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Élder Ulisses Soares

Do Quórum dos Doze Apóstolos


A expressão de compaixão por outras pessoas é a essência do evangelho de Jesus Cristo.

Um dos princípios mais relevantes ensinados pelo Salvador durante Seu ministério terreno foi tratar as
pessoas com compaixão.

“Nas escrituras, a compaixão significa, literalmente, ‘sofrer com outrem’. Também quer dizer demonstrar
simpatia, piedade e misericórdia por outra pessoa.”
“Jesus nos deu muitos exemplos de envolvimento compassivo”, disse o Presidente Thomas S. Monson. “O
homem enfermo no tanque de Betesda; a mulher apanhada em adultério; a mulher na fonte de Jacó; a filha de
Jairo; Lázaro, o irmão de Maria e Marta — cada um deles era como o homem ferido na estrada de Jericó. Todos
precisavam de ajuda.

Ao enfermo de Betesda Jesus disse: ‘Levanta-te, toma o teu leito, e anda’. Para a pecadora veio o conselho: ‘Vai-
te, e não peques mais’. Para ajudar aquela que foi tirar água do poço, Ele ofereceu uma fonte de água, que
saltava para a vida eterna. Para a filha de Jairo que estava morta veio a ordem: ‘Menina, a ti te digo, levanta-te’.
E para Lázaro, no sepulcro: ‘Sai para fora’.

O Salvador sempre demonstrou uma capacidade ilimitada para a compaixão. (…) Que possamos abrir as portas
do nosso coração, para que Ele — o exemplo vivo da verdadeira compaixão — entre.”

Sua capacidade de reagir às necessidades das pessoas é algo que podemos esforçar-nos para obter ao servirmos.
Se vivermos em retidão e dermos ouvidos aos sussurros do Espírito, seremos inspirados a ajudar de maneiras
significativas.

Vamos considerar esse princípio e sua aplicação prática, levando em conta o relato da visita de Jesus à casa de
Simão, o Fariseu.

O evangelho de Lucas relata que certa mulher, considerada pecadora, entrou na casa de Simão enquanto Jesus
estava lá. Em humilde contrição, aquela mulher se aproximou de Jesus, lavou Seus pés com suas lágrimas, os
enxugou com seus cabelos e, em seguida, os beijou e os ungiu com um unguento especial. O orgulhoso anfitrião,
que se considerava moralmente superior àquela mulher, falava consigo mesmo em tom de censura e arrogância:
“Se este fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o tocou, porque é pecadora”.
A atitude de superioridade do fariseu o levou a julgar injustamente tanto Jesus como aquela mulher. Porém,
em Sua onisciência e conhecendo a mente de Simão, o Salvador em Sua sabedoria contestou a atitude
condescendente do fariseu, assim como o admoestou quanto à sua falta de cortesia ao receber um convidado
especial como o Salvador em sua casa. Na realidade, a reprimenda tão direta de Jesus ao fariseu serviu como
testemunho de que Jesus, de fato, possuía o dom da profecia e que aquela mulher, com um coração humilde e
contrito, estava arrependida e havia sido perdoada de seus pecados.
Como tantos outros acontecimentos ocorridos durante o ministério de Jesus na Terra, esse relato demonstra
mais uma vez que o Salvador agia compassivamente, sem distinção, com todos aqueles que se achegavam a Ele,
especialmente com os que necessitavam de Sua ajuda. A contrição e o amor reverente demonstrados a Jesus por
aquela mulher eram uma evidência de seu arrependimento sincero e desejo de receber a remissão de seus
pecados. Contudo, o complexo de superioridade de Simão, aliado à dureza de seu coração, impediu-o de
demonstrar empatia por aquela alma arrependida. Além disso, Simão se referia ao Salvador do mundo com
indiferença e menosprezo. Sua atitude expressou que seu modo de vida nada mais era do que uma restrita e
vazia observância de regras e uma externalização de suas convicções por meio de enaltecimento pessoal e falsa
santidade.
A ministração complacente e personalizada de Jesus nesse episódio demonstra o modelo perfeito de como
devemos interagir com nosso próximo. As escrituras contêm inúmeros exemplos de como o Salvador, movido
por Sua profunda e eterna compaixão, relacionava-Se com as pessoas naquela época. Ele ajudava aqueles que
sofriam e “andavam fatigados e desgarrados, como ovelhas que não têm pastor”. Ele estendia Sua misericordiosa
mão aos que necessitavam de alívio de seus fardos, tanto físicos como espirituais.
A atitude compassiva de Jesus tem sua raiz na caridade, ou seja, Seu puro e perfeito amor, que é a essência de
Seu sacrifício expiatório. Compaixão é uma característica fundamental dos que buscam santificação, e essa
característica divina se entrelaça com outros atributos cristãos, tais como chorar com os que choram,
demonstrar empatia, misericórdia e bondade. A expressão de compaixão por outras pessoas é, na realidade, a
essência do evangelho de Jesus Cristo e uma evidência marcante de nossa proximidade espiritual e emocional
ao Salvador. Além disso, a expressão de compaixão por outras pessoas sinaliza o nível de influência que Ele
exerce em nosso modo de ser, demonstrando a grandeza de nosso espírito.
É importante notar que as ações compassivas do Salvador não eram manifestações ocasionais ou legisladas,
que tinham como base uma lista de tarefas a serem cumpridas; eram expressões cotidianas da realidade de
Seu puro amor a Deus e aos filhos Dele, assim como Seu desejo constante de ajudá-los.

Jesus era capaz de identificar as necessidades dos indivíduos, mesmo a longa distância. Por isso, não é de se
estranhar que, imediatamente após ter curado o servo de um certo centurião, Jesus tenha viajado de Cafarnaum
a uma pequena cidade chamada Naim. Foi naquele local que Jesus realizou um dos milagres mais ternos de Seu
ministério terreno ao ordenar a um jovem morto, filho único de uma mãe viúva, que se levantasse e vivesse.
Jesus percebeu não apenas o sofrimento intenso daquela pobre mãe, mas também as circunstâncias difíceis em
que ela vivia, e “moveu-se de íntima compaixão por ela”.
Assim como a mulher pecadora e a viúva de Naim, há muitas pessoas em nosso círculo de influência que estão
buscando consolo, atenção, inclusão ou qualquer outra ajuda que possamos lhes oferecer. Todos podemos ser
instrumentos nas mãos do Senhor e agir compassivamente em favor daqueles que precisam de auxílio, assim
como Jesus fazia.

Meus queridos amigos, ao nos esforçarmos com real intenção para incorporar atitudes compassivas em nosso
modo de ser, conforme exemplificado pelo Salvador, nós nos tornaremos mais sensíveis às necessidades das
pessoas. Com essa sensibilidade mais apurada, sentimentos de genuíno interesse e amor permearão todas as
nossas ações. O Senhor reconhecerá nossos esforços, e certamente seremos abençoados com oportunidades
para sermos instrumentos em Suas mãos, abrandando corações e trazendo alívio àqueles cujas mãos pendem.
A admoestação de Jesus a Simão, o Fariseu, também deixou claro que jamais devemos julgar nosso próximo de
modo severo e cruel, pois todos carecemos da compreensão e da misericórdia de nosso amoroso Pai Celestial em
relação às nossas imperfeições. Não foi exatamente isso que o Salvador ensinou em outra ocasião, quando disse:
“E porque reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?”
Precisamos considerar que não é tão simples entender todas as circunstâncias que envolvem a atitude ou a
reação de uma pessoa. As aparências podem ser enganosas e, muitas vezes, não constituem uma medida
correta do comportamento de alguém. Ao contrário de vocês e de mim, Cristo é capaz de ver com clareza todas
as facetas de uma determinada situação. Mesmo conhecendo todas as nossas debilidades, como Ele as conhece,
o Salvador não nos condena precipitadamente, porém continua a trabalhar conosco compassivamente ao longo
do tempo, ajudando-nos a remover a trave de nosso olho. Jesus sempre olha para o coração, e não para a
aparência. Ele mesmo declarou em certa ocasião: “Não julgueis segundo a aparência”.
Considerem os sábios conselhos do Salvador aos 12 discípulos nefitas quanto a essa questão:
“E sabei vós que sereis os juízes deste povo, de acordo com o julgamento que vos darei, que será justo. Portanto,
que tipo de homens devereis ser? Em verdade vos digo que devereis ser como eu sou”.
“Portanto, quisera que fôsseis perfeitos, assim como [Eu] ou como o vosso Pai que está nos céus é perfeito.”
Nesse contexto, o Senhor vincula o julgamento àqueles que, injustamente, tomam sobre si o ato de julgar as
supostas falhas de outras pessoas. A fim de nos qualificarmos para realizar julgamentos justos, precisamos nos
esforçar para nos tornarmos como o Salvador e olhar as imperfeições dos indivíduos sob o mesmo olhar
compassivo Dele. Considerando que ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar a perfeição,
talvez o melhor seria nos sentarmos aos pés de Jesus e implorarmos por misericórdia por nossas próprias
imperfeições, assim como fez aquela mulher arrependida na casa do fariseu. Além disso, não devemos gastar
tanto tempo nos preocupando demasiadamente com as imperfeições dos outros.

Presidente Ezra Taft Benson (1899–1994): “Sinto no coração um grande amor por todos os filhos de Deus. Não
tenho ressentimentos em relação a nenhum ser humano. Tal como vocês, odeio o pecado, mas amo o
pecador. Todos temos necessidade de arrependimento”.

Ajudar com compaixão


À medida que seguir o exemplo deixado pelo Salvador, você vai descobrir que pode fazer algo significativo na
vida das pessoas.

Compaixão é estar ciente da aflição das pessoas e ter o desejo de aliviá-la ou amenizá-la. O convênio de seguir o
Salvador é um convênio de compaixão para “carregar os fardos uns dos outros” (Mosias 18:8). A designação de
zelar pelas pessoas é uma oportunidade de servir como o Senhor faria: com compaixão, fazendo algo significativo
na vida delas. O Senhor ordenou: “Mostrai piedade e misericórdia cada um para com seu irmão” (Zacarias 7:9).

Nosso convênio de compaixão


O Pai Celestial quer que Seus filhos sejam compassivo. Para nos tornar discípulos verdadeiros, precisamos
desenvolver e demonstrar compaixão pelas pessoas, especialmente pelos necessitados

D&C 52:40
E em todas as coisas lembrai-vos dos pobres e necessitados, dos doentes e dos aflitos, porque aquele que não faz
estas coisas não é meu discípulo.
Ao tomarmos sobre nós o nome de Jesus Cristo por meio do convênio batismal, testemunhamos que estamos
dispostos a exercer compaixão. O presidente Henry B. Eyring, segundo conselheiro na Primeira Presidência,
ensinou que o dom do Espírito Santo nos ajuda a ser compassivos: “Vocês são membros de A Igreja de Jesus
Cristo e fizeram convênios. (…)

É por isso que vocês têm o sentimento de querer ajudar uma pessoa que luta sob um fardo de dor e de
dificuldades a prosseguir. Vocês prometeram que ajudariam o Senhor a tornar os fardos dela mais leves e que
ela seria consolada. Receberam o poder de ajudar a aliviar esses fardos quando receberam o dom do Espírito
Santo”.
Quatro sugestões para desenvolver compaixão

Apesar de a compaixão geralmente aumentar após enfrentarmos nossas próprias provações, aqui estão algumas
coisas que podemos fazer hoje para desenvolvê-la. Pense em maneiras de colocar em prática esses quatro
princípios.

 Ore para obtê-la. À medida que você suplicar ao Pai Celestial, Ele vai abrir seu coração, e “você sentirá
uma preocupação sincera pelo bem-estar e a felicidade eterna das pessoas” (Pregar Meu Evangelho: Guia
para o Serviço Missionário, 2004, p. 124; ver também Morôni 7:48).
 Pratique-a. Você pode demonstrar compaixão ouvindo e compreendendo. Coloque-se no lugar das
pessoas e pense como elas devem estar se sentindo. Se for apropriado à situação e ao momento, você
pode se oferecer para ajudar a aliviar a dor, o sofrimento ou a aflição delas.
 Siga a inspiração. O Senhor pode revelar maneiras de demonstrar compaixão que nos passariam
despercebidas. Quando sentir o Espírito impelindo-o a ajudar as pessoas, não hesite em agir.
 Seja um amigo verdadeiro. Exercer compaixão pode ser tão simples quanto demonstrar genuíno
interesse pela vida das pessoas. Aprenda a ouvir bem (ver “Princípios para ministrar como o Salvador:
Cinco coisas que bons ouvintes fazem”, Liahona, junho de 2018, p. 6). Seu amor por elas vai aumentar, e
será mais fácil reconhecer maneiras de demonstrar esse amor.
Compaixão
1. Oração

2. Aplicação prática

3. Inspiração

4. Amizade

Pense Nisto
Quem poderia ser abençoado por sua compaixão?

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