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SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL –

SEPLAN/MT
SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL - SDT

NOTA TÉCNICA: 03/2011

Mercado internacional e competitividade de Mato Grosso.

Rogério de Oliveira e Sá1


Paula Luciana da Silva2
Paula Gonçalves Baicere3
Rita de Cassia Silva Campos Ayoub4

Nesta nota técnica procura-se avaliar as mudanças ocorridas no perfil do comércio


exterior, construir e interpretar indicadores de competitividade para diferentes agregados de
mercadorias no período de 2008 a 2010, enfatizando as exportações do Estado de Mato
Grosso e suas cadeias produtivas mais significativas. Para tanto, faz-se a análise dos
indicadores de Vantagem Comparativa Revelada (VCR) e Indicador de Contribuição ao Saldo
da Comercial (ICSC). A base de dados utilizada foi do Sistema ALICE/SECEX do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)

1
Economista, Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, Técnico da Área Instrumental do Governo
da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN/MT), lotado na Superintendência de
Desenvolvimento Territorial – SDT.
2
Economista, Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, Técnico da Área Instrumental do Governo
da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN/MT), lotada na Superintendência de
Desenvolvimento Territorial – SDT.
3
Economista, Especialista em Gestão Pública, Técnica da Área Instrumental do Governo da Secretaria de Estado
de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN/MT), lotada na Superintendência de Desenvolvimento
Territorial – SDT.
4
Economista, Especialista em Planejamento Regional, Técnica da Área Instrumental do Governo da Secretaria de
Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN/MT), lotada na Superintendência de Desenvolvimento
Territorial – SDT.
1
PANORAMA DO SISTEMA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL

Nas últimas décadas o sistema de comércio internacional apresentou mudanças


significativas, marcadas principalmente pela integração entre as diversas economias através
dos processos de abertura comercial iniciado na década de 90. Tal fato contribuiu para
formação de blocos econômicos, ao aumento dos acordos comerciais entre as nações e outras
modernizações no mercado internacional. Esse cenário mundial tem provocado grandes
desafios principalmente para as economias em desenvolvimento e emergentes do mundo,
sendo um deles referente à desigualdade na distribuição de renda. Diante disso, uma estratégia
interessante de inserção nesse sistema econômico deve ser a indução de geração de empregos,
além da preocupação com o crescimento econômico.
Dessa forma, abre-se essa perspectiva, de conhecer o setor exportador de uma unidade
federativa, sua estrutura e especialidades, ou seja, se os produtos que exibem maiores
vantagens e que dão maiores contribuições ao comércio do país são de fato importantes para a
formulação de políticas de inserção internacional.
O resultado do fluxo de comércio exterior entre o período 1996-2010 aponta que o
saldo da balança comercial do país saltou de um déficit de US$ 5,6 bilhões, para um superávit
de US$ 46,46 bilhões em 2007. No ano de 2010 chegou a US$ 20,27 bilhões. Esse fenômeno
pode ser explicado pelos efeitos da desvalorização cambial em 1999 e pelo inexpressivo
crescimento do país durante esses anos. Em resumo:

Logo após o Plano Real, a balança comercial brasileira – superavitária


entre 1981 e 1994 - passou a apresentar déficits em conseqüência da
sobrevalorização cambial. Com a adoção do câmbio flexível, em 1999,
esses déficits diminuíram continuamente, e a partir de 2001 a balança
comercial passou a apresentar superávits crescentes. Além dos efeitos
do câmbio, a queda nas importações reflete as modestas taxas de
crescimento que o país vem experimentando nos últimos anos.
(VICENTE, 2005, p. 05).

Esse mesmo autor aponta que essa inversão no sinal do saldo da balança comercial é
fruto da contribuição do agronegócio, em especial dos produtos manufaturados e semi-
faturados, que chegou a representar 54% do valor das exportações brasileiras em 2003.
O atual estágio de desenvolvimento do agronegócio brasileiro, que coloca o país entre
as nações mais competitivas do mundo na produção de commodities agroindustriais, teve o
seu momento de inflexão a partir de 2000, segundo Jank et al. (2005), com a desvalorização
do real e com o aumento da demanda no mercado internacional.
Entre o ano de 2000 a 2006, a produção de grãos passou de 57,8 milhões para 126
milhões de quilos e as exportações, de 18,1 bilhões para 46,2 bilhões, apresentando, nesse
caso, taxa de crescimento anual de 19,7%. Nos anos seguintes, principalmente no período de
2007 a 2009, as exportações tiveram vertiginosa queda, afetado principalmente, pela

2
ocorrência da crise internacional que afetou significativamente as exportações de produtos
brasileiros. Em 2009 pode se observar uma tendência de recuperação.

Gráfico 01: Brasil exportação e importação de 1996 a 2010 em US$ Bilhões.


250,00
201,92
200,00 197,94
152,99
160,65 181,65
150,00 137,81 172,98
118,53
96,68 120,62 127,72
100,00
73,20 91,35
53,35 57,76 55,12 62,84
60,44
50,00
47,75
51,14 49,30 55,60
-
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Exportações Importações
Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema
ALICE/SECEX

Em referências aos novos padrões de competitividade, advindos principalmente da


abertura comercial, a construção de indicadores das diversas mercadorias ou agrupamento de
mercadorias, possibilita análise mais acurada das vantagens e desvantagens das distintas
regiões do país. A partir desses indicadores é possível verificar a forma de inserção do país no
cenário internacional face essa nova reestruturação na distribuição espacial das atividades
produtivas nos diferentes estados brasileiros.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO E FONTE DE DADOS


Existem diversos estudos que buscam identificar e quantificar os indicadores de
competitividade e o padrão de especialização das diversas regiões do Brasil, tais como:
Hidalgo & Mata (2003 e 2004); Fernandes (2002); Rocha & Leite (2007); Fernandes & Vieira
(2000); Mai (2005); Hidalgo (1998); Pereira, et al.(2009), entre outros.
Esses estudos baseiam-se, originalmente, na clássica Teoria das Vantagens Absolutas
de Adam Smith5, aperfeiçoada por David Ricardo6 na Teoria das Vantagens Comparativas,

5
SMITH, Adam. “A riqueza das nações: Investigação sobre a sua Natureza e suas causas”. São Paulo. Abril
Cultural. 1983. (Coleção Os Economistas), publicado originalmente de 1776, tido como o primeiro trabalho a
tratar com exclusividade de economia. Apresenta o primeiro esboço da teoria da vantagem absoluta, grosso
modo, admitiu se um país lograsse algum tipo de vantagem, ou seja, produzir alguma mercadoria a um custo
mais baixo que outro tiraria proveitos da especialização e das trocas.
6
RICARDO, D. “Princípios de Economia Política e Tributação”. São Paulo. Abril Cultural, 1983 (Coleção Os
Economistas), publicado em 1817, buscava avançar nas discussões sobre as trocas de mercadorias entre países,
3
que apresentava ainda certas limitações, pois essa teoria considerava um único fator de
produção relevante – o trabalho. Somente em meados do século XX, é formulado uma
contribuição para a explicação das diferenças entre os custo de produção de uma mesma
mercadoria em diferentes países, a conhecida Teoria de Heckscher-Ohlin7, ou Teoria de
Dotação de Fatores.
A Teoria Heckscher-Ohlin explica a especialização na oferta de determinados bens ou
mercadorias em um país. Onde esse possui maiores vantagens em determinados fatores,
inicialmente, essa vantagem se sustenta graças a potencialidade dos diferentes países
(potencialidade natural ou não, de recurso naturais ou de mão-de-obra). Baseados,
inicialmente, nesses conhecimentos, diversos autores se propuseram a definir uma
metodologia, a fim de mensurar a especialização da economia. Assim sendo, são descritos a
seguir alguns indicadores propostos por Balassa (1965) e, posteriormente, por Lafay (1990).

- Vantagem comparativa revelada


Para mensuração da vantagem comparativa revelada (VCR) não é necessária a
ocorrência do comércio bilateral, na medida em que o indicador é calculado a partir dos
preços relativos dos bens (Fernandes & Vieira, 2000). O VCR aponta a participação das
exportações de dado produto de determinada região em relação à participação dessa região no
total das exportações do país. Por conseguinte, o indicador para uma região j, em um grupo de
produtos i, pode ser definido da seguinte forma:




  = 

em que Xij é o valor das exportações do produto i, na região j; Xiz , valor das exportações do
produto i, na zona de referência z; Xj, valor total das exportações da região j; finalmente, Xz ,
valor total das exportações da zona de referência z.
Portanto, quanto maior for o volume exportado de determinado produto por uma
região com relação ao volume total exportado desse mesmo produto, maior será a vantagem

ao buscar explicação no comércio entre país sem vantagens absolutas, e acrescenta o conceito de vantagem
relativa.
7
A teoria Heckscher-Ohlin, tem origem inicial num artigo de Eli Fillip Heckscher, publicado em 1919,
“Internation and Interregional trade”, porém a divulgação de suas idéias começou realmente a ocorrer após a
tradução para o inglês da tese de doutorado de seu discípulo, Bertil Ohlin, em 1933. Como Ohlim havia sido
fortemente influenciado por Heckscher, essa argumentação ficou conhecida como Teoria de Heckscher-Ohlim.
4
comparativa na produção desse bem. Para VCRij maior que um (ou uma unidade), o produto i
exibe vantagem comparativa revelada; por outro lado, para valores menores que um (ou uma
unidade), o produto i exibe desvantagem comparativa revelada.

- Contribuição para o saldo comercial


Outro índice que pode contribuir na identificação da especialização das exportações é
o índice de contribuição para o saldo comercial (ICSC), definido por Lafay (1990). Ele
consiste na comparação do saldo comercial observado de cada produto, ou grupo de produtos,
com o saldo comercial teórico desse mesmo produto. O indicador ICSC de um produto ou de
grupo de produtos i, em uma região j, pode ser apresentado da seguinte forma:

100 (  )
 = ( −  ) − ( − ) 
( + )⁄2 ( + )

em que Xi representa as exportações e Mi, as importações do bem i. O primeiro termo entre


colchetes representa a balança comercial observada do produto i, enquanto o segundo
corresponde à balança comercial teórica do produto i. Quando o ICSCij for positivo, o produto
i exibe vantagem comparativa revelada. Por oposto, para valores negativos do ICSC, o
produto exibe desvantagem comparativa revelada.

- Fontes de Dados
Os índices foram calculados a partir dos dados do comércio exterior do Brasil e do
Estado de Mato Grosso fornecido pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da
Indústria, Comércio (SECEX/MIC), disponíveis no Sistema ALICE (Análise das Informações
de Comércio Exterior da Secretaria do Comércio Exterior). O período de estudo situa-se de
jan/1996 a dez/2010 para a analise da balança comercial e das exportações e importações,
para o calculo dos indicadores foram selecionados os anos de 2008 a 2010.
O Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet, denominado
ALICE-Web8, da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), foi desenvolvido com vistas a
modernizar as formas de acesso e a sistemática de disseminação dos dados estatísticos das

8
Disponível para acesso em http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/
5
exportações e importações brasileiras. O ALICE-Web é atualizado mensalmente, quando da
divulgação da balança comercial, e tem por base os dados obtidos a partir do Sistema
Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX), que administra o comércio exterior brasileiro.
Desde 1996 o sistema de classificação das mercadorias segue os padrões estabelecidos pelo
MERCOSUL. A NCM –Nomenclatura Comum do Mercosul, tem a finalidade de harmonizar
as informações sobre comércio exterior dos países membros.
Nesse trabalho optou-se por padronizar as informações em grupos de capítulos
segundo as seções já definidas pelo sistema NCM, tentando rastrear as cadeias produtivas
mais significativas para o Estado, assim foram agrupados em 12 grupos segundo capitulo e
posição (XX.XX), como segue:
- Carne Bovina: (01.02) Animais vivos da espécie bovina; (02.01) Carnes de animais
da espécie bovina, fresca ou refrigeradas; (02.02) Carnes de animais da espécie bovina,
congeladas; (41.15) Couro reconstruído, à base de couro ou de fibras de couro, em chapas,
folhas ou tiras, mesmo enroladas, aparas e outros desperdícios de couro ou de peles
preparados ou de couro reconstruído, não utilizáveis para fabricação de obras de couro;
serragem, pó de farinha de couro; (05.04.00.00) Tripas, bexigas e estômagos, de animais,
inteiros ou em pedaços, exceto de peixes, frescos, refrigerados, congelados, salgados ou em
salmoura, secos ou defumados de bovinos; (16.01.00.11) Enchidos e produtos semelhantes, de
carne, miudezas ou sangue, preparações alimentícias à base de tais produtos; (41.01) Couros e
peles em bruto de bovinos (incluídos búfalos) ou de eqüídeos; (41.04) Couros e peles curtidos
ou “crust”, de bovinos (incluídos búfalos); (41.07) Couros preparados após curtimenta ou
após secagem e couros e peles apergaminhados, de bovinos (incluídos os búfalos);
- Carne Suína: (01.03) Animais vivos da espécie suína. (02.03) Carnes de animais da
espécie sina, fresca, refrigeradas ou congeladas;
- Carne de aves: (01.05) galos, galinhas, patos, gansos, perus, gansos, perus, peruas e
galinhas d’angola, das espécies domésticas, vivos; (02.07) Carnes e miudezas, comestíveis,
frescas, refrigeradas ou congeladas, das aves da posição 01.05;
- Soja: (12.01) Soja, mesmo triturada; (23.04) Tortas e outros resíduos sólidos, mesmo
triturados ou em “pallets”, da extração do óleo de soja; (15.07) Óleo de soja e respectivas
frações, mesmo refinados, mais não quimicamente modificados;
- Milho: (10.05) Milho para semeadura e em grão.
- Algodão: (12.07.20) Sementes de algodão, (52) Algodão

6
- Arroz: (10.06) Arroz com casca, descascado, semi-branqueado, branqueado, polido,
brunido, quebrado.
- Metais Preciosos: (71) Pérolas naturais ou cultivadas, pedras preciosas ou
semipreciosas e semelhantes, metais preciosos, metais folheados ou chapeados de metais
preciosos, e suas obras; bijuterias; moedas
- Madeira e Carvão vegetal: (44) Madeira, carvão vegetal e obras de madeira, (45)
Cortiça e suas obras, (46) Obras de espartaria ou de cestaria, (47) Pastas de madeira ou de
outras matérias fibrosas celulósicas; papel ou cartão de reciclar (desperdícios e aparas) e (48)
Papel e cartão; obras de pasta de celulose, de papel ou de cartão;
- Adubo e fertilizante: (31) Adubo ou fertilizante de origem vegetal ou animal e
Adubo e fertilizante de origem química ou mineral.
- Ferro e ferro fundido: (72) Ferro fundido, ferro e aço, (73) Obras de ferro fundido,
ferro ou aço.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primeiramente analisa-se a balança comercial do Brasil e do Estado de Mato Grosso.


De acordo com a Tabela I, nota-se que os saldos da balança comercial do Brasil exibem
déficit no período 1996-2000. A partir de 2001, o saldo se inverte e passa a apresentar
superávit de US$ 2,68 bilhões. Por sua vez, no mesmo ano, o superávit da balança comercial
de Mato Grosso foi de US$ 1,26 bilhão. Portanto, esse valor respondeu por aproximadamente
47% do superávit registrado na balança comercial do País nesse ano, apontando a importância
dos produtos comercializados pelo Estado de Mato Grosso no comércio internacional e a sua
contribuição para os saldos positivos registrados na balança comercial do País.
Durante o período em análise (1996-2000), a economia mato-grossense exibiu saldos
positivos crescentes em sua balança comercial, porquanto, em 2007, o montante exportado é
cerca de seis vezes maior que o valor observado em 1996. Nesse cenário, a estratégia de
intensificação das trocas da economia regional com o mercado internacional tem se
constituído em uma das principais alternativas do modelo de crescimento ora em curso na
economia mato-grossense.
No entanto, os saldos positivos passam a desacelerar e diminuir a partir de 2004 e
segue nos anos de crise internacional o que evidentemente são reflexos nas diminuições das
inversões do comercio mundial como um todo.
7
Tabela 01: Brasil e Mato Grosso - Balança Comercial - 1996 - 2010 - US$ Bilhões
Brasil Mato Grosso
Anos Exportações Importações Saldo Exportações Importações Saldo
1996 47,75 53,35 (5,60) 0,66 0,06 0,60
1997 52,99 59,75 (6,75) 0,93 0,08 0,84
1998 51,14 57,76 (6,62) 0,65 0,08 0,57
1999 48,01 49,30 (1,29) 0,74 0,15 0,59
2000 55,12 55,85 (0,73) 1,03 0,09 0,94
2001 58,28 55,60 2,68 1,40 0,14 1,26
2002 60,44 47,25 13,19 1,80 0,21 1,59
2003 73,20 48,33 24,87 2,19 0,28 1,91
2004 96,68 62,84 33,84 3,10 0,42 2,68
2005 118,53 73,60 44,93 4,15 0,41 3,74
2006 137,81 91,35 46,46 4,33 0,41 3,93
2007 160,65 120,62 40,03 5,13 0,75 4,38
2008 197,94 172,98 24,96 7,81 1,28 6,54
2009 152,99 127,72 25,27 8,43 0,79 7,63
2010 201,92 181,65 20,27 8,45 0,99 7,46
Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

Para Mato Grosso, os saldos da balança comercial apontam para um resultado sempre
positivo, fato este que torna ainda mais importante a análise dos indicadores de vantagem
comparativa para o estado de Mato Grosso dada a sua maior inserção internacional. Para a
escolha dos 12 grupos, foi levada em consideração a sua representatividade na cartela de
produtos oferecidos e comprados por Mato Grosso, no caso das exportações essa
representativa chega a ser maior que 95%. No ano de 2009, o saldo foi de US$ 7,63 bilhões e
em 2010 o saldo foi de US$ 7,46 bilhões, valores que demonstram a importância que o
comércio externo tem na economia do Estado.
Sendo assim, estão dispostos na Tabela 02 o valor bruto das exportações, importações
e o saldo apresentado por essas cadeias selecionadas em 2009 e 2010. Como se podem
observar, as cadeias da carne bovina, carne suína, aves, soja, milho, algodão, arroz, metais
preciosos e madeira e carvão vegetal apresentam saldos positivos nos anos de 2009 e 2010. Já
as cadeias de adubos e fertilizantes, ferro e ferro fundido e matérias têxteis e suas obras
apresentam saldo negativos. O destaque fica por conta das cadeias da soja, milho e carne
bovina que juntas representam mais de 95% do saldo positivo alcançado em 2009 e 2010;
sendo que em 2009, a cadeia da soja era responsável por 78% do saldo positivo das cadeias
selecionadas, e em 2010 essa representatividade caiu para 68% em 2010.

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Tabela 02: Mato Grosso (Cadeias selecionadas) - Balança Comercial - 1996 - 2010 - US$ Milhões
2009 2010
Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo
Mato Grosso
Cadeias Selecionadas 8.326,84 576,92 7.749,91 8.381,36 820,31 7.561,06
Carne Bovina 585,96 - 585,96 809,84 - 809,84
Carne Suína 60,78 - 60,78 68,98 - 68,98
Carne de Aves 201,85 - 201,85 296,90 - 296,90
Soja 6.007,13 - 6.007,13 5.114,47 - 5.114,47
Milho 830,28 0,09 830,19 1.346,22 - 1.346,22
Algodão 379,74 0,26 379,48 406,14 0,40 405,74
Arroz 0,22 - 0,22 0,97 0,12 0,85
Metais Preciosos e pérolas 118,40 - 118,40 132,41 0,01 132,41
Madeira e Carvão vegetal 142,25 0,45 141,80 203,53 0,78 202,75
Adubo e Fertilizante - 563,76 (563,76) 1,86 761,21 (759,36)
Ferro e Ferro fundido 0,16 12,14 (11,98) 0,03 42,98 (42,95)
Matérias Têxteis e suas
obras exceto algodão 0,06 0,21 (0,16) 0,02 14,81 (14,78)
Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

A seguir são apresentados os indicadores de vantagem ou desvantagem comparativa


das cadeias selecionadas, como adiantando anteriormente é considerado detentor de
Vantagem os produtos ou grupos de produtos que apresentarem índice superior a uma unidade
(>1), revelando que o Estado ou a Região que exibe essa condição detém vantagens na
produção/exportação em relação ao país ou região de referência. Analisando-se a Tabela 03,
Mato Grosso possui vantagens apenas nas cadeias de soja, milho e algodão, onde apresenta
indicadores superiores a uma unidade.

Tabela 03: Mato Grosso - Vantagem Comparativa Revelada de Mato Grosso - 1996-2007
2008 2009 2010
MATO GROSSO
I Carne Bovina 0,76 0,55 0,71
II Carne Suína 0,21 0,33 0,39
III Carne de Aves 0,19 0,25 0,34
IV Soja 2,31 2,11 2,07
V Milho 3,13 3,86 4,21
VI Algodão 3,52 2,66 2,81
VII Arroz 0,04 0,00 0,04
VIII Metais Preciosos e pérolas 0,33 0,41 0,40
IX Madeira e Carvão vegetal 0,19 0,13 0,16
X Adubo e Fertilizante 0,00 0,00 0,04
XI Ferro e Ferro fundido 0,00 0,00 0,00
XII Matérias Têxteis e suas obras exceto algodão 0,00 0,00 0,00
Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

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Pode ser encarado como surpresa observar que mesmo em cadeias nas quais
apresentam saldo positivo nas exportações o indicador de vantagem comparativa não chegou
a uma unidade, como no caso das carnes: bovina, suína e aves, além de não chegar a uma
unidade outras cadeias já consideradas consolidadas no Estado, como madeira e carvão
vegetal. A teoria das vantagens comparativas indica que as economias devem se especializar
naquela nas quais já apresentam alguma vantagem, no entanto as cadeias com melhores
indicadores apresentam baixo valor agregado a produção.
Os produtos que mais contribuíram para esses resultados são os originários da
oleaginosa da soja, principalmente os grãos destinados à semeadura e os triturados, que são
exportados praticamente in natura para os mercados externos. A importância desse produto se
fundamenta na sua contribuição para a balança comercial do Estado, variando entre 19% a
mais de 50% do total do valor das exportações. Em 2006, somente os grãos de soja foram
responsáveis por 52,23% do valor total das exportações de Mato Grosso. Em termos
monetários isso representou mais de US$ 260 bilhões, e em volume, cerca de 9 mil t. Outros
grãos também se destacam como, por exemplo, o milho, que em 2007 foram mais de 3 mil t
exportadas, e o algodão, com mais de 6 mil t. Em 2010 esse volume chegou a mais de 8 mil
toneladas incluindo milho em grão, sem ser em grão e para semeadura.
A seguir têm-se o comportamento do indicador de vantagem comparativa para as
três cadeias que apresentaram vantagens: soja, milho e algodão.

Gráfico 02: Mato Grosso, segundo indicador de Vantagem Comparativa para as


Cadeias de Soja, Milho e Algodão, 2008-2010.
5,00
4,21
3,86
4,00 3,52
3,13
2,66 2,81
3,00 2,31 Soja
2,11 2,07
2,00 Milho
1,00 Algodão

0,00
2008 2009 2010

Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

No gráfico 02, é possível analisar o comportamento do indicador de vantagem


comparativa e argüir que enquanto os indicadores da soja e do algodão apresentaram queda no

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período analisado, o indicador do milho apresentou considerável melhora saindo de 3,13 em
2008 chegando em 2010 a apresentar um indicador de 4,21.
Outro indicador importante para analisar o comportamento de determinado
produtos, no comércio exterior, é o Índice de Contribuição à Balança Comercial (ICBC). O
ICSC deve ser interpretado da seguinte forma: quando o valor desse indicador for positivo,
têm-se vantagens comparativas, caso contrário, isto é, se o indicador for negativo, têm-se
desvantagens comparativas na exportação de determinado produto. Na Tabela 03 encontram-
se os indicadores das cadeias selecionadas. Dessa forma é possível identificar aqueles
produtos que contribuem mais para os saldos positivos na Balança Comercial.
Os indicadores do ICBC que tiveram saldo positivos entre 0 e 1 são os que
apresentaram pouca contribuição ao saldo na balança comercial, ou seja, seu desempenho
contribuiu muito pouco para o saldo positivo na balança comercial, sendo necessário uma
análise mais acurada de cada uma de seus componentes para melhorar sua contribuição ao
saldo na balança de comércio exterior.

Tabela 04: Mato Grosso - Índice de Contribuição ao Saldo Comercial de 2008 a 2010
2008 2009 2010
I Carne Bovina 1,05 0,43 0,78
II Carne Suína 0,05 0,04 0,07
III Carne de Aves 0,20 0,15 0,29
IV Soja 7,57 4,37 4,95
V Milho 0,79 0,60 1,30
VI Algodão 0,59 0,27 0,39
VII Arroz 0,00 0,00 0,00
VIII Metais Preciosos e pérolas 0,10 0,09 0,13
IX Madeira e Carvão vegetal 0,26 0,10 0,19
X Adubo e Fertilizante (10,22) (5,92) (7,53)
XI Ferro e Ferro fundido (0,38) (0,13) (0,43)
XII Matérias Têxteis e suas obras exceto algodão (0,00) (0,00) (0,15)
Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

A cadeia que apresentou grande contribuição ao saldo na balança comercial foi a


da soja apresentando em todos os anos indicador superior a 04, índice considerado muito
bom, no entanto pode-se observar também que a contribuição dessa cadeia vem diminuindo
nos anos observados, podendo ser indicador de perca de competitividade. Porém, há que se
considerar que os anos em análise são anos complicados para o comércio exterior como um
todo, representado ainda, por um período de recuperação da crise que assolou o comércio
mundial, e que acabou afetando, e muito, a balança comercial de produtos.

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Os gráficos seguintes ajudam a observar o comportamento de cada cadeia à
contribuição no saldo da balança comercial.

Gráfico 03: Mato Grosso - Índice de Contribuição ao Saldo Comercial 2008


10,00

6,00

2,00

-2,00

-6,00

-10,00

Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

Gráfico 04: Mato Grosso - Índice de Contribuição ao Saldo Comercial em 2010


10,00

6,00

2,00

-2,00

-6,00

-10,00
Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

Os indicadores de vantagem comparativa além, de apresentarem indicadores


consistentes para a análise da participação de uma economia no contexto internacional,
permitem um contraponto muito interessante para identificar os mercados nos quais a
economia em análise possui desvantagem, vejamos o caso dos produtos que selecionamos
para a análise da economia de Mato Grosso. Os produtos nos quais foram apresentados piores
indicadores, tanto de vantagem comparativa quanto de contribuição para a balança comercial,
são às de produtos como adubos e fertilizantes, ferro e ferro fundido. Esses são a base para a
12
produção dos produtos os quais mais possuímos vantagem, quando apontamos a soja, o
algodão e mesmo o milho como detentores de vantagens comparativas, temos que analisar
que a produção dessas commodities está intimamente ligada à utilização de adubos e
fertilizantes.
A soja, por exemplo, apresenta um indicador de contribuição positivo na ordem de
4,95 para o saldo, já o grupo do adubo e fertilizante contribuiu negativamente para o saldo da
balança comercial na ordem de 7,53 em 2010, quase o dobro. Essa análise isoladamente acaba
por indicar que apresentaríamos um saldo negativo em nossa balança comercial se tivéssemos
somente esses dois produtos em nossa pauta de exportação.
Esse indicador aponta para uma preocupação mais de longo prazo, que caminha em
direção a análise da sustentabilidade e da dependência que temos da cadeia da qual possuímos
maior vantagem frente aquela que temos maior desvantagem. Nesse sentido passamos agora a
uma breve contextualização sobre os maiores parceiros comerciais de Mato Grosso no
comercio internacional.
Entre os países que mais compram os produtos que Mato Grosso exporta estão os
países da Ásia (China,Tailândia, Irã, Indonésia, Arábia) e Europa (Holanda, Espanha, França)
e Rússia correspondendo por 67% do total exportado. Em dezembro de 2010, o valor
exportado chegou a US$ 633,49 milhões em relação a 2009, representando 16% a mais no
valor exportado (onde estão esses dados?). Destaque dado a China que importa 27% dos
nossos produtos seguida pela Holanda com 9% e da Tailândia com 6%.

Tabela 06: Mato Grosso: Exportações Países Compradores, 2009 e 2010.


2009 2010
PART.
PAÍS US$ FOB PART. % Acum. US$ FOB % Acum.
1 China 2.329.957.797 27,65% 27,65% 2.294.622.649 27,15% 27,15%
2 Países baixos (Holanda) 917.814.256 10,89% 38,54% 796.673.872 9,43% 36,58%
3 Tailândia 365.212.438 4,33% 42,87% 506.827.328 6,00% 42,57%
4 Irã 325.417.042 3,86% 46,74% 410.390.608 4,86% 47,43%
5 Espanha 410.381.447 4,87% 51,61% 378.441.875 4,48% 51,91%
6 Rússia 193.482.875 2,30% 53,90% 309.432.079 3,66% 55,57%
7 Itália 267.809.458 3,18% 57,08% 281.296.852 3,33% 58,90%
8 Indonésia 183.900.150 2,18% 59,26% 250.744.475 2,97% 61,86%
9 Arábia saudita 189.553.102 2,25% 61,51% 240.631.789 2,85% 64,71%
10 Franca 244.647.224 2,90% 64,42% 228.485.263 2,70% 67,42%
Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

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Gráfico 05: Mato Grosso países importadores 2010.

CHINA
27%

Outros
48%
PAISES BAIXOS
(HOLANDA)
9%
TAILANDIA
6%
IRA, REPUBLICA
ESPANHA ISLAMICA DO
5% 5%

Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

Em contrapartida os países dos quais compramos foram a Belarus com 17,56%, a


Rússia com 13,28% e os Estados Unidos com 12,03% respectivamente, por conta de nossa
pauta predominantemente vinculada aos insumos agrícolas e bens de capital, sendo que
apenas 10 países correspondem por mais de 85% de tudo que Mato Grosso Importa.
Fato relevante quando analisamos a dependência que possuímos de determinados
fornecedores de matéria prima, pois entre os produtos que mais importamos estão: uréia,
nitrados e adubos de forma geral; maquinas e equipamentos.

Tabela 07: Mato Grosso: Importações – Países vendedores, 2009 e 21010.


País 2009 2010
US$ PART. % Acum US$ PART. % Acum.
1 Belarus 134.563.624 16,98% 17% 173.694.798 17,56% 18%
2 Rússia 172.092.338 21,72% 38,70% 131.365.896 13,28% 30,85%
3 Estados unidos 123.427.649 15,58% 54,28% 118.963.161 12,03% 42,88%
4 Canadá 31.618.597 3,99% 58,27% 95.695.548 9,68% 52,55%
5 Israel 14.200.390 1,79% 60,06% 89.498.835 9,05% 61,60%
6 Alemanha 89.532.254 11,30% 71,36% 86.573.412 8,75% 70,36%
7 China 49.038.590 6,19% 77,55% 57.716.960 5,84% 76,19%
8 Ucrânia 12.563.183 1,59% 79,13% 36.558.597 3,70% 79,89%
9 Argentina 21.352.671 2,69% 81,83% 32.715.893 3,31% 83,20%
10 Japão 7.346.192 0,93% 82,75% 20.778.222 2,10% 85,30%
Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

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Gráfico 05: Mato Grosso países importadores 2010

BELARUS;
17,56%

Outros; 38,40% RUSSIA;


13,28%

ESTADOS
UNIDOS;
ISRAEL; 9,05% 12,03%
CANADA;
9,68%

Fonte: Elaboração própria sobre a base de dados do Sistema ALICE/SECEX

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que o relacionamento com o exterior é importantíssimo para o estado de


Mato Grosso, haja vista a crescente inserção que os produtos de Mato Grosso almejam frente
a novos consumidores. Mato Grosso já possui posição de destaque entre os Estados
exportadores sendo responsável por 14% do valor exportado em 2010, e seu saldo na balança
comercial corresponde a 23% do saldo alcançado pelo Brasil no mesmo ano.
No entanto uma preocupação a mais deve ser destaque às políticas que fomentam a
participação do Estado nesse comércio, em principal se relacionam ao tipo de produtos que
estamos fornecendo, se estes são capazes de serem realmente detentores de vantagens
competitivas, se representam ganhos positivos no emprego e se possuem valor agregado entre
outras questões importantes a serem levadas em conta quando se oferece uma mercadoria.
Por outro lado, quando se compra produtos e estes são a base principal de sua
vantagem competitiva, há que se indagar se está realmente é uma vantagem. Analisando os
parceiros de relacionamento econômico pode-se evidentemente perceber que ainda
“compramos” de grandes e tradicionais compradores como Estados Unidos e China, quando
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poderíamos vender para uma gama muito maior de países e assim, analisar a possibilidade de
fazer novos parceiros.
Um fato que merece destaque é uma maior diversificação dos produtos que são
exportados por Mato Grosso. Pode-se perceber algum grau de processamento que indicam
uma maior agregação de valor, haja vista uma maior participação dos setores da indústria
alimentícia de forma geral, tais como no da carne por exemplo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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World Bank, 1965

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mudança na estrutura e perspectivas”, Revista Econômica do Nordeste., Fortaleza, 2004.

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VICENTE, J. R. Competitividade do agronegócio Brasileiro 1997-2003. Revista de


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