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Módulo III – Características Fundamentais do Inquérito Policial

Aula 07 – Garantias Constitucionais e Revisão


Estrutural: contraditório, defesa e impessoalidade

Professor: Leonardo Marcondes Machado


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A questão não é dizer se há


contraditório e ampla defesa, mas o
1. Contraditório (Mitigado) e Defesa (Limitada) QUANTO há.
- proposta de revisão: não há contraditório pleno nem ampla defesa no inquérito policial.1
Isso não significa, contudo, que não haja qualquer dimensão de contraditório ou de defesa na
investigação. A questão, por aqui, é de grau ou de nível quanto a esses direitos fundamentais,2
inerentes à garantia maior do devido procedimento legal (art. 5º, LIV, da CF), a qual também
vincula o inquérito policial em um Estado de Direito.3 Procedimento.
- releitura constitucional: art. 5º, LV, da CF: “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
imputados, o que inclui o investigado
os meios e recursos a ela inerentes”.4
- STF. O Min. Gilmar Mendes, por ocasião do julgamento da Pet 7.612/DF, divergindo
do entendimento tradicional, reconheceu aplicação ao contraditório e ao direito de defesa no
âmbito do inquérito policial, sempre, no entanto, “em conformidade com as funções e limitações
cognitivas de cada fase da persecução penal”.5

1.1. Contraditório
- estrutura fundamental: a) direito à ciência (ou ao conhecimento) do procedimento em

1 A visão clássica de Frederico Marques: “(...) desaconselhável uma investigação contraditória processada no
inquérito (...) não se deve tolerar um inquérito contraditório, sob pena de fracassarem as investigações policiais,
sempre que surja um caso de difícil elucidação. À polícia judiciária deve ser dado um amplo campo de liberdade de
ação, limitado tão-só pelas sanções aos atos ilegais que seus agentes praticarem” (MARQUES, José Frederico.
Elementos de Direito Processual Penal. v. 1. Campinas: Bookseller, 1997, p. 151).
2 Lauria Tucci adota uma posição ampliativa a esse respeito, no sentido de que não seria possível cogitar de uma

contrariedade mitigada, figurando não apenas indispensável na fase de investigação criminal o contraditório como
indissociável da ampla defesa (TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e Garantias Individuais no Processo Penal Brasileiro.
04 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 303-305).
3 MACHADO, Leonardo Marcondes. Manual de Inquérito Policial. 01 ed. Belo Horizonte: Editora CEI, 2020, p. 27-30.
4 Sobre a “contraditoriedade no inquérito policial” e sua base constitucional: TUCCI, Rogério Lauria; TUCCI, José

Rogério CRUZ E TUCCI, José Rogério. Devido Processo Legal e Tutela Jurisdicional. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1993, p. 25-29. Na mesma linha: LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 15 ed. São Paulo:
Saraiva, 2018, p. 173.
5 STF - Segunda Turma - PET 7612/DF - Voto Min. Gilmar Mendes - j. em 12.03.2019 - DJe 037 de 19.02.2020.

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curso, seus atos e elementos informativos; b) direito à participação no seu desenvolvimento e


interferência (ou influência) na conclusão.
- aplicação (mitigada) ao IP: a) dimensão informativa: direito pessoal do investigado e
direito do defensor (súmula vinculante n. 14 do STF e art. 7º, XIV, da Lei n. 8.906/1994); b)
dimensão participativa: direito pessoal do investigado (art. 14 do CPP) e direito do defensor (art.
7º, XXI, da Lei n. 8.906/1994).
existe no IP, mas não na mesma dimensão do processo, pois, do contrário, o processo
1.2. Defesa seria dispensável.
- estrutura básica: a) direito à defesa pessoal ou autodefesa (direito de presença, direito
de audiência e direito de postular pessoalmente); b) direito à defesa técnica.
- aplicação (limitada) ao IP: a) interrogatório como principal mecanismo de autodefesa; b)
reforço do espaço defensivo com a Lei n. 13.245/2016.

2. Impessoalidade

2.1. Visão Tradicional


- referência legal (clássica): art. 107 do CPP: “Não se poderá opor suspeição às autoridades
policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo
legal”.
- STJ: “o art. 107 do Código de Processo Penal dispõe, expressamente, não ser cabível a
exceção contra as autoridades policiais, quando presidem o inquérito, em razão de sua natureza
(peça inquisitorial) como procedimento preparatório da ação penal (...) no que se refere à
aparente contradição, que prevê que as autoridades policiais devem declarar-se suspeitas,
havendo motivo legal, entendo que deveria a parte interessada ter solicitado o afastamento da
autoridade policial ao Delegado-Geral de Polícia ou, sendo o pleito recusado, ao Secretário da
Segurança Pública, o que não se deu. A questão torna-se, então, administrativa, pois existe
recomendação legal para que o afastamento ocorra. Por ordem superior, isso pode acontecer”.6
- STF: entende que “a suspeição de autoridade policial não é motivo de nulidade do
processo”, sob o fundamento de ser o inquérito “mera peça informativa”.7

6STJ - Sexta Turma - HC 309.299/MS - Rel Min. Sebastião Reis Júnior - j. em 06.08.2015 - DJe de 26.08.2015.
7STF - Segunda Turma - RHC 131.450/DF - Rel. Min. Carmen Lúcia - j. em 03.05.2016 - DJe 100 de 16.05.2016;
STF - Segunda Turma - RHC 43.878/SP - Rel. Min. Evandro Lins - j. em 21.02.1967 - DJ de 05.04.1967

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2.2. Outra Leitura Possível


- pressuposto constitucional: art. 37, caput, da CF: “A administração pública direta e
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
(...)”.

a) o fato de o CPP não prever exceção de suspeição no tocante ao delegado de polícia em


nada altera o dever constitucional de impessoalidade que deve existir também na fase de
investigação preliminar (art. 37 da CF);
b) sob um paradigma democrático constitucional, aplica-se ao delegado de polícia o dever
fundamental de impessoalidade e, por analogia, as causas de suspeição (art. 254 do CPP) e
impedimento (art. 252 do CPP) previstas à autoridade judicial;
c) em não havendo afastamento voluntário do delegado suspeito ou impedido, há meios
de impugnação administrativos (ex.: recursos hierárquicos) e judiciais (ex.: mandado de
segurança ou habeas corpus).8

8 MACHADO, Leonardo Marcondes. Manual de Inquérito Policial..., p. 31-34.

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