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Índice

FOTOS MarciO MaSula

08 48 108
LINHA DO TEMPO FOLCLOrE FESTA DA LINguIçA
Dos bandeirantes aos barões, Tradição e brasilidade Tradição no
riqueza fruto do trabalho em solo bragantino calendário nacional

10 54 112
HISTÓrICO ArquITETurA NãO DEIXE DE vISITAr
Grande parte da história Imponência e conservação Lugares interessantes
do desenvolvimento do Brasil do passado e gostosos de se conhecer

22 60 114
MEMÓrIAS ArTES EXCELêNCIA PArA O FuTurO
Lembranças que Terra fértil para quem deixa a sensibilidade A educação como centro
não podem ser apagadas aflorar: criatividade e inspiração de desenvolvimento humano

24 74 118
MuSEuS MEIO AMbIENTE DADOS ESTATíSTICOS
Relíquias do interior brasileiro A mata e a água Compreensão do
em acervos bem preservados envolvendo os sentidos legado bragantino

28 84 120
rELIgIOSIDADE TurISMO rurAL GENTE DA TERRA
A fé como ícone As delícias rurais O retrato de um
de um povo em nossas mãos povo de sorriso largo

38 92 122
FErrOvIA ESPOrTES brAgANTINO
A riqueza nos trilhos cortando Berço Impressões e
o Estado de São Paulo de talentos valores aprendidos

40 102
rEvOLuçãO DE 32 AErOCLubE
Ideais e bravura na luta Crescer sempre
pela democracia brasileira foi uma marca da cidade

42 104
IMIgrANTES gASTrONOMIA
Dificuldades e conquistas A fartura da
em terra estrangeira mesa interiorana

4 Cidade&Cultura
andré Prata
daniel abicair

Editorial
EDITORIA
Bragança Paulista é uma cidade que nos deixou encanta- COnsELhO ExECUTIvO: Eduardo Hentschel, Luigi Longo,
Márcio Alves, Roberto Debouch e Leila M. Machado
dos pela imponência arquitetônica de seus casarios espa- EDITORA: Renata Weber Neiva
lhados pelas ruas, que guardam tantas histórias. Deixou- REpORTAgEm: Andrea Silva Nilsson, Jean de Castro
e Nathália Weber
-nos maravilhados por suas belas e bem cuidadas igrejas AssIsTEnTE DE pRODUçãO: Evellyn Alves
COmERCIAL: Paulo Zuppa e Thabata Alves
com ares de catedrais, verdadeiros monumentos de fé que pRODUçãO gRáfICA: Purim Comunicação Visual
tornam uma visita de cunho espiritual em um grande tour (www.purimvisual.com.br)
pRODUçãO DIgITAL: OnePixel (www.onepixel.com.br)
por obras de arte com dimensões extraordinárias, saídas pRODUçãO AUDIOvIsUAL: Leo Longo
fOTOgRAfIAs: Marcio Masula, Beto Maitino e Thiago Andrade
das mãos de seus pintores e escultores inspirados pelas
fOTO CApA: André Prata
mãos dos anjos. O centro, com suas ruas estreitas e íngre- ImpREssãO: Gráfica Silvamarts
CIDADE & CULTURA é uma publicação anual da ABCD Cultural.
mes, dá a real dimensão da colina na qual os precursores Todos os artigos aqui publicados são de responsabilidade dos autores, não
representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados.
escolheram fazer dali seu lar. No topo, Bragança é um retra- Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas.

to da opulência dos áureos anos cafeeiros que deixa retra- PARA ANUNCIAR: (11) 3021-8810
tada essa herança em cada canto da cidade. CONHEÇA OS NOSSOS SITES
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Bragança Paulista 5
Linha do tempo
1763

1765 1767
O povoado Torna-se Distrito É elevada à
recebe o nome de Paz e Freguesia condição de vila e
de Conceição do de Conceição denominada Vila
Jaguari do Jaguari Nova Bragança

1925 1939 1944

Recebe o Fundação do Recebe o


título de Aeroclube de nome de
Cidade Bragança Bragança
Episcopal Paulista

8 Cidade&Cultura
FOTOS AcervO JOSé rOberTO vAScOncellOS

reprOduçãO / márciO mASulA


AcervO eSTúdiO cASArãO
1856 1874 1891
Vila Nova Fundação da Fundação da
Bragança se Santa Casa de Sociedade
emancipa Misericórdia Ítalo-Brasileira de
de Atibaia Socorros Mútuos

1964 1976 2011


4ª Festa
da Linguiça
2014
Torna-se Fundação Primeira
Estância da USF Festa da
Climática Linguiça

Bragança Paulista 9
Histórico

desenvo
Acreditar, desbravar e

Assim como vários povoados começaram a sur- se formavam e a produção era boa e farta, mesmo
gir com a passagem dos bandeirantes, Bragança com os métodos rudimentares da época. E assim
Paulista tem seu território divulgado por eles. Be- se faz nascer uma cidade. No século XVIII, a Região
las paisagens, clima ameno, condição de solo rica Bragantina, formada pelos municípios de Águas de
e, principalmente, passagem para o interior. Com Lindóia, Amparo, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões,
o conhecimento das novas terras desbravadas, Bragança Paulista, Joanópolis, Lindóia, Monte Ale-
abriu-se um leque imensurável de produção e co- gre do Sul, Nazaré Paulista, Pedra Bela, Pinhalzi-
mércio para as vendas dos que por ali passavam nho, Piracaia, Serra Negra, Socorro, Vargem e Tuiuti,
em busca dos ouros de Minas Gerais. As fazendas com solo apropriado ao cultivo do café, começa a

10 Cidade&Cultura
lver Acervo estúdio cAsArão
à Nossa Senhora da Conceição. Alguns dizem que
esse feito seria uma promessa à Virgem que Dona
Ignácia da Silva Pimentel fez para curar seu mari-
do, o Sr. Antonio Pires Pimentel, de uma doença
grave. A verdade sobre as reais intenções da eleva-
ção da capela, nunca conseguiremos saber, mas o
fato é que em torno dela começou a se formar um
pequeno povoamento que, em 15 de dezembro de
1763, recebeu o nome de Conceição do Jaguary.
Dois anos depois, passou a ser denominado Dis-
se destacar no cenário brasileiro e, consequente- trito de Paz e Freguesia de Conceição do Jaguary.
mente, os que eram apenas fazendeiros que viviam Com desenvolvimento rápido, virou Paróquia e, em
quase para a subsistência, transformaram-se em 1767, foi elevada à condição de Vila, sob o nome
ricos cafeicultores, edificando fazendas com luxu- de Vila Nova Bragança. Ligada a Atibaia, porém com
osas sedes, muitos escravos, casas na Vila e toda todos os requisitos para ser uma cidade, em 1856,
a comodidade e modernidade que a época poderia emancipou-se e virou o município de nome Bragan-
fornecer. Mas, antes desse fausto progresso, te- ça. Somente 88 anos depois, o “Paulista” foi agre-
mos a família Pimentel que, à margem do Ribei- gado ao seu nome para diferenciar essa cidade de
rão Canivete, ergueu uma capela em homenagem Bragança, no Pará.

Bragança Paulista 11
Histórico

Imprensa Antonio Pires Pimentel


em Bragança Por José Roberto Vasconcellos

“Foi o Cap. José Candido Fur- Nasceu na região do Guatybaia, Freguesia de São João, pertencente
quim de Campos quem em janei- ao Bispado de São Paulo, em 1704, e Ignacia da Silva nasceu em
ro de 1875, trouxe para aqui o 1706, não se sabendo onde. No censo de 1767, consta que Antonio
primeiro prelo, fundando, em fe- Pires Pimentel, de 61 anos, e sua mulher Igça A. Silvayra (Ignacia da
vereiro desse mesmo ano, com Silva) de 44 anos, residiam no Jaguary Acima e tinham quatro filhos:
o nome de Século 19, o primeiro José (1749), Maria (1752), João (1759) e Francisco (1762). O bairro
jornal que teve Bragança e cujo Jaguary Acima, eram terras do sertão de Jaguary... em dias de hoje
formato era pouco menor que o região de Amparo, Jacutinga, Ouro Fino, Pouso Alegre, Paraisópolis,
da atual cidade. Desgostoso por Camanducaia, Joanópolis e Vargem. Antonio Pires Pimentel casado
causa de perseguições que lhe com Ignacia A. Silveyra faleceu em 17 de outubro de 1774, com a
moveram e guerra atroz que so- idade de 70 anos, pouco ou mais, na Freguesia de Conceição do Ja-
freu, três anos depois passou a guary, sendo sepultado no pátio da Igreja Matriz. Não há menção de
propriedade da tipografia a uma filhos deixados pelo falecido. (Do Livro de Assentamento de Óbitos
associação que logo começou a – Freguesia de Conceição do Jaguary). Ignacia da Silva, como consta
estampar um outro jornal intitu- no escritos antigos, é referida no registro de óbito de seu marido,
lado Guaripocaba. Quando ainda com o nome de Ignacia A. Silveyra. (Esse talvez seja seu nome
se publicava este jornal, o senhor correto). Quando da demolição da antiga Catedral – 1967 –, por
capitão Furquim de Campos fez ocasião dos serviços de terraplanagem foram encontradas, entre
aquisição de um outro prelo, co- fragmentos de taquara e terra, restos de ossada humana, atribuídos
meçando então a publicar outro na época como sendo de “índios”. Noticiaram os jornais locais que a
semanário com o nome de Laba- ossada encontrada fora entregue aos cuidados da Prefeitura Munici-
ro. Órgão sem cor política e ge- pal para o devido enterramento no Cemitério Municipal. Não houve
nuinamente popular. Mais tarde divulgação de a ossada ter sido necropsiada. Nos livros do Cemité-
este mesmo semanário passou rio da Saudade não há qualquer menção de sepultamento daquela
a denominar-se Bragancense e ossada. Não seriam os restos mortais de Antonio Pires Pimentel?
os exemplares de sua publica-
ção, que se fazia em dias inde-
terminados, eram distribuídos
gratuitamente. Além de aprendi-
zagem da arte tipográfica por ele
iniciada, o capitão Furquim de
Campos foi o fundador, em Bra-
gança, de uma escola noturna,
a primeira que ele teve, assim
como foi sócio fundador de uma
loja maçônica. Exerceu diversos
cargos de eleição popular e pelo
seu grande préstimo e austerida-
Acervo José roberto vAsconcellos

de de caráter, mereceu e gozou


sempre de respeitosa estima de
seus concidadãos. O Século 19,
primeiro jornal que fundou, era
de feição republicana.”
Fonte: Passando pelo Passado, José Rober-
to Leme de Oliveira – “Betinho”.

Antonio Pires Pimentel -


12 Cidade&Cultura cópia-retrato
MARCIO MASULA
Nesse ínterim de nomes e datas, o que se viu foi um vertigino-
so crescimento da população e da produtividade cafeeira.

Café: a bebida mágica e suas lendas


No século VI, na antiga Abissínia, atualmente Etió-
pia, um pastor de nome Kaldi, após um longo dia de
caminhada em busca de alimento para seus animais,
não conseguia dormir por tamanha movimentação do
rebanho que se agitava incessantemente. Preocupa-
do com tal agitação de todos, Kaldi foi procurar um
mosteiro para sanar suas dúvidas quanto às reações
“estranhas” dos animais. Pensava até em coisas so-
brenaturais, o que era comum na época. Após relatar os
fatos aos monges, estes o seguiram até o local dos “fenômenos” ocorri-
dos anteriormente e ficaram a observar o cotidiano dos animais. Após alguns momentos, um
monge percebeu que havia um arbusto que continha uns frutos vermelhos, semelhantes às cerejas, e
que as cabras eram atraídas por ele. Então não teve dúvidas: pegou o tal fruto e socou-o em seu alforje
de couro. o próprio Kaldi acabou por experimentar a planta e sentiu-se muito animado. No mosteiro,
o abade levou a amostra para cozinhá-la e o resultado foi uma bebida muito amarga que fez com que o
abade jogasse o precioso líquido na brasa do fogão. Ao queimar os frutos, o cheiro que se espalhou pelo
ambiente foi tão intenso e delicioso que os monges retomaram a experiência e continuaram a testá-la,
até que conseguiram um equilíbrio. Ficaram tão motivados e fortificados que a cantoria tomou conta do
mosteiro naquela noite. E, de abadia em abadia, o tal fruto foi se espalhando até os dias de hoje. Quanto a
Kaldi, este usava as tais “cerejas” para a confecção de uma pasta tonificante, misturada com manteiga.

Lendas à parte, a verdadeira origem do café é ainda des- Francesa em 1720, contrabandeado pelo sargento-mor
conhecida. o que se tem certeza é que na Etiópia Central Francisco de Mello Palheta a mando do governador de
ainda brotam pés dessa planta nas encostas de suas Maranhão e Pará, João da Maia da Gama. De lá para cá,
montanhas. o cafeeiro ficou conhecido mesmo no século gradualmente o café foi substituindo a febre do ouro e
XV, quando este alcançou o Mar Vermelho e chegou à Ará- tornou-se o principal produto exportado pelo Brasil. Uma
bia. Um viajante romano, Pietro Della Valle, foi o primeiro curiosidade é que todos os pés de café que proliferaram
a detalhar a planta em correspondência ao amigo e médi- em nosso país são originários daquele de Amsterdã que
co Mario Schipano. o valor das descrições foi tão impor- é do tipo Coffea arabica. Depois chegaram o tipo Bourbon
tante que essas cartas estão guardadas na Biblioteca do Vermelho, o de Sumatra e outros. Com a prosperidade
Vaticano. os efeitos dessa bebida foram tão eficientes desse cultivo, os cafeicultores tornaram- -se politicamen-
que o café chegou a ser considerado tóxico e proibido, te muito influentes. Chamados de os Barões do Café,
pois se acreditava que poderia envenenar as mentes dos suas fazendas eram verdadeiras vilas, algumas contendo
fiéis. Foi do porto da cidade de Moka que os venezianos até moeda própria. Mas todo esse poder se vê à míngua
fizeram seus carregamentos de café para vendê-los na quando da crise de 1929, que derrubou o preço de nosso
Europa e, em 1616, clandestinamente, foi levado do Iê- produto a níveis muito inferiores aos custos para seu cul-
men um pé de café para o Jardim Botânico de Amsterdã. tivo. Em Bragança, o cultivo do café tomou conta de seu
Em mudas, o cafeeiro chegou à França como presente território com as fazendas: Pedra Chata, de Domingos
ao rei Luiz XIV. Pronto. Sementes e mais sementes, pés Leonardi; da Família Cometti; Santo Antonio, da família
e mais pés e assim as “cerejas” de Kaldi conquistaram Godoy Moreira; da Família Mazzuchelli; da Família Raposo
o mundo. No Brasil, foi graças à biopirataria que nosso de Medeiros; da Fazenda São Miguel, da Família Felisbino
ouro verde atravessou nossas fronteiras, vindo da Guiana da Silva, entre outras.

Bragança Paulista 13
Histórico

Grupo Escolar Dr. Jorge Tibiriçá

MARCIO MASULA
A educação sempre fez parte do desenvolvimento
de um povo e de um país. Sem ela, as consequên-
cias são a marginalização da população e a submis-
são ao poder. Bragança sempre levou isso a sério,
oportunizando aos seus cidadãos o melhor ensino.
Um desses ícones, que representa com magnitude
e excelência o aprendizado, é o Grupo Escolar Dr.
Jorge Tibiriçá. Berço de grandes nomes em nossa
política, foi fundado em 1897 com o nome de Gru-
po Escolar de Bragança, sob a direção do Profes-
sor Raphael de Moraes Lima. Em 1906, recebeu
o nome de Dr. Jorge Tibiriçá, que, no ano anterior,
como presidente do Estado, fizera uma visita ao
Grupo e, dadas as circunstâncias do prédio, incum-
biu o Sr. Cesário Motta a encontrar um lugar para a
construção de um novo edifício específico para fins
educacionais. A escolha recaiu em um terreno situ-
ado na R. Cel. Leme, no centro da cidade, e este foi
doado pela Câmara Municipal. Com uma população
espalhada pelos campos, pequenas escolas foram
erguidas sem condições corretas para as crianças.
E foi justamente o Grupo que acolheu todos os alu-
nos, impulsionando significativamente o ensino dos
munícipes. O prédio foi inicialmente tombado pelo
CONDEPHAC – Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Artístico e Cultural de Bragança Paulista
(Decreto Municipal nº 11.303, de 28/12/2000, e
anos após também pelo CONDEPHAAT) e recebe o
nome de EMEF Dr. Jorge Tibiriçá.
Onde: Rua Coronel Leme, s/n - Centro

Biotônico Fontoura
“Vamos reviver um bragantino que outrora escreveu vários livros os quais foram autênticos marcos
na evolução industrial farmacêutica. Estou falando do bragantino Cândido Fontoura, cientista, laureado
pela Academia Nacional de Medicina e técnico de uma das mais importantes indústrias farmacêuticas
de nosso país. Fontoura também era escritor brilhante, que há muitos anos trabalhou pela melhoria
das condições econômicas e sociais do farmacêutico, com obras divulgadas e aplaudidas em todas as
Américas. Palavras de Fontoura: ‘Eu nunca prestei serviços a Bragança; ao contrário, Bragança é que
me prestou o grande serviço de me aturar durante dez anos em que lá exerci minha profissão em uma
pequena farmácia com uma atroz dispepsia nervosa. Mas foi de lá que eu trouxe para São Paulo os
fundamentos da minha carreira, o Biotônico, o estudo, a saúde pública e as farmácias. E um laboratório
de análises clínicas do qual se originou o Instituto Medicamenta’.”
Fonte: Passando pelo Passado, José Roberto Leme de Oliveira – “Betinho”.

14 Cidade&Cultura
Histórico

ACeRvO eStúdIO CASARãO

MARCIO MASULA
Matadouro
Na primeira metade do século 19, na vargem do La-
vapés, pouco aquém do açude, chamado Tanque do Moi-
nho, existiu uma velha casa que servia de matadouro.
Era um casebre impróprio para a matança de reses. A
Assembleia Legislativa da Província de São Paulo autori-
zou a Câmara Municipal de Bragança a vender em hasta
pública a casa que servia de matadouro, aplicando o re- melhoramentos necessários ao seu perfeito funcio-
sultado da venda na construção de um novo prédio. namento e também ao seu embelezamento. Ins-
Atendendo à necessidade desse serviço, a Câmara talam-se mangueiros para suínos, duas caldeiras
Municipal mandou construir o prédio para o matadouro, (uma para aquecer água e outra para receber essa
na vargem do ribeirão Lavapés, em um grande descam- água quente), um guindaste de levantamento de
pado existente ao final da rua do mesmo nome: Rua pesos e poços de pelação de suínos abatidos para
do Matadouro (atual Rua Dr. Freitas). A construção foi o consumo público.
supervisionada pelo mestre de obras Raffaelle Fiorillo, No Relatório Geral da Prefeitura Municipal, do prefeito
e o Matadouro Municipal, depois de concluído, foi inau- Raul de Aguiar Leme, em novembro de 1933, consta a
gurado em 19 de outubro de 1898. seguinte informação: ‘construiu-se no local onde existiu
O Decreto Municipal nº 4 de 15.12.1898 regulamen- o antigo matadouro, uma casa para o Administrador e
tou o funcionamento e uso do Matadouro Municipal, aproveitou-se, na construção, parte do material antigo...’
que tinha como administrador o capitão José Nóbrega (hoje é a casa de n.º 835 da Rua Dr. Freitas).
e um único magarefe (matador e esfolador de reses), Na grande esplanada em frente ao Matadouro Mu-
Raphaelle Scalioni. Nessa época os animais eram aba- nicipal, a projetada Praça do Matadouro torna-se rea-
tidos de forma primitiva e cruel. lidade no início da década de 30 do século passado.
Em 1924, o prefeito Dr. Valêncio do Prado, em ter- Em área de 30 mil m², o prefeito Raul de Aguiar Leme
reno localizado junto à margem direita do Ribeirão do faz surgir uma grande praça ajardinada, com galerias
Lavapés, aos fundos de uma grande esplanada próxi- fluviais e ruas cascalhadas. Os terrenos laterais à
ma ao prédio que até então servia como matadouro grande praça foram divididos em 32 lotes que foram
e para atender às exigências sanitárias em vigor na vendidos para a construção de casas.
época, iniciou a construção de um moderno e novo O Matadouro, marco que deu origem ao nome do
Matadouro Municipal tornando-o vasto e espaçoso bairro do mesmo nome, funcionou regularmente até
para as suas atividades. A população vê o original a última década de 60, quando teve suas atividades
estilo arquitetônico do prédio, resultando um visual definitivamente encerradas. Por vários anos o prédio
bastante difundido no ecletismo entre os projetos ficou em total abandono e a mercê do tempo. A partir
institucionais da época. Na fachada, sobre o portão de 1972 passou a ser utilizado como sede de agre-
principal, gravou-se “1924”, envolto por um adorno, miações recreativas, o que propiciou o seu não desa-
como lembrança do ano de sua construção, e aos parecimento total da paisagem urbanística do tradicio-
fundos, sobre outro portão, gravou-se como símbo- nal bairro. Entretanto, nada impediu que seu aspecto
lo do matadouro bragantino a figura Cabeça de Boi passasse por uma descaracterização.
envolto por um atavio estilizado. Em 25 de abril de Integra o patrimônio ambiental urbano da nossa ci-
1925, era festivamente inaugurado o novo Matadou- dade o prédio do Matadouro Municipal, exemplar rema-
ro Municipal, quando se procedeu à benção do prédio nescente do período econômico da criação de suínos,
pelo Padre Luiz Gonzaga dos Santos Pereira, Vigário- com planta e tipologia arquitetônica da época.
Fonte: José Roberto Vasconcellos.
-Coadjutor de Bragança.
Durante o triênio de 1926 – 1928, no Matadouro Atualmente tombado pelo CONDEPHAC, é um
Municipal são introduzidos pela Prefeitura diversos Polo Cultural.

16 Cidade&Cultura
Histórico

Irmandade do
Senhor Bom
Jesus dos Passos
da Santa Casa de

MARCIO MASULA
Misericórdia de
Bragança Paulista
A Santa Casa de Bragança Paulista teve início com a fun- da Santa Casa de Bragança foi inaugurado em 8 de dezem-
dação da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, em bro de 1877, em prédio alugado, à Rua Lavapés, atual Rua
31 de agosto de 1874, com o objetivo de servir a Deus pela Barão de Juqueri. Frente à crescente necessidade de mais
observância do culto à religião Católica Apostólica Romana espaço, em 1896, iniciou-se a construção de instalações
e o exercício das obras de misericórdia; e, como princípio, apropriadas. A obra foi inaugurada em 1900, depois de mui-
manter hospital de caridade e promover a devoção ao culto to trabalho, embora a parte da frente já estivesse sendo
do seu excelso padroeiro o Senhor Bom Jesus dos Passos, usada desde 1898. Graças aos esforços de seus adminis-
compromisso aprovado por Dom Lino D. Rodrigues de Car- tradores, a Santa Casa expandiu-se, construindo alguns pa-
valho, Bispo de São Paulo. Foram seus fundadores o padre vilhões. Em 21 de agosto de 1905, chegaram a Bragança
Simplício Bueno de Siqueira, o Coronel Luiz Manoel da Silva as Irmãzinhas da Imaculada Conceição e ali permaneceram
Leme, o Capitão Francisco de Assis Valle, e os ilustres Srs. até 1974. Amabile Lucia Visintainer, em religião Madre Pau-
José Gomes da Rocha Leal, José Guilherme Cristiano, José lina do Coração Agonizante de Jesus, viveu de 1909 a 1918
Narciso Pinto, Joaquim Lopes Maciel, entre outros. Desde o em Bragança Paulista, na congregação por ela fundada. Se-
século 13, diversas Casas de Misericórdia foram fundadas gundo o padre Luigi Maria Rossi, pároco de Nova Trento-SC
na Europa e, inclusive em Portugal. O exemplo português e conselheiro de Madre Paulina, foram nove anos de prova,
foi seguido logo no início da colonização com a fundação considerados “uma clara permissão de Deus para que Ma-
da primeira Irmandade brasileira, em 2 de julho de 1543, dre Paulina se tornasse vítima de amor e de reparação”.
na atual Santos, então capitania de São Vicente. O hospital Fonte: Arquivos Santa Casa de Bragança Paulista

Centro Cultural Geraldo Pereira - Matadouro


As obras de reforma e restauração do prédio do antigo para cerca de 100 pessoas, sala de exposições, salas de
Matadouro Municipal e a revitalização da praça no seu oficinas, almoxarifado, salas da administração e quatro
entorno, que aconteceram durante o período de 16 me- banheiros, sendo dois para pessoas com deficiência.
ses, transformaram o espaço num lindo centro cultural O Centro Cultural recebe frequentemente exposições
– Centro Cultural Geraldo Pereira. artísticas e literárias, saraus, oficinais culturais de dan-
O espaço está sob a administração da Secretaria de ça, música, artes visuais e teatro, lançamentos literá-
Cultura e Turismo, é amplo e composto de um auditório rios, palestras, rodas de debate, entre outros eventos.
Além disso, tornou-se a nova sede dos projetos cultu-
rais que envolvem a Banda Municipal, a Banda Sinfônica
Jovem de Bragança Paulista e a Orquestra de Violeiros do
Rio Jaguari, consequentemente, a oficina de viola caipira.
O Centro Cultural Geraldo Pereira é uma conquista
valiosa para o município e enriquece as opções de lazer
e cultura da população.
Fonte: Secretaria de Cultura e Turismo

18 Cidade&Cultura
Asilo São Vicente de Paulo atravessava uma fase difícil. As instalações da casa,
de caridade que nunca foram boas, achavam-se em si-
tuação lamentável. Não somente eram pequenas para
Por José Roberto Vasconcellos abrigar a velhice desamparada que nada procurava,
De outubro de 1909 a junho de 1952, o Asilo fun- quanto menos, teto seguro e pão sóbrio. Mas pior do
cionou em um modesto casarão que pertenceu ao que isso os pavilhões achavam-se em péssimo esta-
Cel. Olegário Ernesto da Silva Leme, antiga sede de do de conservação. Janelas havia, algumas sem vene-
uma chácara que existia na colina considerada o pon- zianas e até sem vidraças, que, nos dias chuvosos e
to mais alto da cidade, nas proximidades do jardim frios, as folhas eram fechadas de todo, encarcerando
público. O prédio e a chácara foram adquiridos em seus moradores em ambiente sem ar, nem luz. As ins-
1909 pelo presidente do Centro Católico, Cel. Afon- talações sanitárias eram em número insuficiente, ve-
so Olegário Ferreira Pinto pela quantia de 9 contos lhas e desmanteladas. Tudo era um estado de causar
de réis, valor que foi arrecadado entre aquele pre- lástima! As desoladas irmãzinhas de Caridade, sem
sidente e as Sras. Carolina Eufrásia de Moraes, Ana meios, nada podiam fazer para suavizar a situação em
de Moura Cintra e Maria da Glória Leme Oliveira. Es- que se encontravam os ‘vovôs’ indigentes ali asilados”
critos da época registram que na fachada do prédio (Folha da Manhã, 8/2/1946). Naquele ano de 1946,
lia-se: Asylo de Mendicidade do Centro Catholico de Zeferino Vasconcellos Filho, visitando o Asilo, como fa-
Bragança. Foi do “Centro Católico de Bragança” que zia semanalmente, ouviu da Madre isabel, superiora
partiram a ideia e a ação que se traduziu na realidade da Casa desde 1910 (casa onde Madre Paulina do
da aquisição do imóvel e a criação do Asilo de Mendi- Coração Agonizante de Jesus [Mãe - Madre Fundadora
cidade. O Centro Católico, importante sociedade de da Congregação] – hoje Santa Madre Paulina - traba-
ação católico-social em nossa cidade, foi idealizado lhou como súdita), o seguinte lamento: “Por que não
pelos Zeladores do Apostolado da Oração do Sagra- se interessam tanto pelo Asilo de Mendicidade como
do Coração, em 1902. Em 1904, dá-se a sua funda- por outras instituições de caridade de Bragança? Não
ção, que congregava os católicos e tinha por especial poderiam os jornais fazer alguma coisa em nosso be-
objeto promover a união, o congraçamento de todos, nefício, divulgando a nossa situação e abrindo uma
a começar pela mocidade. Seus propósitos eram: a campanha em nosso favor?” Zeferino, após ouvir tudo
formação de uma biblioteca, de um jornal católico, de de Madre isabel e profundo conhecedor da situação
uma escola noturna para operários, conferências ou daquela casa, trabalhando na imprensa, publicou a
palestras de formação sobre assuntos religiosos e matéria cujo trecho acima relato. Que através de jor-
uma “Scola Cantorum”. Conforme o segundo livro nal da Capital abriu uma campanha em favor de um
de Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Concei- novo asilo. Conclamou as pessoas generosas, que
ção de Bragança, que traz registros relativos a dados tomassem a peito aquela campanha, pois o Centro
e acontecimentos na paróquia entre 1844-1912, o Católico de Bragança, que em outros tempos zelava
vigário Cônego Luiz Sangirardi (1906-1910), sobre a pela manutenção do Asilo, estava inoperante.
fundação do Asilo, detalha a compra do prédio e da A quermesse pró-construção do novo Asilo foi inau-
chácara: “Asilo de Mendicidade - Um dos artigos dos gurada em 1947, formada por três barracas, e foi o
Estatutos do Centro Catholico desta cidade é o da embrião das centenas realizadas pró-Asilo. Em sole-
fundação de um Asilo para pobres inválidos... A sua nidade realizada em 11 de setembro de 1949, Dom
inauguração effetuou-se aos 3 de outubro de 1909, José Maurício da Rocha, bispo diocesano, procedeu
as cinco horas da tarde com grande concorrencia”. à bênção e ao lançamento da pedra fundamental do
Passados os anos, o que era bom ficou deveras pre- novo prédio do Asilo. O novo prédio do Asilo de Mendi-
judicado por falta de recursos e o caso foi noticiado: cidade São Vicente de Paulo foi festivamente inaugu-
“No início do ano de 1946, já com a denominação rado em 15 de junho de 1952 e, em 1967, construía-
atual, o Asilo de Mendicidade São Vicente de Paulo se o segundo pavilhão com dois pavimentos.

Bragança Paulista 19
Histórico

A “Água da Biquinha”
Infelizmente algumas foram extintas nas últimas
décadas. Ficavam nos mais modestos recantos
da cidade. A mais antiga e tradicional, chamada
Por José Roberto Vasconcellos
“Chafariz Vermelho”, - situava-se na baixada da
A água das biquinhas constituiu-se num dos Travessa do Riachuelo, aquém do pontilhão da
mais preciosos patrimônios da cidade. Já era linha de trem que ali existiu. Foi soterrada na
antiga, por certo, quando aqui chegaram metade dos anos 50, quando do calçamento
os construtores desta civilização. Viu da então avenida Circular (hoje avenida José
a cidade nascer, crescer e so- Gomes da Rocha Leal). Outra “biquinha” sur-
nhar. Sua história é a própria his- giu na parte baixa da Rua da Liberdade, vinda
tória da cidade. Tornou-se uma da “nascente” encontrada quando da forma-
lenda. Diz a tradição: “quem bebe ção do loteamento Jardim Primavera (era a
d’ água dessas fontes não vai mais fonte mais bem cuidada e bonita); uma outra
embora”. Essas fontes, há dois sé- no final da rua José Domingues e outra no
culos acompanham final da av. Antônio Pires Pimentel (ambas no
a vida da cidade. bairro do Taboão e, curiosamente, dentro de
postos de gasolina); outra à beira da Variante
do Taboão, defronte ao Lago e outra no início
da av. Euzébio Savaio (no Lavapés). Essas
foram as mais famosas e conhecidas, que por
vezes incontáveis socorriam a população nas
constantes falta de água encanada. Os me-
lhores bares da cidade anunciavam “café feito
com água da fonte”.
ILUSTRAÇão ShUTTeRSTock

Mercado Municipal
Ponto histórico de Bragança Paulista, esta construção data de
1887 e funciona também como um atrativo turístico e artísti-
co. Além dos produtos típicos de um mercado, o visitante pode
assistir a espetáculos e música ao vivo em dias marcados.
MARcIo MASULA

20 Cidade&Cultura
Histórico Antiga Cia. Têxtil
Santa Basilissa
ACeRvO eSTúdiO CASARãO

Memórias de um passado glorioso


Com grande entusiasmo pela história bragantina, o Estúdio Casarão nos cedeu estas imagens compiladas de
acervos de pessoas que preservam o seu passado, garantindo às novas gerações as suas memórias retrata-
das com alma e luz. Desde 1993, o Casarão registra os melhores momentos da vida dos seus cidadãos com
profissionalismo e dedicação. “A história do Estúdio é o retrato da valorização da fotografia em nossa cidade.
Eu, Eledi Gonçales, e meu esposo, José do Carmo, juntamente com um grupo de amigos, fundamos o Foto
Clube Bragança e passamos então a adquirir os acervos de fotos antigas de Bragança.”

Trecho
da Rua
Coronel
Rua Coronel Teófilo
João Leme Leme

Símbolo do Matadouro

Largo Municipal
Matadouro e Centro Telefônico

Praça Raul Leme

Rua Coronel
Rua Coronel Osório Teófilo Leme

22 Cidade&Cultura
Histórico
Combatentes da Revolução
Constitucionalista de 1932

Cozinha típica do
início do século XX

Museu Municipal “Oswaldo Russomano”


O Museu Municipal de Bragança tanto para o interior como para o Ferreira. A casa, esplendor do ci-
Paulista foi criado através do Pro- litoral. Já no tempo do Império se clo do café na região bragantina,
jeto de Lei nº. 200/51, de 15 de destacou por ser a cidade querida coincide com o final do Império e o
setembro de 1951, de autoria do e agraciada por Dom Pedro II. início da República. O empreiteiro
ex-vereador Saturnino Pacitti que, O Museu Municipal “Oswaldo construtor foi italiano.
aprovado, foi transformado na Russomano” foi inaugurado em 15 O acervo de aproximadamente
Lei nº. 166, de 24 de outubro de de dezembro de 1966, e na déca- 3.000 peças expõe objetos pesso-
1953, que também criou a Biblio- da de 1980, após algumas mudan- ais de grandes nomes da história
teca Pública Municipal. ças de local, instalou-se definitiva- do município e peças que retratam
O Museu Municipal “Oswaldo mente à rua Cel. João Leme, 520, a época dos barões do café, dos
Russomano” é o símbolo do pa- no centro da cidade. constitucionalistas e a ocupação
trimônio de Bragança Paulista, A casa onde o museu está ins- indígena do Guaripocaba. Encon-
cidade de tradição histórica e cul- talado data de 1896, construída tram-se ainda louças, instrumentos
tural. Desde os tempos coloniais, para ser a residência do Cel. Afon- musicais, móveis da antiga Câmara
Bragança se diferenciava por ser so Olegário Ferreira Pinto e sua Municipal e objetos da extinta Es-
a cidade de onde saíam as tropas esposa, D. Maria Salomé de Leme trada de Ferro Bragantina.

24 Cidade&Cultura
Maleta de
oftalmologista
itinerante

Liteira
FOTOS DIVULGAÇÃO E MArcIO MASULA

Classificação dos escravos


para serem libertados pelo
fundo de emancipação

Ao visitá-lo, as pessoas voltam


ao passado, identificando a história
local em contato com períodos de
importante mudança cultural e tec- Equipamento
nológica, como o período imperial, a odontológico
escravidão, a Segunda Guerra Mun-
dial, a Revolução Constitucionalista
de 32 e artefatos arqueológicos.
No Museu podem-se ainda ver:
objetos da arte sacra, máquinas fo- Geladeira do início do
tográficas, relógios, TVs e rádios de século XX: para seu
funcionamento, no
época, fotografias do acervo históri-
compartimento superior,
co, objetos dos combatentes, além diariamente colocava-se
de peças que retratam o ambiente uma barra de gelo
doméstico e a moda antiga, além de
artesanato e artefatos indígenas.
O Museu está equipado com
Boulevard (onde alunos utilizam o
espaço para, após a visita, fazer o seu
lanche), salão de exposições temporá-
rias e realização de oficinas.
Fonte: Museu Municipal Oswaldo Russomano
Onde: rua coronel
João Leme, 520 - centro

Bragança Paulista 25
Histórico

Museu do Telefone de Bragança Paulista

FOTOS DIVULGAÇÃO E MArcIO MASULA


Mesa PBX década de 1970

Modelo Sesa:
aparelho brasileiro
da década de Telegrapho policial
1970 com sistema
automático de disco “Na virada do século 19 para o
século 20, as ruas paulistanas
ganharam aparelhos, chama-
dos de “telegraphos policiais”.
Eram armas da população con-
“Com inigualável brilhantismo, comutador central typo, do fabri- tra a criminalidade: por meio
na noite de 02 de março de 1908, cante Kellog, com capacidade para deles, era possível contatar,
inaugurou-se o novo edifício para 200 circuitos metálicos, ligado por diretamente, os departamen-
instalação da sede da CRTB, Com- um cabo de 400 fios a um moder- tos encarregados da Segu-
panhia Rede Telephonica Braganti- no para-raio munido de fusíveis rança Pública de São Paulo.
na. A planta do edifício foi levanta- caloríficos, instalado numa cabina Graças a um sistema de ala-
da pelo arquiteto Sr. Henrique Mon- dentro da torre de ferro para onde vanca e seta, o contato era
delli, que também dirigiu o serviço convergiam os fios da rede telefô- transmitido imediatamente,
do cimento armado, o primeiro feito nica geral. A referida torre tinha a em código Morse. Um verda-
em Bragança. O edifício construído capacidade para mais 400 linhas, deiro disque 190 das antigas.
é de pedra, tijolo e coberto de ci- media 4 metros de altura por 2 ½ Aos comerciantes donos de
mento armado, tendo de madeira, de largura e estava situada a 16 estabelecimentos próximos
apenas as portas e os caixilhos. metros do solo. a esses aparelhos eram con-
No pavimento térreo, funcionavam: Junto à torre, no último pavimen- fiadas chaves, para o caso
na entrada, a sala de espera e as to, estava construído um aprazível de necessidade. O serviço foi
cabinas para as conversações e terraço, donde se avistava toda a desativado em 1935, com a
em seguida, o escritório, o gabi- parte central da cidade. Sim, com chegada das radiopatrulhas.
nete e dormitório do chefe da es- certeza, muita coisa mudou. Já em Mas sua memória está regis-
tação, a oficina e o depósito em 1940 a torre localizada no segun- trada em um dos cinco livros
seus respectivos compartimentos. do andar não fazia mais parte do Fotografia e Telefonia, da Fun-
No primeiro andar residia com a fa- prédio, e em 1976 uma série de dação Telefônica.”
mília o gerente da empresa. No se- modificações e reformas foram fei- Fonte: Jornal O Estado de São Paulo
gundo andar estava instalado um tas, principalmente no térreo que

26 Cidade&Cultura
abrigava o (PS) Posto de Serviço.
Com a inauguração do Museu do Te- Alexander Graham Bell
lefone em 28 de outubro de 1976,
nasceu em Edimburgo, na Escócia no dia 3 de março de 1847. Sua fa-
o prédio passou por alterações e fo-
mília tinha tradição na correção da fala e no treinamento de portadores
ram instalados cabines e suportes
de deficiência auditiva. O avô, Alexander Bell, ex-sapateiro, era profes-
para telefones públicos em estilo
sor de elocução e foniatria no teatro. Sua mãe, Elize Grace Symonds,
“colonial” (pensando no início do
havia ficado surda muito jovem. O pai, Alexander Melville Bell, instrutor
século). Foi uma forma de manter o
de surdos-mudos e especialista em problemas auditivos, queria criar o
“ar histórico” e de época do prédio,
que chamava de “fala visível”. Aos 14 anos, Alexander Graham Bell e
unindo o Museu e o PS nessa mes-
seus irmãos construíram uma reprodução do aparelho fonador. numa
ma tentativa. Entre 1991 e 1992,
caveira montaram um tubo, com “cordas vocálicas, palato, língua, den-
o Museu do Telefone de Bragança
tes e lábios”. Com um fole, sopravam a traqueia e a caveira balbuciava
passou por uma reforma. O piso foi
“mama”, imitando uma criança. Aos 29 anos, tinha finalmente inven-
restaurado, janelas foram abertas...
tado o primeiro telefone (reversível de mão) e a patente ocorreu no dia
Em catorze de junho de 2005 a Te- 14 de fevereiro de 1876. Quando morreu, em sua casa de Baddeck,
lefônica passou o prédio do Museu no Canadá (na condição de cidadão dos Estados Unidos), no dia 2 de
em comodato para a Prefeitura Mu- agosto de 1822, com diabete, todos os telefones dos Estados Unidos,
nicipal de Bragança Paulista e a Fun- em sinal de luto, foram silenciados por um minuto numa última home-
dação Telefônica doou todo o acervo nagem ao homem que havia dado ao mundo um dos mais eficientes
para o município.” meios de comunicação.
Fonte: Museu do Telefone de Bragança Paulista Fonte: Museu do Telefone de Bragança Paulista
Onde: Praça José Bonifácio - Centro

Um dos primeiros
aparelhos feitos por
Graham Bell, usado para
ouvir e falar no mesmo
fone, em 1877

Fachada do
Museu do Telefone
de Bragança Paulista

A famosa
telefonista

Um dos primeiros
modelos a unir o
transmissor e o receptor
Castiçal de mesa:
em uma só peça
magneto da década
de 1920 de fabricação
norte-americana
Bragança Paulista 27
Religiosidade
Fachada da Igreja
Santa Terezinha
FOTOS MarCIO MaSula

Nossa Senhora
da Imaculada
Conceição

A fé expressa na magnitude e
no esplendor de seus templos
Cidade das Sete Colinas – Cidade-Poesia
Por José Roberto Vasconcellos ladeada pela colina da Igreja de N. Sra. Aparecida (na
Vila Aparecida) a de N. Sra. da Conceição (Catedral
Bragança situa-se entre sete colinas, sombreando Diocesana) e a de N. Sra. do Rosário; Santa Luzia
os vales e valorizando a expressão “Cidade Poesia”. (no bairro Santa Luzia) em cima da sexta colina, e por
Em cada colina ergue-se uma igreja ou uma capela: fim a sétima colina, onde fica a octogenária Capela de
Nossa Senhora da Esperança (no Parque do Estado); São José, no bairro do Taboão.
São Francisco de Assis (no bairro Vila Santa Libânia) Aí está Bragança Paulista, ajoelhada nas Sete Colinas
e Coração Imaculado de Maria (na Vila Maria); San- das Nove Igrejas que lhe encimam os picos, testemunho
ta Terezinha (no bairro Matadouro; na colina principal de que a cidade nasceu à luz da fé católica de seu povo.

28 Cidade&Cultura
AnDré PrAtA
Paróquia de Nossa Senhora da Conceição
Por José Roberto Vasconcellos
A primeira atividade paroquial ocorreu em 17 de fevereiro de 1765,
data reconhecida como o Dia da Instalação da Freguesia de Nossa Se-
nhora da Conceição de Jaguary. Naquele dia, o vigário Pe. Hyeronimo
de Camargo Bueno batizou Maria, filha de João Pais Domingues e de Le-
onor Pedroza. A imagem de Nossa Senhora da Conceição, entronizada
por d. Ignácia na capela primitiva, esteve em trono próprio na Matriz até
o final do ano de 1899. Em 1900, no paroquiato do Cônego Francisco
Claro de Assis, foi entronizada a imagem atual, ofertada pela paroquiana
d. Libânia Cintra Valle. A imagem primitiva – relíquia preciosa do século
18 – por estima e apreço –, é guardada na Casa da Diocese. A primeira
capela, construída em 1763, provavelmente foi ampliada quando eleva-
da a Matriz da nova freguesia (se é que não foi demolida) e no local foi Obras de arte sacra
construído um novo templo, mais amplo. Estas são meras hipóteses, na Catedral Nossa
pois, até o ano de 1837, nenhuma crônica faz referência ao templo. No Senhora da Conceição
ano de 1837, a Matriz se achava em obras e até 1911 passou por diversas – Bragança Paulista
reformas. Em meados do século 19, a Matriz apresentava uma arquitetura
colonial brasileira, tendo à sua direita uma torre-campanário, construída Por José Roberto Vasconcellos
em 1858. Em 19 de março de 1915, tinha início a última reforma da velha A atual Catedral Nossa Senho-
Matriz. A torre-campanário e a fachada foram demolidas, surgindo uma ra da Conceição é o quinto prédio
nova fachada, e no centro, uma torre-campanário de 75 metros, apoiada (templo) erigido no local onde sur-
em quatro colunas de granito, encimada pela estátua da Padroeira da cida- giu a primeira capelinha construí-
de. A reconstrução da igreja ficou concluída em 1927, quando a Matriz de da em 1763 pelo casal Antonio
Bragança fora elevada a Catedral. Naquele ano, instalou-se a Diocese de Pires Pimentel e Ignacia da Silva,
Bragança do Brasil, criada em 1924 pelo Papa Pio XI. A ameaça de ruína foi em que se entronizou a imagem
causada por ação da natureza quando, em 1960, um raio atingiu o lado de Nossa Senhora da Conceição.
direito da torre abrindo uma fenda do alto até o chão e em direção à ala O prédio da nova catedral é obra
do Batistério, pondo em perigo a solidez do prédio. Na manhã ensolara- do arquiteto Antônio Carlos Farias
da de 28 de janeiro de 1965, precisamente às 9 horas, os três sinos da Pedrosa, natural de Pindamonhan-
igreja tangeram pela última vez, anunciando aos bragantinos que a partir gaba-SP. É uma construção, em
daquele instante se iniciava a demolição da Catedral. Demolida a tradicio- estilo barroco moderno, de linhas
nal Matriz-Catedral, único monumento histórico existente – que era que- curvas, todo em cor branca, com
rido de todas as gerações –, em julho de 1966 teve início a campanha a cobertura marcante em concre-
dos bragantinos para levantar a Nova Catedral de Bragança Paulista. Em to aparente, de arquitetura arro-
toda a sua trajetória histórica, nunca viu um movimento tão grande para a jada e moderna, aos moldes do
rápida construção da nova Catedral: campanha do cimento para o Trono de grande arquiteto franco-suíço
Nossa Senhora, campanha do cimento domiciliar pró-cobertura, campanha Le Corbusier (Charles-Édouard
do piso, dos bancos, para a pintura das paredes e muitas outras. Jeanneret-Gris), um dos mais
importantes arquitetos do século
XX, reconhecido como “o pai da
Matriz c.1844-1850 arquitetura moderna”. O prédio
Constr da 1ª torre, de nossa Catedral foi concebido
campanário Lado D
segundo suas teorias. A constru-
ção esteve a cargo do mestre de
obras Vicente Gregório.
ACervo José roberto
vAsConCeLLos

Bragança Paulista 29
Religiosidade

A Cruz perdida
Por José Roberto Vasconcellos
A cruz de granito é obra de um negro escravo que a ofertou à Matriz
de Bragança entre os anos de 1837 e 1881 (não existe comprovação
oficial da data). O escravo era serviçal do Cel. Luiz Leme, que não

FOTOS MarciO MaSula


teve nenhuma participação de mando sobre o ato realizado. Assim se
comprova pelo Livro do Tombo da Paróquia. A devoção dos negros por
Nossa Senhora, em especial, invocada sob os nomes de N. Sra. da
Conceição e N. Sra. do Rosário, é um dos fatos mais tocantes de nossa
história social. Quando da demolição da antiga Igreja Matriz, já Catedral (janeiro de 1965), a cruz foi retirada intacta de
seu pedestal e entregue à guarda da Prefeitura Municipal. Anos mais tarde, 1986-1988, estava ela depositada no gal-
pão existente nos fundos do Museu Municipal. Daquele lugar a cruz foi tirada, não se sabe quando, como, por quem,
ou em que horário e levada para um antiquário. Segundo carta do diretor do Museu de Uberaba, a cruz foi comprada
em um leilão pelo Diretor do MASP – Museu de Arte de São Paulo, que a vendeu a terceiro, que a repassou ao Museu
de Arte Sacra que se organizava na cidade de Uberaba. Esse museu foi inaugurado em 1987. Naquela cidade a cruz
foi vista pelo médico Dr. Otto Resende da Cunha Júnior, uberabense, residente em nossa cidade e que, num congresso
de médicos, levou seus colegas bragantinos a conhecer a cruz que era tida pela mantenedora daquele museu como
marco fundamental da cidade de Bragança Paulista. Os mantenedores daquele museu nada sabiam sobre a origem
histórica da cruz de pedra, que pertencia à paróquia-mãe bragantina. Depois de grande mobilização por parte dos bra-
gantinos, realizou-se a transação com o Museu de Arte Sacra, resgatando a relíquia pertencente à Paróquia de Nossa
Senhora da Conceição – Catedral de Bragança Paulista.

Quarto
da Santa Madre Paulina
Madre Natural de Vigolo Vattaro, cidade pertencente à Áustria e atualmente à Itália,
Paulina
em 1865, com o nome de Amabile Lucia Visintainer, filha de Napoleone Visin-
tainer e Anna Pianezzer, cresceu em um ambiente de pobreza. Com 10 anos de
idade, veio com sua família para o Brasil e instalou-se em Santa Catarina, onde
atuou ativamente catequizando as crianças nas capelas de Nova Trento e ou-
tras cidades catarinenses, quando sua mãe morreu, em 1887. Paulina, em seu
árduo trabalho, montou um grupo de mulheres para a tarefa da catequização e,
com a autorização de D. José de Camargo Barros, Bispo de Curitiba, esse grupo recebeu o nome de Congrega-
ção Filhas da Imaculada Conceição, no ano de 1890, data esta marcada como fundação das obras
de Madre Paulina e também dos seus votos religiosos, quando recebeu o nome Irmã Paulina
do Coração Agonizante de Jesus. A partir desse ponto, as irmãs que ajudavam Madre
Paulina passaram também a receber em suas precárias instalações pessoas doentes e
órfãos e, para conseguirem recursos, trabalhavam na roça e na indústria da seda. Em
1903, mudou-se para São Paulo e começou o trabalho da Sagrada Família em uma
capela do bairro Ipiranga, abrigando filhos de ex-escravos, órfãos e idosos. Chegou a
Bragança Paulista no ano de 1909, fundando a Congregação das Irmãzinhas da Ima-
culada Conceição, onde viveu até 1918, levando amor, consolo e a palavra de Cristo
aos necessitados. Depois, mudou-se para São Paulo e levou uma vida reservada.
Morreu com diabetes e cega, em 9 de julho de 1942. O Papa João Paulo II canonizou-a
em 2002, sob o nome de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, considerada
a primeira Santa brasileira.

30 Cidade&Cultura
Religiosidade

planada deu-se o nome de Largo do Rosário. Em 1872,


a fachada do templo passou por reformas, surgindo um
novo frontispício em estilo colonial. No campanário
colocaram um sino de 150 kg doado pelos Irmãos
da Irmandade. Esse sino o vigário Pe. Leornado Gioille
benzeu solenemente na data de 15 de setembro de
1903. Após o decreto da Lei Áurea em 13 de maio
de 1888, a instituição teve alterada sua denominação,
passando a se chamar Irmandade de Nossa Senhora
do Rosário e São Benedito. Em 8 de abril de 1913
- vinte e cinco anos após a Lei Áurea –, Dom Duarte
Leopoldo da Silva, Bispo da Província Eclesiástica de
São Paulo, à qual pertencia Bragança, aprovou o Com-
promisso de Irmandade de Nossa Senhora do Rosá-
rio e São Benedito, a qual veio substituir a Irmandade
de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Ao final da década de 1920, percebe-se que a pri-
meira capela levantada em estilo colonial apresen-
tava enormes desgastes devido ao tempo. Como o
templo centenário se encontrava em precárias condi-
ções, Dom José Maurício da Rocha – primeiro Bispo
da Diocese, em 1929 aprovou a demolição da velha igreja

Igreja de Nossa Senhora para a construção do templo definitivo no mesmo lugar.


Em 10 de fevereiro daquele ano, o padre Álvaro de Lima,
do Rosário vigário cooperador da paróquia e assistente da Comissão
Pró-Reconstrução da nova igreja, celebrou a última missa
Por José Roberto Vasconcellos na velha Igreja do Rosário. O início da construção da nova
Em janeiro de 1783, na Freguesia de Nossa Senhora igreja se deu em 1929 e foi projetada pelo renomado arqui-
do Jaguary, hoje Bragança Paulista, foi criada a Irman- teto da época Amador Cintra do Prado. Os trabalhos foram
dade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pre- entregues ao construtor Francisco Rodrigues de Gouvêa, e
tos e São Benedito, com aprovação de Frei Manuel da supervisionados pelo padre Álvaro de Lima.
Ressurreição, 3º Bispo de São Paulo. É dessa época, Em 3 de maio de 1931, no templo ainda sem cobertura,
em terras bragantinas, a devoção à Dom José Maurício celebrou a primeira
Senhora do Rosário e São Benedito, missa. A igreja, quando concluída, os-
quando os negros levantavam em tentava duas grandes torres, encima-
oratórios um altar aos protetores das cada com uma cruz, e a sua parte
dos humildes escravos. Da primeira externa era toda em tijolo à vista. No
capela doméstica não há notícias. interior do templo o piso é todo ladrilha-
Registros da paróquia, lavrados no do, ricos altares revestidos em mármo-
Livro do Tombo, documentam que re pérola ostentam belas imagens de
a primeira igreja dedicada a Nossa seus santos padroeiros, e vitrais artísti-
Senhora do Rosário e São Benedi- cos ofertados por famílias bragantinas
to aqui foi construída em 1821 na e amigos de Bragança são peças que
esplanada existente no morro de complementam o embelezamento da
acesso entre a várzea do Ribeirão Igreja do Rosário.
do Lava-pés e a Igreja Matriz. À es- A beleza interior da igreja apresenta
Nossa Senhora, São
José e Jesus Cristo

32 Cidade&Cultura
Altar-mor da
Capela da Santa
Casa de
Misericórdia

uma rica, artística e soberba decoração, realizada na


década de 1940 pelo pintor sacro Salvador Ligabue. A
obra existente constitui verdadeiro e rico patrimônio ar-
tístico e religioso da cidade e da diocese bragantina.
As belas imagens de Nossa Senhora do Rosário e de
São Benedito, patronos da Igreja do Rosário, foram
ofertadas em 1933 pelo casal Cel. Afonso Olegário
Ferreira e Maria Salomé Leme Ferreira e pelos mem- Altar-mor da Capela
Nossa Senhora do
bros da Confraria de São Benedito. A imagem primitiva Bom Parto
de Nossa Senhora do Rosário está exposta em nicho
próprio na sacristia da Igreja. Os ricos vitrais foram
ofertados por paroquianos e associações religiosas.
Duas majestosas torres de 41 metros ostentam um
relógio e o campanário com três sinos de notas Sol,
Si e Ré, que se chamam : Nossa Senhora do Rosário,
Santo Antônio e São Benedito, conforme inscrições
em cada uma. Esses sinos foram ofertados pelo casal
Alfredo Farhat, ele na época deputado estadual. Era
capelão da igreja o Mons. José Batista Mascaretti. Em
1980, era Bispo Diocesano Dom Antonio Pedro Misia-
ra. A Capela do Santíssimo tinha como adorno a Gru-
ta de Nossa Senhora de Lourdes, moldada com lona
imitando pedra natural. Esse material, apresentando
deterioração pelo tempo e presença de cupim, fez com
que o local fosse totalmente modificado, quando sur-
giu nova Capela com afrescos e quadros pintados pelo Altar-mor da Igreja
artista sacro Bruno de Giusti. Santa Terezinha

Bragança Paulista 33
Religiosidade
Sino da
Sinos Antiga Catedral

Por José Roberto Vasconcellos


Existe som mais nostálgico do que o badalar dos sinos da igreja? No passado, nos-
sa Catedral teve três sinos, dois menores e um grande, pesando 630 kg, que tinham
gravados no seu bronze inscrições, desenhos e o nome de seus fabricantes e ofertantes: 1851 – Facit – Henrique Hin-
richsen – São Paulo; 1876 – oferta de José Moraes Dantas, e 1887 – A. Sydow – São Paulo, oferta de Padre Simplício
Siqueira de Bueno. Três históricos sinos, os quais no último dia do ano de 1900 badalaram em repique festivo à entra-
da do século 20, ao IV Centenário do Descobrimento do Brasil, ao 137º aniversário da fundação da cidade de Bragança
e também ao 135º ano da criação da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Daqueles sinos, o menor, datado de
1851, pelo seu tempo de uso, 114 anos, apresenta rachaduras em suas paredes. Como seu som estava prejudicado,
foi retirado da torre-campanário. Como relíquia do passado, hoje
compõe o monumento da Cruz de Pedra existente na Praça José
Bonifácio. É admirado pelas pessoas, pois é sino histórico. É um
símbolo da emancipação política de Bragança. Foi esse sino que, no
entardecer de 20 de abril de 1856, com seu repique, anunciou aos
cidadãos bragantinos que a Vila Nova de Bragança emancipara-se
de Atibaia e era elevada à categoria de cidade.
Atualmente, no campanário existem três sinos para manter viva
a história e as tradições: o de 1887 (de 630 kg) oferecido pelo Pe.
Simplício, que foi pároco de Bragança (1849-1954); o de 1876,
Sinos da Ireja Nossa
Senhora do Rosário oferta de José de Moraes Dantas, e um mais novo, datado com o
ano 2000, oferecido pelo casal de paroquianos Milton Aricó e Del-
za Maria Ferrarese Aricó.

Cripta da
Catedral

Acervo da Paróquia
Nesse acervo existem diversos quadros a óleo sobre tela e que foram
ofertados nos últimos 116 anos:
• Aparição do Sagrado Coração de Jesus a Bv. Margarida Maria de Alacoque,
pintado em 1897 por Guido Ducci e ofertado pelo autor;
•Batismo de Jesus, pintado por Guido Ducci (1897), e por ele doado;
•Matriz de Bragança, pintado por Luiz Gualberto (1922);
•Cena da Descida da Cruz (Enterro de Jesus), pintado por Gino Bruno (1923). Esse quadro, medindo 2,35 m
x 1,90 m, é fiel reprodução do célebre quadro do pintor belga Antoon van Dick e foi ofertado em 1924, pelo dr.
Asprino Júnior, promotor de justiça;
•Procissão da Sagração Episcopal de Dom José Maurício da Rocha (cena de 4/2/1925), pintado por Salvador
Ligabue (1945) e doado à Paróquia;
•35 telas a óleo reproduzindo as padroeiras dos países do continente americano, pintadas e ofertas por seus
autores (pintores bragantinos) no paroquiato do Mons. Giovanni Barrese. As telas mostram Nossa Senhora sob
diversas denominações;
•O quadro representando o “Enterro de Jesus” pode ser visto na Capela da Cripta. Os das padroeiras dos pa-
íses das Américas (do Norte, Central e do Sul) estão em diversas salas no subsolo da Catedral e os demais
estão sob guarda na Casa da Diocese (anteriormente chamada Palácio Episcopal São José).
Data de início das obras da Nova Catedral: 5/2/1965.
Data da consagração da Nova Catedral: 8/12/1977, em cerimônia presidida por Dom Carmine Rocco,
Núncio Apostólico.

34 Cidade&Cultura
Religiosidade

MarcIo MaSula
Decoração
Altar-mor da
Catedral Nossa
Senhora da Conceição
Presbitério – é forrado todo em cobre, com estampas
de seres viventes dos três reinos: animal, vegetal e mi-
neral, representados pelas figuras bíblicas da pomba, à porta de botequim. Para os católicos tradicionalistas
da rosa e do peixe. Autor da obra: João Fort. de Bragança, foi demais. A inventiva do pintor – mestre
Justino de Redenção – colocou o Cristo no pretório de
Imagens Pilatos, não com figuras clássicas de soldados roma-
Cristo Crucificado – Imagem talhada em mogno escu- nos, mais dois PMs, dando assim o toque de atualida-
ro, datada de 1/11/1974 obra de Roncon, escultor de à imagem do prisioneiro indefeso. Os painéis elabo-
taubateano e doada pelas paroquianas do Clube das rados no auge da ditadura militar caracterizam-se pelas
Abelhinhas; iniciativa de d. Alzira Ferreira Quilicci. Com pinceladas longas do artista, que retrata nos carrascos
a benção de Dom José Lafaiete Ferreira Alvares, Bis- de Jesus Cristo a truculência da época em que vivia
po Diocesano, a imponente imagem foi colocada na o nosso País. Esses murais são de muita beleza, em
grande cruz de cimento, especialmente construída e cenas pintadas com cores vivas uma ao lado da outra e
existente no presbitério. Há dois anos a imagem foi totalmente compatíveis com a arquitetura da Catedral.
retirada do local e substituída pela do Cristo Crucifi- Para a cena de Verônica enxugando o rosto de Jesus, a
cado que pertenceu à antiga Catedral (essa imagem paroquiana Glória Cresci serviu de molde para o artis-
com a imagem de N. Sra. das Dores formavam, na ta. Os murais existentes em nossa Catedral são muito
gruta da Paixão, a cena do Calvário e ficava sobre o valiosos, do ponto de vista artístico. Sebastião Justino
túmulo com a imagem do Cristo Morto). Atualmente, de Faria é muito conhecido no mundo das artes. Seu
a imagem talhada em mogno, tendo a madeira toda nome e obras estão divulgados no Suu Art Magazine
ressecada, apresenta algumas rachaduras. Está em Catálogo Internacional de Artes, nº 22, edição 2010.
sala junto à cripta, aguardando restauro. Vitral da Capela do Santíssimo – Obra do prof. Cláudio
Nossa Senhora da Conceição do Jaguary – Padroeira Pastro, artista plástico brasileiro formado em Liturgia
de Bragança. Imagem datada de 1898, talhada em e renomado em Artes Sacras. O vitral tem as dimen-
madeira por Marino de Marino. Imagem doada pela sões 4,80 x 4,80 cm. Nas laterais temos dois anjos
paroquiana Libânia Cintra no paroquiato do Pe. Fran- flamejantes que simbolizam a santidade do lugar. As
cisco Claro de Assis, foi entronizada na Matriz quando figuras são inspiradas nos anjos que guardam as por-
da virada do século XIX para o século XX. tas do Paraíso. Outras figuras existem. No alto há a ins-
São José – Padroeiro da Igreja: Imagem datada de crição Santo! Santo! Santo! Lembra, do mesmo modo
1914. é do paroquiato do Côn. José Carlos de Aguirre. que os anjos, a santidade de Deus e da sua presença.
Senhor dos Passos, Nossa Senhora das Dores e Nosso Prof. Cláudio Pastro é o responsável pelas pinturas do
Senhor Morto – Imagens esculpidas pelo mestre prof. Santuário Nacional de N. Sra. Aparecida, em Aparecida-
José Fernando Caldas, vieram de Portugal (1918) e fo- SP e é considerado o Michelangelo brasileiro.
ram encomendadas por Antonio Lopes Cardoso, Prove- Sacrário da Capela do Santíssimo – Artística peça, em
dor da Irmandade do Santíssimo Sacramento. A imagem metal dourado. Foi doado na década de 1970 pelo
de Nosso Senhor Morto está na capela da Cripta. Movimento de Cursilho de Cristandade.
Via Sacra – Mural de 180 m2, constituído de quinze (15) Cruz no topo da Torre – Feita de ferro, mede 4,85 m
afrescos representando cenas da Paixão de Cristo e pin- por 2,50 m com braços iluminados por lâmpadas fluo-
tado por Sebastião Justino de Faria, artisticamente cha- rescente na cor verde. Sinal luminoso a testemunhar
mado Mestre Justino da Redenção. A obra, pintada em a fé que anima os bragantinos.
1968, no período da ditadura militar, é polêmica, pois os Campanário - De formato triangular, contém no seu
personagens da via sacra são tipicamente brasileiros, patamar três janelas que culminam na torre de 75
em vez de soldados romanos: policiais militares, paisa- m, onde estão instalados três sinos. O acesso ao
gens que lembram as montanhas ao redor de Bragança campanário é por uma estreita escada em caracol
Paulista, casas em estilo colonial e cavalos amarrados com uma centena de degraus.

36 Cidade&Cultura
Estrada de Ferro Bragantina

Locomotiva
Acervo José roberto vAsconceLLos

Rota de riqueza e desenvolvimento


Já sabemos da importância da vel para fazer chegar o café ao Por- o município de Vargem (antes cha-
cafeicultura no interior de São Pau- to de Santos. Daí em diante, os ca- mado Bandeirantes). As estações
lo para o resto do país. O Ouro Ne- feicultores viram a possibilidade de na cidade foram Taboão, Bragança
gro atingia níveis de exportação e escoamento mais rápido, seguro e no bairro do Lavapés, Curitibanos
o escoamento do produto era mui- também mais barato. O que preci- e Guaripocaba.
to dispendioso e muito vagaroso. savam era reunir capital suficien- “Pela Lei provincial de 6 de abril
Havia a necessidade de se desen- te para levar a ponta da Santos- de 1872, o governo contratou, com
volver mais agilidade no transpor- Jundiaí até Bragança. E foi isso o os senhores Coronel Luiz Manoel
te da valiosa carga até o Porto de que eles fizeram: conseguiram os da Silva Leme, Coronel Francisco
Santos. A Ferrovia Santos-Jundiaí, recursos e, em 1878, começavam de Assis Vale Junior, Doutor Brau-
inaugurada em 1867, denominada as obras já na Estação de Campo lio Timóteo Urioste, Padre Ezequias
São Paulo Railway Company, foi o Limpo (última da Santos-Jundiaí). Galvão da Fontoura, Major Manuel
exemplo de que nada era impossí- Sua extensão foi de 51,5 km até Jacinto de Moraes e Silva, Capitão

38 Cidade&Cultura
Exposta na cidade,
guardiã de um
tempo promissor

Francisco de Assis Vale, Antonio


Manoel Gonçalves, João Manoel
Vieira Leite Guimarães, Firmino Joa-
quim de Lima e José Gomes da Ro-
cha Leal, a construção de uma via
férrea, que, partindo da Estrada de
Ferro da Companhia Inglesa, fos-
FOTOS MarciO MaSula

se ter a Bragança, até a divisa de ainda em pé, esta Estação


Minas Gerais. Doze anos depois, é a lembrança de um
em 1884, o apito da locomotiva período de riqueza
invade os céus bragantinos, en-
chendo de entusiasmo a popula-
ção local e abrindo o caminho do
progresso para aquela gente... época, os chamados Barões do ta... Relatos históricos lembram
Uma típica criação da economia Café, no transporte da produção que, em novembro de 1886, o
cafeeira, lançada e inaugurada cafeeira. Com a abertura da Fer- Imperador Pedro II descia de um
por um grupo de fazendeiros, não Dias, no governo de Jusceli- trem da Bragantina, acompanha-
cujos nomes figuravam nas lo- no Kubitscheck, foi dado o golpe do de uma comitiva e pisava nes-
comotivas a vapor, das antigas de graça na Estrada de Ferro. A te solo, trazendo a comoção da
Maria Fumaça (sic). Durante 45 Bragantina, quase centenária, era sua ilustre presença, como rela-
anos, entre 1884 e 1929, a es- autônoma e não um ramal, foi so- tam os jornais da época”.
trada serviu a região bragantina brevivendo a duras penas, e no
Fonte: Passando pelo Passado, José Roberto
e também a aristocracia rural da governo de Laudo Natel foi extin- Leme de Oliveira – “Betinho”.

Bragança Paulista 39
Revolução Constitucionalista de 1932

FOTOS DIVULGAÇÃO
“Foi uma daquelas causas pelas quais os homens
podem viver com dignidade e morrer com grandeza”
Juscelino Kubitschek

Com a perda do poder paulista tamento com a situação. Um grupo movimento tomou força, porém, por
no Governo Federal, a subida de de manifestantes tentou invadir a uma série de intempéries políticas,
Getúlio Vargas ao poder, a detur- Liga Revolucionária, que era uma esses três, que seriam os maiores
pação da Constituição Brasileira força paramilitar de Getúlio, quando aliados de São Paulo, interrompe-
de 1881, a implantação de uma quatro estudantes foram mortos: ram o apoio e isso fez com que os
ditadura e a imposição de um in- Martins, Miragaia, Dráusio e Camar- paulistas perdessem.
terventor getulista no governo do go – MMDC . Esse trágico aconteci- Apesar da derrota, o que se viu
Estado fizeram com que as elites mento foi o estopim para a revolução foram resultados favoráveis aos
cafeeiras e a população em geral começar. Em 9 de julho, o Estado de constitucionalistas.
abraçassem a causa separatista. São Paulo partiu contra as tropas Bragança Paulista fez parte
Em 1932, o povo foi às ruas em federais. No Rio Grande do Sul, no efetiva da defesa do território
um manifesto claro de desconten- Rio de Janeiro e em Minas Gerais, o do Estado de São Paulo, no arco

40 Cidade&Cultura
Monumento
da Praça
9 de Julho

NATáLIA PeLLIccIArO
batizado de Frente Mineira na de-
fesa, formado pelas cidades de
Bragança Paulista, Campinas,
Artefatos utilizados
Ribeirão Preto e São José do Rio pelos paulistas contra
Preto. Uma enorme extensão os federalistas
de terra para repelir o inimigo.
Grande parte do contingente re-
volucionário organizou suas tro-
pas em Bragança. Porém, em 26
de agosto, foram obrigados a se
retirar das fronteiras devido à
falta de munição e a inferiorida-
de de soldados.
Nesse confronto desproporcio- “Secretaria do Interior de Minas-Gerais
nal, participaram 119 bragantinos, Situação
dos quais 12 perderam suas vidas Boletim n° 1
pelo ideal de justiça e liberdade, Na noite de 9 para 10 de julho, sublevou-se parte das forças do Exér-
deixando como legado a bravura. cito aquarteladas em São Paulo, sob o comando do coronel Euclydes
Apesar da derrota, o que vimos Figueiredo. O movimento ficou circunscrito ao fóco em que se manifes-
foi uma mobilização do povo pau- tára, achando-se em calma a Capital da Republica e o resto do país,
lista em geral, com mulheres atu- cujas guarnições federais se conservaram fieis à Ditadura.
ando eficazmente, campanhas de Tendo ciência do ocorrido, o Presidente Olegario Maciel assegurou ao
arrecadação de ouro, fabricação Governo Provisório a solidariedade do Governo de Minas-Gerais, pondo
de armas, veículos e telefones. à sua disposição os recursos militares do Estado, para que se mante-
Improvisavam tudo: granadas, nha a ordem.
morteiros, canhões, veículos blin- O General Flores da Cunha também telegrafou ao Presidente Getulio
dados, capacetes e até o barulho Vargas, afirmando-lhe o inteiro apoio material e moral de seu Estado...
de metralhadoras com a “matra- Em Minas, a situação é de inteira tranquilidade, e o Governo dispõe
ca”. Foram os precursores das de todos os elementos para assegurar a ordem e o funcionamento
rações de campanha. Recrutaram normal das atividades públicas e particulares. Foram tomadas pelo
50.000 homens e 72.000 mulhe- Presidente Olegario Maciel as medidas preventivas que se faziam mís-
res com 600 vidas perdidas. Um ter. Em todos os municípios do Estado suas ordens foram cumpridas,
exemplo de luta, mobilização e e de todos eles já lhe vieram manifestações de solidariedade.
a certeza de dias melhores para Belo Horizonte, julho de 1932”
seus filhos e netos.

Bragança Paulista 41
Imigrantes

shutterstock
Esperança,
tenacidade e
a certeza
da realização
Entre 1870 e 1970, quase metade No Brasil, a situação nos campos de trabalho a serem abertas. Daí a
da população italiana saiu de seu país, estava se agravando devido ao fato importância da vinda dos italianos ao
emigrando para outros países da Euro- de a Grã-Bretanha pressionar os po- território nacional. A campanha feita
pa e as Américas do Norte e do Sul. líticos para o fim da escravidão, força para atrair essa população teve su-
As mudanças do sistema feudal de mão de obra barata que elevava cesso e o Brasil foi o terceiro país a
para o capitalismo e a industrializa- os lucros a bom termo. Em 1850, é receber o fluxo imigratório italiano, fi-
ção do continente europeu fizeram promulgada a Lei Eusébio de Queirós, cando apenas atrás dos Estados Uni-
com que a terra para cultivo na Itália que proibiu o tráfico de negros. No dos e da Argentina. Entre os anos de
ficasse aprisionada nas mãos de pou- Oeste Paulista, fazendeiros sugeriram 1880 e 1924, entrou pelas nossas
cos latifundiários, tornando impos- a mão de obra livre, antagonizando fronteiras aproximadamente 1 milhão
sível ao pequeno agricultor competir com os fazendeiros do Vale do Paraí- de italianos, que sofriam deveras nos
com os grandes. Isso transformou de ba, que ainda possuíam grande par- navios, como o caso de Matteo Bruzzo
forma significativa a vida rural do con- cela de escravos. Essa disputa surtiu e de Carlo Raggio, onde 52 pessoas
tinente e, consequentemente, expul- efeito parcelado com as leis do Ven- morreram de fome, e do Frisna, com
sou essa faixa de agricultores de seu tre Livre (1871) e dos Sexagenários 24 mortos por asfixia. Com as notí-
país, levando-os a procurar oportuni- (1885) e deu origem ao movimento cias repassadas ao governo italiano
dades em outros lugares. Outro fator abolicionista no país que culminou de que as condições dos imigrantes
determinante para a saída dos italia- na libertação dos escravos em 1888. no Brasil eram precárias, Giulio Prinet-
nos de suas terras foi a degradação Não era apenas esse fator que preo- ti, então chefe do Comissariado, proi-
da sociedade, resultado da luta pela cupava os grandes fazendeiros, mas biu a emigração que era subsidiada
Unificação Italiana com uma suces- também a falta de mão de obra es- pelo governo. Qualquer italiano que
são de transtornos que deterioraram crava disponível, pois o país era ain- quisesse vir ao Brasil teria que vir às
os cofres públicos. da inexplorado e com muitas frentes suas próprias custas.

42 Cidade&Cultura
Risorgimento
Os imigrantes chegados ao Brasil
tinham duas opções: a primeira era
trabalhar nas lavouras e a segunda
era fixar-se em núcleos coloniais para “A primeira luta do movimento para unificar a Itália só teve início depois
a plantação de café com restrição à da decisão do Congresso de Viena que transformava a atual Itália.
concorrência dos grandes cafeiculto- As primeiras tentativas de libertação do território italiano foram uma
res que já dominavam as melhores organização revolucionária chamada Jovem Itália, liderada por Giuse-
terras para o cultivo. ppe Mazzini, republicano que, junto com a jovem Itália, defendia a in-
Outra realidade transformada com dependência e a transformação do país numa república democrática.
a vinda dos italianos foi sua fixação Em 1848, os seguidores de Mazzini promoveram outra manifestação
nas cidades, onde grande parte tra- contra a dominação austríaca em territórios italianos, mas foram venci-
balhava nas fábricas e no comércio, dos pelo poderoso exército austríaco. Apesar da derrota, o ideal nacio-
porém com os salários baixos, a op- nalista permaneceu forte e, a partir dessa época, a luta pela unificação
ção de moradia era o cortiço. Com passou a ser liderada pelo Reino Sardol Piemontês. Cavour, um dos
o tempo, os italianos conseguiram líderes do Risorgimento (movimento que pretendia fazer a Itália reviver
seu espaço em todos os ramos da seus tempos de glória), representava todos os que desejavam a unifi-
economia e muitas famílias tiveram cação. Para alcançar tal objetivo, Cavour teve o apoio da burguesia e
grandes resultados em vários seto- dos proprietários rurais e colocou em prática um plano de moderniza-
res produtivos. ção da economia e do exército do Piemonte. Aproximou-se da França
Com a forte influência dos imigran- e conseguiu ajuda militar para enfrentar a Áustria. Com a ajuda da
tes no país, Getúlio Vargas, em 1938, França, o exército de Cavour obteve expressivas vitórias e a Áustria,
colocou em prática a Campanha da derrotada, foi forçada a entregar o reino. Quase ao mesmo tempo, o
Nacionalização que tornava obrigatório revolucionário Giuseppe Garibaldi atacou o Reino das Duas Sicílias e
o uso de nomes brasileiros em esta- criou condições para sua libertação do domínio estrangeiro. Decidiram
belecimentos de ensino. Professores então, por intermédio de um plebiscito, ser governados também pelo

wikipedia.org
tinham que ser brasileiros, era proibido rei do Reino Sardo-Piemontês, Victor Emanuel II. Com a maior parte do
o uso da língua estrangeira, proibidas atual território italiano, em 1861 Victor Emanuel II foi proclamado rei
também as instituições e as associa- da Itália, mas, para que a unidade
ções estrangeiras, censura a progra- fosse completada, era necessário
Um família de
mas de rádio, nomes de ruas, carta- conquistar Veneza e Roma. Veneza imigrantes italianos
zes, ou seja, nada que não fosse brasi- foi incorporada no ano de 1866 e
leiro poderia ser exibido. E a situação Roma em 1870 que passou a ser
ficou muito pior com a Segunda Guerra capital do país no ano seguinte. O
Mundial, pois o confisco de bens dos papa Pio IX não aceitou a perda
italianos se tornou coisa comum. dos domínios territoriais da Igreja
Em Bragança Paulista conhece- e rompeu relações com o governo
mos a Sociedade Ítalo-Brasileira, que, italiano, considerou-se prisioneiro e
com muito orgulho, recebeu-nos para fechou-se no Vaticano. Assim nas-
mostrar toda a sua magnitude diante ceu a Questão Romana que só foi
de fatos difíceis em relação ao seu resolvida em 1929 quando foi assi-
povo durante os períodos mais som- nado o Tratado de Latrão. Por esse
brios do Brasil. acordo, foi criado o Estado do Vati-
“A Sociedade Ítalo-Brasileira de cano, dirigido pela Igreja Católica.”
Bragança Paulista foi criada no dia 2 Fonte: www.historiadomundo.com.br
de fevereiro de 1891, com o nome de

Bragança Paulista 43
Imigrantes

ACERVO MEMORIAL DO IMIGRANTE | wIkIpEDIA.ORG


Navio com
italianos no porto
de Santos (1907)

Società Democratica de Mutuo Socor- Asprino. A entidade surgiu graças aos Capitão Nicolau Barra, Francisco Bar-
so. Contava com 129 sócios- -contri- esforços de seu primeiro presidente e lette e Próspero Bertolotti, com um
buintes e seu presidente era Nicolau de democratas como Samuel Saul, o organizado regimento interno. Foi fun-
dada para fins democráticos e huma-
nitários, como estava inscrito em seu

Organização da colônia italiana


estandarte tricolor, para zelo e defesa
dos interesses dos associados e ne-

em Bragança Paulista:
cessidades de todos os compatriotas
(...) No ano de 1893, a Sociedade con-
• Fevereiro de 1891: é fundada a Sociedade Democrática Italiana seguiu enviar para Santos e Campinas
de Auxílio Mútuo. a quantidade de 2 contos de reis para
• Em julho de 1900, surge o Círculo Musical Carlos Gomes. o auxílio aos doentes da febre ama-
• Em maio de 1921, foram fundidas ambas as entidades, surgindo rela e, em 1895, um conto e cento
a Sociedade Democrática e Círculo Musical Unidos. e cinco mil reis para a Cruz Vermelha
• Em outubro de 1934, a entidade passa a se chamar Sociedade em auxílio dos feridos na Guerra da
Democrática Italiana de Bragança. África. Nesse mesmo ano começou a
• Em julho de 1937, passa a chamar-se Casa D’Itália. construção de sua sede na rua Coro-
• Em outubro de 1942, é feita a “nacionalização” da Sociedade, nel Leme. Durante a Segunda Guerra
com intervenção (nomeado interventor Benedito de Barros Camar- Mundial, época em que muitas famí-
go). Todo o patrimônio é arrecadado e, em março de 1943, é desti- lias italianas, industriais, comerciantes
nado ao Aéro Clube local. e clubes de todo o Brasil sofreram dis-
• Em julho de 1951, passados os horrores da Segunda Guerra Mun- criminação, houve uma grande es-
dial, uma assembleia geral extraordinária é realizada entre os que tagnação nas ações humanitárias,
eram sócios da Casa D’Itália. É declarada nula a nacionalização e a por motivos óbvios. Atualmente, a
intervenção e declarado retomado todo o patrimônio da instituição. Sociedade Ítalo-Brasileira é um dos
• Em agosto de 1953, novo estatuto é votado e dá-se à entidade maiores símbolos de um dos grandes
o nome de Sociedade Democrática Italiana de Bragança Paulista, momentos de desenvolvimento brasi-
embora, nas atas, ainda se adote o nome de Casa D’Itália, como leiro, quando o país deixa de ser escra-
nome fantasia. vagista e avança em direção à demo-
• Em novembro de 1977, adota-se o nome de Sociedade Ítalo-Brasileira. cracia. É o momento de transformação
• Os atuais estatutos foram aprovados em assembleia geral realizada de valores, agregação de costumes,
em 25 de outubro de 2005, e registrados em 7 de maio de 2008. aceitação e, principalmente, acentua-
Fonte: Presidente da Sociedade, triênio 2008-2011 ção da miscigenação, que é a base da
formação do povo deste país.”

44 Cidade&Cultura
Imigrantes

Adaptar, cultivar e reviver


A Associação Central Nipo-Brasi- gua Japonesa, além de cursos de de cooperativismo e harmonia, que
leira da Região Bragantina, conhe- culinária e artesanato, abertos a os primeiros japoneses pregaram
cida como Nipo-Brasileira, funda- todos. Com 140 famílias associa- ao fundá-la, perdura até hoje entre
da em 1955, teve como primeiro das, promove o Festival Japão e o seus descendentes, que procuram
presidente o Sr. Tatsuzo Ozawa. É Anime Nipo. O atual presidente, Sr. dar continuidade aos princípios en-
uma entidade sem fins lucrativos, Noé Hosokawa, uma jovem lideran- raizados em Bragança Paulista.
voltada à divulgação da cultura ja- ça nikkey da região, conduz com or-
ponesa por meio da Escola de Lín- gulho a associação. Com o espírito Fonte: Associação Nipo-Brasileira

FOTOS NaTália PellicciarO

46 Cidade&Cultura
Folclore

ARIEL GRICIO | FOTOARTE


Cia. malungos do baque
e baque Lua Cris

Dança, fé, cor e muita história


Cia. Malungos do Baque pular brasileira, ministrada pelo batuqueiro Heriroots
(brincante do maracatu desde 2004). Com o término
Divulga a cultura popular através do Maracatu de dessas oficinas, o grupo sentiu necessidade de dar
Baque Virado, na sua forma mais tradicional, atra- continuidade ao estudo dessa tradição popular. Após
vessando 200 anos de tradição, transmitida por algumas conversas entre os batuqueiros, vivências
gerações, mantendo as características das vesti- com outros grupos e oficinas com pessoas ligadas
mentas, danças, cantos e adereços. A Companhia a cultura popular, foi crescendo a vontade conjunta
Malungos do Baque começou suas atividades no de criar um grupo de Maracatu de Baque Virado na
ano de 2010, após oficinas de Maracatu de Baque região bragantina, nascendo então a Cia. Malungos
Virado, manifestação pernambucana da cultura po- do Baque, em 2011.

Maracatu
Bragança conta com dois grupos que difundem
o maracatu: a Cia. Malungos do Baque e o gru-
po Baque Lua Cris, ambos sob a coordenação de
Heriberto Teófilo, mais conhecido por “Heriroots”.
Cada grupo tem uma proposta diferente e ofe-
rece oficinas gratuitas, promovidas na Praça do
Matadouro para difundir o ensino da percussão
e a história do maracatu. O maracatu surgiu no
Brasil em meados do século XVIII e é conhecido
como uma dança típica de Pernambuco. Historia-
dores afirmam que deriva da instituição dos Reis
Negros. É formado por uma percussão que acom-
panha um cortejo real e, na época, praticado com
LAuRA AIdAR

caráter fortemente religioso.

48 Cidade&Cultura
Baque A Cultura Negra
NatáLia PeLLiciario

ativa em Bragança
Lua cris

Em 1881, a pequena Bragança


Paulista ganhou destaque nacional ao
ser manchete nos jornais e periódicos do país,
pois chamou a atenção das grandes cidades pela
ação corajosa, de um grupo de escravos, que fundou

Baque Lua Cris


a Associação Club dos Escravos, um ato completa-
mente impensável para os padrões daqueles tem-
O grupo foca seu trabalho recriando músicas pos e chegou a receber doações de simpatizantes
populares que recebem uma linguagem e arranjos da causa abolicionista, para que esse trabalho tives-
próprios. Baque Lua Cris é o nome do grupo nasci- se continuidade. O clube promovia a manutenção de
do em 2007 nas terras altas da cidade. O grupo uma escola primária para escravos, trabalhos para
conta com 15 integrantes, entre músicos, atores a extinção da escravatura em todo o Brasil e a fa-
e brincantes, que buscam no estudo das mani- cilitação da fuga das fazendas, entre outras ativida-
festações populares brasileiras, em seu caráter des. Como era de se esperar, a ação do grupo foi
musical, incorporar o maracatu, o coco, a ciranda, sufocada e o mesmo se extinguiu. Em 1934, foi fun-
a congada, entre outros, em suas apresentações. dado um novo grupo, considerado “remanescente”
A apresentação do grupo é realizada em recintos do clube dos escravos, chamado Clube Recreativo
fechados ou abertos, podendo ocorrer de forma e Beneficente 13 de Maio – CRB 13 de Maio. As
espontânea quando os integrantes se juntam festas e os bailes promovidos pelo CRB originaram
em praças públicas, ruas ou parques, mostrando um grupo que tradicionalmente se apresentava no
aos espectadores a beleza do folclore e da cul- carnaval, e fazia parte da história das escolas de
tura popular brasileira através da tradução dos samba da cidade. Em 1988, mais uma importante
elementos rítmicos da percussão e das melodias referência da Cultura Afro foi fundada em Bragança:
vocais, bem como das vestimentas, das expres- a ARCAB (Associação Recreativa e Cultural Afro-Bra-
sões corporais e poéticas. A valorização e a divul- sileira). Com sede no bairro do Matadouro, a asso-
gação de manifestações populares e folclóricas ciação atua como mantenedora do Clube Recreativo
são os principais objetivos do grupo tornando-se, e Beneficente 13 de Maio. Ambas são parceiras na
assim, a maior expressão de seus integrantes promoção de atividades que visam promover a so-
que vivenciam essas manifestações transpondo cialização dos conteúdos da Cultura Afro-Brasileira.
suas principais características para os espetácu- Ao longo dos anos, a ARCAB tem realizado exposi-
los que se traduzem nos ritmos e no colorido de ções de trabalhos, oficinas de habilidades, ativida-
seus elementos. des educativas, concursos de beleza com o objetivo
de elevar a autoestima, e a difusão dos temas “Arte
e Cultura Afro-Brasileira e Cidadania”, visando des-
Baque
Lua cris - pertar nos cidadãos a criticidade, a participação e a
cortejo e cor conscientização sobre as questões sociais, culturais
e políticas que envolvem a comunidade onde vivem.
A ARCAB tem assento nos Conselhos Municipais de
Saúde, Cultura, Conselho Gestor da Fundação Casa
e do Conselho Comunitário da FM 105 – Rádio O
Caminho; e é Membro da Comissão Estadual e Na-
cional dos Clubes Sociais Negros.
Laura aidar

Fonte: Release oficial ARCAB

Bragança Paulista 49
Folclore

FOTOS AdriAn PedrOSO


Carnaval folia, como o frevo, típico de Pernambuco.
O “Galo da Madrugada”, em Recife, é considerado o
No Brasil, o Carnaval é atualmente considerado a fes- maior bloco de carnaval do mundo, e chega a reunir cerca
ta mais popular do país e, já no século XIX, havia pelas de 1,5 milhão de pessoas pelas ruas da capital pernam-
ruas do Rio de Janeiro grupos carnavalescos. No ano de bucana, ao som do frevo, que é executado por inúmeros
1890, Chiquinha Gonzaga compôs uma música dedicada trios elétricos e acompanhados pelos bonecos gigantes
ao Carnaval, “Ô, Abre Alas”, que, passados 120 anos, e, pelos habitantes e muitos turistas.
ainda faz parte do imaginário do povo brasileiro, sendo Segundo o Guinness Book de 2005, Salvador (BA)
transmitida a todas as gerações. possui o maior carnaval de rua do mundo.
Embora o Carnaval brasileiro seja geralmente associa- Desde a década de 70, o carnaval de Bragança Paulista
do aos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro vem abrilhantando a cultura e a alegria dos seus foliões.
(que têm fama inclusive mundial), São Paulo também pos- O carnaval é considerado uma das festas populares mais
sui tradição nesse tipo de exibição e algumas escolas de animadas e representativas do mundo, e a cidade de Bra-
samba são bastante antigas: é o caso, por exemplo, da gança vem sendo palco desse evento com muito sucesso,
“Vai-Vai” que, em 2014, completa 84 anos de história. A sendo referência nos carnavais do interior paulista.
sua sede é no Bairro do Bexiga, tão tradicional na capital O Carnaval de Bragança é um dos mais antigos do in-
paulista quanto a sua escola de samba. terior paulista. Os desfiles de escolas de samba tiveram
Mas outras manifestações do Carnaval são realizadas início em 1963, porém a competição entre as agremia-
em outros cantos do país: no Nordeste, saem o samba e ções passou a ser oficial apenas em 1973. Antes disso,
os trios elétricos, e os ritmos regionais tomam conta da no entanto, tivemos uma grande incidência de blocos,
cordões e ranchos, desfilando pela cidade e construindo
uma belíssima história do carnaval até hoje.
A maior tradição do carnaval bragantino hoje em dia
está atrelada aos desfiles das agremiações carnavales-
cas, divididas entre grupo especial, grupo de acesso,
escolas mirins, terceira idade e grupo de afoxé, comple-
mentados, ainda, pelo Carnaval na Praça Raul Leme, que
relembra a festividade com as marchinhas que marcaram
época e atrai muitas famílias.
Fonte: Secretaria de Cultura e Turismo

50 Cidade&Cultura
Folclore

FOTOS NaTália PellicciarO


Expoagro e Festa do Peão de Bragança Paulista
Bragança Paulista conta com mais de 1.300 uni- de expositores (produtores rurais, criadores, instituições
dades de produção agropecuária, sendo que mais de e empresas de insumos e máquinas, para que seja re-
90% possui área menor que 50 hectares, podendo se alizado um evento que recoloque Bragança Paulista na
enquadrar no regime de economia familiar. Na região liderança da economia agrícola regional.
Bragantina são mais de 12.000 propriedades com as Vale ressaltar que o evento tem grande repercussão
mesmas características. em toda a região Bragantina, no Circuito das Águas e no
Neste Município e na região, temos uma expressiva di- Vale do Paraíba e que, em 2014, deverá contar com a par-
versidade de atividades agropecuárias, sendo as cadeias ticipação de grandes nomes do cenário artístico musical
produtivas mais relevantes as seguintes: pecuária de lei- nacional, além da vasta atuação de diversos expositores
te e de corte, reflorestamento (principalmente eucalipto), dos mais diferenciados segmentos da indústria, do co-
suínocultura, milho, horticultura, fruticultura, produção de mércio e dos serviços em geral. Vale lembrar que a Ex-
sementes de hortaliças, flores e plantas ornamentais, posição Agropecuária de Bragança Paulista, a cada ano,
ovinocaprinocultura, avicultura de corte, cafeicultura, api- tem sido recorde de público, atingindo mais de 300 mil
cultura e turismo rural. A tradição da Expoagro Bragança pessoas oriundas de todo o Brasil que, nos dias de festa,
remonta do ano de 1950, com a realização da primeira procuram Bragança Paulista para momentos de lazer e
edição, quando a agropecuária era o “carro-chefe” da eco- descontração e principalmente, o que vem crescendo a
nomia local e regional. Os anos se passaram e o evento cada ano, para realizarem grandes negócios. A Expoagro
foi tomando vulto e as atividades deixaram de ficar res- Bragança contribui com o aumento expressivo no fluxo
tritas ao “café com leite”. Nas últimas décadas, foram de turistas e sem dúvida, para a cidade, é garantia de
aparecendo novas cadeias conforme descrito no parágra- vários benefícios, seja abordando assuntos relacionados
fo anterior. Dessa forma, a Expoagro Bragança também à cidade onde estarão hospedados, seja divulgando as-
foi se diversificando e dando oportunidades para outras sim nossos principais atrativos, comércio, rede hoteleira,
atividades da economia agrícola, sofrendo até uma redu- comida típica, artesanato, enfim, tudo o que a Capital da
ção de importância dentro do cenário do evento, inclusive Linguiça tem de melhor para oferecer.
com a criação da Festa do Peão na década de 80. Nos
Fonte: Secretaria de Cultura e Turismo
últimos anos e principalmente nesta edição de 2013,
percebeu- -se um movimento de retomada dos agrone-
gócios no contexto do evento em tela, inclusive com a
construção do novo pavilhão de exposições, inaugurado
em abril de 2013 com muitas empresas ligadas às ca-
deias produtivas dos agronegócios sendo colocadas em
posição de destaque na área mais nobre do recinto de ex-
posições, fomentando a realização de negócios, aumen-
tando a renda dos setores envolvidos e repercutindo na
melhoria da qualidade de vida dos produtores e criadores
de Bragança Paulista e região.
Para 2014, espera-se a consolidação das adequações
das estruturas de exposição, abrigando um número maior

52 Cidade&Cultura
Arquitetura

Símbolo da elite do
Colégio Dr.

interior paulista
Jorge Tibiriçá

Ao caminharmos pelo centro de Brasil. Com a chegada da Família na vida social dos brasileiros que
Bragança Paulista, o que vemos é Real no Brasil, em 1808, não po- simplesmente viviam somente da
uma nova consciência de preser- deríamos mais ser apenas uma agricultura e do extrativismo. Essa
vação das edificações importantes grande fazenda para serviços à organização como sociedade teve
que representam a vida histórica Coroa Portuguesa, deveríamos ser seus impactos em vários âmbitos,
da cidade. Esses casarios, em sua uma nação constituída de todos os principalmente na arquitetura das
maioria, foram construídos a partir privilégios sociais, como teatros, cidades. O estilo colonial, simples
da metade do século XIX, conser- jardins públicos, bibliotecas, esco- e monótono, foi transformado pe-
vando seus aspectos arquitetôni- las superiores, entre outros. Essa los ideais mais imponentes do neo-
cos do riquíssimo ciclo cafeeiro do modernização representar um salto clássico. Não são somente casa-

54 Cidade&Cultura
Palácio Santo agostinho
Prefeitura Municipal

Fachada do Museu rua coronel João leme

rões bonitos; eles trazem consigo a deiras nobres, formas regulares,


herança das modificações sociais, geométricas e simétricas e fron-
antes rurais, e, nesse período, ur- tões triangulares que geralmen-
banas, mas dão excelência ao bom te possuem brasões. Por falta de
gosto na simplicidade do estilo opções de cor, o branco e o cobre
colonial. o que se vê é justamen- eram predominantes. As mudanças
te o contraponto para os adornos, mundiais ocorreram fervilhando de
tanto na fachada como no interior novidades nos círculos europeus e
das casas. Com a abertura dos chegaram a novas considerações
portos para o mercado externo, o com o surgimento do ecletismo,
Brasil enxergou pela primeira vez que vai buscar no passado influên-
FOTOS MarciO MaSula

os avanços importados da França e cias para agregar em sua arquitetu-


principalmente da Inglaterra. Saem ra, transformando as construções e Palacete do
as casinhas, entram os casarões. adicionando elementos como ferro, Barão de itapema
Entram em cena o mármore, ma- vidro e ladrilhos hidráulicos. Essa

Bragança Paulista 55
Arquitetura
FOTOS MarciO MaSula

Prédio da caixa
econômica Federal

transformação de mentalidade sur-


giu na Europa, no século XIX, após
a expansão da Revolução Industrial
e espalhou-se mundo afora, mar-
cando a alteração do estilo de vida
da população. “Os arquitetos da
época podiam recorrer a uma varie-
dade de estilos, linguagens de com-
posição e decoração, baseados na
arquitetura original de diferentes
países ou períodos históricos, sem
esquecer que os elementos utiliza-
dos são conhecidos e consagrados
por outros estilos” (Anpush.org.
br). O ecletismo correspondia aos
sentimentos das sociedades em
geral, pois anunciava a moderni-
dade, e também o melhoramento
das vias urbanas virou sinônimo
de progresso e status.
acervO eSTúdiO caSarãO

clube literário clube literário

56 Cidade&Cultura
Arquitetura

Construção do Theatro Carlos Gomes


“Alguns cavalheiros desta ci-
dade, tendo à frente os benemé-
ritos cidadãos Felippe Rodrigues
de Siqueira e Izidro Gomes Teixei-
ra, resolveram, ha trinta e poucos
annos, construir um theatro ca-
paz de rivalizar com os melhores
do interior do Estado.”
“E para a realização de tão le-
vantada idéa, sem duvida supe-
rior ao tempo e ao meio, não se
organisou regularmente nenhuma
sociedade ou empreza. Aquelles

DIVULGAÇÃO
dois cidadãos, fanatizados pelo
progresso a que aspiravam e
fortalecidos com a confiança pu-
blica, de que eram merecedores, Companhia Lyrica ROTOLI E PERI Bragança Paulista e tornou-se o
não mediram as difficuldades administrou à gente bragantina o Collégio Diocesano São Luiz, que
futuras senão pela grandeza do baptismo da civilisação, represen- funcionou até 1968. A atual edifi-
próprio animo.” tando com muito apparato e ruido- cação foi tombada em dezembro
“Foi aberta, então, uma subscrip- so successo as excellentes operas de 2000 e foi adquirido pelo mu-
ção publica para occorrer ás despe- – Guarany e Bohème.” nicípio em 2005, o qual pretende
zas da projectada construcção.” O Teatro Carlos Gomes foi cons- transformá-lo em Centro Cultural
“Felippe Rodrigues de Siquei- truído entre 1892 e 1894 em es- e Biblioteca Municipal.
ra e Izidro Gomes Teixeira não tilo neoclássico e ficou em funcio-
Fonte: Os trechos entre aspas (“) foram extrahi-
fizeram nenhuma reunião nem namento por dez anos, sendo o dos das allegações finaes da Câmara Municipal
primeiro do interior do Estado de de Bragança, numa Acção Executiva que, em
lavraram nenhuma acta: mas 1921, moveu a dita Câmara a Izidro Gomes Tei-
com auxilio do publico fizeram o São Paulo. Abandonado, o prédio xeira, sua mulher e outros, tendo patrocinado a
causa por parte da Auctora – o distincto collega
‘Theatro Carlos Gomes’, que foi foi doado, em 1927, à Diocese de e habil advogado – Dr. Cassio Guilherme.
tambem considerado como uma Parte do texto foi extraído de bragançapau-
lista.sp.gov.br
verdadeira maravilha, e onde a
MArcIO MAsULA

58 Cidade&Cultura
Artes

Espontaneidade

e inspiração
Martha Vaz

Martha Vaz decoração, disponíveis nas coleções


de objetos cerâmicos da marca Barro
Em Bragança há mais de catorze Brasil. Além disso, demais estudos e
anos, a artista plástica e designer Mar- contato com culturas do Oriente, em
tha Vaz é responsável pela Casa das viagens pela Índia e outros países, mar-
Mangueiras. Nesse espaço cultural cam o trabalho da artista, enriquecendo
funciona seu ateliê e são promovidos sua produção. Na prática educacional,
cursos de cerâmica, entre outras ativi- Martha desenvolve uma proposta inova-
dades. Martha Vaz é formada pela FAAP, dora. Por meio da programação de ofici-
com especialização em design e cerâ- nas integradas, com atividades focadas
mica na Inglaterra (Emerson College) e na família, Martha oferece aulas para
nos Estados Unidos (Anderson Ranch). as crianças e também para as mães,
Os quatro elementos da natureza: terra, numa abordagem diferente, que objetiva
fogo, água e ar, inspiram o trabalho da a educação através do sensível. Desde
artista, assim como a cultura brasileira. 2013 esse trabalho vem se expandin-
A técnica que Martha usa em sua pro- do. Segundo Martha, “através da cria-
dução se destaca na arte com o barro, ção, a criança reconquista a liberdade,
pois a artista produz peças em renda reduz a ansiedade e trabalha em grupo,
cerâmica, um diferencial, pois traz a re- para desenvolver o aprendizado pela
ferência da renda brasileira e também aceitação das ideias do outro, numa
FOTOS MARCIO MASULA

torna a cerâmica mais leve, deixando abordagem que coloca a receptividade


passar a luz. O trabalho abrange um e o acolhimento no lugar da competiti-
portfólio diversificado, com peças para vidade e do individualismo”.

60 Cidade&Cultura
Festival de Arte Serrinha de alto padrão. Em mais de dez anos de atividade,
uma centena de artistas já se apresentou em Bragan-
Serrinha é o nome de um bairro de Bragança Paulis- ça, no Festival. Grandes nomes como Naná Vasconce-
ta, e também de uma fazenda, que pertence à família los, Tom Zé, Bené Fonteles, Elba Ramalho, Luis Melo,
Delduque & Moreira Silveira. Localizada bem no início Arnaldo Antunes, Ney Matogrosso, Zé Celso Martinez
da Serra da Mantiqueira, a topografia cheia de morros Correa, os Irmãos Campana e Ivaldo Bertazzo, entre
oferece aos visitantes um mirante com vista privilegia- tantos outros, já estiveram na cidade, enriquecendo
da da paisagem e da represa que estão no bairro. A a programação do Festival e realizando shows musi-
antiga região produtora de café, sob o comando do cais no Galpão Busca Vida. Atualmente, a fazenda e
Major Benedito Rodrigues Moreira, fazendeiro e político o bairro tornaram-se atrativo turístico. O local pode ser
republicano abolicionista, é hoje palco para outra pro- visitado o ano todo. Quem busca tranquilidade pode se
dução: a arte. Por volta do ano 2000, o artista plástico hospedar em uma pousada, na Fazenda. A rotina cul-
e produtor cultural Fábio Delduque, bisneto do Major tural do bairro é movimentada pelas atividades do Gal-
Benedito, começou um trabalho de união de artistas pão Busca Vida e do Teatro Rural, que funcionam a todo
locais, juntamente com o irmão, Marcelo Delduque, jor- vapor na Serrinha. Aos poucos, o movimento gerado pelo
nalista, e o amigo Carlão de Oliveira, do Busca Vida, Festival se desdobrou em parcerias e ações sociais pelo
que então levaram adiante a ideia de criar um festival bairro, com atividades permanentes ao longo do ano. O
para que todos os esforços isolados na cidade culmi- solo fértil que alimentava a região hoje faz brotar arte por
nassem em um trabalho único. Assim, desde 2002, todos os cantos. Os jovens são o foco do trabalho, para
acontece o Festival de Arte Serrinha de Bragança Pau- garantir a manutenção da identidade local em contraste
lista, com edições anuais, sempre no mês de julho. com as fortes transformações que o bairro vem sofrendo
Desde sua criação, o Festival de Arte Serrinha incor- com a integração urbana. Ações sociais das equipes na
pora diversos tipos de trabalho, com participação de Serrinha oferecem cursos em várias áreas como grafite,
artistas de todo o Brasil. A variedade de segmentos é teatro e dança de rua, para jovens entre 12 e 18 anos.
a principal pauta da curadoria, que busca qualidade e Alunos do ensino Fundamental e do ensino Médio, da
diversidade para os visitantes. Quem prestigia o evento Rede Estadual da cidade e região, visitam a fazenda se-
tem os sentidos invadidos por uma pluralidade cultu- manalmente, aprendendo que arte é também fonte de
ral, que passa por gastronomia, moda, teatro, música, renda. Esse trabalho de sensibilização busca fomentar
design e outras linguagens. A Fazenda respira arte e a produção cultural e garantir a sustentabilidade eco-
torna-se um verdadeiro celeiro de produção cultural de nômica dos artistas locais, promovendo crescimento
qualidade, com exibições, palestras, shows e oficinas em harmonia com a natureza exuberante da região.

Marcelo DelDuque

Bragança Paulista 61
Artes

ASES
Fundada em fevereiro de 1992, a Associação de Es-
critores de Bragança Paulista – ASES, surgiu a partir da
ação da escritora Lóla Prata, que reuniu residentes da
cidade interessados em literatura e na arte de escrever.
Os quarenta membros efetivos e correspondentes do
grupo têm a responsabilidade de manter acesos os ide-
ais propostos no estatuto original, entre eles: incentivar
e divulgar novos valores literários, através da realização
de concursos literários; resgatar a memória de braganti-

Instituto Entrando
nos ligados à literatura, e aprimorar o conhecimento da
Língua Portuguesa. As atividades da Associação se des-
tacam no cenário literário nacional, sendo os concursos
literários os mais expressivos. A participação dos escri- em Cena
tores da ASES, em concursos literários nacionais e inter- Atuando desde 2010, o trabalho desenvolvi-
nacionais, é notada de maneira efetiva. Nos últimos vinte do pelo Instituto Entrando em Cena tem o foco
anos, quase quinhentos prêmios literários (entre primei- de utilizar a arte para despertar nos jovens o
ros lugares e menções honrosas) foram arrebanhados desejo de transformação. O Instituto desenvol-
por autores da Associação, levando o nome de Bragan- ve atividades que buscam a inclusão social e
ça Paulista a praticamente todos os estados brasileiros, cultural através da arte, participando de inúme-
além de Portugal e Itália. Da produção dos concursos, ros eventos, ao longo do ano, no calendário cul-
já foram publicados quase quarenta livros, registros an- tural bragantino. O Instituto desenvolve vários
tológicos dos trabalhos vencedores. As biografias de projetos. Entre eles, está o projeto “Entrando
escritores, jornalistas e historiadores bragantinos estão em Cena – Primeiro Ato”, que é um completo
registradas nas duas edições da Trajetória Literária de programa de arte-educação utilizando as Artes
Bragança Paulista (1994 e 2007). As oficinas literárias Cênicas como ferramenta de transformação so-
realizadas pela ASES e outros eventos como saraus, ex- cial. Algumas das linguagens usadas no projeto
posições e varais literários já reuniram na cidade autores são: Teatro, Circo, Danças Brasileiras, oficinas
vindos das mais diversas partes do país e palestrantes técnicas e complementares, oficinas sociocultu-
de destaque, como Ignácio de Loyola Brandão. A sede rais, a montagem de um grande espetáculo com
do grupo está no prédio histórico, localizado na rua Cel. os jovens participantes, e um Festival de Artes
Leme, n° 35. No espaço cultural acontecem os encontros Cênicas, com uma série de espetáculos gratui-
e eventos diversos. Desde 2006, o departamento juvenil tos, abertos para toda a comunidade.
ASES Jovem congrega jovens de 12 a 18 anos, que se Fonte: Instituto Entrando em Cena
reúnem na sede todas as quartas-feiras, às 17 horas,
para um encontro informal e descontraído onde mostram
suas produções. O livro ASES Jovem em Prosa e Verso,
de 2010, compilou essas obras juvenis.

A Associação reuniu o trabalho de seus sócios em antolo-


gias diversas: ASES em Prosa e Verso; ASES só em Versos;
ASES só em Prosa; ASES em Haicais; Natal em Prosa e Ver-
so; A ASES somos nós – essa última é a obra mais recente,
FOTOS DIVULGAÇÃO

em comemoração ao 20° aniversário de fundação, reunindo


biografias literárias dos integrantes da Associação.

62 Cidade&Cultura
Artes

Paulo Cubero
Nascido em Bragança Paulista, o artista autodida-
ta desenvolve seu trabalho há mais de 35 anos, pas-
sando por várias fases e experimentações na pintura.
Sempre aberto à pesquisa de técnicas e materiais,
Paulo vê a arte como um canal de total liberdade de

FOTOS DIVULGAÇÃO
expressão, um caminho livre, dentro da inspiração, no
qual busca sempre novas possibilidades, sem fechar
o horizonte a regras ou tendências. O marcante em
sua trajetória é a influência do expressionismo de Van
Gogh, no qual as cores fortes têm o papel de exprimir inspiração lhe trouxe, percorrendo novos caminhos,
seus sentimentos. Cores que, com sua maturidade, para que sua obra sempre tenha um toque de novo,
foram sendo amenizadas e marcadas por áreas cro- surgindo assim vários estilos ao mesmo tempo.
máticas. Os traços pretos e as formas geométricas, Essa diversidade é encontrada em seu ateliê, pois
sempre presentes também, remetem a outra grande as obras em cada cavalete e sobre as mesas diver-
influência: o cubismo de Pablo Picasso. Além disso, gem entre si, garantindo um trabalho rico, a serviço
Paulo Cubero desenvolve obras clássicas, com temáti- da inspiração.
ca religiosa, paisagens, natureza-morta e retratos. Em Conheça o trabalho do artista em https://www.face-
sua produção, o artista buscou registrar tudo que a book.com/Cubero.Arts

do Rosário. Num período muito importante, o artista de


Bragança Paulista conheceu de perto uma das obras-
primas do mestre Francisco Antônio Lisboa na Igreja de
São Francisco de Assis, em Ouro Preto, restaurando o
Altar-Mor e as pinturas de Mestre Ataíde, outro artista da
mais alta importância do barroco mineiro. Sua trajetória
continua em seguida nas capelas da Via Sacra, onde se
destacam os doze profetas de Aleijadinho na cidade de
Congonhas. Em Belo Horizonte, restaurou obras de Burle
Marx e Cândido Portinari. Em 2009, participou da restau-
ração, em Ouro Preto, da Igreja de Nossa Senhora do Car-
mo. Lá, trabalhou no consistório e na decoração do fron-
tispício, obra monumental, esculpida em pedra-sabão por
uma das figuras mais significativas do barroco mineiro no
século XVIII, Mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadi-
Antonio Cubero nho. Entre 2008 e 2009, no Grupo Oficina de Restauro,
participou de um grande e ambicioso projeto de restaura-
Bragantino formado em Conservação e Restauração ção na Secretaria da Educação em Belo Horizonte, prédio
de Bens Culturais pela Fundação de Arte de Ouro Preto, localizado na Praça da Liberdade: “Foi muito gratificante
Antonio Cubero marcou sua trajetória profissional partici- participar desse projeto, num prédio espetacular, onde
pando de obras de grande valor no cenário de nossa his- depois de prospecções minuciosas nas paredes pude-
tória, em várias cidades mineiras. Regressou a Bragança mos revelar até onze camadas de tinta superpostas, até
Paulista em 2010, onde trabalhou no acervo de obras encontrarmos pinturas artísticas do projeto de decoração
sacras do Palácio Diocesano e, em seguida, na restaura- original do artista alemão Frederico Steckel, que incluía
ção das pinturas dos murais da Igreja de Nossa Senhora ainda telas fixadas sobre o teto”, explica o artista.

64 Cidade&Cultura
Banda Municipal
Atuando desde 2009, a Banda Marcial de Bra-
gança Paulista tem sua origem no Projeto Música
na Escola, que compreende três etapas: as Fanfar-
ras Municipais, a Banda Marcial e a Banda Sinfôni-
ca Jovem. A rede municipal de ensino desenvolve a
primeira etapa do projeto e as crianças continuam
os estudos musicais ao serem encaminhadas para
cada etapa seguinte. A Banda Marcial conta com
60 integrantes, entre as faixas etárias de 6 a 20 grou-se Campeã Sul-americana de Marching Show.
anos. A coordenação geral do projeto é do Maestro Após uma reformulação no uso dos instrumentos,
Rogério Wanderley Brito. Os ensaios são na sede foram incorporados clarinetes e saxofones, acres-
que funciona no prédio do antigo Matadouro, hoje centando ao grupo de instrumentos de metais e
Centro Cultural Geraldo Pereira, que fica na Praça percussão à família das madeiras. A Secretaria de
Coronel Jacinto Ozório. Anualmente, a Banda Mar- Cultura e Turismo apoia o trabalho da Banda que
cial faz apresentações na cidade e em 2012 sa- conta com a gestão da Empresa Pró-Música.

André Luis La Salvia –


Áudiovisual & Cineclube
Professor de Filosofia e cineasta amador, André
Luis La Salvia é amante do cinema. Nascido e cria-
do em Bragança, foi o responsável pela organização
do cineclube da cidade, em 2008. Como o cinema
de Bragança fechou suas portas no início de 2012,
a cidade está sem espaço público de projeção. Na
época do fechamento do cinema, André pegou o que
foi possível e, juntamente com Daniela Verde, coor-
denou um trabalho para melhorar a sala de projeção
do cineclube, na tentativa de manter um pouco da
cultura cinéfila “no ar” em Bragança.
Em suas atividades amadoras, André tem no port-
fólio material que registra a memória da cidade, dis-
ponível na internet. Responsável pela pesquisa que
originou o trabalho Memórias Bragantinas, o profes-
sor tenta resgatar e reunir imagens antigas da cida-
de, num fórum alimentado por acervos diversos, dis-
ponível em www.youtube.com/memoriasbragantina.
Em 2010, La Salvia produziu o curta O Belo Parado,
que conta a história do imponente prédio do antigo
Colégio São Luiz, do fim do século XIX.

Bragança Paulista 65
Artes

Rafael Shimidt
Filho do bandolinista Jairo Ribeiro, Rafael cresceu na

Guto AbrAhão
roça do interior paulista, com uma vida intimamente mar-
cada pela música. Iniciou sua carreira profissional aos
15 anos, seguindo as influências do choro, da música
caipira, da música erudita e da música flamenca, entre de Alessandro Penezzi, Fernando de La Rua, Aleh Ferrei-
outras. Mestres como Guinga, Dilermando Reis, Dino 7 ra, Zé Barbeiro e Douglas Lora. No mesmo ano, tocou na
Cordas, Raphael Rabello, Baden Powell, Paco de Lucia, Alemanha, em duas ocasiões, no Festival Drehmoment –
Alessandro Penezzi, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Minifestival für Kino & Künste, em Dusseldörf, e no Festival
Cartola inspiram o músico. Estudou violão erudito no Film-erzaehlt-musik, em Dusseldörf, Colônia e Berlim. Um
Conservatório Villa-Lobos, em São Paulo, com mestres sucesso absoluto de crítica e público. Atualmente divulga
como Alessandro Penezzi, Douglas Lora, Fernando de La o lançamento de um novo CD, com produção de Swami
Rua e Paulo Belinatti. Premiado em 2007, Rafael ficou Jr. O destaque é a versatilidade do violonista, através das
em segundo lugar no Concurso Nacional do Conservató- parcerias e distintas formações que oferece em seus pro-
rio Souza Lima, na categoria intérprete de violão erudito. gramas. Há também novos trabalhos em divulgação como
Atua em concertos como solista, acompanhado de Lui- o Trio Torto, que realiza com a lenda do violão de 7 cordas
sinho 7 Cordas e Zé Barbeiro. Entre 2008 e 2009, apre- paulista, Zé Barbeiro, e o violonista e produtor Swami Jr, e
sentou ao público composições próprias e desenvolve um também o duo de violões que faz com Swami Jr. em “Trato
trabalho inovador com o renomado violeiro Arnaldo Freitas, Fino”. Rafael define seu estilo musical próprio na carreira,
num trabalho que propõe o diálogo entre o violão e a vio- tocando suas composições e também arranjos que para
la caipira, apresentando músicas conhecidas do público, com a obra de compositores renomados como Jacob do
bem como composições próprias. Em 2012, lançou seu Bandolim, Edu Lobo, Tom Jobim, entre outros.
primeiro CD Antigamente era assim, com a participação Texto: Luara Braga

A Sinfônica de Bragança homenageado, com seu nome em duas ruas, na cida-


de de São Paulo e em Bragança Paulista.
Foi um russo radicado no Brasil que criou a OSBP, Fundada em 1931, a OSBP – Orquestra Sinfônica
Orquestra Sinfônica de Bragança Paulista. A vida de De- de Bragança Paulista – é administrada e mantida pela
métrio (Dimitri) Kipman é marcada pela arte e pelo con- SSAAM – Sociedade Sinfônica Amigos da Arte Musi-
tato com a música, pois a família era responsável pela cal, uma entidade de direito civil sem fins lucrativos
organização de saraus, ainda quando viviam em Mos- com membros que trabalham voluntariamente pela
cou, e tinha, inclusive, uma pequena orquestra familiar. cultura. A orquestra conta com sócios mantenedores,
Kipman chegou ao Brasil em 1926, aos 21 anos de como empresas e pessoas físicas, que contribuem
idade, e aqui construiu sua vida, atuando no magistério para que as atividades possam se concretizar. A sede
e na regência. Faleceu em 1977, sendo postumamente da OSBP é a Casa de Cultura Maestro Demétrio Kip-
man, que fica na rua Coronel Assis Gonçalves, no cen-
tro da cidade. Na sede acontecem as apresentações
da orquestra bem como diversas atividades culturais,
envolvendo também outras esferas artísticas.

MAEStroS rEGENtES da oSbP


MArIANA brAGA LoPES

- 1931 até 1962: Demétrio Kipman; 1962 até 1967:


Ernesto Mascaretti; 1968 até 1991: Fernando Amos
Siriani; 1991 até 1995: Nasari Campos e desde maio
de 1996: Eduardo Ostergren

66 Cidade&Cultura
Artes

Dança e Cidadania
O dançarino Richard Braga Moreno atua no
estilo de dança de rua, conhecido também por
Street Dance. A grande inspiração para Richard,
que começou como autodidata, são as coreo-
grafias do lendário Michael Jackson. Criativo, o
dançarino chegou a frequentar aulas de luta, na
falta de instrutores de dança, para buscar ideias

FOTOS DIVULGAÇÃO
que pudessem ser adaptadas em coreografias.
Sua paixão pela dança o motivou a desenvolver
trabalhos que promovam a difusão da expres-
são cultural pela arte. Assim, em meados dos
anos 90, o dançarino montou um grupo de Stre- busca uma atuação profissional. Assim, o Pro-
et Dance chamado Beath of Dance. A surpreen- jeto “Dança e Cidadania” nasceu com o apoio
dente procura fez o grupo saltar de quatro para da Prefeitura Municipal de Bragança Paulista e
100 participantes. Os alunos foram divididos, da Secretaria de Cultura e Turismo. A busca de
e cada um ficou com um instrutor responsável. outros parceiros que pudessem ajudar a viabili-
Isso criou a necessidade de buscar parceiros zar as atividades do projeto teve êxito, contan-
para a criação de uma atividade permanente do também com a Secretaria de Agronegócios,
em Bragança Paulista, dando destaque a ex- a Igreja Tabernáculo de Jesus, a Igreja Nossa
pressão corporal como opção para o jovem que Senhora da Esperança, o Espaço do Adolescen-
te, PSF CDHU e Henedina Cortez.
Todo o trabalho realizado pelo projeto é o
motor propulsor de uma ação que promove
uma rotina mais saudável para crianças e jo-
vens, afastando-os das drogas e da violência.
Nesses 18 anos de atuação, o professor Ri-
chard Moreno já deu aulas para mais de 10 mil
alunos. Trabalhou em academias de destaque
como Academia da Kinuko, Academia Marília
Santoro e Academia Fabiana Fonseca. O Grupo
já foi divulgado em programas de televisão, na
TV Bragança, na TV Vanguarda, no SPTV (Rede
Globo), em dois programas do SBT e em alguns
programas de canais a cabo. Devido à amplitu-
de do projeto, as atividades estão distribuídas
por quase dez bairros da cidade, entre eles o
São Lourenço, o Parque dos Estados e o Jardim
Fraternidade. Na equipe que atua no projeto, o
idealizador Richard Moreno conta com a ajuda
de vários profissionais como Robson Nunes,
Jefferson Gonçalves, Biro Boy, Sara Isabela,
Wanderley Junior, Fernando Henrique, Flávia Ga-
zzaneo, Alice Gregório e Isabelle da Cruz.
Fonte: Dança e Cidadania

68 Cidade&Cultura
Artes

FOTOS André STeFAnO


Galpão Busca Vida céu estrelado. Desde então, o Galpão Busca Vida
se transformou em referência cultural no interior
paulista ao trazer para o seu pequeno e festivo pal-
Localizado à beira da represa do rio Jacareí, o
co artistas de grande expressão na cena musical
barracão que uma vez abrigava os serviços de orde-
brasileira, como Arnaldo Antunes, Elba ramalho,
nha do Sítio Santo Antônio e acomodava amigos que
Mart´nália, Moska, nação Zumbi, céu, Tom Zé e
retornavam das cavalgadas noturnas pela região da
Zeca Baleiro, integrando uma grade democrática
Serrinha tornou-se, em 1997, o Galpão Busca Vida,
que dá espaço igualmente a jovens músicos locais
casa que prima pela originalidade ao transportar a
e traz exposições, leilões e festas diversas, além
atmosfera boêmia e boa música brasileira para o
de sediar a programação musical do Festival de
ambiente rural.
Arte Serrinha. com ótima programação de shows
A decoração preservou elementos do sítio, da lei-
de música brasileira para dançar, pizzas crocantes
teria e da estrebaria, aproveitando-se também de
e caldinhos para saborear, cachaças selecionadas
partes de cenários de teatro, antiguidades e obras
e claro, a Busca Vida geladinha, para brindar com
de arte, misturando todos os elementos com humor
amigos queridos em volta da fogueira e sob o mes-
e elegância. Surgia o “Galpão Busca Vida pizzaria
mo céu estrelado.
e cachaçaria rural”, onde contemporaneamente a
bebida Busca Vida foi concebida entre muitos li- Adaptação do texto “Busca Vida” do livro Arte Serrinha - © 2011 Delduque
mões espremidos manualmente, acrescentados ao comunicação - produção gráfica, comercialização e distribuição | BEI - Site:
www.galpaobuscavida.com.br; Facebook: www.facebook.com/G.BuscaVi-
mel e à puríssima cachaça da região, em noites de da.Br;Instagram: @galpaobuscavidarichard Braga Moreno – Street Dance

Banda Sinfônica Jovem com suas apresentações diversos eventos culturais da


cidade e da região bragantina. Fundado em março de
A Banda Sinfônica Jovem é administrada pela Se- 2009, o projeto tem como objetivo atender aos músi-
cretaria de cultura e Turismo de Bragança paulista e é cos amadores do município, assim como aos músicos
composta de cerca de 40 alunos bolsistas, e atende oriundos do projeto “Música na Escola” e da Banda
Municipal, os quais podem, através dessa atividade,
aperfeiçoar suas habilidades artísticas musicais. consi-
derando a qualidade do trabalho apresentado pelo grupo
de músicos, a Banda Sinfônica Jovem tem se destacado
também nos campeonatos dos quais participa, tendo
entre seus títulos recebidos o prêmio “Zequinha de
Abreu” e o 1° Lugar do campeonato Estadual de 2010,
nATáliA PellicciArO

além do 1° lugar nas etapas do campeonato Estadual


de Vila Isabel e Stª rita do passa Quatro, de 2011.
Fonte: Secretaria de cultura e Turismo

70 Cidade&Cultura
FOTOS NaTália PellicciarO
Maio Cultural
por meio da Secretaria de Cultura e Turismo. Vários
pontos da cidade, como a Casa da Cultura, o Mer-
cado Municipal, o Pergolado da Praça Raul Leme, a
A Semana da Cultura surgiu de uma iniciativa da Arena de Eventos do Lago do Taboão, entre outros,
professora Guaraciaba Líbera Mathias, na época ganham mais vida durante a programação de maio.
presidente da Sociedade Sinfônica do Município de A música, a dança, o teatro, o humor, as oficinas e
Bragança Paulista, com o objetivo de comemorar o muitas outras manifestações artísticas agitam es-
aniversário da fundação da Sociedade Sinfônica. A ses locais, atraindo o público e levantando o astral
iniciativa deu tão certo que o movimento se expan- da população bragantina. A proposta do “Maio Cul-
diu e ocupou o mês de maio inteiro, surgindo assim tural” visa enriquecer ainda mais a variedade das
o “Maio Cultural”. Com o passar do tempo, a po- opções ofertadas aos interessados em prestigiar
pulação bragantina desejava um número maior de os eventos da cidade em busca de entretenimento
eventos e, considerando que muitas cidades elege- e cultura, pois, além de fomentar a cultura, ainda
ram eventos culturais ao longo dos meses de junho proporciona momentos de lazer, reunindo jovens,
e julho, ganhando espaço na mídia e que Bragança crianças e adultos, com o único objetivo de presti-
não poderia ficar de fora, a diretoria da Sociedade giar as ofertas culturais gratuitas à população. Vale
Sinfônica entendeu que o “Maio Cultural” deveria mencionar a importância que esse tipo de iniciativa
se tornar um evento municipal, pois já era tradi- tem também junto às famílias, que parecem se unir
cional, ocupava um espaço importante na mídia e ainda mais nessas ocasiões, trazendo à nossa cida-
assim foi feito. O “Maio Cultural” passou para a de um clima mais receptivo e festivo.
coordenação e organização da Prefeitura Municipal, Fonte: Secretaria de Cultura e Turismo

Bragança Paulista 71
Artes

Festival de Inverno
O Festival de Inverno de Bragança Paulista acon- bilizadas gratuitamente à população de Bragança
teceu neste ano em sua 12ª edição, contando com Paulista e região. O maior objetivo desse festival
uma evolução crescente a cada ano que é realiza- é possibilitar à população de todas as classes so-
do. O evento oferece uma vasta programação cul- ciais igual acesso à cultura e ao entretenimento
tural em trinta dias de atividades, durante todo o que a programação agrega dentro de sua grade de
mês de julho, todas de muita qualidade e disponi- atrações. O evento conta com oficinas culturais,
FOTOS NaTália PellicciarO

72 Cidade&Cultura
shows musicais (desde o mais popular até o clás-
sico), trazendo atrações de renome, como O Teatro
Mágico, Ney Matogrosso, Carlinhos Brown, 14 Bis,
Milton Guedes, CJ Ramone, João Carlos Martins e
Orquestra, Luiza Possi, Luiz Ayrão, entre outros, te-
atro infantil e também para público adulto, exposi-
ções, dança, stand-up comedy, e muito mais. Tudo
isso em locais de fácil acesso para melhor como-
didade da população. Vale ressaltar a grande pro-
cura que o festival tem gerado em toda a região,
movimentando o turismo e consequentemente o
comércio local, circulando pelas atrações duran-
te todo o mês um público seguramente superior
a 60 mil pessoas. Bragança Paulista não apenas
respira, mas transborda cultura no mês de julho.
A música, a dança, o teatro, o humor, as oficinas
e muitas outras manifestações artísticas agitaram
esses locais, atraindo o público e levantando o
astral da população bragantina.
Fonte: Secretaria de Cultura e Turismo

Bragança Paulista 73
Meio ambiente

Água: origem e continuidade

da vida
Por Andréa Silva Nilsson
Bragança Paulista está em uma área onde a água e o verde
são abundantes. Repleta de nascentes e banhada por dois rios
que formam uma represa gigante, a cidade tem água “para dar
e vender”. Além disso, ao chegar a Bragança Paulista, somos
acolhidos por um corredor verde, que envolve e acalma o olhar.
A mata exuberante pertence ao Parque Petronilla Markowicz,
área pública e protegida, para preservar e ampliar esse corredor
ecológico, importante para a manutenção da flora e da fauna
local. Doada pela família Markowicz em 2006, a área do parque
fazia parte da Fazenda de Café Santa Helena e já foi conhecida
como Pinheiral Santa Helena ou Mata do Shangrilá. Possui
nascente de água e está em uma faixa onde predomina a presença
de remanescentes da Mata Atlântica mista, com ocorrência
da araucária. A árvore, típica da região Sul do Brasil, pode ser
encontrada também em regiões de mata mista nos estados
MARCIO MASULA

de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A imponência da


araucária destaca-se facilmente na paisagem.
Meio Ambiente

andRé PRaTa
Fazenda Serrinha
hidrografria
Bragança está localizada na região hidrográfica
conhecida por Sistema Cantareira. Figurando en-
FOTOS MaRciO MaSula

tre os maiores do mundo, o sistema é adminis-


trado pela SABESP e conta com seis barragens
interligadas por um complexo de túneis e canais.
Em Bragança, uma grande represa é formada por
dois rios: o Rio Jaguari, que vem de Minas Gerais,
e o Rio Jacareí, que é formado em Joanópolis. A re-
presa leva o mesmo nome dos rios, interligada por
um canal, formando assim a maior “caixa d’água”
do Estado, sendo também um dos maiores reser-
vatórios de água do mundo. A represa está na re-
gião conhecida por Serrinha, um bairro da cidade,
que abriga também em parte de seu território uma
RPPN, Reserva Particular do Patrimônio Natural,
Rio Jaguari
para garantir a preservação dos mananciais e
fragmentos da Mata Atlântica que estão na área.
Há também dois ribeirões na cidade, o Lavapés e
o Anhumas. Pelo grande número de nascentes e
fontes naturais, Bragança já foi conhecida como
“Cidade das Bicas”. São mais de 850 nascentes
registradas pelo IGC (Instituto Geográfico e Carto-
gráfico). Moradores contam que até alguns anos
atrás era possível “beber na bica” e muitos até
levavam água para casa.

76 Cidade&Cultura
Meio Ambiente

andRé PRaTa
Fazenda Serrinha
hidrografria
Bragança está localizada na região hidrográfica
conhecida por Sistema Cantareira. Figurando en-
FOTOS MaRciO MaSula

tre os maiores do mundo, o sistema é adminis-


trado pela SABESP e conta com seis barragens
interligadas por um complexo de túneis e canais.
Em Bragança, uma grande represa é formada por
dois rios: o Rio Jaguari, que vem de Minas Gerais,
e o Rio Jacareí, que é formado em Joanópolis. A re-
presa leva o mesmo nome dos rios, interligada por
um canal, formando assim a maior “caixa d’água”
do Estado, sendo também um dos maiores reser-
vatórios de água do mundo. A represa está na re-
gião conhecida por Serrinha, um bairro da cidade,
que abriga também em parte de seu território uma
RPPN, Reserva Particular do Patrimônio Natural,
Rio Jaguari
para garantir a preservação dos mananciais e
fragmentos da Mata Atlântica que estão na área.
Há também dois ribeirões na cidade, o Lavapés e
o Anhumas. Pelo grande número de nascentes e
fontes naturais, Bragança já foi conhecida como
“Cidade das Bicas”. São mais de 850 nascentes
registradas pelo IGC (Instituto Geográfico e Carto-
gráfico). Moradores contam que até alguns anos
atrás era possível “beber na bica” e muitos até
levavam água para casa.

76 Cidade&Cultura
André PrAtA
Lago do Taboão
Orgulho entre cada 10 de 10 bragantinos, a entrada infraestrutura de serviços. O lago é, sem dúvida, o lugar
da cidade tem seu ponto forte na chegada ao Lago do mais popular de Bragança.
Taboão, cartão-postal e ponto de encontro para tudo e “Por volta de 1830-1850, o vigário da cidade – Pe.
para todos. Construído artificialmente, o lago faz par- José Jacinto da Silveira – era dono de grande extensão
te da paisagem urbana de Bragança e encanta todos de terras, na região do baixo Caetê até o alto do Campo
com sua beleza. Os motivos que levam os bragantinos Novo. Nessas terras existia uma lagoa conhecida como
e visitantes ao lago podem variar muito, mas, indiscuti- Tanque do Padre Jacinto.
velmente, o local convida ao contato com a natureza e Esse mesmo tanque, no início do último século, era
ao lazer, sendo palco perfeito para práticas esportivas, chamado por Tanque do Canivete, formado pelas águas
passeios sem compromisso ou, simplesmente, para o dos ribeirões Caetê e Bocaina, onde grande pescaria de
convívio familiar. Essa interação socioambiental, propor- taraira se fazia. Aquele tanque, com o passar dos anos,
cionada pelo local, é regada pelo ar puro que vem da desapareceu da paisagem taboense, ressurgindo na dé-
mata ao redor da região. O lago é ponto de referência de cada de 1960, e é hoje é o nosso Lago do Taboão.”
fácil localização na cidade. É cercado por pontos comer- (José Roberto Vasconcellos, membro do ASES, 9-5-2005, In http://www.ases-
ciais que exploram a gastronomia e oferecem variada bp.com.br/escritores/escritores15a.html)

Bragança Paulista 79
Meio Ambiente

FOTOS daniel abicair


caxinguelê

Fauna
Por Daniel Abicair
Bragança Paulista é rica em biodiversidade, e tem
em suas matas e campos a fauna característica da
Mata Atlântica com alguns trechos recortados por áre-
as de cerrado, o que confere à cidade uma fisionomia
vegetal bem peculiar.
O contato com as diversas espécies da fauna en-
contradas em Bragança, nas áreas rurais e urbanas,
Beija-flor-de- é bem comum. O caxinguelê, também chamado de
papo-branco Savacu serelepe, é visto facilmente e atua como restaurador
da paisagem, já que é ávido por sementes, e contri-
bui para o surgimento de novas mudas de araucária,
jerivá e palmito, por exemplo. Já os ouriços são mais
discretos e não se fazem perceber, pois dormem aco-
modados nas árvores durante o dia. Popular entre os
moradores das áreas florestadas, os primatas desta-
cam-se pela vocalização e seus hábitos sociais. em
Bragança são encontrados o bugio, o sauá, e o mais
Sapo-ferreiro comum e carismático o sagui. O sagui-estrela é uma
espécie do Nordeste do País, que foi se estabelecen-

80 Cidade&Cultura
Meio Ambiente

do na região bragantina pela soltura indevida, fruto


da caça e da domesticação inconsequente. O sagui
nativo da região é o sagui-da-serra-escuro, um pouco
mais escuro que o primo do Nordeste e com os tufos
da cabeça brancos. Ainda é possível encontrar esse
primata nas áreas mais afastadas da urbanização, e
sua população às vezes se mescla com os primos do
Nordeste. Animais de maior porte também ocorrem na
região; são comuns os relatos de onça-parda perambu-
lando pelas estradas de terra da área rural, e animais
Canário-da-terra
como o cachorro-do-mato e o gato-do-mato caçam com
frequência nos descampados, mas é importante lem-
brar que a manutenção dessas espécies depende da
erradicação da caça predatória de seu alimento natu-
ral (pacas, capivaras, aves, entre outros). quando ca-
çamos os animais nativos tiramos o alimento dessas
maravilhosas espécies que estão no topo da cadeia
alimentar e automaticamente a estamos condenando
à extinção local. O desenvolvimento sustentável é um
anseio de todos e inúmeras providências estão sen-
do tomadas para esse desenvolvimento na região. As
aves, como em todo o Brasil, são as mais numerosas
entre os vertebrados, e em Bragança podemos obser-
var cerca de 210 espécies das mais diferentes ordens.
Muitas têm coloridos exuberantes, enquanto outras se
destacam pelo canto. O canário-da-terra é um exemplo
Ouriço Sagui-estrela
de residente que adora se estabelecer perto das ca-
sas e seu canto encanta a todos que têm o privilégio
de receber a visita desse pássaro de chamativo tom
amarelo. Aves de grande porte, como a seriema, o tu-
cano e a jacupemba também são comuns na região.
Os beija-flores, sempre irrequietos, fazem um espetá-
culo à parte, aproximando-se diariamente dos parques,
praças e jardins da cidade, polinizando as flores e exe-
cutando uma relação ecológica essencial para a ma-
nutenção da vida de determinadas espécies da flora.
Anfíbios são ótimos indicadores de qualidade da água,
e em Bragança é comum a ocorrência do sapo-ferreiro,
um anuro que costuma ser encontrado nos lagos no
período de reprodução e pulando pela floresta em bus-
ca de alimento. Muitos nunca o viram, mas certamente
já ouviram sua vocalização, que lembra, segundo os
caboclos, um martelar metálico. Nos lagos da cidade
é muito comum encontrar a garça-branca e o biguá. O
Lago do Taboão recebe todos os dias a visita sorrateira
Onça-parda
do savacu, uma ave pernalta que espreita pela vegeta-
ção das margens em busca de alimento.

82 Cidade&Cultura
Turismo Rural

Entrar numa estrada de terra

é voltar às origens
Bragança é uma cidade típica do interior modernizada. Mas, em suas
estradinhas de terra, encontram-se verdadeiros tesouros rurais, onde
podemos desfrutar da paisagem do campo e do que ele tem a nos
oferecer de bom. Desfrutar desses locais e prosear com os que lidam
com a terra é uma experiência marcante para todos.

Queijo fresco Plantação


secando de tomates

Criação
de carneiros Fogão a lenha Gado

84 Cidade&Cultura
Café

FOTOS MarciO MaSula


Passamos por uma verdadeira café para
exportação
aula sobre café no “Café Biriçá”.
Oscar, nosso anfitrião, explicou-
-nos sobre a qualidade do café
arábica e como é feito o proces-
so da seleção de grãos.
Como se cuidasse de um filho
recém-nascido, pegava de dife-
rentes sacas os grãos já secos e
mostrava sua maturidade e quali-
dade, dando-nos o entendimento
da diferença do café tipo expor-
tação e do café comum. O bom
café vem desde seu cultivo até
a torrefação. E é principalmente
na secagem que a atenção é re-
dobrada, pois é fácil o grão ain-
da estar com sua umidade natu-
ral. a seca tem que ser perfeita,
remexendo-o de hora em hora, e cafezal
Bairro Biriçá
jamais secá-lo em chão de ter-
ra. Depois, vem a armazenagem,
cujo local tem que ser arejado,
sem umidade e sem luminosi-
dade. após esse processo, os
grãos de café passam pela estei-
ra densimétrica, na qual todos os
grãos são separados de acordo
com sua densidade: “Café bom é
o café pesado; quanto maior sua
densidade, mais qualidade pos-
sui”. Mas, mais valioso do que
ler, é viver os momentos agradá-
veis ao lado de quem realmente
entende da melhor bebida brasi-
leira. Então viva essa experiên-
cia e vá com a família aprender Torradeira
mais sobre o que bebemos to- de café
dos os dias, e curta a paisagem
rural, que é o caminho para se
chegar até lá!
Onde: km 43 da estrada itatiba-
-Bragança, em frente ao trailer café torrado
da Tenda do Mel

Bragança Paulista 85
Turismo Rural

Cachaça
Muita gente confunde as pala-
vras “aguardente”, “cachaça” e
“pinga”, achando que são sinôni-
mos, porém não são. Aguardente
é a bebida conseguida por meio da
fermentação de vegetais doces; a
cachaça é a bebida feita por fer-
mentação apenas da cana-de-
açúcar, e a pinga é o nome vulgar
da cachaça. O nome “pinga” foi
dado pelos escravos que trabalha-
vam na última fase da fabricação
da cachaça, a destilação. O vapor
se condensava no teto e pingava.
Apesar de egípcios, gregos e roma-
nos já conhecerem o processo de
fermentação, foram os árabes que
descobriram a destilação e a es-
palharam pela Europa, originando
o arak da Ásia, a grappa da Itália,
o kirsch da Alemanha, a vodka da
Rússia, o saquê do Japão e da Chi-
na, o whisky da Escócia e a baga-

Curiosidades :
ceira de Portugal. Então a técnica
da destilaria aportou no Brasil com
A cachaça era um bom in- os primeiros colonizadores portu-
grediente para amaciar a car- gueses e, junto, a cana-de-açúcar,
ne do porco, que era dura, pois que é de origem asiática. Num en-
eram criados soltos e chama- genho da Capitania de São Vicente,
dos de cachaços. Somente os entre 1532 e 1548, descobriram o
escravos bebiam a cachaça, vinho de cana-de-açúcar – a garapa
que era um trunfo nas mãos azeda, que ficava ao relento em co-
Toneis de
dos senhores, pois o líquido Cachaça chos de madeiras para os animais,
deixava-os menos depressivos vinda dos tachos de rapadura. É
devido à saudade que sentiam uma bebida limpa, em comparação
de sua terra natal. Em 1635, com o cauim – vinho produzido pe-
devido à sua popularidade em los índios –, no qual todos cospem
detrimento da bagaceira portu- num enorme caldeirão de barro para
guesa, Portugal proibiu a fabri- ajudar na fermentação do milho,
cação e o consumo da cacha- acredita-se. Os senhores de enge-
ça. Mais tarde, com o fim da nho passaram a servir o tal caldo,
proibição, a cachaça contribuiu denominado cagaça, para os escra-
FOTOS MarCiO MaSula

muito para a reconstrução de vos. Daí é um pulo para destilar a


Lisboa que fora destruída no cagaça, nascendo aí a cachaça.
terremoto de 1755. Garrafas de Cachaça Fontes: www.alambiquedacachaca.com.br; Re-
vista Superinteressante

86 Cidade&Cultura
Turismo Rural

Equoterapia ticar equitação. Oito anos depois,


nas Olimpíadas de 1952, foi pre-
“O uso do cavalo como forma de miada com a medalha de prata em
terapia data de 400 a.C. quando, adestramento, competindo com os
Hipócrates utilizou-se do cavalo melhores cavaleiros do mundo, e
para ‘regenerar a saúde’ de seus o público só percebeu seu estado
pacientes. Em 1901, foi fundado quando ela teve de apear do ca-
o primeiro hospital ortopédico do valo para subir ao pódio e teve de
mundo, em função da guerra dos se valer de duas bengalas cana-
boêres na África do Sul, o Hospital denses. Essa façanha foi repetida
Ortopédico de Oswentry (Inglater- quatro anos depois, nas Olimpía-
ra) onde o número de feridos era das de Melbourne, em 1956. No
muito grande. Uma dama inglesa, Brasil, a partir dos anos 80, quan-
patronesse daquele hospital, re- do foi criada a ANDE-Brasil (Asso-
solveu levar os seus cavalos para ciação Nacional de Equoterapia), o
o hospital a fim de quebrar a mo- tratamento tomou maior impulso,
notonia do tratamento dos muti- mas somente nos últimos seis
lados. Esse é o primeiro registro anos é que se pode notar o verda-
de uma atividade equestre ligada deiro crescimento dessa modalida-
a um hospital. Liz Hartel (Dinamar- de terapêutica, haja vista o número
ca), praticante de equitação, foi crescente de centros de equotera-
acometida aos 16 anos por uma pia em todo o território nacional. A
forma grave de poliomielite, a pon- equoterapia foi reconhecida como
to de durante muito tempo não ter método terapêutico em 1997 pelo
possibilidade de deslocamento, a Conselho Federal de Medicina.”
não ser em cadeira de rodas e, de- Fonte:www.equoterapia.com.br
pois, muletas. Mesmo assim, con- Onde: Av. São Francisco, 4.001 –
trariando a todos, continuou a pra- Bairro Santa Helena

O Centro de Equoterapia Pé de Pano, em Bragança Paulista, visa de-


senvolver reabilitação, educação e pré-esportivo, por meio dos animais
para pessoas com deficiências mentais, comportamentais e com dificul-
dade de aprendizagem, aumentando a capacidade e a potencialidade
física, psíquica, educativa e social. É também filiado à ANDE – Brasil (As-
sociação Nacional de Equoterapia) desde 2009 e, desde maio de 2011,
participa de um projeto da Prefeitura Municipal de Bragança Paulista por
meio da Secretaria de Educação, onde são atendidas aproximadamente
160 crianças que estão incluídas na Rede de Educação, onde desen-
volvem trabalhos de equoterapia e trabalhos extraterapia (com oficinas,
criação de horta e trabalhos ao ar livre). Conta com uma ampla equipe
multidisciplinar, que inclui fisioterapeuta, psicólogo, equitador, educador
físico, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo, técnico zootec-
nista, técnico agrônomo e médico veterinário, realizando um trabalho
interdisciplinar, sendo um dos aspectos mais importantes nesse tipo de
FOTOS MArciO MASulA

abordagem, que conscientiza o indivíduo de suas capacidades e não de


suas incapacidades, trabalhando-o como um todo.
Fonte: Centro de Equoterapia Pé de Pano

88 Cidade&Cultura
Suinocultura
alentejana, transtagana, galega, bi- vem desde o século XVI e foi bem
zarra e beiroa. Depois chegaram mais difundido em Minas Gerais,
porcos da Espanha, dos Estados no Ciclo do Ouro. De fácil manejo
Há comprovações de que o
Unidos, da Itália, da Inglaterra e da e criação rústica, o suíno era um
porco já era consumido pelos
Holanda. A miscigenação foi feita de produto prático e de custo baixo.
humanos em 18.000 a.C e
forma desordenada, resultando em Em Bragança Paulista, a criação
domesticado em 10.000 a.C.
uma preocupação de melhorar gene- de porcos teve seu início com a in-
Desde então, esse animal foi
ticamente os animais. Mas foi com fluência principal dos italianos que
eleito como um dos principais
os alemães, os italianos e os polone- por aqui chegaram, impulsionando
alimentos de nosso cardápio,
ses que a simples criação de porcos a fabricação de embutidos, como a
principalmente entre os babi-
tomou forma comercial. Um exemplo linguiça e o salame. A cidade ainda
lônios, assírios e macedônios.
disso foi a riqueza adquirida por Fran- é conhecida pelo grande número
Já na Grécia, ele era oferecido
cisco Matarazzo, que comercializava de suinocultores. Apesar da cri-
em sacrifício às deusas Ceres
banha de porco para todo o país, um se de 2012, os produtores se-
e Cibele, e na ilha de Creta era
ingrediente fundamental para a culi- guem firme na tradição de suas
considerado sagrado por ser
nária da época. O costume de usar famílias, fornecendo carne suína
o principal alimento de Júpiter
carne de porco na culinária do Brasil de primeira à população.
que, segundo a mitologia, te-
ria sido amamentado por uma
porca. Em Roma, o suíno era
símbolo dos banquetes e, se-
gundo Catão, a prosperidade
de uma casa era medida pela
quantidade de toucinho arma-
zenada. Mais ao norte, o povo
germânico também foi grande
consumidor dessa carne, ao
ponto de Carlos Magno decre-
tar uma lei de severa punição
aos ladrões de porcos. A car-
ne suína foi a base alimentar
principalmente dos guerreiros
da Idade Média. Os Cruzados e
os Cavaleiros Templários a leva-
vam para poderem ter uma fon-
te de proteína preciosa. Mas,
em seu percurso alimentar, al-
guns casos de proibição desse
alimento se fizeram presentes
como o de Moisés, que vetou o
consumo para o povo hebreu, e
no Alcorão. A esquadra de Mar-
tim Afonso de Souza, em 1532,
trouxe para o Brasil os primei-
ros porcos, desembarcados em
São Vicente e mais tarde na
Bahia. As primeiras raças foram

Bragança Paulista 89
Turismo Rural

Catfish
Nomes comuns: bagre-americano e peixe-gato.

FOTOS MarciO MaSula


Vive em rios, lagos e represas, preferencialmente
em águas paradas. Pode pesar até 25 kg e alimen-
ta-se de plantas, peixes e insetos.
Matrinxã – “peixe de escamas, coloração prateada,
corpo alongado, capaz de atiangir 80 centímetros
de comprimento e cinco quilos de peso, encontra-
do nas bacias amazônica e Araguaia-Tocantins. Tem
Pesqueiros
nadadeiras alaranjadas, mas a da cauda é escura... Em uma região repleta de lagos, não poderíamos
vive em rios de águas claras, principalmente junto deixar de citar os famosos pesqueiros, nos quais
a pedras e troncos submersos, alimentando-se de a família inteira se diverte e depois ainda pode sa-
frutinhas, sementes, insetos e pequenos peixes. borear delícias frescas, pescadas na hora. Entre as
Sua carne é muito apreciada pelos consumidores, espécies que podemos encontrar em um desses
apesar da espinha excessiva.” lugares temos o bagre africano, carpas capim, cabe-
Fonte: revistagloborural.globo.com çuda e húngara, pacu, curumbatá, dourado, patinga,
catfish e matrinxã.

Minhocultura Mas estima-se que existam 1.800 espécies. Seus


maiores predadores são a galinha, o porco, a san-
Na década de 1940, Thomas Barret iniciou a cria- guessuga, os pássaros e a formiga lava-pé.
ção de minhocas em cativeiro. Um tanto esquisito para Fonte: MARTINEZ, A. A. Minhocultura. 2006. Artigo em hipertexto. Dispo-
a época, Thomas já entendia a função vital desse ani- nível em: <http://www.infobibos.com/artigos/2006_2/minhocultura/
index.htm>
mal para as plantações e iscas para a pescaria, que
nos Estados Unidos é um esporte muito difundido. No Em Bragança é possível visitar alguns produtores de
Brasil a minhocultura só foi introduzida quarenta anos minhoca e conhecer a fundo esse segmento que,
mais tarde com matrizes oriundas da Itália, em um mi- para muitos, ainda é desconhecido.
nhocário na cidade de Itú. Com baixo investimento, essa
cultura fornece carne barata para alimentação de rãs,
peixes, aves e camarão. Outro produto importante é o
húmus que é produzido pelas minhocas e serve para
jardinagem e agricultura. As espécies comercializadas
são: Eisenia foetida, ou minhoca dos montes de es-
terco; Lumbricus rubellus, ou minhoca de resíduos or-
gânicos; a “verdadeira” californiana (California-red) e
Eudrilus eugeniae, “african nightcrawler”, a gigante africana.

90 Cidade&Cultura
Esportes
MArcio MAsulA

movimento
berço de talentos, palco para o
Bragança Paulista pode ser considerada um verdadeiro polo de produção
para talentos esportivos. Em várias modalidades, a cidade tem nomes de
destaque figurando no cenário brasileiro e mundial. No futebol, o time Bra-
gantino teve seu apogeu na década de 90; Jorge Negretti colocou o nome da
cidade no circuito do motocross; o atleta “Pantera Negra” (Expedito da Silva)
é destaque absoluto no full contact e kung fu, sendo muito respeitado fora
do Brasil. No jiu jitsu, Fabiano Junior Leite, conhecido como “Juninho Boi” é
tricampeão mundial. O montanhismo conta com três representantes de des-
taque: Fernando Davanzo, Kether Arruda e André Prata. E na natação, dois
atletas de sucesso; o campeão paulista, brasileiro e sul-americano, Rafael
Teixeira, e o melhor atleta paraolímpico do mundo: Daniel Dias.

Represa Jaguari-Jacareí
A represa oferece condições ideais para a prática de esportes náuticos,
entre eles: pesca submarina, mergulho (treinamento), curso de apneia, cursos
de Arrais e Motonauta, wakeboard, esqui aquático, boia puxada, windsurf, vela,
stand-up, remo e pesca esportiva. Há também roteiros de ecoturismo, com ca-
minhadas por trilhas e passeios off-road para mensalistas que possuam moto
ou quadriciclo.
Os adeptos da prática de “observação de esportes” também encontram
opções. Cercados pela beleza natural, todos são convidados a permanecer
às margens da represa, contemplando os corajosos amantes do movimento,
ou então, podem embarcar em um passeio de lancha.
Esportes

Clube Atlético Bragantino


Falar do time Bragantino nos remete ao apogeu vivi-
do durante os anos 90, mas a história começou bem
antes; afinal, o time foi fundado em janeiro de 1928.
O primeiro grande momento do “Massa Bruta” foi a
conquista de 1965, quando o time foi para a primeira
divisão, pela primeira vez. Nessa época, que podemos
chamar de “velha guarda”, ficaram registrados nomes
como Wilsinho, que se consagrou grande artilheiro da
época, e Oceania que, segundo alguns historiadores, foi
o primeiro goleiro a fazer gol na história do futebol bra-
sileiro. Os jogadores Pintado e Mauro Silva também são
outros craques de bola que por aqui fizeram carreira.
Wilson Acedo, o “Wilsinho”, jogou profissionalmente
por 22 anos, parando em 1982. Muito conhecido em
Bragança, é uma personalidade querida na cidade e
facilmente encontrada nas rodas de conversa da Praça
Central, onde fica também seu escritório profissional.
Guarda boas memórias da época em que jogava, e mui-
tas histórias, algumas “incontáveis”, brinca o jogador.
“O jogo de 1965, que garantiu ao time acesso à divi-
são especial, foi histórico. A disputa foi no Estádio do
Pacaembu, em São Paulo, contra o time de Barretos.
O jogo estava tenso e foi decidido bem no final. Mas
dessa conquista, o que eu nunca esqueço, é a reação
do torcedor. A cidade parou para nos receber e isso
surpreendeu a todos. Houve uma carreata emocionan-
te, com trânsito parado já na entrada da cidade, todas
as ruas tomadas pela multidão, nunca alguém tinha
visto coisa parecida em Bragança. Foi marcante, uma
emoção que guardo viva na memória”, conta Wilsinho,
enquanto revira, sobre a mesa, uma série de fotos an-
tigas, juntamente com a camisa do jogo de 1965, e,
claro, a bola do jogo, autografada por todos.
As conquistas: colecionador de vários títulos, a
“fase de ouro” do time foi vivida a partir dos anos 90.
O Bragantino foi Campeão Paulista em 1990, cedendo
quatro atletas para a Seleção Brasileira e revelando
para todos o então desconhecido técnico Wanderlei Lu-
xemburgo. Em 1991, foi vice-campeão brasileiro e nes-
se ano cedeu para a Seleção toda a Comissão Técnica,
com destaque para o técnico Carlos Alberto Parreira,
outro “ilustre desconhecido” revelado pelo time.
De lá para cá, momentos altos e baixos, com uma
FOTOS DIVULGAÇÃO

torcida aguardando um retorno ao topo da primeira di-


visão e títulos de destaque. Desde 2005, o time joga
pela série A1 do Campeonato Paulista e, desde 2007,

94 Cidade&Cultura
pela série B do Campeonato Brasileiro.
Mesmo sem repetir o sucesso dos anos 90, o
time mantém boa fama e tornou-se uma boa “es-
cola”, revelando talentos que sempre são dispu-
tados pelos times da primeira divisão. Assim, os
aspirantes sempre querem jogar no Bragantino
porque sabem que alguém estará de olho na
atuação dos novos talentos.

Campeão Paulista da 1ª Divisão - FPF - 1965


Em pé: Robertão, Odarci, Geraldo,

DIVULGAÇÃO
Ivan, Del Pozzo, Walter
Agachados: Nardinho, Norberto,
Nivaldo, Hélio Burini, Wilsinho

leão – o mascote e torcedor fiel marcas registradas do time sempre foi o vínculo
com o torcedor e a familiaridade no contato diário,
Na década de 40, depois de vencer o rival local, sempre presente na cidade, pelas ruas, com ponto
Bragança Futebol Clube, o então presidente do time, de encontro certo na Praça Central, após os treinos.
Cícero Marques, prestou uma homenagem aos atle- “Isso se perdeu, e o torcedor sente muita falta des-
tas, fazendo um quadro com a imagem de um se contato. Assim, muitos jogadores ficam anô-
leão para simbolizar a “força” dos vence- nimos, se passarem pela rua é bem provável
dores. Desde então, o animal é o masco- que muita gente nem saiba quem é jogador
te do time e os torcedores se referem do time atualmente”, conta Juarez Sérgio,
ao time como “Massa Bruta” e “Leão”. radialista que acompanha a trajetória do
Um torcedor fanático entrou para Bragantino desde o começo dos anos 70.
a história com isso: o Beto Leão. “Viajei muito junto com o time, acompa-
Presente nas arquibancadas em to- nhei os momentos de glória e também os
dos os jogos do time, o fiel torcedor momentos amargos. Uma característica
é figura conhecida, pois está sempre marcante do time é o grande carisma
a caráter, fantasiado de leão, chegan- que conseguiu conquistar, não somente
do muitas vezes a entrar junto com o no Estado de São Paulo, mas pelo Brasil.
time em campo. Sempre que desembarcou para jogar fora de
“Eu venho de uma família de torce- São Paulo, o time teve uma receptividade
dores do Bragantino. Meus tios, meu calorosa e amiga. Lembro que os ca-
pai. Está no sangue. Eu costumo riocas sempre admiraram os jogadores
dizer que tenho três filhos: o Tiago, o bragantinos. O time quebrou a barreira da
Rafael e o Bragantino. Eu tenho pelo Bragantino o rivalidade e conquistou o Brasil. Há muitas histórias
mesmo amor que tenho pelos meus filhos”, declarou e boas lembranças. Sempre me chamou atenção a
o torcedor, em 2012, durante uma entrevista à equi- reação dos passageiros quando o comandante do
pe da Rede Vanguarda, afiliada à Rede Globo que voo anunciava que o time estava a bordo. Virava
cobre a região do Vale do Paraíba. uma festa, um clima de muita alegria”, conta o ra-
A relação dos jogadores com os torcedores da ci- dialista, que é de Bragança. Imaginem para que time
dade também sofreu mudanças a partir de 2005, ele torce? Mas Juarez garante que, como todo pro-
quando o time se afastou do contato diário com o fissional ético, se esforça diariamente para manter a
torcedor na rua, nas conversas pela praça. Uma das imparcialidade durante as transmissões.

Bragança Paulista 95
Esportes

Bragança Paulista, na época que tinha uns 14 anos.


Peguei a moto, corri escondido. Os amigos ajuda-
ram. O capacete foi emprestado por um, a gasolina
foi paga pelo pessoal da padaria. Foi assim que eu
comecei”, conta o piloto.
Foi a partir de 1983 que as conquistas começa-
ram. Em 1987, em uma corrida histórica em Bragan-
ça Paulista, Negretti garantiu o primeiro título nacio-
nal. Na década de 1990, Jorge Negretti revelou uma
das suas principais características: a versatilidade.
Disputou campeonatos de motocross, supercross e
arenacross. Conquistou títulos em todas elas. Cam-
peão em três categorias.
Em 2001, Negretti conquistou o Circuito Nacional
de Arenacross e iniciou sua trajetória no Motocross
Freestyle, modalidade em que os pilotos saltam e
fazem inúmeras acrobacias. Com trinta anos de car-
reira, Negretti é o único representante da sua gera-
ção a continuar em atividade. Disputou provas com
os melhores e mais conhecidos pilotos do planeta.
Coleciona amigos nas principais categorias da mo-

Jorge Negretti:
dalidade, como o ex-piloto de Super GP, Alexandre
Barros. Admite que nunca teve interesse pelas pro-

30 anos de motocross
vas de velocidade: “Tenho medo”, revela. A frase
causa, sem dúvida, estranheza entre os fãs de Ne-
gretti. Afinal, como um piloto que salta a mais de 10
Talvez poucas pessoas no país tenham uma iden- metros de altura pode ter medo? Mistérios de quem
tificação tão grande com o motociclismo como Jorge consegue, com ou sem as mãos, nas alturas, encan-
Negretti. Ele é um dos maiores pilotos do Brasil, com tar jovens e adultos de todo os lugares. Antes, nas
dez títulos nacionais de motocross, além de dispu- pistas de terra, agora nos céus de todo o país.
tas em várias categorias, como supercross, arena- Assessoria de Imprensa Jorge Negretti/JF5 Comunicação
cross, supermoto e enduro. Jorge Negretti é aquele
piloto multiestilo, com vários talentos e que ainda
tem muita disposição para continuar nas pistas, aliás,
nas rampas.
Começou cedo e construiu uma carreira brilhante.
“Tive a sorte de ter uma corrida em minha cidade,
FOTOS DIVULGAÇÃO

96 Cidade&Cultura
Esportes

Daniel Dias
O atleta paraolímpico Daniel Dias mora em Bra-
gança Paulista desde os 15 anos. Destaque abso-
luto na natação paraolímpica, Daniel construiu uma
carreira de sucesso, com várias conquistas em mun-
diais e Jogos Parapanamericanos, que começaram
em 2006, com medalhas de ouro e prata no Cam-
peonato Mundial de Natação IPC Durban, na África
do Sul. Daí para frente, uma sucessão de vitórias,
em várias disputas pelo Brasil e pelo mundo, que

Buda Mendes
culminaram com a primeira glória suprema para um
atleta: a conquista olímpica. A primeira veio em
2008, nas Paraolimpíadas de Pequim, quando trou-
xe de volta na bagagem 4 medalhas de outro, 4 Mas o campeão ainda tem fôlego para muito mais,
medalhas de prata e uma medalha de bronze. Supe- persistindo em treinamentos para superar sempre
rando sua própria marca, em 2012, Daniel sagrou- seus próprios limites. Outra importante marca de
se o melhor do mundo nos Jogos de Londres, com a Daniel Dias é ter ganhado, por duas vezes, o Tro-
incrível marca de 6 medalhas de ouro, que o tornou féu Laureus, considerado o “Oscar do Esporte” na
o brasileiro com o maior número de medalhas con- categoria paraolímpica. Uma trajetória que coloca o
quistadas em paraolimpíadas. nadador na elite dos esportistas mundiais.

Fernando Maia

98 Cidade&Cultura
Esportes

MArcio MAsulA
Montanhismo tanha Leite Sol, cujo nome é uma referência à
antiga fábrica de laticínios. Com 1.125 metros
Nada como o prazer da conquista, de ultrapas- de altitude, está localizada na Rodovia Bragança-
sar nossos limites e depois apreciar uma bela Itatiba. Além da vista fantástica de Bragança Pau-
paisagem. Assim é o montanhismo, um esporte lista, após a chuva, sob o sol, as encostas rocho-
radical que recebe a cada dia mais adeptos. Bra- sas dão um efeito que parecem que são feitas
gança é uma cidade privilegiada nesse quesito. de vidro, devido ao brilho refletido. É possível o
Cercada de montanhas propícias para a prática esportista deparar com jaguatiricas e cascavéis.
desse esporte, o maior destaque se dá na Mon- O acesso é restrito e é necessário autorização.

Skate
Nos últimos anos, a prática de skate tem se popula-
rizado em Bragança. Os jovens têm buscado cada vez
mais essa modalidade, atraídos pelas pistas que foram
revitalizadas e têm boa iluminação, garantindo a práti-
ca noturna com mais segurança. Espalhadas por cinco
bairros da cidade, as pistas são uma opção para a meni-
nada e tornam-se também um local de ponto de encontro
e convívio entre os grupos e as famílias, espectadoras
das performances. Sem medo das frequentes quedas e
pancadas, típicas do skate, até as meninas começam a
buscar esse esporte, geralmente mais praticado por me-
ninos, os “corajosos”, e por natureza mais acostumados
shutterstock

com escoriações e machucados. A pista mais popular


fica na área da Secretaria Municipal de Esportes.

100 Cidade&Cultura
Aeroclube de Bragança Paulista

Visto do céu,
tudo é mais bonito
Quando da visita do então go- Aeroclube da cidade. Pautados em em 1940, estava formado o intento
vernador do Estado de São Paulo, ideais, Jacintho Osório de Loci e Sil- dos amigos. O Campo de Aviação,
Sr. Adhemar de Barros, em 1939, va e seu companheiro de sonhos, que na época era assim chamado,
a Prefeitura Municipal fundou um Dalmácio de Souza Ferraz, uniram- não tinha as devidas instalações
Campo de Aviação para poder rece- se para, junto à prefeitura, fundar corretas para a escola e a localida-
bê-lo. Esse foi o marco inicial do o Aero Club de Bragança. Então, de não era a ideal. Procurou-se o
dono da Fazenda Caeté, Sr. Arthur
Siqueira, cuja propriedade ficava
nos arredores, hoje o bairro do Ta-
boão, para que este cedesse parte
de suas terras para a construção
de uma pista de pouso que repre-
sentaria um avanço e desenvolvi-
mento para a cidade. Na Segunda
Guerra Mundial, era imprescindível
a formação de novos pilotos e hou-
ve uma valorização de todos os
aeroclubes do país, quando Assis
Chateaubriand organizou a campa-
nha “Deem Asas ao Brasil”. Com
isso, o Aero Club de Bragança re-
cebeu a aeronave J-3 Piper Cub de
FOTOS MARCIO MASULA

65 hp, prefixo PP-TMJ, americana,


que recebeu o nome de “Alcântara
Machado”. Essa aeronave foi doa-
da pelo Sr. Peixoto de Castro, em

102 Cidade&Cultura
Campanha Nacional
da Aviação (CNA)
campanha organizada no governo de Getúlio Vargas com Assis cha-
teaubrinad e pelo ministro da Guerra, Sr. Pedro Salgado Filho. O objetivo
desse movimento era angariar doações de aviões e dinheiro ou materiais
que servissem para a construção de aeronaves, a elevação do números
de hangares e a fundação de aeroclubes pelo país, para a consolida-
ção da aviação civil, a formação de novos pilotos e o monitoramento do
nosso espaço aéreo contra aviões inimigos. Encerrada em 1950, essa
campanha deixou um legado de mais de mil aviões, três mil pilotos civis
e militares brevetados e mais de 400 aeroclubes efetivados.

1942. Já o segundo avião foi o “Zé 24 pilotos. com o fim da Segunda Hoje, o Aeroclube tem os cursos
carioca”, de fabricação brasileira, Guerra Mundial, o Aero club foi de: Piloto Privado PP-A, Piloto co-
um cAP-4 de 65 hp, prefixo PP-RcV, perdendo força e passou por al- mercial Pc-A, Multimotor, Voo por
doado pelo povo do Rio de Janeiro, guns anos difíceis, mas em 1952 Instrumento IFR e Instrutor de Voo
em 1943. Agora o Aero club estava começaram as obras de revitaliza- – INVA. Está equipado com as se-
equipado com hangar, casa de zela- ção desse patrimônio bragantino. guintes aeronaves: P 56 – c, che-
dor, uma pista perfeita e duas ae- com o aumento da pista de pou- rokee 140 e 180, Tupi, corisco,
ronaves de monta. Então, entre os so, que passou a ter 50 X 1.100 Sêneca, cessna 172 e 152 e um
anos de 1943 e 1945, os primei- metros, recebeu novo nome, agora simulador, além de acomodações
ros brevês foram dados, inclusive a Aeroclube de Bragança Paulista e e alojamentos para 30 pessoas.
uma mulher, Sra. Gladyz Maringuer- a motivação do grupo do clube de Onde: R. Arthur Siqueira, 651 –
ra Santos, perfazendo um total de Aeromodelismo Santos Dumont. Bairro do Taboão

Bragança Paulista 103


Gastronomia

Fartura, mistura de ingredientes


e muita sabedoria juntos
Quando se fala na gastronomia do interior de São Pau- variados sentimentos. Temos vários exemplos: leitão a
lo, temos que entender suas origens, que estão ligadas pururuca, cuscuz caipira de legumes, pamonha, arroz
aos tropeiros e bandeirantes. De fogo no chão, esses tropeiro, vaca atolada, frango caipira, farofa de linguiça,
nobres paulistas faziam verdadeiras alquimias para pode- paçoca de amendoim, feijão tropeiro, canjica etc. Depois
rem seguir em frente e desbravar o desconhecido. Nes- dos portugueses e dos índios, vieram os italianos, que
sas andanças, o cozinheiro sempre estava munido de introduziram primeiramente o hábito de comer frutas, ver-
vários ingredientes para a mágica em sua “cozinha” que duras e legumes, e, em áreas ao redor de suas casas, as
consistia em usar o que a natureza lhe servia, como o fo- hortas eram fartas. Com o fubá, fizeram a polenta e as
gão no meio de um cupinzeiro ou mesmo armações com broas e, por incrível que pareça, nos centros urbanos o
vara formando um tripé. Quando já assentados em terra pão virou vedete e fez surgir as padarias. Outro costume,
fixa, vieram os famosos e deliciosos fogões a lenha. E aí, como dito anteriormente, foi o consumo maior de embu-
sai de baixo... A diversidade foi tamanha e deu tão certo tidos, como mortadela, linguiça e salame. E, finalmente,
que as receitas perduram até hoje e despertam os mais as massas, com mais de 500 tipos, entre elas a pizza! O

104 Cidade&Cultura
diVulGAÇÃo

salmão Belle Meunière


André PrAtA
Giullio’s Bar
& restaurante

linguiça Bragantina
Acebolada
restaurante do rosário

rigatone com linguiça


MArcio MAsulA

Bragantina e Queijo Brie


- cantina Bella itália
André PrAtA

Filé ao catupiry
Boteco
são Gabriel

Bragança Paulista 105


Gastronomia

mais importante da influência italiana em nossa mesa é Filet mignom


a arte de cozinhar com prazer e para reunir a família. O com Brócolis
ato de cozinhar torna-se um atrativo gostoso de lazer para Restaurante HAW-LAi
todos. Já os japoneses fizeram a festa nos campos com
a cultura do caqui, pimenta-do-reino, chá preto, além de
aprimorar os cultivos de melão, morango, abacaxi, alface,
alho e muito mais. Quando chegaram ao Brasil, viram-se
em sérios apuros, pois a alimentação nas fazendas era
“pesada” demais e com uma quantidade de gordura to-
talmente fora de seus padrões. muitos deles passavam
mal e os fazendeiros, seus patrões, não entendiam por
quê. Pode até parecer um problema de adaptação passa-

AndRé PRATA
geira, mas na realidade seus organismos não aceitavam
tanta carne bovina ou suína, além do café, que era um
líquido estranho a eles e o chá ainda não era cultivado.
Depois que conseguiram suas propriedades, foram de-
senvolver justamente o que lhes faltava no dia a dia de
Traíra inteira
sua alimentação. sem espinhos
Em Bragança Paulista, podemos saborear muita comi- Trairagem Bar
da boa. Os restaurantes são variados e, em sua maioria,
seus pratos satisfazem qualquer glutão de passagem.
Além dessa mistura de ingredientes e culturas separadas
geograficamente e unidas em nosso país, temos também
os restaurantes especializados na culinária original. En-
contramos cantinas italianas, restaurantes chineses e
AndRé PRATA

japoneses, churrascarias gaúchas, enfim, uma boa gama


de opções para podermos nos divertir.

Gyuchi
AndRé PRATA

Reis Restaurante

106 Cidade&Cultura
Linguiça Bragantina

shutterstock

De geração
em geração,
uma iguaria incomparável
Preparada com carne tritura- Outra curiosidade vem de Cons- pularidade subiu rapidamente no
da ou picada, temperada cozida tantino I, que governou Roma en- país todo e, hoje em dia, é muito
ou defumada, a linguiça sempre tre 306 e 337. Convertido ao cris- difícil encontrarmos um cardápio
agrada a todos. E esse preparo tianismo, condenou o consumo da sem esse ingrediente.
é muito antigo, pois há relatos linguiça por considerá-la o prato “Fatos importantes da nossa
até na Odisseia, de Homero, livro principal das festas pagãs. No história postados diante das re-
do século IX a.C. Alimento mui- Brasil, poucos podiam comer car- cordações. Nossa Bragança mar-
to consumido em Roma na épo- ne fresca, que era artigo exclusi- cada pelas aspirações e
ca do Império, era denominada vo dos mais abasta- pelos sonhos. Quem já
de farcimina, era feita de porco dos, e a linguiça era não ouviu falar da famo-
em fogões a carvão, e vendida uma solução fácil sa linguiça de Bragan-
na entrada da cidade. Mas essa para se fabricar, pois ça? Em qualquer ponto
iguaria surgiu da necessidade da utilizava as carnes do Brasil, Bragança é
população de preservar a carne menos nobres e a conhecida como a ter-
de caça. Então, picavam, tempe- criação de porcos era ra da linguiça! Por que
ravam e embutiam nas tripas dos mais fácil do que a do será? Quantas histó-
próprios animais abatidos. gado bovino. Sua po- rias já foram contadas?
Palmyra boldrini
vasconcellos
108 Cidade&Cultura
cellos
berto vAscon
Acervo José ro
NAtáLIA PeLLIccIArO
Quantas interpretações já foram E como não poderia deixar de ser, essa tradição virou a Festa da
dadas? Baseando-se em fatos Linguiça de Bragança Paulista, que já está angariando fãs do Brasil
e depoimentos, conferi o que os inteiro. Apesar de estar ainda em suas primeiras edições, essa Festa
mais velhos contam, ou melhor, tem todos os ingredientes para se perpetuar no calendário turístico
a história mais antiga porque o nacional, pois é constituída de vários atrativos interessantes, como
fabricante de linguiça, mesmo, o Concurso Gastronômico Sabores de Bragança, com chefs da alta
são os italianos que, no passado, gastronomia paulista para julgarem o Concurso Gastronômico, shows
início do século XX, vieram para e, obviamente, muita linguiça e suas variedades, todas fabricadas na
nossa região. Era hábito desses cidade com seu estilo tradicional de confecção.
imigrantes fazerem linguiça para
uso próprio. Alguns saíam com
cestas para vender em casas de
famílias bragantinas na época.
Por volta de 1917 e 1920, exis-
tia em Bragança uma senhora
chamada Palmyra Boldrini, resi-
dente numa travessa que hoje
é a rua Expedicionário Basílio
Zecchin, e ali fazia linguiças. Era
uma pessoa muito conhecida e
muitos bragantinos que moravam
em São Paulo vinham a sua casa
comprar. Nessa época, Bragança
tinha muitos viajantes, que hoje

NAtáLIA PeLLIccIArO
são conhecidos como represen-
tantes comerciais, e eles levavam
a linguiça para vender, divulgan-
do nossa cidade. Todos pergun-
tavam: de onde é? Daí o nome
Linguiça de Bragança. Judith Vas-
concellos, filha de Palmyra, nos
conta: ‘Naquele tempo, a lingui-
ça era conhecida como Linguiça
da Palmira de Bragança que mais
tarde ficou Linguiça de Bragan-
ça e até um governador, naquela
época, mandava buscar 80 kilos
(sic) por semana’. Ela ainda se
lembra do motorista e comenta:
DIVULGAÇÃO

“Um negrão daqui, ó!!! (sic)”.


Fonte: Passando pelo Passado, José Roberto
Leme de Oliveira – “Betinho”.

Bragança Paulista 109


não deixe de visitar

Monumentos da Avenida Dom


Pedro e Avenida dos Imigrantes
Vale a pena parar nos monumentos erguidos ao
longo dessas avenidas, que são uma amostra da
valorização dos bragantinos aos fatos importan-
tes que marcaram suas histórias e também o res-
peito aos que aqui escolheram se fixar.
FOTOS MarciO MaSula

Parque Luiz Gonzaga da Silva Leme


Também conhecido como Jardim Público, abriga vá-
rias árvores centenárias, parquinho para as crian-
Gostosuras
ças e um ótimo local para se distrair com um bom Nada como dar uma paradinha e po-
livro. Dada sua excelente localização, no centro da der saborear doces gostosos e fres-
cidade, é palco de várias festas populares. quinhos para continuar o passeio.

Mercado Municipal Praça do Rosário


Fazer compras em um lugar que oferece
É gostoso visitar essa praça que, além de aprazível
tudo fresquinho e produtos a granel, como
e arborizada, abriga o monumento em homenagem
no passado, é sempre um passeio interes-
aos bragantinos que participaram da Força Expedi-
sante, ainda mais regado a boa música.
cionária – FEB, na Segunda Guerra Mundial

112 Cidade&Cultura
Educação

Universidade São Francisco


Na cidade do Rio de Janeiro, Universidade São Francisco – USF. toriografia da Educação Brasileira.
em 1945, foi fundada a CNSP-ASF, Atualmente, conta com 238 salas Ele reúne acervos documentais de
Província Franciscana da Imaculada de aula, 176 laboratórios e 7 biblio- origem e natureza diversas e ofere-
Conceição do Brasil, que proporcio- tecas, totalizando 232.427 volu- ce uma vasta gama de documentos
nava aos moradores de menor pos- mes e 1.299 periódicos impressos para as diferentes áreas de pesqui-
se do bairro de Ipanema educação disponíveis. O Centro de Documen- sa. Outro setor fundamental à pes-
e assistência. Em 1976, a sede tação e Apoio à Pesquisa em Histó- quisa é o CDAPH, que desenvolve
da CNSP-ASF foi transferida para ria da Educação (CDAPH), vincula- atividades voltadas à identificação,
Bragança Paulista, já com Ensino do ao Programa de Pós-Graduação coleta, preservação, tratamento e
Superior e, nove anos mais tarde, em Educação da Universidade São divulgação de acervos de nature-
recebeu do MEC o reconhecimento Francisco, é um espaço de referên- za arquivística e bibliográfica, fo-
de Universidade, sob o nome de cia na pesquisa em História e His- mentando e oferecendo subsídios
tanto à pesquisa de iniciação cien-
tífica, de pós-graduação, especiali-
FOTOS MARCIO MASULA

Hospital - Universidade zação e aperfeiçoamento, como à


São Francisco sociedade em geral. A par da traje-
tória e dinâmica de suas diferentes
frentes de atuação, o Centro tem se
empenhado em produzir e contribuir
para a consolidação de uma vigo-
rosa política editorial, destinada a
garantir o acesso e a divulgação de
trabalhos fundamentais à docência
e ao desenvolvimento de pesquisas
em História da Educação brasileira.
Fonte:www.usf.edu.br

114 Cidade&Cultura
INGLÊS
Educação

Fundação Municipal
de Ensino Superior de
Bragança Paulista (FESB)

divulgação
Criada em 1967, a FESB possui os cursos de gra-
duação em Letras, Pedagogia, História, Geografia,
Educação Artística, Matemática, Química, Ciências
Biológicas, Educação Física (Licenciatura e Bacharela- esportivo (CEEF). E o NAFE, que é o Núcleo de Ativi-
do), Nutrição e Medicina Veterinária e também cursos dades Físicas e Esportivas, atende a comunidade ca-
técnicos em Edificações, Eletroeletrônica e Automação rente. Os laboratórios são altamente equipados, bem
Industrial, além de cursos de Pós-Graduação. Com o como todas as salas de aulas (multimídias). A FESB
aumento da demanda pelos cursos oferecidos, o Cam- possui a biblioteca “Waldemar Ferreira” com um acer-
pus foi totalmente reestruturado para o melhor apro- vo de aproximadamente 40.000 títulos. Possui convê-
veitamento do aluno. Possui hoje o HVET – Hospital nios com o FIES, Bolsa-Escola da Família e o CAPES/
Veterinário para animais de pequeno e grande porte, PIBID (Bolsa de Incentivo à Docência). O diferencial da
que atende toda a região. O NUTRIFESB, que é a clínica FESB é a tradição de quase meio século na qualidade
de nutrição, também faz parte da estrutura do curso e de ensino, e os grandes investimentos em infraestrutu-
atende a comunidade em geral. O curso de Educação ra ocorridos nos últimos anos.
Física recebeu a revitalização completa do complexo Fonte: Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista

biblioteca. Atualmente a biblioteca conta com 35.000


livros, assinaturas de jornais e revistas, 18.000 só-
cios, e em média atende 200 pessoas por dia, entre
estudantes e pesquisadores. Possui dez computado-
res com acesso à Internet gratuita para toda a po-
pulação. Tem como objetivo promover e estimular o
hábito de leitura, procurando sempre ter atualizados
em seu acervo lançamentos (best-sellers) para entre-
ter os usuários. Horário de atendimento: das 8h às
17h30, de segunda a sexta-feira. Localiza-se na praça
Hafiz Abi Chedid, 125, no prédio onde está também a
Câmara Municipal. Telefone 4034-5019.
Fonte: Secretaria de Turismo e Cultura

Biblioteca Municipal
Fundada em outubro de 1953, a Biblioteca Públi-
ca de Bragança passou a denominar-se Biblioteca
Pública Municipal “Dra. Adalzira Bittencourt” em ho-
FoToS NaTália Pellicciaro

menagem à ilustre bragantina intelectual da época:


advogada, poetisa e escritora. Possuía um acervo li-
terário inigualável, o qual foi então, em 1968, doado
ao município que a homenageou dando seu nome à

116 Cidade&Cultura
Dados estatísticos

André PrAtA
Data de Fundação Estabelecimentos
24 de outubro de 1856
Empresariais
Gentílico
3.800 (censo 2010)

Brangantino
Clima
Localização Geográfica Tropical de altitude
Microrregião Bragança Paulista

Rodovias
Longitude: 46°32’31” O
Latitude: 22°57’07” S
Altitude: 817 metros
de Acesso
Cidades Vizinhas
Fernão Dias – BR 381
Capitão Barduíno – SP 008 (até Socorro)
Atibaia, Itatiba, Jarinu, Morungaba, Pedra Bela, Benevenuto Moretto – SP 095 (até Pinhalzinho)
Pinhalzinho, Piracaia, Tuiuti e Vargem. Alkindar Monteiro Junqueira – SP 063 (até Itatiba)
João Hermenegildo Oliveira – SP 009 e 010 (até Vargem)
Área Total
512.621 km²
Densidade Demográfica
Pessoas Residentes (habitantes/km²)
146.744 (censo 2010) 286,26 hab/km²

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Gente da Terra

FOTOS MarciO MaSula

120 Cidade&Cultura
Bragança Paulista 121
bragantino
fonte são
francisco

André PrAtA

O orgulho de ser bragantino


Se orgulho é o contrário de humildade, isto não se grandes fazendas, deixando a seus descendentes um
aplica ao bragantino. Esse povo sorridente e humilde legado de competência e amor ao que construíram. Por
transborda de orgulho quando fala de sua cidade. O bri- um lado, a riqueza pela coragem do desbravamento,
lho dos antigos Barões do Café ainda corre nas veias por outro, o trabalho incessante para sobreviver com
de gente que tem a noção exata de quanto eles contri- dignidade. Duas qualidades fáceis de identificar nos
buíram para o desenvolvimento de nosso país. Trazem filhos dessa terra abençoada, de brava gente.
consigo também as marcas da luta pela sobrevivên-
cia de seus bisavós que laboravam de sol a sol nas renata Weber neiva

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