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Mundaka Upanishad 2
Mundaka Upanishad 2
OM!
Possamos nós, Ó deuses, ouvir com os nossos ouvidos o que é auspicioso.
Possamos nós, Ó adoráveis deuses, ver com os nossos olhos o que é bom!
Possamos nós, com membros e corpos fortalecidos, cantar louvores e desfrutar a vida que nos foi
dada por Prajapati!
OM, paz, paz, paz!
[Invocação inicial da Mundaka Upanishad] 2
a) Introdução de Shankaracharya
Todavia, esta Upanishad primeiro estabelece que o conhecimento denominado inferior [apara
vidya], discutido no Rig Veda, no Yavur Veda e outros, consistindo de injunções proibitivas e
autoritárias, não pode destruir a ignorância [avidya], a qual é a causa do samsara ou existência
relativa. Em seguida, a Upanishad distingue o Conhecimento Superior [Para Vidya] do
conhecimento inferior. Posteriormente, a Upanishad descreve o Conhecimento de Brahman,
cujo significado é a obtenção do Absoluto que pode ser conseguido pela vontade do
orientador espiritual, somente após o discípulo cultivar a dissipação de todas as coisas
consideradas como tarefas mundanas, extinguindo-as.
1
Síntese-reprodução do Capítulo 6, Mandaka Upanishad, combinada com a parte pertinente contida no
Capítulo 11, intitulado “O que ensinam as Upanishads”, do livro As Upanishad, de Carlos Alberto Tinôco,
publicado em São Paulo, pela IBRASA, em 1996. De responsabilidade de Sarvananda Deva.
2
Observar que é a mesma Invocação da Prasna Upanishad.
b) O que a Mundaka Upanishad ensina sobre: 3
“Como a teia que é produzida pela aranha, como as plantas que germinam sobre a terra, como
os cabelos que crescem sobre a cabeça e o corpo do homem, desse modo, do Imperecível
nascem todas as coisas deste universo” [Mundaka Primeira (1,7)].
“Brahman expande-se por meio da austeridade. Dele, surgiu a matéria primordial; desta
surgiu o Prana, e do Prana, surgiu a mente, desta, surgiram os cinco primeiros elementos, as
palavras, a ação e a ordem total” [Mundaka Primeira (1,8)].
“Quem conhece tudo e compreende todas as coisas, percebe que Dele, o Imperecível
Brahman, nascem Brahma, nome, forma e comida” [Mundaka Primeira (1,9)].
“Àquele que conhece tudo e percebe todas as coisas, pertence toda a glória do mundo; Ele, o
Atman está localizado na fulgente morada de Brahman [o coração]. Ele assume a forma da
mente e conduz o corpo sutil, após a morte, ao corpo denso. Ele reside no corpo físico dentro
do coração. Conhecendo Aquele que brilha e que é imortal Atman, o sábio a Ele pertence, Ele
que está em todas as coisas” [Mundaka Segunda (2,7)].
“Este Atman, resplandecente e puro, percebido pelos samnyasins no interior de seus corpos, é
percebido através da prática contínua de austeridade, da veracidade, do correto conhecimento
e da continência” [Mundaka Terceira (1,5)].
“Brahman não é atingido pela visão, nem pela fala, nem por outros órgãos dos sentidos, nem
através das penitências ou práticas rituais. Um homem torna-se puro através da serenidade do
3
Ao invés de reproduzir o texto integral da Mundaka Upanishad, este sintetizador optou pela citação de versos
vinculados aos tópicos do Capítulo 11 do livro de Tinôco. Vide nota de roda pé n.°1. Para cada tópico citar-se-á
apenas um verso ou um conjunto de versos seqüenciados, apesar da indicação ampla, em regra, de Tinôco com
vários versos e/ou conjunto de versos seqüenciados. A escolha recaiu exatamente naqueles que este sintetizador-
reprodutor entende ser neste momento o mais representativo por facilidade de entendimento.
intelecto; em meditação, Ele pode ser contemplado uno e sem partes” [Mundaka Terceira
(1,8)]. 4
“O Atman não pode ser obtido apenas pelo estudo dos Vedas, nem através da inteligência,
nem através do muito estudar. Para aquele que escolheu o Atman, apenas o Atman é
importante. É o Atman quem revela ao buscador da Verdade, a Sua natureza” [Mundaka
Terceira (2,3)]. 5
“Ele é o auto-luminoso Purusha, sem forma, incriado. Ele é vazio de Prana, vazio de mente,
puro, tão imperecível quanto o Imperecível Brahman” [Mundaka Segunda (1,2)].
“Dele nascem o sopro vital [Prana], a mente, os órgãos dos sentidos, o éter, o ar, o fogo, a
água, a terra e Ele mantém tudo isso unido” [Mundaka Segunda (1,3)].
“O Atman sutil pode ser conhecido pelo intelecto do homem encarnado, cujo corpo é
penetrado pelos cinco tipos de Pranas. O intelecto dos homens é penetrado pelo Atman e
pelos seus sentidos. Quando o intelecto é purificado, o Atman brilhante é percebido”
[Mundaka Terceira (1,9)].
“OM é a palavra sagrada; o Atman é objetivo; Brahman é a meta. Ele pode ser percebido por
uma menta não distraída. Só assim o Atman pode se tornar uno com Brahman, como a seta ao
atingir o alvo” [Mundaka Segunda (2,4)].
4
Tinôco sugere os versos de 7 a 9, da Mundaka Terceira, do Primeiro Capítulo. Este sintetizador-reprodutor
selecionou apenas o verso 8.
5
Tinôco sugere os versos de 3 e 4, da Mundaka Terceira, do Segundo Capítulo. Este sintetizador-reprodutor
selecionou apenas o verso 3.
6
Tinôco sugere os versos de 1 a 3, da Mundaka Terceira, do Primeiro Capítulo. O verso 3 está selecionado no
tópico 1. Releia-o.
8. Os Gunas. 7
“Dele emergem os sete Pranas, as sete chamas, os sete tipos de fonte de energia, as sete
oblações e também os sete planos onde se movem os Pranas que repousam na cavidade do
coração; residindo em todos os seres vivos, há sete Pranas” [Mundaka Segunda (1,8)].
“Os tolos residem nas sombras. Quem com rituais se ilude, encarando-os como os mais
elevados bens, fica sujeito ao nascimento e à morte. Se assemelha a um cego, guiando outro
cego” [Mundaka Primeira (2,8)].
“... aquele que cuida de objetos materiais, deles cuidando com avidez, renasce aqui ou ali
neste mundo, em virtude dos seus desejos. Mas, aqueles cujos desejos são controlados,
permanecendo unido ao Ser Interno, todos os seus desejos que o ligam a este mundo
desaparecem” [Mundaka Terceira (2,2)].
11. Avidya [ignorância] e Maya [ilusão que o mundo produz através dos sentidos].
“O Atman é atingido somente por aqueles que O procuram com toda intensidade e renúncia
no seu coração. Isto porque o Atman resplandecente está envolvido pela ignorância, somente
podendo ser revelado quando são dispersas as sombras da escuridão” [Mundaka Terceira
(2,4)].
“Dele nascem os vários Devas, os seres celestiais chamados Sadhyas, os homens, os animais
domésticos e selvagens, os pássaros, o Prana e o Apana, os cereais, as austeridades
purificadoras, a fé, a Verdade, a continência e a lei” [Mundaka Segunda (1,7)].
“Dele procedem todos os oceanos e montanhas; Dele fluem os rios e todas as coisas; Dele se
originam todas as plantas e sabores, pelos quais o Ser interno subsiste rodeado pelos cinco
elementos que formam o corpo” [Mundaka Segunda (1,9)].
“Meu amigo, esta é a Verdade. Assim como milhares de labaredas de um chamejante fogo,
das profundezas do Imperecível Brahman surgem todas as coisas e para as profundezas do
Imperecível Brahman, voltarão” [Mundaka Segunda (1,1)].
c) Comentários
7
Tinôco não selecionou verso para este tópico, o que pressupõe que esta Upanishad nada aborda sobre os Gunas.
A força espiritual desta Upanishad é evidente, pois contém o mais alto saber, saber capaz de
destruir o véu da ignorância. Assim, o conhecimento de Brahman e a sua identificação com o
Atman é o seu aspecto mais importante.
Conhecendo Brahman, identificando o seu Atman com o Brahman, o Ser Supremo, o homem
passa a conhecer todas as coisas. Portanto, é através do conhecimento de Brahman que o
homem adquire o conhecimento de todas as coisas.
Todavia, para se conhecer Brahman, o homem deve procurar conhecer a diferença entre o
eterno e o temporário. A analogia do Atman e do ego com os dois pássaros de plumagens
douradas, empoleirados numa arvora simboliza essa dicotomia entre o inefável e a
impermanência. O Atman, que é o verdadeiro Eu, apenas observa, passivamente, enquanto
que o ego, comendo frutos doces e amargos da árvore, passa por experiências de prazer. 8
Esta Upanishad é também chamada de Mantra Upanishada, pois foi escrita em versos, os
quais representam um diálogo entre um discípulo e seu mestre. É considerada complementar
ao Prasna Upanishad, uma vez que seus conhecimentos são interdependentes.
d) Ilustração Adicional 9
Esta Upanishad traz onze versos destacando o papel do coração do homem como espaço-
moradia do Atman. Tal fato pode representar que, no mesmo compasso de tratamento que
merece a mente quanto a busca da serenidade, o coração tratado adequadamente representa a
perspectiva compassiva da prática espiritual.
“Os céus são a Sua cabeça; o sol e a lua, seus olhos; os pontos cardeais, Seus ouvidos; a
revelação dos Vedas, Sua fala; o vento, Sua respiração; o universo, Seu coração. Dos seus
pés, é produzida a terra. Ele é o Ser Interior de todos os seres” [Mundaka Segunda (1,4)].
Esse verso oferece uma percepção fulcral, qual seja, de que o coração de Brahman é do
tamanho do universo. Portanto, o atributo de que Brahman é maior do que o maior e menor do
que o menor está representado nesse verso, considerando complementarmente que o Atman,
que é igual à Brahman, está contido no coração do todo homem.
“Dele emergem os sete Pranas, as sete chamas, os sete tipos de fonte de energia, as sete
oblações e também os sete planos onde se movem os Pranas que repousam na cavidade do
coração; residindo em todos os seres vivos, há sete Pranas” [Mundaka Segunda (1,8)].
8
“Como dois inseparáveis companheiros, dois pássaros de plumagem dourada estão empoleirados numa árvore.
O primeiro representa o eu individual [ego] e o segundo representa o Eu imortal [Atman]. O primeiro prova as
frutas doces e amargas da arvora e o outro, apenas observa atentamente” [Mundaka Terceira (1,1)];
“Empoleirado na mesma árvore, o Atman lamenta, confundido com o Eu individual, permanecendo impotente.
Mas, quando o eu individual percebe o Atman, o Senhor adorado por todos em sua glória, então Ele torna-se
livre da aflição” [Mundaka Terceira (1,2)].
9
De responsabilidade de Sarvananda Deva.
Já esse verso fornece a percepção da inefabilidade da Atman já que a energia vital que emana
de Brahman também está contida porque repousa no coração do homem.
Por sua vez, esse verso ilustra a máxima de que o conhecimento que liberta do ciclo de
nascimento e morte infindável pode ser realizado com a superação da ignorância, o que
pressupõe a cessação de toda ação tanto em forma de trabalho quanto de austeridade, na
medida em que Brahman está além da própria ordem manifesta, muito embora se confunda
com ela própria. .
“Este Brahman é puro brilho, residindo na cavidade do coração. Ele é o grande suporte de
todas as coisas. Nele estão centradas todas as coisas moventes. O discípulo que O conhece em
seu Ser percebe que Ele é o grosseiro e o sutil, é o adorável, o supremo, situado além do
entendimento das criaturas” [Mundaka Segunda (2,1)].
Esse verso confirma a assertiva Vedanta de que o estudo, muito embora seja importante, não
liberta, pois o verdadeiro e absoluto conhecimento não pode ser pensado, dito ou realizado
por entendimento cognitivo, sendo a luz inefável que reside no homem e ao mesmo tempo
permeia todas as coisas além do espaço-tempo o próprio conhecimento discriminativo.
Nesse verso o homem dispõe de um indicativo de boa-aventurança eterna, qual seja a de ser e
estar fundido na luz inefável a partir da realização alcançável pela meditação em OM, a
expressão sonora-verbal de Brahman.
“Àquele que conhece tudo e percebe todas as coisas, pertence toda a glória do mundo; Ele, o
Atman, está localizado na fulgente morada de Brahman [o coração]. Ele assume a forma da
mente e conduz o corpo sutil, após a morte, ao corpo denso. Ele reside no corpo físico dentro
do coração. Conhecendo Aquele que brilha e que é o imortal Atman, o sábio a Ele pertence,
Ele que está em todas as coisas” [Mundaka Segunda (2,7)].
Já esse verso sugere que o homem liberto, tendo passado pelo sutil e grosseiro nos fluxos e
refluxos existenciais, passa a permear todas porque passa a pertencer à Brahman.
“Os grilhões do coração são quebrados, todas as dúvidas são removidas e todo esforço cessa
de produzir frutos, quando Ele é contemplado, Ele que é elevado e baixo” [Mundaka Segunda
(2,8)].
Por sua vez, nesse verso resta confirmada a tese Vedanta de que somente com um coração
compassivo e desapegado é que as ações deixam de produzir carma, favorecendo a realização,
portanto a superação do ciclo de nascimento e morte sustentado pela lei de causa e efeito.
Esse verso aponta que a luz divina sediada no coração será contemplada pelo homem com a
purificação das impurezas mediante a prática da compaixão sustentada pela veracidade, pela
concentração e pelo ascetismo.
“Brahman brilha vasto, auto-luminoso, inconcebível, sutil dentro dos sutis. Ele está além do
que está além, mas, está aqui, ao alcance da mão. Na verdade, Ele pode ser visto aqui,
morando na cavidade do coração dos seres conscientes” [Mundaka Terceira (1,7)].
“O Atman é atingido somente por aqueles que O procuram com toda intensidade e renúncia
no seu coração. Isto porque o Atman resplandecente está envolvido pela ignorância, somente
podendo ser revelado quando são dispersos as sombras da escuridão” [Mundaka Terceira
(2,4)].
Esse verso registra que não pode e não haver tergiversação no caminho espiritual, ou seja,
todo homem que deseja a liberação deve ter crença inquestionável na condição impermanente
da ordem manifesta de todas as coisas e seres, cuja base de sustentação é exatamente a
ignorância. Em contrapartida, deve ter fé inabalável de que, com disciplina e desapego,
realizará O não-nascido, O sem segundo, O incriado.
Por fim, esse verso confirma que o coração compassivo oportuniza ao homem tornar-se
Brahman, tornar-se imortal, que é o objetivo existencial de todos os seres sencientes.
O homem é no jogo cósmico porque está imerso nas trevas, na ilusão criada por Brahman.
Brahman, ao fornecer o caminho de volta à luz, determina a essencialidade espiritual de
homem, fazendo-se presente em seu coração. Porém, somente com a purificação do seu
coração, cuja estratégia está representada por uma mente serena e contemplativa, é que a
liberação do jogo cósmico, representado pelo ciclo de nascimento e morte infindável, poderá
ocorrer. Sua condição de liberto em vida se dá com ações compassivas e desapegadas,
portanto, com um coração e mente puras, livres das máculas da inveja, da raiva, do orgulho,
do ódio, da lascívia, da avidez, enfim livre de todo apego e aversão.