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Curso de Aperfeiçoamento

Fundamentos teóricos e práticos da EAD

Unidade 3

ASPECTOS METODOLÓGICOS NA EAD

Em um projeto educacional elaborado para a modalidade a distância, muitos


elementos contribuem para o sucesso da aprendizagem. Conforme é apontado pelos
Referenciais Nacionais de Qualidade para a Educação Superior a Distância (BRASIL,
2007), não há um único modelo para a educação a distância. Mesmo assim, alguns
elementos são relevantes para a elaboração de um curso nessa modalidade: qual a
equipe disponível, qual(is) recursos midiáticos poderão ser utilizados e como elaborar
um material didático para a EAD. Esses são elementos fundamentais na elaboração e
execução do curso.

Nesta unidade, iremos tratar sobre os principais aspectos metodológicos na


Educação a Distância por meio dos seguintes itens:

 metodologia para a EaD: uma conversa inicial;


 equipe multidisciplinar em um curso a distância: a contribuição de
vários saberes para um curso de qualidade;
 as mídias e os estilos de aprendizagem;
 0 material didático: caminhos para a elaboração e análise da qualidade.

Desejamos um excelente aproveitamento!

METODOLOGIA PARA A EAD: uma conversa inicial

Vamos imaginar que, devido aos seus conhecimentos em determinada área do


conhecimento, você é convidado (a) a desenvolver um curso superior na modalidade
a distância. Você terá como desafio ser coordenador do projeto e deverá traçar os
elementos que tornará o curso viável – desde a sua elaboração até a sua oferta e
encerramento. Você saberia por onde começar?
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É claro que, devido a sua experiência e seu espírito engajado, provavelmente


você buscaria respostas para esse desafio. No entanto, aqui iremos identificar
algumas fases de elaboração de um projeto de educação a distância para essa
modalidade, contribuindo para a sua visão geral sobre como colocar em prática um
desafio como esse.

Um projeto de curso superior para a educação a distância possui, ao menos,


três fases. Cada fase ou etapa impacta diretamente no resultado do curso e, por isso,
se faz importante um planejamento e acompanhamento adequado. São elas:

1ª Fase - dimensionamento e elaboração do projeto do curso: essa


fase corresponde ao levantamento de informações iniciais que irão subsidiar a
execução do curso. Elementos como recursos financeiros disponíveis, equipe
disponível, identificação e recrutamento de especialistas, elaboração do projeto do
curso, definição dos princípios epistemológicos, metodológicos e políticos que
guiarão seu trabalho se fazem importantes. Além disso, nessa fase há que se observar
os requisitos regulatórios para a execução do curso, considerando os aspectos legais
estabelecidos pela legislação nacional e local.

2ª Fase - elaboração do material didático do curso: essa fase


corresponde à elaboração do material didático e definição das estratégias de
aprendizagem, considerando os princípios epistemológicos e políticos do curso. Para
essa fase, os envolvidos deverão considerar a equipe que irá contribuir para a
elaboração do material; definir os aspectos operacionais do curso (como será a tutoria
e como será a inscrição, por exemplo); fazer a gestão do tempo necessário para
concluir essa fase sem que ela concorra com o início do curso; identificar os recursos
tecnológicos disponíveis; entre outros.

3ª Fase: oferta do curso: para essa fase, os envolvidos deverão acompanhar


a mediação pedagógica do curso, fazer a gestão dos aspectos tecnológicos e do
desenvolvimento dos cursistas, bem como estabelecer estratégias para assegurar um
bom desempenho de todos.

Considerando as fases elencadas, reconhecemos que, para se pensar em


aspectos metodológicos da EaD, se faz importante aprofundar, nesta unidade, sobre:
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(1) a equipe multidisciplinar no desenvolvimento de um curso a distância; (2) as


mídias e os estilos de aprendizagem; e (3) o material didático no curso a distância.
Eleger esses pilares para dizer sobre metodologia para a EAD não significa
menosprezar outros aspectos que impactam na qualidade de um curso a distância.
Tais aspectos, como a concepção de educação e currículo no processo de ensino e
aprendizagem, a avaliação, a infraestrutura de apoio e a gestão acadêmico-
administrativa, dentre outros, são igualmente importantes para se pensar em um
projeto de curso a distância. No entanto, buscaremos discutir esses três aspectos –
equipe multidisciplinar, mídias e estilos de aprendizagem e materiais didáticos, por
acreditar que são elementos que demandam uma análise mais apurada para o
público-alvo desse curso1.

Vamos lá?

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR EM UM CURSO A DISTÂNCIA: a contribuição de vários


saberes para um curso de qualidade

Quando pensamos em um curso, com base nas concepções advindas do lugar


presencial de ensino – a sala de aula, lembramo-nos dos papéis do professor –
detentor do conhecimento e/ou mediador do processo pedagógico; e do aluno – a
quem deve ser dirigida a ação pedagógica em prol da efetiva aprendizagem. No
entanto, na Educação a Distância surge o questionamento: afinal, quem ensina na
EaD? E, de forma ampliada: quais são os envolvidos para formar uma equipe
multidisciplinar na EAD?

Para os Referenciais Nacionais de Qualidade para a Educação Superior a


Distância (BRASIL, 2007), independentemente dos variados formatos em que o curso
possa ser concebido, a equipe multidisciplinar sempre terá como integrantes:
docentes, tutores e o pessoal técnico-administrativo. Em linhas gerais, esses papéis
têm as responsabilidades de:

1 Importante ressaltar que ao elaborar o conteúdo programático do presente curso, buscou-se


identificar os maiores desafios entre os profissionais da educação da Universidade do Estado de
Minas Gerais. Tais aspectos foram elencados por meio de entrevista semiestruturada com a equipe
de professores do CEPEAD em junho de 2016.
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Docentes: cabe aos docentes participar da elaboração do curso de uma forma


geral. São eles que estabelecem os fundamentos teóricos do curso, identificam e
elaboram o conteúdo a ser disponibilizado, bem como estabelecem as atividades
pedagógicas que serão adotadas no curso. Além disso, deverão apontar os objetivos a
serem alcançados por meio do curso e definir as estratégias com os demais
profissionais, com o intuito de garantir a aprendizagem do aluno. Apontar os
materiais didáticos suplementares e dar apoio aos demais envolvidos na execução do
curso também fazem parte de seu escopo de atividades. De acordo com Mill (2010),
pode-se considerar que, nesse grupo, destacam-se os professores-conteudistas -
responsáveis por elaborar o material didático de acordo com o tema do curso; e os
professores-formadores – responsáveis por realizar o acompanhamento dos cursistas
perante o seu aproveitamento, por meio da orientação aos tutores.

Tutores: os tutores são os intermediadores do processo pedagógico do curso.


Atuam corpo a corpo com os cursistas a fim de incentivar a participação, esclarecer
dúvidas de acesso/mídias, acompanhar o aproveitamento dos alunos e atribuir notas
das atividades entregues de acordo com a orientação didática do professor. Em um
curso, poderá haver tutores presenciais e/ou a distância. Os tutores presenciais ficam
disponíveis no polo do curso, auxiliando nas questões de acesso, permanência e
didática. Já os tutores a distância atuam via ambiente virtual de aprendizagem,
auxiliando também na mediação pedagógica e midiática do curso.

Pessoal técnico-administrativo: nesse grupo, encontram-se tanto


profissionais que realizam atividades tanto administrativas quanto tecnológicas. No
que se refere à tecnologia, o pessoal poderá ser especializado em ambiente virtual de
aprendizagem – AVA e designer instrucional, contribuindo para a elaboração do
projeto do curso e realizando as adequações necessárias à inserção dos conteúdos e
materiais didáticos no AVA. O pessoal da área administrativa ficará responsável pela
execução do curso em relação à secretaria do curso, matrícula, declarações e demais
documentos requisitados pelos envolvidos, como também será responsável pela
distribuição de material didático e apoio aos laboratórios e bibliotecas, entre outros.
Entre esses profissionais administrativos, encontra-se a figura do Coordenador de
Polo de Apoio Presencial: ele é o responsável administrativo pela execução do curso
no polo presencial. O coordenador de polo é um facilitador importante para as
atividades que devem ocorrer no âmbito dessa unidade presencial, uma vez que o
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Polo de Apoio Presencial é indispensável na estrutura de um curso superior a


distância, conforme diretrizes do MEC.

Para Mill (2010), os projetistas educacionais (ou designer instrucional) são


destaque – e por isso não são mencionados como parte do pessoal de apoio
administrativo. Esses profissionais são responsáveis por adequar o conteúdo às várias
mídias adotadas pela instituição mantenedora do curso. Outra categoria de destaque
para o autor é a equipe coordenadora e a equipe de apoio técnico (na IES ou no polo),
ficando no grupo de apoio técnico-administrativo os redatores, os profissionais de
Tecnologia da Informação, entre outros.

De acordo com Mill (2010),

o trabalho docente em educação a distância (EaD) é extremamente


fragmentado, e cada parte das atividades que compõem o trabalho virtual é
atribuída a um trabalhador diferente ou a um grupo deles. Apesar de haver
variações nos tipos de equipes entre uma experiência de EaD e outra [...],
sabe-se que o trabalho docente a distância se organiza de forma coletiva e
cooperativa. A esse conjunto articulado de trabalhadores, necessário para a
realização das atividades de ensino-aprendizagem na EaD, denominamos de
polidocência. (MILL, 2010, p. 23).

Dessa forma, na Educação a Distância o trabalho é realizado por uma equipe


articulada – polidocência, diferentemente do processo pedagógico da educação
presencial, que é realizado diretamente pelo professor. Se no formato presencial
quem ensina é o professor, no modelo a distância o intermediador direto do processo
pedagógico se dá pelas figuras do tutor e do professor. Além disso, mesmo que
indiretamente, a equipe técnico-administrativa contribui para a educação no
ambiente a distância, na medida em que elabora, em conjunto com os professores,
materiais didáticos arrojados, ambientes virtuais com interface facilitadora, entre
outras atividades.

Polidocência é o termo utilizado para referir–se à equipe multidisciplinar


responsável pelo processo pedagógico. A polidocência pressupõe trabalho
coletivo e colaborativo com o intuito de garantir que a aprendizagem
ocorra com sucesso.
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Falar da polidocência remete ao questionamento: é possível um curso a


distância ser elaborado por apenas um docente? Para Mill (2010), a concepção de um
curso a distância pressupõe uma multitarefa, refletida pela polivalência do trabalho
de uma equipe interdisciplinar. Para um professor acumular as variadas funções (seja
de idealizador do curso, elaborador do material didático, preparador do ambiente de
aprendizagem virtual e tutoria) se faz necessário o conhecimento de diversos saberes
e, dependendo da amplitude do projeto, a sua execução se torna tarefa difícil. Assim,
a fragmentação do processo de trabalho ocorrida na modalidade a distância é
necessária na medida em que a complexidade dos projetos e o “desejo de atender a
um grande número de alunos” (MILL, 2010, p. 27) exige uma formação significativa
de uma equipe multidisciplinar.

Sinteticamente, a polivalência evidencia dois aspectos importantes do


trabalho coletivo na docência virtual: a interdependência entre os membros
da equipe e a fragmentação do processo de trabalho. [...] Se a
interdependência passa pela colaboração, cooperação e sinergia do grupo em
função do alcance de um mesmo objetivo comum, a construção do
conhecimento pelo aluno, há outro lado, o outro aspecto: a fragmentação do
trabalho, que traz consigo questões mais perversas ao trabalhador virtual,
como a redução da sua autonomia e da noção do todo do seu trabalho.
(MILL, 2010, p. 28).

Dessa forma, o processo educativo na EaD, na maioria das vezes, é realizado


por uma equipe multidisciplinar e polivalente. No entanto, sabe-se que é possível,
dependendo da amplitude do projeto, a atuação de um único professor (que deverá
acumular variados saberes para conseguir ofertar o curso). Não obstante, o que se
defende é a importância de uma formação mais assertiva para o docente que pretende
propor um curso a distância, pois, a partir de sua formação sobre o como ensinar na
EaD, os caminhos a serem traçados para a oferta do curso serão ampliados – o que
contribuirá para a aprendizagem significativa do aluno. Conhecer os variados
recursos tecnológicos disponíveis, incluindo o ambiente virtual de aprendizagem
adotado, compreender como as pessoas aprendem, entender a importância de um
material didático bem elaborado e reconhecer a importância da mediação e tutoria do
processo pedagógico são elementos que facilitarão o trabalho do docente na EaD.
Esse conhecimento não concorre com a equipe multidisciplinar, pois ele auxiliará o
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docente a ter uma visão global do trabalho que contribuirá com a qualidade do curso
elaborado pela equipe multidisciplinar.

AS MÍDIAS E OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM

No processo pedagógico, a comunicação é essencial - seja essa a comunicação


oral, seja escrita. No ensino presencial, o ensinar é realizado pela comunicação que
pode garantir o processo de aprendizagem. No entanto, mesmo que no ensino
presencial o professor utilize outros recursos para garantir a comunicação e a
consequente aprendizagem, na educação a distância o uso de mídias é necessário,
considerando que, nessa modalidade de educação, o professor e o aluno não estão
necessariamente no mesmo tempo e espaço. Por isso mesmo, na educação a distância
as mídias e os materiais didáticos confundem-se, pois “o material didático é o canal
mais importante na comunicação com o aluno. Muitas vezes confunde-se até mesmo
com o próprio curso” (AVERBUG, 2003, p. 26).

Conforme apontado por Mantyla e Gividen (1997), citados por Sousa e


Nunes (2000, p.116), [...] dois erros são comuns nos estágios de
planejamento de programas de educação a distância: - primeiro, tentar
escolher apenas uma única tecnologia para todas as situações e necessidades
de cursos; - segundo, selecionar tecnologias antes de identificar as
necessidades e requerimentos educacionais. (AVERBUG, 2003, p. 8).

Portanto, na concepção de um curso a distância, deve-se pensar nas mídias a


serem adotadas para tratar do conteúdo, observando como se pode explorar melhor o
tema a ser abordado, e deve-se, também, considerar as características do público-
alvo. Dito de outra forma: se o objetivo educacional é a formação e a aprendizagem,
deve-se considerar os elementos em favor da educação a distância: as mídias e os
estilos de aprendizagem.

Grosso modo, quando se fala de mídia, refere-se, aqui, a um meio de


comunicação que envolve uma mensagem e uma recepção, que poderá ser realizada
por variados meios. Para Kozma (1991), a mídia se caracteriza pela sua tecnologia,
seus símbolos e a capacidade de processamento que oferece. Por exemplo:

O jornal impresso e o livro utilizam o mesmo sistema de símbolos (letras,


palavras e imagens), mas são mídias diferentes, uma vez que utilizam
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tecnologias distintas (formato, qualidade do papel e da impressão) e


possuem capacidades de processamento diversas (um é diário e descartável,
o outro é perene; seus processos de leitura, físicos e cognitivos são distintos).
O cinema, a televisão e o videocassete utilizam-se do mesmo sistema de
símbolos (som e imagem em movimento), mas também se diferenciam pela
tecnologia e pelo sistema de processamento. É por isso que assistir a um
filme no cinema, na televisão ou no videocassete são experiências totalmente
diferentes, influindo até mesmo na mensagem que é percebida pelo receptor.
(TORI, 2003, p.50-51).

Dessa forma, com o avanço das tecnologias da informação e comunicação,


deve-se reconhecer que existem variadas mídias disponíveis para a elaboração de
cursos a distância. Deve-se reconhecer também as potencialidades de cada uma para
a sua utilização no ambiente de aprendizagem da Educação a Distância. Por isso,
apresenta-se aqui a taxonomia das mídias, elaborada por Tori (2003), baseada nas
características definidas por Kozma (1991), quais sejam: simbologia, tecnologia e
capacidades de processamento.

Simbologia: A simbologia da mídia pode ser classificada como estática ou


contínua. A simbologia de determinada mídia será estática quando se centrar em
textos, imagens ou outros elementos que não apresentam continuidade. Por sua vez,
a simbologia da mídia será contínua quando depender do tempo para a comunicação.
É importante ressaltar que a simbologia contínua poderá se dar por meio de discurso,
música, animação, performance, exercitação ou outros.

Tecnologia: A tecnologia da mídia se classifica como eletrônica ou concreta.


Entende-se por eletrônicas aquelas mídias digitais ou analógicas que “provocam
sensações similares às provocadas por fenômenos naturais”. (TORI, 2003, p. 57). Por
sua vez, as mídias com tecnologias concretas correspondem àquelas que utilizam o
meio material ou corporal para a sua disponibilização. Por exemplo, para mídia com
tecnologia eletrônica, pode-se citar um CD Player. Exemplo de mídia de tecnologia
concreta, por sua vez, é um livro ou uma palestra.

Capacidades de processamento: a capacidade de processamento da mídia


é muito importante para a sua caracterização, pois “determinada tecnologia, para um
mesmo conjunto de símbolos, pode levar a mídias bem distintas, em função de
diferentes conjuntos de capacidades de processamento” (TORI, 2003, p. 59). Assim,
elas podem ser classificadas: (1) quanto à distância espacial: ou seja, a distância entre
o emissor e o receptor pode ser no mesmo local ou remota; (2) quanto à distância
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temporal: ou seja, a distância poderá ser síncrona ou assíncrona; (3) quanto à


distância interativa: ou seja, expositiva (com interação baixa) ou interativa (com
maior interação); (4) quanto à forma de leitura: ou seja, linear e hipermidiática e (5)
quanto à geração de conteúdo: ou seja, generativa (gera novas saídas, ex. simulador)
ou reprodutiva (apenas reproduz o conteúdo armazenado).

Interatividade: trata-se de uma subclassificação da mídia, que pode ser


qualificada quanto (1) à participação: individual ou coletiva; quanto (2) à
significância: operacional (quando a participação do usuário não altera o conteúdo),
pontual (que ocasiona em uma resposta específica sem alterar conteúdo),
circunstancial (provoca alteração no conteúdo de acordo com os limites estabelecidos
pelo moderador) ou estrutural (o receptor possui controle total sobre o recurso); e
quanto (3) à imersão: seja imersiva (realidade virtual, que fixa seus sentidos
exclusivamente naquela mídia) ou não imersiva (os sentidos não ficam privados dos
mundo externo).

Logo, segue um quadro-resumo da taxinomia apresentada por Tori (2003):

Quadro 1 - Taxinomia das mídias

Taxinomia das mídias (TORI, 2003)

SIMBOLOGIA

Estática Contínua

Texto Imagem Discurso Música Animação Performance Exercitação

TECNOLOGIA

Eletrônica Concreta

Digital Analógica Material Corporal

CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO – COMPONENTES DE DISTÂNCIA

Distância espacial Distância temporal Distância interativa

Local Remota Síncrona Assíncrona Expositiva Interativa


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Forma de leitura Geração de conteúdo

Linear Hipermidiática Generativa Reprodutiva

INTERATIVIDADE

Participação Significância Imersão

Individual Coletiva Opera- Pontual Circuns- Imersiva Não


cional tancial imersiva

Fonte: Elaborado pelos autores, com base em Tori (2003).

Cabe lembrar que um recurso é considerado multimídia quando apresenta


mais de uma característica dentre as classificações das taxonomias apresentadas.

A taxonomia é elemento importante quando se buscam recursos que


favoreçam a aprendizagem. Isso porque, se o material didático quase se confunde
com o próprio curso na Educação a Distância, valer-se de diferentes mídias para a
elaboração dos materiais didáticos poderá garantir maior qualidade para o projeto
educacional. No entanto, conforme apontado anteriormente, há que se pensar no
público-alvo e os estilos de aprendizagem existentes que poderão impactar nas
estratégias a serem adotadas para a oferta de um curso EaD.

Quando se fala de estilos de aprendizagem, o que se quer dizer?

Vimos as diferentes mídias disponíveis que podem ser utilizadas na elaboração


de um curso EaD. O material didático impresso, por exemplo, apesar de possuir um
caráter estático, expositivo, linear e reprodutivo, permite a aprendizagem remota e
assíncrona. No entanto, a leitura linear pode ser uma forma mais difícil para algumas
pessoas aprenderem e, somada à ausência da exposição oral do professor como se
tem nos cursos presenciais, poderá levar o aluno ao fracasso escolar. Fica então a
dúvida: como as pessoas aprendem? Como os estilos de aprendizagem poderão
facilitar a elaboração do material didático para um curso a distância?

Muitos estudiosos têm dedicado o seu tempo em pesquisas sobre como as


pessoas aprendem, ou seja, em seus estilos de aprendizagem. As pesquisas
disponíveis em relação aos estilos de aprendizagem podem ser divididas em três
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grupos: teorias de base fisiológicas, de estruturas cognitivas e de base culturais.


Vamos analisar cada uma delas?

As teorias de base fisiológicas relacionam os estilos de aprendizagem de acordo


com as características biológicas do ser humano. Para a Classificação VARK, por
exemplo, as pessoas aprendem melhor de acordo com o sentido que lhes é mais
peculiar. Esse modelo, criado por Rita e Kenneth Dunn, em 1977, de acordo com
Amaral (2007), classifica os estilos de aprendizagem da seguinte forma:

Visual: Pessoas que aprendem melhor a partir de estímulos visuais, como,


observar e ler. Podem ser subdivididos em verbais e não verbais. Esse grupo de
aprendizes vai se desenvolver melhor em ambientes de leitura, escrita, ou ambientes
com fotografias, ilustrações, vídeos, entre outros.

Auditivo: Pessoas que aprendem melhor a partir de estímulos auditivos,


como, ouvir e falar. Esses aprendizes têm mais dificuldades em atividades de leitura
e escrita, no entanto, gostam de trocar ideias e ouvir opiniões e explicações por meio
da exposição oral para aprender.

Cinestésico: Pessoas que aprendem melhor a partir da cinestesia (percepção


de tato e movimento), por exemplo, aprendem melhor em atividades em que sentem
e tocam. Esses aprendizes tendem a perder concentração com a baixa estimulação
externa ou movimentação, por isso, para esse grupo, é importante atividades que
proporcionem o movimento, que estimulem utilizar marcadores nas apresentações
dos slides, ou ainda, solicite que o aluno elabore esquemas com o conteúdo
apresentado.

As teorias que consideram a estrutura cognitiva são ancoradas nos estudos de


Hermann A. Witkin, de 1962. Baseiam-se em isolar traços de percepção,
denominados como Dependência de Campo e Independência de Campo. Nesse
estudo, campo corresponde a ambiente.

Dependência de campo: As pessoas que se enquadram nessa categoria


aprendem globalmente, ou seja, dependem do ambiente para compreender o
fenômeno em si. Por isso, os dependentes consideram o ambiente social e, a partir
dele, definem suas atitudes e valores, demonstram ser mais sensíveis aos sentimentos
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das outras pessoas. Por isso, para um contexto de aprendizagem, buscam feedbacks e
um maior acompanhamento de tutoria/mediação.

Independente de campo: Pessoas que são independentes de campo não


demandam o contexto para compreender os elementos. Tendem a ser mais
impessoais e conseguem mais facilmente entender questões abstratas e teóricas.
Adaptam-se bem a desafios analíticos e à abstração e não demandam tanto
acompanhamento do tutor.

O inventário de Kolb de 1984, por sua vez, se ancora nos preceitos culturais
que influenciam o processo de aprendizagem. De acordo com Filatro (2014), para
Kolb, dois eixos impactam na aprendizagem: o processamento (como fazemos as
coisas) e a percepção (como pensamos nas coisas). Esses eixos revelam quatro estilos
de aprendizagem, quais sejam: divergência, assimilação, convergência e acomodação.

Estilo Acomodador: pessoas que possuem esse estilo aprendem com a


experiência prática e, por isso, apreciam novas experiências e desafios. “Confiam
mais nos sentimentos que na análise lógica, e mais nas pessoas que em análises
técnicas” (FILATRO, 2014, p. 14). Por isso, aprendem melhor por meio de
treinamentos on the job e atividades práticas.

Estilo Divergente: pessoas que possuem esse estilo conseguem perceber os


diferentes pontos de vista, e por isso são criativas e emocionais. Por isso, aprendem
melhor em atividades de brainstorming, em interação com outros e apreciam o
feedback.

Estilo Convergente: pessoas que possuem esse estilo buscam as aplicações


práticas dos elementos aprendidos, gostam de resolver problemas e preferem “tarefas
técnicas a questões interpessoais” (FILATRO, 2014, p. 14). Assim, aprendem melhor
a partir de simulações, estudos de caso, testes objetivos, entre outros.

Estilo Assimilador: o estilo assimilador gosta de organização sistemática,


lógica e, por isso, lida melhor com conceitos abstratos. Por isso, consegue se
desenvolver bem com leituras e palestras que demandam análise mais apurada.
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Aqui, trouxemos, de forma superficial, os estudos referentes aos estilos de


aprendizagem. A discussão deve ser ampliada, sobretudo para se refletir sobre a
importância da equipe de mediação e tutoria, do material didático e das diversas
mídias no curso a distância.

O MATERIAL DIDÁTICO: caminhos para a elaboração e a análise da qualidade

Conforme apontado anteriormente, muitas vezes o material didático se


confunde com o próprio curso na Educação a Distância. Ora, relembrando o conceito
da EaD, ela é a modalidade educacional na qual a mediação e os processos de ensino/
aprendizagem ocorrem por meio de tecnologias da informação e comunicação e em
lugares e tempos diversos. Assim sendo, deve-se reconhecer que o material didático
assim como a equipe multidisciplinar polivalente são elementos imprescindíveis ao
projeto educativo a distância. Dessa forma, ao buscar responder a questão: quem
educa na Educação a Distância?, não se deve restringir a resposta ao material
didático, mas deve-se reconhecer o seu valor.

De acordo com os Referenciais para a Qualidade da Educação a Distância


(2007), em consonância com o projeto pedagógico do curso e os princípios
epistemológicos, metodológicos e políticos, o material didático deverá “desenvolver
habilidades e competências específicas, recorrendo a um conjunto de mídias
compatível com a proposta e o contexto socioeconômico do público-alvo”. (BRASIL,
2007, p. 13).

Assim, pode-se elencar alguns dos objetivos do material didático para a


Educação a Distância. De acordo com Leitão (2005):

 Disponibilizar os conhecimentos essenciais para a compreensão do


tema abordado, estimulando a reflexão crítica sobre o assunto em face
da necessidade de superação dos desafios que possam estar envoltos na
questão.
 Proporcionar o estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento de
habilidades, desenvolvendo competências necessárias para a práxis.
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 Estimular a interação entre os cursistas, possibilitando a aprendizagem


a partir de relatos e experiências de outros pares.

Um curso a distância, normalmente, possui um texto-base, textos de apoio e


guia didático para o curso. Vamos analisar cada um desses formatos de material
didático?

De acordo com Neder (2009), o texto-base caracteriza-se por transportar o


conteúdo do curso, podendo ser elaborado em diferentes mídias. Por sua vez, os
textos de apoio servirão para estudos complementares, necessários para aqueles
que necessitam ou desejam aprofundar os conhecimentos. Já o guia didático busca
realizar a orientação do aluno em face de um texto específico, trazendo os pontos
essenciais a serem analisados em formato de roteiro.

Para a elaboração do texto-base, de acordo com Rowntree (1999 apud NEDER,


2009), é importante observar os seguintes elementos:

 O texto-base é o principal articulador do curso, que traz consigo o conteúdo


essencial para a aprendizagem.
 O texto-base na modalidade a distância deverá auxiliar o aluno a se
autodesenvolver.
 Para facilitar o autodesenvolvimento, é importante considerar os variados
estilos de aprendizagem na elaboração do material didático.
 No decorrer do texto (independentemente da mídia), é necessário destacar
conceitos importantes, inserir imagens e gráficos, exemplificar, demonstrar,
propor reflexões. O texto deverá conversar com o seu leitor.
 O texto-base deverá apresentar orientações gerais sobre o estudo, enumerando
os assuntos abordados.
 O texto deverá provocar a contínua reflexão ao longo do texto.

Além desses apontamentos, Neder (2009, p. 19) destaca a importância de se ter


claro os objetivos do curso ao escrever o texto-base. É relevante também identificar a
importância do assunto para os alunos, analisando quais os conhecimentos prévios
necessários para o estudo do texto.
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Os textos de apoio são importantes para auxiliar na aprendizagem contínua


dos alunos. É possível apresentar variados objetos de aprendizagem2 (artigos
disponíveis em bancos de dados livres, reportagens, depoimentos em vídeos), como
também é elaborar textos específicos para serem materiais de apoio. Esse é um
excelente recurso para oferecer outras mídias, diferentes daquela que trouxe o texto-
base. Assim, é criada a oportunidade de aprendizagem de acordo com os variados
estilos existentes. Por isso, é muito importante valer-se desse recurso, pois trará
informações que enriquecem o conteúdo principal, por meio de explicações e mídias
diferentes – ampliando o alcance da aprendizagem.

Importante destacar que, também, poderá ser elaborado o GUIA DIDÁTICO,


em que o professor utiliza texto de outro autor e produz um roteiro de estudo para os
alunos lerem o texto indicado, conforme aponta Neder (2009). Para esse formato, é
importante o professor lembrar que o guia é uma orientação para o aluno de seu
percurso de estudo.

Portanto, para se pensar em uma metodologia de desenvolvimento de cursos a


distância se faz importante: (1) identificar os objetivos do curso e o projeto do curso, a
fim de estabelecer os princípios epistemológicos, metodológicos e políticos que
guiarão o seu trabalho; (2) buscar avaliar as características do público-alvo, a fim de
estabelecer estratégias didáticas adequadas ao perfil dos participantes; (3) avaliar os
aspectos tecnológicos disponíveis, como o ambiente virtual de aprendizagem,
equipamentos audiovisuais, softwares disponíveis, dentre outros; (4) dimensionar a
equipe polivalente disponível para a elaboração do projeto, a fim de verificar quais
especialistas poderão auxiliá-lo na elaboração do material didático; (5) avaliar o
tempo e recursos financeiros disponíveis para a elaboração do material, pois esses
elementos irão auxiliá-lo na definição das mídias a serem utilizadas.

2 Objetos de aprendizagem são, de acordo com o Learning Objects Metadata Workgroup, qualquer
entidade, digital ou não digital, que possa ser utilizada, reutilizada ou referenciada durante o
aprendizado suportado por tecnologias.
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REFERÊNCIAS

AMARAL, S. F.; BARROS, D. M. V. Estilos de aprendizagem no contexto educativo de uso das


tecnologias digitais interativas. 2007. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE NOVAS
COMPETÊNCIAS EM TECNOLOGIAS DIGITAIS INTERATIVAS NA EDUCAÇÃO, 1. 2007.
São José dos Campos. Disponível em:
.http://www.lantec.fe.unicamp.br/lantec/pt/tvdi_portugues/daniela.pdf Acesso em: 02 nov.
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