Você está na página 1de 6

Recife – 22 a 24/11/2023

Tecnologia no ensino de Desenho Técnico: uma análise a partir


dos planos de disciplinas do Instituto Federal da Paraíba
Angela Araújo Nunes1
Patrícia Smith Cavalcante2
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Grupo de Trabalho
Ensino, Linguagens e Tecnologias

RESUMO
Diante da importância das disciplinas de Desenho Técnico para a Educação
Profissional, este trabalho apresenta um recorte da pesquisa sobre a apropriação de
tecnologia por professores de desenho técnico. A partir dos planos de ensino contidos
no Portal do Estudante do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), foi feita uma análise
sobre como a tecnologia estava colocada nas ementas, objetivo geral, conteúdo,
metodologia e recursos. Concluindo-se que a tecnologia só foi mencionada como
ferramenta para executar desenhos ou para apresentação convencional de conteúdo,
sem registros de uma preocupação em rever práticas ou abordagens, ficando também
evidente que os planos, em sua maioria, estão desatualizados e até sem informações
importantes.

PALAVRAS-CHAVE: ensino; desenho técnico; tecnologia; planos de disciplinas.

INTRODUÇÃO
Na Educação Profissional e Tecnológica, as disciplinas de Desenho Técnico são,
indiscutivelmente, imprescindíveis à formação do discente. O ensino desse saber
guarda características que desafiaram até o avanço das tecnologias digitais, acontecido
desde a popularização dos computadores e softwares de desenho na década de 1990.
Ainda hoje, o enfoque da tecnologia nessas disciplinas encontra-se numa dualidade
metodológica sobre a produção e aprendizagem dos desenhos usando ou não o

1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica – EDUMATEC da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e-mail: angela.nunes@ufpe.br
2
Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica –
EDUMATEC da Universidade Federal de Pernambuco, e-mail: patrícia.cavalcante@ufpe.br

1
Recife – 22 a 24/11/2023

computador. Mas, ao que parece, a discussão tem se estendido para explorar


tecnologia com outros vieses, sobretudo o pedagógico. Como um importante suporte
educacional, apoio metodológico e uma forma de acenar para a modernidade dos
educandos nativos digitais. Conforme aponta Melo e Venâncio (2022, p.2), “com essa
evolução da tecnologia e seu destaque em diversos setores, questiona-se a respeito da
possibilidade de obtenção de resultados positivos na aplicação da tecnologia no
processo de ensino-aprendizagem”.
Este trabalho apresenta recorte da pesquisa que procura responder como
professores de disciplinas de Desenho Técnico se apropriam de tecnologias para
dinamizar o processo de ensino, reduzir obstáculos educacionais e atenuar
dificuldades de aprendizagem? A questão e a pesquisa nasceram de inquietações
surgidas no cotidiano da sala de aula no IFPB, diante da falta de momentos propícios
refletir sobre os desafios da docência técnica e uso de tecnologia, seja digital ou
educacional.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O plano de ensino da disciplina pode ser definido como o instrumento
pedagógico de planejamento da atividade docente, na concretização do conteúdo do
componente curricular a ser ministrado (Oliveira, 2011). Um documento construído
pelo professor responsável pela disciplina ou por um grupo da área, proposto com
base no Projeto Pedagógico de Curso, devendo ser apreciado pelo órgão responsável
na instituição.
Também para Borges (2012), o plano de disciplina representa a formalização da
construção do saber, uma materialização do conteúdo disciplinar. A ênfase no estudo
de planos ocorre devido ao fato deles terem esse caráter oficial, sendo descritivos e
prescritivos. Consiste na previsão do trabalho durante um período letivo, visando
organizar o ensino e a aprendizagem de modo a promover o bom desempenho dos
envolvidos.

2
Recife – 22 a 24/11/2023

A função do plano pode ser melhor compreendida a partir dos elementos que o
constituem: a) ementa – o assunto a ser abordado na disciplina; b) objetivo geral e
específicos – habilidades que se pretende alcançar, ou trabalhar, com o conteúdo da
disciplina; c) conteúdo – determinação pormenorizada do tema a ser abordado; d)
metodologia procedimentos – formas de como o conteúdo será ministrado; e)
recursos – meios utilizados pelo professor para executar o conteúdo; f) avaliação –
averiguação do desempenho do estudante diante do conteúdo; h) referências – fontes
bibliográficas (básicas e complementares) onde pode ser localizado o conteúdo.
Pires, Bernardes e Van Der Linden (2015), utilizaram análise de planos de
graduação em diversas universidades do Brasil para identificar uma bibliografia
consagrada sobre Desenho Técnico. A pesquisa justificava-se pela importância dos
registros do conhecimento tecnológico para a evolução da humanidade e pela
ausência de referências consensuais, mesmo com a grande quantidade de livros
técnicos publicados.
Assim, análise dos planos pode fornecer percepções valiosas sobre a didática, as
intenções e as abordagens pedagógicas do professor, refletindo sua filosofia. Ela pode
revelar a ênfase dada a determinados conceitos, habilidades ou competências; indicar
o que se espera que seja aprendido; mencionar métodos de ensino específicos e como
se pretende envolver os estudantes na aprendizagem; indicar o destaque dado à
compreensão conceitual e à aplicação prática; revelar como planeja-se considerar o
progresso e o desempenho dos discentes e mostrar o envolvimento ativo do professor
no enriquecimento da experiência de aprendizagem e seu compromisso com o sucesso
dos estudantes. Por fim, o plano de disciplina pode mencionar o uso de tecnologia
digital ou educacional, indicando o grau de inovação e integração de recursos
tecnológicos na perspectiva pedagógica do professor.
No entanto, é importante lembrar que o plano é apenas um ponto de partida,
pois como documento oficial oferece o que se pretende fazer, mas implementação real
da didática do professor pode variar. Por isso, métodos complementares como

3
Recife – 22 a 24/11/2023

entrevistas, questionários e a observação oferecem mais alternativas para delinear o


cotidiano de uma disciplina.
METODOLOGIA
O estudo consistiu em uma análise documental dos planos de disciplinas de
desenho técnico do IFPB, presentes no Portal do Estudante 3, que é uma plataforma
virtual desenvolvida com o objetivo de apresentar as informações relacionadas aos
cursos e processos seletivos.
Foi feita a seleção através da nomenclatura – disciplinas com o termo Desenho
Técnico ou do conteúdo – presença dos tópicos Normas, Projeção Ortogonal e
Perspectiva4. Cada disciplina recebeu um código para facilitar a identificação 5 e a
triagem dos dados, tabulando as informações acerca da ementa, objetivo geral,
conteúdo, metodologia e recursos.
Foram encontradas 46 disciplinas, distribuídas em 46 cursos de 14 Campi. 23
disciplinas na modalidade Integrado; 10 Subsequente; 6 Superior Bacharelado e 7
Tecnológico. São 18 denominadas Desenho Técnico; 11 Desenho Básico e Técnico; 05
Desenho Básico; 03 Desenho Técnico e CAD; 02 Desenho Auxiliado por Computador;
02 Desenho de Construção Civil; 02 Desenho Técnico e Arquitetônico; 01 Desenho
Técnico e Aplicado; 01 Desenho Aplicado à Automação e 01 Representação Gráfica. Em
relação à carga horária, 4 têm 33h; 30 com 67h; 2 com 83h; 6 com 100h e 3 com 133h.
Quanto a duração, 19 delas são disciplinas semestrais e 27 anuais.
Dos 46 planos, 5 deles não tinham informações referentes ao conteúdo. Do
restante foi possível classificá-los em quatro tipos: a) apenas Desenho Técnico – 6
planos; b) Desenho Técnico e Arquitetônico – 25 planos; c) Desenho Técnico e

3
https://estudante.ifpb.edu.br/
4
Os três tópicos para seleção foram utilizados por se tratarem de temas reconhecidamente importantes
para ler, interpretar e representar o desenho técnico, além de serem necessários para dar sequência a
disciplinas futuras.
5
Exemplo: 36_PT_ED_I_DBT_67_S, Disciplina do Campus Patos, do Curso de Edificações, modalidade de
ensino Integrado, com nome Desenho Básico e Técnico, carga horária total de 67h (80 aulas) e regime
semestral de duração.

4
Recife – 22 a 24/11/2023

Auxiliado por computador – 7 planos e d) Desenho Técnico, Arquitetônico e Auxiliador


por Computador – 3 planos.
De maneira consoante, a metodologia das disciplinas descrevia-se como aulas
teóricas expositivas, efetivadas com ferramentas analógicas (quadro, marcadores,
instrumentos) e digitais (computadores, Datashow, projetores), seguindo-se da
realização dos exercícios pelos alunos através de meios analógicos (instrumentos
convencionais de desenho) e/ou digitais (laboratórios, computadores e softwares de
desenho).
As menções ao uso de tecnologia apenas apareceram timidamente ao tratar do
Desenho Auxiliado por Computador, quando foi proposto o uso de softwares como
AutoCAD ou do Sistema BIM; ao falar em capacitar o estudante para desenvolver
desenhos usando esses softwares e, por fim, ao recomendar a utilização de
laboratórios de informática e computadores.
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES
A partir do exame dos planos de ensino das disciplinas, viu-se uma grande
quantidade de modelos, mesmo em cursos de uma mesma modalidade em um mesmo
Campus. Também notou-se que muitos planos estão desatualizados, com ausência de
informações importantes como conteúdo e metodologia. Se já são considerados
documentos burocráticos, apartados da prática, que talvez nem reflitam o diário da
sala de aula, os planos desatualizados e com erros comprometem o planejamento do
professor e a comunicação com seus estudantes.
Os planos melhor estruturados e mais atualizados foram os do Ensino Superior,
maiormente de cursos recentes como Engenharia Civil. A justificativa pode ser dada
pela exigência das Coordenações de curso aos docentes para que cumpram o Art. 24
do Regimento Didático dos Cursos Superiores do IFPB. Ao docente é pedido que, no
início do período letivo, seja informado aos discentes, através do plano de
ensino da disciplina, a periodicidade e critérios de avaliação, bem como a definição do

5
Recife – 22 a 24/11/2023

conteúdo exigido em cada verificação. Essa cobrança fez com que os planos estivessem
sempre atualizados e seguindo um padrão que facilita a informação.
Quanto a questão tecnológica, pela redação dos documentos é possível
identificar incursões sobre Desenho Assistido por Computador na ementa, objetivo e
conteúdo. Foi identificada a preocupação dos docentes em sinalizar o uso do Software
AutoCAD da Autodesk ou o trabalho com a modelagem no sistema BIM. Foram vistas
poucas incursões sobre a utilização de tecnologia como ferramenta pedagógica,
geralmente alguma menção ao uso de internet ou recursos audiovisuais. Pelos planos,
a tecnologia seria usada pelo professor de forma convencional para apresentar o
conteúdo através de computadores, Datashow ou projetores, enquanto softwares e
laboratórios seriam exclusivos para a realização dos exercícios pelos estudantes.
Como alternativa aos problemas encontrados seria importante revisar os planos
disponíveis, efetuar correções e rever a forma de escrita de alguns itens para que
ficassem mais diretas as intenções do docente, as obrigações discentes, a forma de
condução da disciplina, e a oferta de possibilidades pedagógicas, especialmente com
uso consciente de tecnologia.

REFERÊNCIAS

BORGES, Bruno Gonçalves. A história da educação ensinada a partir dos planos: a disciplina nos
cursos de formação de professores da UFU. Linguagens, Educação e Sociedade, Teresina, ano
17, n. 26, p. 171 – 194, jan./jun. 2012.
MELO, Leonardo Alexandrino; VENÂNCIO, Geisy Anny. A tecnologia a serviço da educação no
processo de ensino-aprendizagem da disciplina ‘desenho técnico’. Igapó, [S. l.], v. 10, n. 2,
2022.
OLIVEIRA, Manoel Cipriano. Plano de aula: ferramenta pedagógica da prática docente.
Pergaminho, Patos de Minas, v. 2, p. 121 - 129, nov. 2011.
PIRES, Roberto Wanner; BERNARDES, Maurício Moreira e Silva; VAN DER LINDEN, Júlio Carlos
de Souza. Existe bibliografia consagrada sobre desenho técnico no Brasil? In: Anais GRAPHICA
2015 - XI International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design. Anais [...]
Lisboa: APROGED, 2015. p. 219 – 229.

Você também pode gostar