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Daniel Defoe nasceu em 1660, em Londres, numa família presbiteriana de classe média.

Os
valores da religião foram por ele cultivados durante toda sua vida, embora tenha sofrido
perseguições em função de sua fé já que participava da igreja anglicana, e por isso não teve
direito a universidade, o que muito se reflete criticamente em sua obra.

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Ao longo de sua vida, Defoe foi jornalista político e panfletista, espião e comerciante, além de
ter passado pela prisão por motivos políticos. Produziu mais de 500 livros e panfletos durante
sua trajetória. Estilisticamente, Defoe foi um grande inovador: dispensando o estilo
ornamentado associado às classes mais altas, usou um estilo simples, direto, baseado em fatos
das classes médias, se tornando o novo padrão para o romance Inglês. Daniel Defoe morreu
em 1731 revolucionando então a escola literária inglesa, em especial com duas grandes obras:
Robinson Crusoé e Moll Flandres.

Nos aprofundando em Robinson Crusoé …

Robinson Crusoé foi inspirado na história verídica de um marinheiro náufrago chamado


Alexander Selkirk e apresenta também um caráter autobiográfico. Com o tema da existência
humana solitária de Robinson Crusoé, Defoe abriu caminho para o moderno tema central da
alienação e isolamento.

Robinson Crusoé era um inglês da cidade de York, no século XVII, filho mais velho de um
comerciante. O pai desejava que estudasse Direito, mas Robinson escolhe as viagens
marítimas como caminho de vida. Em sua segunda viagem, após passar por maus momentos,
Crusoé acabou por se estabelecer como um bem-sucedido fazendeiro no Brasil. De olho nos
lucros do tráfico negreiro, ele embarca numa expedição para coleta de escravos na África
Ocidental, mas o navio naufraga na costa de Trinidad e ele é o único sobrevivente ao desastre.
O protagonista daí em diante precisa forjar suas condições materiais de existência e toma
ciência da presença de nativos antropófagos na ilha. Um dia, Crusoé salva um nativo que seria
devorado por uma tribo rival, a quem passa a chamar de Sexta-Feira, que lhe instrui sobre o
modo de vida autóctone. Vinte e oito anos após sua chegada à ilha, Crusoé finalmente
consegue retornar à Inglaterra e suas plantações deixadas no Brasil lhe garantem uma
considerável fortuna.

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O sucesso do protagonista em dominar sua situação, superando os obstáculos e controlando


seu ambiente mostra a condição de mestria sob uma luz positiva, pelo menos no início do
romance. Crusoé está em um ambiente inóspito e o torna sua casa. Sua domesticação de
cabras selvagens e papagaios ilustram seu controle sobre a natureza. Além disso, o domínio de
Crusoé sobre a natureza faz dele um mestre de seu destino e de si mesmo. No início da
história, ele frequentemente se culpa por desobedecer ao conselho de seu pai. Mas na parte
posterior da novela, Crusoé deixa de ver a si mesmo como uma vítima passiva e atinge uma
nova nota de autodeterminação. Durante o longe período em que permanece na ilha, ele
descobre que é o mestre de sua vida, sofre um destino duro e ainda encontra prosperidade.

Mas este tema do domínio torna-se mais complexo e menos positivo depois da chegada de
Sexta-feira, quando a ideia de domínio se refere às relações injustas entre os seres humanos.
Crusoé está longe de considerar Sexta-Feira como igual a si, a ideia superioridade ocorre
instintivamente. Questionamos ainda o direito de Crusoé a ser chamado de “mestre”, quando
mais tarde ele se refere a si mesmo como “rei” sobre os nativos e europeus, que são seus
“súditos”. Em resumo, enquanto Crusoé parece louvável em dominar o seu destino, o
merecimento de seu domínio sobre seus companheiros seres humanos é absolutamente
questionável. Defoe explora a ligação entre os dois em sua descrição da mente colonial.

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Sendo assim, Robinson Crusoé é não apenas uma história de aventura em que fatos
emocionantes acontecem, mas também um conto moral ilustrando as formas erradas de viver
a vida. Esta dimensão moral e religiosa do conto é expressa no prefácio, que afirma que a
história de Crusoé está sendo publicado para instruir a outros na sabedoria de Deus, e uma
parte vital desta sabedoria é a importância de se arrepender dos pecados.

A história contada no livro também faz muitas considerações sobre a importância do auto-
conhecimento para o ser humano.

Na simbologia da história, podemos ressaltar a pegada que Crusoé descobre na areia e a cruz
por ele feita como elementos essenciais. A chocante descoberta de Crusoé de uma única
pegada na areia, no Capítulo XVIII é um dos mais famosos momentos da novela, e simboliza
sentimentos conflitantes do personagem sobre a companhia humana.

“Deus meus! Apenas dei com umas pegadas na areia, tremo e me horrorizo, à ideia de ser
perseguido pelo homem, pelo ser que anelava, para repartir a pesada solidão”.

“O tempo foi coisa que me preocupou, naquele ermo. Para não me perder em confusões,
levantei perto da praia uma alta Cruz, e nos braços inscrevi: [Aqui aportei a 30 de setembro de
1659]. E no poste mareava cada dia um risco, a faca, e passando sete dias, fazia um risco
maior, Todos os primeiros dias do mês, um outro maior ainda, assim obtendo o meu
calendário, com as semanas, os meses e os anos”.
O grande tamanho e as letras maiúsculas nos mostram o quão importante esta cruz é para
Crusoé como um dispositivo de cronometragem e, assim, também como uma forma de
relacionar-se com o mundo social maior, onde as datas e calendários ainda são importantes.

Robinson Crusoé e Sexta Feira – caracterização e motivações

Robinson Crusoé – Mesmo não sendo nenhum herói chamativo ou grande aventureiro épico,
Robinson Crusoé exibe traços de caráter que ganharam a aprovação de gerações de leitores.
Sua perseverança em passar meses fazendo uma canoa, ou na prática da fabricação de
cerâmica até dominar a técnica, é louvável. Além disso, sua desenvoltura na construção de
uma casa, laticínios, parreira, a partir de praticamente nada, é claramente notável. Os instintos
de negócios de Crusoé são tão consideráveis quanto seus instintos de sobrevivência: ele
consegue fazer uma fortuna no Brasil, apesar de uma ausência de vinte e oito anos e até
mesmo deixa sua ilha com uma bela coleção de ouro. Além disso, Crusoé nunca está
interessado em retratar a si mesmo como um herói na sua própria narração. Ele não se
orgulha de sua coragem em sufocar o motim, está sempre pronto a admitir sentimentos de
medo ou pânico, como quando ele encontra a pegada na praia. Crusoé prefere descrever-se
como um homem sensato comum, nunca como um herói excepcional.

Mas as qualidades admiráveis de Crusoé devem ser pesadas contra as falhas em seu caráter.
Crusoé parece incapaz de sentimentos profundos. Embora seja generoso com as pessoas,
como quando dá presentes para suas irmãs e o capitão, Crusoé revela muito pouco afeto
sincero em suas relações com eles.

Sua insistência nas datas dos eventos faz algum sentido, mas em última análise, acaba
parecendo obsessivo e irrelevante quando ele nos diz a data em que fabricou os instrumentos,
mas esquece de nos dizer a data de um evento muito importante, como o encontro de Sexta-
feira. Crusoé ensina Sexta-feira a chamá-lo de “mestre”, mesmo antes de ensinar-lhe as
palavras “sim” ou “não”, o que parece detestável mesmo sob os padrões racistas da época. No
geral, as virtudes de Crusoé tendem a ser privadas: a sua indústria, desenvoltura e coragem
solitária o tornam um indivíduo exemplar. Mas seus vícios são sociais, e sua vontade de
subjugar os outros é altamente questionável. Ao trazer os dois lados juntos em um
personagem complexo, Defoe nos dá uma visão fascinante sobre os sucessos, falhas e
contradições do homem moderno.

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Sexta-feira – Provavelmente, o primeiro personagem não-branco do qual foi feito um retrato


realista, individualizado, e humano no romance Inglês, Sexta-feira tem uma enorme
importância literária e cultural. Se Crusoé representa a primeira mente colonial na ficção, em
seguida, sexta-feira representa não apenas um membro da tribo Caribe, mas todos os nativos
da América, Ásia e África, que viriam a ser oprimidos na era do imperialismo europeu. No
momento em que Crusoé ensina Sexta-feira a chamá-lo de “mestre”, Sexta-feira torna-se um
símbolo político duradouro da injustiça racial em um mundo moderno e da crítica à expansão
imperialista. Além de sua importância para a nossa cultura, Sexta-feira é uma figura-chave no
contexto do romance. Em muitos aspectos, ele é o personagem mais vibrante em Robinson
Crusoé, muito mais carismático e colorido do que seu “mestre”. Na verdade, Defoe por vezes
ressalta o contraste entre as personalidades de Crusoé e de Sexta-feira, como quando Sexta-
feira, alegre por seu reencontro com o pai, exibe muito mais emoção em direção a sua família
do que Crusoé. Enquanto Crusoé nunca menciona sentir falta de sua família ou sonhos sobre a
felicidade de vê-los novamente, Sexta-feira salta e canta de alegria quando encontra seu pai. A
expressão de lealdade por Sexta-feira em pedir a Crusoé para matá-lo ao invés de deixá-lo é
mais sincera do que qualquer coisa que Crusoé diga ou faça. As perguntas sinceras de Sexta-
feira para Crusoé sobre o Diabo, que Crusoé responde apenas de forma indireta e hesitante,
nos fazem pensar se o conhecimento de Crusoé do cristianismo é superficial quando esboçado
em contraste com a plena compreensão do deus Benamuckee de Sexta-feira.

Apesar da subjugação de Sexta-feira, no entanto, Crusoé o considera muito mais do que um


mero servo. Crusoé não parece valorizar a intimidade com os seres humanos, mas ele diz que
ama Sexta-feira, o que é uma revelação notável. É a única vez que Crusoé faz uma admissão
dessas na novela, já que ele nunca expressa amor por seus pais, irmãos, irmãs, ou até mesmo
sua esposa. O simples fato de um inglês confessar mais amor por um ex canibal analfabeto do
que para sua própria família sugere o apelo da personalidade de Sexta-feira.

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Dicas para professores de como trabalhar Robinson Crusoé em sala de aula

O livro Robinson Crusoé pode ser trabalhado, em especial, no Ensino Fundamental II e no


Ensino Médio, nas disciplinas: História, Língua Portuguesa, Literatura e Filosofia, além ser um
excelente subsídio para projetos interdisciplinares.

É uma leitura curta em linguagem muito acessível, por isso não haverá dificuldades para os
alunos lerem o livro inteiro.

Antes de sugerir sua leitura, pode-se pedir aos alunos que façam uma pesquisa sobre seu autor
e o contexto histórico no qual o livro se insere.

É importante ressaltar o marco que o livro representa na história da Literatura e como as


mudanças que ele trouxe para o gênero se relacionam às transformações econômico-sociais
do período no qual foi escrito.

Pode-se utilizar os trechos nos quais o Brasil é mencionado para abordar o sistema colonial e
seus múltiplos desdobramentos.
A obra é um importante exemplo de como a Literatura pode ser o retrato das mentalidades e
ideologia de uma época, no caso de Robinson Crusoé, pode-se analisar as representações do
colonialismo presentes na obra.

Explorando a relação entre os personagens Robinson Crusoé e Sexta-feira é possível abordar o


tema do racismo e suas origens históricas.

O livro possui adaptações para o cinema e televisão que podem complementar a leitura e
trazer bons momentos para sala de aula.

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