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Compreensão Digital na Construção do Conhecimento: Relato de experiências no

ensino de projeto arquitetônico contemporâneo


Angélica Paiva Ponzio1, Leonardo Prazeres Veloso de Souza2,
Victor Mateus Schulz3, Cindy Lasso4
1,3,4
Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2Universidade Federal da Bahia

Como parte de uma pesquisa em andamento sobre o estudo de ferramentas digitais que visam a inovação no
processo de design, este artigo pretende demonstrar como as técnicas de design thinking analógico e digital
podem melhorar e expandir a gama de metodologias criativas no contexto de um estúdio de graduação em
design de arquitetura. A abordagem apresentada baseia-se no aprimoramento de um modelo
teórico-didático durante três estratégias, cada uma visando diferentes etapas do processo de design. O
primeiro explora técnicas de design thinking analógico nas decisões iniciais de conceito, o seguinte
demonstra o uso conjunto de ferramentas paramétricas e BIM como recurso alternativo para geração de
formas complexas, e o último apresenta a tecnologia BIM como instrumento pedagógico para aprendizagem
de um sistema construtivo . Assim, além de apresentar os métodos, instrumentos, produtos e resultados
gerados, este artigo também discutirá os ganhos e dificuldades enfrentados, apontando uma nova
abordagem a ser adotada no futuro.

Palavras-chave: Processo de Design Digital, Ensino de design arquitetônico, Design thinking,


Parametricismo
INTRODUÇÃO
A partir da década de 1960, o campo da arquitetura passou a enfrentar mudanças graduais em decorrência do
surgimento de novas tecnologias digitais aplicadas ao processo projetual, alterando procedimentos até então
completamente analógicos. Inicialmente focadas nas capacidades gráficas dos sistemas Computer-Aided
Design (CAD), essas tecnologias passaram a ter um papel mais direto no processo de design durante a
década de 1990, o que pode ser observado nos experimentos de Peter Eisenman, Marcos Novak, Greg Lynn,
entre outros (Natividade, 2011). Mais recentemente, novas abordagens de projeto surgiram através de
software de projeto paramétrico, como o sistema Building Information Modeling (BIM), e através de
software de programação visual, como Grasshopper e Dynamo. Além destas, técnicas de visualização digital
como realidade virtual e realidade aumentada (VR e AR) e fabricação digital através de impressoras 3D e
fresadoras CNC (controle numérico computadorizado), têm se tornado cada vez mais acessíveis aos
designers. Incentivados por tais fatores, autores como Rivka Oxman (2006, 2008, 2012, 2017), Gabriela

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Celani (2002, 2007, 2013), Neil Spiller (2014), entre outros, passaram a se dedicar ao estudo de novos
modelos cognitivos de design digital dentro do campo mais amplo da arquitetura.
Embora o conceito de design digital já esteja presente nas pesquisas de instituições de ensino europeias e
norte-americanas, na América Latina, mais precisamente no Brasil, tais tecnologias ainda estão sendo
implementadas. Autores como Neliza Romcy (2017), Fernanda Machado, et al. (2017), apontam a novidade
desse conteúdo nos currículos de arquitetura do país e a importância dessa abordagem. Celani (2006, 2008 e
2017) corrobora essas afirmações, reforçando que este ainda é um campo apenas parcialmente explorado e
desenvolvido no Brasil. O autor, juntamente com Maycon Sedrez (Sedrez e Celani, 2014), destaca a
importância da adoção de novas tecnologias no processo de projeto na arquitetura contemporânea, fator que
tem, por sua vez, “instigado os professores a buscar novos processos cognitivos envolvidos na aprendizagem
do design”. .” Sedrez e Celani (2014) reforçam ainda que a análise e comparação dos diferentes
procedimentos didáticos do design digital permitem a identificação de novas formas de pensar a arquitetura.
Nesse sentido, citam o trabalho de Oxman (2008) ao apontar três elementos principais que devem atuar
integrados ao design digital: “o conteúdo conceitual, as metodologias experimentais e as habilidades digitais”
(Sedrez e Celani, 2014).
Nesse contexto, e como objeto de uma pesquisa focada na inovação do processo de projeto arquitetônico [1],
foi aprimorado um modelo teórico-didático aplicado no âmbito de um ateliê de graduação em design de uma
Faculdade Brasileira de Arquitetura. Partindo de uma estratégia inicialmente focada em técnicas analógicas
de design thinking criativo (Estratégia de Design Thinking), o modelo demonstrou potencial de melhoria
tanto no desenvolvimento formal do design quanto nas compreensões técnico-construtivas por meio da
exploração do conhecimento digital. Como resultado, até o momento, duas outras estratégias de pesquisa
foram exploradas, seja por meio da adoção de ferramentas BIM (Estratégia BIM) e/ou projeto paramétrico
(Estratégia Paramétrica de Design Thinking), em diferentes fases do processo de projeto.
Este artigo, portanto, tem como objetivo relatar e discutir como técnicas de design thinking analógico e
digital podem ser incorporadas visando a inovação no processo de projeto de um estúdio de graduação em
projeto arquitetônico. Isto será demonstrado através de uma breve descrição do programa do estúdio de
design seguida da apresentação das três estratégias já aplicadas, dos seus resultados qualitativos e de uma
possível nova abordagem a seguir no futuro.

METODOLOGIA
O Estúdio de Projeto de Arquitetura II (PA-II) pertence ao 2º ano (4º semestre) do currículo de graduação de
uma Faculdade Brasileira de Arquitetura. Com um número médio de 15 alunos por professor, desde 2012 o
programa ateliê visa o desenvolvimento de um hotel paisagístico. Incentivando a utilização de diferentes
ferramentas de design, o estúdio pretende envolver os alunos em todos os aspectos do processo de design
através de estudos realizados em duas escalas diferentes. Na escala macro, grupos de quatro a cinco alunos
definem o conceito do hotel e o projeto paisagístico geral. Depois, em microescala, cada aluno do grupo
projeta uma pequena unidade individual de hospedagem de 60 m². Além de se relacionar com o conceito
geral, a unidade deve responder a quatro funcionalidades básicas: descansar, tomar banho, comer e
divertir-se. A baixa complexidade programática das unidades favorece a dedicação de mais tempo aos
exercícios formais e construtivos. Implementado em três etapas de desenvolvimento, o processo de design
aumenta gradativamente a complexidade e o nível de detalhamento. Estas são a fase “ambiental conceptual”,
a fase “programática-formal” e a fase “material-construtiva”. No que diz respeito à fase material-construtiva,
a partir de 2015/2, a disciplina tem adotado exclusivamente o sistema construtivo woodframe para as
unidades de alojamento, associando estreitamente o processo de projeto ao da técnica construtiva.
ESTRATÉGIA DE DESIGN THINKING
A estratégia de design thinking foi implementada em 2012 (Ponzio, Machado, 2015) e caracterizou-se pela
utilização de ferramentas analógicas de design thinking empregadas como instigadoras do processo criativo
durante as etapas “conceitual-ambiental” e “formal programática”. Partindo da visita ao local e adoptando
uma abordagem de “design de experiência” (Benz, 2015), na fase “conceitual-ambiental” cada grupo
concentrou-se na elaboração do conceito do Hotel. Isso foi conseguido através da construção de uma
narrativa baseada em observações culturais, locais e ambientais. Esta etapa compreendeu também a definição
do público-alvo, das comodidades e experiências do hotel. Entre as técnicas de design thinking empregadas
estavam: brainstorming, mapeamento mental, mapeamento de polaridade, chapéus de pensamento, análise de
cenários e moodboards conceituais. A etapa seguinte, a “programática-formal”, definiu - na escala macro -, a
planta do local com seus zoneamentos e sistemas de conexões e, - na escala micro -, a parte das unidades de
hospedagem. Este foi o momento dos estudos formais de geração da unidade, tendo como ponto de partida o
conceito geral de hotelaria previamente definido pelo grupo e as funções programáticas nucleares de cada
unidade. Os alunos foram incentivados a exercitar-se com moodboards referenciais e técnicas de analogia
arquitetónica (Andrea Ponsi, 2013) de forma a relacionar a parte da unidade com o conceito abstrato de hotel.
Até 2017/1, foi empregada uma combinação de técnicas analógicas e digitais, como modelos de papel,
esboços manuais, modelos Sketchup e desenhos esquemáticos CAD bidimensionais. Por fim, na fase
“material-construtiva”, esperava-se uma maior definição das unidades de acolhimento. Para tanto, a técnica
do wood frame foi inicialmente apresentada aos alunos por meio de aulas teóricas acompanhadas de
materiais explicativos de referência (Rob Thallon, 2009; Francis Ching, 2010) [2]. Nesta etapa foram
utilizadas quase exclusivamente ferramentas CAD: Sketchup para os modelos tridimensionais - um
arquitetônico e outro estrutural, e AutoCAD para os documentos técnicos bidimensionais. Portanto, no final

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do processo de projeto, a dissociação entre modelos tridimensionais e representações bidimensionais muitas
vezes complicava a compreensão do aluno sobre o sistema construtivo, resultando por vezes em falta de
precisão nos documentos técnicos.
Embora esta estratégia tenha melhorado a formulação criativa do conceito de design com as técnicas de
design thinking, a etapa material-construtiva utilizou ferramentas digitais principalmente como meio
representacional e dentro dos limites da geometria euclidiana, limitando as escolhas do aluno na exploração
de soluções formais de um determinado complexidade. A Figura 1 representa as etapas de desenvolvimento
do processo projetual adotado até 2017/1, demonstrando os respectivos métodos de ensino empregados e
seus produtos.

figura 1
Autor da Estratégia
de Design
Thinking:
Victor M. Schulz
(2020)

Aproveitando a implementação de ferramentas paramétricas nas disciplinas de instrumentalização digital da


escola a partir de 2017, e visando soluções para os problemas apontados, duas estratégias digitais foram
planejadas e testadas em diferentes momentos nos anos seguintes de forma complementar ao design
analógico exercícios de pensamento [3]. Primeiro, para explorar ainda mais as soluções formais e investigar
o uso conjunto do projeto paramétrico e da tecnologia BIM, uma estratégia paramétrica foi aplicada e testada
em 2017/2 [4]; em segundo lugar, uma estratégia dedicada a explorar o uso do sistema BIM para explicar a
tecnologia de construção em woodframe foi aplicada em 2019 [5].

ESTRATÉGIA DE DESIGN THINKING PARAMÉTRICO


Segundo Oxman (2017), existem vários modelos de design thinking, entre os quais, “emergindo como um
modelo único e distintivo de design”, o design thinking paramétrico (PDT). Para Oxman, essa é uma nova
categoria de design thinking capaz de ser explorada dentro de tecnologias digitais parametrizadas. A
possibilidade de desenvolver um processo criativo de design é aqui apoiada por programas de computador
que descrevem relações geométricas de forma parametrizada, entre os quais softwares de programação visual
como Grasshopper e Dynamo. Oxman continua explicando que o uso de tais tecnologias pode levar ao
desenvolvimento de processos criativos inovadores envolvendo habilidades como programação de
computadores, desenvolvimento de lógica algorítmica e scripts.
Para implementar uma abordagem paramétrica (algorítmica) no ensino de arquitetura, Romcy (2017), por sua
vez, estabelece quatro passos: 1. A compreensão dos conceitos da linguagem computacional por meio do uso
de exemplos práticos; 2. A compreensão da relação objeto x algoritmo; 3. O desenvolvimento do algoritmo
de um objeto existente a partir da dedução da sua lógica composicional e possíveis parâmetros; 4.O
desenvolvimento de um projeto através da abordagem algorítmica. Dentre as técnicas didáticas sugeridas
pelo autor para implementar essas etapas, destaca-se a utilização de um modelo de referência paramétrico.
Além de demonstrar os conceitos de lógica algorítmica e linguagem computacional, o modelo tem potencial
para exibir determinados conteúdos que se pretende abordar, como, por exemplo, a lógica de projeto
composicional e/ou um processo de construção.
Assim, em 2017/2, a estratégia de design thinking paramétrico (PDT) concentrou os seus esforços
especialmente em algumas das dificuldades dos alunos em desenvolver, representar e detalhar formas
complexas não coplanares durante o desenvolvimento dos projetos de unidades de alojamento individuais.
Aproveitando a recente introdução de aulas de programação visual algorítmica Rhino/Grasshopper no
currículo da escola, a estratégia PDT fez uso desses ensinamentos, disponibilizando-os aos alunos do PA-II.
Estas incluíram o desenvolvimento de um modelo paramétrico - “a unidade paramétrica de referência”, com
baixa complexidade geométrica seguindo uma lógica de modelagem algorítmica dentro do raciocínio do
sistema wood frame [6]. Dividido em quatro etapas (figura 2), o processo de modelagem descreveu dois
perfis “lofted” formando um volume que posteriormente foi seccionado conforme o módulo do sistema
construtivo, gerando linhas às quais foram incorporadas vigas de madeira. Concluída a descrição
paramétrica proposta, foi demonstrada a integração entre a modelação algorítmica e a plataforma BIM,

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criando assim uma ligação entre a modelação geométrica, a atribuição de dados construtivos e a
representação gráfica numa abordagem A-BIM (Feist, 2016). [7]. Ao final do processo, os alunos foram
apresentados a algumas das potencialidades da lógica algorítmica, como obter variações formais em um
determinado projeto de forma controlada, sem a necessidade de reiniciar o processo de modelagem.
Portanto, por meio de uma “unidade de referência paramétrica”, os alunos foram apresentados não apenas
aos fundamentos do pensamento algorítmico e aos principais conceitos da linguagem computacional, mas
também, para aqueles que desejam desenvolver geometrias mais complexas, uma metodologia referencial
capaz de ser utilizada no desenvolvimento de seus projetos de estúdio de design. No entanto, a estratégia do
modelo referencial não permitiu que os alunos do PAII desenvolvessem autonomamente os seus algoritmos
individuais. Isto se deveu em parte a uma elevada complexidade formal apresentada nos projetos
individuais, extrapolando a simplicidade do modelo de referência. Portanto, foram necessárias avaliações
pedagógicas extras, como videoaulas on-line e tutorias específicas sobre projetos individuais dos alunos.

No ateliê de design, apenas quatro alunos de um grupo de quatorze optaram por seguir a estratégia do PDT,
principalmente pela complexidade formal de suas Festas. Para estes, as etapas do processo de projeto
ocorreram da seguinte forma: primeiro, na etapa “ambiental conceitual”, a estratégia de design thinking
analógico continuou sendo empregada em cada grupo para desenvolver o conceito geral do hotel; na etapa
“programático-formal” do grupo foi definida a planta do local (Autocad/sketchup); e, na etapa individual
“programático-formal”, foi apresentada uma introdução à gramática da forma para orientar as explorações
iniciais da forma da unidade de hospedagem, na tentativa de conexão com os conceitos abstratos do hotel;
aqui foram empregados esboços e modelos analógicos e, opcionalmente, foram oferecidas orientações aos
interessados ​em explorar ferramentas paramétricas; na etapa “material-construtiva” seguinte, cada um dos
quatro alunos, com base nas definições formais anteriores, transpôs o volume de estudo do projeto para a
plataforma Rhinoceros como linhas iniciais, procedendo então à conexão do plug-in Grasshopper,
transformando o linhas em superfícies; em seguida, passaram a desenvolver as unidades paramétricas
individuais guiados pela metodologia “unidade de referência paramétrica”, elaborando as diretrizes
estruturais dos projetos para finalmente identificar os componentes construtivos específicos através da
conexão Grasshopper/ArchiCAD (figura 3).
Posteriormente, foram elaborados os documentos do projeto e produzidos os detalhes bidimensionais. Ao
final do semestre, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas a todos os quatorze alunos do ateliê de design
que exercitaram a “unidade de referência paramétrica” (PA-II e/ou RG-III). Nas respostas paramétricas, os
quatro alunos que optaram por dar continuidade à unidade de referência com a estratégia PDT na disciplina
PA-II demonstraram que, apesar das dificuldades, a experiência foi considerada positiva.
Porém, todos os alunos que trabalharam com a “unidade de referência paramétrica” (no GP-III) concluíram
que as vantagens da modelagem paramétrica representavam uma ferramenta potencial para ampliar as
possibilidades de projeto, como variabilidade de projeto, automação de processos repetitivos, e controle
geométrico de formas complexas. A Figura 4 representa as etapas de desenvolvimento realizadas pelos
implementadores de ferramentas paramétricas/BIM nas etapas “formal programática” e
“material-construtiva”.

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No ateliê de design, apenas quatro alunos de um grupo de quatorze optaram por seguir a estratégia do PDT,
principalmente pela complexidade formal de suas festas. Para estes, as etapas do processo de projeto
ocorreram da seguinte forma: primeiro, na etapa “ambiental conceitual”, a estratégia de design thinking
analógico continuou sendo empregada em cada grupo ou de forma individual para desenvolver o conceito
geral do hotel; na etapa “programático-formal” do grupo de projetos dos alunos, a planta do local. foi
definido (Autocad/sketchup); e, na etapa individual “programático-formal”, foi apresentada uma introdução à
gramática da forma para orientar as explorações iniciais da forma da unidade de hospedagem, na tentativa de
conexão com os conceitos abstratos do hotel; aqui foram empregados esboços e modelos analógicos e,
opcionalmente, foram oferecidas orientações aos interessados ​em explorar ferramentas paramétricas; na
etapa “material-construtiva” seguinte, cada um dos quatro alunos, com base nas definições formais
anteriores, transpôs o volume de estudo do projeto para a plataforma Rhinoceros como linhas iniciais,
procedendo então à conexão do plug-in Grasshopper, transformando o linhas em superfícies; em seguida,
passaram a desenvolver as unidades paramétricas individuais guiados pela metodologia da “unidade
paramétrica de referência”,
elaborando as diretrizes estruturais dos projetos para finalmente identificar os componentes construtivos
específicos através da conexão Grasshopper/ArchiCAD (figura 3).
Posteriormente, foram elaborados os documentos do projeto e produzidos os detalhes bidimensionais. Ao
final do semestre, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas a todos os quatorze alunos do ateliê de design
que exercitaram a “unidade de referência paramétrica” (PA-II e/ou RG-III). Nas respostas, os quatro alunos
que optaram por continuar com a estratégia PDT na disciplina PA-II demonstraram que, apesar das
dificuldades, a experiência foi considerada positiva. Porém, todos os alunos que trabalharam com a “unidade
de referência paramétrica” (no GP-III) concluíram que as vantagens da modelagem paramétrica
representavam uma ferramenta potencial para ampliar as possibilidades de projeto, como variabilidade de
projeto, automação de processos repetitivos e controle geométrico de formas complexas. A Figura 4
representa as etapas de desenvolvimento realizadas pelos implementadores de ferramentas paramétricas/BIM
nas etapas “formal programática” e “material-construtiva”.
ESTRATÉGIA BIM
Assumindo que um processo BIM envolve a construção de um modelo virtual paramétrico que simula as
características de uma edificação real, pode-se dizer que ele tem potencial para contribuir para a
compreensão de uma técnica construtiva e sua lógica composicional. Além disso, um processo de projeto
BIM reduz o nível de abstração, induzindo os acadêmicos a pensar sobre o processo de construção. Dessa
forma, após a inclusão do ensino da plataforma BIM/ArchiCAD no currículo escolar em 2017/2 (RG-II, 3º
semestre), esta pesquisa voltou seus esforços para o aprimoramento da compreensão da técnica de construção
em woodframe no estúdio de design PA-II por meio do conhecimento digital. Nesse contexto, Romcy (2017),
Leal (2018) e Medeiros (2015) corroboram com a utilização de modelos paramétricos BIM para explicar
conteúdos didáticos. Posto isto, em 2019, a Estratégia BIM foi desenvolvida com base num modelo de
referência BIM - a “unidade de referência BIM” (Figura 5), ​passando a funcionar como parte integrante da
fase revista “materialconstrutiva” da disciplina PA-II design. processo [8].

A sequência do processo de design empregado durante 2019 seguiu o proposto originalmente (Figura 6),
onde a etapa “conceitual-ambiental” foi responsável pelas técnicas de design thinking analógico utilizadas
em grupos para definir o conceito geral do hotel e, na etapa “programática-formal” , além do emprego de
uma planta geral pré-definida do local do hotel (BIM e/ou sketchup), foram explorados estudos individuais
de geração de formas através de exercícios analógicos e digitais (CAD - Sketchup) para chegar à parte da
unidade. Posteriormente, foi criada uma etapa “técnico construtivo” separada da etapa
“material-construtiva”, a fim de apresentar um exercício presencial em que a unidade de referência BIM
funcionou como instrumento pedagógico informando aos alunos o sistema wood frame. Segundo Delattore
(2014), o ensino de ferramentas e processos BIM deve ser implementado de forma gradual, portanto, a
unidade de referência BIM apresentou baixa complexidade formal, visando exemplificar soluções técnicas
regulares de wood frame. A metodologia proposta envolveu o passo a passo da construção virtual da unidade
seguindo uma lógica semelhante à construção in loco, desde as fundações até a cobertura. O exercício foi
dividido em três etapas: estrutura, fechamento das paredes e aberturas (portas e janelas). Entre cada etapa,

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esperava-se que os alunos conseguissem adaptar a sequência na montagem do seu projeto individual no
ArchiCAD. Esta metodologia teve como objetivo aproximar os alunos do canteiro de obras, induzindo de
forma alguma a compreensão da construção de uma verdadeira casa de madeira. Integrando a estratégia, foi
fornecido um modelo em ArchiCAD e um texto de orientação. Durante a transposição do conhecimento
apreendido sobre a unidade de referência BIM para as unidades individuais, uma dificuldade inicial
enfrentada foi que as grades de referência do modelo funcionavam principalmente para a compreensão de sua
lógica interna e não dos projetos individuais, corroborando, em alguns casos, no sentido de uma transposição
literal de algumas das soluções técnicas. Estas situações, no entanto, foram possíveis de serem resolvidas nas
correções individuais e numa posterior revisão do modelo de referência para consultas posteriores. Após o
exercício BIM, os alunos procederam ao detalhamento das unidades individuais e à produção dos
documentos de construção. Importante perceber que esta estratégia foi utilizada em duas ocasiões durante
2019, uma das quais incluiu uma amostra maior, num total de trinta e nove alunos. No final do semestre
foram aplicadas entrevistas semiestruturadas, questionando se o exercício presencial associado a um
software/processo BIM melhorou a compreensão técnico-construtiva dos alunos. A análise das respostas
concluiu que a estratégia BIM contribuiu positivamente para a compreensão do sistema wood frame,
atingindo o seu objetivo principal. Além disso, foram resolvidos problemas anteriores de incompatibilidade
entre modelos tridimensionais e representações bidimensionais, já que no software BIM estes são produtos
interligados.

O template proposto, por sua vez, contribuiu para a padronização e qualidade dos aspectos gráficos dos
projetos gerais dos alunos. Ainda mais preocupante foi que devido à inserção da unidade de referência BIM
no exercício presencial somente após a etapa “formal programática”, muitos projetos sofreram ajustes e
redesenhos significativos, ocupando um tempo precioso ao final do processo dedicado à construção detalhes.
CONCLUSÕES
No Brasil, como explicado anteriormente, ainda faltam estratégias cognitivas abrangentes de projeto
arquitetônico associadas ao conhecimento digital, especialmente na graduação. A maioria dos experimentos
ocorre em workshops curtos ou disciplinas técnicas e/ou instrumentais independentes, focando apenas em
determinados aspectos. Portanto, para melhor compreender o potencial das ferramentas de design thinking –
digitais e analógicas, em todos os aspectos do processo de design, esta pesquisa vem realizando
experimentos sobre um tema e programa específico em um estúdio de graduação intermediária em design ao
longo dos anos. Para melhor explorar as tecnologias e técnicas empregadas, embora os experimentos se
concentrassem em diferentes aspectos do processo de projeto, eles foram conduzidos de forma cumulativa,
agregando conhecimento progressivamente. Se a estratégia de Design Thinking trouxe para os experimentos
posteriores o uso de técnicas conceituais analógicas, as estratégias BIM e PDT aplicadas em diferentes
momentos do processo de projeto, resultaram em dois modelos de referência que visavam melhorar através
do conhecimento digital, os aspectos formais e construtivos do processo de design. No entanto, e apesar dos
resultados positivos aqui demonstrados, ainda existem aspectos de melhoria a considerar.
Ao comparar uma amostra dos resultados individuais das três diferentes estratégias (figura 7), é possível
observar uma semelhança nas soluções formais globais do primeiro (DTS) e do último modelo (BIMS); o
que diferencia as estratégias é uma melhoria na compreensão e precisão da construção, coordenação de
desenhos e visualização no modelo BIM. Já a unidade PDT abre a possibilidade de romper com a
regularidade formal ainda dentro de um sistema woodframe, embora exija mais tempo para resolução dos
detalhes e um melhor conhecimento da ligação Grasshopper-Archicad para este nível de estudo. Contudo,
tendo em conta que o projecto também contempla o desenvolvimento colectivo de um Hotel composto por
quatro a cinco tipologias de unidades de alojamento, é importante considerar a necessidade de criação de
uma determinada identidade de grupo. Assim, após levar em consideração todas as questões levantadas
individualmente sobre as estratégias de Design Thinking, PDT e BIM, esta pesquisa se apresenta com a
seguinte questão: como um processo de projeto digitalmente informado pode ajudar a criar uma estratégia

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que atenda com sucesso a um conceito de grupo dentro de um referencial? identidade formal, linguagem
material e restrições construtivas?
Para melhor responder a essa questão, esta pesquisa pretende propor uma nova estratégia dentro de um
modelo teórico unificado a ser implementado em 2020 - a Estratégia da Matriz Morfológica Paramétrica [9]
(Figura 8). Estruturada em quatro fases distintas, esta estratégia prevê abordar as seguintes questões:

Para caracterizar a unidade de referência BIM como essencialmente informativa, aumentando assim o
conhecimento tectónico nas decisões formais seguintes do aluno, propõe-se avançar o exercício do modelo
de referência BIM antes da fase “formal programática”.
Para ajudar a avaliar a relação conceito x forma e criar uma linguagem de grupo comum relacionada ao
conceito geral do hotel, na fase “programático-formal”, será implementada em grupos outra ferramenta
analógica de design thinking - uma “matriz morfológica”. ” - uma técnica analítico-combinatória
(Zwicky,1969). Esta ferramenta visa permitir uma série de combinações de princípios conceituais,
geométricos e estruturais dispostos em um diagrama matricial, no qual possíveis associações informarão a
próxima etapa do processo (Guilford, 1967);
Por fim, a matriz informará um modelo algorítmico de referência comum a cada grupo, definindo a
possibilidade de variações paramétricas individuais (unidades paramétricas). Na fase correspondente
“material construtivo”, prevê-se a ligação Grasshopper/ArchiCAD, permitindo aos alunos ligar todos os
aspectos do projecto a modelos construtivos e documentos partilhando um número limitado de variações.
Portanto, este artigo teve como objetivo demonstrar estratégias anteriores e futuras de processos de projeto
visando criar uma metodologia que, fazendo uso de ferramentas de design thinking analógicas e
paramétricas, possa contribuir para uma melhoria contínua do ensino e aprendizagem do processo de projeto
arquitetônico.
NOTAS
[1] A pesquisa: “Utilização de métodos criativos visando inovação no processo de Projeto
Arquitetônico”, é atualmente coordenada pela Dra. Angélica Ponzio. Ex-coordenadora: Andrea Soler
Machado. Colaboradores atuais: Dra. Underléa M. Bruscato, Prof. Leonardo Prazeres V. de Souza, Victor M.
Schulz, Cindy del R. Lasso Estupinan, Marina P.C.A. Vale, Mário G. Gonzaga, Rafael J. F. Puig, Prof.
[2] No Brasil a técnica woodframe, embora recente, vem ganhando força na indústria AEC, tendo seus
primeiros prédios de apartamentos em woodframe construídos em 2019.
[3] A partir de 2017/1 os alunos passaram a ser instrumentalizados em tecnologia BIM/ArchiCAD na
disciplina de Representação Gráfica II (RG-II) no 3º semestre e, em Rhino/Grasshopper na disciplina de
Representação Gráfica III (RG-III). ) no 4º semestre.
[4] Estratégia associada à pesquisa de dissertação de mestrado: “Caminhos de Design em Plataformas
Digitais: Uma Investigação Pedagógica do Processo de Design no Ambiente Paramétrico” - Leonardo
Prazeres Veloso de Souza - 2018
[5] Estratégia associada à pesquisa de dissertação de Mestrado: “Contribuições da Tecnologia BIM no
Ensino-Aprendizagem do Projeto Arquitetônico”, Dissertação de Mestrado, Victor M. Schulz, 2020.
[6] O modelo paramétrico foi elaborado na disciplina de Representação Gráfica III (RG-III), 4º
semestre, associada às atividades da dissertação de mestrado Leornardo Prazeres Veloso de Souza.
[7] Para começar a explorar a integração entre a plataforma algorítmica e a plataforma BIM, foi
utilizado um plugin Grasshopper denominado “Grasshopper Archicad Live Connection”.
[8] Esta estratégia foi associada à Dissertação de Mestrado de Victor M. Schulz.
[9] Esta estratégia pretende ser associada aos desenvolvimentos da dissertação de mestrado de Cindy
Lasso Estupinan.

REFERÊNCIAS
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Celani, G. 2002,Além da análise e representação em CAD: uma nova abordagem computacional para o
ensino de design, Dissertação de Mestrado, Instituto de Tecnologia de Massachusetts
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projeto de edifícios altos’, Gestão e Tecnologia de Projetos, 12(1), pp.
Ching, F.D.K. 2010,Técnicas de Construção Ilustradas, Bookman, Porto Alegre - RS
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Leal, BMF 2018,Propostas para o ensino dos conteúdos de arquitetura e urbanismo através de ferramentas
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Oxman, R. 2008, 'Arquitetura digital como um desafio para a pedagogia do design: teoria, conhecimento,
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D1.T5.S2. EDUCAÇÃO E TEORIA DIGITAL – ÉTICA, CIBERNÉTICA, FEEDBACK, TEORIA - Volume 1 -eCAADe38|15

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