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experimento
Introdução
saberes que não são científicos. Pretendemos analisar esse debate por meio do estudo
dos Almanaques.
árabe, e designava o lugar onde os povos nômades paravam seus animais e iam
objeto notável que reúne informações com intuito de guiar as práticas da vida cotidiana.
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A partir das definições apresentadas, percebemos uma diferença significativa
entre a construção dos saberes produzidos pelos Almanaques e a construção dos saberes
que não seguem suas regras metodológicas. O discurso científico se legitimou como o
estudo. A nossa escolha por outro campo para esse estudo se deu por possibilitar um
contribuição crítica, fez com que ela se tornasse uma disciplina autônoma no século
também os conhecimentos e a construção dos saberes que não são científicos. Enquanto
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que a segunda segue regras metodológicas e princípios epistemológicos
é de certa forma, a busca da verdade. E a verdade não existe fora do poder ou sem o
poder. Assim, procuraremos fazer um estudo que não anule a questão do poder no
Justificativa
estar dentro de uma instituição de ensino que produz uma ciência que possui, na
conhecimento que não são produzidos por meio das regras epistemológicas e
ciência.
Acreditamos, mesmo assim, que nas universidades ainda exista espaço para
conseguimos conceber a idéia de que um conhecimento seja mais válido do que outro.
Acreditamos que não há uma forma de conhecimento completo e fechado, cada saber
tem suas limitações e suas qualidades, de forma que cada conhecimento complementa o
outro.
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A partir disso, surgiu o interesse de estudar a produção do conhecimento
científico e não científico. A escolha de fazer esse estudo a partir da análise dos
Almanaques se deu porque, nos Almanaques, há uma tentativa de agregar várias formas
Essa escolha se deu porque percebemos que alguns pontos não foram
contemplados nesse debate. Então pretendemos fazer esse estudo por meio da
conhecimento.
mesmo espaço, vários tipos de saberes. Esperamos, que esse resgate, acompanhado de
Problematização
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Na Sociedade Moderna Ocidental, a Ciência Moderna é reconhecida e
rigorosa - para que o conhecimento produzido se aproxime cada vez mais da realidade.
Assim, todo o conhecimento que não é produzido aos moldes da ciência - mesmo que
por esses eventos sem ter tido nenhum tipo de experiência. Esses homens já não capazes
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de contemplar a paisagem urbana, saborear uma comida, perceber a relação do cheiro da
terra com o barulho do vento e a chegada da chuva, contemplar uma obra de arte.
acreditamos que ainda seja possível falar de experiência na sociedade moderna. Embora
realizado nos Almanaques, que ainda é produzido – pelo menos uma parte dele - por
entre o homem e o meio no qual está imerso. Por meio de observações e vivências
como na Ciência Moderna, é feita por meio de uma observação sistemática da natureza.
Mas essa observação sistemática, muitas vezes bastante rigorosa, se faz – também - por
intermédio da experiência. Não há uma total separação entre sujeito observador e objeto
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Os saberes desenvolvidos nos Almanaques não pretendem, necessariamente,
especialização, não precisa obedecer a padrões estilísticos de produção, assim como não
capitalista. Longe dessas amarras tão caras a Ciência Moderna, o saber produzido nos
Almanaques são saberes que possibilitam um olhar interdisciplinar, com uma escrita
ambiente em que a necessidade gera laços mais efetivos do homem com o meio; e, em
segundo lugar, porque não tínhamos condições de analisar toda a produção do saber
expressa nos Almanaques, que é um gênero que existe há séculos e em diversas regiões.
Essa relação entre almanaqueiro e o meio em que está imerso, que nos incitou a
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Nesses termos, o conhecimento produzido é
inseparável da corporalidade, constituída dos corpos, da
linguagem e da história social.
(NOGUEIRA, 2008:74)
escrito pelo almanaqueiro Costa Leite e tem cerca de 50 anos. Costa Leite nasceu no dia
popular.
Perpétuo – editado pela primeira vez em 1703 e escrito por Jerônimo Cortez
Astrologia.
penetrou na produção dos Almanaques?”, “Há uma total dissociação entre o discurso
Quadro Teórico
Santos, Michael Foucault, Giorgio Agamben e Max Weber. No conjunto dos estudos
desses autores, acreditamos que eles contribuíram significativamente no que diz respeito
à Ciência Moderna, a relação de poder que existe no discurso científico e sua relação
grau de especialização que o discurso científico produz. Escolhemos esses temas porque
de saberes desenvolvida nos Almanaques, que é a proposta desse estudo. Embora esses
autores não tenham, necessariamente, uma mesma linha teórica, algumas de suas
demais racionalidades. Ao fazer esse estudo, Souza Santos considera que o projeto da
emancipação. Segundo esse autor, o pilar da regulação acentuou-se sobre três princípios
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acentuou-se a partir das três lógicas de racionalidade weberiana – a moral-prática,
estético-expressiva e cognitivo-instrumental.
Para Souza Santos, o conhecimento reconhece-se num certo tipo de saber a que
entre um estado de ignorância – caos – para certo tipo de saber – ordem. Enquanto no
Souza Santos afirma que, essa distinção entre sujeito e objeto, acentuada a partir
do momento que o colonialismo - nos termos do autor- foi recodificado como ordem,
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Incide na ignorância da reciprocidade e na ineptidão de compreender o outro a não ser como objeto.
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É o conhecimento adquirido no procedimento, sempre inacabado, de nos tornarmos capazes de
reciprocidade por meio da construção e do reconhecimento da intersubjetividade.
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imprescindível para consolidar uma concepção instrumental e regulatória, num
Moderna faz com que a relação sujeito-objeto torne-se uma relação que interioriza o
Souza Santos afirma, ainda, que, para garantir seus princípios epistemológicos e
suas regras metodológicas a Ciência Moderna rejeita qualquer tipo de conhecimento que
possa desequilibrar a concepção regulatória que tem como forma de saber a ordem.
ciência. Qualquer afirmação que tiver o mesmo sentido que o proposto pela ciência, que
diga o mesmo que ela, se não obedecer a certas leis de construção são excluídos do
entre discurso científico e verdade. Escolhemos analisar essa relação, a partir de alguns
Defesa da Sociedade. Essa escolha se dá, porque não há como falar de produção de
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Foucault argumenta que as relações de poder não decorrem essencialmente da
resume como algo que diz não, que apenas tolhe, impõe limites. A sociedade moderna
produtiva, uma positividade. Ele não nega o sujeito, ele cria o sujeito, para que possa
controlar suas ações, controlar suas escolhas, e utilizá-los ao máximo. Afirma, ainda,
disciplinares, nasce um tipo particular de saber que é a ciência humana. Esse saber está
completamente vinculado ao poder, pois não existe, para esse autor, um saber neutro.
conhecimentos produzidos pela ciência, mas uma abolição dos “efeitos centralizadores
necessidades e limitações por meio de uma objetividade universal, é anulada por esse
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A verdade não existe fora do poder ou sem poder
(...) A verdade é deste mundo; ela é produzida nele
graças as múltiplas coerções e nele produz efeitos
regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu
regime de verdade, sua “política geral” de verdade:
isto é, os tipos de discursos que ela acolhe e faz
funcionar como verdadeiros, os mecanismos e as
instâncias que permitem distinguir os enunciados
verdadeiros dos falsos, a maneira como sanciona uns
dos outros; as técnicas e os procedimentos que são
valorizados para obtenção das verdade; o estatuto
daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona
como verdadeiro.
(FOUCAULT, 2000: 12)
percebida como a relação entre saber científico e experimento. Segundo esse autor, para
ainda, que a Ciência Moderna nasce de uma descrença sem precedentes em relação à
que caracteriza o tempo presente é que toda autoridade tem o seu fundamento no
‘inexperienciável’, e ninguém admitiria aceitar como válida uma autoridade cujo único
transmitir experiências. Afirma que a humanidade perdeu a experiência, que ela existe,
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Experiência e Origem da História (2005), Agamben nos explica essa exteriorização da
experiência:
Embora os autores escolhidos não pertençam a uma mesma linha teórica, como
foi dito anteriormente, podemos perceber, de certa forma, que alguns de seus
pressupostos teóricos se complementam. A partir disso, optamos por fazer um estudo
desses autores de forma que possamos aproveitar suas constatações como
complementares umas das outras. Pois, consideramos que se estudássemos um ou outro
isoladamente, não seria suficiente para analisar o que estamos propondo nesse estudo.
Objetivos
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Objetivo Geral: Analisar como se coloca a problemática experiência e
experimento na produção dos saberes dos Almanaques e da Ciência Moderna.
Objetivos específicos:
Perguntas:
expropriado de experiência?
eruditos e populares?
experimento?
moderna?
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Metodologia
Como foi dito anteriormente, esse estudo pretende analisar o debate entre os
saberes produzidos no discurso cientifico e os saberes produzidos nos Almanaques.
Dentre esse gênero literário, escolhemos analisar os Almanaques Nordestinos, mais
especificamente, o Calendário Nordestino de Costa Leite.
Bibliografia
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 8. Ed. São
Paulo: Brasiliense, 1986.
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FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: Curso no Collège de France (1975-
1976), (trad. de. Maria Ermantina Galvão). São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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