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O PERDÃO E A PARÁBOLA DO CREDOR

INCOMPASSIVO – MATEUS 18.21-35


FORGIVENESS AND THE PARABLE OF THE
UNFORGIVING SERVANT - MATTHEW 18.21-35
Jossemar Schulz dos Santos1
Dr. Vilson Scholz2

Resumo: Este artigo apresenta uma exegese de Mateus 18.21-35,


aplicada ao perdão de Deus e o perdão humano. A partir disso, tem por
finalidade investigar a decorrência do perdão e da sua falta na vida humana. Se
o ser humano recebeu o perdão de Cristo, por que ele tem dificuldade em
perdoar o seu próximo? Serão investigados fundamentos bíblico/teológicos do
perdão de Deus e do perdão entre as pessoas (horizontal e vertical), e os seus
efeitos e benefícios tanto na cura física, espiritual e emocional. A falta do
perdão acarreta em problemas de saúde, peso na própria consciência, além de
outros fatores negativos integrais na vida humana. Por isso, o ato de perdoar
traz inúmeros benefícios para o ser humano. Esta investigação é de cunho
qualitativo e de natureza exploratória. Como procedimento técnico de
investigação foi usada a pesquisa bibliográfica. Os resultados da investigação
apontam que o perdão recebido em Jesus Cristo deve ser trabalhado,
principalmente pelo pastor, para incentivar e motivar os membros da igreja a
perdoarem uns aos outros trazendo paz pessoal e coletiva.

Palavras-chave: Credor incompassivo. Perdão. Mt 18.21-35.


1
Bacharel em Teologia pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA, 2019),
Canoas, RS. Especialização em Teologia e Ministério Pastoral (ULBRA, 2021). Artigo
de conclusão para obtenção da Habilitação ao Ministério Pastoral no Seminário
Concórdia (2021).
2
Professor orientador. Bacharel em Teologia, Seminário Concórdia, Porto
Alegre (1977). Professor de grego no Instituto Concórdia e no Seminário
Concórdia (1978-1979). Mestrado em Novo Testamento, Concordia Seminary, St.
Louis, USA (1981). Doutorado em Novo Testamento, Concordia Seminary, St.
Louis, USA (1993). Consultor de Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil (1996-
2020). Coordenador de Pós-Graduação no Seminário Concórdia (2020-).

1
Abstract: This paper presents an exegesis of Matthew 18:21-35, applied
to God's forgiveness and human forgiveness. The aim is to investigate the
consequences of forgiveness and the lack of it in human life. If human beings
have received Christ's forgiveness, why do they have difficulty in forgiving their
neighbors? Biblical/theological foundations of forgiveness from God and
forgiveness between people (horizontal and vertical) will be investigated, as well
as its effects and benefits in physical, spiritual, and emotional healing. Lack of
forgiveness leads to health problems, a bad conscience, and other negative
factors in human life. Therefore, the act of forgiveness brings many benefits to
the human being. This research is qualitative and exploratory in nature. The
technical procedure used was bibliographic research. The results of the
research indicate that the forgiveness received in Jesus Christ must be worked
on, especially by the pastor, to encourage and motivate church members to
forgive one another, bringing personal and collective peace.

Keywords: The Unforgiving Servant. Forgiveness. Matthew 18:21-35.

INTRODUÇÃO
Não é raro ouvirmos alguém dizer: “Como posso perdoar tal pessoa que
arruinou a minha vida?” Ou: “Como perdoar um assassino, um psicopata,
alguém que só pensa em fazer o mal?” Uma desculpa que muitas pessoas
usam quando se negam a perdoar os outros é dizer: “Eu tenho o direito de reter
isso contra ele. Ele realmente cometeu uma injustiça contra mim” (CHEUNG,
2003, p.33). Remorso, ódio. Alimentamos a vingança e a vontade de fazer
justiça com as próprias mãos. São inúmeros os casos, inclusive dentro do
contexto familiar e da igreja.

Já se falou muito do perdão, mas pouco se pratica no dia a dia. Por que
é tão difícil libertarmo-nos das correntes da amargura e do ressentimento? Por
que retemos o perdão? Jesus ilustrou essa dificuldade pela parábola do credor
incompassivo ou, então, do servo que não quis perdoar, em Mateus 18.21-35.
Nesta, um homem que foi perdoado de uma grande dívida pelo rei não
consegue perdoar a pequena dívida de um conservo. Num primeiro momento,

2
será apresentada uma breve exegese da parábola de Mateus 18.21-35.
Depois, com base nessa parábola, será feito um estudo sobre o perdão.

CONTEXTO LITERÁRIO E GÊNERO


A parábola do servo que não queria perdoar aparece ao final de Mateus
18, que é um dos discursos de Jesus nesse Evangelho. Trata-se do discurso
eclesiástico ou referente à igreja. A parábola faz parte da resposta de Jesus à
pergunta de Pedro quanto ao número de vezes que se deve perdoar um irmão.
E, na medida em que parábolas são “histórias dentro da história”, ou seja,
narrativas menores dentro de uma narrativa maior, cabe ver se existe conexão
entre o enredo e os personagens da parábola (a narrativa menor) e o enredo e
os personagens do Evangelho (a narrativa maior) (SCHOLZ, 2010, p.152).
Assim, pode-se dizer que Jesus queria que Pedro se enxergasse na figura do
servo que recebeu um imenso perdão e que não estava disposto a perdoar.
Perguntar “quantas vezes?” parece revelar relutância em perdoar.

Quanto ao gênero, o evangelista não identifica a história que Jesus


conta como “parábola”. No entanto, o início em termos de “o Reino dos Céus é
semelhante a...” (v. 23) sinaliza ao leitor que se trata de uma parábola. Assim,
nada impede que o termo “parábola” apareça no título (BRATCHER; SCHOLZ,
2013, p.514). Cabe lembrar que o termo “parábola” vem do grego e se
relaciona com o verbo parabállein, que sugere algo como “lançar ou colocar ao
lado de”. Assim, parábola é algo que se coloca ao lado de outra coisa para fins
de comparação, ou para demonstrar a semelhança entre dois elementos
(CABRAL, 2005, p.8). A parábola ensina de forma indireta. No entanto, mais do
que ensinar, a parábola se destina a convencer ou persuadir, levando o ouvinte
a tomar uma decisão ou agir (SCHOLZ, 2010, p.144). De forma sucinta, pode-
se dizer que a parábola:

É uma narrativa, pois conta uma história, geralmente com


começo, meio e fim. Ela é tirada da vida real, sendo verossímil,
por mais que inclua elementos atípicos. A parábola tem,
também, um propósito, que é levar a uma mudança de
pensamento e atitude. Em geral, as parábolas falam do Reino
de Deus, num dos seguintes aspectos: sua vinda; a graça do
reino ou a misericórdia de Deus; discipulado no reino; ou a
crise trazida pela iminência do reino (SCHOLZ, 2010, p.144).

3
A parábola do servo que não queria perdoar, que aparece apenas em
Mateus e que se caracteriza por sua simplicidade e clareza, é uma parábola
narrativa (SNODGRASS, 2010, p.106), pois é contada no tempo pretérito.
Jesus contou essa parábola aos seus seguidores, a pessoas que já haviam
experimentado o Reino. (Lembrando que outras parábolas foram contadas a
um público mais amplo ou, então, àqueles que se opunham a Jesus.) Dentro
de seu contexto, a parábola enfatiza o que significa seguir a Jesus e a forma
como isso se relaciona com o pecado e o perdão (SNODGRASS, 2010, p.113).

DELIMITAÇÃO DO TEXTO
Já houve quem sugerisse que a parábola deveria terminar no versículo
33 ou mesmo antes3. Mas esta sugestão deriva mais da dificuldade dos
intérpretes de assimilarem o fato de que a parábola termina num tom negativo
do que de qualquer razão de ordem literária. A estrutura paralela dos três atos
na história, especialmente o tom negativo do v. 30, demonstra que o versículo
34 faz parte, sim, da parábola. 4 Igualmente o “houtos” (“assim”) do v. 35 segue
um típico costume judeu na aplicação de uma parábola. A pergunta retórica do
senhor (v. 33) exige uma resposta, e todos os leitores ficam querendo saber o
que acontecerá com o servo. A mimshal do versículo 35 cumpre a necessária
tarefa de explicar o tema da parábola (SNODGRASS, 2010, p.116-117).

A MOLDURA HISTÓRICA E LITERÁRIA (vs. 21-22)


Então, Pedro, aproximando-se, perguntou a Jesus: “Senhor, até
quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe?
Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não digo a você que perdoe
até sete vezes, mas até setenta vezes sete.”
Esses dois versículos formam a moldura histórica e literária da parábola.
Tudo começou com a pergunta de Pedro, que, segundo A Bíblia para Todos
(BPT), poderia ser formulada assim: “Quantas vezes devo perdoar ao meu
irmão, se ele continuar a ofender-me?” A pergunta de Pedro resultou daquilo
3
Wolfgang Harnish limita a parábola aos versículos 23-33 (SNODGRASS, 2010,
p.847).
4
Crossan chega a dizer que com a exceção do v. 35 a unidade dramática da história
é impecável (SNODGRASS, 2010, p.847).

4
que Jesus tinha dito a respeito do irmão que peca, em Mateus 18.15-17
(BRATCHER; SCHOLZ, 2013, p.515). Era típico de um judeu dizer: “Nunca
guarde rancor” (KEENER, 2004, p.97). Era tradicional o ensino dos rabinos “de
que se podia perdoar o ofensor até três e não ir até quatro vezes” (Am 1.3; Jó
33.29,30) (CABRAL, 2005, p.94). O rabino José Ben Jehuda dizia: "Se alguém
cometer uma ofensa uma vez, perdoem-no, se cometer uma ofensa pela
segunda vez, perdoem-no, se cometer uma ofensa pela terceira vez, perdoem-
no, se a cometer pela quarta vez, não o perdoem" (BARCLAY, p.622). Carson
entende que:

Na discussão rabínica, o consenso era que o irmão devia ser


perdoado três vezes por um pecado repetido, na quarta vez
não havia perdão. Pedro, considerando-se bondoso, prontifica-
se a responder “sete vezes” a sua pergunta - um número
maior que era usado, entre outras coisas, como “número
arredondado” (cf. Lv 26.21; Dt 28.25; SI 79.12; Pv 24.16; Lc
17.4) (CARSON, 2010, p.473).

Caso se levar em conta esse contexto, Pedro, ao sugerir “sete vezes”,


podia até pensar que estava sendo generoso (BRATCHER; SCHOLZ, 2013,
p.515). Talvez esperasse que Jesus lhe dissesse: “Sim, Pedro, é bastante”
(KISTEMAKER, 1992, p.86). O número sete representava a perfeição, de modo
que Pedro podia ter pensado que, após perdoar alguém sete vezes, a pessoa
ofendida teria cumprido sua parte.

Jesus poderia ter dado a mesma resposta que aparece em Lucas 17.4:
“Se pecar contra você sete vezes num dia e sete vezes vier para lhe dizer:
‘Estou arrependido’, perdoe-lhe.” Mas Jesus respondeu: “Não digo a você que
perdoe até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (v. 22).

Em sua resposta, Jesus alude a Gênesis 4.24: “Se Caim é vingado sete
vezes, Lameque será vingado setenta vezes sete.” A vingança de Lameque é
transformada em um princípio de perdão. Jesus toma o número sete, que havia
sido sugerido por Pedro, e o multiplica por dez (sendo que sete e dez são
números que simbolizam a perfeição). Disso resulta um “setenta vezes”. A isto
Jesus acrescenta outro “sete”, resultando num “setenta vezes – sete vezes”, o
que representa a perfeição (sete) vezes a perfeição (dez) e mais a perfeição
(sete). 5
5
Cabe o registro de que o texto grego tem apenas duas palavras: “setenta vezes” e
“sete”. Não está claro se esses dois números devem ser multiplicados ou somados.

5
Com sua resposta, Jesus deixa claro que não há limites para o perdão
(WARREN, 2010, p.1174). Ou seja, Jesus não está sugerindo um limite de 77
vezes ou 490 vezes. Pelo contrário, ele ensina que o perdão para os irmãos de
sua comunidade de “pequeninos” não pode ser limitado pela frequência nem
pela quantidade, pois, como indica a parábola que ele contará a seguir, todos
eles foram muito mais perdoados do que jamais perdoarão (CARSON, 2010,
p.473). A misericórdia de Deus é tão grande que não pode ser medida. Assim,
Jesus quebrou a matemática legalista, indicando um número ilimitado para a
capacidade de perdoar o ofensor (CABRAL, 2005, p. 94-95). Isso quer dizer
“perdoar sempre”. Como Kretzmann explica,

Nenhum número poderia mostrar a grandeza do amor


perdoador que devia ser encontrado no coração dos cristãos.
Não há qualquer limite no número de vezes que devíamos
perdoar ao irmão errante e reerguê-lo em nossa estima, depois
da sua transgressão. Cristo está falando do perdão dos
pecados, e nisso ele não tem limite, sendo que o setenta vezes
sete está evidentemente em lugar de qualquer cálculo sem
valor. Nos corações dos cristãos deve haver nada mais do que
amor (KRETZMANN, p.50-51).

A ABERTURA DA PARÁBOLA (v. 23)


Por isso, o Reino dos Céus é semelhante a um rei que resolveu
ajustar contas com os seus servos.
Sem indicar que passaria a contar uma parábola, Jesus prossegue com
“por isso, o Reino dos Céus é semelhante a...”. No entanto, a referência ao
Reino dos Céus e o uso do verbo “é semelhante” logo mostram que se trata de
uma parábola. A parábola de Jesus explica por que ele disse a Pedro que o
perdão não tem limites (BRATCHER; SCHOLZ, 2013, p.516). Segundo
Kretzmann, usa-se “por isso” (e não “porque”), visto que se espera um perdoar
ilimitado tanto na disposição como no agir dos discípulos de Cristo
(KRETZMANN, p.51).

O Reino dos Céus é comparado com a ação de um homem que é rei 6 e


que faz um ajuste de contas com os seus servos. Nada mais natural do que um
É possível que a melhor opção seja deixá-los simplesmente lado a lado. Na Nova
Tradução na Linguagem de Hoje foram somados, resultando em “setenta e sete
vezes”. A tradução de Almeida sugere uma multiplicação, algo como “490 vezes”.
No entanto, o “vezes” faz parte da tradução do advérbio grego hebdomekontákis,
que significa “setenta vezes”, não sendo equivalente ao sinal de multiplicação (70 x
7).

6
superior exigir prestação de contas da parte de seus subordinados. A lição
inicial que Jesus queria dar aos seus discípulos era de que haveria um dia em
que todos prestaríamos contas ao Senhor (CABRAL, 2005, p.95). Esse
versículo reflete a situação espiritual do ser humano perante Deus (GOERL,
1964, p.213). Revela a nossa situação pecaminosa, como explica Lopes:

Nós somos confrontados por Deus. Precisamos prestar contas


da nossa vida a ele. Deus é o supremo juiz. Ele é justo e santo.
Sua lei é perfeita e santa. Precisamos passar pelo crivo do seu
reto juízo. Somos pesados na balança de Deus. Ele coloca o
seu prumo na nossa vida e sonda o nosso coração. Ele
vasculha as nossas emoções e examina os nossos
pensamentos. Ele conhece as nossas palavras e vê os nossos
passos. Ele traz à tona os sentimentos e desejos secretos do
nosso coração. Estamos aquém de suas exigências. Somos
todos devedores (LOPES, 2019, p.564-565).

Chama a atenção o uso do termo “servos”, que, literalmente, seria


“escravos” (douloi). Acontece que, na Bíblia e no Oriente de modo geral, os
mais altos funcionários do rei se consideravam “servos do rei” (JEREMIAS,
1986, p.208). São os seus administradores, os seus oficiais. Talvez fosse
melhor dizer “oficiais” em vez de “servos”. A Nova Tradução na Linguagem de
Hoje prefere “empregados”, mas este termo dificilmente faz jus ao fato de se
tratar de funcionários do alto escalão, que podiam ter uma dívida astronômica.
A parábola é ambientada na corte de algum potentado oriental, onde o ouro flui
como água e os cortesãos são chamados de “servos” (BRUCE, 2008, p.1581).
A maior parte das declarações que Jesus faz acerca de servos (ou escravos)
coloca-os na posição de administradores dos bens dos seus senhores e não na
de executores de tarefas subalternas (SNODGRASS, 2010, p.111).

Todavia, Jesus pode estar usando linguagem exagerada, para tornar


claro o quanto os herdeiros do reino realmente foram perdoados (CARSON,
2010, p.474). Os que vivem no reino servem a um grande rei que,
invariavelmente, perdoa muito mais do que eles jamais perdoarão uns aos
outros.

A PRIMEIRA CENA (vs. 24-27)

6
O uso da expressão “reino dos céus” e a figura de um “rei” como personagem
principal da parábola são aspectos típicos do Evangelho de Mateus.

7
E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil
talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, o patrão ordenou
que fossem vendidos ele, a mulher, os filhos e tudo o que possuía e
que, assim, a dívida fosse paga. Então o servo, caindo aos pés dele,
implorava: “Tenha paciência comigo, e pagarei tudo ao senhor.” E
o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e
perdoou-lhe a dívida.
No processo de acerto de contas, foi trazido (não se diz por quem) um
servo que devia dez mil talentos. Era uma quantia considerável. Um talento
equivalia a 34 quilos (Bíblia de Estudo NAA, 2017, p.1408). D. A. Carson
explica:

Nós vislumbramos alguma ideia do tamanho da dívida quando


recordamos que Davi doou três mil talentos de ouro e sete mil
talentos de prata para a construção do tempo, e os príncipes
forneceram cinco mil talentos de ouro e dez mil talentos de
prata (1 Crônicas 29.4,7). Algumas estimativas recentes
sugerem um valor em dólar de doze milhões; mas com a
inflação e a oscilação do preço dos metais preciosos, isso
poderia ficar na casa dos bilhões de dólares em moeda de hoje
(CARSON, 2010, p.474).

Uma situação como essa descrita na parábola poderia ter acontecido


naqueles dias. Contudo, parece haver aqui um elemento de exagero. É pouco
provável que um servo teria necessitado ou emprestado tanto dinheiro, e é
improvável que alguém continuaria emprestando dinheiro a um servo até que
ele devesse o salário de cem mil anos de trabalho (CHEUNG, 2003, p.30). É
possível que alguns dos discípulos, e talvez o próprio Jesus, tenham sorrido
quando o grande contador de histórias mencionou o tamanho da dívida a que o
rei permitira que um de seus servos chegasse (KEENER, 2017, p.100). O
contraste fica mais acentuado quando a dívida é comparada com o total anual
de impostos que Herodes, o Grande, arrecadava em todo o seu reino:
aproximadamente novecentos talentos (KISTEMAKER, 1992, p.87). De fato,
percebe-se que “dez mil talentos” dificilmente seria uma dívida que alguém
tinha na vida real. A soma da dívida, que em sua grandeza supera toda
imaginação, serve para incutir com vigor no ouvinte o contraste com a pequena
dívida de cem denários, que será mencionada mais adiante (v. 28). Portanto,
introjeta-se a interpretação na parábola: sob o rei fica visível Deus, e sob o
devedor, o homem, que devia ouvir a mensagem do perdão (JEREMIAS, 1986,
p.208). Em outras palavras, fica claro que a parábola é elaborada a partir da

8
mensagem que se tem em vista. Não se trata simplesmente de uma história da
vida terrena com uma mensagem celestial.

Por se tratar de uma quantia que pode ser descrita como uma “dívida
absurda”, percebe-se a presença de hipérbole 7 nessa parábola. Trata-se de
uma falsa realidade. Não há, contudo, a intenção de enganar, mas de apontar
para o fato de que a dívida era tão grande que não havia qualquer
possibilidade de o servo quitá-la (SNODGRASS, 2010, p.114). A parábola é
propositalmente hiperbólica para ilustrar a culpa humana diante de Deus
(KEENER, 2017, p.100), que é algo que não se pode enumerar ou contar, ou
seja, algo infinito (KISTEMAKER, 1992, p.87). Somos devedores por sermos
pecadores. Agostinho, numa interpretação ousada típica de sua época, em
geral de caráter alegórico, dividiu os dez mil talentos pelos dez mandamentos,
dando em resultado mil faltas a cada um dos preceitos divinos (GOERL, 1964,
p.214).

Diante da imensidão de uma dívida impagável, o patrão ordenou que


fossem vendidos ele, a mulher, os filhos e tudo o que o servo possuía (v. 25).
Na verdade, essa dívida não poderia ser coberta com a venda dos membros da
família como escravos: o preço máximo de um escravo chegava a cerca de um
talento, e um décimo desse valor ou menos ainda era o preço mais comum. 8

A prática de alguém ser vendido para saldar uma dívida foi sancionada
pelo Antigo Testamento (Lv 25.39; 2 Rs 4.1), mas esses escravos tinham de
ser libertados no ano do jubileu 9 (todo quinquagésimo ano) (CARSON, 2010,
p.474). Por isso, deve-se pensar primeiramente em posse de terras e imóveis.
7
“Hipérbole” (literalmente “excesso”) é um exagero que não tem a intenção de
enganar, mas que é usado em função da ênfase que se tem em vista. Registra-se o
uso de hipérbole quando Jesus fala em arrancar o olho e cortar a mão (Mt 5.27-30),
quando ele fala sobre um camelo passando pelo fundo de uma agulha (Mt 19.23-
24), e quando fala sobre coar o mosquito e engolir o camelo (Mt 23.23-24). Quando
João afirma, no final de seu Evangelho, que no mundo inteiro não caberiam os livros
que seriam escritos para relatar tudo aquilo que Jesus fez (Jo 21.25), ele está se
valendo do recurso da hipérbole (SCHOLZ, 2010, p.107).
8
Segundo J. Jeremias, visto que o preço de um escravo era em média cerca de 500
e 2000 denários, o produto da venda da família estaria longe de contribuir
significativamente para abater a gigantesca dívida de 100 milhões de denários
(JEREMIAS, 1986, p.208-209).
9
A lei (Êx 22.2) já prevê a venda do devedor como escravo. Contudo, o compatriota
vendido tinha de ser alforriado no sétimo ano (Êx 21.2) (RIENECKER, 1998, p.209-
210).

9
O direito israelita só permitia vender um israelita em caso de roubo, se o ladrão
não pudesse ressarcir o roubado (JEREMIAS, 1986, p.208). Escravizar a
família de um homem endividado era um costume gentio que os judeus nesse
período achavam detestável (KEENER, 2004, p.98). A partir disso, tremenda é
a realidade da parábola! Deus é o rei, e nós, os servos. E tremenda é esta
realidade: Deus fala conosco através da sua lei, a lei que é justa, intransigente,
inexorável, sua lei que exige pagamento da dívida (GOERL, 1964, p.215).

O servo se vê completamente fulminado ao compreender a gravidade do


castigo iminente (v. 26). Assim,

Ele não nega que deve a vultosa quantia, tampouco tenta


explicar como chegou a esse terrível estado. Provavelmente
estava bem consciente do fato de que as desculpas seriam
inúteis. Ele pôs-se de joelhos diante do rei. Essa atitude do
servo de se prostrar ou cair aos pés é a mais impressionante
forma de súplica que existe (JEREMIAS, 1986, p.209).

Sem nenhum recurso nem esperança, o servo implorou por tempo e


prometeu pagar tudo que devia - uma impossibilidade (CARSON, 2010, p.474).
O que a princípio parece ser uma declaração responsável é de fato uma
declaração tola e irrealista. A dívida era impagável. O servo não podia reparar
nem mesmo uma pequena porção da dívida (CHEUNG, 2003, p.31). Prometeu
restituição, sabendo que poderia pagar apenas uma pequena parte e não mais.

Como resposta, o servo recebeu o que menos esperava: quitação da


dívida. O senhor daquele servo, “compadecendo-se, mandou-o embora e
perdoou-lhe a dívida” (v. 27). O rei compadeceu-se, foi tocado profundamente
por aquele quadro de terror e miséria. Tocado em sua alma pela súplica cheia
de lamento, livrou o servo da prisão, e perdoou-lhe a totalidade da dívida
(KRETZMANN, p.51).

O termo traduzido por “dívida” é daneion, um hapax legomenon no Novo


Testamento que a princípio denota um “empréstimo”. Isto dá a entender que o
rei, misericordiosamente, decide encarar a perda como um empréstimo ruim,
em vez de apropriação indevida. No entanto, no versículo 32, ele irá abandonar
essa terminologia e dizer que se trata de uma “dívida” (CARSON, 2010, p.474).

No contexto daquela época, os governantes precisavam perdoar os


impostos atrasados dos camponeses egípcios, quando o mau tempo e as

10
pragas que afetavam a colheita os tornavam inadimplentes. Porém nesses
casos o tributo não arrecadado era comparativamente pequeno (KEENER,
2004, p.98). A situação do servo da parábola era bem diferente disso.

Assim, a solução não veio do próprio servo, mas do senhor, que perdoou
a dívida por compaixão. Como diz Cheung,

O senhor cancelou a dívida não porque ele tinha que fazê-lo,


ou porque o servo de alguma forma tinha direito à sua
compaixão. Antes, o senhor tinha o direito de puni-lo, e o servo
não tinha nenhum direito, de forma alguma. (CHEUNG, 2003,
p.32).

Saindo do âmbito da parábola e vendo o que ela significa, é preciso


dizer que, da mesma forma, o perdão de Deus para conosco é baseado em
sua misericórdia e compaixão. Nosso Rei nos dá aqui uma maravilhosa visão
da misericórdia e compaixão do coração divino. Somente a benignidade é
capaz de solucionar o nosso problema, porque não temos com que saldar a
nossa dívida. É somente com base na obra consumada de Cristo, o Rei
crucificado, que Deus pode solucionar o nosso estado de falência e abolir
nosso débito (LOCKYER, 1999, p.275).

Deus nos perdoa não pelo que somos, mas por quem ele é. A base do
perdão não é o mérito humano, mas a graça divina (LOPES, 2019, p.566).
Dívida perdoada é dívida cancelada. Deus nunca mais lança em nosso rosto os
pecados dos quais ele nos perdoa. Ele não cobra mais uma dívida que já
perdoou. Seu perdão é completo (LOPES, 2019, p.567). O perdão de Deus
nasce de sua compaixão, graça, paciência e amor fiel (Ne 9.17; Sl 86.15;
103.8-10; 145.8; Jl 2.13; Jn 4.2) (CHISHOLM apud BOCK; GLASER, 2015,
p.164).

A SEGUNDA CENA (vs. 28-30)


Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos
que lhe devia cem denários. Agarrando-o, começou a sufocá-lo,
dizendo: “Pague-me o que você me deve.” Então o seu conservo,
caindo aos pés dele, pedia: “Tenha paciência comigo, e pagarei
tudo a você.” Ele, porém, não quis. Pelo contrário, foi e o lançou na
prisão, até que saldasse a dívida.

11
A segunda cena se passa fora do palácio real. “Aquele servo”, a saber, o
mesmo servo que havia sido perdoado, saiu da presença do rei. Perdoado, o
servo poderia sair feliz, pois estava liberto da dívida:

Não podia haver homem mais feliz do que o servo ao sair da presença
do rei, dirigindo-se a passos largos para o lar, onde iria com seus
familiares enaltecer a bondade e magnanimidade de seu senhor. Fora
resguardado de uma desgraça que lhe parecera inevitável. Libertado
do terrível pesadelo podia agora encarar o futuro com novo ânimo e
indisfarçável alegria (GOERL, 1964, p.218).

Lá fora, o servo encontrou um dos seus conservos. Também se poderia


dizer “um dos outros oficiais” (BRATCHER; SCHOLZ, 2013, p.519). Esse
conservo lhe devia cem denários. Um “denário” era apenas o salário de um
dia.10 Isto significa que a dívida era de cem dias de salário. Provavelmente era
uma quantia significativa sob a perspectiva do servo, mas era pelo menos uma
dívida possível de ser paga (CHEUNG, 2003, p.32-33). O montante era
totalmente trivial em comparação com o que já lhe havia sido perdoado
(CARSON, 2010, p.474).

No entanto, a atitude do servo é espantosa: ele começou a estrangular o


seu conservo. Ele estava muito aborrecido (BRATCHER; SCHOLZ, 2013,
p.519-520). Pegando-o pelo pescoço, ele o sufocava, o que segundo a lei
romana lhe era lícito. Em outras fontes textuais antigas, relatam-se atos
extremos de credores irados - esganar o devedor, por exemplo (KEENER,
2017, p.101). O senhor havia tratado seu servo com grande compaixão, mas o
perdão recebido não o motivou a perdoar. Cabral diz que:

Toda aquela demonstração de benevolência do seu senhor não


lhe serviu de exemplo na hora de tratar com alguém que lhe
devia. Esse servo agiu com extrema crueldade e aspereza.
Aquele servo perdoado saiu da presença de seu senhor, foi
atrás de um conservo que lhe devia e passou a cobrar-lhe sem
misericórdia. Sua atitude foi de uma crueza maldosa para com
o homem que lhe devia e contrastava com a bondade e a
compaixão do seu senhor. Ele queria misericórdia, mas não era
capaz de usar de misericórdia para com o próximo. Ele
esqueceu-se completamente da bondade de seu senhor e não
mediu consequências ao cobrar do seu conservo sem nenhum
resquício de misericórdia (CABRAL, 2005, p.97).

10
Moeda romana de prata, o denário era o pagamento por um dia de trabalho
(Bíblia NAA, 2017). Essa moeda é mencionada dezesseis vezes no Novo
Testamento, mais frequentemente do que qualquer outra moeda (BEACON, 2006,
p.132).

12
Colbert afirma, com razão, que pessoas com falta de perdão costumam
viver com raiva. Elas exibem um estado constante de irritação, frustração e
hostilidade (COLBERT, 2013, p.148).

De alguma forma, o segundo servo conseguiu se desvencilhar do


companheiro irado, caindo aos pés dele e dizendo a mesma coisa que o
primeiro servo tinha dito ao senhor, a saber, “tenha paciência comigo, e pagarei
tudo a você” (v. 29). A diferença é que, desta vez, a promessa de pagamento
era realista (CHEUNG, 2003, p.33). 11 Sendo a soma tão pequena, facilmente
podia achar meios e maneiras para pagar, caso o credor tivesse paciência.

No entanto, a semelhança desse pedido com o pedido que ele mesmo


havia feito anteriormente (v. 26) não comoveu esse homem implacável
(CARSON, 2010, p.474). Diz o texto: “Ele, porém, não quis. Pelo contrário, foi e
o lançou na prisão, até que saldasse a dívida” (v. 30).

O amor próprio constrói um muro alto de autossuficiência que impede


ver e compreender o próximo em sua real situação (GOERL, 1964, p.219).
Aqui não é dito que o primeiro servo era incapaz de perdoar o segundo, mas
que ele se recusou a perdoar a dívida (CHEUNG, 2003, p.33). Lançou o
companheiro na prisão, esperando que alguém o pusesse em liberdade sob
fiança, e pagasse a dívida (KISTEMAKER, 1992, p.88). Um sujeito preso não
teria como pagar o que devia (v. 34), a não ser que amigos o socorressem com
os fundos necessários. No Egito pré-romano, a ninguém era dado o direito de
acusar um servo do rei, política que o agressor ignora aqui (KEENER, 2017,
p.101).

A TERCEIRA CENA (vs. 31-34)


Vendo os seus companheiros o que havia acontecido, ficaram
muito tristes e foram relatar ao seu senhor tudo o que havia
acontecido. Então o senhor, chamando aquele servo, lhe disse:
“Servo malvado, eu lhe perdoei aquela dívida toda porque você me
implorou. Será que você também não devia ter compaixão do seu
11
Outra diferença é que o conservo não diz diretamente que pagaria “tudo”.
(BRATCHER; SCHOLZ, 2013, p.520) No entanto, pelo contexto isso fica como que
implícito.

13
conservo, assim como eu tive compaixão de você?” E, indignando-
se, o senhor entregou aquele servo aos carrascos, até que lhe
pagasse toda a dívida.
Nada foi feito às escondidas; era difícil guardar segredos no palácio.
Outros servos viram o que tinha acontecido e não podiam manter silêncio.
Tinham que contar ao rei (KISTEMAKER, 1992, p.88).

O termo traduzido por companheiros (syndouloi) encontra-se na


tradução grega do Antigo Testamento só em Esdras e aí designa altos
funcionários, entre os quais os governadores da Palestina e da Síria. Jeremias
sugere que esses “companheiros” não são escravos comuns (JEREMIAS,
1986, p.209-210). Profundamente angustiados com a injustiça, contaram tudo
ao senhor.12 Lopes fala das consequências emocionais do sujeito que não
perdoa:

Uma pessoa que não perdoa vive perturbada pelos seus


próprios sentimentos. Mas, também, uma pessoa que não
perdoa contamina os outros à sua volta. A mágoa é um gás
venenoso que vaza e destrói as pessoas ao redor; a falta de
perdão gera tristeza e sofrimento não apenas para a pessoa
que a agasalha, mas também para aqueles que convivem com
ela (LOPES, 2019, p.570-571).

Em resposta ao relato feito, o rei chamou aquele primeiro servo e se


dirige a ele como “servo malvado”. Quando o servo devia dez mil talentos, o rei
o perdoou. Mas quando o servo se mostrou implacável em relação a seu
conservo, o rei chamou-o de mau (CARSON, 2010, p.475). Nesse contexto, até
seria possível usar “sem-vergonha” ou “canalha” (BRATCHER; SCHOLZ, 2013,
p.521).

Pode-se dizer que jamais conseguiremos entender o perdão, a menos


que tenhamos consciência do perdão que recebemos de Deus. Assim somos
nós. Não conseguiremos ministrar perdão às pessoas que nos devem e nos
ofendem, se não atentarmos para a grandeza imensa do perdão que
recebemos de Deus (LOPES, 2019, p.569-570).

12
Emprega-se o verbo diesaphêsan, que é um verbo bem expressivo, com o sentido
de “explicar em detalhes” (CARSON, 2010, p.474-475).

14
O rei ficou irado, não porque tinha perdoado uma dívida impagável
àquele primeiro servo, mas porque esse servo se havia recusado a perdoar o
seu companheiro (Bíblia de Estudo da Reforma, 2017, p.1587). Ele não
questionou se o segundo servo devia dinheiro ao primeiro. Simplesmente
condenou o comportamento do primeiro servo. As palavras do rei trazem uma
ênfase que raramente é reproduzida em tradução. O rei diz, literalmente, “toda
aquela dívida perdoei a você”. Hendriksen explica que

Isso reproduz a ênfase melhor do que fazem as traduções que


desconsideram a ordem das palavras. E assim se destaca a
imensidade da dívida, e também o extraordinário caráter da
generosidade que se revelara, bem como a vileza da recusa do
primeiro servo de permitir que esse nobre espírito governasse
suas ações (HENDRIKSEN, 2001, p.291).

O rei concluiu a sua fala com uma pergunta: “Será que você também
não devia ter compaixão do seu conservo, assim como eu tive compaixão de
você?” (v. 33). Não havia aquele servo sido perdoado integralmente só porque
tinha pedido um prazo adicional, sem poder apresentar uma única desculpa ou
oferecer em resgate uma parcela, por mínima que fosse? E como lhe havia
sido perdoada "aquela dívida", quantia astronômica, que pela força da lei lhe
teria valido prisão perpétua, não podia ele por sua vez perdoar ao companheiro
uma dívida infinitamente menor?

A pergunta do rei é uma pergunta retórica (BRATCHER; SCHOLZ, 2013,


p.521), que fica no ar, sem resposta, mas que claramente espera um “sim”
silencioso. Faltou compaixão, faltou amor. O servo que tinha recebido um mar
de misericórdia, não quis aquinhoar uma gota. Provara comiseração, destilou
ódio (GOERL, 1964, p.221).

Percebe-se que a intenção da parábola é mostrar que o ato inicial de


misericórdia e perdão exercido por Deus deveria ser estendido às outras
pessoas. Paulo irá reafirmar isso em Efésios 4.32: “Sejam bondosos e
compassivos uns para com os outros, perdoando uns aos outros, assim
também como Deus, em Cristo, perdoou vocês”. (NAA).

A cena termina com o relato do que o rei decidiu fazer, depois de falar
com o servo. Indignado, “o senhor entregou aquele servo aos carrascos, até
que lhe pagasse toda a dívida” (v. 34).

15
O servo agora não teve mais oportunidade para falar. O rei o entregou
aos “carrascos” (basanistais).13 O uso desta palavra lembra as advertências
anteriores em Mateus 18 (vs. 6, 8, 9). O servo deve ser torturado até pagar
tudo que deve, o que ele realmente não pode fazer de jeito nenhum (CARSON,
2010, p.475). Os devedores eram submetidos à tortura para levá-los a revelar
fontes inconfessas de renda. Neste caso, porém, a tortura foi unicamente
penal, pois a vítima nunca teria meios para pagar (TASKER, 1980, p.142). A
sentença era equivalente a uma condenação. E essa condenação representa o
castigo eterno (BÍBLIA DE ESTUDO DA REFORMA, 2017, p.1587). Esse “até
que lhe pagasse toda a dívida” só pode significar, em vista do montante da
dívida, que a pena não tem fim (JEREMIAS, 1986, p.210).

A APLICAÇÃO DA PARÁBOLA (v. 35)


Assim também o meu Pai, que está no céu, fará com vocês, se do
íntimo não perdoarem cada um a seu irmão.
Cristo sai do mundo da parábola e volta à realidade dos discípulos. A
pergunta tinha sido feita por Pedro (v. 21), mas agora Jesus se dirige a todos, a
“vocês”. A referência ao “Pai, que está no céu” revela quem está por trás da
figura do rei, na parábola. Nas parábolas dos mestres judeus, a imagem do rei
é identificada normalmente com Deus. Jesus não utilizou muito essa imagem,
mas os ouvintes rapidamente entenderiam que a parábola faz uma analogia a
Deus, especialmente porque as “dívidas” eram uma forma costumeira de se
referir aos pecados (SNODGRASS, 2010, p.119), pois a desesperança do
homem se revela quando ele está diante de Deus (WALLACE apud
KISTEMAKER, 1992, p.90).

A aplicação é feita num tom severo, um tom de lei. Se alguém não


perdoar o seu irmão, o Pai celeste fará o mesmo que fez o senhor da parábola:
entregará o servo aos carrascos, até que pague toda a dívida (v. 34). Jesus

13
Os carcereiros, muitas vezes, torturavam os detentos. Não havia pena de tortura
em Israel, a não ser que se tenha pensado em Herodes, o Grande, que usou
largamente da tortura, sem se incomodar com o direito judaico (JEREMIAS, 1986,
p.210). Sobre isso, ver Flávio Josefo, Ant. 15.289-290; 16.232. Em geral, no Oriente,
a tortura era usada contra governadores infiéis ou lentos em entregar os impostos,
para conseguir a confissão sobre onde teriam colocado o dinheiro ou para
pressionar os seus parentes e amigos para cobrirem as dívidas.

16
acrescenta que esse perdão precisa vir “do íntimo”, “do coração” (como diz o
texto grego). A maioria traduz isso por “de coração” (BRATCHER; SCHOLZ,
2013, p.523). Isto se contrapõe a um perdão só de lábios. Pode ser visto
também como o contrário de um perdão relutante, um perdão com espírito
queixoso (TASKER, 1980, p.142). Interessa, assim, a autenticidade do perdão
(JEREMIAS, 1986, p.210). Mais importante que o ato em si é o propósito que
leva a pessoa a agir.

Essa referência ao Pai que age com severidade choca muita gente. Mas,
como Carson explica,

Jesus não vê incongruência nos atos de um Pai celestial que


perdoa com tanta abundância e pune com tanta brutalidade,
nem nós devemos vê-la. Na verdade, é justamente por ser um
Deus de tanta compaixão e misericórdia que ele não pode, de
maneira alguma, aceitar como seu os destituídos de
compaixão e misericórdia. Isso não quer dizer que a
compaixão do rei pode ser adquirida: longe disso, é garantida
liberdade ao servo só em virtude da bondade do rei. Como em
6.12,14,15, os que são perdoados devem perdoar a fim de que
não fiquem incapacitados de receber perdão (CARSON, 2010,
p.475).

Quem não perdoa o seu irmão, também o Senhor não lhe perdoa os
pecados, conforme a quinta petição do Pai-Nosso: “E perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”
(ALBRECHT, 1990, p.70). "Assim também meu Pai fará com vocês" não é
lembrete vazio de efeito sentimental, mas constitui séria ameaça da parte
daquele que em pessoa, dia virá, procederá ao julgamento final (GOERL, 1964,
p.221). Como afirma Lopes, a falta de perdão fecha a porta da misericórdia de
Deus (LOPES, 2019, p.572).

O SIGNIFICADO DE PERDOAR

De acordo com Chisholm, tipicamente o verbo “perdoar” significa


“desculpar uma falta ou uma ofensa” (BOCK; GLASER, 2015, p.164).
Conforme o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, “perdoar” quer dizer
“conceder perdão, desculpar, absolver”. 14 Cabral (2005, p.100) entende que
“perdão implica na capacidade de anular a dívida contraída de nosso irmão

14
Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Porto Editora Lida, p.7074, 2013.

17
contra nós mesmos e que jamais será lembrada. É o que Deus fez por nós (Hb
8.12)” (CABRAL, 2005, p.100).

Perdoar o irmão é um gesto de fé, coragem e humildade, mas acima de


tudo um gesto de natureza divina. É próprio de Deus perdoar e esquecer
nossos pecados e maldades (Is 43.25) (RIEWE, 2014, p.68). Jesus resume seu
ensinamento sobre a maneira como os cristãos devem agir no trato de uns
para com os outros repetindo que o nosso Pai celestial espera que aqueles que
foram perdoados por ele perdoem os outros (cf. Mt 6.14,15). A bênção do
perdão é o dom que distingue a igreja. Nenhuma outra instituição pode oferecer
essa bênção celestial (BÍBLIA DE ESTUDO DA REFORMA, 2017, p.1587).

Wilson Tonioli explica que o "perdão é só uma perda grande". Perda


grande... da nossa prisão! (Bíblia Conselheira, 2011, p.45). Algumas pessoas
veem o perdão como uma falha em uma pessoa fraca. No entanto, o perdão é
um ato de força, algo que caracteriza quem é forte. Mahatma Gandhi certa vez
disse: “Os fracos jamais podem perdoar. O perdão é um atributo dos fortes”
(COLBERT, 2013, p.189).

NOSSA DIFICULDADE EM PERDOAR

Perdoamos como temos sido perdoados? Como ficaríamos arrasados se


Deus nos tratasse, com relação ao nosso débito para com ele, da mesma
maneira que tratamos os nossos devedores! (LOCKYER, 1999, p.276). Se
Deus perdoou nossas dívidas, nós devemos perdoar as dívidas de nosso
próximo. Nada do que nós temos que perdoar se pode comparar em forma
vaga ou remota com o que Deus nos perdoou. Fomos perdoados de uma
dívida que está além de todo pagamento – porque o pecado do mundo
provocou a morte do próprio Filho de Deus – e, sendo assim, devemos perdoar
os outros como Deus nos perdoou (BARCLAY, p.623-624).

As dificuldades em perdoar são enormes, pois

Nós, seres humanos, costumamos ser muito “justos” com os


outros, persistimos na atitude legalista diante deles,
consideramos gigantescas suas faltas contra nós e não
“queremos” perdoar. Jesus nos mostra como esta indisposição

18
para a reconciliação nos coloca num terrível contraste com
Deus. Enquanto nós vivemos incessantemente de seu perdão,
usufruindo dele numa medida que nem se pode comparar com
o que devemos uns aos outros, qualquer ofensa à nossa honra
nos torna tão irados que não nos deixamos aplacar e que não
queremos saber nada de perdoar (SCHLATTER apud
RIENECKER, 1998, p.210).

No entanto, é desejo de Deus que cada cristão esteja pronto para


perdoar de coração, sem um indulto falso ou de boca, não com um cruel:
“Perdoo, mas não esqueço”. Pois todos nós cristãos somos servos de Deus, o
Rei celeste. Mas por natureza somos servos inúteis. Somos culpados diante do
Senhor por causa de nossas milhares de transgressões da lei. Nossa dívida
diante dele é tão grande que confunde a imaginação, como Lutero sugere, não
podendo nós nunca pagá-la. Diante de Deus, por isso, somos culpados do
inferno e da condenação. Deus, todavia, teve compaixão de nós por amor de
Jesus que pagou a dívida de nosso pecado. Ele nos livrou da prisão que
merecemos e nos perdoou a dívida. Temos, por isso, a pesar sobre nós a
obrigação de gratidão, que perdoemos com prazer os nossos semelhantes que
pecaram contra nós. Mesmo que tal transgressão seja grande diante dos
homens, não pode vir em consideração, quando comparada com a dívida que
Deus, graciosamente, nos perdoou. Por isso, qualquer pessoa que é
inclemente, insensível e implacável em relação a seu semelhante, com isso
nega e repudia a graça e a misericórdia de Deus. Sua dívida antiga é,
novamente, debitada em sua conta. A justa ira de Deus o remeterá a um
julgamento inclemente do qual não há salvação ou libertação.

“É um evangelho delicado e confortador, e doce à consciência


atribulada, visto que ele não tem outro objetivo do que perdão
dos pecados. Do outro lado, porém, aos cabeças-duras e aos
obstinados é ele um juízo terrível, e isto, em especial, porque o
servo não é um gentio, mas pertence ao evangelho e já tinha a
fé. Pois, visto que o Senhor tem misericórdia dele e lhe perdoa
o que fez, ele, sem dúvida, deve ser um cristão. Por isso, esse
não é um castigo para o gentio, nem para a grande massa que
não ouve a Palavra de Deus, porém, para aqueles que com os
ouvidos ouvem o evangelho e o têm na ponta da língua, mas
não querem viver em harmonia com ele” (LUTERO apud
KRETZMANN, p.52).

De acordo com Paul Tournier, psiquiatra cristão suíço, a história do


servo perdoado que não perdoa pode ser entendida não como afirmando que o
perdão de Deus é condicional e depende do nosso, mas como uma descrição

19
que Jesus faz da forma como a mente humana funciona, ou seja: aquele que
não perdoa é também incapaz de compreender e de receber o perdão de Deus
(Bíblia Conselheira, 2011, p.46). Na relação de falha com o nosso próximo, nós
mesmos o prendemos quando este peca ou nos ofende, causando uma ruptura
na relação de amor. Esta situação cria um estado de escravidão na coleira de
quem foi ofendido.

QUEM PODE PERDOAR

Na parábola que é a base deste artigo,

Jesus fala do perdão numa perspectiva totalmente humana,


porque não se trata apenas do perdão de Deus para o homem,
mas do perdão do ofendido para o ofensor, isto é, do homem
para o homem. Jesus trata dessa relação entre aqueles que
ofendem e os que são ofendidos (CABRAL, 2005, p.82).

Mas a pergunta que surge é: Quem pode perdoar? A resposta


transparece num trecho dos Artigos de Esmalcalde, Terceira parte, IV. Do
evangelho, onde se lê o seguinte:

Voltemos, agora, ao evangelho, que dá conselho e ajuda


contra o pecado, e isso não de uma só maneira, pois Deus é
extremamente rico em sua graça. Primeiro, mediante a
palavra falada, em que é pregada remissão de pecados em
todo o mundo. Esse é o ofício próprio do evangelho. Em
segundo lugar, pelo batismo; em terceiro, pelo santo
sacramento do altar; em quarto, mediante o poder das chaves
e, também, per mutuum coloquium et consolationem fratrum
[por meio de mútuo colóquio e consolação dos irmãos]. Mt
18[.20]: Ubi duo fuerint congregati [Onde dois estiverem
reunidos] etc. (LIVRO DE CONCÓRDIA, 2021, p.353).

Schlink comenta que o fato de o evangelho poder ser aplicado “por meio
de mútuo colóquio e consolação dos irmãos” mostra claramente que a
liberdade do poder das chaves é confiada não somente a Pedro, mas para
todos os membros da igreja (SCHLINK, 1999, p.163). Perdoados, em Cristo,
podemos perdoar os nossos irmãos, pois o verdadeiro perdão provém de um
coração que foi purificado e regenerado. Pela fé, em Cristo, temos condições
de perdoar tanto na Igreja, quanto em nossa vida diária:

O assunto da parábola é nosso. Pertence à vida diária. Começa


em casa, envolvendo marido e mulher, filhos, irmãos e demais
componentes da pequena comuna. Estende-se aos vizinhos, ao
círculo de amigos e colegas de atividade. Invade a comunidade

20
cristã, a nossa grande família, onde convivemos com pais e
irmãos na fé (GOERL, 1964, p.221).

OS BENEFÍCIOS DO PERDÃO

O perdão traz grandes benefícios para o bem-estar e a saúde. Saber


perdoar ofensas e dívidas é condição indispensável para a saúde física e
mental. Diversos estudos mostram que o ressentimento e o rancor estão na
origem e no agravamento de muitos males, para os quais o perdão é remédio
preventivo e curativo (Bíblia Conselheira, 2011, p.46). Libertar-se dos
sentimentos amargos através do perdão é descanso tanto para a alma quanto
para o corpo. Como afirma Lopes, “quem não perdoa, adoece física, emocional
e espiritualmente. Sua mente não sossega, seu coração não descansa, sua
alma não tem paz” (LOPES, 2019, p.571). Por isso, o perdão genuíno produz
emoções curativas – amor, paz de espírito e de coração e alegria verdadeira –
emoções maravilhosas que Deus criou para o bem-estar humano (COLBERT,
2013, p.201). Ao perdoar alguém que nos ofende devemos fazê-lo de coração,
pois o perdão é um dos elementos vitais para a sobrevivência, indispensável
para termos uma vida saudável, física, moral e espiritualmente (CABRAL,
2005, p.99).

CONSIDERAÇÕES

Se quisermos aprender a perdoar, precisamos nos manter firmes em


Jesus Cristo, pois o perdão que recebemos dele é o que nos motiva e nos
incentiva a perdoarmos uns aos outros. Isso se explica com as palavras de
Colbert (2013, p.188), que diz que a “nossa habilidade de perdoar os outros é
baseada no perdão de Deus por nós”. Em primeiro lugar, ao buscar o perdão
de Deus temos condições de perdoar o nosso próximo, pois “para sermos
verdadeiramente purificados e prosseguirmos em direção ao bem-estar
emocional, precisamos olhar para a nossa própria vida, identificar as áreas em
que falhamos e pedir a Deus que nos perdoe” (COLBERT, 2013, p.192).

Por isso, perdoar é consentir num mandato de Deus, para assistir ao


milagre da sua graça. Perdoar é poder escolher de novo, livrando-nos da

21
repetição. É reconhecer que os outros não são responsáveis pela nossa
infelicidade. Perdoar significa livrar a nós e ao outro da armadilha de culpar
alguém. Perdoar significa voltar a experimentar a ferida causada pelo ofensor,
mas desta vez em um contexto diferente. Agora o ofensor participa de um
sentido que ele nunca imaginou: perdoar é aceitar. Aceitar que vivemos
dependendo da graça de Deus; aceitar-nos a nós mesmos como pessoas
perdoadas (Bíblia Conselheira, 2011, p.45).

Deus em Jesus Cristo providenciou uma maneira de perdoar todos os


pecados. Não importa quanto as pessoas nos devem, nada se compara à
dívida que temos para com Deus, a qual ele já perdoou. Devemos seguir esse
exemplo de graça e aprender a perdoar (WARREN, 2010, p.1174). Em Cristo,
toda a dívida do pecado é perdoada mediante o pagamento satisfeito pela sua
obra expiatória que ofereceu na cruz do Calvário.

No Evangelho de Lucas, quando Jesus trata desse assunto do perdão


ao irmão que peca contra nós, dizendo: “Se pecar contra você sete vezes num
dia e sete vezes vier para lhe dizer: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe” (Lc 17.4),
os apóstolos respondem com um pedido: “Aumente -nos a fé" (Lc 17.5).
Precisamos de fé para perdoar sete vezes ao dia o irmão que solicitar o nosso
perdão - Jesus faz o mesmo conosco, e faz mais (GOERL, 1964, p.222-223).
Sempre Jesus Cristo está com os seus braços abertos para nos conceder o
seu perdão, para nossas falhas, nossas culpas, transgressões e pecados, e ele
espera que transmitimos esse perdão ao nosso próximo, ou seja, todas as
pessoas. Uma vez perdoados por Deus, também devemos perdoar os que
erram contra nós, por mais difícil que isso seja. Que Deus nos ajude pela fé, a
colocarmos “o perdão” em prática em nossa vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBRECHT, Curt. 17° Domingo após Pentecostes. Revista Igreja Luterana.


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BARCLAY, William. Mateus: O Novo Testamento comentado por William
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22
BEACON. Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Volume 6. 1. ed. Rio
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Bíblia de Estudo da Reforma. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.

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BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. Trad.


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ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), 2005.

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23
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Mateus Volume 2.
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