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fNDICE

PREFÁCIO
Isabel Castro H enr[ques ........................ .................. .. .................. .... .. ................

1\JTRODUÇÁO
Inocência Mata & Laura C avalcante Padilha ............................................ ......... 13

l. O GfNERO COMO Q UESTÃO

Eunícc Macedo c o utros: "Por omr;LS formas de Ser e Estar. mulheres,


parricipação e tomada de decisão" .... ......... ...................... ......... .......................... 21

li. ABORDAGENS SÓCJO-Hl5TÓRJCAS


Título: A Mulher em África. Vozes de uma margem
sempre prescm~ AJberro Oliveira Pinto: "O colonialismo e a 'coisificação• da mulher no
Organiução: Inocência Mata e Laura Cavalcante Padilha cancioneiro de Luanda, na tradição oral angolana e na literatura colonial
portuguesa" . .. . .. .. .. . .. .. . .. .. . . .. .. ... . .. . . . .. . . .. . . .. . .. .. .. .. .. .. . . ... . ... ... .. . .... ... . .. .. . ... . . .. .. .. .. . .. . 35
Edição: Edições Colibri

Capa: Ricardo Moita Aurora da Fon:scca Ferreira: ~'A camribuição da. mu!ht:r na. formação
do saber c: do conhecimento" ........................................... ..... ............................. 51
Ilustração da capa: Pintura de Lívio de Morais
ISBN: 97R-972-772-763-6 José Gama: "A dimensão imelecrual de D eolinda Rodrigues" 69

Depósito legal n." 266 885107 M~nuela Borges: "Educação e género! ass.ime.rrias e discriminação na
escolarização feminina em Bissau" ......... ...-............................................... ............ 73

M artha Saavedra: "Islam, Women, Gender1 Sports, and the Female Bady
in Sub-Saharan África" ...... .. ..................................................... ............. ............ 89

Odete da Costa Semedo: "Ecos da terra" .......·............. .-.. ............ ..........:.............. 103

Lisboa, Novembro de 2007 Olga Iglésias: nNa entrada do novo milénio em Mrica: que perspectivas para a
Mulher Moçambicana?" ................................................ . ...... .. ... 135
BORDEJANDO A MARGEM
(Escrita feminina, cânone africano e encenação de diferen5as)

Laura Cavalcant< Padilha


UFF - Hrnsil

O bordejo pela margem: um panorama

Como sabemos com Nascentes• Aurélio, Houaiss, Aulete etc., o t:c:tmo


bortkjar faz parte do vocabul~rio n:lutico, estando, pois, diretamente vincu-
lado ao mar e ~s embarcações. Ora, o mar é elemento simbólico da maior
relevância quando se pensam as culturas sedimentadas em língua portugue·
sa, já que foi por fazer-se m arinheiro que Portugal se exp_andiu h istórica e
culruralmente.
Volto ao significado do verbo bordejar, para por ele e.xplicar o sentido d<
meu drulo. Bordeja-se: quaodo se navega, costeando o litoral ou sem rumo
certo e segundo a direção dos ventos. Talvez tenl\a sido essa a sensação que,
eomo pesquisadora daquelas literaturas, sempre experimentei, ao navegar por
suas margens, que era o que:: se me ol-~recia, em vez do caminhó\r seguro por
um mar já conhecido e que as minhas próprias c:utas náuticas desde muito
tcmpu explicavam ou descreviam. Também o termo mais se sedimentou em
meu imaginário leitor, quando o objeto de meu olhar passou a ser as produ-
ções poéticas femininas cujo lugar, no ocidente, sempre foi o da borda, da
orla, da ffmbria, da margem, enfim. E por muito tempo também.
Explicado o rermo bordejar, começo pela lembrança desnecessária, mas
que merece ser invocada, do s~ntido dicionariz.ado da palavra câno,.z~. ctimo·
logicamente derivada do grego kamfn, pelo latim canun<. Para tanto; busco a
segurança do dicionário elaborado pelo saudoso professor de muiros de nó.<,
Antenor Nascentes, recortando o que no longo verbete mais de perto me
int~rc:ssa. Lá se encontra:

Canone·s.m. Regra geral donde se deduzem outras particulares; ca.dlogo dos


livros- s3gndos, reconhecidos como de inspiração divina; catálogo dos sanros

A MuU~tr em África: VG.us rle urna margnn rnnprt presente, Lis:boa. Ediçõu Colibri/Centro de
Estudos Africanos - FLUL, 2006, pp. 469-487.
A Mulher em África: Vozes de urna mar&cm sempre p resente
Bordejando a margem 471
470

Cattqum• s.f. Explicação met6dic.a. de doutrina cri.Jtii; ensino; doutrinamen-


reconht:ddos pela Igreja; fórml:la de: orações [ ...l; decisão de fgrcja [...];
ro. (Do gr.: Katéchesis = ::tção de ensinar de: viva voz, pdo lar. Carecbese)
11\odd o ~ lástico. (1972, P· 318 a) ( 1972, p. 343 a).
v• • (a leitura das acepções, apesar dos corteS, C]liC, à exceção da a que aduzo:
. .c se, pe' . lavra est:l li ada ao campo scmânnco do sagrado<
prt~lel~ e~a::!~:'de~!: outros, ob~amenre, vem-nos a convicçã? de ser a CiviliZAr v.t. T ornar civil, cortês; insLruir, polir; tirar do csrado ulvagem ou
da ré. e . a . ' . ci ais estacas de sustentação do altcerce étt· bárbaro (povos ou pmoas). (idem, p. 384 c)
fé. par do unpéno, umda dasdpnn pO se o clnonc fa?. parte desse grande
co do edifício chama. o oct ente. ra, . A l:
. , . l tamina do seu carát~r OOC[cirivo t. opacrz.ante. sua la.St:, Partindo das acepções assi m d_icionariz.'ldas, podemos reirerar que: o
cdllfJcto, elel set co; o reconhecimtnto dos valores~ no caso estéticos) que o fun- ocidente c seus valores, através do d o u trinamento e da civilidade, ou em
a erra o ver 1c c, e nome ddes, souberam jogar o jogo da transformação, fazendo dos "bárba-
dameSne:: ea:a~~r1~~7~fricanas,por principio c de princípio, cxduída!õ,bpor ros" e ''selvagens", em sua fo rçada "tradução,~ , seres mais palaráveis, porém
d l d' ff . r não se sustentarem nem em uma ase jamais iguais. De qualque r modo, assinalou-os com o desejo dessa iguolda-
sua d iferença axial/ : cda ~ t c~o~..po, h á outra saída para suas manifesta- de, passando os modelos do invasor, segundo, dentre ou tros, .Manuel Rui, a
I .
grcco~ a.t1na n.em _
na JU ruco-cn sta, nao
. l" cio muitas vezes trnnsmu da dos em serem objetos de tal desejo, com isso sedimentando-se a estrado para a assi-
'iõcs, senão a uuersao no vazao c nodSI cnvolt~r a Camõcs1 nele encon trando milaç.ío. A letra foi um desses objetos e conseqüentemente dela opropriar-se
. · e u o De novo sou tent~t a a .d I
SI1enctam t · h . d África pdu olha r branco-oct cnta era também"dquirir pode r c tornar-se mais 11civil", ''instruído''i "polido",
certas pistas do nl.o-r~conl ectmenro. acte da exclusão e da menos-v~! ia. O por aprender a lição que era dada de viva voz e pela força do chicote, muitas
e a assma ou com o sm
que para sem~: ao abrir o seu primeiro canro e j:l na estrofe 11, a cantar- e vezes.
poeta se propo , • . l . .. O q uadro posto explica, no referente ao cànonc, o fast..:fnio que o catá-
aqui desejo a repetição- "as mcmónas g o n osas logo, ou uo arquivo dos conh ecimentos ocidentais", no dizer de Aijaz.
Ahmad (2002, p. 16), passa a exercer sobre o imaginário dos "bárbaros".
Daqueles reis que foram dib.~a?do
A Fé 0 Império e as u~rras VICIOS;l.S ) Desse modo, c sal rondo- já n iío sem rcmpo- para a literatura, vê-se que o
De ,.({rica e de Ásia andaram devastando (1972. P· 4 9 desejo da le tra e a "regro geral" da moddização canônica passam a fazer par-
te do arq uivo dos conhecimentos africanos, quando os colonizados co me~
. um dos maiores inimigos da práxis c ristã, çam a rer ocesso aos bens simbóliws do que se pode considerar o veto r alto
Se pensamos o vfcto com o .. · cem na cena d o
vê-se que os africanos junramente c~m os :~::n~:o:~:r:chavam de ante·
da c ultura do ocidente. Não me apetece aqui retomar o que sempre enfati-
ocidente como algo a dr de~astado, J:l q~~ "rcg;a geral donde se deduzem
zei, ou seja, o processo de apropriação de tais bens simbólicos por parte dos
agentes c ulturais afi·icanos tidos como subalternos. .Meu objetivo na pesqui-
mão expuls?' - vo.\tan o a ascent~xclusão absoluta de todo e qualquer sa, como agora, é pensar o modo como, nessas enrradas e sa(das, se d~ a
out ras pamculares ' pard a~ém da -o falar dos seus corpos ffsicos, fora dos apropriação pela mulher daqueles bens. Interessa-me rastrear o momento a
"catilogo dos livrobs sagra os.d, pa~ n~omeç'a a( o estatura de não-gente pelo parrir do qual ela tem condições de participar do jogo inclusivo, pelo lerra-
droes do corpn ronco·oCl cnt . d e
p:L . . I" . d rocesso de escr:'lvi'lação , no caso o negro~ menro, e como adquire dom(nio sobre o espaço simbólico do arquivo. Por
qual se jmnfica :1 vto encla b o p 1 a sin rar aqueles "mares nunc~ d~nrts fim, apetece-me entender de que modo a sua fala se estrutura em relação à
a manch a de sangu e, t!'lm ém e a g lidasse o gesto histórico da dos actanres masculinos dessas culturas ditas periféricas, e como nessa fala se
n avegados", principal v ia para que se conso
inscrevem, ou n ão, as su as marcas de classe e gênero- ainda Ahmad (p. 22).
dominação. . . L -l d b a égide do desmonte das Não posso deixar de pensar, se tenho como olvo do olhar o p rocesso da
0 . ..0 colonrz.atóno estarx: c:cJ 0 50 .
prot..:~ . . a forma de manifestação mats concreta. formação das literaturas africanas, como nele se dá a hegemonia masculina,
diferenças Vai r.:zer. da vtol~ncla ~~uoutro desconhecidos, são marcados por a parrir do século XJX. Uma o u o utra voz feminina1 por vc.:-t.es, se deixa
Como consequ~ncla, os va ores ' assa a tentar modificá-los ouvir, mas d e m odo muiro tênue, parece~me, por cxemplo1 na chamada Iire·
um sinal negauvo, ao mesmo ctempo _em qdu:n:~ gpanha a forma de cristiani- ratura colonial. Nos anos 40 e 50 do século XX, rais vozes se vão consoli-
ivilização cuja .ace mats evl , V l
e m nome d a c . ' b Ih • ário" da catequese. oro a dand o pouco a pouco, ganhando mais espaço e densidade, mesmo assim, de
zação, por sua vez vmculada ao tra a o necess
modo mais dn1ido que os masculin..,, co1Úurme no d esdobramento desse
Nascen tes c: lá encontro: texto pmcurarei mostrar.
472 A Mulher em .'Vrica: Vqo::s de uma :nargem ~cmprc presente: BordcjoJ.ndo a margem 17l

A escrita literária feminina. vale lembrar, fosse africana ou não, histori-- Meu grande objetivo, ao fim c ao cabo, usondo palavras ele Appiah, fo i
camenre imergiu em uma zona de profun da exclusão, hrl;hirando o sombrc..1- jr um pouco além, pois d esejei estabelecer uma espécie d e "sintonia com os
do das fímbrias. Corno indica r.ucía ~uena, a Jnulhcr oc upou sempre uma JllOdos pelos quais a. 'escavüção' con\lcncional do cânonc literário po de servir
posição suhorciin:1da, sendo privada, na organização patriarcal, "d e sua p ró- para consolidar uma determinada identidade cultural" (1997, p. 93). De
pria História e das h istórias que modeli1.am sua própria experiência" (1995, modo natural, c como conscqiiencia da sintoni~. chegou a pcsqui~a à tliscus-
p. 26-7, traduzí). Ora, esse lugar de subordinação nem sempre está de acor- são da questão das identidad es culturais africana.c;, M:mpre p lurais. O singu-
do com :ts tUrmas de o rganização das sociedades africanas nas quai~ a mulher lar m onolftico, fdizmeme, já cedeu lugar à sinfonia da diferença c do múlti-
sempre: exerceu um papel muito representativo, sobretwJ.o no que se refere à plo, quando se enfocam os vários p afscs da África que têm o portug uês
etnia banco. Vale lem brar Raúl Altuna q ue, na análise feita desse papel, como lfngua oficial. para só ficar em meu campo específico d e conheci men-
afirma que a m ulher, por ter o dom. da nutlc:rnidadc:, se faz uma espécie de to. Ao me valer das produções poéticas femi nina., elegendo-as como a :lrea
"laboratório sagrado". Sua principal fórmu la q ufmica é o sangue pelo qual privilegiada da "escavaç-ão", pude perquirir de que forma as identidades cul-
"os antepassados prolongam-se e as linhagens vão rodando pelo séculos" turais se foram construintlo/ reconstruindo no processo de descolon i'L.r.ção,
(1985, p. 2)6) . Há, desse modo, llm conflito de h><e entre os sociedades principalmente no perfodo das lutas de libertação nacional.
patriarcais do ocidente e ;I!\ matrizes afril-anas d e sacralização da mulher, daí Fo ram fudarncntais, em todo o pro cesso, textos teóricos como o,~; d e
a organi'z..'1ção matrilinear de m uitos grupos. Appiah, Bhabha, Said, Hutchcon, Spivak, Hall, Nuuad, N claw, Ga~mna,
A colonh.ação vai interferir, é óbvio, nesse q uadro geral, no momento Mouralis, Ccrrcau, Serp os, Ngal etc. Ele.s, dcnrre tantos outros q ue os
mesmo em que impõe seus inquestionáveis modelos e jogos de hegemonia e suplemenlam , radicalizaram em meu imaginário de leitora o desejo por mim
poder nas sociedades com as quais passa a interagir pela dominação, bus- sempre perseguido: o de bordtjttr a margem, buscando os vazios e silêncios
cando "civilizá-las", para "arrancá-las" do seu estado de "barbárie". Por isso que: o cânonc, tal como visto pdo ocidente h.egemôníco, semanti1.ava.
mesmo, se se recorra o papel secular da mulher africana, não se pode deixar Essa visão que rasura a idéia de ser o cânone imutávd Qara e ' (" alens,
de pensar que a sua rasura, em tal plano simbólico, significa um duplo mer- 1987, p. 8) rem em Linda Hutcheon outro de seus felizes arquitetos. À idéia
gulho no silêncio. Assim, para dimensio nar tal silêncio c os movimentos de ressentimento de Bloom podemos contrapor o desejo d e perq uirir as
para superá-lo, dentro do rccone temporal proposto - dos fins dos anos 1940 rransformaçóc:~, p erfurando as contradições, no sentido recortado pela auto-
aos 1970 -, clenquei uma série de insrrumenms culturais, de narureza ra de Poitica do Pós-Modernis-mo (199 1) -
puramente literária ou não, como, por exemplo, as antologias e, na ourra
ponta, produções como o boletim da Casa dos Estudantes do Império - Q uando o c~ntto começa a. dar lugar às margens, quando a univcrsali:.tação
Mensagem - bem como, já e m outro tempo da pesquiso, o jornnl de Angoln roralizant~ começa a dcsconstruir a si mesm<~., a complexidade das contradi ·
(1954 a 1961), para neles bLL<eor os rexros poéticos femininos e outros de ções (1ue exi.,.tem (ic.ntco das conven ç&s- como, por exemplo, as de gênero
caráter geral que resgatassem, seja o papel social da mulher, seja a sua pu- -começam a ficar visíveis. (p. 86)
formn.nct intelectual stricto unru. Com essa ampliação, visei também al:ugar
o espectro da f2h. feminina fora do corpus estritamente poético, para melhor
São essas as m argens perseguidas pela pesquisa e por meu trabalho c ríü-
perceber e an:tlisar não só sua produção literária propriamente dita, mas os
co. Houve c há todo um esforço por trazer à tona as contradições que -
traços da diferença dessa fala em relação ao discurso masculino h cgcm ônico,
olhando especificamente para o espaço acadêmico brasileiro - tornaram
qu::~se invisíveis as literaturas africanas e, no seu contexto , as p roduções lire-
tal como o ocidente o erigiu. Por fim, a mcca última foi a de refletir sobre o
processo de circulação da obra individual, isto é, dos livros dessas poetisas- rárlas de mulheres.
e aqui prefiro esta nomeação 1t de poetas que é uma forma de reforçar a pre-
ponderância nominativa do masculino sobre u feminino -, considerando Passando pelas antologias
wa rdação com o mercado editorial (títulos publicados, época da publica-
ção, o fluanciamemo das edições, divulgação etc.), via pela qual se pode Inicialmente, foram sclc::cionaJas c.;omu base clo corpus duas anwlogias
mensurar a visibilidade dessas produções no tempo abrangido pela pesquisa. <JU<, ombora publicadas n a segunda metade da década de 1970 (um volume
Daí, o incluir os a nos imediatamente posteriores às independê ncias. Quanto sai já nos anos 1980), resgatam textos literários produzidos no tempo cohor-
ao espaço, Angola e Moçambique foram o ponto de ancoragem do olhar cri- to pela pesquisa, c não só. Uma delas tem caráter eminentemen te panorâmi-
tico, embora com expansões para os ourros pafses, sempre que a forte pre- co, representan d o um esforço de recoLha d a produção poética exis[ence em
sença de a lguma(s) mulher(es) a isso obrigava. África, desde o século XlX. '!'rat a-se, como j:i se deduz, de No reino de Gzli-
17-1 A Mulher em Africa: Vvzc.'i de uma margc:m ~mpre presente Bordejando a margem 47)

han, organizada por Manuel Ferreira (3v: 197), 1976 e 1984). A segunda conjunro, um_a prcfer~nci:t por imagens de JUulher, surpr~endidas princi-
de c.1ri1. maradamente ideológioo, foi a Antologia temática de p«sin nfrüa~ palmente na sunbolog1a da maternidade.
~~a, organi7.ada por M~rio Pioro de Andrade. Os sub1frulos dos dois volu. No segundo volume, encontra-se a "Separara da Mensagem dedicada à
mes, de 1975, "Na n oi« grávida de punhais" e, de 1979, "O canto arma. Poesia em Moçambique", de 1951, com o esboço de um mapa do pafs e 0
do", são absolutamente sincomáticos do pacto político do organizador que, n~me ~os colab~radores. para aiC:m do titulo, como capa; a segunda e a rer-
com Francisco José Tcnreiro, já cditm·a a coletânea Poeiia negra d~ rxp,·essllo
cwa;ao respccuva'!;'enre, de 1960 (o subrftulo é "coletânea da CEI. Com-
porruguesa (1953). Esta obra só chegou às minhas mãos em um momento p1laça~ de Polanah ) e de 1962 \'Antologia da Casa dos Estudanres do
posterior a I 996. Também não tive acesso à Amoi<Jg1a da po«ia "'tra de lmpéno"). Ambos os prefácios são de Alfredo Margarido. A de 1960 tem na
expressão portuguesa, publicada, em Paris, pelo mesmo M<frio, em 1958. capa e verso, figuras estilizadas: objetos artesanais e um pássaro, respectiva-
Qu:tndo procedia ao levantamento desse conjumo de coletâneas, tive a mente.. Na de 1962, um negro sentado roca uma rimbila. Não há assinaturas
sorte de receber os dois volumes de Antologias de potJia CEI - 195111963, dos arusras responsáveiS pelo projeto gráfico das capas.
editados pela Associação C asa dos Estudantes do Império (ACEl), em 1994. Ao todo, em taís ~rologias, :lp:~recem: 3 1 poeta.s angolanos; 6 s.anlo~
Pela importância do material aí contido e pdo fato de 3tendc:rc:m, de modo mc~ses e 57 muçambtcanos nomeados, além de dois desconhecidos. No
mais direto, à cronicidade da pesquisa) as antologias foram inclufda.c; no cor- a;>nJunto ~»lm formado, h~ 11 poerisas, isto porque Vera Micaia é pseudô-
pus~ conscicuindo-se, desde então, a sua principal fonte, j uncamenl~ com !llmO de :f'\;oémJa d~. Sousa. Portanto, em um universo de 94 pocras nomea-
Porria negn1 (53), apesar da pouca extensão desta última, por assim dizer. do~ apenas, e aprox11nad•me~1e, 12o/o s~o mulheres. No prefácio geral dos
Por fim , não há como deixar de considerar 50 poetrlS africano!, coletânea doiS volumes, Alfredo Margando, consol.dando o papel historicamente a de
organi1.ada tamném pnr Manud f'erreira, dada a público em 19R9 e que confendo pela CEI, de prefaeiador de quatro das seis coletâneas que então se
consritui claramente um gesto de sedimentação c:mônic:t. produZJ.ram~ di pistas instigantes e faz um balanço geral do processo das
Como~ preciso, no aqui c agora deste texto, propor recorces conclusivo.'>, aotolog1zayoes, mostrando as faltas, os excessos, as lacunas, os acertos. Não
gostaria de enfocar, na rcntariva de indagar o papel das mulheres na formação faz menção específica o\ poc5ia femin ina, embora "ilumine", de modo rápi-
do cânonc po~tico africano, de forma mais detida, as antologias editadas pela do, o lugar de Alda Lara, ao enfocar a fala sobre o exílio.
ACEI e os 50 poeriiS africanos. Parece-me que tal conjunto seletivo, por rom"r Vale notar que essas antologias jogam o jogo de tentar driblar 0 outro
como ponro de parrida, no caso e d e um lado, as produções anrológic:~s da colonizador, no sentido já por mim trabalhado em "Jogo de cabra cega':
Casa dos Esrudomes do Império, tendo, na outra ponta, a recolha de 191!9, já (2002, P· 47-60), mas d~ixa quase de fora a questão da f.1la dupbmenre
quase tocando os onos de 1990, dá conta do processo que me interesso oqui colomz.ada da mulher afncana do tempo. Nomeiam-se e dizem seus rexros
recortar, já que não seria possfvd abarcar roda a massa critica produúda. nas anrologras da CEl: Angola: Lflia da Fonseca; Alda Lua; Ermelinda
A primeira observação a fazer, quanto às antologias da CEI é a exclusão X~v1er; Sá• Toml t Prfnc~: Maria ~anuela Margarido e Alda Espfri1o San-
de Cabo Verde e Guiné. Bissau, no que tais publicações parecem seguir os pas- to, Moçamhrqru: lr~ne G1l; Noém1a de Sousa/ Vera Micaia; Ana Pereira
sos da antologia de Mário e Tenreiro. Alfredo Margarido justifica, no pref.lcio Nascimento; Anunc1açáo Prudenre; Glória de Sanr'Ana e Marília Samos.
i> cdiçáo de 1994, tais ausências, dizendo que lhe caberia a sele?o dos textos, Dessas, quanras sabemos quem são? Como viam 0 mundo? Corno se viam>
mas que, em virtude da perseguição da pide, não teve como fazê-lo. De onde falavam? Por que falavam? Que modelos poéticos es1avam na ante:
No sc:u primeiro volume, encontram-se duas coletâneas igualmente cena de seus versos? Como seus corpos culturais se encenavam? A última
intituladas Pona.r angolanos, a primeira organizada por Carlos Eduardo parte deste texto (enr•r:l responder a algumas dessas questões.
(Carlos Ervedosa), em 1~59, c a segunda, de 1962, com prefácio de Alfredo • Quanro ao~ 50 po<tas tt.fi'icano;, vejo-a como uma amologia de extração
Margarido. A terceira cobre São T omé e Príncipe, sendo datada de 1963 c canon1ca, a p~rttr mesmo do que preceitua, no pref..~cio, o seu organizador,
com prefácio também de Margarido. As capas desenhadas são respectiva- Manuel Ferreira, ;w afirmar:
mente de Costa Andrade {uma mulher grávida, com uma quinda à cabeça,
levando pela mão uma criança c com outra às costas}; de H enrique Abran- Esramos à. vontade para dizer que, de um modo geral, e sem que se prc·
~end~, nem de_ perto nem de longe, pôr em causa o que outros fizeram,
ches (um rosto bem definido que c:ndma um corpo sc::m forma, a !iimuJar
p.maJ$ se orgamzam uma anrologia africana de língua portuguesa nos moldes
uma csculrura; um dado que chama a atenção: o olhar triste a sobressair na desra que subscrevemos agora, mt que prrscrrve o critério de selrctividadt.
face) e, por fim, de José Pádua (dua5 mulheres, de perfil e em meio corpo, Preren~-se com Í$30 ~ar uma vido geral da poesia que se publicou aré
uma com um seio à mosna (:a menor, grávida). V C-se, portanto. que há, no 1985 nos cmco pafses afncanos, do pomo tle visra qrutlitmivo, por isso bas-
476 1\ Mulher em África: Vozes de uma margem -;empr~ pre<õ~me Bordejand o a mJrgem 4 77

til m e difc::reme do que baviamos feito em No rciJJo dt Ca/iban~ onde prc:sidiu Mensagem da CF.L Q ueria tão-somente aqui retom ar a 9ucstão de ser a
o cricério panorlmico.(l989. p. 7-8, grifos meus} recorrência ;.s imagens ou ao papel da mulher um dos traços forces d o
periódico. Ao analisar os números da publica~ão, percebe-se neles projetar-
Portando: scleç;ío + qualidade ~ sacralização, ou seja, conso lidação de
-se, com clareza, a mobilização histórica das mulheres africanas do tempo. O
um cânonc::. primeiro número, por exemplo, se abre com a transcrição de uma p alescra
N oo se pode deixar d e notar o grande esmero gráfico da coletànea de de Alda L:ua - uma sauda~ão aos estudanL<s recém-chegados- que, como
Maouel Ferreira que tem ilustrações e/ou reproduções de toda ordem. Nesso analisei no ensaio, não se pod(: soltar das amarras coercitivas de um olhar
quadro geral, dos cinqüenta poetas dencados, dentro do "critério de «lecti- machista c: colonial. As mulla::res african:ts, mesmn formadas, na visão de
vidade" e "do ponto de vista qualitativo.., só apareCC:J_TI duas mulheres: AJda, deviam seguir os maridos, pois o seu papel não seria tão importante
Noémia de Sousa e Alda Espírito Santo, as mesmas sclc::ctonadas na antolo- como o d estes. Cito rapidamente o modo como ela vê o papel das "rapari-
gia organizada por i\tfárío e Tenreiro. Sedimenta-sc o cánone africano, com gas", ao falar para os "rapazes": "embora sendo importante não é primordial
a exclusão de mulheres e os textos de 1953 c 1989 se tocam nos nomes de como o vosso" e, mai~ :1diante: "em casos de domfnio alguém tem que ser
AIda c:: Noémia, e1nbora tais tc:xros se façam tão distintos em sua finalidaUe c: dominador, c: as raparigot.s, neste ca.'io, são quem se submete" ( 1948, n.l, ano
processo de elaboração. Ao final, rtpÍLu, v~n:mos q ue tipo de cw...~nação I, p. 8) . Passados onze anos, será. o utra a postura de Maty.s:~ Tavcira, ao con-
pol(tica os poemas dessas duas mulheres entáo canonizadas representam; a damar "a juventude teminina":
sobrevivência de seus texros até os nossos dias e a retomada, por ambas, da
força sacralizantc da mulher africana,labor:uório sagraclo em q ue se processa A mulh er é racional como qualquer ser humano. e, assim, ela pode exigir o
a permanência dos ancestrais. que humanameme lhe cabe de direito na vida. Exigir, sim, exigir que esses
direiws que sempre fonm nossos nos sejam atribuídos com toda a jusriça.
Mas para iMO é nec~ário uma Jura sã e árdua da nossa pane ( 1959, n.2, ano
Dois instrumentos culturais do tempo e um aden do posterior li, p. 11 )

Na. propo~a inicial da pe.~uisa, evidenciei que, para além d as antolo- Antes de Marysc Tavcira, Alda Esplrito Santo, já a lertara em "Luares de
g ias, o trabalho se valeria do boletim Mensagem da CEI, editado, com inter- África", com rodo o leu pioncüismo, para a situação de privação da mulher
rupções embora, entre 1948 e 1961, em Lisboa, cidad e sede da Casa. Como negra africana, recusando-se: a ver a Africa H canonizada'' pela cstereotipia do
apont a Alfredo Margarido, no preF.ício já b em citado, a CEI "não era um olhar branco-ociden tal:
gueto, mas antes uma ilha cultural" {1994, p. 10) e que, por isso mesmo, ?
Eu não vejo e.,~a África. Vejo a Áfriu real e abraço no meu problema os lua-
objetivo dos que dela panicipavam "era não s6 manter os valores culturaiS
res escondidos dessa. terra prodigiosa dt: lltk:ulos de esquecimento ( 1949. n.7,
que caracterizavam cada país, mas afinar o projcc.to cultural que, nesse ano r.
p. 13)
momento, era um elemento prévio à organização política" (idem). Nesse
sentido, o papel do boletim, mesmo em sua simplicidade gráfica, é insofis- Adiante, ela segue, enfocando de modo mais direto a questão da
mável. Por ele, sedimentam-se as culturas africanas, ao ganharem visibilida- mulher, momento em q u e colide com a outra A!Ja e antecipa Maryse:
de no cor;tção do império. Recorro, outr::~ vez, a M argarido que, ao analisar
o papel das antologias, análise aqui estendida ao boletim, assim se expressa: a su~ voz não s~ levanta. Morre nn distância. Ela nem voz tem. I: escrava.-
É mulher negra [...] É vítima de <odos. [...] A nossa ra~a não poderá erguer·
O que estava em c.ausa era, de maneira evidente, pam cada grupo naci~n~l. a ·se enquanto se não centar dar ?!. mulher - ~s últimas da sociedade - um
necessidade de assegurar a automatização dos instrumentos culturais que, campo aberto com o privilégio de s~ podr:rem considerar com direi[os.
permitindo a afirmação da capacidade criadora, forn~ce~e ao mesmo temptl (idem, p. 15) ·
os alic:crces a uma consciencta nacíonaJ cada vez ma1s liberta. do~ obstáculos
colonialisras.(I994, p. 15) Mmsagtm vai, assim, tecendo aquela energia nacional de que fala
G ramsci (1 985) e que é, sobretudo. coletiva. O boletim d eixa parente o
No boletim, a necessidade reportada por Margarido se evidencia de papel significativo representado pdas mulheres no que tange ao processo de
modo contundente e, nesse quadro, a presença femi nina é um dado que não consolidação do nacional, emhora suas &bs >parecessem, nas p áginas do
se lJOde minjmizar. No eru·•io "Silencios rompidos" (2003, P: 1_71- 186) periódico, com menos freqüência que 2s dos homens. Fica evidente, ne3se
penso já rer dado conra do que se passa, q uanto às vo1.es femtnmas, em conjunto de vaze.~ femininas, apnformance d as duas Aldas c a de Noémia de
47~ A Mulher em África: Vozes de u ma margem sempre preseme B~)[dcjando a margem 479

Sousa, consoante o já n~fer ido em "Silencias rompidos,, cornando·St: paten- o nde quase sempre aparecem os poemas. Dou, como exemplo, uma dessas
te, no caso da sanromense e da moçambicana, o inconformism o, a rebeldia e p~ginas, a do número de junho-1958 (apenas isso encima o jornal), então
a urg€ncia da transformação. Retomo Alfredo Margarido para com ele sinte- chamada "Da mulher e do lar" (p. 5) c que descrevo rapidamente. Começ:t
tizar o papel de Noémia, que se poderia tomar, em ricochete, como meto- com "Cuidados com a pele"; seguem-se quatro receitas- "pudim de arroz",
nímia do de tantas outras mulher es de seu tempo: j(queques", "sopa de feijão verde" e "salada de cenoura". Tem -se depois uma
seção "Conselhos úteis" e a fotografia ampliada de uma mulner branca, de
Basra ler esse: poc:ma único que é "Deixa pass-ar o meu povo" para St;:minnos, tailkur e de pé. Já no rodapé, aparecem "q uatro modelos par a as leitoras que
vibran re, uma marcha fecunda, impaciente, ordenada, iocJ(oráYcl de um não gostam da linha 'saco"', com desenhos de mulheres brancas, portando os
povo que Noémia de Sousa carrega no sangue, não apcn3s na pele, mas 11a rnodelos e, fi nalmenre, n soneto "Meus velhos tempos", assinado por - não
consciência.(Memagem 1963, n.l , ano XV, p. 28)
sei bem , mas julgo que p rovavelm ente um pseudônimo anagramárico - O lem
Corrêa Sednem, do q ual cito os dois prirne iros q uartetos:
Outro instrumento cultural de suma importância para a pesquisa foi }or-
na! de Angola, em um perfodo de tempo que vai de 1954 • 1961. O acesso a Meu~ di ~s de criança e adolescente:
esse mate.rial foi possível pela postura científica da Biblioteca Nacional de Lis- Recordo aqueles tempos de inocente
boa que microfilmou os números pertencentes a seu acervo. O ensaio "Corpo Hoje recordo com saudade
e territ: um entrccruzam c:nto simbólico em falas poéticas de mulheres africa- e sonho os anos de maldou.lf!.
nas" (2003, p. 219-228) sintetiza a leit ura dos poemas q ue circularam no
pcri6dico.lcicura que. em parte, se retomará no segmen to final deste texto. H oje vivo. se viver é isto
daqude rempo jcí. passado
Desejo a.qui tão-somente apresentar algumas pistas Jc:: leitura do jornal, vivo a olhu p'ra tscc cristo
ó rgão da Associação dos Naturais de Angola. Se pensamos ter tal Associação q ue de saudades é formado. z
congregado os Novos lnrelecm ais e o seu grito subversivo de "Vamos desco-
brir Angola!", podemos dizer q ue o periódico fundado em 1954 representa, Se pens3lllos que No~mia de Sousa já escrevera o seu Sangue llegro c:
em alguns pontos, uma espC:cie de retrocesso político, pelo menos inicial- A1da Espírito Santo, textos como "Luares de África", podemos com dare-La
mente. Alia-se ~ porcuguesidade e se mostra com o um 6rgão conservador. avaliar o retrocesso poédco. Por isso, fico aqui.
Certo que, posteriormente, há um salto, como já analisaram, dentre outros, O adendo q ue gostaria de citar como comprovação Ja importância de
Costa And rade e João Melo, em vários encontros acadêmicos. No período alguns textos não literários para se proceder a uma arqueologia do papel da
abrangido pela pesquisa, vê-se, no entanto, que o jorn al caminha na contra- m ulher, ral como a pesquisa a concobou, é a obra de Lúcio Lara, Um amplo
corrente da Mensagrm, revista editada em Luanda por aqueles mesmos iutc::- movimento: itinmlrio do MPlA atrav6 de documentos e anotaçüs (1997). Tal
lcctuais e da qual saem apenas duis números. Como exemplo de "portugue- obra reúne 1 basicamente, cartas escritas e recebidas pelo autor, além de vasta
sidade" cito o início da "Saudação" nele estam pada na primeira pigina, d ucumcntaç.ão do partido. São textos lmportante'ii, .<;e se q uer recortar o pro-
quando da visita do presidente Craveiro Lopes às então colônias, acompa- jeto ideológico subjacente à descolnnização literária. Com o prova disso,
nhado do m inistro do ultramar, Sarmento Rodrigues: podem-se citar as cartas trocadas entre Lúcio Lara c Deolinda Ro d rigues que
se encontrava no Brasil, entre 1959 e 1960. Elas revelam a teia de solidarie-
Aqui mura a tradiçi.o. A nossa antiga tradição, sempre respeitada e que se há dade com relação à causa do liberdade angolana em gcstaç.'Ío. C ito trechos
de fazer ainda mais velha com a sua ho nra c: o galaCdão da unidade: da.~ suas da cart a de D eolindo a Lúc io, d atad a de 13/12/59:
gentes:. Somos portugueses de um Portugal mais moço, desta banda d~
Atl5.ntico. Descendemos de um Portugal maior, que se envaidece da sua ori- De Angola chegam carras com perguntas como esta: "Haverá dias mdho·
gem e da sua famllia unida: fam llia lusitana que vive conosco, espirit u:almen- rcs?" Parece que a bruu.l idaJ~ da pide esrá a gerar desalenro e resignação
te, em todos os instantes de nossa vida. Jndissoluvelmente p re!O~ a nós pelos m aiores. Estou a orar.
liames do sangue, da lfngua, das le1ras e dos interesse<. (I.' ano. n.• 6,
27/maio/ 1954) Segue, então, um poema com votos de boas festas:
Futuramente, as conclusões da pesquisa com Jomal <Ú Angola serão Mais do que nunc1,
publicadas, mas aqui me interessa apenas apontar o modo como o jornal vê a que a chama de n<'l.<!õn ide:~ I
m ulher angolana, nesse viés consc:rvador. Este se pode avaliar por várias maté- brilhe fixo e melhor
rias, entrevistas c, sobretudo, p elas páginas e/ou suplementos a ela t.ltdicaJ us e a partir destt: N ilLal
480 A f-..1ulher em África: Vozes de: uma m:lcgem s::-rnpre pn:sentc Bordejando a margem 48 1

Com votos de Fe.nas felizes ]rcncCíl:


e Ano Novo ahenç<>ado. (1997, p. 209-10)
No segredo das horas silenciosas
Também na obra aparece um longo texto de Alda Espfrito Santo onde Ei-la que vt>io, a Doce. Trmã Aladal
Veio ainda uma vez coro.1r de rosas
da relata o massacre de 1953 em São Tomé, a sua dor, inconformismo c:
M inha fronre cansada ...
revolta penn cé: tudo que se passou. sobretudo pelo sentido que o massacre
ganha na ldtura imposta pela violência fasci sta, leitura já disseminada em Coalhou I:! fora o Silêncio..
Portugal:
(Antolorja.<, 1994, v. Jl, p. 110)
é impo.s.sfvcl que fique no .c;ilêncio tod::~. est3 tragéd ia que estamo,; vivendo e
que em Portugal se continue a julgar que foi uma rebelião dt' nativos, q u!ln- Percebc:-se, soprada, a presença de Florbda Espanca, a "castd ã da tris-
do tudo que se pa:,sou não foi mais do que uma matança em série, uma lou- rez.a" . Os sonetos sáo uma recorrência modelar aos padrões ucidenrais e a
cura colccciva da parcc de quase a roL.._!idade da população branca às ordens outra é sempre a negra, percebida à distância, em .sua estereoripia, como nos
do governador< seus acólitos. (19~·7, p. 447) tc:rcctos do son eto "Negra bonita" J e M aria Joana Couro:
Da "Saudação" inclusiva do jornal de Angola, de uma certa acomodação
Negra bonila, filha do desdém!
histórica na outra saudação, a de Alda Lara para os estudantes, salta-se para Vão-se queimando mun ardor em fogo
a cisão dos mundos c para uma outra forma de registrar a hi~tória fora da Todos aqueles que cc: querem b<:m!
oficialidade da visão imperial. Como sempre, alça-se a voz de AlJa Espírito
Santo, voz rebelde c insubordinada, a apagar os luares da África colonial. A Ai li nela negra, m eu p razer em doL'-!
obra de Lúcio Lara é utn instrumenro, pois, da maior importância para que Tantos pecados no teu corpo em fogo~
um novo modo de escrever a I:Listória se possa solidifi car. Outros arquivos Tantas virtudes, na tua alma em flor!
começam a fornecer outros dados para se formalizar a história dos sujeitos (jornal. 30/ 1/54. p. 2)
africanos que a então viviam, mc,mo fora de lugar.
Por falar em alma, há um longo poema de Marília Santos, dedicado "À
minha irmã N.S.", provavelmente Noémia de Sousa, e que >p>rece em Pot-
Cocpos poéticos femininos c a cadeia de sua encena~ão
ras •m Moçambiqtu. Nele, há uma tentativ• solidária de cantar a outra,
O conjunto de textos t r:abalh3dos permiri u~me chegar a alguns recortes negra~ cuja brancura da alma sobreleva. Precisa dizer mais? Nc::gm, mas de
finais, já expostos nos ensaios referidos. Assim, de modo breve, retorno-os, alma branca:
indicando que as ocorrên cias apontadas n ão .se apresen tam em malhas dí:l-
O minha poétio 111oçamb icana
crônicas, mas se sucedem em sincronias. Só a minha intenção did~rica expli-
minha amiga de ~angue negro
ca a cadeia cxpooitiva. e alma branca.
O corpo poético que primtiro ganha densidade, no corpus literário des- Minha lrmá! (Amologias, J 994, v. li, p. 29)
se modo formado, é o assimilado, Por d e, retoma o padrão da fala literária
européia, pelo qual a mulher se apresentava como um sujeito de dor c Dt:ssc:: movim ento de assimilação aos '~formais e rcndil h::~.dos c.1ntos",
sofrimento. No plano gráfico, as maiúsculas alegorizantes, tão gratas aos aqui repetindo Noémia, no poema não por ar.1So intitulado "Negra", se pa.<-
românticos e mesmo ao projeto modernisL'I porruguês, saltam aos o lhos do sa para um procc:sso de identificação com a terra, sendo o corpo feminino a
leitor. Maria Eugénia Lima: sua metonímia. Alda Laral no corpur~ é o melhor exemplo do procedimc:nto
imagístico e seu poc:ma "Presença" talvez a sua mais forre expressão:
Nasci mulher, nasci na dor
E para a dor nasci. E apesar de tudo
Açoitaram meu corpo de inocente ainda sou a me.~ma!
E logo uma lágtima sentida (...]
Deslizou, lentamenlt: - A dos coqudros
Simbolizando a Vida! (Jornal, N, 0 22, out/55, p. 6j de cabeleiras ven.les
482 A Mulher em África: Vozes de uma margem sempre presentt Bordejando a margem 483

e corpos arrojados É essa terra que aparecerá martirizada, com o futuro barrado, qua.se
sobre o azul ... diria, nos poemas de Alda Esplrito Santo e nos de Noémia de Sousa. Ambas
A do dend~m
nascendo dos abraços
nela imergem de cabeça, buscando desesperad amente a naçãu por vir e sol-
das palmeira.!! ... tando suas vozes em chama, a clamarem pela libertação. A "devasraç.'\o ••
apontada por Camõcs se apresenta em rodo o seu dimensionamento trágico
(A, to/ogiar, 1994, v. I, p. 187-8) na fala poética de Alda e Noémia, em longos poemas de versos soltos que se
desdobram com &eqüência em um dlmo frenético, como se d~ em uSe me
Aqui, como j:l afirmei algumas vezes, emerge o corpo flsico da terra, quiseres conhecer,. de Noémia <.tUt: aparece em Mtnsagtm, ano XIV, n. o 3,
duplo daq uele do sujeito llrico, que com ela se procura idenrific.1r. Surge, em agosto de I %2 e pdu <(ual o corpo-Africa devastado se projeta especu-
enrão, a terra romintica do canrador a que se refere Antonio Candido larmcnc:c no do eu~ Urico fem inino:
(\ 987, p. 140). Não se problematiza o local da cultura, o não-lugar históri-
co, mas a atitude é de ufanismo, ou. segundo Candido ainda, de um "estodo Ah, essa sou eu:
de euforia" pelo q ual se camufla o exotismo, rransformando~o em est3Clo órbitas vazias no desespero de possuir a vida
anlmico (idem, p. 141). boca rasgada em feridas de angúnia,
mãos enormes espalmadas,
De um modo ou de outro, a terra - que ainda não se pode confundir
erguendo-se em jeiro de quem implora e ameaça.
com o desejo do nação - pede p:tSsasem e finca pé no texro, em forma de corpo raruado de feridas vi).ivcis e invisíveis
palmeiras, adcias rubras, poentes cor de sangue, calc mas, etc. O cu-lírico, pelos chicotes da cserav~tuta... (p. 47)
em estado de exílio, anseia poder voltar c m isturar seu corpo ~ naturc::z.a de
sua terra: Esse poema de Noémia se faz uma espécie de fcone, sendo antologizado
com freqüência, até hoje. No caso do corpu.s, vê-se que reaparece em PoltllJ
Tenho sede... dt Moçambiqut, 1962 (AntowgiM, 1994, v. 11, p. 217). Man uel Ferreira não
sede do~ crepúsculos africanos o seleciona.
todos os dias iguais, Um outro texto da poetisa que siginifica também um grito pela inclu-
e sempre belos são do homem negro e um gesto de denúncia do vazio histórico no qual ele
de tons quase irreais...
Saudade... Tenho soudade está imerso é "Deixa passar o meu povo". Ele aparece na a ntologia de Mário
do horizonte sem barreiras e T enreiro, reaparece na da CEI de 1962 e volta nos 50 poetllJ, assim crian-
das calemas trai ~oeiras do uma cadeia repetitiva que atesta a sua importincia no espaço da consoli-
das cheias alucinadas... dação c.1nônica. Como j:l disse, em outros ensaios, e aqui repito, g•nha den-
sidade, nos poemas de Noémia, um "novo processo de subjetividade" que
(Anro/ogias, idem, p. 186)
ultrapassa o indivíduo, penetra no coletivo e, com isso, leva~nos a assistir a
um "espetáculo da alteridade", usandn !"'lavras de Homi Bhabha ( 1992,
As reticênci:as, :1 muc:tção dos versos, o tom apaixonado ainda nos
p. 180). Também gostaria de lembrar uma instigante análise de Isabel Allc-
f>Zem lembrar Florbela, onas o sujeiro se sabe de u m outro lugar c >eu
gro de Magalhães. que adverte: "perante a sociedade sem horizontes no
movimento não é apenas de imersão subjetiva, nus o de buscar, na nature-t a
rero rno, o sujeico refugia-se na cscriraJ como horizonte de: viagem por den-
local, o elemento de consolidação de seu próp rio eu. Nasce, dar, u on movi- rro de si, com a pabvra como única possibiliração de acesso a um futuro."
mento suplementar na direção do outro, o igual, e, em conseqüência, conso~
(2002,p. 317). Asoro, sim, Noémia:
lida-se a <:Spernnça e a certeza de um futuro pensado no coletivo ou no
"sonho colectivo", tal como analisado por Inocência Mata (200 I, p. I I O). &crevo ...
Na mesma antologia aparece o poema "Rumo": Na núnha mesa, vuh:os familiares se vêm debruçar.
Minha mie de mão.s rudes e rosto cansWo
Jl. tempo, companheiro' e revoltos, dores, humilhações,
Caminhemos... tatuando do negro o virgem papel branço,
Longe, a Terra cha.ma por nós,
c ninguém resiste à. voz
E Paulo, que ni o conheço
m:ts;. do meu ~ngue e da mesma seiva amada de Moçamhique
Da Terra... {idem, p. 189)
e mi~rias, j•ndas gradeadas, adeuses de [magoJças
484 A M ulher em Áfrie<l: Vous de u r:u margem ~!!rnprt: presente Bonl"jando a margem 485

[ ••• J N:l seleção de Manuel Ferreira, o poema .sofre corres, o que é uma
Todos se vêm debruçar sobre meu ombru, pe1~a. De rodo., modo, Alda, em ~co com N?~mia, encena o povo, tra.zendo~
enqu.-·1.nto escrevo, noite adiante
;o. em grande para a cena poéuca, d c:nunc1ando o rnassacre q ue existiu hi.s-
com M arian e Robeson vigiando pelo olho lumi noso do rádio
rortc2mencc, mas ftzcndo dele metáfora e bandeira. Nesse momenro, com as
- "lec my people gn
oh lec my people go!" vozes em chama dessas duas mulheres, já nio há hipórese de conformismo e,
(50 pverar, 1989, p. 356) de ce.:r~ m~do, 'lsacralizam-se:", duplameme voltando a rer o papel simbóli-
co ?n?moirto c passando a pe.nencer ao carâlogo, ou .seja, fa1..em-sc vozes
Essa ((seiva amada" e o retrato do povo m artirizado se d e..docarn, nos canonacas c rompem com a teta pela q ual as m ulheres se sjJenci:wam. Tor-
poemas de Alda Espfrim Santo, de Moçambiq ue para São Tomé. Também ~am-se, J?ar~~:ando N~mia, um " instrumento" do "sangue" de um povo
ela encena um desfile de seu povo, dando corpo, por sua vez, àquele novo em turbdhao que:, assun convocado, não pode deixar d e passar.
processo de subjerividade, a que se refere 13habha. Por isso, ela recria os seus
"'A ngolares'' também uma peça poética densamen te antologizada. Na M~tl­ Arremates
sagem, ano XV, fi0 • 2, junho/1963, lá encontramos aquela
. E os livros dessas mulheres> De rodas as mulheres africanas que concre-
C:1noa frágil, à beira da praia. tizaram o sonho de edmr suas obras, raruando mais que a folha branca do
[...J papel disperso? Esse é um rema a demandar reflexóc:5 que vão além de um
canoa Autu:~.nte por sobre as procelas das :1guas arremate conclusivo. Assim, fico s6 com as duas Aldas c com Noémia, per-
lá vai o barquinho da fome.
rença.s, parece-n1e, já in.sofismáveis do cânonc africano, t:mbora Alda Lara,
Rostos duws de angolares
no proce.~so. sofresse as exclusões já expostas.
na luta com o gandú
por sobre a procda das onda.~ C.omo se sabe, a angolana morre aos 32 anos. Suas obras editadas são
remando, remando assin:', p6srumas, aparecendo, no fim dos anos 1970, o pequeno volum~
no mar dos tubarões (p. 19) Pomn, em um dos Cadernos Lavra & O ficina (n• 18, de 1979). Também o
marido, Orlando Albuquerque, o rgauit.a o volume Pocmar q ue, segundo sua
O mesmo texto re to rna em Po~tas d~ S. Toml c Princip~, tambón de explicação, o bedece n um "esbo<,:o de esquema" a ele apresenrado pela poeti-
1963 (Antologias, 1994, v. I, p. 307-8) c em várias outras recolhas. O longo sa em 196 I. Tal esboço, segundo afirma, foi por ele ampliado, pelo fato de
poem a "Onde estão os homens caçados neste vento de loucura'\ no qual da não querer deixar de fora nada do que fora escrito. Em um segundo
reencena com raiva c dor o massacre de 1953, ~ igualme::nu: uma peça de m?m~nco, Albuquerque acrescenca o utros poemas inéditos, o que am plia a
resistência c um libelo contra a d cvas1ação dos ('barões assinalados" e a sua pnme~ra recolha. H á uma única data na 4.• edição de q ue d isponho:
ação pred atória nus lugares para onde o mar os levou: 18/ J l/84. Para resu mir: A.lda Lara não viu seu livro editado.
Já Alda Espfrito Samo, em 1978, publica E nosJ() o solo sagrado dn ttrrtl.
O s corpos tOmbados no mato, Não há dados concretos, mas a leirura do plano pretextual parece indicar
as casas, as ca::.-as dos homens yue a poetisa participou de forma direra da feirura de su• obra, embora eu
destruídas na voragem não possa afirmar se houve, de sua parte, qualquer contribuição financeira.
do fogo incendiário O livro cobre os anos ameriores à luta, o tempo da guerra e o d a indepen-
as vidas queimad4.s, dência, sendo muiro importante para que se compreenda o papel das
erguem o coro insólito da justiç<t
mulheres, seja na lura, seja na reconstrução do pa(s que ajudaram, pela pala-
damando vinganç:o.
E vós rodos carrascos vra e muiras vezes pela ação, a libertar.
e vós todos algozes O caso de Noém ia é ainda mais sério. Sua obra Sangue n•gro foi escrira
sentados nos bancos dos réu.c; entre 1948 e 1951. D urante 50 anos, esra obra circulou <m policópias q ue
-Que fiu:stcs do meu povo? ... passavam de mão em mão, às vezes em reproduções muico precári:\S. Incrível
- Que respondeis? é pe~sar .que lemos Snngo.tc negro por rodo esse rempo, Irabalhando-o em
-Onde está o meu povo?... ensa1os: h vros, cu rsos. etc.• como se d;i e m "Silêncios rompidos», por exem-
(Antologias, 1994. v. T, p. 306) plo. Dissertações e reses foram escricas sobre uma obra não editada, o que
me parece absolutamente surpreendente.

-
486 A ~iulhcr (m África: Vozes de umlt marg~m ~t:mprc: prcsenre Bord.:jando a margem 487

É certo que Noémia não autorizava a edição, embora muitos no Brasil e HUTCHEON, Linda. Poirica do pôs-modanismo. Rio de Janeiro: !mago, 199 1.
em Ponugal q uisessem falt-lo, para nio falar de Moçambique. Só em 2001 , )ARA. Rent y TALP.NS, Genaro. Camparatismo y semi6rica de la cultura. In
pdo empenho d e Nei<On Saúte e Fárim• Mendon~a o livro ganhou corpo,
EUTOPIAS. M ineapoli>: V.ltncia, VTI, n. 2 e 3, pp. 5-17, 1987.
jORNAL dt Angola.Luanda: Associação dos N.rur•is de Angola, 1954-1961.
alma e vo1., um ano antes da morte de sua auton, ocorrida em 2002. Penso
LARA, Alda. Potsia. Luanda: Li to-Tipo, 1979 (Caderno> Livra & Oficina,I S).
que esse fato é simbólico e sintomático e não d:i para considerá-lo apenas na
---.Poemas. 4 cd. Porto: Venent~, s/d.
série histórica dos acasos e coincidências. Os bantos não acreditam neles; eu, MAGALHÃES, habd Allegro de. Capelas imperfeitas: Configurações liL<rári"" da
tampouco... id~ntidade portuguesa. fn RAMALHO, Maria !rene c RmEIRO, Ant6nio
Finalmente, e para concluir: bordejar a margem da t::n:rita feminina Sousa (org.). Enru su e estar: ralus, perrunos t discursos da idmtidadt. Porto:
a fricana, no tempo em que a dcscolonizaçáo era um sonho sonhado e quan- Afronumenro, 2002, pp. 307-348.
d o as g uerras passaram a ser o caminho de sua realização, é buscar pactllar MATA, lnocência. LiterfUUrll angolana: sil2ncios t fa!m tk uma voz inquieta. Lisboa:
com vaúos e silencias. Rompê-los, com empenho e vontade, é fazer do Mar Além, 2001.
silêncio uma forma de produção de sentidos (ORLANDI, 1997), pois qual- MENSAGEM. Boletim da Casa dos hitudanus do lmplrio. Lousã: ALAC, 1996, (2v).
quer faJa ganha corpo a partir do silêncio. A pesquisa buscou redesenhar esse MONTEIRO, Manuel Rui. Eu e o outro - o invasor ou em poucas três linhas urna
corpo "tatuado de feridas visíveis e invisíveis", corpo que não se quis mais maneira de pensar o texJo. São Paulo: Encomro "Perfil da. Liter:ttura
esconder, mas gritar a sua diferença e seu modo muito próprio de, encenan- Negra", 1985 (Texto policopiado).
NASCENTES, Antenor. Diciondrio ilustraM da llngua p.rtugu= da Atfldtmia
do-se, enfrentar a polftica do silêncio, uma das marcas do catálogo sacrali-
zante que se chama dinone e que, com garra c urgência, algumas vozes de
Brasikira dt Letr11S. Rio de Janeiro: Bloch, 1972 (6v.).
PADILHA, Laura Cavalcante. Novos pados~ outras fiCfóes: ensaios robr~ liuraturas
mulher tentaram ex:itosamente rasurar.
afro-luso-brasiltiriiS. Porto Alegre: EDIPUCRS; 2002 (Memória das Lerras, I O).
SANTO , Alda Espírito. E 110/So o solo sagrado da rma. Lisboa: Ulmeiro, 1978.
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