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Laís Licheski
Mestre em Educação: Pedagogia Universitária – Pontifícia Universidade Católica-Pr
Que respostas o ensino de programação visual tem Os termos para definir as etapas principais podem
dado às modificações expostas e impostas pela variar, mas a estrutura principal se mantém: é
informatização? preciso identificar, analisar e conceituar o problema
para então conceber e testar soluções e,
O design está envolvido na revolução contínua do posteriormente, especificar e executar a solução
ato de desenhar, o que, no momento, está escolhida. “O processo projetual é - ou deveria ser -
representado pelo uso de microcomputadores e um processo de pensamento disciplinado, que se
programas de computação gráfica. A universidade caracteriza pela grande agilidade de passar de um
deve preparar indivíduos capazes de enfrentar o problema parcial a outro problema parcial, avaliando
mundo futuro segundo as técnicas mais avançadas: o as implicações de um sobre o outro”. (BONSIEPE,
ensino baseado apenas no passado não é apropriado 1984, p.10).
para um operador visual que deve atuar num futuro
próximo. O problema está em como envolver o FONSECA (1997) observa que a composição das
aluno em sua própria formação. etapas projetuais está em crise. O que antes era uma
indiscutível seqüência hoje já não acontece da
Ensino de Projeto de Programação Visual mesma forma. A informatização do processo não é o
A programação visual está envolvida na revolução único fator de mudança, mas é bastante responsável
contínua dos meios de visualização e produção de por ela já que torna possível a coexistência das fases
mensagens visuais, sejam eles o desenho, os meios do projeto todas na mesma tela e a simultaneidade
gráficos, tipográficos, fotográficos, de resolução, mesclando as etapas de planejamento e
computadorizados. Uma técnica pode ser utilizada execução.
para camuflar deficiências na formação do
profissional, mas as deficiências persistem. As escolas também se adaptam, mas fisicamente,
instalando laboratórios de informática. As alterações
O pensar de um designer, por seu próprio perfil que se percebem no ensino de design têm sido
profissional, deve ser diferente do pensar técnico e decorrentes da prática, de adaptações que se
operativo. Não basta às escolas de design ensinar a tornaram necessárias aos docentes ao se
desenhar e projetar. É preciso que o aluno saiba confrontarem com as influências da disseminação de
fazer associações, resolver questões conceituais, computadores entre profissionais de design,
teóricas. prestadores de serviço - principalmente da área
gráfica - e acadêmicos.
Com o uso de computadores os designers passaram
a ser produtores ao mesmo tempo que projetam. O Prática pedagógica: a metodologia projetual
software se encarrega da arte-final, da separação de A criatividade, na concepção freudiana, origina-se
cores, do fotolito ... mas a compreensão do processo de um conflito dentro do inconsciente e, mais cedo
não é descartável. Teoria e prática têm uma relação ou mais tarde, este produz uma solução para o
de necessidade mútua: a teoria não pode ser apenas conflito. Se a solução reforça uma atividade
um discurso; a prática, um exercício de pretendida pela parte consciente da personalidade,
experimentação. A teoria precisa da prática para ser teremos como resultado um comportamento criador:
real, e a prática da teoria para se fundamentar. A os instintos insatisfeitos são as forças
intermediação se faz pela habilidade de saber pensar impulsionadoras da fantasia. Assim, a pessoa
e aprender a aprender. criativa deve ser inicialmente perturbada por um
problema, e as soluções criativas resultarão da
O projeto como eixo da formação do ensino de liberação de energias necessárias à eliminação da
design foi tradicionalmente implantado nos cursos angústia (DUAILIBI; SIMONSEN JR., 1971).
de desenho industrial - assumindo denominações
diversas -, desempenhando um papel central nas Se na maioria das vezes o problema gerador da
grades curriculares. Seu ensino tem se caracterizado angústia é imposto pelas circunstâncias, ele também
pela execução de propostas que são realizadas pode ser cultivado consciente e artificialmente com a
Anais P&D Design 2000. FEEVALE, Novo Hamburgo, RS. 29 out. a 01 nov. 2000.
Licheski, L. Design e computação gráfica: a prática pedagógica na produção de projetos.
diversos profissionais que não tiveram qualquer encontrá-las é importante para um futuro acesso;
formação pedagógica. portanto, os ambientes de aprendizado que se
baseiam na busca e avaliação de informações são
Isso se dá de tal forma que, muitíssimas vezes, mais adequados à formação do indivíduo que
para que alguém exerça a função de educador, aprende a aprender.
não lhe é exigida nenhuma formação específica.
Existem profissionais de áreas diversificadas que Com a microeletrônica e a informática e as
estão na regência escolar e que não tiveram possibilidades de estocagem e acesso de
nenhuma formação para tal. Possuem uma informações em instantes, revela-se a inadequação
formação específica numa área do conhecimento de escolas que não estimulam para a autonomia da
e, a partir daí, dedicam-se ao ensino. aprendizagem enquanto ainda promovem o acúmulo
(LUCKESI, 1994, p. 96). dessas informações.
Esses profissionais, para sua atividade docente, Não basta lembrar das informações, mas relacioná-
unem as experiências como alunos às características las, sintetizá-las, analisá-las, avaliá-las, estimulando
das aulas de professores que os marcaram, às vezes o pensamento crítico, que surge quando o aluno se
procurando modificar o que lhes pareceu esforça para ir além do resultado simples e imediato.
inadequado.
Ao desenvolver habilidades cognitivas além do
Posteriormente a unidade de ensino em que atuam conteúdo do aprendizado, o aluno terá a
pode vir a favorecer o treinamento ou a capacidade permanente de aprender novos
especialização do docente na área didático- conhecimentos e habilidade especializada futura.
pedagógica. Mas a sua formação como profissional A sociedade - utilizando a tecnologia flexível da
pautará muito de sua atuação como docente. informática em larga escala - exigirá cada vez
Portanto, para formar um professor competente, mais esta inteligência criativa, em substituição
comprometido com o ensino e criativo é essencial do saber apenas especializado. (CARDOSO,
que ele, enquanto aluno, seja colocado diante do 1995, p. 61).
conhecimento como algo a ser construído durante
toda a vida. E compreenda que, como educador, Faz-se necessário criar condições para o
precisa conhecer profundamente sua matéria, estar processamento das diversas informações que o aluno
pronto para os desafios lançados pelos estudantes e recebe, para que encontre o sentido, a estrutura, e
continuar construindo seu conhecimento. forme os vínculos necessários à sua própria
aprendizagem.
A postura do professor deve favorecer o aprendizado
do educando: um professor que encare seus alunos Na tradição (ou comodidade?) de se fazer como se
como futuros concorrentes acaba por lhes negar fazia ou na ânsia de alguns professores de deter para
informações e lhes instigar um espírito de si o conhecimento como fonte de poder, o ensino
competição excessiva. massifica, tolhe a iniciativa, deixa de desafiar e
estimular o estudante.
Aberto às inovações, esse professor será realmente
pesquisador e colaborador em pesquisas e projetos; Quando o jovem necessita de algum tipo de
fará do ensino um processo de insatisfação iniciação em um mundo incerto, o que lhe
produtiva; não será contrário à análise e à avaliação fornecemos são os ossos do cemitério da cultura.
de sua atuação, encarando-as como maneiras de Quando necessita fazer alguma coisa concreta,
acompanhar seu crescimento; e contrariando a fama nós lhe damos uma tarefa abstrata, lacunas a
de que, coletivamente, os corpos docentes são serem preenchidas com respostas ‘corretas’,
refratários à mudanças, não será arrastado pela múltiplas escolhas para verificar se pode
corrente de inovações, mas estará na vanguarda, escolher a resposta certa. Quando necessita
abrindo caminhos. encontrar significado, as escolas exigem dele
memorização. (FERGUSON, 1992, p. 269).
Prática pedagógica: novos caminhos
Quando não se encaixa em algum modelo ou não
possui utilidade imediata, grande parte da Como levar o ensino formal à realidade do mundo
informação que recebemos é mero ruído. Saber da do estudante? Talvez o que as escolas possam fazer
existência de determinadas informações e onde seja extrair o conhecimento que está sendo adquirido
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informações também pode servir como motivo para projetar sistemas visuais e a considerar o produto de
a execução de pequenos projetos visuais - como seu trabalho em relação a fatores tecnológicos,
painéis, cartazes, folhetos explicativos - que levem o produtivos, utilitários, mercadológicos,
aluno a se utilizar de conhecimentos e conceitos de comunicacionais e psicológicos, procurando
outras disciplinas - artes gráficas, semiótica, antecipar necessidades e desejos dos usuários e
psicologia, noções de marketing - e estimulem sua visualizar a orientação quanto a novos caminhos a
criatividade. serem percorridos. O trabalho desse profissional
deve se apoiar em pesquisas atualizadas e em
Ao final do projeto, a apresentação dos resultados projeções para o futuro. Para fazer face a este perfil,
acompanhada do relato das dificuldades e da forma deve buscar nas ciências sociais e comportamentais -
de superação das mesmas, dos aspectos positivos e como sociologia, psicologia, filosofia - a base
negativos encontrados, pode promover uma nova teórica para seus projetos.
reflexão do grupo, encaminhando-o para a auto
avaliação de seus procedimentos metodológicos. Por meio de disciplinas de prática projetual os
alunos precisam praticar uma forma de realização de
Preparar os alunos para a aprendizagem contínua, projetos na qual os enfoques teóricos e subjetivos
dando margem ao pensamento independente: os tenham lugar, onde se realize uma apropriação
recursos educativos podem ser aplicados de forma a contextual e conceitual do tema. A prática projetual
atender o indivíduo ao longo de sua vida, ensinando- precisa ser realmente natural ao designer, intrínseca
o a aprender através do questionamento, da crítica, à sua atividade, não mera repetição de passos.
da busca de soluções adequadas. “No futuro [...] os
estudantes precisarão aprender a conviver com a Não existe apenas um caminho para a resolução de
mudança rápida, abrupta e até mesmo ameaçadora. um problema: é preciso incentivar o surgimento de
O aprendizado será correlativo à vida, uma possibilidades de solução. Para tanto, não serão
emocionante aventura intelectual, para a qual os apenas os aspectos objetivos e sistemáticos a serem
estudantes terão de estar explicitamente preparados”. valorizados, mas os críticos, analíticos, téoricos,
(HESBURGH, 1979, p. 154). O fomento da subjetivos, cognitivos, culturais, comportamentais,
capacidade intelectual dos estudantes passa pela psicológicos, estéticos, éticos... Cabe ao professor,
revisão de conteúdos - que devem ser pertinentes e como orientador, possibilitar ao aluno o
de qualidade - e pela aplicação de métodos desenvolvimento da reflexão.
pedagógicos que privilegiem a criatividade docente
e discente. Mas cabe à universidade dar essa possibilidade ao
professor, oferecendo-lhe a oportunidade de refletir
Considerações finais sobre sua prática pedagógica diante do caráter
profissionalizante dos cursos e do perfil de
Dar aula de Design para mim é como trabalhar profissional que se pretende formar.
em Design, ou seja,
é buscar o melhor trabalho possível, O sistema universitário tem se prestado a produzir
é refletir sobre ele, profissionais de acordo com a orientação do
e é transmitir isso para os alunos. mercado, como uma indústria que oferece produtos
(REDIG, 1988, p. 105) para suprir necessidades econômicas. Durante a
graduação, os discentes especializam-se em tarefas
técnicas como forma de garantir o futuro sucesso,
As transformações no fazer e no ser do designer, prisioneiros de uma visão robotizada que acaba por
promovidas principalmente pela tecnologia que confirmá-los como produtos em transformação para
alterou a relação do homem com o mundo, foram o mercado.
trazidas à tona pelos entrevistados no reflexo de suas
práticas pedagógicas. A conclusão é pela valorização Para a universidade tem sido essencial o contato e a
do pensar, do construir, do analisar. A partir disso, interação com o setor produtivo, sem o que corre o
podem ser feitas ainda algumas considerações. risco de oferecer a seus alunos uma formação irreal,
quando não obsoleta, deixando de responder com
Se inicialmente o programador visual era um eficiência aos que procuram seus serviços como
profissional responsável por uma imagem gráfica formadora profissional. Entretanto, há que se
específica e que interferia praticamente apenas nos considerar, também, que a formação profissional não
aspectos produtivos, paulatinamente ele passou a deve ser a única meta da universidade. Em um
Anais P&D Design 2000. FEEVALE, Novo Hamburgo, RS. 29 out. a 01 nov. 2000.
Licheski, L. Design e computação gráfica: a prática pedagógica na produção de projetos.
mundo em que a substituição do trabalho humano soluções encontradas por esse grupos seja discutida
pela máquina aumenta rapidamente, gerando um amplamente.
grande número de desempregados, o profissional
altamente especializado corre o risco de não se
adaptar. O novo tempo pede profissionais capazes de Bibliografia
se ajustarem às contínuas transformações
(tecnológicas, científicas, filosóficas e sociais), BOK, D.. Ensino superior. Rio de Janeiro: Forense-
flexíveis, com iniciativa, amplo conhecimento e com Universitária, 1988.
disposição para o trabalho em grupo, onde várias
pessoas de diferentes áreas se aliam na busca de BOMFIM, Gustavo Amarante. Metodologia para
soluções. desenvolvimento de projetos. João Pessoa:
Universitária/UFPB, 1995.
É interessante perceber o quanto este perfil
profissional tem em comum com o design, campo de BONSIEPE, Gui (coord.). Metodologia
atuação essencialmente interdisciplinar, já que experimental: desenho industrial. Brasília:
emprega meios de expressão e conhecimentos de CNPq, 1984.
diversas áreas. A interdisciplinaridade 2 poderia ser
uma realidade nos cursos de design por sua BÜRDEK, Bernhard E.. Diseño: história, teoria y
afinidade com a prática projetual, que implica na practica del diseño industrial. Barcelona:
busca de conhecimentos das mais diversas áreas. Gustavo Gili, 1994.
Entretanto, o que se identifica no ensino de desenho
CARDOSO, Clodoaldo M.. A canção da inteireza:
industrial são práticas pluridisciplinares 3, que
uma visão holistica da educação. São Paulo:
acontecem mais por casualidade ou por afinidade
Summus, 1995.
entre professores do que por orientação pedagógica
dos cursos e instituições.
DUAILIBI, R. ; SIMMONSEN, H.. Criatividade: a
formulação de alternativas em marketing. São
A prática projetual não é um fim em si mesma, mas
Paulo: Mcgraw-Hill do Brasil, 1971.
uma atividade-meio para a formação de designer.
Tampouco as demais disciplinas que concorrem para
FAZENDA, Ivani C A.. Interdisciplinaridade, um
esta formação são estanques: os conhecimentos
projeto em parceria. São Paulo: Loyola, 1993.
adquiridos por meio delas igualmente devem
provocar reflexões, análises, estimular a curiosidade ___________________. Integração e
e a busca pelo novo. A interação e integração entre interdisciplinaridade no ensino brasileiro,
disciplinas poderia promover uma visão do efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola,
conhecimento como um todo, em que as partes 1979.
componentes seriam tão significativas quanto a
própria totalidade, participando da formação de um FERGUSON, Marilyn. A conspiração aquariana.
profissional mais preparado para enfrentar desafios e Rio de Janeiro: Record, 1992.
transformações.
FONSECA, Suzana V.. O impacto da
A universidade é o local apropriado para a formação informatização no design gráfico: novas
diversificada que se exige daqui para o futuro. Como tendências no processo dos objetos gráficos a
realizá-la é uma questão que tem sido feita diante de partir da introdução do computador. Rio de
situações distintas e por grupos distintos, sem que a Janeiro, 1996. Dissertação (Mestrado em
necessária explanação das dificuldades e união das Design)- PUC RJ.
2
“...interação existente entre duas ou mais disciplinas. HESBURGH, T.. A relevância dos valores no
Essa interação pode ir da simples comunicação de idéias à ensino superior. Brasília: UnB, 1979.
interação mútua dos conceitos diretores da epistemologia,
da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos LESSA, Washington D.. A informatização do
dados da organização referentes ao ensino e à pesquisa”. elemento gráfico. Design e Interiores, São Paulo,
(FAZENDA, 1979, p.27).
3 n. 33, ano 6, p. 79-80, 1993.
“Encontro de duas ou mais disciplinas, com objetivos
múltiplos, com certa relação entre si, com certa
cooperação, mas sem coordenação dessas relações”. LUCKESI, Cipriano C.. Filosofia da educação. São
(FAZENDA, 1993, p. 31). Paulo: Cortez, 1994.
Anais P&D Design 2000. FEEVALE, Novo Hamburgo, RS. 29 out. a 01 nov. 2000.
Licheski, L. Design e computação gráfica: a prática pedagógica na produção de projetos.