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Cefet/RJ - Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
Campus Nova Friburgo - Bacharelado em Sistemas de Informação
1. Introdução
A atividade docente em nı́vel de graduação frequentemente enfrenta desafios significa-
tivos no que diz respeito à persuasão dos alunos quanto à relevância e necessidade dos
conhecimentos apresentados nas disciplinas. Essa dificuldade é exacerbada pela visão
fragmentada dos discentes em relação à interdisciplinaridade, o que compromete a com-
preensão dos vı́nculos entre os conceitos abordados em sala de aula e, por conseguinte, a
prática da docência enfrenta obstáculos adicionais.
Diversas metodologias têm sido objeto de discussão e avaliação no intuito de pro-
mover melhorias na gestão do processo de desenvolvimento de software. É notável que
algumas dessas abordagens apontam para a adaptação de modelos originários da gestão
da manufatura, considerando as particularidades do setor de software e reconhecendo as
semelhanças substanciais entre ambos os domı́nios.
Nesse contexto, destacam-se as Fábricas de Software, que se configuram como
plantas de desenvolvimento de aplicativos inspiradas nos princı́pios das plantas industri-
ais, incluindo o reaproveitamento de componentes e a divisão do processo produtivo em
etapas bem definidas. Essas Fábricas de Software têm se revelado uma solução eficaz para
o fornecimento de produtos com qualidade e competitividade de preço, além de contribuir
para o desenvolvimento de mão de obra especializada. Não surpreende, portanto, que esse
modelo de desenvolvimento de software tenha ganhado destaque no cenário brasileiro,
com a instalação de numerosos parques de produção de alta capacidade no paı́s.
Além das empresas especializadas, a crescente demanda por profissionais qualifi-
cados e a necessidade de proporcionar experiências práticas aos alunos de cursos de tec-
nologia deram origem a uma nova modalidade de empreendimento: a Fábrica de Software
Acadêmica. Essas entidades utilizam os recursos disponı́veis no ambiente acadêmico,
como laboratórios, alunos e professores, para estabelecer unidades de produção voltadas
ao desenvolvimento de software.
A Fábrica de Software Acadêmica não só oferece aos alunos a oportunidade de
colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula, mas também desem-
penha um papel fundamental no acompanhamento e na formação dos estudantes. Por
meio dessa estrutura, é possı́vel certificar-se de que os conceitos teóricos são aplicados de
maneira efetiva na solução de problemas reais, ao mesmo tempo em que se identificam
possı́veis lacunas na formação dos futuros profissionais. Assim, a Fábrica de Software
Acadêmica contribui para manter a coesão entre o projeto pedagógico do curso e as ne-
cessidades do mercado, assegurando a formação de profissionais qualificados e prontos
para enfrentar os desafios da indústria de tecnologia da informação.
2. Motivação
O Brasil ocupava a oitava posição no ranking do Mercado Mundial de Software e
Serviços, conforme indicado pelo estudo publicado em 2014 pela ABES (Associação
Brasileira das Empresas de Software) e o IDC (International Data Corporation). Nesse
contexto, o mercado brasileiro representava 3‰ do mercado mundial e 47,4‰ da América
Latina, com uma tendência de crescimento dessa participação, conforme apontado no
mesmo estudo. Além dos esforços individuais dos profissionais envolvidos, é imperativo
que as empresas, órgãos governamentais e instituições de ensino superior colaborem para
estabelecer mecanismos que promovam o crescimento contı́nuo da indústria de software
e a conduzam a patamares ainda mais elevados.
Um estudo comparativo entre as fábricas de software acadêmicas nacionais pode
revelar aspectos significativos a serem considerados na implementação de novas fábricas.
No entanto, durante a pesquisa realizada, não foi possı́vel identificar estudos similares
nas bases de dados de artigos consultadas. Portanto, a análise proposta permitirá que as
instituições de ensino superior se beneficiem de um estudo comparativo detalhado, o qual
destacará elementos essenciais para facilitar a implementação de fábricas de software em
seus ambientes acadêmicos.
3. Fábrica de Software
Observa-se uma tendência, já identificada pela indústria de Tecnologia da Informação, que
aponta para a convergência progressiva de muitas metodologias de desenvolvimento de
software com abordagens similares às adotadas na gestão da produção manufatureira. Não
obstante, certos autores, como Armour e Miller (2000), sustentam a perspectiva de que o
software não constitui propriamente um produto, mas sim um meio de armazenamento de
conhecimento. Consequentemente, argumentam que seu desenvolvimento não equivale à
produção de um bem tangı́vel, mas sim à aquisição de conhecimento.
Em paralelo a esta evolução, o mercado consumidor de Tecnologia da Informação
se torna cada vez mais exigente, especialmente no que concerne aos aspectos de produ-
tividade, custo e qualidade. Neste cenário, as empresas do setor têm buscado remodelar
suas operações, visando um modelo capaz de atender eficazmente a essas demandas.
Dentro dessa dinâmica, emerge o conceito de ”Fábrica de Software”, que importa
para o contexto do desenvolvimento de aplicativos conceitos e metodologias análogas aos
processos de produção fabril convencionais. Isso se traduz na utilização de componentes
com atributos semelhantes e padrões de qualidade equiparáveis.
A proposta da Fábrica de Software abarca uma variedade de atividades, desde o
desenvolvimento de soluções e a prestação de serviços de consultoria até a elaboração de
cursos em diversas áreas da computação e a oferta de serviços de certificação em ativi-
dades relacionadas à área. Todas essas operações são conduzidas por alunos matriculados
no curso de Bacharelado em Sistemas de Informação, sempre sob a supervisão de um
docente designado como coordenador do projeto.
A essência dessa iniciativa reside em proporcionar aos estudantes um ambiente
que lhes permita vivenciar os processos inerentes ao desenvolvimento de software. Dessa
forma, a Fábrica visa antecipar o contato dos alunos com as atividades que caracterizarão
sua futura vida profissional. O primeiro desafio enfrentado consistiu em sensibilizar a co-
munidade local quanto à utilidade da Fábrica de Software como ferramenta para o desen-
volvimento de soluções tecnológicas. Para o êxito da proposta, revelou-se fundamental a
disponibilização de um espaço fı́sico no qual os alunos pudessem se reunir e desempenhar
suas atividades com eficácia.
Assim como nas organizações fabris concebidas por Taylor, Fayol e Ford no
século XX, nas fábricas de software também há uma busca incessante pela qualidade,
produtividade e eficiência custo-efetiva, o que naturalmente implica na adoção de diver-
sos paradigmas encontrados no processo fabril tradicional, refletindo-se no cotidiano das
operações de uma fábrica de software. Analogamente ao processo de manufatura em lin-
has de montagem, os padrões contemporâneos de desenvolvimento de software, tais como
a Programação Orientada a Objetos (POO), estabelecem que os softwares sejam compos-
tos por módulos ou componentes menores que são integrados para a formação do produto
final, permitindo assim que partes individuais possam ser desenvolvidas de forma inde-
pendente. Consequentemente, os projetos de software podem ser concebidos em termos
estruturais, viabilizando a participação de múltiplos programadores, internos ou tercei-
rizados, onde cada um recebe solicitações para novos processos e produz componentes
com caracterı́sticas definidas e especı́ficas, atendendo a nı́veis de qualidade previamente
estabelecidos, e permitindo que esses módulos ou componentes sejam posteriormente
reutilizados em outras soluções, em um processo conhecido como reaproveitamento de
código.
O êxito de uma Fábrica de Software é intrinsecamente relacionado à adoção de
processos de desenvolvimento que facilitem a definição e a distribuição de tarefas, a
atribuição de responsabilidades para as diversas etapas do ciclo de vida do software, a
comunicação eficaz tanto com o cliente quanto entre os membros da equipe, a previsão
de demanda, a implementação de mecanismos de controle e melhoria contı́nua dos pro-
cessos, a gestão do conhecimento e dos recursos humanos, bem como a utilização de
bibliotecas para reutilização de código e componentes.
A participação dos alunos do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação
(BSI) nas atividades da Fábrica de Software é uma condição indispensável para que esse
ambiente alcance seus objetivos formativos. Como delineado nos parágrafos anteriores,
toda solução desenvolvida na Fábrica é concebida sob a forma de um projeto, e vinculada
a cada projeto estão os alunos. Após a aprovação de um projeto para ser desenvolvido na
Fábrica de Software, o coordenador determina a quantidade de vagas disponı́veis para a
participação dos alunos no projeto. A seleção dos alunos é realizada pelos membros do
colegiado da Fábrica de Software em colaboração com o coordenador do projeto.
Table 1. Evolução do conceito de Fábrica de Software
6. Conclusão
Este estudo investigou os aspectos ligados à introdução de Fábricas de Software em
instituições de ensino superior no contexto brasileiro. Por análise documental, ques-
tionários e uma base teórica abrangente, foram identificados os motivos que impulsionam
as instituições de ensino superior a adotar uma Fábrica de Software Acadêmica, bem
como as principais dificuldades enfrentadas e outros aspectos relevantes. O trabalho ap-
resentou uma comparação entre as instituições estudadas, fornecendo percepções para
uma compreensão mais aprofundada do panorama das Fábricas de Software Acadêmicas
no Brasil e orientando futuras instituições de ensino superior que pretendem implementar
projetos semelhantes, destacando os fatores crı́ticos de sucesso e fracasso.
A implementação do projeto de Fábrica de Software Acadêmica na AEDB
(Associação Educacional Dom Bosco) implicou em ajustes na estrutura curricular de al-
gumas disciplinas do curso de Sistemas de Informação. Essas disciplinas passaram a
abordar temas relevantes de maneira mais pragmática, utilizando metodologias ativas e
seguindo as boas práticas atuais do mercado.
Consequentemente, os resultados parciais obtidos pelo projeto na AEDB e os re-
latos das demais instituições de ensino superior pesquisadas indicam que a implementação
de uma Fábrica de Software em um ambiente acadêmico tende a enriquecer a formação
dos alunos dos cursos de tecnologia. Isso ocorre ao proporcionar-lhes a experiência
prática necessária e ao trazer benefı́cios para a comunidade circundante e para a própria
instituição. Além de atender demandas internas e externas, a instituição tende a receber
um reconhecimento aprimorado quanto à qualidade de seus cursos na área de Tecnologia
da Informação.
Ao término do primeiro ano de operação da Fábrica de Software, é evidente sua
capacidade de influenciar tanto na monitorização do processo de ensino-aprendizagem
quanto na qualidade das ferramentas de suporte para o referido processo. Além disso, o
ambiente desempenha um papel catalisador em atividades de pesquisa e extensão, guiadas
pelos projetos conduzidos na própria Fábrica.
A utilização do ambiente para acompanhar a evolução do processo de ensino
em diversas disciplinas do curso foi notória durante a identificação de problemas nos
primeiros projetos. As deficiências nas etapas de documentação dos projetos destacaram
a necessidade de reforçar, com alguns alunos, os conceitos da disciplina de Engenharia
de Software. Em alguns casos, a etapa de documentação foi negligenciada devido a uma
condução inadequada do projeto, o que contribuiu para a geração de outros problemas.
A intervenção do corpo docente, por meio da atuação dos professores responsáveis pela
disciplina, resultou na revisão e aplicação dos conceitos corretos no desenvolvimento dos
projetos. No entanto, mais importante do que a revisão dos conceitos, foi a oportunidade
oferecida aos alunos de vivenciar dois ambientes distintos: um sem a aplicação adequada
das tecnologias e métodos da Engenharia de Software, e outro com a aplicação correta de
todos os conceitos pertinentes à disciplina. A comparação entre os projetos antes e depois
dessa intervenção confirmou a aplicação prática da teoria na solução de problemas reais,
uma oportunidade que só foi possı́vel devido às atividades desenvolvidas na Fábrica de
Software.
Paralelamente, os professores das disciplinas envolvidas direta ou indiretamente
em atividades da Fábrica de Software começaram a utilizar esses exemplos como ferra-
menta de discussão e explanação em sala de aula. A oferta de resultados concretos para
embasar as discussões, tanto de um conjunto de projetos quanto de uma série de tarefas
que envolvem diversas disciplinas do curso de Sistemas de Informação, atua como suporte
no processo de ensino-aprendizagem. A inclusão dos alunos em um ambiente controlado,
onde têm contato com situações do cotidiano de sua futura atividade profissional, repre-
senta um apoio prático à pedagogia.
Por fim, a Fábrica de Software também facilita a concretização de parcerias entre
o IFC e outras instituições de ensino, governamentais ou empresariais. Atualmente, as
atividades da Fábrica resultaram na formalização de parcerias com o Instituto de Trans-
porte e Trânsito de Joinville, a Capitania dos Portos de São Francisco do Sul, o Parque
de Inovação Tecnológica de Joinville e Região, e duas empresas do ramo de desenvolvi-
mento de software. Esse resultado alcançado em um ano de atividade confirma o sucesso
do projeto e empresta qualidade ao processo pedagógico.
[Casemiro José Mota1 2014], [Romanha 2016].
References
Casemiro José Mota1, Eduardo da Silva1, P. C. F. d. O. (2014). A experiência do
ambiente da fábrica de software nas atividades de ensino do curso de sistemas de
informação. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC)
Câmpus Araquari– Araquari– SC– Brasil.
Romanha, S. D. (2016). Um modelo de fábrica de software em instituições de en-
sino superior. Universidade Estadual Paulista ”Júlio de Mesquita Filho” - Campus
Guaratinguetá.