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A CONTRIBUIÇÃO DO DESIGN INSTRUCIONAL COMO

POSSIBILIDADE DE APRENDIZAGEM AUTOGERIDA

Priscila Rocha Fernandes(a)1

Resumo:

A usabilidade da aprendizagem autogerida e o design instrucional como uma abordagem


centrada no aluno auxiliam conjuntamente na aprendizagem colaborativa e em soluções para
problemas reais. Quando levadas para sala de aula almejam que os alunos consigam classificar
seus domínios de aprendizagem com a aplicação de definição de objetivos a partir de uma
listagem das habilidades e dos processos envolvidos nas atividades educacionais, estabelecendo
critérios avaliativos validando sua aplicabilidade. O Curso autoinstrucional Saúde com Agente
ACS oferecido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, em parceria com o
Programa Mais Conasems e o Sistema Único de Saúde SUS, na modalidade a distância,
utilizou-se da aprendizagem autogerida, no modelo ADDIE (Analysis, Design, Development,
Implementation, Evaluation), dentro do Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle. O
objetivo desta pesquisa foi conhecer o percurso realizado pelos alunos através dos registros dos
acessos do AVA Conasems aos materiais instrucionais disponíveis, e analisá-lo. A pesquisa foi
do tipo exploratória, de natureza aplicada, com uso de dados quantitativos e com procedimentos
da pesquisa-ação. Dentre os materiais, percebemos que o maior número de acessos foram na
teleaula, aula iterativa e material complementar, com cerca de 135.125 acessos. E do total de
138.000 alunos inscritos, aproximadamente, 97% dos alunos concluíram o curso com
aprovação. Considera-se que a aprendizagem autogerida, com o uso dos materiais reprodutivo-
informativos, auxiliou no percurso de aprendizagem, e contribuiu com os resultados.

Palavras-chave: Design Instrucional. Aprendizagem Autogerida. Modelo ADDIE. Ensino


à Distância.

1
Bacharel em Ciência da Computação. Pós-graduada em Informática Educativa. Mestrando em Tecnologias
Emergentes em Educação pela Must University. fernandesrpriscila@gmail.com.
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Abstract:

The usability of self-managed learning and instructional design as a student-centered approach


jointly aid collaborative learning and solutions to real problems. When taken to the classroom,
they aim for students to be able to classify their learning domains with the application of
objective definition from a list of skills and processes involved in educational activities,
establishing evaluative criteria validating their applicability. The self-instructional course
Health with ACS Agent offered by the Federal University of Rio Grande do Sul UFRGS, in
partnership with the Mais Conasems Program and the SUS Unified Health System, in the
distance modality, used self-managed learning, in the ADDIE model (Analysis, Design,
Development, Implementation, Evaluation), within the Moodle Virtual Learning Environment.
The objective of this research was to know the route taken by the students through the records
of the accesses of the AVA Conasems to the available instructional materials, and to analyze it.
The research was exploratory, applied in nature, using quantitative data and action research
procedures. Among the materials, we noticed that the highest number of accesses were in the
teleclass, interactive class and complementary material, with about 135,125 accesses. And of
the total of 138,000 students enrolled, approximately 97% of the students completed the course
with approval. It is considered that self-managed learning, with the use of reproductive-
informative materials, helped in the learning process, and contributed to the results.

Keywords: Instructional Design. Self-Managed Learning. ADDIE model. Distance learning.

1 Introdução

A reflexão na participação dos educandos em atividades diferenciadas propostas em

aula, através de novos mecanismos metodológicos para a aprendizagem se apresenta atualmente

como uma necessidade que surge em decorrência das mudanças sociais e dos constantes

avanços tecnológicos (Coelho; Góes, 2020). Assim, o educador, atento às novas práticas

pedagógicas apropria-se desta oportunidade em utilizar as tecnologias, como meio para

construir e difundir um aprendizado mais dinâmico, e ainda, para concretizar a necessária

mudança de paradigma educacional, centrando seus esforços nos processos de criação, gestão

e reorganização das situações de aprendizagem.

Para tanto, observa-se a parceria entre Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde

e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UNA-SUS/UFGRS), por meio do Ministério


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da Saúde, com o objetivo de atender as necessidades de educação permanente do SUS, no que

tange a contribuir com oportunidades de aprendizagem na área da Saúde e promover a

incorporação de novas tecnologias de informação e comunicação aos processos de educação

em saúde, utiliza ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) de forma dinâmica, interativa no

formato estruturado e flexível na navegação.

As ofertas de cursos pela Instituição de Ensino são variadas, pois o projeto engloba

desde cursos técnicos de Agente de Comunitário de Saúde e Endemias (semipresencial) a cursos

de extensão (autoinstrucionais), graduação e pós-graduação.

No entanto, o objeto de estudo neste artigo tem como foco os cursos autoinstrucionais,

mais especificamente o Curso Técnico de Agente comunitário de Saúde ACS na sua primeira

oferta. Esta pesquisa apresenta como foi ofertado o curso no modelo a distância, formato

autoinstrucional, apropriando-se de estratégias de aprendizagem autodirigida. Sobretudo, como

nossos usuários iniciaram, navegaram e finalizaram o curso através do modelo ADDIE na

configuração modelo de design instrucional (DI) como referencial metodológico, proposto para

desenvolvimento de cursos presenciais e em ambientes virtuais de aprendizagem. Esse tipo de

aprendizagem propicia ao cursante percorrer o curso de forma flexível e atemporal, no qual

planeja, desenvolve e adequa a construção do seu aprendizado apropriando-se dos recursos

disponíveis. Ou seja, não há uma ordem rígida de navegação e seu aprendizado é realizado sem

a mediação do tutor. Sendo assim, o aluno é o sujeito ativo do seu aprendizado acompanhando

as disciplinas liberadas seguindo o cronograma do curso, realizar os exercícios não avaliativos

inseridos dentro de cada item e retornar a página principal sem que haja prejuízo na aquisição

do conhecimento. É válido ressaltar que, para a certificação, o curso propôs atividades práticas

presenciais, participação em fóruns e atividade avaliativa. Diante desse contexto, o objetivo

desta pesquisa é compartilhar a análise realizada referente ao número de acessos no percurso

do aluno, na aplicabilidade do modelo ADDIE, dentro do Ambiente Virtual de Aprendizagem


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Moodle. De acordo com Filatro (2008), as fases são separadas para estruturar o modelo,

podendo ser realizadas simultaneamente, dependendo da quantidade de pessoas que estão

atuando no projeto e do acompanhamento do Designer Instrucional (DI) e do Gestor do Projeto.

Sua formação contempla quatro componentes funcionais:

(i) Análise inclui a identificação das necessidades de aprendizagem, a determinação das

atividades e cronograma. (ii) Design inclui elencados objetivos, atividades de aprendizagem e

seleção de recursos. Em (iii) Desenvolvimento, são elaborados os materiais necessários, como

Objetos de Aprendizagem (OA), tutoriais, textos e animações. (iv) Implementação corresponde

à implementação e à execução do projeto. (v) Evolução, à verificação dos resultados obtidos,

potencialidades e pontos de melhoria no projeto.

Figura 1: Representação do Modelo ADDIE.

Percebe-se que nesse esquema a avaliação foi colocada como central no processo e

acontecendo durante todas as fases de elaboração e implantação da disciplina de ensino EaD.


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2 Aprendizagem arquitetada no modelo ADDIE

A Educação a Distância (EaD), tem inovado em diversos campos do conhecimento e

permitido a interdisciplinaridade na educação através de experiências práticas envolvendo

recursos tecnológicos que substituem a interação face a face em sala de aula, entre professor e

aluno. Nesse modelo encontra-se características, linguagem e formato próprios, requerendo

administração, desenho, acompanhamento, avaliação, tecnologia e recursos pedagógicos

condizentes, para potencializar o processo educativo (Brasil, 2007).

Dentre os modelos de design instrucional existentes, os sistêmicos, como o ADDIE

Model (Analysis, Design, Development, Implementation, Evaluation), têm escopo amplo,

permitem a visão geral do processo educativo e favorecem decisões para ajustes (Ono, 2014).

Quanto às fases: Analysis inclui a identificação das necessidades de aprendizagem, a

determinação das atividades e cronograma. Design inclui elencados objetivos, atividades de

aprendizagem e seleção de recursos. Em Development, são elaborados os materiais necessários,

como Objetos de Aprendizagem (OA), tutoriais, textos e animações. Implementation

corresponde à implementação e à execução do projeto. Evaluation, à verificação dos resultados

obtidos, potencialidades e pontos de melhoria no projeto. Tendo o ADDIE como referencial

metodológico no design instrucional, proposto para desenvolvimento de cursos presenciais e

em ambientes virtuais de aprendizagem, assim como o foco em aprendizagem coletiva, é

importante a adaptação dos modos letivos tradicionais, para adequação à modernidade sendo

assertivo prescrever essa mediação aos tutores.

3 Aprendizagem autogerida

A busca por materiais educacionais para aprendizagem autogerida baseada em

computador iniciaram na década de 1950. Neste primeiro momento a abordagem era


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comportamentalista (behaviorista) e o foco era apenas na transmissão de informações, o

formato desse ensino ficou conhecido como “instrução programada” (Brasil,2002). No entanto,

em 1980 apresentou-se outra abordagem mudando o foco de comportamentalista para

cognitivista. Neste momento surgiu o desenvolvimento de modelos de desenhos instrucionais

assistidos por experiências de aprendizagem a distância. A proposta de West, Famer e Wolff,

2000, apresenta sugestões baseadas na abordagem cognitivista para o uso de tecnologias na

educação. Essas estratégias tem como facilitar as atividades de produção de materiais

autoinstrucionais que garantam a incorporação de novas aprendizagens aos esquemas mentais

pré-estabelecidos dos aprendizes. A perspectiva dessa nova aprendizagem que nos foi

apresentada consiste em procurar, selecionar, processar e a organizar a informação, no qual

trouxe novas formas de se pensar na preparação e apresentação de cursos autoinstrucionais.

Dentre as várias definições sobre STI compreende-se que “Os STI são programas de software

que dão suporte às atividades da aprendizagem”, (Gamboa, 2001). Assim, o presente curso

possibilitou que cada aluno se apropriasse da tecnologia disponibilizada nos recursos de

navegação da plataforma Moodle para que através da percepção construíssem o conhecimento

pelos processos criados através do design instrucional advindo do modelo ADDIE. Segundo

Kenski, 2012, “a construção do conhecimento é um processo interno de maturação mental que

precisa ser acionado por meio de ações e interações entre o aprendiz e o objeto a ser aprendido”.

Diante desse mesmo contexto “O modelo ADDIE é um sistema instrucional baseado em

computador com conteúdo instrucional que especificam ‘que’ ensinar, e estratégias de ensino

que especificam ‘como’ aprender”, (Wenger, 1987) apoiam o aluno diante do seu percurso junto

a interface de aprendizagem autogerida. Dessa forma analisa-se que “ADDIE, é um termo

amplo, abrangendo qualquer programa de computador que contem alguma interação aluno/tutor

e pode ser usado em aprendizagem” (Freeman, 2000).


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4 Metodologia

A proposta principal do projeto foi a realização de uma pesquisa do tipo exploratória,

de natureza aplicada, com dados quantitativos de acessos dos usuários no AVA Moodle, e como

método foi utilizado a pesquisa-ação.

No entanto, algumas ações foram criadas para melhor entendimento da abordagem

aplicada, descrevem-se as ações realizadas. O curso foi dividido em seis módulos referentes a

cada disciplina, desmembrando-se em subtópicos para acesso, navegação e compreensão do

conteúdo programático. A estrutura do curso ocorreu tela a tela constituindo em mapa e rede de

aprendizagem, utilizando-se de hipertextos no qual a finalização de cada leitura reportava ao

AVA. Além disso, o objetivo foi analisar o retorno a página principal orientava o aluno no

percurso de sua aprendizagem, e para que esse processo ocorresse o sistema marcava o link

como atividade já percorrida. Ao lado do nome de cada material, continha uma sinalização, um

círculo que marcava automaticamente o acesso (lido e não lido), conforme o percurso de

aprendizagem era realizado.

Figura 1 – Mapa de Aprendizagem.


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5 Resultados

Para obtenção dos resultados, foram realizadas com 50 estudantes matriculados no curso

técnico de Agente Comunitário de Saúde com o intuito de mostrar a interação dos alunos, no

Ambiente virtual de aprendizagem (AVA) e o acompanhamento contínuo do mesmo,

transmitindo-lhe por meio de objetos de aprendizagem a segurança de que está realizando o

percurso dentro de um processo de aprendizagem autodirigida. Todos os alunos seguiram o

cronograma adequadamente e se envolveram com os processos, mostrando interesse tanto pelos

temas abordados quanto pelo método de ensino utilizado, podendo concluir que a aprendizagem

autogerida tende a gerar um aprendizado colaborativo eficaz, uma vez que os alunos realmente

se interessam em executar a atividade proposta. Outro fator importante para se destacar é a

análise dessa trajetória extraída do AVA Moodle os acessos realizados pelos alunos nos

recursos disponibilizados para apoio no percurso para a realização da aprendizagem mediada

através do aluno e computador. Nesta primeira oferta o curso obteve 138.000 alunos inscritos

e 131.100 certificados. Ou seja, aproximadamente, 95% de alunos concluintes dentro de um

curso com a mediação pedagógica entre aluno e tutor. A avaliação realizada entre o número de

alunos que ingressaram em relação aos acessos foi apresentada em três categorias distintas

“Teleaula”, “Material Complementar” e “Aula Interativa”.

Categoria Acessos

Teleaula 800

Material complementar 950

Aula interativa 915

Figura 2 - Quantitativo de acessos nos recursos de apoio ao aluno dentro do AVA


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Categoria Acessos

Fórum 950

Atividade de múltipla escolha 950

Enquete 850

Figura 3 - Quantitativo de acessos nos recursos complementares do aluno dentro do AVA

Um dos objetivos do curso, além de comprovar a eficiência da aprendizagem autogerida,

era demonstrar a importância do trabalho colaborativo em equipe dos agentes comunitários de

saúde, pois é importante que os alunos saiam das aulas sabendo lidar com isso.

6 Considerações Finais

Em virtude dos fatos mencionados, conclui-se que a aprendizagem autogerida,

possibilitou que um grande número de alunos realizasse o curso, de forma assíncrona e

atemporal, pois ocorreu a flexibilização do estudo dos aprendizes e a realização da capacitação

em momentos distintos dentro do período solicitado para a oferta do curso, podendo sim ser

utilizadas por tutores e educandos, proporcionando um grande ganho na aprendizagem se for

introduzida em sincronia com o planejamento didático pedagógico do curso.

Conforme apresentado, é importante destacar que o mapa de aprendizagem configurado

na plataforma Moodle auxiliou o aluno a percorrer as unidades de cada disciplina como ator

ativo do seu aprendizado orientando sempre quais recur sos já tinham sido ou não acessados. A

cada clique realizado para a leitura de uma unidade específica o aluno era reportado ao AVA e

o ambiente apresentava o feedback pelo caminho percorrido. Dessa forma o modelo de interface

realizou um elo de comunicação bidirecional entre o AVA e o aluno. Ou seja, apresentou

possibilidades de aprendizagem através do sistema usando uma linguagem de interface que


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auxiliasse o aluno na interação do conteúdo pelos recursos utilizados através da plataforma

Moodle. Essa abordagem se torna ainda mais relevante para estudantes de cursos que utilizam

tecnologia, uma vez que podem observar, na prática, a aplicação de conceitos que são muitas

vezes abstratos, tornando mais prazeroso e significativo o aprendizado dos educandos, que já

possuem ou podem agregar conhecimentos tecnológicos e sentem-se motivados ao utilizá-los.

Logo, o design instrucional unido ao ADDIE deve atuar como mediadores durante as

infinitas possibilidades de pesquisa e aprendizado proporcionadas pela AVA. Nessa jornada,

assim como os educandos, os tutores também terão muito o que aprender e descobrir. Por fim,

o uso dos processos de design nas aulas EaD podem contribuir para um ensino mais

interdisciplinar e colaborativo, proporcionando experiências que extrapolem o conteúdo

habitual e contribuam para uma formação ampla e transformadora dos estudantes, tornando-os

assim pessoas críticas e reflexivas.

4 Referências Bibliográficas

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