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RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar as crises percebidas por casais, casados
legalmente, nos diferentes ciclos de vida familiar. Para isso, foi realizada uma
pesquisa qualitativa e descritiva com oito casais de diferentes ciclos de vida familiar.
A partir da realização de uma entrevista semiestruturada com cada um dos cônjuges
foi possível observar uma diferença no que tange a percepção das crises conjugais,
pois somente a metade dos homens entrevistados relataram perceber crises, sendo
que a maioria das mulheres afirmaram perceber. Quando questionados sobre
dificuldades e crises enfrentadas no casamento, os casais apontaram
consideravelmente para o início da relação conjugal, afirmando ser um período difícil
devido as adaptações necessárias, trazendo a tona a questão da falta de
flexibilidade na relação. Nos relatos, o fator comunicação foi bastante citado pelos
casais ao falarem de estratégias para resolução de conflitos, assim como alguns
casais disseram não se valer de nenhuma estratégia para este fim, o que pode ser
considerado fator de risco para relação, pois sinaliza uma dificuldade de entrar em
contato com os problemas para assim resolvê-los, o que resultou para alguns casais
total afastamento, desgaste da relação e desunião.
Dessa forma, conclui-se que ainda que estejam no mesmo estágio de ciclo vital
familiar os casais tem muitas particularidades, o que resulta em modos de
funcionamento totalmente diferentes, então a forma como os casais de cada ciclo
lidam com as crises depende mais de como funciona o casal do que em que estágio
eles estão propriamente.
ABSTRACT
This article aims to analyze how crises perceived by legally married couples in
different family life cycles. For this, a qualitative and descriptive research was
conducted with eight couples from different family life cycles. From a semi-structured
interview with each spouse, it was possible to observe a difference that is not
perceived in the conjugated seizures, because only half of the men interviewed
reported the seizures, and most of the women caused are perceived. When asked
about difficulties and crises faced in marriage, couples who are considerably pointed
to the beginning of the marital relationship, claim to be a difficult period due to
necessary adaptations, bringing up a question of lack of flexibility in the relationship.
In the reports, the communication factor was often cited by couples when talking
about conflict resolution strategies, just as some couples did not value a strategy for
this purpose anymore, which can be considered a risk factor for the relationship, as
this signals a difficulty in contacting the problems to solve them, or the result for
some couples with total withdrawal, relationship breakdown and disunity.
It follows that it is not yet the same family life cycle stage of couples that has many
characteristics, or that results in totally different modes of functioning, so how couples
in each cycle deal with crises depends more on how it works. the couple in stages
they are properly.
1. INTRODUÇÃO
No que tange o ciclo de vida familiar, para Minuchin e Fishman (2007) a formação do
casal, é a primeira fase desse ciclo, é o estágio em que, literalmente, os cônjuges
vão construir o holon conjugal, ou seja, a formação de um novo sistema, o casal, que
define novos padrões de funcionamento, logo, é um período em que muitas
negociações são feitas, de como vão funcionar enquanto casal perante a sociedade
e tantos outros contextos. Essas negociações, estabelecimento de contratos, geram
muitos conflitos devido a grande proporção de questões a se conciliar, é natural que
eles ocorram durante a formação desta nova união, ao mesmo tempo em que
estiverem aprendendo a estabelecer estes contratos, também aprenderão a lidar
com os conflitos que surgem, inevitavelmente, em detrimento deste movimento.
Ronchi e Avellar (2011) complementam acerca da necessidade de adaptação do
casal frente as diversas situações novas que estão vivenciando, especialmente no
início da relação a dois, definida por uma etapa do ciclo de vida familiar que as
autoras nomeiam de fase de Aquisição. A vivência da vida a dois é marcada por
várias etapas de ciclo de vida familiar e a cada fase, novos aprendizados e
mudanças são necessárias para que as crises conjugais sejam superadas
(CARTER; McGOLDRICK, 1995). Nesse sentido, este artigo tem como objetivo
geral, analisar a percepção dos casais de diferentes ciclos de vida familiar com
relação as crises conjugais, assim, como objetivos específicos faz-se necessário
identificar as dificuldades percebidas pelo casal com relação a conjugalidade,
identificar como os casais elaboram estratégias para superar as crises, investigar as
consequências percebidas pelos casais decorrentes das crises familiares e por fim,
identificar as semelhanças e diferenças de cada casal em cada etapa do ciclo de
vida familiar com relação as crises conjugais.
Este estudo trata-se de uma discussão rica e complexa que envolve a família de
origem e a construção de novas famílias através do laço matrimonial entre duas
pessoas. A construção deste novo vínculo familiar perpassa uma série de mudanças
e adaptações e por isso se faz necessário um estudo científico mais aprofundado, a
fim de compreender este processo através do olhar da Psicologia, a fim de explorar
e desenvolver trabalhos na temática familiar, especialmente as relações conjugais.
O ciclo de vida familiar é uma série de estágios que perpassam a instituição família
desde o início de sua geração até a morte de uma das pessoas que a iniciaram,
observam-se mudanças no tamanho da família (saídas e entradas de membros, seja
devido a nascimentos, casamentos ou mortes de integrantes); mudanças na
composição por idade (a idade do filho mais velho é que determina o ciclo em que a
família está); mudanças na posição profissional dos provedores da família (HALEY
apud CERVENY; BERTHOUD, 2010).
Cerveny e Berthoud (2009) apontam a teoria do ciclo vital de Monica McGolderick e
Betty Carter como a mais completa contemplando seis estágios do ciclo vital familiar:
o lançamento do jovem adulto solteiro; o novo casal; tornar-se pais; o sistema
familiar na adolescência; lançando os filhos e seguindo em frente; a família no
estágio tardio da vida; entretanto, esta teoria foi construída com base no ciclo vital
familiar da classe média americana, e dessa forma, diferente do contexto brasileiro.
Assim, essas autoras, a partir de pesquisas do ciclo vital no contexto brasileiro
identificaram e nomearam quatro fases do ciclo de vida familiar na família brasileira,
a fase de aquisição, que inicia com a união do casal, aquisição dos bens e a
chegada do filho até a adolescência; família adolescente, há uma tendência a todos
adolescerem com a entrada do filho na adolescência; fase madura, configura-se
como a mais longa, os filhos saem de casa, entram agregados e netos, preparo pra
aposentadoria.
Minuchin e Fishman (2007) estipulam também quatro estágios do ciclo de vida
familiar, o primeiro estágio marca a formação do casal, quando se desenvolve o
holon conjugal; o segundo estágio caracteriza famílias com crianças pequenas, fase
que tem início com a chegada do filho pequeno; a terceira, famílias com crianças em
idade escolar ou adolescentes, fase marcada pela ida da criança a escola; e por fim,
famílias com filhos adultos, quando volta para a origem da família, os filhos saem de
casa, permanecendo somente o casal e é com base nesta teoria que será
desenvolvido todo o trabalho deste artigo.
Como foi proposto por Minuchin e Fishman (2007) o ciclo vital familiar inicia-se com
a formação de um casal, logo, refere-se a união de dois adultos cujo desejo de
formar uma família é unânime, a partir disto, o casal busca se ajustar durante a
convivência e assim um novo sistema se forma. Este vínculo afetivo perpassa muitas
dimensões, como a aliança que se forma, no sentido tanto afetivo quanto em
material; assim como a sexualidade, que é um dos aspectos mais importantes desta
relação. É uma construção que exige muito investimento por parte do casal que opta
pela união (CERVENY; BERTHOUD, 2009).
Esta adaptação, este processo que proporciona diversas dimensões é proveniente
da seguinte situação, são dois sistemas que se unem a fim de formar um só sistema,
de iniciar a sua instituição família, os dois tiveram origem diferentes que
funcionavam de formas distintas para cada um, por isso trata-se de um processo.
Dentro destas questões existem as regras, que dentro do sistema familiar são
delimitadoras de comportamento que governam o sistema a fim de proteger o
funcionamento relacional familiar, pode acontecer a nível consciente e inconsciente,
assim como pode ser também geradora de conflitos – ainda que o intuito seja de fato
proteger – devido a alguns padrões de comportamentos repetitivos e para pôr fim a
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plenitude que acreditam estar dentro do casamento, que não supridos podem gerar
sentimentos de frustração após alguns anos de convivência (DIAS, 1999).
Não é saudável, nem viável projetar seus sonhos, desejos, expectativas e também
fantasias na existência do outro, além disto, essa busca idealizada dificulta a
formação de vínculos mais profundos, o que pode tornar a união conjugal muito
breve devido a frustração das expectativas não correspondidas, este raciocínio
proposto por Rosset (2017) complementa o que foi dito anteriormente.
A compreensão relacional sistêmica do casal se dá a partir de alguns pressupostos,
identificando o espaço de casal como lugar que oferece vantagens para aprendizado
e crescimento, já que o sistema casal pode visualizar com maior clareza aquilo que
precisa ser mudado, as disfuncionalidades e carências do outro; é nesta relação
também que será possível observar o melhor e o pior dos parceiros, agindo com
humildade e tendo disponibilidade para tal, o parceiro pode se ater as dicas que o
outro dá para aperfeiçoar-se naquilo que observa como pontos críticos; neste
espaço as diferenças também vão aparecer entre os parceiros e podem ser
compreendidas também como oportunidades de crescimento, aprendizado e
enriquecimento na relação com o outro (ROSSET, 2017).
As crises podem ocorrer por diversos motivos, na maioria das vezes sinalizam
mudanças, então qualquer ser humano está sujeito a vivenciá-las. No dicionário
existem várias definições, exemplificando, momentos difíceis, conflituosos, de tensão
e também crises familiares (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2009?). Pode
acontecer de acordo com os processos e fases da vida vivenciadas e um destes
processos específicos é a formação de uma nova família, onde estes vão vivenciar
um novo ciclo vital e tudo que decorre dele durante sua construção, sua adaptação,
podendo o casal vivenciar algumas crises durante o processo.
Segundo Cardoso (2016) e Moura (2008) existem ao menos dez conflitos comuns a
todos os casais, apontam como um desses conflitos que podem ocasionar crises
conjugais, a família de origem de um dos cônjuges, no que tange as relações
estabelecidas e a influência das mesmas na relação do casal, para isso, Rosset
(2017) e Búrigo citado por Coelho (2016) afirmam que o casal precisa olhar para a
relação que tem com sua família de origem, dificuldades, afetos e desafetos, para
que se possa estabelecer contratos claros de como será a forma do casal se
relacionar com as famílias, pois justamente a falta de clareza pode estabelecer
conflitos, visto que um membro do casal pode sentir que está se doando mais do
que outro, sem que nada tenha sido combinado anteriormente. O ciúme também foi
apontado pelos autores, como um dos conflitos da relação conjugal, segundo
Cardoso (2016) e Moura (2008), a intensidade e o controle desse sentimento é que
vai definir a qualidade da relação, pois pode servir como um alerta de que algo não
vai bem, como um distanciamento do casal, gerando um sofrimento devido à alta
intensidade que ele se apresenta e pode também ser proveitoso quando usado em
pequenas doses, promovendo a aproximação do casal.
Nem sempre o casal vai perceber que há um limite para que as brigas se tornem
algo pior, como uma crise, talvez nem saibam que as brigas podem ser funcionais
em um relacionamento, justamente porque aprender a brigar é preciso, quando há
sucesso neste aprendizado, ao invés de destruir relações elas acrescentam
elementos positivos que podem fortalecê-las (ROSSET, 2016), pois, as brigas
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Quanto as estratégias que podem ser adotadas na relação, uma boa alternativa
apontada como positiva para o enfrentamento das dificuldades nas relações
conjugais, diz respeito a percepção dos aprendizados a partir das experiências
conjugais, pois as mudanças do casal não acontecem de forma repentina, é preciso
estar atento à própria maneira de funcionar e às indicações que o outro emite,
adquirindo um conhecimento que ajuda a prevenir adversidades e fortalece a
relação (ROSSET, 2017). São estratégias construtivas aliadas ao uso de uma
postura mais flexível e tolerante diante dos conflitos e limitações do casal, a
importância de manter uma visão otimista e de assumir responsabilidade mútua
diante das ocorrências. Do contrário, se fossem se comportar de forma destrutiva,
prevaleceriam os comportamentos individualizados diante os conflitos conjugais, o
foco seria sempre o problema e uma busca inconstante de apontar o culpado dos
conflitos, logo não haveria flexibilidade para buscar pensamentos positivos, assim
como buscar os aspectos positivos do/a parceiro/a e da relação (ROSSET, 2017;
COSTA; CENCI; MOSMANN, 2016), essas estratégias podem ser caracterizadas
como coping no contexto das relações conjugais.
Coping são estratégias de enfrentamento ou processo de enfrentamento os quais as
pessoas se valem para adaptarem-se a circunstâncias adversas (ANTONIAZZI;
DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998; FERNANDES; INOCENTE, 2010), é uma
possibilidade de enfrentamento que pode servir de ferramenta para gerenciar as
dificuldades vivenciadas.
Estas estratégias geram efeito nas ações e pensamentos convenientes para
situações nas quais é preciso lidar com estressores. Tais estratégias podem ser
classificadas em dois tipos, focalizada na emoção, cujo o objetivo é ajustar o estado
emocional associado ao estresse, a fim de reduzir as sensações desagradáveis
causadas pelo estado deste, ou seja, o indivíduo desenvolve estratégias para
equilibrar o impacto emocional do estresse. Já as estratégias que focam no
problema, direcionam o esforço para intervir nas situações que deram origem ao
estresse, para assim tentar alterá-las, ou seja, é um esforço por parte do indivíduo
para administrar o problema e assim se adequar ao meio. O objetivo é conseguir
uma alteração no problema em questão que se configura na relação entre a pessoa
e o ambiente causador do problema (ANTONIAZZI; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998;
FERNANDES; INOCENTE, 2010).
No que tange a conjugalidade, Mussumeci e Ponciano (2016, p.171) identificam o
coping diádico, como “uma abordagem sistêmica, como uma nova forma de coping,
caracterizada por como os cônjuges lidam conjuntamente, constituindo-se uma
unidade em situações estressantes”, especificando estratégias direcionadas para as
relações conjugais. Assim, os cônjuges vão desenvolver suas estratégias para
lidarem com as situações de estresse e frustração derivadas na relação conjugal,
bem como, as próprias mudanças que ocorrem de acordo com a vivência do ciclo de
vida conjugal. No decorrer do processo de aprendizagem de coping diádico o casal
aprende que as estratégias são diversas e não precisam ser rígidas (MUSSUMECI,
PONCIANO; 2016).
De acordo com esses autores, essas estratégias ou formas que o casal vai encontrar
para funcionar, podem ser positivas, quando conseguem funcionar como suporte,
apoio mútuo em suas tarefas, quando a comunicação contribui para a solução de
problemas, quando existe solidariedade conjugal, comprometimento na relação,
tomando decisões em conjunto e dividindo sentimentos. São 3 tipos de estratégias
positivas sendo a primeira o coping diádico de suporte, onde o casal tem apoio
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3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Este trabalho trata-se de uma pesquisa descritiva, tendo em vista a descrição das
características ou fenômenos de uma determinada população, a fim de descobrir
suas características, causas, utilizando-se de técnicas como a entrevista,
observação e questionários (PRODANOV; FREITAS, 2013), de natureza qualitativa,
pois trata-se de "[...] um procedimento mais intuitivo, mas também mais maleável e
mais adaptável a índices não previstos, ou à evolução das hipóteses" (BARDIN,
2011. p. 145). Para a coleta dos dados foi utilizado a entrevista semiestruturada, por
se tratar de um instrumento que permite o desenvolvimento do tema a partir de
perguntas disparadoras, ou seja, o pesquisador elabora algumas questões chaves
sobre o tema, mas permite e pode também incentivar, que o participante contribua
para além do que foi proposto (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Os resultados foram
analisados a partir da análise de conteúdo que visa tomar conhecimento dos dados
coletados trabalhando em cima das falas dos indivíduos, se atentando as variáveis
que emergem por trás das falas e envolvem os campos psicológico, histórico,
sociológico, etc. (BARDIN, 2011), sob a perspectiva da teoria do Ciclo de vida
familiar dispostos por Minuchin e Fishman (2007), que identificam quatro fases
pertinentes ao ciclo de vida familiar, sendo, portanto, a formação do casal; famílias
com crianças pequenas; famílias com crianças em idade escolar ou adolescente;
famílias com filhos adultos.
Para participação da pesquisa os casais deveriam estar casados legalmente,
morando na mesma casa, não dependendo do tempo de conjugalidade e deveriam
estar vivenciando as fases propostas pelos autores do ciclo de vida familiar
escolhidos para este trabalho. Para identificação dos casais com relação a fase de
ciclo de vida familiar, no momento da seleção dos participantes foi observado se o
casal tinha características correspondentes as fases estudadas, se confirmadas
eram convidados para a participação na pesquisa. Assim, todos os casais eram
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A conjugalidade pode ser um sistema propício para o surgimento de crises, dizer que
isso é bom ou ruim depende da visão do casal que está vivenciando as crises
(ROSSET, 2016). Elas podem ser compreendidas pelos casais como fracassos da
relação, porém podem ser possibilidades de aprendizado, pois nesta relação vai
emergir o pior e o melhor de cada um, dessa forma com disponibilidade, o cônjuge
pode optar pela sofisticação dos pontos que percebe como disfuncionais e
inadequados e assim desenvolver potencialidades, fazendo isto, os casais estariam
aproveitando os conflitos e crises para o seu crescimento e enriquecimento (SOUZA
et al, 2005).
Dessa forma, ao serem questionados a respeito das crises enfrentadas na relação
conjugal, de maneira geral, os relatos obtidos através das entrevistas indicam que
nem todos os casais conseguem perceber crises no casamento, o que não significa
que elas não existem, apenas podem não ser interpretadas como crises, além disto,
as opiniões se dividem entre reconhecer que crises são oportunidades de
aprendizado e compreender que crises são sinônimo de fracasso e enfraquecimento
do laço conjugal.
O casal A, que se encontra na fase do casal com filhos adultos, apesar de terem
filha adulta e um tempo relativamente grande de casamento (23 anos), quando
questionados sobre dificuldades percebidas na conjugalidade retomam o início da
relação conjugal, identificando a fase de adaptação como a principal dificuldade
percebida na relação. É uma lógica possível de acordo com o que afirmam Minuchin
e Fishman (2007), aspirando que a fase inicial gera muitos conflitos, pois neste
momento, inevitavelmente, eles aparecerão no surgimento de um holon, duas
unidades individuais se configurando numa só, o holon conjugal, conflitos os quais
os casais vão precisar aprender a lidar construindo padrões possíveis de resolução
de conflitos. Esta fase é então um marco dilapidador e fundamental para o início da
relação, que marcou de maneira significativa o casal A, a tal ponto de apesar de
terem sido entrevistados separadamente, apontaram o inicio da relação como a de
maiores dificuldades no casamento.
Dessa forma, pode-se pensar na possibilidade de tal fase ter sido tão difícil a ponto
de ter produzido aprendizagens significativas e uteis para a relação do casal, isto
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em muitos casos são muito difíceis de ajustar, podendo até mesmo o casal não
conseguir elaborar as questões que vão emergir em decorrência das situações mais
difíceis e se divorciarem.
Ao contrário do que Minuchin e Fishman (2007) afirmam sobre o estágio de
formação de casal, o casal D afirma estar vivendo um momento tranquilo tendo tido
apenas oito meses de casado, apesar de ainda estar no período de adaptação,
formação do casal, que segundo os autores é um período que costuma ser difícil,
gerador de conflitos, já conseguem reconhecer esta questão da flexibilidade, como
afirma um dos cônjuges “[...] tentando mudar, né, de alguma forma, não pelo outro,
mas por mim se alguma coisa que tem em mim incomoda ele ou que tá nele e
incomoda, né e vice-versa, tento mudar, não por ele, mas por nós” (CÔNJUGE D1,
2019).
O casal H tem mais tempo de casado (24 anos) e não percebem dificuldades e
crises no casamento hoje, acreditam viver uma relação tranquila, como indicam os
relatos “[...] hoje eu não vejo [...] nenhuma dificuldade não, a gente se entende muito
bem [...] eu acho agora bem tranquilo porque no começo a gente não tem muita
maturidade, tem aquelas questões de ciuminho [...]” (CÔNJUGE H1, 2019); “[...]
nunca tivemos problema não, mesmo passando por crise financeira não tivemos
problemas” (CÔNJUGE H2, 2019). Mas reconhecem que mudanças dentro da
relação são necessárias para moldar um casamento saudável e para isso também
tiveram de ser flexíveis
[...] ele teve que mudar um pouco as atitudes e eu também né porque senão
não ia dar certo eu era muito mandona você falasse para mim não vai fazer
isso, aí que eu batia o pé e ia fazer e não é assim você tem que sentar e
conversar, né. Eu acho que tudo tem que ser na base da conversa e eu era
muito cabeça quente, não fala não para mim não e aí eu tive que mudar
muito e ele também (CÔNJUGE H1, 2019).
Os teóricos Minuchin e Fishman (2007) afirmam que se o casal conseguir passar por
esta fase de adaptação que é a formação do casal (estágio 1), que costuma ser mais
difícil, se tornarão um organismo estabilizado, chegarão a um equilíbrio do sistema,
tendo flutuações dentro do que é esperado, mas não é o caso do casal C, como foi
explicitado nos relatos anteriores, é neste contexto que se faz válido o raciocínio de
Andolfi (1995) que afirma acreditar que a teoria do ciclo vital, seus estágios e
momentos foi formulado de forma genérica, de forma que os mesmos fatos se
aplicam a todos que estão vivenciando uma determinada fase, de forma que seja
uma leitura universal para toda situação, desconsiderando particularidades
individuais e culturais, os relatos do casal C embasam tal afirmação, pois apesar de
muito tempo juntos o casal percebe que há muito tempo não há sintonia ou
equilíbrio, apontando o início da relação como melhor estágio, o que contradiz a
teoria do ciclo vital de Minuchin e Fishman (2007) e reforça a teoria da não
universalidade de Andolfi (1995) de que os estágios podem ser vivenciados de
formas distintas observando a influência de particularidades.
Já os cônjuges G2 e H1 (2019) apontaram como causas eliciadoras de crises tanto a
questão financeira, sendo esta também uma das crises específicas elucidadas pela
autora Rosset (2017) que se enquadra em mortes e perdas de emprego e
financeiras, cada um lidando da forma que puder, de formas individuais, podendo
gerar até mesmo uma competição entre eles ao apontaram que seu modo de sofrer
e lidar com a dor é melhor, o que pode agravar o sofrimento vivenciado pelo casal,
quanto a criação dos filhos. “Pode ser desencadeado uma crise, algo relacionado a
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financeiro, né, discordância financeira, os cuidados com filho [...]” (CÔNJUGE G2,
2019);
[...] se adaptar nem sempre é fácil, abdicar para poder as coisas fluírem e
com criança, então, só Jesus na causa, né, por quê cada um vai ter sua
visão de parcela naquilo ali, acha que já tá suficiente, acha que o que faz já
tá bom, e aí sempre tem um que tem que dar conta a mais das coisas [...].
Só por D. (filho) que a gente briga, né, porque ele deixa a gente doido, aí a
gente briga (CÔNJUGE G1, 2019).
“[...] Primeiro é a criação dos filhos, acho que é uma, porque cada um tem uma
forma de criar, acho que isso acaba dificultando [...]” (CÔNJUGE F2, 2019).
Segundo a teoria do ciclo de vital de Minuchin e Fishman (2007) é natural que nesta
fase os pais acabem se sentindo pressionados, perdidos, devido as novas tarefas, a
divisão das responsabilidades, podendo até mesmo se afastarem e até que essa
nova configuração se estabilize o casal pode viver conflitos, como por exemplo,
originados quanto a educação dos filhos, como criar, educar, estabelecimento de
limites e regras, etc.. Este novo lugar, paternidade/maternidade, pode acabar
trazendo conflitos para a unidade casal.
Foi possível constatar que os casais partem de opiniões distintas ao serem
questionados sobre percepção de crises no casamento, sendo que de 8 casais
entrevistados, 3 perceberam crises no casamento, 2 nunca perceberam e 3 casais
discordavam, sendo que um cônjuge dizia perceber e o outro não. Dos cônjuges que
identificaram crises conjugais, 5 apontam para o início do casamento, se referindo a
fase de adaptação do casal. Dois casais apontam para a relação em si como
motivos geradores de crise, nenhum dos dois recorrem ao passado, um dos casais
diz estar vivendo uma crise há 2 anos, mas ao que tudo indica, a crise vivida hoje
pode ser devido a fase de adaptação mal resolvida, onde os contratos não foram
bem acordados ou até mesmo não citados, assim como o outro casal, que aponta o
início da relação como prazerosa e feliz, em compensação, se mostram infelizes no
casamento após os anos iniciais.
É possível acreditar que o casal ao superar/aprender com as crises nos ciclos, faz
com que haja um aprendizado tão potente a ponto de quando surgirem outras crises
em outros ciclos, eles não perceberem como algo crítico ou até mesmo como crise,
já que adquiriram estratégias ou uma forma de lidar com os conflitos com maior
facilidade. E para aqueles que não se disponibilizam a aprender no estágio inicial
(formação de casal) podem perpetuar as dificuldades para os estágios seguintes,
além das dificuldades dos contextos atuais.
abraçar e seguir junto” (CÔNJUGE E2, 2019). Isto pode ser visto como uma
estratégia, pois desta forma ele está dizendo que nem nos piores momentos ele
abandona a relação, quando ele fala em enfrentar os problemas juntos ele está
investindo na relação. Cabe aqui fazer uma correlação com o coping diádico, onde
os cônjuges se esforçam, individualmente ou em união, para gerenciar o estresse e
restabelecer a homeostase de um ou de ambos. São estratégias que podem mitigar
os impactos negativos do estresse na relação conjugal e proporcionar maior
amplitude no olhar sobre a existência de diversas estratégias que podem ser
experimentadas pelo casal (MUSSUMECI; PONCIANO, 2018).
Outros cinco cônjuges disseram não ter estratégias para lidarem com as crises, pelo
fato de não identificarem crises conjugais ou por perceberem estratégias como
comportamentos requintados e distantes de suas reações nas relações conjugais.
Como não vivenciamos ela [crise] eu não sei nem te dizer, mas pelo que a
gente vê as vezes falta de compreensão, pelos amigos que a gente vê [...]
mas como eu até hoje não tive, não sei mesmo. [...] A gente gosta muito de
sair, um não sai sem o outro [...] graças a Deus é tranquilo, mas assim, eu
sou mais tempestade, ele é mais calmo aí quando às vezes eu fico nervosa
quando chego em casa e topo bagunça ele fica quieto e não responde aí é
onde acalma. Ele é mais calmo, então não tem como dar continuidade ele
sai de perto e acabou (CÔNJUGE F1, 2019).
“[...] pra gente graças a Deus é tranquilo [...]” (CÔNJUGE F2, 2019). O casal
compreende a ausência de brigas ou crises como algo que só tende a ser positivo,
mas de acordo com Rosset (2016) evitar brigas pode ser um elemento deteriorador
da relação, pois não permite a construção de uma relação mais íntima do casal, o
ideal é construir habilidades para aprender a brigar de forma construtiva, nem
evitando e nem brigando demais.
O cônjuge G1 (2019) relata não ter estratégias para o enfrentamento dos conflitos e
crises que o casal enfrenta e aponta que nunca resolvem as dificuldades, tal aspecto
dessa relação pode propiciar riscos para a relação conjugal ao evitar
solucionar/enfrentar as dificuldades “tem estratégia não (risos). Eu geralmente sou a
mais orgulhosa, eu vou fingir que tá bem [...] não falo com ele, vou indo e ele depois
vem, que é mais calmo assim, né e tenta conversar, mas a gente nunca resolve
nada [...] só tapa o sol com a peneira” (CONJUGE G1, 2019).
Apesar de não identificar como estratégia, evitar conflitos pode ser uma estratégia
para a relação conjugal, pois é uma forma de evitar discussões, evitar assuntos
dolorosos, evitar a reavaliação de contratos. Mas a não resolução de problemas
pode dificultar a convivência, a relação conjugal, o fortalecimento do laço de
intimidade e companheirismo, caso este padrão não seja reavaliado e reconstruído a
comunicação do casal pode ficar cada vez mais prejudicada, como no caso do casal
G revelando a dificuldade que possuem em se comunicar.
O padrão de funcionamento de um casal é algo mais do que o
funcionamento de duas partes e torna-se um funcionamento unitário, que se
constrói a partir da forma como cada um dos elementos funciona; o mais
importante, porém, é a forma como eles funcionam em conjunto (ROSSET,
2005. p. 57).
Neste caso, em uma perspectiva sistêmica o padrão de funcionamento e de
comunicação dos cônjuges se fazem presentes como uma unidade, assim, da
mesma forma que o cônjuge G1 (2019) aponta a falta de estratégias, o cônjuge G2
(2019) também reforça “ah, eu por conhecer B. (esposa) e saber que ela é um
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pouquinho estourada e eu sou mais tranquilo, eu tento deixar [...] mas devagarzinho
eu vou falando o que eu penso, o que eu acho [...]”. Este é um sistema que foge do
conflito e não enxerga que ao fazerem isso podem estar comprometendo a própria
relação.
Por último, o casal H compartilha da mesma opinião sobre não haver estratégias
para resolução das crises. O cônjuge H2 (2019) nem mesmo reconhece a existência
de crises durante o casamento, então não há porque ter estratégias “[crise] é pra
acabar o casamento. [...] Não, nunca, nunca! Graças a Deus, não, 24 anos e nunca
passamos por isso, nunca tivemos problema não, mesmo passando por crise
financeira não tivemos problemas”. No entanto, o cônjuge H1 (2019) percebe que
em uma determinada época as crises se manifestaram, mas não foi percebido o uso
de estratégias
já sim, [...] por volta, assim, acho que 7 anos, 5 anos, mas eu creio que é
mais por conta disso que eu ‘tô’ te falando, questão de maturidade, né, a
gente casou muito novo, era muito imatura ainda, começou a namorar muito
cedo. [...] Não [referindo-se a estratégia], foi mais na base de quebrando a
cara mesmo, acertando e errando, isso daí, mas mais quebrando a cara.
Isso porque para o H2 (2019) crise significa fracasso no casamento, é uma visão
equivocada, porém real, talvez muitos casais pensam que a crise é sinônimo de
fracasso no casamento, não enxergam crises como possibilidades de aprendizado,
mas o cônjuge H1 (2019) consegue visualizar a crise como algo que precisava
aprender, que precisou vivenciar para conquistar um aprendizado, no caso, a
maturidade que foi alcançada. Então, antes a crise estava ligada a inexperiência,
hoje não conseguem enxergar as estratégias pois não enxergam as crises, já que
ela acontecia devido a questões ligadas a falta de maturidade.
Sendo assim, os cônjuges tentam viabilizar de diversas formas resolverem as crises,
as estratégias utilizadas diante conflitos e possíveis crises mais pertinentes que se
mostraram nas entrevistas foram cumplicidade, conhecer e respeitar o limite do
outro, estar junto na relação, ter uma comunicação adequada, sendo verbal ou não
verbal, alguns cônjuges disseram também ignorar o outro revelando assim uma
dificuldade na comunicação, além disso outros casais disseram também não
utilizarem estratégias para lidarem com tais situações, afirmando que as situação se
resolve com o tempo, o que pode ser visto também como uma estratégia, pois
significa não ter de encarar o problema quando ele aparece, pretendendo assim
evitar mais discussões, desentendimentos e estresse, pode funcionar de imediato,
mas a longo prazo pode culminar em prejuízos irreparáveis na relação.
relação amorosa, mais paciência com o outro, mais empatia, mas alguns também
não acreditam que há fortalecimento e sim afastamento, descontentamento e
desunião.
Conforme Marques apud Souza et al (2005), o casamento perfeito ou família perfeita
não existem, mas pode ser vivido de formas distintas, tendo pelo menos cinco estilos
de vivências matrimoniais. No estilo de vivência casamento pleno,
O casal comunga em todas as áreas da vida. O cônjuge é visto como
amigo, amante e sócio. Enfrentou problemas sérios no passado, mas os
resolveu na ocasião em que eles surgiram. Saiu fortalecido e unido.
Aprofundou-se a intimidade (SOUZA et al 2005. p. 35).
Este aspecto da relação pode ser observado nos relatos do casal A,
A gente já era amigo, mas a gente ficou ainda mais amigo, ele passou a me
ouvir mais, entendeu, porque eu dava um conselho mas sempre falava, se
quiser fazer do seu jeito eu te apoio e muita das vezes ele fazia do jeito dele
e se lascava e aí acho que ele parava e pensava que se tivesse me
escutado não teria passado por isso, entendeu e eu acho que com o tempo
ele começou a perceber isso. [...] O foco da minha mudança foi focar em
mim mesmo, nos meus defeitos, aí sim, aí minha mudança começou e
conforme eu ia me transformando isso foi afetando ele também, eu comecei
a olhar para mim na busca de querer melhorar e quando eu errava, ele me
corrigia e aí eu fui mudando e ele começou a ver isso e conforme a minha
mudança foi automático nele também querer mudar [...] (CÔNJUGE A1,
2019).
“Cada dia que passa a amizade se fortalece mais, o amor se fortalece mais
[...] o companheirismo é mais forte, a gente entende um ao outro, ela olha
para mim eu já sei o que tá acontecendo [...] com o tempo eu fui
aprendendo a fazer o certo [...]” (CÔNJUGE A2, 2019).
A partir dos relatos percebe-se que o casal soube fazer bom uso das crises
aproveitando o espaço de casal para crescer e aprender, observando as
informações que o cônjuge passou a fim de enriquecer a relação (SOUZA et al,
2005). O que também pode ser demonstrado pelos relatos a seguir
eu acho que eu fiquei mais paciente com o outro, né, levando mais em
conta o que ele tá pensando também, porque eu era muito assim, ah, eu por
mim e pronto, o que eu penso tá certo, agora eu ‘tô’ levando mais em conta
o sentimento dele também [...] eu comecei a praticar mais a empatia, me
colocar mais no lugar dele, pensei ah, realmente eu também ‘tô’ chata para
caramba, também ‘tô’ cobrando demais, eu também ‘tô’ inventando muita
coisa, sabe, eu acho que eu ‘tô’ mais assim, me colocando mais no lugar do
outro (CÔNJUGE D1, 2019).
O casal D está no início da relação, mas mostram características diferenciadas na
etapa de formação de casal descritas Minuchin e Fishman (2007), em que o período
de formação de casal apresenta muitas dificuldades, isso pode ocorrer pelo pequeno
período de matrimônio, ou pelo fato de terem elementos individuais necessários para
a construção mais adaptativa do holon conjugal, mas percebe-se que houve um
crescimento individual que contribui para a relação conjugal.
O casal F não relata consequências pois não percebe crises no casamento, é incerto
dizer que trata-se de um exemplo de casamento pleno, pois a ausência de brigas,
crises e insatisfações podem ser compreendidas também como não-
desenvolvimento da intimidade, pois existem sim as relações saudáveis, mas não
significa dizer que os conflitos nunca estarão presentes, pelo menos em alguns
21
momentos de todo o ciclo de vida conjugal (SOUZA et al, 2005; ROSSET, 2016;
2017) “[...] até hoje não tive [...] às vezes eu fico nervosa quando chego em casa e
topo bagunça, ele fica quieto e não responde aí é onde acalma. Ele é mais calmo
então não tem como dar continuidade, ele sai de perto e acabou” (CÔNJUGE F1,
2019). “Crise eu entendo como brigas, discussões o tempo todo, ficar discutindo,
brigando, não tendo vontade nem de vir para casa, né, eu acho que seria isso [...]
nunca tive isso não, graças a Deus” (CÔNJUGE F2, 2019). Não ter ou não perceber
crises no casamento pode gerar consequências também, como já foi dito neste
artigo, pode significar uma anulação de um ou de ambos cônjuges, pode indicar uma
relação com pouca intimidade e até mesmo um desinteresse mútuo.
Quando questionados sobre a percepção de consequências no casamento em
decorrência das crises, o casal E demonstra ter opiniões distintas, sendo que um
acredita que não há um aprendizado ou resolução dos problemas, que brigas/crises
não são oportunidades de aprendizado
falar que fica fortalecido isso é papo de, não fortalece não, eu falo que a
rota de fuga mesmo, entendeu porque você evita de tocar mais no assunto,
porque você fala, fala, fala e a pessoa, né, mas a gente continua
conversando porque eu acho que água mole e pedra dura tanto bate até
que fura, eu acho que é por aí, conversa, orientação, no outro dia fica na
‘bad’, mostra-se arrependimento, mas não muda muito não (CÔNJUGE E1,
2019).
No entanto, o respectivo cônjuge compreende os momentos de dificuldades como
oportunidades de aprender sobre a relação e sobretudo sobre o outro
a gente tem que saber reconhecer a pessoa e se reconhecer porque às
vezes você Com você mesmo você não tá bem cara, Então tem que ter
paciência, quando eu vejo que ela tá com paciência curta eu me afasto,
deixo ela bem quietinha lá, vou ficar espetando ‘futucando’? A pessoa tem
que ser inteligente o suficiente para aprender a perceber o outro, se você
aprender a vivenciar esses ciclos você vai conduzindo bem, porque os
percalços vira e mexe vão surgir (CÔNJUGE E2, 2019).
O casal G não percebe consequências de crises, pois não identificam brigas como
crises, mas conseguem perceber mudanças em decorrência das brigas
[...] a gente nunca resolve nada [...] só tapa o sol com a peneira [...] antes
eu ficava removendo isso que não resolvia, agora não resolveu eu não fico
me culpando mais não, porque eu me desgastava mais por isso porque eu
queria resolver mas se a outra parte não quer resolver eu engulo e deixo ir
(CÔNJUGE G1, 2019).
Quando questionado se isso trouxe mudanças para a forma de funcionar do casal, o
cônjuge G1 (2019) responde “[...] para mim sim, porque eu que sofria, a outra pessoa
não pensa da mesma forma, a outra pessoa não sofre, então só eu que sofria”. O
cônjuge G2 (2019) também percebe mudanças
sim, sim, acho que da minha parte pelo menos eu tento me colocar mais na
situação dela porque para mim é mais cômodo, né, ‘tô’ em casa, tenho
minha mãe, tenho minha irmã, então para mim é mais cômodo. Às vezes eu
não sei as coisas que ela passa, igual, às vezes ela fala que não tá na casa
dela, não se sentir em casa, privada das coisas, então depois que
aconteceu isso tudo eu tento me colocar mais no lugar dela, é um pouco
difícil ainda porque, né, eu ‘tô’ na minha zona de conforto mas acho que
quando a gente sair daqui vai ser mais tranquilo porque vai estar os dois na
mesma situação, né [...] (CÔNJUGE G2, 2019).
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Interessante apontar que ambos referem-se a mudanças pessoais, o casal não olha
para mudanças na relação de casal e sim individualmente. Assim também parece
acontecer com o casal B que mesmo diante de um relato que suponha
amadurecimento e aprendizagem, o casal apresenta visões ainda muito
individualizadas com relação as consequências das crises vividas.
Aah, falando por mim, né, eu amadureci muito [...] tipo assim, era eu que
tava certa e pronto acabou, não queria saber, eu só queria que ele
admitisse e pronto "você tá certa" e pronto acabou, hoje não, com o passar
dos anos, né, tantos anos que a gente está junto, hoje eu consigo assimilar
na minha cabeça "pera aí, eu não fiz isso bem, eu não falei isso bem", né,
eu consigo assimilar melhor o que levou aquilo ali [...] ele passou também a
dar valor nos pequenos detalhes que para ele achava que não fazia
diferença, entendeu, mandava mensagem durante o dia [...] isso para mim
já fazia muita diferença, entendeu e depois que a gente foi se entendendo,
ele foi entendendo como que isso é importante para mim, entendeu e isso
foi uma mudança (CONJUGE B1, 2019).
Que a gente ta preparado pra lidar com situações piores, que a gente ta
preparado pra superar essas situações e também a gente sabe que são
situações que podem se repetir e depois dessas crises você... sempre uma
crise é diferente da outra, né, mas você sabe que você tem que se preparar
pra isso, pode acontecer novamente e vê até onde seu limite vai, até onde o
limite de cada um pode chegar com isso [...] eu [...] não dou mais, assim...
tanta importância pra pequenas coisas, por pequenos desentendimentos,
foquei mais no que eu penso, no que eu acho, assim, eu vejo que cada um
tem sua opinião dentro do relacionamento, mas, as vezes falam que um
entende o outro, mas não entende... eu vi que eu fiquei mais diferente
nesse ponto, acho que eu fiquei mais egoísta, né... infelizmente...
(CONJUGE B2, 2019).
Observa-se que as consequências relatadas pelo casal resultaram num
distanciamento, uma falta de sintonia e talvez também falta de interesse em
estabelecer uma união mais sólida, flexível e íntima.
Para o casal C, as crises vivenciadas também resultaram em distanciamento e
rigidez na relação, estas repetidas crises acabaram por ocasionar desunião e
afastamento total deste casal.
Não tenho saudades se ele for para longe, eu não sinto aquela... assim, né
[...] na realidade eu não gosto dele, não tem amor mais [...]. Eu tomo
remédio de depressão, aí eu fico olhando, escutando tudo aquilo que ele tá
dizendo, a gente poderia voltar a ser feliz igual quando namorava, mas é
uma coisa que não tem mais retorno [...] (CÔNJUGE C1, 2019).
[...] minha filha e a minha nora, ambas disseram que nós estávamos
doentes, que nossa relação estava doente, então se eu tô doente eu quero
saber que doença é essa e eu quero me tratar [...] aqui em casa falta muito,
falta carinho... [...] falta de comunicação, eu acho que a gente tinha que se
comunicar melhor, entendeu? (CÔNJUGE C2, 2019).
Apesar deste afastamento total em decorrência das crises, o cônjuge C2 (2019)
ainda acredita que possa haver algum tipo de reconciliação ou aproximação do
casal, como demonstra através do relato a seguir “[...] eu gosto sempre de estar de
bem com a vida, de bem com ela, bem dentro de casa [...]. Eu rezo para que a gente
chega a um denominador comum”.
se também que a busca por uma solução imediata de alguns cônjuges revela uma
não observância no que de fato pode acarretar a resolução da problemática dos
casais, isso pode ocorrer por inabilidade na comunicação, por dificuldade de
enfrentar dificuldades e frustrações, pela falta do olhar em relação a unidade, ou
seja, os cônjuges não se enxergam como unidade e sim individualmente, devido a
isto, alguns casais experimentaram situações de distanciamento, enfraquecimento
da relação e desunião. Alguns casais relataram enxergar nas adversidades uma
oportunidade de aprendizado, percebendo assim um fortalecimento da amizade e da
relação amorosa após os momentos de crise, relatando ter desenvolvido mais
paciência e empatia com o outro.
ao mesmo tempo, diferente do casal H que já passou pela maturação da vida adulta
e veio a ter o primeiro filho já com uma boa bagagem de experiência de vida.
O estágio de famílias com filhos em idade escolar ou adolescentes é marcado pela
entrada dos filhos na escola e estabelecimento de novas regras e ajustes de tarefas,
principalmente no que tange a vida escolar da criança e de acordo com que vão
crescendo (adolescência) os pais devem renegociar questões ligadas ao controle e
autonomia (MINUCHIN; FISHMAN, 2007).
O casal E tem duas filhas gêmeas na fase inicial da adolescência e uma filha adulta,
como eles já passaram pela experiência de ter filha adolescente, os maiores
aprendizados vivenciados nesta fase estão relacionados a filha adulta, pois ter uma
filha adulta é uma novidade para eles
[...] eu consigo [...] me enxergar dentro de uma relação e isso muitas vezes
assusta ele [...] eu tenho essa percepção e às vezes eles não entendem
[...]. Só o J. (esposo) e a M., minha filha mais velha, porque acha que não,
ela acha que tem que ser mamãe e papai dentro de casa, ficar fazendo
comida e ficar fazendo trabalho e não, eu trabalho, tenho meu dinheiro [...]
não existe isso, você tem que se tratar como mulher, mulher é mãe? É mãe,
sim, mas ela tem vários papéis dentro da sociedade, a mulher tem que
trabalhar, a mulher tem que ser mãe, né, tem que ta sempre bonita porque
se não tiver mais em pé do que a outra o marido vai olhar para outra, então,
olha o fardo que é ser mulher [...] (CÔNJUGE E1, 2019).
[...] A. (esposa) é uma pedida mais difícil, muito impetuosa, ela não para, já
a M. (filha mais velha) é uma pessoa, por exemplo, que ela para mais,
pensa mais, reflete mais e é isso que a gente precisa fazer para conviver
bem com as pessoas, a sua vontade precisa ser dividida para se seguir
bem, mesmo assim o conflito sempre vai existir, se não tiver paciência
sabedoria não vai seguir, tolerância, saber controlar [...]. Você sabe qual é a
melhor fase da vida no relacionamento? É a fase, de solteiro porque óh
(aponta) é assim o tempo todo (se refere aos gritos de discussão das filhas
adolescentes), isso aí você tem que administrar [...] (CÔNJUGE E2, 2019).
O casal F tem apenas uma filha adolescente, mas parece não afetar de forma
significativa a vida conjugal, no sentido de trazer os acontecimentos esperados para
esta fase “[...] a gente ‘tava’ tentando há 3 anos engravidar e não conseguia então
quando engravidou foi a felicidade dos dois e a L. (filha) é isso aí que você ta vendo,
sempre assim, calma, tranquila, companheira, só é bagunceira, igual ao pai”
(CÔNJUGE F1, 2019). O cônjuge F2 (2019) fala da dificuldade que pode existir
justamente nesta parte de se adaptar a criação do filho, não menciona a existência
de atritos, mas reconhece que não é uma tarefa fácil “[...] a criação dos filhos, acho
que é uma, porque cada um tem uma forma de criar, acho que isso acaba
dificultando e assim para gente graças a Deus é tranquilo [...].
Famílias com filhos adultos, a família volta a ser um sistema duplo, pois os filhos
trilharam seus próprios caminhos, necessitando novamente de uma reorganização,
estabelecer como será a relação de pais e filhos como adultos (MINUCHIN;
FISHMAN, 2007). No que tange a relação com os filhos, o casal não identifica
problemas, a não ser pela filha mais nova que ainda mora com eles, mas no que se
refere a relação conjugal o casal não conseguiu alcançar a homeostase da relação,
ou seja, o equilíbrio da relação, mas se observarmos o relato do cônjuge C1 (2019),
ficará claro que a suposta homeostase se perdera há muito tempo ou talvez nunca
tenha existido
no meu caso, falta de diálogo, sempre foi assim de mandar, de falar alto, de
achar que é o dono do pedaço [...]. Eu pensei há um tempo 7, 8 anos atrás,
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo geral analisar as percepções dos casais de
diferentes fases do ciclo de vida familiar com relação as crises conjugais,
investigando assim as dificuldades percebidas, como elaboram as estratégias para o
enfrentamento das crises, identificar as consequências que percebem com relação
as situações de crises vivenciadas, e por fim, identificar as semelhanças e
diferenças de cada casal em cada etapa do ciclo de vida familiar com relação as
crises conjugais.
Com relação as dificuldades percebidas pelos cônjuges entrevistados, foi possível
constatar que, de uma forma geral, os homens têm menos percepção do que as
mulheres em apontar as dificuldades e crises do casamento, pois somente a metade
dos que foram entrevistados disseram perceber crises. Além disso, o que mais foi
apontado pelos casais como motivos de crises foram as dificuldades ocorridas no
início da relação conjugal, isso deve-se as adaptações necessárias e os conflitos
que emergem nesta fase, ou seja, dificuldades comuns ao início do matrimônio.
A falta de flexibilidade pôde ser observada nas falas dos participantes e entendida
como propulsora de brigas e crises, pois esta característica impede o casal de se
organizar como uma unidade, pois nos casais onde foi possível perceber que havia
falta de flexibilidade eram os que mais tinham desentendimentos ou não resolução
dos problemas.
A comunicação foi apontada pelos cônjuges como uma das principais estratégias de
enfrentamento das crises conjugais, incluindo nesse aspecto a comunicação não
verbal, que contribui para o desenvolvimento dos limites, cumplicidade na relação do
casal. Por outro lado, a dificuldade na comunicação também foi apontada como uma
das principais dificuldades diante das crises conjugais, entretanto, como observado a
partir dos relatos de alguns casais, a discussão ou a resolução de conflitos por meio
de brigas tem sido evitado por estar sendo equivocadamente compreendido como
solução para relação, o que na verdade, revela a própria dificuldade do casal em se
comunicar. Percebe-se também que os relatos de alguns cônjuges revelam uma
não percepção da utilização de estratégias para lidarem com as crises, pois
acreditam que não vivenciam as crises e por isso não possuem estratégias.
Entretanto, essa condição pode comprometer a relação de alguns casais, pois
quanto mais o casal não enxerga as próprias dificuldades há uma maior
probabilidade de não conseguirem trabalhar o que precisa ser aprendido.
No que tange as consequências decorrentes das crises conjugais percebidas pelos
casais entrevistados, verificou-se que os casais dividem opiniões entre
fortalecimento da intimidade/amizade e desgaste, a maioria dos entrevistados
conseguem enxergar nas crises uma oportunidade para o aprendizado, seja para o
casal ou individualmente, mas para alguns as consequências são negativas, como
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eles afirmam, afastamento, desgaste, desunião, tudo depende da forma como cada
casal funciona, se o olhar da unidade é mais otimista ou mais pessimista.
Foi possível constatar que não há padrão de comportamento referente aos estágios
de ciclo de vida familiar, pois os casais tem muitas particularidades, o que resulta em
modos de funcionamento totalmente diferentes, portanto a forma como os casais de
cada ciclo lidam com as crises conjugais depende mais de como funciona o casal,
sua experiência familiar anterior, o contexto em que estão inseridos, o tempo de
relação, a idade que possuem, do que em que estágio eles estão propriamente, se
estão dispostos a aprenderem juntos, se investem na relação.
Diante do exposto foi possível constatar que as percepções das crises conjugais nos
casais de diferentes fases do ciclo de vida familiar tem relação com o evento mais
marcante na relação conjugal, pois muitos casais vivenciaram/identificaram como
crise conjugal a fase inicial do matrimônio, a da formação do casal. Mesmo cônjuges
que estão em um momento em que possuem filhos adultos, sinalizaram como único
momento de crise a fase inicial da relação, pode ter ocorrido um aprendizado tão
relevante nessa fase que o casal não consegue discriminar outras crises em outros
momentos do ciclo vital, por sua vez, percebe-se que casais que enfrentaram essas
crises iniciais podem não ter realizado aprendizados efetivos e que dificultaram
outros aprendizados importantes em outros momentos da relação, talvez isso
explique o fato que alguns casais perceberem crises ou estratégias de
enfrentamento e outros casais não terem tais percepções.
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