Você está na página 1de 18

Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Engenharia

Curso: Engenharia Mecânica

Tema: Contribuições das Relações Públicas para a Redução de Casamentos Prematuros:


caso de estudo Posto Administrativo de Chimoio

Discente:
Ermelindo Silvino

Docente:
Dalton Xavier Ernesto Albano

Chimoio, Abril de 2020

1
Índice
1. Justificativa ............................................................................................................ 1
1.1. Problematização ................................................................................................. 1
1.2. OBJECTIVOS ................................................................................................... 3
1.3.1. Objectivo geral ................................................................................................... 3
1.3.2. Objectivos específicos ........................................................................................ 3
2. METODOLOGIA .................................................................................................. 4
2.1. Tipo de pesquisa ................................................................................................ 4
2.1.1. Quanto a natureza ........................................................................................... 4
2.1.2. Quanto aos objectivos .................................................................................... 4
2.1.3. Quanto a procedimento .................................................................................. 4
2.2. Técnica e instrumentos de recolha de dados ...................................................... 5
2.2.1. Entrevista........................................................................................................ 5
3. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 6
3.1. Conceitos Básicos .............................................................................................. 6
3.1.1. Relações Públicas ........................................................................................... 6
3.1.3. Família............................................................................................................ 9
3.1.4. Casamento ...................................................................................................... 9
3.1.7. Casamento civil ................................................................................................ 10
3.6. Prematuro ............................................................................................................ 12
3.7. Casamento prematuro .......................................................................................... 12
3.9. União de Facto ..................................................................................................... 13
3.10. A relação entre os ritos de iniciação e outros fenómenos sociais ...................... 13
3.11. Validade do casamento ...................................................................................... 14
3.12. Contribuição sobre as uniões prematuros .......................................................... 14
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 16

2
1. Justificativa
Em Moçambique a prevalência de uniões prematuros envolvendo criança e adultos tem
preocupado governos, comunidades e organizações da sociedade civil, muito se fala sobre as
possíveis causas de uniões prematuras, mas muitas vezes esquecemos de procurar entender
como as pessoas percebem o impacto negativo que caracteriza esta prática.

A união prematura é um fenómeno social que ocorre em todo mundo, decorrente de costumes
passados, princípios religiosos e pobreza absoluta. Actualmente, este fenómeno tem tido maior
incidência nos países em vias de desenvolvimento como é o caso de Moçambique, onde as
grandes pressões económicas, as práticas culturais e sociais promovem o mesmo.

O tema justifica-se pelo facto de se apresentar como um ponto relevante no âmbito social, visto
que esta prática muitas vezes acontece nas comunidades, onde famílias presas as práticas
socioculturais tende a influenciar as raparigas a contraírem casamentos antes mesmo da idade
recomendada, o tema vai ajudar os dirigentes, as famílias nas zonas rurais a pensar em
estratégias com vista a combater esse fenómeno que desgraça as raparigas.

Outro ponto relevante tem a ver com a contribuição do tema no âmbito académico, pois abordar
sobre uniões prematuras na perspectiva das relações públicas constitui algo novo e acredita-se
que este tema vai trazer grandes contribuições para os futuros profissionais de comunicação, na
medida em que percebemos que as estratégias de comunicação são instrumentos eficazes para
o combate às uniões prematuras.

Do ponto de vista profissional, o presente trabalho torna-se de grande valor, na medida em que
vai colocar em actualização os profissionais de comunicação, principalmente, os de relações
públicas a adoptarem novas estratégias de comunicação face a redução de uniões prematuras
nas comunidades, envolvendo criança. Aliás, o fenómeno das uniões prematuras ou uniões
precoces atinge mais raparigas menores de 16 anos de idade.

1.1.Problematização
Mundialmente as uniões prematuras ou uniões forçadas constituem uma grave violação aos
direitos humanos no geral, em especial aos da rapariga, e tem consequências muito negativas
para o desenvolvimento económico, social e político do país.

1
Na última década, Moçambique apresentou alta taxa da prevalência de uniões prematuras.
Tratando-se de uniões ligadas a leis costumeiras, este flagelo social levanta problemas de ordem
de desenvolvimento social, humano, económico e encerra a possibilidade de oportunidades na
vida das raparigas, (UNICEF 2014)

Em Moçambique, as uniões prematuras são ilegais antes dos 18 anos, embora a lei permita
excepções a partir dos 16 anos, quando o casamento pode ser celebrado com o consentimento
dos pais da criança (Lei 19/2019 de 22 de Outubro).

Este estudo aparece como uma oportunidade para analisar quais as causas e consequências das
uniões prematuras numa perspectiva económica, social e de saúde. Face a situação das uniões
prematuras como a legitimação do abuso sexual de menores no contexto da agenda de
desenvolvimento nos interessa aprofundar a pesquisa por meio da análise do contexto
legislativo e social de Moçambique, buscando chamar a atenção da sociedade em geral e das
comunidades rurais em particular.

A questão de uniões prematuras é um assunto sério e desde muito vem preocupando quase toda
a sociedade, em geral. Moçambique encontra-se entre os países que, ao nível mundial,
apresentam um maior número deste tipo de uniões forçadas, ocupando 10º lugar nesta lista,
depois do Níger, do Chade, do Mali, do Bangladesh, da Guiné e da República Centro Africana,
contabilizando mais de metade de mulheres que se casam antes dos 18 anos. (UNICEF, 2015)

As uniões prematuras com especial enfoque na rapariga é um dos grandes reveladores dessa
desigualdade e aparece como uma das expressões ocultas do abuso sexual e da violação dos
direitos sexuais. O abuso sexual é um problema que afecta várias sociedades do mundo inteiro
e Moçambique não é a excepção. (Albasini, 2017).

Tomando como base essas informações, nota-se que em Moçambique, grande parte destas
uniões são de facto uniões que não são legalmente registadas, mas são muitas vezes
formalizados através de procedimentos costumeiros como o pagamento do lobolo para a família
da rapariga. Outro aspecto não menos importante é a questão da religião frequentada pelas
famílias, que tem um grande peso ou contributo para a incidência dos casamentos prematuros,
causado pelo fraco acesso a informação. Fonte da informação

2
Diante destas inquietações surge a seguinte questão: Como é que as estratégias de relações
públicas adoptadas pela Direcção Distrital de Género, Criança e Acção Social contribuem
para o combate às uniões prematuras?

As uniões prematuras põem em perigo as raparigas. Raparigas casadas sofrem maiores abusos,
violência doméstica (incluindo abuso físico, sexual ou psicológica) e abandono.

As uniões prematuras expõe aos abusados doenças graves como HIV/SIDA e fístula obstétrica,
e aumenta a mortalidade maternal e infantil. Tira os mesmos da escola antes do tempo.

1.2.OBJECTIVOS

1.3.1. Objectivo geral


 Analisar a contribuição das estratégias de comunicação utilizadas a nível da Direcção
Distrital de Género, Criança e Acção Social para o combate das uniões prematuras.

1.3.2. Objectivos específicos


 Identificar as estratégias de comunicação utilizadas a nível da Direcção Distrital de
Género, Criança e Acção Social para o combate das uniões prematuras.
 Analisar os instrumentos de relações públicas utilizadas a nível da Direcção Distrital de
Género, Criança e Acção Social para o combate das uniões prematuras;
 Avaliar a eficácia e a eficiência das estratégias de comunicação utilizadas a nível da
Direcção Distrital de Género, Criança e Acção Social para o combate das uniões
prematuras.
 Propor estratégias de comunicação para o combate das uniões prematuras em Chimoio,
olhando para a realidade local.

3
2. METODOLOGIA

2.1.Tipo de pesquisa

2.1.1. Quanto a natureza


Quanto a natureza a pesquisa é qualitativa. Segundo Minayo (2003, p.16-18) Apud Lopes
(2011), é o caminho do pensamento a ser seguido. Ocupa um lugar central na teoria e trata-se
basicamente do conjunto de técnicas a ser adaptadas para constituir uma realidade. A pesquisa
é assim, actividade básica da ciência na sua construção da realidade. A pesquisa qualitativa visa
a abordar o mundo, entender, descrever e, às vezes, explicar os fenómenos sociais de diversas
maneiras diferentes.

Para esta pesquisa, esta técnica será usada na descrição, interpretação e na explicação dos
fenómenos decorrentes das estratégias de comunicação para o combate e prevenção de
uniões prematuras nas zonas rurais

2.1.2. Quanto aos objectivos


Segundo Malhotra et al (2005), a pesquisa exploratória tem como principal objectivo
proporcionar esclarecimento e compreensão para o problema enfrentado. Seu processo de
pesquisa não é estruturado caracterizando-se como flexível. Desta forma a informações
necessárias são apenas vagamente definidas. O tamanho da amostra é pequeno não
representativo, além de apresentar uma análise dos dados primários qualitativos. Para esta
pesquisa, será proporcionada esclarecimentos para compreender os problemas das estratégias
de comunicação para o combate e prevenção de uniões prematuras nas zonas rurais.

2.1.3. Quanto a procedimento


A pesquisa será feita no campo da Direcção Distrital de Género, Criança e Acção Social,
envolvendo funcionários que lidam directamente com as crianças vítimas de casamentos
prematuros.

Segundo Marconi e Lakatos (2011, p. 69). "Pesquisa do campo é aquela utilizada com o
objectivo de conseguir informações ou conhecimentos a cerca de um problema para o qual se
procura uma resposta." Pesquisa de campo: “procuram muito mais o aprofundamento das
questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas
variava. (Gil, 2010, p. 57).

4
Nesta pesquisa para obter informações fiáveis a pesquisadora vai deslocar-se nas zonas rurais,
concretamente no Ponto Administrativo de Chimoio-Báruè.

2.2.Técnica e instrumentos de recolha de dados

2.2.1. Entrevista
A entrevista é uma técnica bastante utilizada em análise de fenómenos sociais. Para Gil (2008,
p.128) A entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e
lhe formula perguntas, com o objectivo de obtenção dos dados que interessam a investigação.
A entrevista é, portanto, uma forma de interacção social. Mais especificamente, é uma forma
de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca colectar dados e a outra se apresenta como
fonte de informação.

Neste trabalho de pesquisa as entrevistas serviram, principalmente para perceber as várias


técnicas de relações públicas, identificando a fala dos funcionários da direcção provincial do
género, criança e acção social. As entrevistas serão aplicadas a 08 funcionários, sendo 6 do sexo
feminino e masculino, 1 directora da direcção provincial do género, criança e acção social e 1
representante chefe daquela instituição.

5
3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1.Conceitos Básicos

3.1.1. Relações Públicas

Relações Públicas é definida como o esforço deliberado, planeado e


contínuo que visa estabelecer e manter a compreensão mútua entre uma
instituição pública ou privada e os públicos aos quais esteja directa ou
indirectamente ligada (Simões, 1995, p. 82).

Relações Públicas constituem uma “função” da direcção de carácter permanente e organizado,


através da qual uma empresa pública ou privada procura obter e conservar a compreensão, a
simpatia e o concurso de todas as pessoas a que se aplicam. Com esse propósito, a empresa
deverá fazer uma pesquisa na área da opinião que lhes convém (adaptando a ela, tanto quanto
possível, sua linha de conduta e seu comportamento) e, pela prática sistemática de uma ampla
política de informação, obter uma eficaz cooperação em vista da maior satisfação possível dos
interesses comuns” (Simões, 1995, p. 82).
Segundo Simões (2001, p. 43), a causa da existência da actividade está na relação de poder
entre as organizações e seus públicos, assim como, na possibilidade de um impasse entre eles.

Para Simões, (1995, p. 83), define a actividade de Relações Públicas como a gestão da função
política da organização com objectivo de promover a cooperação mútua entre as partes do
sistema organização públicos, visando à consecução da missão organizacional.

Segundo Simões, (2001, p. 52), diz que as Relações Públicas desempenham a função política,
que visa, pela filosofia, políticas e normas, a actuação da organização e suas implicações –
decisões e, posteriormente, produtos e serviços – ocorra e seja percebida como realizada em
benefício dos interesses comuns entre a organização e seus públicos.

Já sua definição operacional, apresenta que a actividade consiste em diagnosticar, prognosticar,


assessorar nas políticas administrativas e implementar programas e projectos de comunicação
(Simões, 1995, p. 96).

O objecto material da actividade de Relações Públicas é a relação entre a organização e seus


públicos e o objecto formal é o conflito no processo decisório em que ambos participam. Para
critérios científicos, além da definição do objecto, é necessário definir como esse objecto

6
material é trabalhado. Os componentes da relação – organização e públicos – não estão isolados.
Eles se estruturam em uma conjuntura sócio-cultural-económico política em que, tanto
componentes, como a própria conjuntura são dinâmicos e o descompasso entre a acção da
organização e o interesse do público é latente. Quanto maior a diferença entre o esperado e o
percebido, maiores as possibilidades de que o conflito ocorra.

Assim, segundo Simões (1995, p. 128), o profissional de Relações Públicas deve estar
permanentemente atento para as situações que poderão acontecer e ser capaz de conhecer os
públicos da organização para comunicar de forma rápida e aumentar a velocidade de
conhecimento dos mesmos. O princípio do trabalho de Relações Públicas está na preocupação
com o conflito, no processo de trocas entre a organização e os públicos.

3.1.2. Comunicação Estratégica

Segundo Manucci (2005: 25), Em uma abordagem de comunicação estratégica já não há um


emissor controlando as mensagens a um receptor, mas atores intercambiando símbolos”. Deste
modo, compreende-se ainda que “A comunicação estratégica não é um conjunto de sinais e de
meios, é um conjunto de símbolos compartilhados que somente são operativos se tem
significado entre os diferentes atores no processo” (Manucci, 2005: 24, tradução nossa).

Segundo Massoni (2013: 18), Tradicionalmente, se vinculam as estratégias de comunicação a


soluções normativas, curativas, receitas ou fórmulas pré-estabelecidas para serem aplicadas em
diferentes cenários.

3.1.3. Modelos de relações públicas

As organizações mantêm relacionamentos com a sua "família" de colaboradores, com as


comunidades, com os governos, consumidores, investidores, financistas, patrocinadores,
grupos de pressão e com muitos outros públicos. Em outras palavras, as organizações
necessitam das relações públicas porque mantêm relacionamentos com públicos (Grunig, 2009,
p. 27,).

Para que um programa de relações públicas seja eficaz, é necessário que um profissional o
gerencie estrategicamente. É necessário que o programa seja orientado aos públicos que
exercem maior impacto sobre a organização a respeito das consequências de decisões
organizacionais sobre o público, avaliando se tais decisões podem prejudicar ou beneficiar os
relacionamentos com esses mesmos públicos (Grunig, 2009, p. 22).
7
A partir do trabalho das Relações Públicas na comunicação entre a organização e os seus
diversos públicos, Grunig (2009) conceitua e denomina quatro modelos de actuação desse
profissional.

O primeiro modelo, denominado agência de imprensa ou divulgação", unidireccional, visa obter


a promoção favorável da organização através da divulgação pelos meios de comunicação de
massa.

O segundo, designado "informação pública", também apresenta sentido único, ou seja, não há
o feedback dos diversos públicos, além disso, não há o emprego de pesquisas ou reflexões
estratégicas, seu foco consiste na mudança de comportamento do público e mantendo estática
a organização. O mesmo é semelhante a uma assessoria de imprensa, que entende a actuação
de Relações Públicas apenas para a disseminação de informações.

O terceiro modelo, "assimétrico bidireccional de duas mãos", segundo o autor, conseguem


persuadir os públicos, pois utilizam-se de pesquisas relacionadas as atitudes do seu público-
alvo. Esse modelo é alvo de críticas, porque a organização que o utiliza, acredita estar sempre
certa. No caso de uma crise de imagem e/ou financeira o problema, segundo o modelo, está no
público interno ou externo da organização.

O quarto e último modelo definido por Grunig, "simétrico bidireccional de duas mãos", deveria
ser o mais utilizado pelos profissionais e organizações, pois propõe a compreensão mútua, ou
seja, a organização aceita o feedback do seu público, para que assim possa delimitar os
objectivos a serem traçados. Esse modelo utiliza-se, também, de pesquisas, da comunicação
para administrar conflitos e para aperfeiçoar o entendimento dos públicos estratégicos.

Segundo Grunig (2009, p. 32 - 33). As relações baseiam em negociação e concessões,


normalmente são mais éticos que os demais modelos. Este modelo não obriga a organização a
decidir se está correta em determinadas questões. Ao contrário: as relações públicas simétricas
de duas mãos permitem que a questão do que é correto seja objectivo de negociação.

O principal objectivo do relacionamento organização-públicos sustenta-se por interesses


institucionais, promocionais ou de desenvolvimento de negócios como sucede com os
colaboradores, clientes, fornecedores, revendedores e de mais públicos ligados às operações
produtivas e comerciais da organização (França, 2004, p. 100).

8
3.1.3. Família
Segundo o número 1 do artigo 2 da lei 10/2004 de 25 de Agosto, a família é a comunidade de
membros ligados entre si pelo parentesco, casamento, afinidade e adopção.

3.1.4. Casamento
Durante a idade média, o casamento passou a ter a influência do cristianismo, passando a ser
considerado como um sacramento que contava muita à vontade divina e a canonicidade revestia
o casamento.

Naquela época, a sociedade era eminentemente rural e patriarca,


guardando traços profundos da família da antiguidade. A mulher
dedicava-se aos afazeres domésticos e a lei não lhe conferia os mesmos
direitos do homem. O marido era considerado o chefe, o administrador e
o representante da sociedade conjugal, (Venosa, 2010, p.14)

Segundo Beviláqua apaud Gonçalves (2009), o casamento é um contrato bilateral e solene, pelo
qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legalizando por ele suas relações
sexuais, estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de interesses e comprometendo-se a
criar e a educar a prole, que de ambos nascer.

Segundo o artigo 7 da lei de família em Moçambique, define o casamento como uma união
voluntaria e singular entre um homem e uma mulher, com o propósito de constituir família,
mediante comunhão plena de vida (artgo 7 da Lei nº 10/2004 de 25 de Agosto).

Com a existência da lei supra citada, o Estado moçambicano deixa de reconhecer o casamento
como um contrato, passando a reconhece-lo como uma união, onde vigora o princípio da
actualidade e do consentimento mútuo, pese embora esta união possua características de um
negócio jurídico onde a declaração da vontade entre as partes vai produzir efeitos jurídicos
estipulados pela lei.

Segundo Costa (2012), o Estado intervêm no acto do casamento por via da actuação do
conservador do registo civil, que é de natureza certificativa e indispensável à própria existência
do acto jurídico, perdendo desta forma as características de um contrato civil.

O casamento constitui uma grande instituição social, que de facto nasce da vontade dos
contraentes, mas que dá imutável autoridade a lei, recebe sua forma, suas normas e seus efeitos,
a vontade individual é livre para fazer surgir a relação, mas não pode alterar a disciplina
9
estatuída pela lei” (Washitongton, Monteiro de Barros, Curso de direito civil, volume 2, página
13).

3.1.6. Tipos de casamento

Como forma de dar resposta à vasta diversidade cultural que Moçambique apresenta, bem como
às múltiplas crenças, podemos encontrar três modalidades do casamento previstas pela lei da
família, nomeadamente:

 Casamento civil;
 Casamento religioso;
 Casamento tradicional.

3.1.7. Casamento civil


Em Moçambique a celebração do casamento civil é precedido de um processo preliminar de
publicações, regulado pela legislação do registo civil, que tem como principal objectivo
verificar a inexistência de impedimento. A organização do processo preliminar de publicações
compete a conservatória ou delegação de registo civil.

Para a formalização do casamento civil, Segundo a lei no 10/ 2004 de 25 de Agosto, no seu
artigo 47° define que: “É indispensável para a celebração do casamento a presença:

a) Dos contratantes, ou de um deles e o procurador do outro;

b) Do funcionário do registo civil;

c) De duas testemunhas.

O casamento civil Segundo Dellani (2014), apresenta cinco características fundamentais:

 É um acto pessoal (depende unicamente da liberdade de escolha e manifestação de vontade


de ambos os nubentes);
 É solene (a norma jurídica estabelece diversos requisitos com a finalidade de garantir a livre
manifestação dos nubentes e a publicidade necessária);
 É de ordem pública (sendo a legislação que rege o casamento superior a esta vontade não
poderão os nubentes estabelecer qualquer tipo de convenção que afronte dita norma);
 É uma união exclusiva (a fidelidade é um dos deveres mais importantes do casamento), e
 Por último é dissolúvel (o casamento civil por se tratar de um contrato pode ser dissolvido).

10
Segundo a lei de família moçambicana, os casamentos religiosos e os tradicionais só podem ser
celebrados por quem tiver capacidade matrimonial exigida por lei civil.

Nos termos dos números 1 e 2 do artigo 21°, nos da lei no 10/ 2004 de 25 de Agosto, o
certificado de capacidade matrimonial pode ser concedida depois de:

1. Verificada no despacho final do processo preliminar de ou publicações a inexistência de


impedimentos para a realização do casamento, o funcionário do registo civil extrai dele o
certificado matrimonial, que é remetido ao dignatário religioso e sem o qual o casamento
não pode ser celebrado.

Se, depois de expedido o certificado, o funcionário que tiver conhecimento de algum


impedimento, comunica-o, imediatamente, ao dignatário religioso, a fim de se suster a
celebração do casamento, até que se decida sobre o mesmo impedimento.

3.2. Formalidades dos casamentos religiosos e tradicionais

Quanto as suas formalidades os casamentos religiosos e tradicionais, segundo os artigos 50° e


51° da lei nº 10/ 2004, de 25 de Agosto, obedecem aos seguintes critérios:

3.3. Casamento religioso.

É indispensável para a realização do casamento a presença:

a) Dos nubentes, de um deles e o procurador do outro;

b) Do dignatário religioso competente para a celebração do acto;

c) De duas testemunhas.

3.5. Casamento tradicional

É indispensável para a realização do casamento tradicional a presença:

a) Dos contraentes;
b) Da autoridade comunitária;
c) De duas testemunhas.

De referir que em Moçambique os casamentos religiosos e tradicionais têm o mesmo


reconhecimento e eficácia que o casamento civil, desde que tenham sido observados todos os
requisitos estabelecidos pela lei para o casamento civil.
11
3.6. Prematuro
Segundo o Novo Dicionário da Lingual Portuguesa (autor: Texto Editores, 2007), prematuro é
tudo aquilo que amadurece antes do tempo, precoce, antecipado, que se faz ou ocorre antes do
tempo norma, extemporâneo.

3.7. Casamento prematuro


O Casamento prematuro é toda união que envolve pelo menos um indivíduo menor de idade e
é uma realidade para ambos os sexos, embora as meninas sejam desproporcionalmente as mais
afectadas (MISA e UNICEF, 2008).

Para Sigma Huda (2007), o casamento prematuro é uma imposição feita à rapariga não
necessariamente por uma força explícita, mas através de uma pressão implacável ou
manipulação, muita das vezes dizendo que a recusa de um pretendente irá prejudicar a sua
família na comunidade e que por seu turno também se pode considerar como uma união forçada.
Por outras palavras, podemos então dizer que o casamento prematuro pode ser fruto de uma
união forçada ou não e que pode ser composta por um ou dois indivíduos menores.

O casamento prematuro é percebido como uma prática sociocultural ligada directamente a


desigualdade de género. As origens desse fenómeno se encontram na desvalorização da mulher
como sujeito de direitos, onde a pobreza e a exclusão social se perpetuam. Por outro lado nos
deparamos com os problemas de origem económica onde os pais ou tutores legais entregam a
suas filhas como moeda de troca visando alimentar a sua família.

O casamento prematuro origina também problemas de saúde sexual e reprodutiva, onde a


gravidez precoce e a dificuldade em negociar o sexo seguro são apontados como um dos
principais problemas (Machel, Pires, ou Carlsson, 2013).

Por sua vez, o Art.º 30º da Lei nº 10/2004 de 25 de Agosto estabelece a idade inferior a dezoito
anos como impedimento absoluto ao casamento civil, religioso, tradicional ou ainda, qualquer
forma de união informal.

3.8. União Prematuro

Segundo o artigo 2 da Lei nº 19/2019 de 22 de Outubro, União prematura é a ligação entre


pessoas, em que pelo menos uma seja criança. Formada com o propósito imediato ou futuro de
constituir família.

12
3.9. União de Facto
Segundo número 1 do artigo 202 da lei da família nº 10/ 2004 de 25 de Agosto, a união de facto
é a ligação singular existente entre um homem e uma mulher, com carácter estável e duradouro,
que sendo legalmente aptos para contrair casamento não o tenha celebrado.

Segundo Mota (2001), união de facto é uma comunhão de habitação, mesa e leito sem o vínculo
do casamento, comunhão também associada à uma ideia de liberdade, por não estar submetida
a um quadro de legalidade.

3.10. A relação entre os ritos de iniciação e outros fenómenos sociais


Embora não tenha sido até então possível, do ponto de vista da investigação científica,
estabelecer a relação entre os ritos de iniciação e outros fenómenos sociais tal como o
casamento prematuro, a gravidez precoce e o abandono escolar, estudos levados a cabo por
diversas instituições sobre a situação da rapariga e da criança “sugerem haver alguma
convergência sobre o que se chama de tradições e práticas culturais brutas de frequência
escolar” (Osório e Macuácua 2013: 26).

Na opinião destes autores, existe um certo consenso de que as práticas tradicionais aparentam
influenciar de forma negativa as taxas de frequência do ensino primário, prejudicando “não só
o acesso à escola, mas também a retenção e a conclusão dos níveis de ensino, principalmente
por parte da rapariga” (UNICEF apud Osório e Macuácula 2013: 26; 27). De entre as práticas
tradicionais que, aparentemente, deslocam “o interesse da escola para o casamento prematuro
ou para o trabalho” (ibid.: 27), estes autores destacam:

1) Práticas como o lobolo ou casamentos prematuros, associados ou não aos ritos de iniciação;

2) A instrução alternativa, em que se destacam os estudos do Alcorão;

3) A prioridade dada pelas famílias à educação de rapazes, em detrimento da educação das


raparigas com base no pressuposto de que os conhecimentos por estes adquiridos nos ritos de
iniciação femininos são suficientes para as preparar para a vida conjugal; e

4) O facto de, tradicionalmente, as questões domésticas tais como a limpeza da casa, acarretar
água e cuidar dos mais novos, ficarem a cargo das raparigas, o que as deixa com pouco tempo
livre para frequentarem a escola ou estudar.

13
Esta posição é, igualmente, defendida por Francisco (2014), para quem “o problema da gravidez
precoce está fortemente associado ao casamento prematuro…” (Francisco 2014: 6) e ao
abandono escolar.

3.11. Validade do casamento


Falar sobre o casamento de menores é falar de uniões que estão em situação irregular e ilegal e
que são constituídas por um ou dois indivíduos sem maturidade legal (com idade inferior aos
dezoito anos).

Os casamentos de menores ou prematuros podem ser ou não uniões forçadas, sendo que por se
tratar de uma “criança ou menor” por conta da sua idade, a lei não lhe permite consentir
livremente a decisão de quando se casar, ou na escolha do seu cônjuge. E apesar da lei da família
moçambicana referir que só pode contrair matrimónio aquele que possui idade núbil a partir de
dezoito anos, a mesma lei abre uma brecha permitindo que indivíduos maiores de dezasseis
anos se casem mediante a seguinte situação, número 2 do artigo 26 da lei no 10/2004 de 25 de
Agosto.

O consentimento dos pais, legais representantes ou tutor relativo ao nubente menor, pode ser
prestado na presença de duas testemunhas perante o dignatário religioso, o qual lavra o auto de
ocorrência, assinando-o todos os intervenientes.” “A mulher ou homem com mais de dezasseis
anos, a título excepcional, podem contrair casamento quando ocorram circunstancias de
reconhecido interesse público e familiar e houver consentimento dos pais ou dos legais
representantes. (número 2 do artigo 30 da Lei nº10/ 2004).

Seguindo as nossas normas socioculturais o casamento não é uma questão individual, é uma
questão de famílias. A ser assim, os vários casos de casamento prematuro ou união precoce,
muita das vezes estão inseridos num contexto histórico e cultural das comunidades onde a
vontade dos nubentes no geral e vontade da rapariga em especial pouco importa.

3.12. Contribuição sobre as uniões prematuros


No âmbito do combate e prevenção dos casamentos prematuros, Moçambique criou diversos
instrumentos legais que têm como finalidade proteger a criança e como meta a redução do
índice dos casamentos prematuros e a implementação de acções nos diversos sectores como
saúde, educação e programas de segurança social. Para o efeito, o Governo moçambicano
lançou e aprovou algumas estratégias e planos como:

14
 Estratégia Nacional de Prevenção e Combate dos casamentos prematuros em Moçambique
(2016 – 2019);
 Plano de Acção a Criança 2013- 2019 (PNAC II);
 Lei 19/2019 de 22 de Outubro – Lei de proibição, prevenção, mitigação e combate às uniões
prematuras,
 Programa Quinquenal do Governo (2015 – 2019).

15
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Lei da família nº 10/ 2004 de 25 de Agosto

Estratégia Nacional de Prevenção e Combate dos casamentos prematuros em Moçambique


(2016 – 2019);

Plano de Acção a Criança 2013- 2019 (PNAC II);

Programa Quinquenal do Governo (2015 – 2019).

ALBASINI, Fátima Ricardo. O casamento prematuro como legitimação do abuso sexual de


menores no contexto da agenda de desenvolvimento de Moçambique. Maputo-Moçambique,
2017.

GIL, António Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6 Ed. São Paulo: Atlas 2010.

GIL, António Carlos. Métodos e Técnicas de pesquisas social. 6ª Edição, São Paulo: atlas S.A-
2008;

Lei da Família – Lei nº 10/2004, de 25 de Agosto.

LOPES, Miguel Ângelo. Gestão: A resiliência Como Estratégia Para Enfrentar Os Desafios
No Quotidiano Escolar. Rio de Janeiro, 2011.

MALHOTRA et al. Introdução a Pesquisa de Marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2005.

MARCONI, Maria de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologias


Científicas. 5ª Edição, Editora atlas, São Paulo, 2003.

16

Você também pode gostar

  • Naira Job 1
    Naira Job 1
    Documento17 páginas
    Naira Job 1
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Introdução Edna
    Introdução Edna
    Documento14 páginas
    Introdução Edna
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Leis de Newton
    Leis de Newton
    Documento12 páginas
    Leis de Newton
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Factores Que Influenciam
    Factores Que Influenciam
    Documento11 páginas
    Factores Que Influenciam
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Mitos e Convicoes
    Mitos e Convicoes
    Documento8 páginas
    Mitos e Convicoes
    Rogério Maurício Miguel
    100% (2)
  • Física
    Física
    Documento14 páginas
    Física
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Base
    Base
    Documento6 páginas
    Base
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Infecções e Infestações Cutâneas
    Infecções e Infestações Cutâneas
    Documento17 páginas
    Infecções e Infestações Cutâneas
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Mti Sumbi
    Mti Sumbi
    Documento14 páginas
    Mti Sumbi
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Infecções e Infestações Cutâneas
    Infecções e Infestações Cutâneas
    Documento17 páginas
    Infecções e Infestações Cutâneas
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • MENOPAUSA
    MENOPAUSA
    Documento12 páginas
    MENOPAUSA
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Monografia Rogerio
    Monografia Rogerio
    Documento45 páginas
    Monografia Rogerio
    Rogério Maurício Miguel
    100% (2)
  • NDAU
    NDAU
    Documento18 páginas
    NDAU
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Marta Paulo
    Marta Paulo
    Documento9 páginas
    Marta Paulo
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Logica e Argumentacao
    Logica e Argumentacao
    Documento13 páginas
    Logica e Argumentacao
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Monografia
    Monografia
    Documento48 páginas
    Monografia
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Gestao Empresarial
    Gestao Empresarial
    Documento16 páginas
    Gestao Empresarial
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Historiografia Cristã
    Historiografia Cristã
    Documento9 páginas
    Historiografia Cristã
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Apresentação
    Apresentação
    Documento39 páginas
    Apresentação
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Instituto Industrial
    Instituto Industrial
    Documento38 páginas
    Instituto Industrial
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Projecto de Pesquisa Arsenio
    Projecto de Pesquisa Arsenio
    Documento17 páginas
    Projecto de Pesquisa Arsenio
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Genetica Aplicada
    Genetica Aplicada
    Documento14 páginas
    Genetica Aplicada
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Luisa Azevedo RP e MKT
    Luisa Azevedo RP e MKT
    Documento16 páginas
    Luisa Azevedo RP e MKT
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Fichas de Leitura
    Fichas de Leitura
    Documento13 páginas
    Fichas de Leitura
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Job
    Job
    Documento4 páginas
    Job
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Sistema Cardiovascular
    Sistema Cardiovascular
    Documento25 páginas
    Sistema Cardiovascular
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Psicopatologia de Crianca e Adolescente 2015
    Psicopatologia de Crianca e Adolescente 2015
    Documento149 páginas
    Psicopatologia de Crianca e Adolescente 2015
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Logica e Argumentacao
    Logica e Argumentacao
    Documento4 páginas
    Logica e Argumentacao
    Rogério Maurício Miguel
    Ainda não há avaliações
  • Sistemas Agrários e Níveis de Desenvolvimento
    Sistemas Agrários e Níveis de Desenvolvimento
    Documento15 páginas
    Sistemas Agrários e Níveis de Desenvolvimento
    Rogério Maurício Miguel
    100% (3)