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O cônjuge pode opor embargos de terceiro quando a penhora dos bens vai
atingir o patrimônio comum do casal. O cônjuge/companheiro pode opor embargos
de terceiro para livrar a parte que lhe cabe. Essa hipótese de embargos de terceiro
vem sendo utilizada também para que o cônjuge tente liberar o bem de família e
não só a meação.
Isso é muito simples porque quem vai ser réu no processo de embargos de
terceiro vai ser o autor da ação onde ordenada a constrição. Você tem que tomar
cuidado para não falar que é o exequente porque os embargos de terceiro
alcançam várias hipóteses de constrição e não somente a execução. Caso eu seja o
exequente numa execução e você seja o réu e eu requeiro a penhora do seu carro,
quando o terceiro opuser os embargos de terceiro vai ser contra mim e não contra
você que é o réu da execução. No mesmo sentido, se eu sou autor de uma
reintegração de posse e eu reintegro um carro em meu poder e um terceiro se diz
dono desse carro, o réu dos embargos de terceiro sou eu porque eu sou o autor da
ação onde foi ordenada a constrição.
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específico, o executado foi quem deu causa à penhora. Por quê? Porque ele falou:
“penhora o carro.” Consequentemente, nesses casos, você tem que admitir uma
hipótese de litisconsórcio em que, ao mesmo tempo figurem exequente e
executado como réus nos embargos de terceiro. Só se ele indicar. Se não indicar,
fica só o autor da ação principal.
Aqui temos que fazer uma observação porque os prazos são distintos. O art.
1.048 traz uma regra que pode ser bipartida.
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6. PROCEDIMENTO
Como todo processo, começa com uma petição inicial com previsão no art.
1.050, do CPC, e merece alguma atenção. Primeiro porque obedece a todos os
requisitos dos arts. 282 e 283 (é uma inicial como qualquer outra).
a) Rol de Testemunhas
Sob pena de preclusão. Se você não arrolar aqui, você não pode querer ouvir
depois. Preclui o direito de ouvir as testemunhas. Essa é uma posição
extremamente formalista. Eu, como magistrado, me recuso a não deixar que o cara
ouça a testemunha só porque ele não arrolou na petição inicial. Mas é uma postura
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minha. Você não vai encontrar esse tipo de postura no Judiciário brasileiro que
adota a preclusão extrema (não arrolou aqui, dançou).
b) Valor da Causa
A segunda observação sobre a petição inicial e que você deve estar atento, é
a questão do valor da causa. Tem se entendido que o valor da causa é o valor do
bem constrito. Ou seja, do bem que se pretende liberar. É o valor do bem que se
pretende liberar. Entretanto, se o valor do bem for superior ao do processo de
execução, o valor da causa será o do processo de execução. A regra é que o valor
da causa seja o do bem que quer ser liberado. Mas se esse valor for maior do que o
valor da execução, vale o valor da execução.
Vamos pensar num exemplo prático. Eu sou seu credor e você me deve 50
mil reais. De tudo o que você tem, a única coisa que pode ser penhorada é uma
chácara de passeio cujo valor é 200 mil reais. Eu só posso penhorar esse bem, não
importa que o valor dele é maior que o da execução. Esse bem será penhorado.
Vem o terceiro, opõe embargos de terceiro, dizendo que a chácara é dele. Nesse
caso específico, o valor do bem que ele quer liberar (200 mil) é maior do que o
valor da própria execução (50 mil), então, ele é obrigado a dar o valor de 200 mil
reais para esses embargos. Ele vai te dar um valor de 50 mil, que é o valor da
execução. Você tem que concordar comigo que essa jurisprudência beneficia o
terceiro por causa das custas. Se fossem 200 mil, o valor das custas seria bem
maior.
c) Cumulação de Pedidos
Pontes de Miranda, em uma de suas passagens, diz algo que cai bem aqui.
Ele fala que os embargos de terceiro servem para impedir e não para pedir. Você
impede a constrição e não pede. Invariavelmente, na prática forense, eu canso de
indeferir petição inicial parcialmente porque tudo é dano moral. Pede-se dano moral
por causa de cinco dias de atraso na prestação. Vira mexe você tem embargos de
terceiro em que o cara alega que o bem é dele, que o credor sabia e quer dano
moral pela ofensa à honra. É caso de indeferir parcialmente e tocar somente os
embargos de terceiro. Aí vem a pergunta: mas eu não posso pedir indenização em
casos extremos? Pode, mas autonomamente.
Isso tem previsão no art. 1.052, do CPC. É óbvio que o juiz pode indeferir a
inicial, mas nós aqui estamos imaginando que está tudo certinho e que ele recebe
essa petição inicial. De acordo com o art. 1.052 se, eventualmente, forem recebidos
os embargos de terceiro, o juiz ordenará a suspensão total ou parcial do processo
principal (onde houve a constrição, o bloqueio, a tutela antecipada, a arrematação,
etc.).
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“A execução por carta (do art. 747, do CPC), quando os embargos de terceiro
forem de competência do juízo deprecado, ele comunicará o recebimento dos
embargos ao juízo deprecante para fins de suspensão da ação principal.”
Isso está nos arts. 1.050, § 1º e 1.051, do CPC. Isso é muito interessante.
Essa é uma liminar que tem o objetivo de assegurar o terceiro a posse do bem
constrito. Eu penhorei um carro, o carro foi removido, o terceiro entra com
embargos de terceiro dizendo que o carro é dele, o juiz dá a liminar e devolve o
carro para ele. Portanto, diz-se em doutrina que a liminar dos embargos de terceiro
tem natureza antecipatória de tutela.
Essa liminar pode ser concedida com ou sem audiência de justificação. Como
assim? É aquela audiência que o juiz faz só para verificar os requisitos da liminar.
Não é audiência de instrução. Essa audiência de justificação pode ser feita nos
embargos de terceiro e tem previsão expressa.
E caso o juiz dê tutela antecipada, ele pode determinar a liminar com ou sem
caução. Quer dizer, o juiz pode chegar à conclusão de que pode ser mentira que o
terceiro é proprietário do bem. Então ele assegura a posse ao terceiro, mas manda
dar algo em garantia porque se estiver mentindo terá como indenizar os prejuízos
causados ao credor.
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Qual é o receio que você tem que ter? E aí é importante a gente ter algumas
aulas porque parece, lendo o art. 1.051 (parte final) que a caução é um dispositivo
cogente, que da maneira como é redigido, parece que o juiz é obrigado a fixar
caução. A jurisprudência é pacífica no sentido de que o art. 1.051 não é cogente.
Mas depende do caso. Nos casos em que é explícito que o indivíduo é proprietário,
não há por que você se preocupar com essa questão da caução. Então, é casuístico,
fica a critério do juiz decidir se dá a liminar com ou sem caução.
Aqui temos que fazer uma ressalva porque a citação dos embargos de
terceiro segue, de modo geral, as regras do Livro I, do CPC. Não há nenhuma regra
aqui que justifique comentário da minha parte. Cabem todas as modalidades de
citação.
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Neste caso aplica-se o art. 188 do CPC? Prazo em quádruplo para a Fazenda
contestar? E o art. 1921, prazo em dobro para litisconsortes com diversos
procuradores? É óbvio que aplica. A parte geral aplica sempre na parte especial,
salvo situações excepcionais em que a própria lei já prevê a não aplicação. Neste
caso aplicam-se os arts. 188 e 191, do CPC.
Aqui, o código faz algo que não tem muita lógica, mas em nome da
celeridade ele faz isso. A partir da contestação, que é de dez dias, o rito muda. Ele
deixa de ser especial. O procedimento deixa de ser um procedimento especial. Só
que, diversamente dos demais procedimentos especiais em que, chega um
momento, e viram rito ordinário, olha o que acontece, nos termos do art. 1.053:
depois dessa fase, o processo começa a correr de acordo com o art. 803, que traz o
rito das cautelares inominadas. Ele quer dar celeridade e manda seguir o
procedimento das cautelares inominadas e você, consequentemente, não segue o
rito ordinário, mas o rito do Livro III, do CPC, que trata dos procedimentos
cautelares.
Por que estou destacando a apelação? A primeira coisa para você fazer
atrasar absurdo o processo são os embargos de terceiro porque a apelação dos
embargos de terceiro tem duplo efeito, ou seja, devolutivo e suspensivo. Por que
isso atrasa o processo? Porque eu sou o credor e penhoro esse celular que pertence
a você. Você dá um jeito de falar que esse celular é do seu pai. É manifesto que não
é do seu pai. Mas aí o seu pai entra com embargos de terceiro. Feito isso, o juiz
suspende a venda do celular. Ótimo e o juiz julga logo depois improcedentes os
embargos de terceiro. O seu pai apela. A apelação tem duplo efeito. Continua
suspensa a venda nos embargos de terceiro. Se você pegar alguns Estados mais
avançados do ponto de vista Judiciário, que nem Minas e RJ, em quatro meses você
resolve o problema. Agora, se você se depara com alguns Estados em que o
sistema Judiciário é totalmente ineficiente, leia-se Bahia e SP, que demora 4 ou 5
anos para julgar uma apelação, na hora que julgar essa apelação e acaba o efeito
suspensivo, o seu celular já não tem mais valor nenhum. Você entendeu o que eu
quis dizer? Eu acho justo que tenham embargos de terceiro, mas tinha que ter uma
reforma legislativa para tirar esse efeito suspensivo da apelação porque não tem
cabimento esse negócio.
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• Antes da Sumula 375 do STJ – Antes da súmula 375 do STJ, tudo o que
o devedor fizesse antes da citação para o processo, não havia fraude.
Quer dizer, se eu vendi minha fazenda e logo depois fui citado no
processo de execução, não havia que se falar em fraude porque eu não
sabia que devia. Não havia que se falar em fraude. Antes da súmula
entendia-se, portanto, que depois da citação e, portanto eu já sei que tem
alguém no meu pé querendo me cobrar, qualquer alienação realizada
após a citação, seria realizada com fraude à execução, mas desde que
não houvesse outros bens. Então, antes da citação, sem fraude. Se eu
vendi minha chácara depois de ter sido citado, o que acontece é que se
presumia que eu estava de má-fé e se eu não pagar a dívida, eles tomam
a chácara do terceiro que adquiriu, para pagar a dívida do credor. Por isso
é que antes de comprar um bem imóvel, o que você costuma fazer? Tirar
certidões no cartório para verificar se não há nenhuma ação contra o
devedor porque, se ele já foi citado, poderia ocorrer a fraude.
Se eu averbei e o terceiro comprar, significa que ele vai ter visto. Então,
depois ele não reclama que comprou um bem que estava com problema. Mas o que
me interessa é que, no novo modelo, o termo que define a fraude à execução, não
é mais a citação é o registro da penhora ou averbação do art. 615. O terceiro que
comprou não ficou sabendo que o imóvel garantia o pagamento de uma dívida?
Haverá fraude. A aula não é sobre esse tema. Esse é só um lembrete para poder
introduzir os temas relacionados embargos de terceiros. E exatamente, então,
relacionado a essa súmula 375, do STJ é que você percebe a importância do art.
615-A. Esse artigo é importante porque diz que se eu não averbar e o devedor
vender, mesmo que ele tenha sido citado, se o terceiro comprou de boa-fé, um
abraço porque ele não sabia que esse bem garantia o pagamento de uma dívida.
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causa do art. 472, do CPC que diz que a coisa julgada só é dada entre as partes. O
terceiro foi parte na execução? Não. Ele era parte estranha. Como ele não era parte
na execução, ele pode discutir tudo de novo e o juiz provavelmente vai manter a
decisão dele na execução, mas ele pode até mudar, pelo menos em tese.
Eu quero te mostrar uma coisinha à luz dessa súmula. Você sempre estudou
que a consequência prática da fraude contra credores é a anulação do ato jurídico.
Entretanto, apesar do que a súmula 195 diz, todo mundo entendeu que não dá para
anular ato jurídico por fraude contra credores nos embargos de terceiro. Apesar
disso, a doutrina capitaneada (porque todo mundo escreveu depois dele) pelo
Dinamarco sustenta há uns vinte anos que:
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Para encerrar o bate-papo sobre embargos de terceiro, você viu que tudo
decorreu da Súmula 375. Agora, vamos para a segunda súmula que eu quero
analisar é a Súmula 84, do STJ que é extremamente conhecida e diz com todas as
letras o seguinte:
Ou seja, ela basicamente está dizendo que contrato de gaveta (contrato não
publicizado, que não é público), dá ensejo ao cabimento de embargos de terceiro. E
para você entender o raciocínio desta súmula eu tenho que dar uma breve
lembrada de dois conceitos. Segundo o art. 108, do Código Civil, as transações
sobre imóveis cujo valor seja superior a 30 salários mínimos tem um requisito de
forma indispensável: escritura pública. E, de acordo ainda com o Código Civil, a
transferência da propriedade imóvel só se opera com o registro da escritura
pública. Isso é Código Civil puro. A escritura pública é meio de aquisição da
propriedade imóvel e só com o registro é que você consegue adquirir a propriedade
imóvel. E a posse, como eu adquiro? Posse não precisa de escritura. Posse se
adquire pela tradição. Se você compreendeu isso, fica fácil de entender a Súmula
84. Na aula passada eu falei que os embargos de terceiro servem para proteger a
propriedade e a posse (art. 1.046, § 1º). Existem embargos de terceiro de
proprietário e existem embargos de terceiro de possuidor.
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E qual é a interpretação que o STJ faz dessa Súmula 303? É que nas
hipóteses da Súmula 84 o culpado pelos embargos de terceiro é aquele que não fez
escritura pública ou que não a registrou, portanto, é o embargante ou o
embargado? Portanto, o embargante, ou seja, o terceiro. Então, pela Súmula 84, eu
consigo liberar o bem, mas como eu fui o responsável pela constrição, eu vou pagar
as custas do processo e eventuais honorários.
Mas, vamos complicar um pouco mais. Eu comprei sua casa. Você deve uma
grana. Vem o credor e pede a penhora da casa. Eu venho com embargos de terceiro
e alego o quê? Súmula 84: está aqui o contrato particular que não registrei. O
credor tem duas opções quando ele recebe os embargos de terceiro e vê que eu
tenho um contrato particular:
2º) “Nem a pau, fraude!” Grita aqui e ali e não aceita o compromisso
particular. Se ele não aceita, ele não está ratificando o ato constritivo que você
deu causa? Ele está insistindo no erro. Portanto, o STJ diz que:
“Não se aplica esse entendimento (esse que quem paga as custas é aquele
que não registrou) se o credor/embargado insistir na constrição, vez que a partir daí
ele está ratificando o erro e dando causa ao prosseguimento dos embargos de
terceiro.”
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AÇÃO MONITÓRIA
(Procedimentos Especiais)
1. GENERALIDADES
Essa é a primeira grande nota e a gente vai ver, no desenvolver da aula que
essa grande intenção do legislador foi um baita tiro no pé. A ação monitória foi um
dos grandes fracassos legislativos do Brasil. É uma porcaria. Quando eu era
advogado, entrei com ela. Nunca entre com monitória. É uma roubada terrível. E a
gente vai ver por que a monitória não deu certo no Brasil.
1.2. HISTÓRICO
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A segunda observação é que eu quero que você tenha uma noção breve da
origem da monitória. Muitas coisas não estão escritas nos manuais e vêm caindo. É
importante que a gente traga informações que estão fora dos manuais. A ação
monitória nasceu no direito canônico, mas deixando o direito canônico de lado, a
origem brasileira da ação monitória é uma ação chamada ação decendiária, cuja
origem estava nas Ordenações Manuelinas e Filipinas que, como você deve saber,
vigeram no Brasil durante um bom tempo, desde a descoberta até o regulamento
737. As regras processuais brasileiras nesse período estavam nas Ordenações
Manuelinas e Filipinas. No direito luso-brasileiro, portanto, é que eu tenho o
primeiro exemplar da ação monitória, que se chamava ação decendiária, também
chamada de ação de assinação de 10 dias.
Essa ação decendiária funcionava assim (só para você entender como foi a
origem da coisa): vinha a lei (Ordenações Filipinas) e dava um rol de documentos
(recibo de profissional liberal, recibo de compra de padaria, recibo de comércio,
carta epistolar) e dizia que quem tem esse documento pode pedir ao juiz que assine
dez dias (por isso assinação de dez dias ou decendiária) para que o devedor pague.
Não é uma execução, não penhora bem, não tem nada disso. Mas era assim:
“devedor, esse documento prova que você deve. Pague em dez dias.” Se o devedor
pagasse, acabou. Se ele não pagasse, gerava ação de rito comum ordinário, de
cobrança. É igualzinho o padrão da monitória, mas recebia esses nomes.
O grande problema é que essa ação de assinação de dez dias, que existiu
durante muito tempo no Brasil, nascida do direito canônico, e foi introduzida no
Brasil pelas Ordenações Manuelinas e Filipinas, quando veio o Código de 1939 e
depois o Código de 1973, que são os códigos de processo civil vigentes no Brasil,
essa ação decendiária caiu fora, foi excluída. Não havia previsão de ação
decendiária no Brasil em 1939 e nem em 1973. Não se admitiu mais essa ação
decendiária ou de assinação de dez dias que só foi inserida no Brasil,
posteriormente, no ano de 1995. A ação monitória só voltou para o Brasil em 1995,
com outro nome. Deixou de ser ação decendiária e passou a ser ação monitória. Em
1995, o legislador inseriu no CPC brasileiro o art. 1.102-A:
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monitória. O juiz marca uma audiência e essas três testemunhas dizem: eu sei que
o Zé deve dez mil. O juiz, com base nessa prova testemunhal, autoriza o início da
monitória e assinala um prazo de X dias para que o devedor pague. É esse o
raciocínio do processo monitório puro.
(Intervalo)
Tem gente muito boa como, por exemplo o professor Dinamarco, que diz que
a monitória é um quarto tipo de processo, como é no direito italiano. Lembra que eu
falei que as comparações com o direito italiano são sempre muito perigosas?
Vamos acompanhar o raciocínio dele e depois você julga por si só se acha que ele
está certo. Ele diz que a monitória figura como um quarto tipo de processo (ou seja,
conhecimento, execução, cautelar e monitória) pelo seguinte motivo: porque ela
não chega a ser uma execução, porque você não penhora bens do devedor, mas o
juiz, a partir do momento que entra a monitória, ele já manda pagar. Ele não manda
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citar para contestar, ele manda intimar para pagamento. Então, no entender dele,
como tem esse ato inicial, que não é o reconhecimento da obrigação, mas sim, uma
ordem de pagamento, a monitória não poderia ser encaixada no processo de
conhecimento porque o juiz, aqui, manda pagar. Ele não declara. E não poderia
estar na execução porque o pagamento não é sob pena de penhora. Então, de
acordo com ele, seria um meio termo entre conhecimento e execução porque não
declara e manda pagar (não é conhecimento), mas manda pagar sem ser sob pena
de penhora (não pode ser execução).
Ou seja, prova documental (escrita) para fins de monitória, não precisa ser
um documento só, pode ser um conjunto. E o que mais importa para se estabelecer
é que esse conjunto de documentos ou o documento por si só tenha que ser capaz
de dar ao juiz a impressão a respeito da existência da obrigação. A partir dessa
premissa, do que é prova escrita, eu posso trabalhar com vocês várias questões. E
é isso que eu me disponho a fazer a partir desse momento.
a) Documento unilateral
Isto é, aquele documento que foi forjado por apenas uma das partes. O
documento unilateral viabiliza, para fins de prova escrita, o ajuizamento da
monitória? A resposta para essa questão é: depende. Depende do quê? Depende de
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quem fez o documento. Por exemplo, se o documento foi feito pelo próprio devedor,
ele espelha bem a existência de uma obrigação. Então, aqui, o documento
unilateral, desde que produzido pelo devedor, não tem problema algum.
A briga maior está quando o documento é emitido pelo credor. E quando isso
acontece, surge a seguinte dúvida: ele pode dar ensejo à monitória? Você acha que
o credor tem idoneidade de emitir um documento dizendo que o devedor deve para
ele sem o devedor assinar absolutamente nada? A coisa fica complicada. Então,
para seguir o padrão de que o devedor sempre pode, o terceiro pode às vezes, a
regra geral para o credor é de que não. O documento unilateral emitido
exclusivamente pelo credor, regra geral, é de que não pode ser aceito.
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b) Documento bilateral
Se o documento for bilateral, acho que não precisamos nem entrar no mérito.
As duas partes participaram da confecção, eu não tenho dúvida nenhuma de que
tem cabimento a ação monitória. Eu quero apenas lembrar que o que nos interessa
no documento bilateral é que ele espelhe a verossimilhança da existência da
obrigação. É importante que o juiz olhe o documento e verifique que é cabível a
ação monitória.
Essa é a hipótese mais comum de ação monitória, que não podem mais ser
executados. Existem uma súmula do STJ, que é a 299, que sinaliza positivamente
nesse sentido:
d) Conjunto de documentos
Também, tem-se admitido que mais de um documento seja juntado para que
se verifique a verossimilhança da obrigação. Na verdade, você não precisa que a
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caiba numa informação. Então, por exemplo, fita de vídeo, gravação telefônica,
pedra esculpida, fotografia, tudo isso é prova documental, porque prova
documental para o CPC é qualquer suporte material em que você consiga colocar
alguma informação (CD, HC de computador). Mas para fins de monitória, não
adotamos o conceito do art. 364, do CPC. O conceito de prova documental aqui é de
prova documental estrita, ou seja, de papel. Você não pode instruir a monitória com
um vídeo do réu, assumindo que deve, porque nós adotamos o conceito de prova
documental estrita. E documentar da prova oral é pegar testemunha e colocar no
papel. Vai uma pessoa ao cartório e faz uma escritura pública, falando que fulano
deve. Pacífico. Não cabe monitória através de Documentalização de prova oral. Não
adianta querer instruir a monitória com esse tipo de prova.
Caso real que eu tive: o caboclo bateu o carro e foram parar na delegacia. No
B.O., um falou que assumia a culpa e que no prazo de 30 dias pagaria o dano. A
autoridade policial reduziu a termo e acabou. Surgiu a seguinte questão: esse
documento é viável ou não para fins de monitória? Eu acabei entendendo, apesar
da verossimilhança, que ele esbarrava nessa questão do testemunho. Sim, porque
ali, nada mais foi do que um testemunho assinado. Se você partir do princípio que
isso é cabível para fins de monitória, você vai poder pegar testemunho em
delegacia, pedaço de inquérito, prova testemunhal colhida em outro processo e
começar a entrar com monitória com base nisso. Você entendeu o risco? Porque, na
verdade, eu estaria transformando a nossa monitória, que é documental, em
monitória pura, que é a que admite prova oral. Mas eu confesso para vocês que até
hoje eu mesmo tenho dúvida se não deveria ter admitido, nesse caso, porque,
afinal de contas os dois assinaram.
De tudo isso que eu falei, só tem uma regra: convencimento. Se o juiz olhou e
se falou: “putz, parece que tem o crédito!” Corre a monitória. Convenceu, cabe a
monitória.
Aqui, entretanto, tenho uma reflexão para fazer com vocês. Eu tenho título
executivo. Mesmo assim eu posso entrar com monitória? “Ah, eu sei lá, tenho medo
do juiz achar que o meu título executivo não é título executivo.” Ou, “ah, meu título
executivo é extrajudicial e eu queria um título judicial.” Existem duas posições na
doutrina sobre o tema, sobre se aquele que tem título executivo pode entrar com
ação monitória. É o mesmo raciocínio que se faz sobre se é possível entrar com
ação de cobrança. Quem tem título executivo pode entrar com processo de
conhecimento? A pergunta é essa.
A primeira posição diz que não sob o fundamento de que falta interesse
processual e adequação. Eu tenho um cheque não prescrito, eu teria que entrar
com execução. Não poderia entrar com monitória ou com ação de conhecimento
pelo rito ordinário para cobrar o cheque. Essa primeira posição é a posição
tradicional da doutrina. Eu ouso dizer e é uma ousadia da minha parte dizer que é a
posição dominante. É a que prevalece pelo menos no âmbito da jurisprudência e da
doutrina. É a que mais se vê.
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Existem essas duas posições, a primeira delas mais calcada na letra da lei,
nas condições e requisitos da ação; mas me parece que a segunda é a mais correta.
Nesses dois casos, ainda que você tenha prova escrita sem eficácia de título
Executivo, você não pode entrar com a monitória, tem que entrar com ação de
conhecimento, pelo rito sumário ou ordinário, a depender do valor da causa. Repito:
não exista uma razão lógica para o legislador ter adotado essa postura de só
admitir monitória na entrega de coisa móvel, foi opção legislativa.
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4. PROCEDIMENTO MONITÓRIO
E isso por quê? Porque apesar de não ser execução, você vai determinar que
uma pessoa pague. E pague o quê? Pague a quantia que está na memória de
cálculo, com juros, correção monetária e tudo o mais.
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dívida. Você concedeu um empréstimo ilegal que prescreveu. Você pode entrar com
a monitória sem falar que aquilo é empréstimo ilegal porque o STJ tem essa
posição. Isso é o prevalecente no STJ.
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09/10/2009
EMBARGOS DE TERCEIRO – AÇÃO MONITÓRIA
Agora, o juízo pode ser positivo. Nesse juízo positivo, é o juízo em que o juiz,
analisando que documentos chega a que conclusão? “esse documento representa
de maneira bastante verossimilhante a obrigação.” Quando nós estivermos diante
de um juízo positivo, automaticamente, aplicamos ao caso, o art. 1.102-B, do CPC,
porque o juiz determina aquilo que a partir de agora vamos chamar de mandado de
pagamento ou entrega da coisa que, para simplificar, vamos chamar de MPE.
Quando ele diz “devidamente instruída”, o que quis dizer? Estando com um
documento que represente a verossimilhança na obrigação.
Quanto a esse juízo positivo, o que deve ficar bastante claro para você é que
nós estamos num juízo de cognição sumário, trata-se de uma decisão provisória
(porque mais adiante o juiz pode concluir que o documento não espelha
absolutamente nada).
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EMBARGOS DE TERCEIRO – AÇÃO MONITÓRIA
O professor Ernani Fidelis dos Santos sempre sustentou que não caberia, por
exemplo, citação por edital na monitória. Então, se você não localizasse o réu, você
tinha que entrar com a ação pelo rito comum. Mas esse entendimento acabou
superado pelo próprio STJ que editou a Súmula 282, deixando claro que no processo
monitório, cabem todos os tipos de citação. Ele não fala isso expressamente, mas a
interpretação tem que ser esta porque a Súmula 282 diz o seguinte:
Ora, se cabe citação por edital, cabem todas as espécies de citação na ação
monitória, afinal de contas, ela é um processo de conhecimento. Entretanto, cabe a
seguinte ressalva: verificada a verossimilhança do documento pelo juiz, ele manda
expedir MPE. O réu está em local incerto e não sabido. Você intima o réu para pagar
ou entregar, como? Por edital. Mas a eficácia disso e zero é a mesma coisa. Por
isso, citou por edital, automaticamente, tem que aplicar por analogia, a súmula
196, do STJ que nada mais manda do que aplicar o art. 9.º, II, do CPC.
“Ao executado”, no caso aqui, ao réu na monitória que, citado por edital, não
pagar ou não entregar a coisa, será nomeado curador especial. Portanto, citou por
edital na monitória, o mínimo que se espera é que você nomeie curador especial
para que, hipocritamente, apresente embargos por negativa geral. Aliás, é uma
piada. Você finge que o réu tem direito de defesa. Mas não haveria como ser
diferente. É algo necessário, a citação por edital e, mais necessária ainda, a
nomeação de curador especial.
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EMBARGOS DE TERCEIRO – AÇÃO MONITÓRIA
Presta atenção numa coisa muito importante: essa decisão que converte o
MPE em título executivo, não depende de fundamentação. É automática. O juiz
simplesmente coloca: o réu, não pagou, o MPE virou título executivo, prossiga-se
em execução judicial.
Eu entro com uma ação contra você dizendo que você me deve e apresento o
recibo que você assinou. O juiz faz aquele juízo de verossimilhança e manda
expedir o mandado de pagamento ou entrega. O oficial de justiça vai até você e
manda que você entregue ou pague no prazo de 15 dias. Você fica doido porque
não deve. Quem deve sou eu a você. Aí você apresenta embargos ao mandado
monitório. A partir do momento que você opôs embargos, aquela ação virou uma
ação de cobrança. Se é rito ordinário, a Súmula 292 diz o seguinte: “réu, você pode
opor embargos ao mandado monitório e pode, ao mesmo tempo, atravessar uma
reconvenção dizendo: “está aqui, eu também tenho provas de que ele me deve.” E
junta documentos, etc.
A gente pode chegar a uma conclusão óbvia: qual é o requisito para reconvir
na monitória? Embargar. Porque você só pode reconvir a partir do momento que
vira ação de rito ordinário.
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EMBARGOS DE TERCEIRO – AÇÃO MONITÓRIA
Ônus da prova – Você lembra que o ônus da prova é de quem tem que
provar o fato. Se você adotar a teoria de que é ação, o ônus da prova é de quem
afirma, portanto, quem teria que provar que o mandado de pagamento ou entrega
não vale? O embargante porque é ele que afirma que o mandado está errado.
Competiria ao embargante a prova disso. O cheque está lá prescrito eu embargo o
mandado monitório, portanto, sou eu que tenho que provar que o mandado não é
devido. Eu, embargante. Esse é o raciocínio do STJ. Para isso, ele entende que é
natureza de ação. Aqui, ele não adotou a posição de que é contestação porque se
fosse contestação o ônus da prova seria do autor. Então, eu embargaria e ficaria
esperando que o autor provasse a existência da obrigação.
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