIPOTECA. VALIDADE. AVERBAÇÃO NO CARTÓRIO DE
REGISTRO DE IMÓVEIS. NÃO OCORRÊNCIA. BEM DE
FAMÍLIA. EXCEÇÃO À REGRA DA IMPENHORABILIDADE.
HIPÓTESE CONFIGURADA. 1. Nos termos do art. 3º, V, da
Lei n. 8.009/90, ao imóvel dado em garantia hipotecária
não se aplica a impenhorabilidade do bem de família na
hipótese de dívida constituída em favor da entidade
familiar. 2. A hipoteca se constitui por meio de contrato
(convencional), pela lei (legal) ou por sentença (judicial)
e desde então vale entre as partes como crédito pessoal.
Sua inscrição no cartório de registro de imóveis atribui a
tal garantia a eficácia de direito real oponível erga
omnes. 3. A ausência de registro da hipoteca não afasta
a exceção à regra de impenhorabilidade prevista no art.
3º, V, da Lei n. 8.009/90; portanto, não gera a nulidade
da penhora incidente sobre o bem de família ofertado
pelos proprietários como garantia de contrato de
compra e venda por eles descumprido. 4. Recurso
especial provido. (REsp 1455554/RN, Rel. Ministro JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em
14/06/2016, DJe 16/06/2016)
A alternativa D está incorreta. Conforme parágrafo 3 do
julgado transcrito no gabarito.
A alternativas E está incorreta. De igual forme, conforme
já demonstrado no gabarito, esse caso foi entendido
pelo STJ como razão para afastar a impenhorabilidade do
imóvel, já que a receita advinda do bem seria revertida
para a família. Ademais, não há erro ou qualquer outra
situação que possibilite a anulação, nos termos do art.
171 do Código Civil: Art. 171. Além dos casos
expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por
vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo,
lesão ou fraude contra credores”
Questão 31
Luciano, especialista em perícia criminal, foi contratado
por Jonas para realizar a perícia de um acidente de
trânsito em que este era réu. Após prestar os serviços,
em razão do desgaste do processo, Luciano resolveu não
cobrar de imediato seus honorários. Para que não tenha
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
sua pretensão prescrita, o perito deverá efetuar a
cobrança em no máximo:
a) Um ano.
b) Dois anos.
c) Três anos.
d) Quatro anos.
e) Cinco anos.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra E.
O Código Civil define a prescrição, em que pese o fazer
de maneira um tanto atécnica, no art. 189, primeira
parte:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a
pretensão, a qual se extingue, pela prescrição (...).
A literalidade do art. 189 aponta para a teoria da actio
nata em sua vertente puramente objetiva, ou seja, o
prazo correria do fato. Essa percepção se amolda à
perfeição à ponteana classificação da prescrição como
ato-fato jurídico caducificante. Isso porque, apesar de a
conduta humana ser relevante (no caso, a inação do
titular), a vontade humana é irrelevante.
No entanto, não é possível levar essa percepção às
últimas consequências, sob pena de graves injustiças. Se
o “estatuto das limitações” se volta à pacificação social
por meio da restrição temporal dos conflitos, não parece
razoável que o credor seja punido “sem ter culpa”.
Explico.
A pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes
de instrumento público ou particular prescreve em 5
anos, determina o art. 206, §5º, inc. I. Se você contrai
hoje uma dívida comigo, cujo vencimento ocorrerá em
10 anos, parece adequado que minha pretensão tenha
sido atingida pela prescrição no sexto ano?
Dirá você que o art. 199, inc. II, determina que não corre
igualmente a prescrição não estando vencido o prazo,
pelo que plenamente aplicável a regra do art. 189 na
vertente puramente objetiva. Mas eu tenho direito à
réplica, não?
Pois bem. Nesse caso, o próprio CC/2002 soluciona o
problema. E se você bate no meu carro? Determina o art.
206, §3º, inc. V, que a pretensão de reparação civil
prescreve em 3 anos. Se no quarto ano eu proponho
ação indenizatória, é adequado que o juiz reconheça a
prescrição, evidentemente.
Mas, e se em virtude desse acidente eu fico em coma por
4 anos, parece igualmente justo que eu não possa mais
cobrar pelos reparos do meu veículo – e pelos meus
gastos hospitalares – sob o argumento de que o direito
não socorre os que dormem? Nesse caso eu estava
dormindo tão profundamente que virtualmente não
tinha meios para exigir indenização.
Serei punido precisamente porque o dano que você me
causou foi tão grande que eu sequer pude reclamar dele
em juízo? Por isso, a teoria da actio nata foi subjetivada
pela doutrina e especialmente pela jurisprudência de
modo a afastar a literalidade do art. 189.
Ademais, a prescrição atinge as parcelas conforme forem
se vencendo, segundo a Súmula 85 do STJ, pela qual, nas
relações jurídicas de trato sucessivo em que a fazenda
pública figure como devedora, quando não tiver sido
negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge
apenas as prestações vencidas antes do quinquênio
anterior a propositura da ação.
Há outros prazos ainda, mas eu os mostrarei juntamente
com seus institutos próprios, conforme eles forem
aparecendo e conforme forem relevantes,
evidentemente. Passo a mostrar a você os prazos
principais prazos prescricionais que estão previstos no
art. 206. Prescreve:
§5º Em cinco anos
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes
de instrumento público ou particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral,
procuradores judiciais, curadores e professores pelos
seus honorários, contado o prazo da conclusão dos
serviços, da cessação dos respectivos contratos ou
mandato;
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que
despendeu em juízo.
Ressalte-se que a Súmula 323 do STJ limita a inscrição do
devedor em órgão de proteção creditícia a no máximo 5
anos. Trata-se de aplicação do mesmo prazo previsto no
art. 206, §5º, inc. I, do CC/2002, que dá ao credor prazo
quinquenal para cobrar a dívida líquida constante em
instrumento público ou particular, bem como na esteira
do art. 43, §2º, do CDC.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Ainda de acordo com a juridprudência do Tribunal
Superior, na vigência do CC/2002, é quinquenal o prazo
prescricional para que o condomínio geral ou edilício
(vertical ou horizontal) exercite a pretensão de cobrança
de taxa condominial ordinária ou extraordinária,
constante em instrumento público ou particular, a
contar do dia seguinte ao vencimento da prestação (REsp
1.483.930/DF).
Comentário curto
A alternativa E está correta, em razão do caráter liberal
da profissão de perito, a pretensão de Luciano terá o
prazo prescricional previsto no art. 206, §5º, inc. I: “Art.
206. Prescreve: § 5º Em cinco anos: II - a pretensão dos
profissionais liberais em geral, procuradores judiciais,
curadores e professores pelos seus honorários, contado
o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos
respectivos contratos ou mandato”.
Consequentemente, estão incorretas as alternativas A,
B, C, e D.
Questão 32
Marcos é devedor da Empresa X em razão de contrato de
prestação de serviços em que se prevê pagamento
mensal. Passados alguns meses de regular prestação de
serviços e pagamentos, Marcos começa a perceber
dificuldades em concretizar o pagamento por razões
alheias a sua vontade e, assim, é orientado por um amigo
advogado a realizar o pagamento em consignação.
Considerando esse caso concreto, não terá lugar a
consignação:
a) se a Empresa X não puder, ou, sem justa causa, recusar
receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
b) se a Empresa X não for, nem mandar receber a coisa
no lugar, tempo e condição devidos;
c) se Marcos alegar dúvida sobre quem deva
legitimamente receber o objeto do pagamento;
d) se pender litígio sobre o objeto do pagamento;
e) se a Empresa X for desconhecida e tiver sede em
endereço incerto.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra C.
Há situações nas quais o devedor quer pagar, mas é
impossibilitado, por empecilho criado pelo credor,
culposamente ou não. O direito de efetuar o pagamento
mediante consignação surge apenas a partir da recusa do
credor em receber, ou a partir de outros obstáculos
alheios ao devedor, reconhecido pelo direito como
ensejadores de tal fato. O art. 335 descreve apenas de
modo exemplificativo os casos em que cabe a
consignação, porém não os esgota. Em linhas gerais,
cabe a consignação em pagamento se (evidentemente
que se trata de rol exemplificativo, apenas):
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar
receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no
lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido,
declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de
acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente
receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Exemplificativamente, cabe a consignação quando o
credor se recusa a receber (para causar a mora do
devedor); quando exige pagamento além do devido;
discorda do montante a ser pago; deixa de ir receber (no
caso de obrigação quérable, a regra); recusa-se a dar
quitação; recusa-se a dar a quitação correta; ausenta-se
do domicílio, passa a residir em local incerto ou perigoso;
quando o devedor não sabe exatamente a quem pagar
ou o objeto do pagamento está em litígio.
No caso de coisa litigiosa, o devedor não sabe a quem
prestar. Nesse caso, o art. 344 estabelece que ele se
exonera mediante consignação, mas, se pagar a
qualquer dos pretendidos credores, tendo
conhecimento do litígio, assume o risco do pagamento.
A dica do Código é sábia: não sabe a quem pagar,
consigne, sob pena de pagar novamente!
Inversamente, se a dívida vencer, pendendo litígio entre
credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá
qualquer um deles requerer a consignação, evitando
assim a prescrição durante a disputa (art. 345).
A consignação cabe, inclusive, nos casos em que a
prestação ainda é indeterminada, na regra do art. 342.
Nesse caso, se a escolha da coisa indeterminada
competir ao credor, será ele citado para fazê-la. E se,
citado, ele silenciar? Nessa situação, ele perde o direito
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
de escolher, o qual passa ao devedor, que pode
depositar a coisa que quiser.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta. Conforme o art. 335, inciso
I, do Código Civil: “Art. 335. A consignação tem lugar: I -
se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar
receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;”
A alternativa B está incorreta. Conforme o art. 335, inciso
II, do Código Civil: “Art. 335. A consignação tem lugar: II
- se o credor não for, nem mandar receber a coisa no
lugar, tempo e condição devidos;”
A alternativa C está correta. De acordo com o caso
concreto, não há dúvidas sobre o credor. Assim, não
pode Fulano simplesmente alegar, deverá a dúvida
ocorrer por fatores concretos, conforme o art. 335,
inciso IV, do Código Civil: “Art. 335. A consignação tem
lugar: IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva
legitimamente receber o objeto do pagamento;”
A alternativa D está incorreta. Conforme o art. 335,
inciso V, do Código Civil: “Art. 335. A consignação tem
lugar: V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.”
A alternativa E está incorreta. Conforme o art. 335, inciso
III, do Código Civil: “Art. 335. A consignação tem lugar: III
- se o credor for incapaz de receber, for desconhecido,
declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de
acesso perigoso ou difícil;”
Questão 33
Carlos obrigou-se, mediante negócio jurídico firmado, a
vender um carro ou uma moto a Joaquim mediante o
recebimento de determinada quantia em dinheiro.
Sendo essa uma obrigação alternativa, é correto afirmar
que:
a) se nada houver sido estipulado no negócio jurídico, a
escolha do item a ser comprado cabe ao devedor;
b) se nada houver sido estipulado no negócio jurídico, a
escolha do item a ser comprado cabe ao credor;
c) no caso, poderá o credor obrigar o devedor a receber
parte em uma prestação e parte em outra;
d) no caso, poderá o devedor obrigar o credor a receber
parte em uma prestação e parte em outra;
e) se a venda do carro se tornar impossível por culpa do
devedor, restará ao credor apenas o direito de exigir a
prestação subsistente.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra A.
A obrigação alternativa, também chamada de disjuntiva,
determina-se no cumprimento, ou seja, a escolha de
uma obrigação exclui a outra, segundo estabelece o art.
252. Essa escolha pode ser feita a critério do credor, do
devedor ou de árbitro, ou caso o terceiro não aceitar a
incumbência, ficará a cargo do juiz, segundo o art. 252,
§4º.
O juiz também acaba decidindo em outros casos. Na
ausência de concordância, em havendo pluralidade de
optantes (mais de uma pessoa deve fazer a escolha),
terminado o prazo para a escolha (§3º do mesmo
dispositivo), recai a incumbência ao juiz.
Em regra, porém, se não houver estipulação alguma a
respeito do tema, a escolha cabe ao devedor, segundo
regra clássica prevista no art. 252. De novo, a “lógica” do
Direito das Obrigações ilumina esse raciocínio: a
satisfação dos interesses do credor, guiada pelo
adimplemento.
Quem faz a escolha deve escolher uma das alternativas
integralmente, não podendo escolher parte de uma ou
de outra, consoante estabelece o art. 252, §1º do
CC/2002. No entanto, no caso de prestações periódicas,
a opção pode ser exercida a cada período, e não apenas
no primeiro ato de escolha, pela previsão do §2º.
A obrigação alternativa tem por peculiaridade sua
manutenção, ainda que haja perecimento de um dos
objetos ou tenha ele se tornado inexequível (art. 253). Se
uma das obrigações se torna impossível, sem culpa de
quaisquer das partes, a obrigação se concentra na
restante, independentemente de a quem caiba a
escolha, na dicção do art. 253.
Se uma das obrigações se torna impossível, por culpa do
devedor, e o credor é quem deveria escolher, opta pela
remanescente ou pelo valor da outra, segundo o art. 255,
primeira parte. Se uma das obrigações se torna
impossível, por culpa do devedor, e o devedor mesmo é
quem deveria escolher, ele cumpre a remanescente,
obviamente.
Se todas as obrigações se tornam impossíveis, sem culpa
do devedor, a obrigação se extingue, conforme o art.
256. Se se tornam impossíveis com culpa do devedor,
deverá pagar pela que ao fim se impossibilitou, mais
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
perdas e danos, se ele deveria fazer a escolha (art. 254);
se o credor deveria fazer a escolha, pode escolher o valor
de qual preferiria, mais perdas e danos (art. 255).
Comentário curto
A alternativa A está correta. O detalhe é que na
obrigação de vender algo, o devedor é aquele que vende
e o credor é aquele vai comprar. Cuidado para não
associar a quem deve entregar o valor! Assim, conforme
o art. 252 do Código Civil: “Art. 252. Nas obrigações
alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa
não se estipulou.
A alternativa B está incorreta. A escolha caberá ao
devedor, conforme art. 252 acima transcrito.
A alternativa C está incorreta. Vedado, inclusive na
situação inversa, conforme o §1º do art. 252 do Código
Civil: “§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a
receber parte em uma prestação e parte em outra.”
A alternativa D está incorreta. Vedado, inclusive na
situação inversa, conforme o §1º do art. 252 do Código
Civil: “§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a
receber parte em uma prestação e parte em outra.”
A alternativa E está incorreta. Poderá o credor pedir o
valor da outra prestação com perdas e danos, conforme
o art. 255 do Código Civil: “Art. 255. Quando a escolha
couber ao credor e uma das prestações tornar-se
impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de
exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com
perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as
prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor
reclamar o valor de qualquer das duas, além da
indenização por perdas e danos.”
Questão 34
O Banco Alfa, enquanto credor de Miguel em razão de
um contrato de alienação fiduciária de imóvel, resolveu
ceder o crédito ao Banco Beta, tendo este último pago
apenas o valor correspondente ao que já havia sido
quitado da dívida. Em relação a essa situação, é correto
afirmar que:
a) a cessão do crédito só terá eficácia em relação a
Miguel se esse a aceitar expressamente;
b) o Banco Beta apenas poderá exercer os atos
conservatórios do direito cedido após Miguel tomar
conhecimento da cessão;
c) se nada tiver sido estipulado no contrato nesse
sentido, o Banco Alfa não responde pela solvência de
Miguel;
d) em regra, não estarão abrangidos os bens acessórios
no ato cessão de crédito;
e) se o Banco Beta cedesse o crédito ao Banco Gama,
esta última iria prevalecer ainda que não houvesse a
tradição do título do crédito cedido.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra C.
A cessão de crédito é o negócio jurídico pelo qual o
titular de um crédito, chamado cedente, transfere esse
crédito para um terceiro, chamado de cessionário,
perante o devedor, chamado de cedido. A relação
jurídica continua a mesma, altera-se apenas o titular do
crédito.
Essa cessão pode ser onerosa ou gratuita. Em geral, a
cessão é livre, entretanto há exceções, nas quais não se
pode operar a cessão de crédito, segundo o art. 286 do:
• 1. A Lei veda a cessão de crédito
• 2. A vontade das partes não permite
• 3. A natureza do crédito não permite a livre
cedibilidade
No segundo caso, vê-se proibição voluntária à cessão.
Poderia ser feita, mas as partes acordaram por não a
fazer. Por isso, a cláusula proibitiva da cessão não poderá
ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do
instrumento da obrigação.
O devedor pouco ou quase nada pode fazer em relação
à cessão de crédito. Existência, validade e eficácia da
cessão operam-se independentemente da anuência ou
concordância do cedido.
O devedor deve ser meramente notificado para tomar
conhecimento da cessão e, deste modo, surtir-lhe os
efeitos, nos termos do art. 290. Assim, válida a
notificação judicial ou extrajudicial e se tem por
notificado mesmo o devedor que, em escrito público ou
particular, se declarou ciente da cessão feita. Do
contrário, o pagamento feito por ele ao cedente é válido,
não podendo o cessionário, posteriormente, alegar falta
de pagamento, segundo o art. 292.
O cedente, em regra, responde pela existência do crédito
perante o cedido (presunção relativa), mas não responde
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
pela solvência do devedor-cedido (presunção relativa,
igualmente), na dicção dos arts. 295, 296 e 297. Essa é a
chamada cessão pro soluto. No entanto, na cessão de
crédito gratuita, responde apenas pela existência em
caso de má-fé, de não no geral, como acontece em regra
nas cessões a título oneroso.
Porém, a vontade das partes pode alterar essas
presunções, mas sempre sendo o limite da
responsabilidade o valor pelo qual foi realizada a cessão
de crédito. Se o credor se responsabiliza pela solvência
do devedor-cedido, teremos uma cessão de crédito pro
solvendo. Nesse caso, não responde ele por mais do que
recebeu, acrescido dos juros, das despesas da cessão e
das despesas que o cessionário teve com a cobrança,
segundo o art. 297.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, pois é suficiente que seja
regularmente notificado, conforme o art. 290 do Código
Civil: “Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em
relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas
por notificado se tem o devedor que, em escrito público
ou particular, se declarou ciente da cessão feita.”
A alternativa B está incorreta, conforme o art. 293 do
Código Civil: “Art. 293. Independentemente do
conhecimento da cessão pelo devedor, pode o
cessionário exercer os atos conservatórios do direito
cedido.”
A alternativa C está correta, conforme o art. 296 do
Código Civil: “Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o
cedente não responde pela solvência do devedor.”
A alternativa D está incorreta, conforme o art. 287 do
Código Civil: “Art. 287. Salvo disposição em contrário, na
cessão de um crédito abrangem-se todos os seus
acessórios.”
A alternativa E está incorreta, conforme o art. 291 do
Código Civil: Art. 291. Ocorrendo várias cessões do
mesmo crédito, prevalece a que se completar com a
tradição do título do crédito cedido.”
Questão 35
Em ano de eleição, Fernando, eleitor do candidato X e
Lucas, eleitor do candidato Y, apostaram que deveria
pagar a quantia de R$ 10.000, aquele que tivesse o
candidato perdedor. Ambos convocaram seus
advogados e lavraram documento particular
oficializando a aposta. Passada a apuração dos votos, o
candidato Y foi vencedor. Diante de tais fatos e, segundo
disposição do Código Civil de 2002:
a) Lucas pode cobrar judicialmente a quantia devida por
Fernando, uma vez que houve a lavratura de documento
particular o qual é considerado título executivo
extrajudicial.
b) Lucas não poderá se utilizar do documento particular
para cobrar a dívida, uma vez que tais tipos de dívida não
obrigam o pagamento.
c) Lucas poderá cobrar a dívida de Fernando, porém,
somente por meios extrajudiciais, em razão do caráter
da dívida.
d) Lucas não poderá cobrar a dívida se utilizando do
título executivo extrajudicial. Por isso, caso Fernando
tenha efetuado o pagamento da dívida, poderá recobrar
o pagamento efetuado.
e) Não há previsão do contrato de jogo e aposta no
Código Civil.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra B.
O CC/2002 trata de ambos os contratos em conjunto. A
jurisprudência também. Mas há autores, como Maria
Helena Diniz, que os distinguem. Segundo ela, o jogo se
vincula a um evento incerto, um resultado favorável a
um dos contratantes. A aposta se liga a também a um
evento incerto, mas à opinião prevalecente de um dos
contratantes relativamente a um fato.
Os contratos de jogo e aposta são, ambos, bilaterais,
onerosos, consensuais, não solenes, e, em especial,
aleatórios. A aleatoriedade é o elemento principal desses
contratos. Por isso, se o resultado é certo, ela inexiste,
seja no jogo, seja na aposta, o que descaracteriza os
contratos.
Consoante lição de Pontes de Miranda, as dívidas
decorrentes de jogo são classificadas como obrigações
mutiladas, uma vez que possuem todos os elementos e
características de quaisquer obrigações, exceto a
pretensão (“exigibilidade processual”), ou seja, não são
elas passíveis de ação processual. Trata-se de dívidas nas
quais há dever (Schuld ou debitum) sem consequente
responsabilidade (Haftung ou obligatio).
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Essa regra, porém, não se aplica de maneira
inconsequente. Lembra da distinção entre os jogos que
eu fiz na aula de Direito das Obrigações? Os jogos
podiam ser classificados como: (i) lícitos; (ii) ilícitos; (iii)
tolerados. A mutilação da obrigação ocorre nos casos de
dívidas oriundas de jogo ilícito (art. 814, caput) e
tolerado (art. 814, §2º).
Atenção porque o fato de o jogo ser lícito no Brasil, mas
ilícito fora dele não impede o credor de receber os
valores perdidos pela pessoa. Esse é a compreensão da
jurisprudência, ao determinar a cobrança de brasileiro
perdente em cassino de Las Vegas, situado em estado
norte-americano que legaliza o jogo no local; se beber,
não jogue, entendeu o STJ (REsp 1.628.974).
Mas, se civilmente falando, não há distinção entre o jogo
ilícito e o tolerado, por que a doutrina faz essa
diferenciação? Porque relativamente ao jogo, não
apenas a legislação civil é relevante, mas também a
legislação penal. Os jogos tolerados, como o truco,
apesar de não atraírem a aplicação da lei civil, não
atraem também a aplicação da lei penal. Os jogos ilícitos,
ao contrário, além de não atraírem a aplicação da lei civil,
atraem a aplicação da lei penal.
Comentário curto
A alternativa B está correta, conforme se depreende
daquilo que dispõe o art. 814 do CC/2002: “Art. 814. As
dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento;
mas não se pode recobrar a quantia, que
voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo,
ou se o perdente é menor ou interdito”.
Consequentemente estão incorretas as alternativas A, C,
D e E.
Questão 36
Helen é cuidadora de Joana, pessoa idosa e sem
herdeiros. Diante da excelência da cuidadora, Joana
resolveu doar-lhe, para depois da morte, a casa que
estava morando, além de outros imóveis que possuía. No
entanto, estipulou cláusula contratual que obrigava
Helen a continuar prestando os serviços de cuidadora
com excelência. Ocorre, porém, que ao saber da doação,
Helen começou a relaxar nos cuidados com a idosa, o que
acabou ocasionando a queda de Joana e a quebra de
ossos de sua perna. Indignada, Joana resolveu revogar a
doação oito meses após o ocorrido. Diante dos fatos
narrados e de acordo com o Código Civil de 2002 é
correto o que se afirma em:
a) Joana não poderá revogar a doação feita à Helen, uma
vez que o desleixo da cuidadora não configura causa de
revogação da doação.
b) Joana não poderá revogar a doação feita à Helen, pois
já transcorreu o prazo para tal pleito.
c) Joana poderá revogar a doação, uma vez que Helen
descumpriu com o fardo necessário para que a doação
fosse efetiva.
d) Joana poderá revogar a doação, porém, deve fazê-la o
quanto antes, pois o prazo para a revogação é de dez
meses, contados da data em que ocorreu o ato que a
autorize.
e) O código Civil proíbe que seja realizada doação para
pessoas que cuidam diretamente do doador, para evitar
que haja fralde.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra C.
O contrato de doação é consensual (não se exige a
tradição da coisa), unilateral, gratuito/benéfico
(liberalidade, conforme estipula o art. 538), e solene,
exigindo-se forma escrita, seja particular, seja pública
(art. 541). A gratuidade fica patente no art. 552, que
afiança que o doador não é obrigado a pagar juros
moratórios, nem é sujeito às consequências da evicção
ou do vício redibitório.
A doação pode ser revogada, não se permitindo,
inclusive, que o doador renuncie antecipadamente ao
direito de revogar doações feitas (art. 556), nos
seguintes casos:
• A) Descumprimento do encargo
• Se o donatário incorrer em mora, não cumprindo o
encargo no prazo assinalado pelo doador, o doador pode
desfazer a doação (art. 555).
• Para isso, o doador deve conceder prazo razoável ao
donatário para cumpri-lo (art. 562).
• B) Ingratidão do donatário
• O legislador visou a punir o donatário. Possibilidades
(art. 557, incisos):
• se o donatário atentar contra a vida do doador ou
cometer crime de homicídio doloso contra ele (sendo
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
que, nesse último caso, a ação de revogação será
proposta pelos herdeiros do doador assassinado);
• se o donatário praticar ofensa física contra o doador;
• se o beneficiado injuriou ou caluniou gravemente o
doador;
• se o donatário, tendo condições financeiras, negar-se a
prestar alimentos ao doador que deles necessitar.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, pois a doação continha um
encargo o qual não foi cumprido por Helen. Assim, fica
permitida a revogação nos termos do art. 555 do
CC/2002: “Art. 555. A doação pode ser revogada por
ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo”.
A alternativa B está incorreta, pois o prazo para
revogação é de um ano, conforme o art. 559 do CC/2002:
“Art. 559. A revogação por qualquer desses motivos
deverá ser pleiteada dentro de um ano, a contar de
quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a
autorizar, e de ter sido o donatário o seu autor”.
A alternativa C está correta, conforme expresso pelo art.
555 do CC/2002: “Art. 555. A doação pode ser revogada
por ingratidão do donatário, ou por inexecução do
encargo”.
A alternativa D está incorreta, pois como já analisado, o
prazo para revogação da doação é, na verdade, de um
ano.
A alternativa E está incorreta, não há tal previsão.
Questão 37
Ana, com 17 anos de idade, queria participar de uma
festa para maiores de idade, em um pub. Para adquirir o
tíquete de entrada pelo site, declarou ser maior de
dezoito anos e apresentou documento forjado. Ocorre,
porém, que uma das exigências para o ingresso
definitivo, era a compra de um cartão exclusivo no valor
de R$ 200,00 para consumo interno, que deveria ser
pago na entrada da festa. No dia do evento, negou-se a
adquirir o cartão, alegando ser menor de idade e, como
o evento estava sendo supervisionado pela polícia,
houve o imediato cancelamento, ante a venda de
ingressos para menores. Diante do exposto e de acordo
com o Código Civil de 2002, é correto afirmar que:
a) Caso o evento não houvesse sido cancelado e Ana
obtivesse a autorização de seus pais para entrar na festa,
sua idade poderia ser invocada para fins de não arcar
com o pagamento do cartão de consumo interno.
b) Em razão de sua tenra idade, Ana não poderá ser
responsabilizada pelos danos causados com o
cancelamento da festa, devendo a empresa arcar
sozinha com os prejuízos, uma vez que vendeu o ingresso
para a menor.
c) É possível que a empresa que sofreu os danos pelos
atos de Ana litigue concomitantemente em face dela e
de seus pais, uma vez que a responsabilidade dos filhos
é subsidiária em relação a de seus pais.
d) A empresa deverá arcar com os danos,
independentemente de qualquer outro fator, uma vez
que o ingresso vendido ao relativamente incapaz gera a
nulidade do negócio jurídico.
e) Somente os pais de Ana serão responsabilizados pelos
danos causados pela menor, uma vez que a lei é clara ao
determinar a responsabilidade dos pais pelos filhos
menores.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra C.
Em regra, os filhos não exercem atividades que
possibilitem auferir renda, não possuem patrimônio e
não terão como arcar com a indenização, se devida, ao
contrário dos pais, que, também geralmente, possuem
melhores condições para tanto. Mesmo que inexista
capacidade ou imputabilidade, o dano causado pelo
menor deve ser indenizado, já que o Direito Civil
pretende a tutela da vítima.
Ainda que o menor não tenha causado ato ilícito, na
perspectiva mais criminal do termo, pois incapaz, há
responsabilidade civil. Aqui se evidencia a perspectiva
mais técnica de que na responsabilidade civil se fala mais
em imputação do que em culpa propriamente dita.
Imputa-se uma conduta danosa ao menor porque o
ordenamento o permite.
Por isso, o Enunciado 590 da VII Jornada de Direito Civil
me parece redundante. Estabelece que a
responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos
menores, não obstante objetiva, pressupõe a
demonstração de que a conduta imputada ao menor,
caso o fosse a um agente imputável, seria hábil para a
sua responsabilização. Ora, o dispositivo confunde
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
imputabilidade (penal) e imputação de responsabilidade
(civil).
Evidentemente, apesar de a responsabilidade dos pais
ser objetiva, a responsabilidade do menor é subjetiva,
pressupondo culpa. Evidentemente que a com o art. 928 do CC/2002: “Art. 928. O incapaz
responsabilidade dos pais não é objetiva mesmo que não
haja conduta culposa do menor, ou se
responsabilizariam os pais por um ato no qual o menor é
vítima. Obviamente que a imputabilidade penal é
irrelevante.
Assim, seria absurdo pensar que os pais teriam dever de
indenizar na seguinte situação: o menor dirige
indevidamente e é atingido por um motorista bêbado
que avança o sinal fechado. Ora, claro que o motorista
terá sofrido dano, já que seu carro ficou batido. Mas os
pais desse menor não o indenizarão, porque não há
culpa dele (rectius, imputação, tecnicamente falando). A
culpa é do outro motorista. Os pais não apenas não
indenizarão como também serão indenizados. Eventual
responsabilidade penal e administrativa é irrelevante
para fins de indenização. É preciso ter clareza de ideias
para não confundir as coisas.
Inicialmente, se há responsabilidade civil por dano
causado por incapaz, quem responde são responsáveis
legais (responsáveis principais), em regra, e não o
próprio incapaz (responsável subsidiário). Agora, se os
responsáveis legais não tiverem a obrigação de indenizar
(não estiver o menor sob a autoridade, p.ex.) ou quando
estes não possuírem meios para adimplir a indenização,
segundo o art. 928, parágrafo único, os próprios
incapazes responderão.
Ainda que o menor possa ser responsabilizado pelos
danos causados, pessoalmente, de maneira subsidiária e
mitigada, por força do art. 928 do CC/2002, não há
litisconsórcio necessário na lide, mas apenas
litisconsórcio facultativo simples, opcional ao autor da
ação (REsp 1.436.401).
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, uma vez que o menor que
obrigou-se alegando ser maior de idade, não se exime da
obrigação, segundo o art. 180 do CC/2002: “Art. 180. O
menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para
eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se
dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra
parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.
A alternativa B está incorreta, pois Ana poderá ser
responsabilizada, uma vez que dolosamente ocultou sua
idade (art. 180, CC) e caso seus pais ou responsáveis não
disponham de meios para arcar com os danos, de acordo
responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por
ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou
não dispuserem de meios suficientes”.
A alternativa C está correta, conforme entendimento do
STJ: “RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM -
PAIS PELOS ATOS PRATICADOS PELOS FILHOS MENORES.
ATO ILÍCITO. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E
SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART.
928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA. Em
ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há
litisconsórcio necessário entre o genitor responsável
pela reparação (art. 932, I, do CC) e o menor causador do
dano. É possível, no entanto, que o autor, por sua opção
e liberalidade, tendo em conta que os direitos ou
obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou
de direito (art. 46, II, CPC/73) intente ação contra ambos
– pai e filho –, formando-se um litisconsórcio facultativo
e simples”. (REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, por unanimidade, julgado em 2/2/2017, DJe
16/3/2017).
A alternativa D está incorreta, pois como já analisado, é
possível a responsabilização de Ana, bem como a de seus
pais e, o negócio celebrado entre Ana e a empresa é
anulável, conforme o art. 171, inc. I, do CC/2002: “Art.
171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é
anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa
do agente”.
A alternativa E está incorreta, apesar de o art. 932, inc. I
do CC/2002 determinar tal responsabilização, o 928 põe
a salvo tal responsabilidade, nos casos em que os pais
não dispuserem de meios suficientes para arcarem com
os danos.
Questão 38
Amanda, em razão da necessidade de encurtar em 600
(seiscentos) metros o seu caminho diário até a para de
ônibus mais próxima de sua casa, passou a se beneficiar
de uma servidão no imóvel de Carlos. Agora, o seu
trajeto diário até a parada de ônibus foi reduzido a 50
(cinquenta) metros, o que significou um grande salto na
qualidade de vida de Amanda. Passado um tempo, Carlos
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
percebeu que Amanda não mais estava usando a
passagem em seu imóvel. Quanto a isso, extingue-se a
servidão, ficando ao dono do prédio serviente a
faculdade de fazê-la cancelar, mediante a prova da
extinção pelo não uso, durante:
a) cinco anos contínuos;
b) cinco anos ao todo, ainda que descontinuados;
c) dez anos contínuos;
d) dez anos ao todo, ainda que descontinuados.
e) Não se extingue.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra C.
Na servidão delimita-se um prédio como dominante o
qual desfruta da prerrogativa sobre o prédio serviente.
Além disso, a servidão decorre da manifestação de
vontade das partes. Por isso, a servidão é criada
mediante vontade devidamente registrada no Registro
de Imóveis (art. 1.378).
Nesse contexto, entente o STJ que a servidão, por
constituir forma de limitação do direito de propriedade,
não se presume, devendo ser interpretada
restritivamente (REsp 316.045/SP).
Excepcionalmente, há uma espécie de usucapião de
servidão prevista no art. 1.379, que independe de acordo
prévio. O dispositivo estabelece prazo de 10 anos (ou 20
anos, se sem justo título, segundo o parágrafo único) de
uso contínuo e pacífico da área, com justo título, e após
decisão judicial.
A servidão é acessória, ligando-se ao direito principal,
que é o direito a propriedade. Ela é indivisível e
perpétua, com duração indefinida, prendendo-se ao
bem imóvel, conforme estabelece o art. 1.386.
Em regra, o proprietário do imóvel dominante (que
necessita da servidão) tem de exercer a servidão
causando o menor prejuízo (art. 1.385), em homenagem
ao princípio da menor onerosidade ao imóvel serviente
(civiliter modo). Por isso, constituída para certo fim, a
servidão não se pode ampliar a outro (§1º).
A servidão pode ser extinta por:
• A. Desapropriação
• Art. 1.387
• Se o prédio dominante estiver hipotecado, e a servidão
se mencionar no título hipotecário, será também
preciso, para a cancelar, o consentimento do credor
• B. Cancelamento
• Arts. 1.388 e 1.389. Casos previstos para que a servidão
possa ser cancelada:
• a. quando o titular houver renunciado a sua servidão
• b. quando tiver cessado, para o prédio dominante, a
utilidade ou a comodidade, que determinou a
constituição da servidão
• c. quando o dono do prédio serviente resgatar a
servidão
• d. pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma
pessoa (confusão real)
• e. pela supressão das respectivas obras por efeito de
contrato, ou de outro título expresso
• f. pelo não uso, durante dez anos contínuos (desuso da
servidão)
Comentário curto
A alternativas C está correta. Conforme o art. 1.389,
inciso III, do Código Civil: “Art. 1.389. Também se
extingue a servidão, ficando ao dono do prédio serviente
a faculdade de fazê-la cancelar, mediante a prova da
extinção: III - pelo não uso, durante dez anos contínuos.”
Assim, incorretas as alternativas A, B , D e E.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Professor Rodrigo Vaslin
Questão 39
Pedro requereu o cumprimento de sentença
condenatória ao pagamento de obrigação de pagar em
face de Jeferson. Regularmente intimado, Jeferson
afirmou não possuir condições de adimplir
integralmente o débito, motivo pelo qual depositou
montante equivalente a 30% (trinta por cento) do valor
exequendo, bem como pediu o parcelamento do
restante em seis parcelas mensais.
Em tal hipótese, o requerimento de Jeferson deverá ser
a)deferido pelo juiz se o fundamento da medida disser
respeito a caso excepcional.
b) indeferido, pois incabível tal parcelamento em sede de
cumprimento de sentença.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
c) deferido, independente de manifestação de Pedro.
d)indeferido, pois é necessário o depósito de 50%
(cinquenta por cento) do valor exequendo.
e)deferido em parte, cabendo o parcelamento em, no
máximo, três parcelas mensais.
Comentários
Gabarito: B
Letra a: errada. De acordo com o STJ, nos termos da
vedação contida no art. 916, § 7º, do CPC/2015, inexiste
direito subjetivo do executado ao parcelamento da
obrigação de pagar quantia certa, em fase de
cumprimento de sentença, não cabendo nem mesmo ao
juiz a sua concessão unilateralmente, ainda que em
caráter excepcional. 7. Recurso especial conhecido e
desprovido. (REsp n. 1.891.577/MG, relator Ministro
Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em
24/5/2022, DJe de 14/6/2022.)
Letra B: correta. Art. 916: No prazo para embargos,
reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o
depósito de trinta por cento do valor em execução,
acrescido de custas e de honorários de advogado, o
executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar
o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas
de correção monetária e de juros de um por cento ao
mês. § 7º: O disposto neste artigo não se aplica ao
cumprimento da sentença.
Letras c, d e e: errada.
Questão 40
Sobre a competência dos Juizados Especiais, é correto
afirmar que
a)entre as causas de menor complexidade, para fins de
fixação de competência dos Juizados Especiais Cíveis,
incluem-se as causas cujo valor não exceda a 60
(sessenta) vezes o salário-mínimo.
b) Se o demandado não comparecer ou recusar-se a
participar da tentativa de conciliação não presencial, o
Juiz togado designará audiência presencial.
c)as ações de despejo para uso próprio excluem-se da
competência do Juizado Especial Cível,
independentemente do valor da causa.
d)os títulos executivos judiciais, ainda que de valor de até
quarenta vezes o salário-mínimo, não se incluem na
competência dos Juizados Especiais Cíveis.
e)ficam excluídas da competência do Juizado Especial
Cível as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e
de interesse da Fazenda Pública.
Comentários
Gabarito: E
Letra a: errada. L. 9099/95, Art. 3º O Juizado Especial
Cível tem competência para conciliação, processo e
julgamento das causas cíveis de menor complexidade,
assim consideradas: I - as causas cujo valor não exceda a
quarenta vezes o salário mínimo;
Letra b: errada. Art. 23. Se o demandado não
comparecer ou recusar-se a participar da tentativa de
conciliação não presencial, o Juiz togado proferirá
sentença.
Letra c: errada. Art. 3º O Juizado Especial Cível tem
competência para conciliação, processo e julgamento
das causas cíveis de menor complexidade, assim
consideradas: (...) III - a ação de despejo para uso
próprio;
Letra d: errada. Art. 3º O Juizado Especial Cível tem
competência para conciliação, processo e julgamento
das causas cíveis de menor complexidade, assim
consideradas: I - as causas cujo valor não exceda a
quarenta vezes o salário mínimo;.
Letra e: certa. Art. 3º, § 2º Ficam excluídas da
competência do Juizado Especial as causas de natureza
alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda
Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a
resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda
que de cunho patrimonial.
Questão 41
Fernanda, Raquel, Rogério e Márcia debatiam sobre os
efeitos e princípios recursais e afirmaram o seguinte:
I) Fernanda afirmou que o efeito obstativo é o efeito de
transferir ao órgão julgador do recurso o conhecimento
da matéria impugnada no recurso. Também afirmou que
o princípio da voluntariedade impede a interposição de
recursos pelo Ministério Público, ainda que atuando
enquanto fiscal do ordenamento jurídico.
II) Raquel disse que, quanto ao efeito suspensivo, salvo
disposição legal ou decisão judicial em contrário, a
interposição de recurso não impede a eficácia da
decisão.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
III) Rogério ventilou que o princípio da taxatividade não
impede a criação de recursos não previstos em lei por
vontade das partes.
IV) Márcia pugnou que o efeito translativo impede o
conhecimento de matérias de ordem pública no
julgamento do recurso.
Assinale a alternativa correta:
a) Fernanda está correta tanto no que se refere ao efeito
obstativo, quanto no que se refere ao princípio da
voluntariedade.
b) Fernanda está correta apenas quando trata do efeito
obstativo.
c) Apenas Raquel está correta.
d) Apenas Raquel e Rogério estão corretos.
e) Apenas Rogério e Márcia estão corretos.
Comentários
Gabarito: C
Item I: errado. A primeira assertiva trata do efeito
devolutivo, e não obstativo. A segunda também está
errada porque o recurso pode ser interposto pela parte
vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério
Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica
(art. 966).
Item II: certo. Hoje, como regra, os recursos não têm
efeito suspensivo, salvo disposição legal (ex.: apelação)
ou por decisão judicial. É assim que dispõe o art. 995 do
CPC: "Os recursos não impedem a eficácia da decisão,
salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido
diverso".
Item III: errado. Ainda que, hoje, tenhamos a ampla
possibilidade de as partes fazerem negócios jurídicos
processuais (art. 190, CPC), essa é uma matéria que não
é passível de disposição pelas partes. Só por lei recursos
podem ser criados.
Item IV: errado. Efeito translativo é o efeito que permite
ao juízo ad quem conhecer das matérias de ordem
pública, ou seja, aquelas que podem ser conhecidas de
ofício a qualquer tempo e grau de jurisdição (art. 485,
§3º, CPC).
Questão 42
João, cidadão em pleno gozo de seus direitos políticos,
ajuizou ação popular em face do Estado Beta, de Tício,
ex-Governador do Estado, e de Mévio, requerendo a
declaração de nulidade de ato de declaração de utilidade
pública de bem imóvel para fins de desapropriação, bem
como a condenação de Tício e de Mévio a restituírem aos
cofres estaduais o valor pago a título de indenização pela
desapropriação de terreno pertencente a este último.
Após a apresentação de contestação por Tício e Mévio,
o Estado Beta decidiu assumir o polo ativo da ação ao
lado de João, por entender caracterizada lesão ao erário.
Ao fim da fase instrutória, o juízo julgou procedente o
pedido, para anular o decreto expropriatório e condenar
Tício e Mévio a restituírem integralmente aos cofres
estaduais o valor da indenização paga pelo imóvel de
propriedade deste último.
Nesse caso, é correto afirmar que
a)a sentença estará sujeita ao reexame necessário.
b)em razão de o Estado Beta ter aderido ao polo ativo, a
intervenção do Ministério Público será dispensada.
c)a sentença, na hipótese, terá eficácia erga omnes.
d)o Ministério Público, no caso de inércia do Estado Beta
ou de João, poderá promover a execução da sentença,
caso decorridos trinta dias da publicação da decisão.
e)João é parte ilegítima para propor ação popular, cuja
legitimidade ativa é restrita às pessoas jurídicas de
direito público e associações de classe de âmbito
regional.
Comentários
Gabarito: C
Letra a: errada. Art. 19. A sentença que concluir pela
carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao
duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação
procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.
Letra b: errada. Não há essa previsão.
Letra c: certa. Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa
julgada oponível "erga omnes", exceto no caso de haver
sido a ação julgada improcedente por deficiência de
prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar
outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de
nova prova.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Letra d: errada. Art. 16. Caso decorridos 60 (sessenta)
dias da publicação da sentença condenatória de segunda
instância, sem que o autor ou terceiro promova a
respectiva execução. o representante do Ministério
Público a promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes, sob
pena de falta grave.
Letra e: errada. As regras para proposição de ação
popular estão previstas na Lei 4.717/65, que permite que
qualquer cidadão, desde que tenha título de eleitor ou
documento correspondente, seja o autor de uma ação
judicial com objetivo de anular algum ato da
administração pública que tenha causado danos aos
cofres do governo, seja na esfera Federal, Estadual ou
Municipal.
Questão 43
“A” manejou reclamação para garantir a observância da
decisão do Supremo Tribunal Federal proferida em sede
de ação direta de constitucionalidade, pois o Tribunal
estadual não aplicou a tese jurídica firmada pelo
Supremo Tribunal Federal no caso concreto. A
reclamação foi dirigida ao Supremo Tribunal Federal.
Considerando essa situação hipotética, é correto afirmar
que:
a)por se tratar de reclamação para garantir a autoridade
de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle
concentrado de constitucionalidade, esta pressupõe o
esgotamento das instâncias ordinárias;
b)por ter natureza de recurso, o relator do Supremo
Tribunal Federal determinará a intimação do beneficiário
da decisão impugnada para apresentar sua resposta no
prazo de cinco dias;
c)como o Ministério Público não figura como
reclamante, terá vista do processo por cinco dias após o
decurso do prazo para informações e para o
oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato
impugnado;
d)não será admitida a manifestação de outros
interessados para impugnar o pedido do reclamante,
com exceção do autor do ato impugnado e daquele a
quem o ato beneficiar;
e)ao julgar procedente a reclamação, o Supremo
Tribunal Federal cassará a decisão impugnada, não
podendo determinar outra medida adequada à solução
da controvérsia.
Comentários
Gabarito: C
Letra a: errada. Só se exige esgotamento das instâncias
ordinárias quando interposta para garantir acórdão de
RE com repercussão geral ou julgamento de recursos
repetitivos (Art. 988, §5º, II).
Letra b: errada. Não possui natureza de recurso, mas de
ação autônoma de impugnação.
Letra c: certa. Art. 991. Na reclamação que não houver
formulado, o Ministério Público terá vista do processo
por 5 (cinco) dias, após o decurso do prazo para
informações e para o oferecimento da contestação pelo
beneficiário do ato impugnado.
Letra d: errada. Art. 990. Qualquer interessado poderá
impugnar o pedido do reclamante.
Letra e: errada. Art. 992. Julgando procedente a
reclamação, o tribunal cassará a decisão exorbitante de
seu julgado ou determinará medida adequada à solução
da controvérsia.
Questão 44
O Código de Processo Civil prevê que, arguida, em
controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato
normativo do poder público, o relator, após ouvir o
Ministério Público e as partes, submeterá a questão à
turma ou à câmara à qual competir o conhecimento do
processo. Nesse caso, se a arguição for acolhida, a
questão será submetida ao
a)plenário do próprio tribunal ou ao seu órgão especial,
onde houver.
b)presidente do próprio tribunal.
c)Supremo Tribunal Federal, exceto se versar
exclusivamente sobre violação da Constituição do
Estado, caso em que será submetida ao plenário do
próprio tribunal ou ao seu órgão especial, onde houver.
d)Supremo Tribunal Federal, exceto se versar
exclusivamente sobre violação da Constituição do
Estado, caso em que será submetida ao presidente do
próprio tribunal.
e)Supremo Tribunal Federal, ainda que verse
exclusivamente sobre violação da Constituição do
Estado.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Comentários
Gabarito: A
Letra a: correta. Art. 949. Se a arguição for: I - rejeitada,
prosseguirá o julgamento; II - acolhida, a questão será
submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão
especial, onde houver. Parágrafo único. Os órgãos
fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário
ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade
quando já houver pronunciamento destes ou do plenário
do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.
Questão 45
Dentre os instrumentos de tutela coletiva em que a
legislação específica contempla expressamente a
legitimidade ativa da Defensoria Pública, encontram-se:
a)habeas corpus coletivo e mandado de segurança
coletivo.
b)mandado de injunção coletivo e ação civil pública.
c)ação civil pública e mandado de segurança coletivo.
d)ação de improbidade e habeas data coletivo.
e)mandado de injunção coletivo e ação popular.
Comentários
Gabarito: B
Letra b: certa. Lei 13.300/16: Art. 12. O mandado de
injunção coletivo pode ser promovido: [...] IV - pela
Defensoria Pública, quando a tutela requerida for
especialmente relevante para a promoção dos direitos
humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos
dos necessitados. Lei 7347/85: Art. 5º. Têm legitimidade
para propor a ação principal e a ação cautelar: [...] II - a
Defensoria Pública;
Questão 46
A Defensoria Pública do Estado X atendeu diversos
pensionistas alegando desconto indevido em seus
benefícios, em razão de empréstimos consignados que
não foram contratados, tampouco assinado por eles. Tal
fato tem resultado na judicialização de inúmeras
demandas individuais para a declaração de inexistência
do débito contra essa determinada financeira e, em
grande parte dessas demandas, a controvérsia precisa
ser verificada por meio de prova pericial, sendo que
nenhuma das ações está em julgamento na segunda
instância (Tribunal de Justiça do X). Diante da natureza
de tal controvérsia,
a)é cabível a instauração de incidente de resolução de
demandas repetitivas ao juízo de primeiro grau prevento
para as demandas, e a DPE-X tem legitimidade para fazê-
lo em seu próprio nome.
b)não se mostra possível a instauração de incidente de
resolução de demandas repetitivas, uma vez que se faz
necessário que exista efetiva repetição de demandas em
andamento na segunda instância da justiça local.
c)não se mostra possível a instauração de incidente de
resolução de demandas repetitivas, uma vez que este se
destina à resolução de controvérsias unicamente de
direito.
d)é cabível a instauração de incidente de resolução de
demandas repetitivas no âmbito do TJX, mas a DPE-X não
tem legitimidade para fazê-lo em seu próprio nome.
e)é cabível a instauração de incidente de resolução de
demandas repetitivas no âmbito do TJX, e a DPE-X tem
legitimidade para fazê-lo em seu próprio nome.
Comentários
Gabarito: C
Letra a: errada. Art. 977. O pedido de instauração do
incidente será dirigido ao presidente de tribunal:
Letra b: errada. o art. 976, I, do CPC exige apenas efetiva
repetição de processos, mas não há necessidade de que
todos eles tramitem na segunda instância.
Letra c: certa. Art. 976. É cabível a instauração do
incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR)
quando houver, simultaneamente: I - efetiva repetição
de processos que contenham controvérsia sobre a
mesma questão unicamente de direito;
Letra d: errada. A Defensoria possui legitimidade para
interpor IRDR, conforme art. 977, III, do CPC
Letra e: errada. Não é cabível, eis que a controvérsia do
presente caso não é de direito, mas sim de fato, que
inclusive demanda a produção de prova pericial).
Questão 47
Promovido um cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública, no valor de um mil salários mínimos,
esta apresentou impugnação parcial, afirmando que só
seria devida verba correspondente a dez salários
mínimos. Por se tratar de parte incontroversa
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
considerada de pequeno valor, o credor requereu, desde
logo, a expedição de requisição de pequeno valor (RPV).
Nesse cenário, é correto afirmar que:
a)não é possível a execução parcial do título, uma vez
que ainda não transitou em julgado a decisão da
impugnação;
b)não é possível a execução parcial do título, pois haveria
repartição do valor em RPV numa parte e em precatório,
noutra;
c)é possível a execução parcial do título, no valor total de
um mil salários mínimos, uma vez que a impugnação da
Fazenda Pública não é dotada de efeito suspensivo;
d)é possível a execução parcial do título, podendo ser
expedido RPV, uma vez que a verba a ser efetivamente
paga é de pequeno valor;
e)é possível a execução parcial do título, devendo ser
expedido precatório, e não RPV, considerando que o
valor global da execução é de um mil salários mínimos.
Comentários
Gabarito: E
Letra e: correta. Os Estados e o Distrito Federal devem
observar o prazo de dois meses, previsto no art. 535, §
3º, II, do CPC, para pagamento de obrigações de
pequeno valor. Não é razoável impedir a satisfação
imediata da parte incontroversa de título judicial,
devendo-se observar, para efeito de determinação do
regime de pagamento — se por precatório ou requisição
de pequeno valor —, o valor total da condenação. STF.
Plenário. ADI 5534/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
18/12/2020 (Info 1003).
Questão 48
O Código de Processo Civil elenca diversas regras sobre
o a execução. Acerca de tais regras, assinale a alternativa
correta.
a)Havendo título executivo extrajudicial em favor de um
credor, o uso de ação de conhecimento por este para a
cobrança da obrigação incorre em falta de interesse de
agir.
b)Na execução por quantia certa, ao despachar o inicial,
o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de
cinco por cento, a serem pagos pelo executado.
c)A quantia depositada em caderneta de poupança,
qualquer que seja seu valor, é impenhorável.
d)O Código de Processo Civil não admite a prescrição
intercorrente no processo de execução, sendo tal figura
admitida apenas na legislação especial.
e)Na execução fundada em título extrajudicial, a Fazenda
Pública será citada para opor embargos em 30 (trinta)
dias.
Comentários
Gabarito: E
Letra a: errada. Art. 785. A existência de título executivo
extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo
de conhecimento, a fim de obter título executivo judicial.
Letra b: errada. Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz
fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por
cento, a serem pagos pelo executado.
Letra c: errada. Art. 833. São impenhoráveis: X - a quantia
depositada em caderneta de poupança, até o limite de
40 (quarenta) salários-mínimos;
Letra d: errada. Art. 921, § 5º O juiz, depois de ouvidas as
partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício,
reconhecer a prescrição no curso do processo e extingui-
lo, sem ônus para as partes.
Letra e: certo. Art. 910. Na execução fundada em título
extrajudicial, a Fazenda Pública será citada para opor
embargos em 30 (trinta) dias.
Questão 49
Sobre a Recomendação 134/2022, do Conselho Nacional
de Justiça, que dispõe sobre o tratamento dos
precedentes no Direito Brasileiro, marque a alternativa
incorreta:
a) Os meios de resolução concentrada de questões
comuns de direito são importantes para o acesso à
justiça, para a segurança jurídica, para a garantia da
isonomia, para o equilíbrio entre as partes e para o
cumprimento do direito processual.
b) É desnecessário que membros de um órgão colegiado,
ao redigir decisões que possam servir como precedente
obrigatório ou persuasivo, indiquem tese que espelhe a
orientação a ser seguida.
c)Os acórdãos proferidos no julgamento do incidente de
assunção de competência, de resolução de demandas
repetitivas e no julgamento de recursos extraordinário e
especial repetitivos devem conter a indicação de todos
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
os fundamentos suscitados, favoráveis e contrários à
tese jurídica discutida.
d) Não há vedação de que as teses elaboradas
contenham enunciados que envolvam mais de uma tese
jurídica.
e) É desnecessário que, ao realizar a distinção
(distinguishing), o juiz explicite, de maneira clara e
precisa, a situação material relevante e diversa capaz de
afastar a tese jurídica (ratiode cidendi) do precedente
tido por inaplicável.
Comentários
Gabarito: C
Letra a: errada. Art. 7º Os meios de resolução
concentrada de questões comuns de direito são
importantes para o acesso à justiça, para a segurança
jurídica, para a garantia da isonomia, para o equilíbrio
entre as partes e para o cumprimento do direito
material.
Letra b: errado. Art. 11. Recomenda-se aos membros de
um órgão colegiado que, ao redigir decisões que possam
servir como precedente obrigatório ou persuasivo,
indiquem tese que espelhe a orientação a ser seguida.
Letra c: certo. Art. 12. Recomenda-se que os acórdãos
proferidos no julgamento do incidente de assunção de
competência, de resolução de demandas repetitivas e no
julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos contenham: I – indicação de todos os
fundamentos suscitados, favoráveis e contrários à tese
jurídica discutida;
Letra d: errado. Art. 13. Recomenda-se que as teses: II –
não contenham enunciados que envolvam mais de uma
tese jurídica;
Letra e: errado. Art. 14, §1º § 1o Recomenda-se que, ao
realizar a distinção (distinguishing), o juiz explicite, de
maneira clara e precisa, a situação material relevante e
diversa capaz de afastar a tese jurídica (ratiodecidendi)
do precedente tido por inaplicável.
Questão 50
Bruno, servidor público integrante dos quadros do Poder
Judiciário estadual, impetrou mandado de segurança em
face de ato do Presidente do Tribunal de Justiça, o qual
negou direito à incorporação de vantagem em seu
contracheque.
Após regular tramitação, o Órgão Especial denegou a
ordem, sob o fundamento de que o impetrante não
comprovou o direito à incorporação.
Inconformado, João deseja interpor recurso que permita
a reforma da decisão, de sorte a que lhe seja conferido o
direito à vantagem.
Assim, Bruno deverá interpor
a)Recurso de Apelação, a ser julgado pelo Pleno do
Tribunal.
b) Embargos de declaração, perante o Órgão Especial.
c)Recurso Extraordinário, a ser julgado pelo Supremo
Tribunal Federal.
d)Agravo Interno, levando o julgamento do processo ao
Pleno do Tribunal.
e) Recurso Ordinário, a ser julgado pelo Superior Tribunal
de Justiça.
Comentários
Gabarito: E
Letra e: correta. Art. 1.027. Serão julgados em recurso
ordinário: II - pelo Superior Tribunal de Justiça: a) os
mandados de segurança decididos em única instância
pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais de
justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios,
quando denegatória a decisão;
DIREITO EMPRESARIAL
Professor Alessandro Sanchez
Questão 51
O privilégio concedido por lei para a exploração de bens
patenteáveis ou registráveis como marca ou desenho
industrial pode ser extinto em determinadas situações.
Nesse sentido e com base no que dispõe a Lei de
Propriedade Industrial, analise as afirmativas a seguir.
A. Extingue-se a patente pela falta de pagamento da
retribuição específica para o pedido de restauração se o
depositante ou o titular não o requerer dentro de seis
meses, contados da extinção.
B. Extingue-se o registro de marca se o titular for
indivíduo domiciliado no exterior e não constituir, no
prazo de trinta dias da data da concessão do registro,
procurador devidamente qualificado e domiciliado no
país, com poderes para representá-lo
administrativamente perante o INPI.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
C. A pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e
manter procurador devidamente qualificado e
domiciliado no País, com poderes para representá-la
administrativa e judicialmente, inclusive para receber
citações.
D. A pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e
manter procurador devidamente qualificado e
domiciliado no País, mas não poderá transferir poderes
para representá-la administrativa e judicialmente,
inclusive para receber citações.
E. Extingue-se o registro de marca se o titular for
indivíduo domiciliado no exterior e não constituir,
anualmente, procurador devidamente qualificado e
domiciliado no país, com poderes para representá-lo
administrativamente perante o INPI.
Comentários
A alternativa correta é a letra C.
A questão aborda o tema de propriedade industrial,
referente a extinção da patente.
A letra A está incorreta, pois o prazo legal é divergente
do que trouxe a alternativa, nos exatos termos do art. 78.
A patente extingue-se: IV - pela falta de pagamento da
retribuição anual, nos prazos previstos no § 2º do art. 84
e no art. 87; e
Art. 84. (...) § 2º O pagamento deverá ser efetuado
dentro dos primeiros 3 (três) meses de cada período
anual, podendo, ainda, ser feito, independente de
notificação, dentro dos 6 (seis) meses subsequentes,
mediante pagamento de retribuição adicional.
A letra B está incorreta, já que o art. 217, não estabelece
prazo para constituição de procurador que possa
representar o titular junto ao INPI, vejamos: A pessoa
domiciliada no exterior deverá constituir e manter
procurador devidamente qualificado e domiciliado no
País, com poderes para representá-la administrativa e
judicialmente, inclusive para receber citações;
A letra C está correta, já que o art. 217, não estabelece
prazo para constituição de procurador que possa
representar o titular junto ao INPI, vejamos: A pessoa
domiciliada no exterior deverá constituir e manter
procurador devidamente qualificado e domiciliado no
País, com poderes para representá-la administrativa e
judicialmente, inclusive para receber citações;
A letra D está incorreta, já que o art. 217, não estabelece
prazo para constituição de procurador que possa
representar o titular junto ao INPI, vejamos: A pessoa
domiciliada no exterior deverá constituir e manter
procurador devidamente qualificado e domiciliado no
País, com poderes para representá-la administrativa e
judicialmente, inclusive para receber citações;
A letra "E" está incorreta, já que não é possível identificar
no texto da lei a expressão "anualmente", nas mesmas
condições e disposição legal da alternativa B.
Questão 52
As sociedades empresárias Companhia Iraceminha e
Companhia Atalanta são controladas por Xavantina
Participações S/A, titular do maior número de ações com
direito a voto no capital das primeiras, formando um
grupo econômico. Todas as sociedades requereram
individualmente recuperação judicial no juízo do local do
principal estabelecimento entre os das devedoras, sem
pleitear o processamento da recuperação sob
consolidação processual.
Após o deferimento do processamento da recuperação
das devedoras, os administradores das companhias
requereram ao juiz autorização para a consolidação
substancial, a fim de reunir os patrimônios e apresentar
plano único. Além da relação de controle comprovada
pelas participações no capital com direito a voto, o juiz
verificou a interconexão entre ativos das devedoras e a
existência de obrigações assumidas pelas controladas
com garantia de bens na posse da controladora, mas
ainda não quitados por esta perante terceiros.
Considerados esses fatos e as disposições sobre essa
modalidade de consolidação, é correto afirmar que:
a) será possível autorizar de forma excepcional a
consolidação dos patrimônios das recuperandas, a fim
de apresentação de plano único, pois há relação de
controle entre as sociedades, bem como se verifica
garantia cruzada em obrigações assumidas pelas
controladas;
b) não será possível autorizar de forma excepcional a
consolidação dos patrimônios das recuperandas, pois as
sociedades sob controle societário comum não estão em
recuperação judicial sob consolidação processual;
c) será possível autorizar de forma excepcional a
consolidação dos patrimônios das recuperandas, a fim
de apresentação de plano único, pois há interconexão
entre ativos das devedoras e relação de controle;
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
d) não será possível autorizar de forma excepcional a
consolidação dos patrimônios das recuperandas, a fim
de apresentação de plano único, pois aínda que haja
relação de controle e identidade parcial do quadro
societário, não há garantia cruzada de obrigações entre
a controladora e suas controladas;
e) será possível autorizar de forma excepcional a
consolidação dos patrimônios das recuperandas, a fim
de apresentação de plano único, pois há relação de
controle e identidade parcial do quadro societário.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
Cumpre observar preliminarmente, tratar-se de questão
envolvendo a consolidação processual e consolidação
substancial. Da leitura do enunciado, é preciso observar
que a recuperação foi requerida de forma individual, ou
seja, ela não foi realizada em conjunto na forma de
consolidação processual.
Desse modo, apenas o art. 69-J, da Lei 11.101
responderia as demais alternativas, já que assim dispõe:
O juiz poderá, de forma excepcional,
independentemente da realização de assembleia-geral,
autorizar a consolidação substancial de ativos e passivos
dos devedores integrantes do mesmo grupo econômico
que estejam em recuperação judicial sob consolidação
processual, apenas quando constatar a interconexão e a
confusão entre ativos ou passivos dos devedores, de
modo que não seja possível identificar a sua titularidade
sem excessivo dispêndio de tempo ou de recursos,
cumulativamente com a ocorrência de, no mínimo, 2
(duas) das seguintes hipóteses: (...).
Posto isto, a alternativa A está incorreta, pois não é
possível que o juiz convole a consolidação processual em
substancial, já que não foi pedido a consolidação;
Outrossim, o equívoco da letra C, D e E, está no fato de
ir contrário as possibilidades previstas no dispositivo
legal, qual seja, o 69-J, da Lei 11.101.
Questão 53
As partir de uma Cédula de Produto Rural que contenha
promessa de entrega de mercadorias emitida sob forma
cartular, sem garantia cedular e cláusula à ordem.
Considerando-se as características do título de crédito
quanto aos requisitos essenciais, conceito de produto
rural, garantias, forma de emissão e legitimação, é
correto afirmar que:
a) por serem aplicáveis à CPR as normas de direito
cambial, só é permitida a emissão sob forma cartular,
como ocorre para a emissão de letra de câmbio e nota
promissória;
b) por serem aplicáveis à CPR as normas de direito
cambial, é permitida a emissão sob forma cartular e
escritural;
c) A CPR não pode ser emitida por produtor rural e suas
associações, inclusive cooperativas;
d) a CPR deve ser emitida sempre com garantia cedular
constituída no título e ser levada a registro no cartório
de registro de imóveis em que estiverem localizados os
bens dados em garantia;
e) A CPR emitida em vista produto de natureza agrícola,
pecuária, florestal, de extrativismo vegetal ou seus
derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico é
inválida.
Comentários
A alternativa correta é a letra B.
Conforme noções preliminares, resta demonstrado que
a alternativa A, está incorreta, já que sua emissão é
permitida tanto na forma cartular ou escritural,
conforme estabelece o caput do art. 3º-A da Lei
8.929/94;
A letra B, está correta já que sua emissão é permitida
tanto na forma cartular ou escritural, conforme
estabelece o caput do art. 3º-A da Lei 8.929/94.
A letra C está incorreta, segundo o Art. 2º Têm
legitimação para emitir CPR:
II - as pessoas naturais ou jurídicas que beneficiam ou
promovem a primeira industrialização dos produtos
rurais referidos no art. 1º desta Lei ou que empreendem
as atividades constantes dos incisos II, III e IV do § 2º do
art. 1º desta Lei.
Alternativa D, tem previsão legal no art. 5º, já que a CPR
admite a constituição de quaisquer dos tipos de garantia
previstos na legislação, devendo ser observado o
disposto nas normas que as disciplinam, salvo na
hipótese de conflito, quando prevalecerá esta Lei.
Destaca-se ainda que não necessariamente será
registrada em cartório;
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
No que se refere a alternativa E, poderia ser solucionada
com o conhecimento do mesmo dispositivo que
responde a alternativa correta, inexistindo invalidade da
CPR. (Lei 8.929/94, art. 2º, II e art. 1º, §2º, I,).
Questão 54
Claudio Augusto Peças arrendou um de seus
estabelecimentos para Chevrocom comércio de peças
ltda. O Contrato estipulou o prazo de 2 (dois) anos, sendo
certo que o arrendador permaneceria no ramo com o
estabelecimento principal e as demais filiais, e que
permanece com bens suficientes para pagamento de
todos os seus credores. Além disso, vale ressaltar que o
estabelecimento arrendado se encontra em um
município distante dos demais, o que não traz dúvidas
acerca de concorrência por intermédio das filiais do
alienante e o próprio estabelecimento principal.
A) O prazo para o não restabelecimento por intermédio
do arrendador, caso o contrato nada disponha acerca do
assunto é de 3 anos;
B) O contrato não poderá dispor sobre a possibilidade de
concorrência;
C) As partes podem acordar o prazo do não
restabelecimento, desde que não ultrapasse 5 anos;
D) O prazo para não restabelecimento é de 5 anos, caso
não haja previsão contratual.
E) O contrato poderá dispor sobre a possibilidade de
concorrência, caso não haja previsão contratual.
Comentários
Alternativa “E”
As alternativas A, B, C e D estão incorretas, já que o artigo
1147 do código civil estabelece que o prazo para o não
restabelecimento será de 5 anos, caso não haja outra
previsão contratual.
A alternativa E está correta. Prevalece o princípio da
autonomia da vontade das partes, segundo o próprio
artigo 1147 do Código Civil.
Questão 55
Sobre a responsabilidade dos sócios assinale a
alternativa correta.
(A) Na sociedade em comandita simples a
responsabilidade dos sócios é ilimitada e solidária,
ressalvada a hipótese do sócio contratante.
(B) Na sociedade por ações, a responsabilidade dos
acionistas será limitada ao valor de emissão das ações
subscritas, e responderão solidariamente pela
integralização do capital.
(C) Na sociedade limitada, a responsabilidade é solidária
para a integralização do capital.
(D) Na sociedade em comum, a responsabilidade será
limitada, caso o contrato social esteja regular para com
as cláusulas essenciais.
(E) Nas sociedades cooperativas, a responsabilidade será
necessariamente limitada.
Comentários
Gabarito: C
Na sociedade limitada cada sócio é responsável apenas
por suas quotas, mas todos respondem solidariamente
pela integralização do capital, segundo o art. 1.052, CC.
Questão 56
Ao tratar da prova documental, o Código de Processo
Civil (Lei nº 13.105/2015) contém disposições sobre a
força probante dos documentos, dentre eles os livros
empresariais e a escrituração contábil. Sobre esse tema,
analise as afirmativas a seguir.
I. A escrituração contábil é indivisível, e, se dos fatos que
resultam dos lançamentos, uns são favoráveis ao
interesse de seu autor e outros lhe são contrários, ambos
serão considerados em conjunto, como unidade.
II. Os livros empresariais que preencham os requisitos
exigidos por lei provam a favor de seu autor quando o
litígio for exclusivamente entre empresários.
III. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição
parcial dos livros e dos documentos, extraindo-se deles
a suma que interessar ao litígio, bem como reproduções
autenticadas.
Está correto o que se afirma em:
A) somente l;
B) somente II;
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
C) somente I e III;
D) somente II e III;
E) I, II e III.
Comentários
A resposta correta é a letra E.
O Item I está certo. Literalidade do artigo 419 do Código
de Processo Civil, que assim prevê: "A escrituração
contábil é indivisível, e, se dos fatos que resultam dos
lançamentos, uns são favoráveis ao interesse de seu
autor e outros lhe são contrários, ambos serão
considerados em conjunto, como unidade".
O Item II está certo. A correção do item pode ser
questionada, pois a literalidade do artigo que deu
fundamento ao ponto é diversa, primeiro vejamos a
literalidade do artigo 418 do CPC: Os livros empresariais
que preencham os requisitos exigidos por lei provam a
favor de seu autor no litígio entre empresários. Embora
não conste a expressão "exclusivamente" na letra da lei,
pode-se entender que o item esta correto.
O Item III está certo. Literalidade do artigo 421 do Código
de Processo Civil, vejamos: O juiz pode, de ofício,
ordenar à parte a exibição parcial dos livros e dos
documentos, extraindo-se deles a suma que interessar
ao litígio, bem como reproduções autenticadas.
DIREITO PENAL
Professora Michael Procópio
Questão 57
João Pedro mandou que Gumercindo, caseiro em sua
chácara, destruísse a vegetação de mata ciliar. Após
investigação, ambos foram denunciados pela prática de
crime ambiental. Os dois são maiores e capazes e
atuaram conhecendo as circunstâncias fáticas de sua
conduta e com consciência da ilicitude.
Sobre o tema, considerando as teorias sobre concurso de
pessoas, assinale a alternativa correta:
a) Segundo a teoria subjetiva, João Pedro é partícipe,
enquanto Gumercindo, por executar a conduta típica, é
o autor.
b) Pela teoria objetivo-formal, João Pedro, como
mandante, é o autor, de modo que Gumercindo deve ser
considerado partícipe.
c) Pela concepção do domínio funcional do fato, ambos
devem ser considerados coautores, já que ambos
participaram da fase delitiva necessária à imputação
recíproca.
d) João Pedro possui o domínio da vontade, na
modalidade autoria intelectual, para a teoria do domínio
do fato desenvolvida por Claus Roxin.
e) Segundo a teoria do domínio do fato, difundida na
versão de Claus Roxin, Gumercindo é o autor, devendo
João Pedro ser responsabilizado como partícipe.
Comentários
Gabarito: alternativa E.
A alternativa A está incorreta. João Pedro é autor, por ter
atuado como animus auctoris, se adotada a teoria
subjetiva. Já Gumercindo é partícipe, atuando com
animus socii.
A alternativa B está incorreta. João Pedro é partícipe, já
que não realizou o núcleo do tipo. Já Gumercindo é autor
para a teoria objetivo-formal.
A alternativa C está incorreta. João Pedro não pode ser
tido como coautor, por não ter atuado na fase de
execução, conforme requisito do domínio funcional do
fato, exigido para a imputação recíproca das condutas.
A alternativa D está incorreta. João Pedro não possui o
domínio da vontade, já que não há domínio da
organização nem uso de outra pessoa, como
instrumento, por meio de erro ou coação. Roxin nem faz
referência à figura da “autoria intelectual” como parte
da teoria do domínio do fato.
A alternativa E está correta. João Pedro é partícipe, já
que o domínio da ação foi de Gumercindo, que realizou
a ação típica de forma livre, sem erro nem coação, nem
mesmo em contexto de aparato organizado de poder.
Assim, não houve autoria do homem de trás, autor é
mesmo quem realizou a conduta prevista na norma
incriminadora.
Questão 58
Eustáquio, servidor do Poder Judiciário, foi processado e
julgado por crime contra a Administração Pública. Após
a sentença de primeiro grau, Pedro restituiu o valor que
faltou nos cofres públicos em razão de sua conduta.
Assim, o Tribunal de Justiça extinguiu a sua punibilidade.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Com base nessas informações, é possível afirmar que
Eustáquio praticou o seguinte delito:
a) peculato culposo.
b) corrupção passiva.
c) advocacia administrativa.
d) peculato-furto.
e) prevaricação.
Comentários
A alternativa correta é a A, considerando que o peculato
culposo é o único dos delitos enumerados que permite a
extinção da punibilidade no caso de reparação do ano
antes da sentença condenatória irrecorrível. É o que
prevê o artigo 312, § 3º, do CP.
Quanto aos demais, pode-se cogitar de arrependimento
posterior apenas quando a reparação ocorre antes do
recebimento da denúncia. Antes do julgado do caso,
haveria, por fim, a atenuante genérica do artigo 65, III, b,
do CP.
Questão 59
Estevão Duarte foi ao supermercado e, desejoso de
subtrair vinhos importados, decide levar uma sacola
retornável. Ao passar pelo caixa produtos de menor
valor, pelos quais paga adequadamente, realiza uma
manobra e passa, dentro do carrinho, as bebidas de alto
valor, as quais insere na sacola retornável, de modo que
a funcionária do caixa não percebe e cobra apenas pelos
produtos de baixo valor colocados sobre a esteira.
No entanto, o vigilante patrimonial, ao verificar essa
atuação pelas câmeras de vigilância, percebe a intenção
e impede a saída de Estevão do estabelecimento.
Com base na legislação vigente, qual é o crime que
melhor descreve a conduta desse cliente?
A) Furto simples, na modalidade consumada.
B) Estelionato, na forma de conatus.
C) Tentativa inidônea.
D) Furto qualificado, na modalidade tentada.
E) Extorsão indireta.
Comentários
Alternativa A está incorreta, pois o furto, no caso, foi
praticado mediante fraude, o que o torna qualificado.
Alternativa B está incorreta, pois o estelionato envolve o
uso de fraude para obter vantagem ilícita, de modo que
a vítima se convence de que o agente pode ter a
vantagem, receber ou deter a coisa. Conatus é a
denominação da tentativa.
Alternativa C está incorreta, pois havia chances de sair
com as bebidas. Conforme Súmula 567 do STJ, sistema
de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou
por existência de segurança no interior de
estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão.
Houve emprego de fraude, pelo agente, para que fosse
possível subtrair as bebidas. A inversão da posse não se
caracterizou, já que foi abordado ainda dentro do
estabelecimento razão pela qual responderá pela
tentativa.
Alternativa E está incorreta, pois a extorsão indireta se
configura se o agente exigir ou receber, como garantia
de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a
vítima ou contra terceiro.
Questão 60
Ataíde, sob ameaça de arma de fogo, forçou uma
passageira a se manter ao seu lado no transporte
coletivo, em horário de pouco movimento, e se
masturbou, ejaculando nela. Sátiro, Secretário
Municipal, começa a cortejar uma funcionária, alegando
que tem o poder de mantê-la ali, como ocupante de
cargo em comissão e que pode ser demitida a qualquer
tempo.
Considerando esses fatos, analise o seu melhor
enquadramento típico:
a) Ataíde cometeu o crime de importunação sexual,
enquanto Sátiro cometeu delito de assédio sexual.
b) Ataíde cometeu o delito de estupro, enquanto Sátiro
cometeu delito de assédio sexual.
c) Ataíde e Sático cometeram o crime de estupro, já que
ambos envolvem algum tipo de ameaça.
d) Ataíde praticou o delito de violação sexual mediante
fraude; Sátiro, por sua vez, cometeu assédio sexual, por
usar a sua posição de ascendência, de forma tentada.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
e) Ataíde praticou a contravenção penal de
importunação ofensiva ao pudor. Sátiro, por sua vez,
cometeu o delito de estupro.
Comentários
Gabarito: Alternativa B.
A Alternativa A está incorreta. O delito de importunação
sexual é subsidiário, não se configurando se o caso se
amolda ao estupro. Sátiro, por sua vez, cometeu assédio
sexual, por usar a sua posição de ascendência.
A alternativa B está correta. Tendo havido emprego de
violência ou grave ameaça, como meio de se constranger
para a prática de qualquer ato libidinoso, configura-se o
estupro, pois, segundo o STJ, o delito pode se configurar
mesmo com beijo lascivo ou contemplação lasciva.
Sátiro, por sua vez, cometeu assédio sexual, por usar a
sua posição de ascendência.
A alternativa C está incorreta. Não há menor de 14 anos
nem situação de vulnerabilidade, como doença mental,
mas sim emprego de violência ou grave ameaça. Sátiro,
por sua vez, cometeu assédio sexual, por usar a sua
posição de ascendência.
A alternativa D está incorreta. O delito de violação
mediante fraude ocorre quando há fraude para
obtenção da vantagem sexual, e não grave ameaça,
como no enunciado. Sátiro, por sua vez, cometeu assédio
sexual, por usar a sua posição de ascendência, que é
delito formal, independendo da vantagem sexual para
sua consumação.
A alternativa E está incorreta. A contravenção nem mais
subsiste, pois o dispositivo da Lei das Contravenções
Penais foi revogado. Sátiro, por sua vez, cometeu assédio
sexual, por usar a sua posição de ascendência.
Questão 61
O servidor do setor de distribuição da Justiça do Trabalho
que, aproveitando-se do acesso mais livre às
dependências do Fórum, entra em uma das Secretarias
de Vara e se apropria de um bem que está no depósito
judicial, apreendido, comete o crime de:
a) Furto qualificado
b) Peculato impróprio
c) Peculato desvio
d) Peculato apropriação
e) Peculato-estelionato
Comentários
Gabarito B
A alternativa A está incorreta. Há tipo mais específico do
que o furto, já que ele utilizou a facilidade proporcionada
pela condição de funcionário público.
A alternativa B está correta. O servidor não tinha a posse
do bem, mas se aproveitou da facilidade advinda da sua
qualidade de funcionário para subtraí-lo cometendo o
crime de peculato impróprio, também denominado pela
doutrina de peculato furto, previsto no parágrafo
primeiro do artigo 312 do Código Penal.
A alternativa C está incorreta. A conduta incriminada
prevista na segunda parte do caput do artigo 312 é
desviar, o funcionário público, dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que
tem a posse em razão do cargo, em proveito próprio ou
alheio, traduzindo-se na expressão: “ou desviá-lo, em
proveito próprio ou alheio”.
A alternativa D está incorreta. O peculato apropriação
está previsto na primeira parte do caput do artigo 312,
com os seguintes termos: “Apropriar-se o funcionário
público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo”. Como no crime de apropriação indébita, a ação
nuclear é apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer
outro bem móvel, público ou particular. Exige-se, para a
configuração do peculato apropriação, a anterior posse
ou detenção lícita da coisa, em razão do cargo, ou seja, o
agente deve ter, anteriormente à conduta típica, a posse
justa do dinheiro, do valor ou de qualquer outro bem
móvel, público ou particular.
A alternativa E está incorreta. O crime de peculato
previsto no art. 313 do Código Penal é intitulado de
peculato mediante o erro de outrem, mas também é
denominado peculato-estelionato. A ação nuclear típica
é apropriar-se. A conduta incriminada é apropriar-se de
dinheiro ou qualquer utilidade que recebeu, no exercício
do cargo, por erro de outra pessoa. Dinheiro é a moeda
corrente, enquanto utilidade é qualquer coisa com
apreciação econômica.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Questão 62
Maria, vítima de um furto, entra na delegacia bastante
nervosa e, verificando que o Delegado tratava de outro
caso, e não do seu, passa a criticar a atuação dele e dizer
que o serviço público está moroso e a Administração
Pública é cara e ineficiente. Fez críticas ácidas ao
escrivão, foi atendida depois de uma hora e prestou
depoimento sobre o furto.
Quanto à sua atuação, é correto afirmar que praticou:
a) Resistência
b) Desobediência
c) Desacato
d) Constrangimento ilegal
e) Ato atípico.
Comentários
Gabarito E
A alternativa A está incorreta. O crime de resistência está
tipificado no artigo 329 do Código Penal, que prevê a
seguinte conduta incriminadora:
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante
violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
das correspondentes à violência.
Opor-se é contrapor-se, abster-se, resistir. A conduta
incriminada é opor-se à execução de um ato legal,
mediante violência ou ameaça a funcionário competente
para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio.
A alternativa B está incorreta. O artigo 330 do Código
Penal trata da desobediência, nos seguintes termos:
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário
público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Desobedecer é não obedecer, não acatar a ordem,
recusar o atendimento a um comando. A conduta
incriminada é desobedecer a ordem legal de funcionário
público. A ordem deve ser emitida pelo funcionário
público, de forma específica para o agente, que deve ser
obrigado a atender a ordem.
A alternativa C está incorreta. O crime de desacato tem
previsão no artigo 331 do Código Penal:
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da
função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Desacatar é humilhar, desprestigiar, ofender. É afrontar,
menoscabar, achincalhar. A conduta incriminada é
desacatar funcionário público no exercício da função ou
em razão dela. No caso, ela apenas fez críticas, ainda que
veementes à atuação funcional, o que não configura o
crime.
A alternativa D está incorreta. A conduta típica do crime
de constrangimento ilegal é a de constranger, de praticar
coação contra outrem, utilizando-se de violência ou
grave ameaça ou reduzindo sua capacidade de
resistência, a não fazer algo que a lei permite ou a fazer
o que a lei não obriga.
A alternativa E está correta. Conforme decidido pelo STF
no julgamento da ADPF 496, é preciso um menosprezo
da própria função pública exercida pelo agente. E, mais,
é necessário que o ato perturbe ou obstrua a execução
das funções do funcionário público. Assim, concluiu-se
pela atipicidade de reclamações, censuras ou críticas,
ainda que veementes, à atuação funcional do
funcionário.
Questão 63
Sobre os crimes contra a pessoa, assinale a alternativa
correta:
a) Sônia engravidou com 16 anos e, por sentir muita
vergonha dos pais, escondeu a gestação e quando o bebê
nasceu, abandonou-o em uma praça pública, num dia de
frio intenso. Depois de encontrado, o bebê foi
encaminhado ao hospital, onde constataram que havia
sequelas nas pontas dos dedos da mão esquerda, por
estar parcialmente congelada. Assim, Sônia responderá
pelo crime de lesão corporal grave e abandono de
recém-nascido, em concurso formal.
b) Alisson, sabendo de sua condição soropositiva, tem
relações sexuais com Joice e acaba por contaminá-la com
o vírus da AIDS. Como Joice desconhecia que Alisson é
portador do vírus da AIDS, Alisson responderá pelo crime
de perigo de contágio venéreo, conforme doutrina e
jurisprudência majoritárias.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
c) Ao encontrar o perfil de Fabíola em uma rede social,
Pablo, um nadador olímpico que sempre posta suas fotos
participando de competições, passa a persegui-la
virtualmente, ameaçando-a de bater nela quando a
encontrar até que ela se torne uma pessoa decente. Isso
porque Fabíola trabalha como modelo de roupas íntimas
e expõe as fotografias dos seus trabalhos no perfil de
suas redes sociais. Em razão disso, Pablo responderá
pelo crime de perseguição e terá a pena aumentada de
metade, já que o crime foi cometido contra mulher por
razões da condição de sexo feminino.
d) Jorge, imbuído da vontade de matar Solange, que
tinha acabado de descobrir que estava grávida dele,
desfere algumas facadas no peitoral de Solange, que
consegue se desvencilhar e pedir por ajuda, salvando-se.
Neste caso, Jorge responderá por feminicídio tentado e
terá sua pena aumentada em um terço, em razão de o
crime ter sido praticado durante a gestação.
e) João, maior e capaz, por não gostar de um colega de
sala do ensino médio, passa a intimidá-lo
sistematicamente, usando apelidos e constrangimentos
públicos, de modo intencional e repetitivo, sem denotar
nenhuma motivação para o seu comportamento. Assim,
deve responder pelo delito de violência psicológica.
Comentários
Gabarito: C
A alternativa A está incorreta. Neste caso, Sõnia
responderá pelo crime qualificado abandono de recém-
nascido, tendo em vista que o tipo prevê qualificadora,
se do fato resulta lesão corporal de natureza grave,
passando a pena a ser de detenção, de um a três anos.
Vale ressaltar que a lesão é grave, pois, houve debilidade
permanente de um membro.
A alternativa B está incorreta. Por não ser transmitida
apenas por via sexual, a doutrina e a jurisprudência
afastam a AIDS como doença venérea. Neste sentido, o
seguinte precedente do Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais: “(...)A AIDS não se enquadra nas doenças
venéreas a que alude do art. 130 do CP, já que não se
transmite somente por relação sexual ou ato libidinoso,
mas por qualquer outro meio de transmissão, a impor a
absolvição do réu. (...).” (TJMG, Apelação Criminal
1.0672.08.302817-1/001, Rel. Des. Júlio Cezar
Guttierrez, 4ª Câmara Criminal, Julgamento:
19/05/2010). Desta forma, Alisson poderá responder
pelo crime de lesão corporal de natureza gravíssima, em
razão de ter ofendido a saúde de Joice, ao transmitir-lhe
enfermidade incurável.
A alternativa C está correta. Incide a causa de aumento
de pena no caso de crime cometido contra a mulher,
desde que por razões da condição de sexo feminino.
Portanto, o crime contra a mulher pode ou não ser
majorado, a depender do caso. Há uma referência
expressa ao artigo 121, § 2º-A, do CP, que define o que
são as razões da condição de sexo feminino para a
qualificadora do feminicídio. As razões são de violência
doméstica e familiar ou de menosprezo ou discriminação
contra a mulher. No caso, houve discriminação contra a
mulher, tendo em vista que Rafael deu à Fabíola um
tratamento diferenciado, sem que essa diferenciação
possua uma adequada razão para a discriminação.
A alternativa D está incorreta. O aumento de pena
previsto no art. 121, § 7° do Código Penal é de 1/3 (um
terço) até a metade. Na dosimetria da pena,
especificadamente, na terceira fase, o juiz aplicará a
causa de aumento, podendo, inclusive, nesta fase,
ultrapassar os limites mínimo e máximo da pena
abstratamente cominada ao crime.
A alternativa E está incorreta. João deve responder por
intimidação sistemática, crime previsto no artigo 146-A
do CP. O delito de violência psicológica, tipificado no
artigo 147-B do CP, só tem como vítima a mulher.
Questão 64
Após dirigir acima da velocidade, Olavo Jacó Simpson é
abordado por policiais rodoviários federais, ocasião em
que apresenta a CNH de seu irmão gêmeo, Paulo
Bustamente. Ao ser conduzido à autoridade policial,
alega que a CNH do irmão estava no carro, tendo-a
apresentado apenas para evitar a prisão por estar
conduzindo sem CNH, entendendo não haver crime, pois
estava se defendendo de possível incriminação, à luz do
nemo tenetur se detegere. A esse respeito, assinale a
alternativa correta:
a) Pelo exercício da autodefesa, praticou conduta
atípica.
b) O exercício da autodefesa não impede a configuração
do delito, devendo ser processado, na Justiça Federal,
devido à apresentação a agentes federais, pelo crime de
uso de documento de identidade alheia.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
c) O exercício da autodefesa não impede a configuração
do delito, devendo ser processado, na Justiça Federal,
pelo crime de uso de documento falso, por ter sido
apresentado a policiais federais.
d) O exercício da autodefesa não impede a configuração
do delito, devendo ser processado, na Justiça Estadual,
pelo crime de uso de documento de identidade alheio,
por ter sido emitido pelo Detran.
e) O exercício da autodefesa não impede a configuração
do delito, devendo ser processado, na Justiça Estadual,
pelo crime de falsa identidade, por ter sido emitido pelo
Detran.
Comentários
Gabarito: B
a) A alternativa A está incorreta. Conforme Súmula 522
do STJ, "A conduta de atribuir-se falsa identidade
perante autoridade policial é típica, ainda que em
situação de alegada autodefesa”.
b) A alternativa B está correta. O crime é o do artigo 308
do CP. Conforme Súmula 546 do STJ, a competência é da
Justiça Federal: “A competência para processar e julgar
o crime de uso de documento falso é firmada em razão
da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o
documento público, não importando a qualificação do
órgão expedidor”.
c) A alternativa C está incorreta. A competência é mesmo
da Justiça Federal, mas não se tratava de documento
falso, e sim alheio. O delito é do artigo 308, e não do
artigo 304.
d) A alternativa D está incorreta. O crime é do artigo 308
do CP, mas a competência não é da Justiça Estadual.
e) A alternativa E está incorreta. O crime não é de falsa
identidade, por ter sido apresentado documento alheio,
além de a competência ser da Justiça Federal.
Questão 65
Olavo Quintana, com 80 anos de idade, resolve se vingar
de um médico perito, do INSS, que disse que ele estava
apto a trabalhar, apesar de sentir dores intensas. Assim,
mune-se de seu revólver e aguarda a saída do médico ao
fim do expediente para matá-lo. Entretanto, apesar de
ser portador de astigmatismo e enxergar mal, identifica
corretamente o médico perito. Apesar disso, não
consegue posicionar a alça na marca da massa de mira e
erra o alvo, atingindo Margarida, segurada que saída da
agência, feliz por ter finalmente obtido a aposentadoria
por idade. Sobre o caso, assinale a alternativa correta:
a) Ocorreu aberratio ictus, devendo Olavo ser
processado perante a Justiça Estadual e ser apenado
como se o servidor público federal tivesse sido atingido.
b) Ocorreu error in persona, devendo Olavo ser
processado perante a Justiça Federal e ser apenado
como se o servidor público federal tivesse sido atingido.
c) Ocorreu error in persona, devendo Olavo ser
processado perante a Justiça Federal e ser apenado com
base na vítima efetivamente atingida, a sra. Margarida,
conforme determina o Código Penal.
d) Ocorreu aberratio ictus, devendo Olavo ser
processado perante a Justiça Estadual e ser apenado
com base na vítima efetivamente atingida, a sra.
Margarida, em razão de determinação legal.
e) Ocorreu aberratio criminis, devendo Olavo ser
processado perante a Justiça Federal e ser apenado com
base na vítima efetivamente atingida, a sra. Margarida.
Comentários
Gabarito: A
A alternativa A está correta. Houve efetivamente erro na
execução, aberratio ictus, e a competência é da Justiça
Estadual, conforme precedente do STJ. A pena,
conforme determina o artigo 73 do CP, deve considerar
a vítima virtual, o servidor que se buscava atingir.
A alternativa B está incorreta. Ele não confundiu pessoas,
não havendo error in persona.
A alternativa C está incorreta. Ele não confundiu pessoas,
não havendo error in persona. A competência é da
Justiça Estadual, conforme precedente do STJ.
A alternativa D está incorreta. Houve efetivamente erro
na execução, aberratio ictus, e a competência é da
Justiça Estadual, conforme precedente do STJ. A pena,
entretanto, deve considerar a vítima virtual, o servidor
que se buscava atingir.
A alternativa E está incorreta. Não se buscava atingir
uma pessoa e se atingiu uma coisa, ou vice-versa, não
havendo aberratio criminis.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Questão 66
Elizabeth, embora formada em educação física, trabalha
como terapeuta holística, receitando aos seus
consulentes doses diárias de pó de cacau combinado
com ervas legalizadas, mistura que ela mesma produz.
Dentre os benefícios que alega promover na saúde física
e mental de seus pacientes, Elizabeth destaca a “melhora
da depressão e ansiedade”. Anota-se que a conduta da
terapeuta se enquadra:
A) Em nenhum tipo penal, tratando-se de mera
manifestação religiosa
B) Curandeirismo
C) Charlatanismo
D) Exercício ilegal da medicina
E) Estelionato
Comentários
A conduta de Elizabeth se enquadra no tipo penal do
curandeirismo, nos termos do Art. 284, I, Código Penal,
“Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando
ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; (...)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos”. Portanto, a
Alternativa B é a correta.
Questão 67
Em meio aos debates relativos à regulamentação do
homeschooling no Brasil, Abadia, por suas convicções
pessoais, não quer que seu filho Isaias, de sete anos, seja
matriculado em uma escola. Entende que o melhor para
seu filho é ser educado em casa, segundo costumes e
tradições que vão de encontro ao que chama de
“ideologia de gênero”, ideia a qual acredita ser
disseminada aos alunos em instituições de ensino, tanto
públicas, quanto privadas. A tia de Isaias, irmã de Abadia,
apresenta notitia criminis sobre a sua conduta à
delegacia especializada. Diante deste cenário, entende-
se que a conduta de Abadia pode ser enquadrada:
A) em delito algum, observada a regulamentação do
homeschooling no Brasil.
B) em abandono de incapaz.
C) em abandono material.
D) em abandono intelectual.
E) em corrupção de menores.
Comentários
Gabarito: alternativa D.
A Alternativa A está incorreta. A regulamentação do
homeschooling ainda não é uma realidade no Brasil,
embora existam esforços legislativos nesse sentido,
ainda não houve efetivação da política:
Ementa: CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. DIREITO
FUNDAMENTAL RELACIONADO À DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA E À EFETIVIDADE DA CIDADANIA.
DEVER SOLIDÁRIO DO ESTADO E DA FAMÍLIA NA
PRESTAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL. NECESSIDADE
DE LEI FORMAL, EDITADA PELO CONGRESSO NACIONAL,
PARA REGULAMENTAR O ENSINO DOMICILIAR. RECURSO
DESPROVIDO. 1. A educação é um direito fundamental
relacionado à dignidade da pessoa humana e à própria
cidadania, pois exerce dupla função: de um lado,
qualifica a comunidade como um todo, tornando-a
esclarecida, politizada, desenvolvida (CIDADANIA); de
outro, dignifica o indivíduo, verdadeiro titular desse
direito subjetivo fundamental (DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA). No caso da educação básica obrigatória (CF,
art. 208, I), os titulares desse direito indisponível à
educação são as crianças e adolescentes em idade
escolar. 2. É dever da família, sociedade e Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, a educação. A Constituição Federal
consagrou o dever de solidariedade entre a família e o
Estado como núcleo principal à formação educacional
das crianças, jovens e adolescentes com a dupla
finalidade de defesa integral dos direitos das crianças e
dos adolescentes e sua formação em cidadania, para que
o Brasil possa vencer o grande desafio de uma educação
melhor para as novas gerações, imprescindível para os
países que se querem ver desenvolvidos. 3. A
Constituição Federal não veda de forma absoluta o
ensino domiciliar, mas proíbe qualquer de suas espécies
que não respeite o dever de solidariedade entre a família
e o Estado como núcleo principal à formação
educacional das crianças, jovens e adolescentes. São
inconstitucionais, portanto, as espécies de unschooling
radical (desescolarização radical), unschooling
moderado (desescolarização moderada) e
homeschooling puro, em qualquer de suas variações. 4.
O ensino domiciliar não é um direito público subjetivo do
aluno ou de sua família, porém não é vedada
constitucionalmente sua criação por meio de lei federal,
editada pelo Congresso Nacional, na modalidade
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
“utilitarista” ou “por conveniência circunstancial”, desde
que se cumpra a obrigatoriedade, de 4 a 17 anos, e se
respeite o dever solidário Família/Estado, o núcleo
básico de matérias acadêmicas, a supervisão, avaliação e
fiscalização pelo Poder Público; bem como as demais
previsões impostas diretamente pelo texto
constitucional, inclusive no tocante às finalidades e
objetivos do ensino; em especial, evitar a evasão escolar
e garantir a socialização do indivíduo, por meio de ampla
convivência familiar e comunitária (CF, art. 227). 5.
Recurso extraordinário desprovido, com a fixação da
seguinte tese (TEMA 822): “Não existe direito público
subjetivo do aluno ou de sua família ao ensino domiciliar,
inexistente na legislação brasileira”.
(RE 888815, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Relator(a)
p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno,
julgado em 12-09-2018, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-055 DIVULG 20-03-
2019 PUBLIC 21-03-2019)
A Alternativa B está incorreta. O crime de "abandono de
incapaz" geralmente refere-se a situações em que
alguém deixa de prestar assistência a uma pessoa
incapaz que esteja sob sua responsabilidade. No
entanto, a situação não indica que Abadia tenha
abandonado fisicamente o filho.
A Alternativa C está incorreta. Similar à análise da
Alternativa B, o "abandono material" envolve a falta de
provisão adequada de recursos materiais para o
dependente. A situação não sugere que Abadia tenha
negligenciado as necessidades materiais de seu filho.
A Alternativa D está correta. Esta opção é mais relevante,
observado o enquadramento da conduta no tipo penal
previsto pelo Art. 246, do Código Penal, “Deixar, sem
justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês,
ou multa”.
A Alternativa E está incorreta. A conduta de Abadia não
parece se enquadrar em corrupção de menores, que
geralmente envolve a indução ou instigação do menor a
práticas ilegais ou imorais.
Questão 68
Cláudio, em sede de Processo Administrativo Fiscal
(PAF), está sendo investigado por sonegação tributária.
Ocorre que, em razão da alta demanda de processos e de
uma série de mudanças estruturais pelas quais passou o
órgão público, o processo, instaurado em 22 de janeiro
de 2014, somente teve seu julgamento concluído em 21
de dezembro de 2023, com decisão publicada em 04 de
janeiro de 2024, no Diário Oficial, com o lançamento
definitivo do tributo. Sabendo que as declarações foram
prestadas à administração fazendária em 26 de junho de
2013, é correto afirmar que houve a consumação do
crime previsto no Art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90:
A) Em 26 de junho de 2013, com extinção da punibilidade
pela prescrição.
B) Em 22 de janeiro de 2014, com extinção da
punibilidade pela prescrição.
C) Em 22 de janeiro de 2014, não tendo, ainda, sido
verificada a prescrição.
D) E) Em 4 de janeiro de 2024, iniciando-se o decurso do
prazo prescricional em 26 de junho de 2013.
E) Em 4 de janeiro de 2024, iniciando-se o decurso do
prazo prescricional com o lançamento definitivo do
crédito tributário.
Comentários
No caso em tela, aplica-se a Súmula Vinculante nº 24,
“Não se tipifica crime material contra a ordem tributária,
previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes
do lançamento definitivo do tributo”. Portanto, uma vez
que o lançamento definitivo do tributo se deu em 04 de
janeiro de 2024, temos que esta é a data da consumação
do crime previsto pelo Art. 1º, I, da Lei nº 8.137/1990. A
Alternativa E está correta.
DIREITOS HUMANOS
Professor Ricardo Torques
Questão 69
Em determinado processo judicial criminal, a parte ré
fora representada pela Defensoria Pública, uma vez que
se recusou a contratar advogado privado, mesmo
possuindo meios para tanto. Durante o curso do
processo, diversos erros crassos foram constatados na
atuação da Defensoria Pública que prejudicaram, de
sobremaneira, o exercício do contraditório e da ampla
defesa, resultando numa condenação de 25 (vinte e
cinco) anos de prisão. Segundo alegou a ré e restou
devidamente comprovado, o Defensor Público nomeado
deixou de arguir diversas nulidades decorrentes de erros
do judiciário, deixando até mesmo de recorrer, por
perda do prazo. Considerando a jurisprudência da Corte
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) e,
especificamente o caso Ruano Torres e outros vs. El
Salvador, é correto afirmar que:
a) A CorteIDH tem entendimento de que a Defensoria
Pública só deve atuar em processos criminais no caso em
que o réu não possuir meios de arcar com os custos de
advogado privado.
b) A CorteIDH entendeu que não cabe impor
responsabilidade internacional do Estado no caso de
atuação deficiente pela Defensoria Pública, ainda que
em processo criminal.
c) A falta da interposição de recursos em detrimento do
direito do acusado não pode embasar a responsabilidade
internacional do Estado pela deficiência na atuação da
Defensoria Pública.
d) O Estado sempre pode ser responsabilizado pelas
falhas da Defensoria Pública.
e) A CorteIDH entendeu competir ao judiciário exercer
um controle a respeito da atuação da Defensoria Pública.
Comentários
Gabarito: E
A alternativa A está ERRADA. Ao contrário. A Defesa
Técnica é irrenunciável em se tratando de processo
criminal. Esse foi o entendimento da CorteIDH no
referido caso. Sobre o tema, as lições da doutrina:
Enfrentando o tema a partir da CADH, a Corte
Interamericana decidiu que, quando o processo for de
natureza penal, em que a defesa técnica é irrenunciável,
"(...) a exigência de contar com um advogado que exerça
a defesa técnica para confrontar adequadamente o
processo implica que a defesa proporcionada pelo
Estado não se limite unicamente àqueles casos de falta
de recursos" (Mérito, reparações e custas, § 155).
(PAIVA, Caio; HEEMANN, Thimotie Aragon.
Jurisprudência internacional de direitos humanos:
revista, atualizada e ampliada. 3. ed. Cei, 2020)
A alternativa B está ERRADA. A CorteIDH decidiu em
sentido diametralmente oposto ao afirmado na questão.
Vejamos:
A Corte IDH enfrentou no julgamento do Caso Ruano
Torres um tem a m uito interessante, que já havíam os
com entado brevem ente nas considerações sobre o
Caso Chaparro Alvarez e Lapo íniguez: a possibilidade de
o Estado ser intemacionalmente responsabilizado pela
atuação deficiente da sua instituição Defensoria Pública.
A Corte Interamericana inicia esclarecendo que nem
sempre o Estado pode ser responsabilizado pelas falhas
da Defensoria Pública, em especial quando a instituição
gozar de autonomia e seus membros possuírem
independência funcional (Mérito, reparações e custas, §
163). A Corte IDH prossegue dizendo - ainda sobre o que
não implica em responsabilidade do Estado - que "(...)
uma discrepância não substancial com a estratégia de
defesa ou com o resultado de um processo não será
suficiente para gerar implicações quanto ao direito de
defesa (...)" (Mérito, reparações e custas, § 166). Na
sequência, em importante diálogo de cortes com
tribunais nacionais de países da região, a Corte
Interamericana indicou - em rol não exaustivo - algumas
hipóteses em que pode ocorrer a violação do direito de
defesa: a) não desenvolver uma mínima atividade
probatória; b) inatividade argumentativa em favor dos
interesses do acusado; c) carência de conhecimento
técnico-jurídico do processo penal; d) falta de
interposição de recursos em detrimento dos direitos do
acusado; e) indevida fundamentação dos recursos
interpostos; e f) abandono da defesa (Mérito,
reparações e custas, § 166). (PAIVA, Caio; HEEMANN,
Thimotie Aragon. Jurisprudência internacional de
direitos humanos: revista, atualizada e ampliada. 3. ed.
Cei, 2020)
A alternativa C está ERRADA. A CorteIDH decidiu em
sentido diametralmente oposto ao afirmado na questão.
Vejamos:
Na sequência, em importante diálogo de cortes com
tribunais nacionais de países da região, a Corte
Interamericana indicou - em rol não exaustivo - algumas
hipóteses em que pode ocorrer a violação do direito de
defesa: a) não desenvolver uma mínima atividade
probatória; b) inatividade argumentativa em favor dos
interesses do acusado; c) carência de conhecimento
técnico-jurídico do processo penal; d) falta de
interposição de recursos em detrimento dos direitos do
acusado; e) indevida fundamentação dos recursos
interpostos; e f) abandono da defesa (Mérito,
reparações e custas, § 166). (PAIVA, Caio; HEEMANN,
Thimotie Aragon. Jurisprudência internacional de
direitos humanos: revista, atualizada e ampliada. 3. ed.
Cei, 2020)
A alternativa D está ERRADA. NEM sempre o Estado
poderá ser responsabilizado. Vejamos as lições da
doutrina:
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
A Corte IDH enfrentou no julgamento do Caso Ruano
Torres um tem a m uito interessante, que já haviam os
com entado brevem ente nas considerações sobre o
Caso Chaparro Alvarez e Lapo íniguez: a possibilidade de
o Estado ser internacionalmente responsabilizado pela
atuação deficiente da sua instituição Defensoria Pública.
A Corte Interamericana inicia esclarecendo que nem
sempre o Estado pode ser responsabilizado pelas falhas
da Defensoria Pública, em especial quando a instituição
gozar de autonomia e seus membros possuírem
independência funcional (Mérito, reparações e custas, §
163). A Corte IDH prossegue dizendo - ainda sobre o que
não implica em responsabilidade do Estado - que "(...)
uma discrepância não substancial com a estratégia de
defesa ou com o resultado de um processo não será
suficiente para gerar implicações quanto ao direito de
defesa (...)" (PAIVA, Caio; HEEMANN, Thimotie Aragon.
Jurisprudência internacional de direitos humanos:
revista, atualizada e ampliada. 3. ed. Cei, 2020)
A alternativa E está CERTA. Trata-se do entendimento da
CorteIDH no referido caso:
Finalmente, considerando que o membro da Defensoria
Pública que atuou em favor do senhor Ruano Torres,
entre outras falhas e omissões, não requereu a nulidade
de uma diligência defeituosa de reconhecimento de
pessoas e também não interpôs recurso contra a
condenação, a Corte IDH entendeu que foi violado o seu
direito de defesa (Mérito, reparações e custas, § 167),
conclusão que a Corte Interamericana alcançou tendo
em vista, ainda, que competia ao Poder Judiciário
exercer um controle a respeito da atuação da Defensoria
Pública, pois é sua função assegurar que "(...) o direito à
defesa não se tome ilusório através de uma assistência
jurídica ineficaz" (Mérito, reparações e custas, § 168).
Assim, para efeito de síntese, podemos dizer que a Corte
Interamericana considera possível que o Estado seja
responsabilizado pela atuação deficiente da Defensoria
Pública, desde que as falhas ou as omissões sejam graves
o bastante para não serem confundidas com mera
discrepância de estratégia - o que estaria dentro do
âmbito da autonomia funcional da instituição e da
independência funcional dos membros -, sendo que a
ausência de controle pelo Poder Judiciário pode deixar
ainda mais evidente a responsabilidade estatal. (PAIVA,
Caio; HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
internacional de direitos humanos: revista, atualizada e
ampliada. 3. ed. Cei, 2020)
Questão 70
O Ministério Público ajuizou Ação Civil Pública em
desfavor da Madeireira Quebra Tudo S/A, imputando-lhe
diversas condutas lesivas ao meio ambiente e, também,
violação ao direito das comunidades tradicionais
(população indígena) que ocupavam o local que fora
desmatado pela requerida para instalar a sua sede e
fabricar os seus produtos. A Madereira, em sua defesa,
arguiu que todo o seu atuar foi respaldado pelas
autoridades locais, obtendo as licenças necessárias e
salientando, inclusive, ter sido realizado e respeitado
Estudo de Impacto Ambiental para tanto, além da
legislação local que permitia a atividade. Considerando
as normas internacionais aplicáveis e o entendimento da
Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), é
incorreto afirmar que:
a) Os governos deverão zelar para que, sempre que for
possível, sejam efetuados estudos junto aos povos
interessados com o objetivo de se avaliar a incidência
social, espiritual e cultural e sobre o meio ambiente que
as atividades de desenvolvimento, previstas, possam ter
sobre esses povos.
b) Deve ser assegurado o direito dos povos indígenas de
ser informado em todos os empreendimentos em seu
território.
c) O Pacto de San José da Costa rica prevê e detalha,
expressamente, a necessidade de proteção ao meio
ambiente como corolário dos direitos humanos de
terceira dimensão.
d) Caso a legislação local viole, ainda que de forma
indireta, os valores ambientais previstos em tratados
internacionais, é possível que o juízo aplique a
denominada “inconvencionalidade verde”.
e) A defesa do meio ambiente, no âmbito dos sistemas
regionais de proteção de direitos humanos, vem sendo
denominado de “greening” ou “esverdeamento dos
direitos humanos”.
Comentários
Gabarito: C
Atente-se, uma vez que era necessário assinalar a
alternativa incorreta.
A alternativa A está CERTA. Trata-se do disposto na
Convenção 169 da OIT:
Convenção 169 da OIT. Artigo 7º. (...) 3. Os governos
deverão zelar para que, sempre que for possível, sejam
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
efetuados estudos junto aos povos interessados com o
objetivo de se avaliar a incidência social, espiritual e
cultural e sobre o meio ambiente que as atividades de
desenvolvimento, previstas, possam ter sobre esses
povos. Os resultados desses estudos deverão ser
considerados como critérios fundamentais para a
execução das atividades mencionadas.
A alternativa B está CERTA. Esse foi o entendimento da
CorteIDH no Caso Povos Kalifia e Lokono vs. Suriname.
Nesse sentido:
A Corte IDH, ao se deparar com a necessidade de avalizar
ou não a figura dos estudos de impacto ambiental (EIA),
afirmou que "Os estudos de impacto ambiental devem
respeitar as tradições e a cultura dos povos indígenas e
que um dos objetivos da exigência de tais estudos é
garantir o direito dos povos indígenas de ser informado
em todos os empreendimentos em seu território.
Portanto, a obrigação do Estado para supervisionar esses
estudos coincide com o seu dever de garantir a efetiva
participação de pessoas indígenas" (Mérito, reparações
e custas, § 215). (PAIVA, Caio; HEEMANN, Thimotie
Aragon. Jurisprudência internacional de direitos
humanos: revista, atualizada e ampliada. 3. ed. Cei,
2020)
A alternativa C está ERRADA. O Pacto de San José da
Costa Rica previu apenas direitos de primeira dimensão,
ou seja, direitos civis e políticos. Em relação aos direitos
de segunda dimensão – direitos sociais, econômicos e
culturais – há menção no artigo 26, dispondo que os
Estados devem se comprometer a adotar providências,
mediante cooperação internacional, tendo em vista a
necessidade de atingir progressivamente a efetividade
dos direitos decorrentes de normas econômicas, sociais
de educação, ciência e cultura.
#E como tem se dado a proteção do meio ambiente no
âmbito da corte interamericana de direitos humanos
com base no Pacto de San José da Costa Rica?
Trata-se de tema relevante. Segundo Mazzuoli:
“No que tange, v.g., à proteção do meio ambiente no
sistema interamericano, a técnica utilizada tem
consistido em requerer proteção a um direito da
primeira categoria no qual se “embute”, pela via reflexa,
a proteção ambiental, ao que se tem nominado de
greening ou “esverdeamento” do sistema
interamericano.”. (MAZZUOLI, Valerio de O. Curso de
Direitos Humanos. Grupo GEN, 2021)
De todo modo a alternativa está ERRADA, uma vez que
não há detalhamento do direito ao meio ambiente no
âmbito do Pacto de San José da Costa Rica.
A alternativa D está CERTA. Segundo a doutrina de Caio
Paiva e Thimotie Aragon Heeman:
“A inconvencionalidade verde consiste, a nosso ver, na
declaração exarada por uma autoridade pública que, no
exercício do controle de convencionalidade, reconhece
que determinado ato normativo interno viola, ainda que
de forma indireta, valores ambientais previstos nos
tratados internacionais de direitos humanos que
compõem o bloco de convencionalidade”. (Mérito,
reparações e custas, § 215). (PAIVA, Caio; HEEMANN,
Thimotie Aragon. Jurisprudência internacional de
direitos humanos: revista, atualizada e ampliada. 3. ed.
Cei, 2020)
A alternativa E está CERTA. Conforme colacionado acima,
vejamos novamente as lições de Mazzuoli:
“No que tange, v.g., à proteção do meio ambiente no
sistema interamericano, a técnica utilizada tem
consistido em requerer proteção a um direito da
primeira categoria no qual se “embute”, pela via reflexa,
a proteção ambiental, ao que se tem nominado de
greening ou “esverdeamento” do sistema
interamericano.”. (MAZZUOLI, Valerio de O. Curso de
Direitos Humanos. Grupo GEN, 2021).
Questão 71
A resolução 287/2019 do Conselho Nacional de Justiça
estabelece procedimentos ao tratamento das pessoas
indígenas acusadas rés, condenadas ou privadas de
liberdade, e dá diretrizes para assegurar os direitos dessa
população no âmbito criminal do Poder Judiciário. Em
determinado processo judicial criminal em trâmite,
figura como réu pessoa indígena acusada de crime de
homicídio. Segundo a supracitada resolução, é correto
afirmar que:
a) O reconhecimento da pessoa como indígena se dará
por meio da análise e documentação emitida pela FUNAI.
b) A identificação da pessoa como indígena, bem como
informações acerca de sua etnia e língua por ela falada
não devem constar nos atos processuais, buscando
evitar a criação de estereótipos e a disseminação de
preconceito.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
c) Ao receber denúncia ou queixa em desfavor de pessoa
indígena, a autoridade judicial deverá determinar,
sempre que possível, de ofício ou a requerimento das
partes, a realização de perícia antropológica, que
fornecerá subsídios para o estabelecimento da
responsabilidade da pessoa acusada.
d) Para fins de determinação de prisão domiciliar a
pessoa indígena, considerar-se-á como domicílio o
território ou circunscrição geográfica de comunidade
indígena, quando compatível e mediante consulta
prévia.
e) Os tribunais poderão manter cadastro de intérpretes
especializados nas línguas faladas pelas etnias
características da região, bem como de peritos
antropólogos.
Comentários
Gabarito: D
A alternativa A está ERRADA. O reconhecimento se dá
mediante autodeclaração.
Res. 287/2019. Art. 3º O reconhecimento da pessoa
como indígena se dará por meio da autodeclaração, que
poderá ser manifestada em qualquer fase do processo
criminal ou na audiência de custódia.
A alternativa B está ERRADA. Devem constar no registro
de TODOS os atos processuais.
Res. 287/2019. Art. 4º A identificação da pessoa como
indígena, bem como informações acerca de sua etnia e
língua por ela falada, deverão constar no registro de
todos os atos processuais.
A alternativa C está ERRADA. A autoridade “PODERÁ” e
não “DEVERÁ”, como trouxe a assertiva.
Res. 287/2019 Art. 6º Ao receber denúncia ou queixa em
desfavor de pessoa indígena, a autoridade judicial
poderá determinar, sempre que possível, de ofício ou a
requerimento das partes, a realização de perícia
antropológica, que fornecerá subsídios para o
estabelecimento da responsabilidade da pessoa
acusada, e deverá conter, no mínimo:
I - a qualificação, a etnia e a língua falada pela pessoa
acusada;
II - as circunstâncias pessoais, culturais, sociais e
econômicas da pessoa acusada;
III - os usos, os costumes e as tradições da comunidade
indígena a qual se vincula;
IV - o entendimento da comunidade indígena em relação
à conduta típica imputada, bem como os mecanismos
próprios de julgamento e punição adotados para seus
membros; e
V - outras informações que julgar pertinentes para a
elucidação dos fatos. Parágrafo único. O laudo pericial
será elaborado por antropólogo, cientista social ou outro
profissional designado pelo juízo com conhecimento
específico na temática.
A alternativa D está CERTA. Trata-se do disposto na
referida resolução.
Res. 287/2019. Art. 11. Para fins de determinação de
prisão domiciliar a pessoa indígena, considerar-se-á
como domicílio o território ou circunscrição geográfica
de comunidade indígena, quando compatível e mediante
consulta prévia.
A alternativa E está ERRADA. Os tribunais “DEVERÃO” e
não “PODERÃO”, como trouxe a assertiva.
Res. 287/2019. Art. 15. Os tribunais deverão manter
cadastro de intérpretes especializados nas línguas
faladas pelas etnias características da região, bem como
de peritos antropólogos.
Questão 72
Considerando a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal a respeito da temática dos direitos humanos, é
incorreto afirmar que:
a) Sob pena de violação ao direito de autodeterminação,
é ilegítima a utilização, além da autodeclaração, de
critérios subsidiários de heteroidentificação.
b) A omissão legislativa em tipificar a discriminação por
orientação sexual ou identidade de gênero ofende um
sentido mínimo de justiça ao sinalizar que o sofrimento
e a violência dirigida a pessoa gay, lésbica, bissexual,
transgênera ou intersex é tolerada, como se uma pessoa
não fosse digna de viver em igualdade.
c) A restrição à doação de sangue por homossexuais
afronta a sua autonomia privada, pois se impede que
elas exerçam plenamente suas escolhas de vida, com
quem se relacionar, com que frequência, ainda que de
maneira sexualmente segura e saudável.
d) Por ser espécie do gênero racismo, o crime de injúria
racial é imprescritível.
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
e) ‘Legítima defesa da honra’ não é, tecnicamente,
legítima defesa. A traição se encontra inserida no
contexto das relações amorosas. Seu desvalor reside no
âmbito ético e moral, não havendo direito subjetivo de
contra ela agir com violência.
Comentários
Gabarito: A
A alternativa A está ERRADA. A instituição de critérios
subsidiários é LEGÍTIMA, segundo decidiu o STF na ADC
41:
STF: 2. Ademais, a fim de garantir a efetividade da
política em questão, também é constitucional a
instituição de mecanismos para evitar fraudes pelos
candidatos. É legítima a utilização, além da
autodeclaração, de critérios subsidiários de
heteroidentificação (e.g., a exigência de autodeclaração
presencial perante a comissão do concurso), desde que
respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o
contraditório e a ampla defesa.
A alternativa B está CERTA. Trata-se do entendimento do
STF no âmbito do MANDADO DE INJUNÇÃO 4.733
DISTRITO FEDERAL.
STF: “DIREITO CONSTITUCIONAL. MANDADO DE
INJUNÇÃO. DEVER DO ESTADO DE CRIMINALIZAR AS
CONDUTAS ATENTATÓRIAS DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS. HOMOTRANSFOBIA. DISCRIMINAÇÃO
INCONSTITUCIONAL. OMISSÃO DO CONGRESSO
NACIONAL. MANDADO DE INJUNÇÃO JULGADO
PROCEDENTE. 1. É atentatório ao Estado Democrático de
Direito qualquer tipo de discriminação, inclusive a que se
fundamenta na orientação sexual das pessoas ou em sua
identidade de gênero. 2. O direito à igualdade sem
discriminações abrange a identidade ou expressão de
gênero e a orientação sexual. 3. À luz dos tratados
internacionais de que a República Federativa do Brasil é
parte, dessume-se da leitura do texto da Carta de 1988
um mandado constitucional de criminalização no que
pertine a toda e qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais. 4. A omissão
legislativa em tipificar a discriminação por orientação
sexual ou identidade de gênero ofende um sentido
mínimo de justiça ao sinalizar que o sofrimento e a
violência dirigida a pessoa gay, lésbica, bissexual,
transgênera ou intersex é tolerada, como se uma pessoa
não fosse digna de viver em igualdade. A Constituição
não autoriza tolerar o sofrimento que a discriminação
impõe. 5. A discriminação por orientação sexual ou
identidade de gênero, tal como qualquer forma de
discriminação, é nefasta, porque retira das pessoas a
justa expectativa de que tenham igual valor. 6. Mandado
de injunção julgado procedente, para (i) reconhecer a
mora inconstitucional do Congresso Nacional e; (ii)
aplicar, até que o Congresso Nacional venha a legislar a
respeito, a Lei 7.716/89 a fim de estender a tipificação
prevista para os crimes resultantes de discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional à discriminação por orientação sexual ou
identidade de gênero (MI 4733, Relator: EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 13/06/2019, DJe-238 de 29-
09-2020).”
A alternativa C está CERTA. Trata-se do entendimento do
STF na ADI nº 5.543.
STF: A restrição à doação de sangue por homossexuais
afronta a sua autonomia privada, pois se impede que
elas exerçam plenamente suas escolhas de vida, com
quem se relacionar, com que frequência, ainda que de
maneira sexualmente segura e saudável; e a sua
autonomia pública, pois se veda a possibilidade de
auxiliarem àqueles que necessitam, por qualquer razão,
de transfusão de sangue.
A alternativa D está CERTA. Trata-se do entendimento do
STF no HC 154.248
STF: “HABEAS CORPUS. MATÉRIA CRIMINAL. INJÚRIA
RACIAL (ART. 140, § 3o, DO CÓDIGO PENAL). ESPÉCIE DO
GÊNERO RACISMO. IMPRESCRITIBILIDADE. DENEGAÇÃO
DA ORDEM. 1. Depreende-se das normas do texto
constitucional, de compromissos internacionais e de
julgados do Supremo Tribunal Federal o reconhecimento
objetivo do racismo estrutural como dado da realidade
brasileira ainda a ser superado por meio da soma de
esforços do Poder Público e de todo o conjunto da
sociedade. 2. O crime de injúria racial reúne todos os
elementos necessários à sua caracterização como uma
das espécies de racismo, seja diante da definição
constante do voto condutor do julgamento do HC
82.424/RS, seja diante do conceito de discriminação
racial previsto na Convenção Internacional Sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.
3. A simples distinção topológica entre os crimes
previstos na Lei 7.716/1989 e o art. 140, § 3o, do Código
Penal não tem o condão de fazer deste uma conduta
delituosa diversa do racismo, até porque o rol previsto
na legislação extravagante não é exaustivo. 4. Por ser
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
espécie do gênero racismo, o crime de injúria racial é
imprescritível. 5. Ordem de habeas corpus denegada.”
A alternativa E está CERTA. Trata-se do entendimento do
STF na ADPF nº 779 MC, tratando-se tema relevante para
a proteção dos direitos das mulheres.
STF: 1. ‘Legítima defesa da honra’ não é, tecnicamente,
legítima defesa. A traição se encontra inserida no
contexto das relações amorosas. Seu desvalor reside no
âmbito ético e moral, não havendo direito subjetivo de
contra ela agir com violência. Quem pratica feminicídio
ou usa de violência com a justificativa de reprimir um
adultério não está a se defender, mas a atacar uma
mulher de forma desproporcional, covarde e criminosa.
O adultério não configura uma agressão injusta, apta a
excluir a antijuridicidade de um fato típico, pelo que
qualquer ato violento perpetrado nesse contexto deve
estar sujeito à repressão do direito penal.
Questão 73
Um tratado internacional versando sobre direitos
humanos foi aprovado no Senado Federal em dois
turnos, obtendo, respectivamente, quatro quintos dos
votos dos respectivos membros. Na Câmara dos
Deputados, por sua vez, a aprovação também se deu dois
turnos, mas obtendo em cada um deles apenas três
quintos dos votos dos respectivos membros.
Devidamente aprovado, esse tratado terá status:
a) De emenda constitucional.
b) Supralegal.
c) De lei ordinária.
d) De lei complementar.
e) Supraconstitucional.
Comentários
Gabarito: A
Para responder a questão, necessário o conhecimento
do seguinte dispositivo da Constituição:
CRFB/88. Art. 5º. (...) § 3º Os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.
Percebe-se que, pelos fatos dados pela questão, todos os
requisitos foram preenchidos. Importante ressaltar que
o quórum de 3/5 é o mínimo, de modo que o referido
tratado terá status de emenda constitucional na forma
do artigo 5º §3º da CRFB/88.
Assim, correta a alternativa A.
Questão 74
A proteção da maternidade e da mulher já fora objeto de
diversas decisões do Supremo Tribunal Federal, o que
deve ser observado pelos juízes no âmbito de suas
atribuições. A respeito do tema, assinale a alternativa
incorreta.
a) A proteção contra a exposição da gestante e lactante
a atividades insalubres caracteriza-se como importante
direito social instrumental protetivo tanto da mulher
quanto da criança.
b) Em relação às atividades insalubres pelas gestantes, o
Supremo Tribunal Federal decidiu que a exigência de
atestado médico atestando a condição gravídica é
necessária para analisar as condições de cada caso, e
para, efetivamente, estabelecer o grau de risco para a
gestante e lactante.
c) A licença maternidade prevista na Constituição
abrange tanto a licença gestante quanto a licença
adotante, ambas asseguradas pelo prazo mínimo de 120
dias.
d) É inconstitucional a interpretação de que a
interrupção de gravidez de fetos anencéfalos é
equivalente às condutas penais relacionadas ao crime de
aborto.
e) É constitucional a remarcação do teste de aptidão
física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em
edital do concurso público.
Comentários
Gabarito: B
A alternativa A está CERTA. Trata-se do entendimento do
STF no âmbito da ADI 5938/DF:
STF: 3. A proteção contra a exposição da gestante e
lactante a atividades insalubres caracteriza-se como
importante direito social instrumental protetivo tanto da
mulher quanto da criança, tratando-se de normas de
salvaguarda dos direitos sociais da mulher e de
efetivação de integral proteção ao recém-nascido,
possibilitando seu pleno desenvolvimento, de maneira
 4º Simulado ENAMA – 09/03/2024
harmônica, segura e sem riscos decorrentes da FORMAÇÃO HUMANÍSTICA
exposição a ambiente insalubre (CF, art. 227). Professor Jean Vilbert
A alternativa B está ERRADA. Ainda na ADI 5938, o STF Questão 75
decidiu que:
Assim como o Direito em si, a Filosofia do Direito está
STF: A proteção à maternidade e a integral proteção à sempre em movimento: diferentes épocas transparecem
criança são direitos irrenunciáveis e não podem ser diferentes ethos sobre o objeto jusfilosófico. O juiz, um
afastados pelo desconhecimento, impossibilidade ou a ser do seu tempo e local, deve saber se localizar na
própria negligência da gestante ou lactante em evolução do pensamento Ocidental. Com relação à
apresentar um atestado médico, sob pena de prejudicá- variância temporal da zetética, assinale a opção correta.
la e prejudicar o recém-nascido.
a) A filosofia do período helênico tem conotação
A alternativa C está CERTA. Trata-se do entendimento do moralista e deontológica, o que até hoje influencia a
STF no âmbito do RE nº 778.889 normatividade do Direito.
STF: 1. A licença maternidade prevista no artigo 7º, XVIII, b) A era contemporânea, as teorias jusfilosóficas são
da Constituição abrange tanto a licença gestante quanto caracterizadas mais pelo aspecto ontológico do que
a licença adotante, ambas asseguradas pelo prazo ideológico.
mínimo de 120 dias. Interpretação sistemática da
c) Na idade média, o pensamento jusfilósofo foca nas
Constituição à luz da dignidade da pessoa humana, da
relações entre o homem e o Estado, a despeito da
igualdade entre filhos biológicos e adotados, da doutrina
influência do Direito Canônico.
da proteção integral, do princípio da prioridade e do
interesse superior do menor. d) Na antiguidade, o realismo prevalece sobre visões
idealistas, de modo que a lógica da Justiça como meio
A alternativa D está CERTA. Trata-se do decidido pelo STF
termo possa prevalecer.
no âmbito da ADPF 54.
e) A modernidade é responsável por avivar um
STF: “ESTADO – LAICIDADE. O BRASIL É UMA REPÚBLICA
movimento de introspecção, com o homem se voltando
LAICA, SURGINDO ABSOLUTAMENTE NEUTRO QUANTO
às discussões sacras e o pensamento jurídico
ÀS RELIGIÕES. CONSIDERAÇÕES. FETO ANENCÉFALO –
assentando-se na base canônica.
INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE
SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE – Comentários
AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS – Comentário Longo:
CRIME – INEXISTÊNCIA. MOSTRA-SE INCONSTITUCIONAL Uma imagem vale mais do que mil palavras. E uma tabela
INTERPRETAÇÃO DE A INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ DE (cheia de palavras) vale por duas mil palavras!
FETO ANENCÉFALO SER CONDUTA TIPIFICADA NOS
ARTIGOS 124, 126 E 128, INCISOS I E II, DO CÓDIGO
PENAL.
A alternativa D está CERTA. Trata-se do decidido pelo STF
no âmbito do RE nº 1.058.333:
STF (TESE): “É constitucional a remarcação do teste de
aptidão física de candidata que esteja grávida à época de
sua realização, independentemente da previsão
expressa em edital do concurso público.

Com base nesse sumário, podemos reagir às

alternativas:
a) BINGO! A filosofia grega de Sócrates, Platão, e
Aristóteles busca impor a moral, por isso deontológica —
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normativa, derivada dos deveres. Ela vê nas virtudes o
caminho para a boa vida (eudamonia), ou vida virtuosa.
Claro que isso ainda está presente nos ordenamentos
jurídicos — a moralidade ainda impregna a
normatividade jurídica.
b) Negativo, a marca das discussões no modelo
contemporâneo é o forte aspecto ideológico. Mesmo
doutrinas que pretendem ser neutras acabam
apresentando uma posição dentro espectro político.
c) Negativo. A atenção é entre as relações entre a Igreja
e o Estado. Cabe ao homem obedecer à Igreja. Na
verdade, o Estado também deve obedecer à Igreja! O
Direito Canônico se tornou importante elemento de
centralidade após a queda do Império Romano, mas a
pretensão de autores como Agostinho e Aquino era que
esse direito sacro fosse seguido à risca pelos governos
civis...
d) O realismo não estava nem perto de se impor na
antiguidade. Vale lembrar que Platão apresenta
literalmente uma teoria das ideias — ideonômica! A ideia
da justiça como meio termo é Aristotélica, mas ela não
implica o realismo pretendido.
e) Ao contrário: a modernidade trouxe o renascimento,
iluminismo, racionalismo, humanismo... ou seja, o
homem se volta para a humanidade e racionalidade a
resposta e não para o sacro, que era a marca da
medievalidade.
Comentário Curto:
A filosofia grega (helênica), é basicamente um apelo à
moral e aos deveres (deontológica).
Gabarito: A
Questão 76
Ao julgar um caso prático, a juíza de direito está a
analisar os preceitos clássicos do Direito. A decisão da
juíza estaria corretamente fundamentada se anotasse
que:
a) Viver honestamente é um modelo ético clássico, mas
não tem força jurídico.
b) Dentro da máxima “intento de dar a cada um o que
lhe pertence”, a intenção é fundamental porque
formaliza o elemento volitivo do tipo, bastante saliente
nos tipos penais.
c) Os princípios clássicos do direito foram
exaustivamente incorporados em regras no sistema
jurídico.
d) Não ofender ninguém tem conotação que exprime um
mandamento passivo.
e) A ideia de suum cuique tribuere encontra-se
ultrapassada diante da noção de igualdade material.
Comentários
Comentário Longo:
Os preceitos clássicos do direito são:
• Honeste Vivere: viver honestamente — pretensão
negativa e ética como princípio de ordem social e
condição de existência em sociedade
• Alterum Non Laedere: não ofender ninguém —
generaliza o mandamento de justiça sob os enfoques de
se viver de acordo com a reta razão e com os bons
costumes
• Suum Cuique Tribuere: dar a cada um o que lhe
pertence — associa as ideias de reparação e distribuição
das benesses sociais conforme o direito.
Perceba que eles são princípios gerais do direito
fortemente ligados à MORAL. Certo. Vamos então às
opções:
a) Errado. Como princípio geral do direito, as normas em
geral são influenciadas por tal preceito. Destarte, muito
difícil dizer que a máxima não tem força jurídica.
b) Exato. A intenção de agir bem e de dar o que é de cada
um tem valor intrínseco. Ademais, podemos extrair
desse conceito a ideia de elemento subjetivo do tipo, o
que é evidente no dolo ou culpa dos tipos penais.
c) Bah Pegou pesado. Os princípios clássicos até são
incorporados em NORMAS (princípios), mas não em
REGRAS — eles são muito gerais para tanto. Ademais,
exaustivamente?? Não há como saber se realmente
incorporamos a todos.
d) Claro que não. Não ofender é um mandamento de
ação também, portanto ativo: quando agir, aja de modo
a não lesar outros...
e) Nah! Apesar de haver contestação de que dar a cada
um o que é seu entrega miséria ao miserável, as noções
de (re)distribuição e correção ainda se baseiam em
alguma noção de merecimento (fair share).
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Comentário Curto:
A firme intenção de dar a cada um o que é seu (famoso
Suum Cuique Tribuere) é o que hoje chamamos de
elementos subjetivo ou volitivo do tipo.
Gabarito: B
Questão 77
Os modelos de justiça desenvolvidos na modernidade
ainda têm enorme impacto na prática jurídica. Com
relação às ideias propostas pelos filósofos Jeremy
Bentham e John Stuart Mill, é INCORRETO afirmar:
a) Bentham desenvolveu suas ideias com base no
modelo hedonista.
b) Ambos os pensadores pertencem ao mesmo
movimento jusfilosófico.
c) Bentham intentou humanizar o pensamento proposto
por Mill.
d) Mill defendia que a análise dos direitos individuais
deveria se dar sob o aspecto consequencialista.
e) No modelo clássico proposto por Bentham, as
decisões públicas são tomadas de modo praticamente
aritmético.
Comentários
Comentário Longo:
O utilitarismo moderno propõe que TODAS as decisões
(individuais ou sociais) devem ser reduzidas a uma única
medida: é bom (justo) aquilo que produz o aumento do
FELICIDADE e ruim (injusto) aquilo que reduz o prazer e
aumenta a DOR
Com isso, conseguimos responder à questão:
a) Exato. Bentham formulou a lógica utilitarista com base
no hedonismo (maximização do prazer), que remota ao
pensamento dos epicuristas.
b) Com certeza! Ambos são ícones do utilitarismo.
c) De cabeça para baixo: Mill buscou humanizar o
pensamento proposto por Bentham.
d) Sim. Mesmo a liberdade poderia, segundo Mill, ser
vista sob a ótica do UTILITARISMO (maior bem para o
maior número = maximização do bem-estar). Bastava
que o cálculo de bem-estar se desse com vistas ao longo
prazo.
e) Sim. É tudo uma questão de calcular ações que
aumentam o bem-estar.
Comentário Curto:
Mill buscou suavizar (para salvar) a teoria utilitarista
proposta por Bentham, dotando-a de um caráter mais
humano (atenta aos direitos individuais) e menos
aritmético.
Gabarito: C
Questão 78
Immanuel Kant é um dos mais importantes pensadores
da modernidade, com imenso impacto no pensamento
jurídico. Imagine a seguinte situação: Geremias afirma
que Gertrudes não pode entrar no seu terreno de forma
desautorizada, mesmo que para buscar a bola das
crianças que lá foi parar. Aliás, a bola atingiu flores no
jardim, que foram danificadas, o que é inadmissível
perante o Direito. O argumento de Geremias encontraria
eco na seguindo lógica kantiana:
a) O direito é o conjunto das condições por meio das
quais o arbítrio de um pode estar de acordo com o
arbítrio de outro.
b) O direito há de se voltar à ideia de proteção material
das prerrogativas de modo uniforme, com o mínimo de
cláusulas de exceção, de forma a se assentar a igual
dignidade.
c) O respeito aos direitos dos demais seres pauta-se na
igualdade entre os seres vivos, todos possuidores de
idêntica dignidade, o que dá ensejo aos direitos da
natureza, inclusive plantas, modernamente
constitucionalizados.
d) Ajustiça como decorrência de ações, deve ser vista sob
uma ótica pragmatista.
e) O conceito de liberdade é dado pela possibilidade de
fazer que se quiser, pois há de ser tudo da lei.
Comentários
Comentário Longo:
Para Kant, somente as ações que puderem ser
universalizadas podem ser consideradas boas, justas,
corretas: “Age exteriormente de modo que o livre uso de
teu arbítrio possa coexistir com a liberdade de todos”. O
pensamento kantiano sobre certo x errado NÃO se pauta
no resultado obtido com a ação (se positivo ou negativo)
e NEM se liga a elementos circunstanciais.
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Para saber se algo é bom ou ruim, certo ou errado, justo
ou injusto devemos UNIVERSALIZAR a ação e verificar se,
como resultado, não haveria lesão à liberdade alheia,
quer dizer, se todos poderiam agir daquele modo (como
se a ação fosse uma regra universal válida para todos).
Com isso nós conseguimos responder à questão:
a) Bingo! Decorrência do imperativo categórico: O
Direito estabelece ambiente de coexistência dos
arbítrios, limitando a liberdade individual para que
TODOS possam usufruir de IGUAL liberdade (convivência
das vontades segundo uma lei universal). O arbítrio de
Gertrudes de perseguir a bola das crianças não autoriza
a quebra do direito de Geremias cercas sua casa e
desautorizar a entrada de pessoas ali.
b) Nada! A maior CRÍTICA à perspectiva kantiana é que
ela é totalmente liberal: não há uma preocupação com
igualdade material, mas apenas com a igualdade formal.
c) Tudo o que há na natureza se conforma por suas leis
naturais (instintos inescapáveis), exceto o homem, que,
na condição de ser racional, pode se guiar leis que ele
próprio formula (pode fugir dos instintos). Por isso ele
possui uma DIGNIDADE especial. Logo, embora todos
nós (menos Kant) adoremos plantinhas, elas acabam não
tendo a mesma proteção na visão do filósofo...
d) Justiça é a liberdade de agir em conformidade com o
imperativo categórico. Veja que nada disso é
pragmatista, bem pelo contrário!
e) Thelema imortalizado por Raul Seixas! Mas para Kant,
Liberdade é igual a AUTONOMIA – para ser livre o
homem deve resistir aos desejos. Agir de acordo com a
própria razão é ser livre.
Comentário Curto:
Direito é o conjunto das condições por meio das quais o
arbítrio de um pode estar de acordo com o arbítrio de
outro, segundo a lei universal da liberdade.
Gabarito: A
Questão 79
Conforme artigo 1.566 do Código Civil, “São deveres de
ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca.”
Em uma discussão em divórcio, o réu (cônjuge varão)
alega que a monogamia é uma questão superada pelas
forças da história, havendo-se de se abandonar a origem
religiosa do instituto. Com relação e esse cenário,
assinale a opção INCORRETA:
a) A alegação do réu busca se amparar em uma
interpretação sociológica da norma.
b) O réu rejeita uma abordagem positivista do direito.
c) A intenção do réu é a declaração de uma lacuna
ontológica.
d) Afirmar que o instituto da fidelidade conjugal tem
“origem religiosa” é o mesmo que dizer que a fonte
formal de tal norma se encontra no âmbito religioso.
e) A pretensão do réu é fazer atualização da norma sem
mudança do suporte textual.
Comentários
Comentário Longo:
Questão interessante. Vamos direto às opções:
a) Correto. A interpretação sociológica é aquela que
busca avaliar as condicionantes sociais AO TEMPO de
aplicação da norma, exatamente o que pretende o
maridão.
b) Pode-se dizer isso sim. Um positivista não poderia
alegar a superação de apenas uma norma. As normas,
isoladamente, devem ser cumpridas sem que se possa
discutir a justiça de seu conteúdo.
c) Exatamente. Na impossibilidade de atuar mais
agressivamente, a alegar costume contra legem, o
maridão está a pretender ver declarada uma dissociação
entre texto normativo e realidade social, ou seja, lacuna
ontológica.
d) ERRADO! Afirmar que o instituto da fidelidade
conjugal tem “origem religiosa” é o mesmo que dizer que
a fonte MATERIAL de tal norma se encontra no âmbito
religioso. Fonte formal é a FORMA pela qual a noma se
expressa (lei, doutrina, jurisprudência, costume,
princípio geral do direito). Fonte material é a origem
política ou social do instituto, as fontes condicionantes
das normas.
e) Como a norma é o produto da interpretação, o que
não se confunde com o suporte textual, a intenção
atualizadora do maridão é que o texto normativo receba
uma nova leitura, para flexibilizar do dever de fidelidade.
Comentário Curto:
Fonte formal é o modo de expressão da norma. A fonte
material, essa sim, condiciona e determina política e
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socialmente o conteúdo das normas — a religião é um
exemplo de fonte material.
Gabarito: D
Questão 80
Considere as afirmações abaixo sobre o funcionamento
e a organização da magistratura no Brasil:
I. A classificação das comarcas em entrância inicial,
intermediária e final é determinada exclusivamente pela
população do município.
II. Na Justiça Federal, as unidades jurisdicionais são
divididas apenas em seções judiciárias e subseções
judiciárias, sem a classificação por entrâncias.
III. A promoção de juízes para uma entrância superior
pode ocorrer por antiguidade ou merecimento, sendo a
antiguidade um critério exclusivamente cronológico.
IV. A remoção é um mecanismo que permite ao juiz
mudar de comarca dentro da mesma entrância,
enquanto a permuta envolve a troca de posições entre
dois juízes, também dentro da mesma entrância.
V. O critério de desempate para promoção de
magistrados, conforme definido pelo STF, deve seguir a
lista de antiguidade na entrância anterior, não na
carreira.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas as afirmações II, III e V estão corretas.
b) Apenas as afirmações II, IV e V estão corretas.
c) Apenas as afirmações I, III e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmações III, IV e V estão corretas.
e) Todas as afirmações estão corretas.
Comentários
Comentário Longo:
Bastante conteúdo distribuído pelos itens. Vamos a eles!
Item I: Errado! As comarcas são classificadas em
entrância inicial, intermediária e final tanto com base na
população como também levando em conta o
desenvolvimento, a complexidade e outros critérios
fixados pelo legislador.
Item II: Iça! Na Justiça Federal, a organização é mais
simplificada, consistindo em seções judiciárias nas
capitais e subseções judiciárias no interior, não havendo
a classificação por entrâncias como na Justiça Estadual.
Item III: Nah! A antiguidade é um critério importante na
promoção de juízes, mas não é exclusivamente
cronológico, pois considera também o tempo de serviço
na entrância anterior em caso de empate, além da idade
biológica como critério final de desempate.
Item IV. Precisamente! A remoção permite ao juiz mudar
de comarca dentro da mesma entrância por razões
pessoais ou de interesse do serviço, enquanto a permuta
é a troca de comarcas entre dois juízes, visando atender
ao interesse público e às necessidades dos magistrados.
Item V: Mandou bem! O Supremo Tribunal Federal
estabeleceu que, para fins de desempate na promoção
de magistrados, deve-se considerar a lista de
antiguidade na entrância anterior, não na carreira,
privilegiando o critério mais alinhado à organização
constitucional da justiça dos estados em entrâncias. A
definição anulou decisão do CNJ e manteve
entendimento do TJ-SP acerca do tema. O Ministro
Relator, Luis Roberto Barroso, disse prestigiar-se o
“critério mais consentâneo com a divisão constitucional
da justiça dos estados em entrâncias”. Interpretando o
artigo 80 da LOMAN, ele referiu que “não pode haver
uma antiguidade como critério para promoção (na
entrância anterior) e, após sua realização, outra
antiguidade (geral) como critério de desempate na nova
entrância” (AO 1.789, j. 10/10/2018).
Comentário Curto:
As afirmações II, IV e V estão corretas: A justiça federal
se organize com seções e subseções judiciárias; remoção
e permuta são hipóteses de deslocamento horizontal na
carreira – dentro da mesma entrância; e para fins de
desempate na promoção de magistrados, deve-se
considerar a lista de antiguidade na entrância anterior,
não na carreira.
Gabarito: B
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