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Índice
1. Introdução..................................................................................................................2

2. Revisão da literatura...................................................................................................3

2.1. A simbologia do espaço das personagens em Mayombe....................................3

3. Análise da obra...........................................................................................................7

4. Conclusão.................................................................................................................12

5. Referências bibliográficas........................................................................................13
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1. Introdução

Mayombe, romance escrito em 1971 e publicado em 1980 narra a trajectória de luta dos
guerrilheiros anticoloniais na floresta do Mayombe, onde está montada sua principal
base militar, bem como as estratégias da luta armada, na perspectiva de combate ao
regime colonial, bem como a libertação de Angola do jugo dominador e opressivo de
Portugal. A partir do mesmo tem-se como simbologia preponderante neste enredo o
espaço das personagens. O escritor Angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos
Santos, conhecido por Pepetela mostra, em Mayombe, sua visão da Guerra Colonial e
do Movimento Popular de Libertação de Angola do qual participou. A obra de Pepetela
mostra a história de Angola desde a época anterior ao colonialismo durante a luta pela
independência, no Mayombe, denunciando os problemas do país e criticando as classes
dominantes.

Esse enclave angolano configura-se como uma espécie de entrelugar entre Angola e o
Congo, flutuando, simbolicamente, em termo de constituição de identidade e imaginário
literária, no espaço de confrontos e pactos ideológicos entre os guerrilheiros. Todos os
guerrilheiros, cada um a seu modo, representando as diversas facetas das classes sócias
em Angola. Os fatos narrados em Mayombe se desenvolvem em dois espaços
geograficamente distintos: a floresta tropical de Cabinda da qual, não aleatoriamente,
provém o título da obra; e o espaço urbano que está representado através de Dolisie,
povoado civil mais próximo. No entanto, a maior parte das acções e conflitos narrados
desenvolve-se no espaço geográfico do Mayombe.

Portanto, a análise da simbologia do espaço das personagens em Mayombe tem por


objectivo compreender o símbolo que o espaço das personagens representa para a luta
de libertação de Angola. Contudo, para a efectivação desta análise recorreu-se ao
método bibliográfico, em que consultou-se algumas obras que abordam sobre o tema em
análise, e método analítico no qual fez-se uma análise geral da obra Mayombe.
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2. Revisão da literatura
2.1. A simbologia do espaço das personagens em Mayombe

Em Mayombe, a experiência dos guerrilheiros angolanos na luta pela independência de


Angola, fica expressamente notável a busca pela identidade nacional, já que a o enredo
procura mostrar as diferentes visões daqueles momentos em que se gastavam os sonhos
e anseios da libertação nacional. O texto é impregnado de diálogos, em que as ideias são
desenvolvidas e estendidas por cada personagem através da oralidade (marca das
culturas tradicionais africanas), caracterizando assim o carácter subversivo da obra
(durante o período colonial havia uma política rígida e violenta de controle da
disseminação das ideias anticoloniais).

Um elemento estético importantíssimo para entendermos a complexidade do romance, é


a questão do espaço. Temos a floresta Mayombe como elemento condicionador do
comportamento e atitudes das personagens, sendo ela a personagem protagonista da
estória. Mayombe oferece abrigo, alimento, protecção, afecto, ao mesmo tempo que
condena as personagens a uma vida de solidão, privação, medo, angústia e sofrimento.

“A mata criou cordas nos pés dos homens, criou cobras à frente dos homens, a
mata gerou montanhas intransponíveis, feras, aguaceiros, rios caudalosos, lama,
escuridão, Medo. A mata abriu valas camufladas de folhas sob os pés dos
homens, barulhos imensos no silêncio da noite, derrubou árvores sobre os
homens. E os homens avançaram. E os homens tornaram-se verdes, e dos
braços folhas brotaram, e flores, e a mata curvou-se em abóbada, e a mata
estendeu-lhes a sombra protectora, e os frutos (...) ”. (PEPETELA, 2013, p. 68).

A floresta é a força propulsora, ao mesmo tempo desafiadora do projecto idealista dos


guerrilheiros. Ela representa a mãe que protege, mas também oferece desafios para o
amadurecimento e emancipação dos seus filhos. Mayombe nos aparece como símbolo
da tradição e do fortalecimento da identidade angolana, por ser ela a imagem de poder e
associação à própria força do Homem angolano para a conquista da tão esperada e
sonhada liberdade.

Francisco Noa, em Império, mito e miopia (2002, p. 116), afirma que, no romance
colonial, a representação do espaço está presente em todos os segmentos discursivos: na
própria descrição, na narração, nos diálogos e nos monólogos. Nessa literatura, conclui
o pesquisador, o espaço é uma imensidade performativa, que preside tanto ao processo
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de enunciação como atravessa toda a narrativa. No que diz respeito ao romance de


Pepetela, que certamente não está inserido no paradigma colonialista, é possível
observar algumas dessas características espaciais. A narrativa se “move entre Mayombe,
a grande floresta da região de Cabinda, e Dolisie, pequena cidade na República Popular
do Congo” (MATA, 2006, p. 45). Todavia, ainda que tenha como topos a floresta, e que
o espaço assuma uma importância reconhecida na composição do enredo, Rita Chaves
argumenta que a narrativa é um contraponto à literatura colonial. Rita Chaves (2010, p.
14).

Em Mayombe, sem dúvida, o espaço assume essa função performativa, todavia


o ponto de vista da narrativa determinará uma sensível alteração na
consideração do lugar onde se passam as acções. A floresta, por onde circulam
as personagens, não apenas as abriga, mas interage com elas, e integra
produtivamente um jogo em que se configuram relações discursivas, percepções
contingenciais da experiência presente, visões de mundo, projectos de uma
identidade em construção. Com essa politização do espaço, Pepetela oferece um
contraponto a uma tendência dos escritores coloniais para os quais a natureza
africana era, indistintamente, o mato. Dissolve-se a carga do exotismo central
no discurso do colonizador e o colonizado imprime a sua marca, transformando
a sua paisagem em força dialogante. (MATA, 2006, p. 80)

Aí, o espaço assume, então, significações plurívocas que o tornam um sema


conotactivamente privilegiado (SECCO, 2008, p. 53). Por conseguinte, o “mato” é
transformado em espaço humanizado, lugar de interacções e tensões sociais,
económicas, culturais e civilizacionais.

Além disso, Mayombe transforma-se também num espaço politizado, onde vozes
marginalizadas tomam o lugar do discurso e da acção na reconquista do território (em
amplo sentido). Nas palavras da professora Tindó Secco, “Mayombe, floresta húmida,
cheia de lama fecundante, é metáfora do útero de Angola parindo a Revolução”
(SECCO, 2008, p. 55).

Enquanto as narrativas de combate, no contexto da literatura angolana, sempre tomaram


Luanda como lugar privilegiado da gestação do país, a floresta tropical, neste caso, é
que representa, metonimicamente, o coração de Angola (MATA, 2006, p. 46).
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Como destaca a autora, os espaços narrativos, de modo geral, relacionam-se à ideia de


espaço utópico, do desejo, metáfora de uma nação que se quer construir. Todavia, para
que assim se efective, é necessário vivê-los, previamente, como espaços atópicos, de
guerrilha. Talvez por isso, a primeira descrição da floresta, no romance, remeta
inicialmente à ideia de prisão: “as árvores enormes, das quais pendiam cipós grossos
como cabos, dançavam em sombras com os movimentos das chamas. Só o fumo podia
libertar-se do Mayombe e subir, por entre as folhas e as lianas, dispersando-se
rapidamente no alto” (PEPETELA, 2004, p. 11).

Embora a natureza tenha sido vista pelo colonizador português como espaço infernal,
ela sempre foi também opção de enriquecimento e exploração, de forma que a economia
colonial angolana caracterizava-se pelo extrativismo e, principalmente, pela exploração
de metais preciosos. Todavia, os exploradores encontravam muitas dificuldades de
acesso aos bens naturais, não só pelo desconhecimento do território, mas principalmente
porque a relação que os reinados africanos tinham com esses ia muito além da questão
meramente económica. Para os povos autóctones, “os minerais estavam inseridos numa
visão de mundo marcada pela ideia de equilíbrio entre as várias forças da natureza”
(GONÇALVES, 2011, p. 35)

Entretanto, no decorrer da narrativa, o rio assume o papel de bússola, de norte que


conduz os guerrilheiros em suas andanças e missões pela floresta. É o lugar de
conversas e desabafos, de encontros. A natureza, ao mesmo tempo em que é
esconderijo, é também o confessionário, lugar de embates individuais e colectivos.
(AGUIAR, 2010).

Na óptica de Aguiar (2010) a floresta é associada a um deus. Conhecida também como


Ilê, o mito de Onilé parece representar a relação entre os guerrilheiros e a terra.
Semelhante à tradição grega, é Onilé, a Terra, quem, metaforicamente, dá vida aos titãs
(neste caso, os integrantes do MPLA), e os protege na revolta contra o invasor: a mata
criou cordas nos pés dos homens, criou cobras frente dos homens,

a mata gerou montanhas intransponíveis, feras, aguaceiros, rios caudalosos,


lama, escuridão, Medo. A mata abriu valas camufladas de folhas sob os pés dos
homens, barulhos imensos no silêncio da noite, derrubou árvores sobre os
homens. E os homens avançaram. E os homens tornaram-se verdes, e dos seus
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braços folhas brotaram, e flores, e a mata curvou-se em abóbada, e a mata


estendeu-lhes a sombra protectora, e os frutos. (PEPETELA, 2004, p. 68)

Numa relação quase conflituosa, de embate entre os homens e o deus-Mayombe, os


elementos da floresta misturam-se aos corpos e passam a constituí-los, ligando-os a
terra (LESQUIVES, 2011). Estes, ao se apossarem da floresta, lutam, como titãs, pela
harmonia angolana (em contexto global e local). E a terra, que estivera a serviço e fora
explorada pelo colonizador, passa então a abrigar os autóctones.

“Uma das imagens recorrentes na construção de seu espaço narrativo é a percepção de


Mayombe como útero, símbolo não apenas de acolhimento e protecção dos
guerrilheiros, mas gestação do ideal e da práxis revolucionária”. (MARTINS, 2010).

A Floresta do Mayombe é o deus intransponível. E um ambiente que comporta


mistérios. É um lugar exterior que pela sua imagem permite expressar o não-lugar, o
inexpressivo do interior. A floresta do Mayombe é um ambiente paradoxal que, ao
mesmo tempo em que une os iguais, conflitua os diferentes, assim como protege, cria
obstáculos (VÁZQUES, 2001).

A floresta do Mayombe também pode ser configurada como um local utópico. Essa
configuração deve-se não só por ser descrita como algo paradoxal, visto que o conceito
de utopia em si já é um paradoxo, mas por ser um ambiente de partilha e comunhão. Um
outro factor que ajuda na configuração da floresta como um meio utópico é o fato de
esta encontrar-se protegida das influências externas. Existe uma espécie de aura que se
forma em tomo da floresta para proteger os que ali sobrevivem.

A floresta é o ambiente de contacto entre tropas do exército português e tropas


angolanas. Dessa forma, Mayombe reúne os iguais e os posiciona em grupos distintos;
colonizador versos colonizado. Entretanto, há um outro tipo de conflito que os
angolanos terão de superar para que o colonizador possa ser realmente derrotado. As
diferenças etno-grupais é que deveriam ser superadas antes do confronto com o
colonizador. (VÁZQUES, 2001).
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3. Análise da obra

Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, mais conhecido como Pepetela, seu
pseudónimo, nascido em 29 de Outubro de 1941, na cidade de Benguela, tem
descendência portuguesa, e foi um dos principais intelectuais engajados na luta pela
libertação do seu país. Em sua vasta obra, abordou temas relacionados à Revolução
vivenciada por ele não só como membro do MPLA (Movimento Popular de Libertação
de Angola), a partir de 1963, mas também como um dos principais activistas do
movimento revolucionário que reivindicava o direito a liberdade para os angolanos.

A obra em análise é um romance, dividido em períodos e seis capítulos, sendo eles: A


Missão; A Base; Ondina; A Surucucu; A Amoreira e o Epilogo. O romance Mayombe
se aproxima de um texto documental ou de reportagem. Isso porque Pepetela nos
apresenta as lutas entre os guerrilheiros angolanos e as tropas portuguesas durante a
libertação do país. O autor do livro ressalta a dificuldade dos guerrilheiros, enfatizando
as diferenças e as rivalidades entre as tribos. Muitas vezes, esse problema gera a falta de
um ideal entre todos. As personagens que desenvolvem a acção no romance são: Teoria
(professor da base pertencente ao MPLA, filho de um português com uma africana);
Comissario (um dos lideres do MPLA); Chefe das operações (um dos lideres do
MPLA); Sem Medo (o comandante do MPLA); Lutamos (guerrilheiro do MPLA);
Verdade (guerrilheiro do MPLA); Muatiânvua (guerrilheiro do MPLA); Ekuikui
(guerrilheiro do MPLA); Pangu-A-Kitina (guerrilheiro do MPLA); Milagre
(guerrilheiro do MPLA); Ingratidão do Tuga (guerrilheiro do MPLA); Vewê
(guerrilheiro do MPLA); Mundo Novo (guerrilheiro do MPLA); André (primo do
comandante, responsável pelo envio de alimentos à Base) e Ondina (professora e noiva
do Comissário).

Portanto, Pepetela deixa claro que as rivalidades devem ser deixadas de lado. Pois, os
sentimentos, as angústias, os medos são de todos. Através do quotidiano no MPLA,
Pepetela recria de forma inovadora os conflitos e os momentos de reflexão de todos que
lutavam por um país livre.

De tal modo, o conflito aqui não é somente com os portugueses, mas sim entre eles. A
liberdade é o foco de todos, no entanto, a realidade é marcada pelas diferenças sociais e
culturais de cada grupo. Assim, ele aborda sobre uma Angola que almeja a libertação,
ao mesmo tempo que demostra a falta de unidade de seus grupos.
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No que diz respeito a temática a obra apresenta vários assuntos que correlacionam-se,
sendo um deles, o tribalismo, que é muito explorado na obra, pois as diferenças étnicas
dividem os personagens onde uns pertencem aos Kimbundo, outros aos Kikongo,
Kiluange, Umbundo e os destribalizados. A outra temática envolve a exploração de
madeira ao povo o que era usado através dos seus instrumentos e sua força no abate das
árvores do Mayombe, gerando deste modo o sentimento de ser livre da exploração
colonial portuguesa, tocando desta forma em uma outra temática, a de
libertação/liberdade.

Tocando a estilística, a obra, como é de característica do escritor Pepetela há presença


de várias figuras de estilo que são usados tanto na narração, como também nos diálogos
entre os personagens do romance. Entretanto, temos como uma das figuras de estilo
antítese, usado no seguinte período, “O Comandante Sem Medo contemplou-o
fixamente, enquanto o professor se sentava gritando calado para esconder as dores
insuportáveis. Estou arrumado, pensou”. (Pepetela, p.5). O narrador ao usar o termo
gritando calado, traz uma ideia de contraste dessas duas ideias, pois ao gritar-se a
tendência é do individuo soltar um som, mas neste período mostra-se o contrário. Há
presença da Interrogação retorica: “Mas quantas árvores abate por dia a vossa
equipa? Umas trinta. E quanto ganha o patrão por cada árvore? Um dinheirão. O que
é que o patrão faz para ganhar esse dinheiro? Nada, nada. Mas é ele que ganha. E o
machado com que vocês trabalham nem sequer é dele. É vosso, que o compram na
cantina por setenta escudos. E a catana é dele? Não, vocês compram-na por cinquenta
escudos. Quer dizer, nem os instrumentos com que vocês trabalham pertencem ao
patrão. Vocês são obrigados a comprá-los, são descontados do vosso salário no fim do
mês. As árvores são do patrão? Não. São vossas, são nossas, porque estão na terra
angolana. Os machados e as catanas são do patrão? Não, são vossos. O suor do
trabalho é do patrão? Não, é vosso, pois são vocês que trabalham. Então, como é que
ele ganha muitos contos por dia e a vocês dá vinte escudos? Com que direito?”(p.20)
Nestes períodos o narrador aconselha os trabalhadores a desistirem do trabalho em que
são impostos pelos colonizadores, através de questões que põe-os a reflectirem sobre o
trabalho forçado e maus tratamentos perpetuados pelos colonialistas, isto é,
interrogações retóricas. Observa-se a presença de Anáfora, o narrador repete nos
períodos seguidos o vocábulo “porquê”, dando enfase e ritmo ao período. Pode-se
observar esta figura de estilo nos seguintes períodos: “Porquê Sem Medo abandonara o
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curso de Economia, em 1964, para entrar na guerrilha? Porquê o Comissário


abandonara Caxito, o pai velho e pobre camponês arruinado pelo roubo das terras de
café, e viera? Talvez o Comissário tivesse uma razão mais evidente que os outros, sim.
Porquê o Chefe de Operações abandonara os Dembos? Porquê Milagre abandonara a
família? Porquê Muatiânvua, o desenraizado, o marinheiro, abandonara os barcos
para agora marchar a pé, numa vida de aventura tão diferente da sua?” (p.7.). Está
patente a Metáfora, o narrador faz uma comparação sem usar um termo comparativo,
isso observa-se no seguinte período, “Somos cegos, pois não temos os olhos e as
antenas, que são o povo.” (p.9). Encontra-se patente a Personificação: esta figura de
estilo é muito usada nessa obra, os componentes da floresta são elevados a nível de uma
pessoa, sendo atribuídas características humanas, pode-se observar nos seguintes
períodos: «As folhas secam estalavam sobre as botas, mas os estalos eram abafados
pela ruidosa serra devastando o Mayombe.» (Pepetela, p.15). «As casas tinham sido
levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos
e folhas para as encobrir. … Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se
à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-
se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais.» (p.42). Há presença
da Enumeração: o narrador serve-se desta recurso estilístico para poder enumerar e
descrever diferentes características do espaço e sentimentos das personagens do
romance, observa-se esta característica em seguintes períodos «Depois da serra lhe
cortar o fluxo vital, os machados tinham vindo separar as pernas, os braços, os pelos,
ali estava, lívido na sua pele branca, o gigante que antes travava o vento e enviava
desafios as nuvens» (p.15) «O que é vosso, os machados, as catanas, os canivetes, os
relógios, o dinheiro, tudo o que é vosso, vocês vão levar convosco.» (p.21). Também
pode-se observar a Hipérbole, ao socorrer-se desta figura de estilo narrador procura
exagerar a acção ou o sentimento das personagens do romance, temos como exemplos
os seguintes períodos: «Milagre voando sobre os troncos,…» (p.16), «o trabalhador
desapareceu na curva do regato, rasgando o ventre nas pedras…» (p.16), «o tuga
esmagava o acelerador,…)» (p.17) «O tuga esmagava o acelerador, as duas mãos
aduncas eram tenazes sobre o volante.» (p.17). Encontra-se presente o Assíndeto: o
narrador faz o uso desta figura de estilo para poder suprimir as conjunções que
poderiam ligar os termos do período, pode-se observar nos seguintes períodos, «O que é
vosso, os machados, as catanas, os canivetes, os relógios, o dinheiro, tudo o que é
vosso, vocês vão levar convosco.» (p.21) «A mata criou cordas nos pés dos homens,
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criou cobras à frente dos homens, a mata gerou montanhas intransponíveis, feras,
aguaceiros, rios caudalosos, lama, escuridão, Medo.» (p.42.). Há presença de
Polissíndeto: «E os homens tornaram-se verdes, e dos seus braços folhas brotaram, e
flores, e a mata curvou-se em abóbada, e a mata estendeu-lhes a sombra protectora, e
os frutos.» (p.42). Ao contrario do que acontece na figura de estilo anterior, este recurso
estilístico, o narrador socorre-se dele para enriquecer e dar mais enfase período, usando
constantemente a conjunção “e”. E por fim temos a Elipse «E os homens, vestidos de
verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais.»
(p.42), neste período, observa-se que o narrador omitiu uma palavra ao descrever as
vestes que os homens haviam vestidos, omitindo neste caso a palavra roupa/vestes,
como forma de tornar a frase mais simples.

Quanto a simbologia, a obra apresenta a floresta Mayombe como o maior símbolo no


desenvolvimento do enredo do romance. Ela representa aos guerrilheiros a protecção,
pois era desconhecido pelo colonizador, também representa o medo, em cuja floresta
cheia de lamas e monstros. Mayombe era o deus vegetal que abrigava os homens, mas
que também obrigava as vozes a saírem ciciadas.

E assim,

“Voltaram a retirar a arma a Ingratidão do Tuga. Não fizeram guarda. À


noite, na mata, o melhor guarda era a impenetrabilidade do Mayombe.
(…) Os morteiros, alias, não eram utilizados como arma ofensiva, mas
apenas para levantarem o moral dos soldados tugas, cercados numa mata
desconhecida e temível, que escondia monstros aterrorizantes. O barrulho
acalmava-os. Dava-lhes consciência do seu poderio, protegia-os do seu
próprio medo”. (PEPETELA, 1982, p.55-56)

Quanto ao género literário, a obra pertence ao género narrativo. Apresenta um narrador


omnisciente e omnipresente, que narra os eventos em terceira pessoa. Todavia, em
alguns trechos, ela é narrada em primeira pessoa pelos guerrilheiros do movimento.
Sendo assim, o romance é marcado pela polifonia, ou seja, as diversas vozes de seus
personagens. O tempo da narrativa é cronológico, donde as acções apresentam uma
linearidade.

No que concerne a periodização literária, o romance pertence ao sétimo período,


denominado Renovação na literatura angolana. Isto de acordo com a periodização
literária da literatura angolana de Pires Laranjeira. Desse período, uma das obras ganha
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destaque sobretudo porque incomoda os poderes políticos. Trata-se do romance


Mayombe, de Pepetela, uma narrativa escrita na guerrilha e que traz como característica
a contestação, a denúncia, o compromisso com a realidade sociocultural que o escritor
por meio dos seus personagens convoca todos a engajar-se.
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4. Conclusão

Da mesma maneira que Pepetela dedica a obra “aos guerrilheiros do Mayombe”, de


forma abrangente, a fim de que todos os combatentes possam sentir-se homenageados, o
escritor, ao trazer personagens sem nomes próprios apenas com nomes de guerra que
condizem com as características físicas e/ou psicológicas delas, ou com a função que
elas exercem dentro do grupo, proporciona aos ex-guerrilheiros a identificação com
qualquer uma das personagens.

Na floresta situada em Cabinda, os guerrilheiros fazem a luta e discutem sobre sua


realização e seus desdobramentos. Ali, ameaçados por tantos perigos, perdem-se em
longas conversas a respeito do que deverá ser o país após a independência. A
singularidade da situação exprime-se também na força dos diálogos com que se compõe
o romance. Descrito pelo narrador titular como o espaço do silêncio, o Mayombe
transfigura-se na verdade no reino da palavra. A tensão é patente, mantida pelo perigo
externo e pela inevitabilidade de conflitos internos, no entanto pode-se perceber também
a importância da palavra como processo de organização das consciências e meio usado
de forma exaustiva para assegurar a comunicabilidade entre homens, histórias e
projectos.

Confirmando a importância do espaço como elemento essencial em seu texto, o autor


faz da floresta muito mais do que um palco para as acções que serão narradas.
Atribuindo-lhe um papel dinamizador naquele momento da história de Angola, ele
investe na sua personificação. Invadida, destruída, maltratada pelo colonizador, a
natureza não chegou a ser por ele compreendida, e agora se converte ela própria em
ameaça. Sua exuberância, tão cantada nas páginas da chamada literatura colonial, como
evidência da grandiosidade do império português, parece revelar agora a face infernal
de um mundo nunca dominado.

Assim, fazendo da narrativa, alegorizada pela floresta, o espaço do diálogo, narrador e


personagens em Mayombe, constroem-se a partir de um processo vivo que reúne
identidades e diferenças, coincidências e dissidências, homologias e rupturas. Se
consideramos que uma das estratégias do colonialismo era impedir a circulação das
ideias, bloqueando as trocas culturais entre os vários grupos, percebemos a importância
desse clima de exteriorização de valores e diferenças como já um ato subversivo.
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5. Referências bibliográficas
 AGUIAR, Adriana. Vozes silenciadas, palavras evocadas: conceitos de história
em Mayombe. In: Estação Literária, Revista do Programa de Pós-graduação em
Letras da Universidade Estadual de Londrina, v. 8A, dez, p. 106-117, 2011.
Disponível em: <www.uel.br/pos/letras/EL/vagao/EL8AArt12.pdf>. Acesso em:
Junho. 2021.
 CHAVES, Rita. A propósito da narrativa contemporânea em Angola: notas
sobre a noção de espaço em Luandino e Ruy Duarte de Carvalho. In: SECCO,
Carmen T.; SALGADO, Mª T.; JORGE, Silvio R (orgs.). África, escritas
literárias: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e
Príncipe. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Angola: UEA, 2010. p. 13-22.
 GONÇALVES, Jonuel. A economia ao longo da história de Angola. Luanda:
Mayamba, 2011.
 LESQUIVES, Juliana. Mayombe: espaço e polifonia na construção da nação.
In: Verbo 21: cultura e literatura, v 5, dez, 2011. Disponível
em:<http://www.verbo21.com.br/v5>. Acesso em: Junho. 2021.
 MATA, Inocência. Ficção e História na literatura angolana: o caso de Pepetela.
Luanda: Mayamba, 2010.
 NOA, Francisco. Império, mito e miopia: Moçambique como invenção literária.
Lisboa: Caminho, 2002.
 PEPETELA. Mayombe. Luanda: Edições Maianga, 2004.
 SECCO, Carmen L. Tindó. A magia das letras africanas: ensaios sobre as
literaturas de Angola, Moçambique e outros diálogos. 2. ed. Rio de Janeiro:
Quartet, 2008.
 MARTINS, Aulus Mandagará. Ipotesi- Revista de Estudos Literários, 2ª Ed.,
V.14, 2010.
 VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Entre a realidade e a utopia. Ensaios sobre
política, moral e Socialismo. Trad. Gilson B. Soares. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001.
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2º Grupo
Aida de Alima Lazaro
Helena Simão Paulo
Samuel Luís Joina
Lavinessi Simão Paulo
Sulvai Júlio Andissene
Xavier José Domingos

O ensino da língua portuguesa em Moçambique no Ensino Secundário do 1º ciclo


Apreciação crítica do programa de ensino da 8ª, 9ª e 10ª classe (vocabulário e escrita)

Universidade Púnguè
Chimoio
Junho, 2021
15

2º Grupo

Aida de Alima Lazaro

Helena Simão Paulo

Samuel Luís Joina

Lavinessi Simão Paulo

Sulvai Júlio Andissene

Xavier José Domingos

A simbologia do espaço das personagens em Mayombe de Pepetela

Trabalho de investigação científica de carácter


avaliativo da cadeira de Literaturas Africanas de
Língua Portuguesa II, curso de Português 3º ano,
a ser entregue na Faculdade de Letras, Ciências
Sociais e Humanidades, Departamento de
Linguística e Tradução, sob orientação do
docente: Mrs. Juma Manuel

Universidade Púnguè

Chimoio
16

Junho, 2021

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