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Quero mais da ADG

Nelson Graubart
publicado em www.adg.org.br em 2003

Falar da ADG para mim é uma tarefa importante. Um momento de reflexão e auto-crítica.
Falar da ADG é lembrar de um grupo de designers que começaram se encontrando há 14 anos
atrás, depois do expediente, na sede do Clube de Criação de São Paulo na Rua Treze de Maio,
que gentilmente nos cedia uma de suas salas para discutirmos como fazer nossa profissão ficar
conhecida, diferenciada e valorizada.

Fizemos algumas reuniões lá até que uma noite, esqueceram de nós. Deixaram as portas
fechadas. Descemos então até a pizzaria mais próxima e depois disso, nosso endereço passou a
ser o Bixiga, cada vez em pizzaria diferente. Desses encontros com Hugo, Rogério, Hélio, Sonia,
Giovanni, Ronald, Marco Antonio, Cláudia, Fábio, Roberto, e outros colegas, surgiu a ADG.

Começou a tomar forma no escritório do Rogério e do Hélio, atrás da igreja da Cruz Torta, quando
todos nós (e a cada reunião aparecia mais alguém) começamos a redigir os objetivos da ADG,
seus Estatutos e o Código de Ética da Profissão.

A ADG, para mim, trilhou o mesmo caminho da nossa profissão.

Há 14 anos, era uma atividade completamente desconhecida pelo mercado. Os publicitários


incomodavam "invadindo nossa praia", já os arquitetos faziam parte de nosso grupo. Ninguém
sabia exatamente o que fazíamos.

Hoje, nossa atividade está em alta: na internet e no jornaleiro, do decorador ao cabeleireiro. Das
gráficas aos "bureaus". De profissionais autônomos, estúdios e escritórios à estruturas
multinacionais. Todos se denominam designers. Alguns até são.

Por não concordar com o modelo de gestão estabelecido nos estatutos da ADG, onde não existe a
figura de um "presidente", e sim de um corpo diretor, acabei me omitindo em muitos momentos,
pois todas as gestões até hoje, foram muito burocráticas e sem nenhuma proposta que pudesse
ser ou criticada ou elogiada. Apenas a boa vontade e dedicação das diretorias não conseguiu
imprimir uma personalidade para a Associação.

De sua fundação até hoje critiquei muito a ADG por suas atividades geradas por seus associados
e para eles dirigidas. Poucas ações de fora para dentro. E nenhuma de dentro para fora. Mesmo
as famosas e importantes bienais, que na minha opinião, só atraem muitos familiares, estudantes e
muito pouco de nosso público de interesse.

O design ganhou importância. Saiu das páginas de "Artes" dos jornais e já freqüentam as de
"Negócios": marketing, economia ou propaganda.

As grandes e boas agências de propaganda já têm áreas específicas de design. Quando não as
tem, nos contratam para o desenvolvimento de projetos. Empresários e executivos de marketing já
sabem quando chamar um designer. Já conhecem a amplitude dos serviços que podemos prestar.
O mercado percebeu a diferença.

Cabe a nós (e a ADG) fazermos a nossa parte para mantermos esta posição e corrigir as
distorções.
A ADG hoje ostenta "Brasil" em sua identidade. São vários os "Brasis", cada um com suas
particularidades econômicas, culturais e sociais. Com isso, a ADG adquiriu responsabilidades e
funções importantes para nos diferenciar deste caldeirão de designers (e pseudo-designers) que
gravitam pelo mesmo " business-space ":

Só na cidade de São Paulo entram no mercado de trabalho cerca de 500 novos profissionais por
ano formados pelas 13 faculdades de Design Gráfico ou afins. Só no Brasil são aproximadamente
60 as escolas de nível superior!

Inserir o estudante no mercado de trabalho. Orientá-los nas relações trabalhistas.

Interferir no currículo das faculdades que estão defasados em relação ao mercado.

Montar um Banco de Dados e Referências relativos às nossas atividades.

Elaborar uma programação de atividades periódicas, tais como cursos, palestras e workshops
dirigidas à estudantes, designers e à profissionais de áreas afins e convergentes.

Publicações (boletim, site e relatórios das comissões) mais simples, porém abrangentes e
principalmente, com atualidade e periodicidade.

Desenvolver trabalhos de caráter social - via workshops - unindo a experiência de profissionais


com a vontade de trabalhar dos recém-formados.

Enfim, existe uma série de atividades que podem ser implementadas pela ADG que, além de gerar
receita, nos exponha e nos diferencie como uma classe profissional perante o grande público.

P.S.
Coincidentemente, na semana em que recebi o convite para escrever este texto, ouvi pela Rádio
Eldorado uma entrevista com o Rogério Batagliese comentando a nova lei que rege a paisagem
urbana de São Paulo.

Senti a ADG exercendo seu verdadeiro papel.

Nelson Graubart é sócio diretor da On Art Design (SP), escritório fundado em 1984 e especializado em
projetos de comunicação empresarial.

nelson@onart.com.br

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