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Sagrada Escritura, Sagrado Magistério e Sagrada Tradição:

A Igreja Católica se apoia em três realidades sagradas: a sagrada Tradição, o sagrado


Magistério e a sagrada Escritura.

O sagrado Magistério, que Jesus deixou com Pedro e os apóstolos, o Papa e os bispos de
hoje, interpreta as duas fontes de revelação: a sagrada Tradição e a sagrada Escritura.

Os documentos pontifícios são designados por diversos nomes: Bula (o mais importante
de todos os títulos), Breve (Bula menos longa), Rescrito (resposta a uma pergunta ou
solicitação), Motu Próprio (Carta de iniciativa do próprio Papa), Encíclica (Carta Circular
que orienta os fiéis). As definições sobre fé e a Moral (dogmas) são geralmente publicadas
sob forma de Bula. Cabe aqui, uma pequena explicação sobre esses documentos e o grau
de importância de cada um, a qual devemos a Dom Estevão Bettencourt (Revista
“Pergunte e Responderemos” nª 483 – Ano : 2002 – pág. 344):

Pois bem, qual a autoridade dos documentos pontifícios?

Os pronunciamentos do Papa, quando exerce o seu magistério, exigem respeito e


acatamento. Todos eles são importantes, mas uma Bula tem mais peso do que uma
Encíclica. No entanto, para o mesmo efeito pode o Papa usar documentos diferentes;
assim Pio IX definiu o dogma da Imaculada Conceição mediante a Bulla Ineffabilis Deus
em 1854, ao passo que Pio XII definiu a Assunção de Maria mediante a Carta Apostólica
Munificentissimus Deus em 1950; 

Principais documentos usados pelo Papa:

Cartas Apostólicas

Carta Apostólica é denominação genérica. Apostólica aqui significa “do Apóstolo Pedro,
que fala por seu sucessor”.

As Cartas Apostólicas simplesmente ditas podem tratar de assuntos ligados ao governo da


Igreja: nomeação de Bispos, Cardeais, criação de nova diocese, canonização de algum(a)
Santo(a), temas doutrinários ou morais, comemoração de alguma data ou de evento
importante…

Constituição

É um documento de grande autoridade, que pode ser sobre os mais diversos temas: –
Constituição Dogmática (tais são a Lumen Gentium, a Gaudium et Spes, a Sacrosanctum
Concillum, a Dei Verbum, do Concílio do Vaticano II, promulgadas pelo Papa Paulo VI)…

– Constituição Apostólica: pode ser relativa ao governo da Igreja; por exemplo: a Const.
Regimini Ecclesiae Universae, de Paulo VI, datada de 1967, a Const. Pastor Bonus de
João Paulo II, promulgada em 1986 … Pode versar também sobre a Liturgia; assim a
Const. Divini Cultus, de Pio XI, promulgada em 1928. Sobre estudos e formação
doutrinária existe a Const. Deus Scientiarum Dominus, de Pio XI, datada de 1931.

Bula
Na Roma antiga, “bulla” significava um pequeno globo de metal vazio, que os vencedores
de um prêmio traziam pendente do pescoço. A partir do século VI os Papas empregaram a
bula (portadora do nome do Papa respectivo) a fim de autenticar os seus documentos;
Bulla conseqüentemente passou a designar o selo ou sinete do Papa. A partir do século
XIII Bula designa não apenas o globo de metal, mas a própria carta à qual ele se prende. –
Por Bula o Papa geralmente exprime algo de muito solene, tal foi o caso da Bula Ineffabilis
Deus, que em 1854 formulou a definição do dogma da Imaculada Conceição. Por Bula o
Papa convoca os participantes de um Concílio geral, cria ou desmembra uma diocese.

A Bula começa pelo nome do Papa, dito servus servorum Dei (servo dos servos de Deus),
segue-se uma saudação e o conteúdo do documento. Utiliza-se o pergaminho. Outrora a
letra era de tipo gótico e apresentava diversas abreviações, que tornavam difícil a leitura
do documento. Leão XIII, em 1878, determinou que se utilizasse a escrita comum. Até 1º
de janeiro de 1908 as Bulas eram datadas a partir de 25 de março (solenidade da
Encarnação) e os dias eram contados segundo a nomenclatura romana (kalendas, idus,
nonas); Pio X determinou a contagem dos dias segundo a terminologia corrente na
sociedade atual. As Bulas de muito grande importância têm, pendentes de cordões
coloridos, um globo de chumbo no qual está gravada a imagem das cabeças de São Pedro
e São Paulo.

Breve

O Breve é um documento normalmente mais curto e menos solene do que uma Bula, que
normalmente trata de questões privadas, como dispensa de irregularidades para exercer
alguma função na Igreja, dispensa de certos impedimentos do matrimônio, autorização de
oratório doméstico com o Santíssimo Sacramento, autorização para vender bens da Igreja,
outros benefícios e favores especiais.

A Santa Sé pode responder a uma petição mediante um Rescrito; uma breve resposta à
petição. Bula e Breve são às vezes equivalentes. Por exemplo, mediante um Breve Pio IX
em 1850 restaurou a hierarquia episcopal na Inglaterra, mas foi mediante uma Bula que
Leão XIII a restabeleceu na Escócia em 1878. A Companhia de Jesus foi reconhecida e
aprovada oficialmente por uma Bula de Paulo III em 1540; foi extinta por um Breve de
Clemente XIV em 1773 e finalmente restaurada por uma Bula de Pio VII em 1814.

Num Breve o nome do Papa é colocado no alto e no centro com o seu número de ordem
(assim João Paulo II). O destinatário é designado por um vocativo: Dilecte Fili (Dileto
Filho); após o quê há uma saudação: Salutem et Apostolicam Benedictionem, ou a
afirmação de perpetuidade: Ad perpetuam rei memoriam. O Breve termina com a indicação
da data e a menção do anel do Pescador (Pedro): Datum Romae, apud Sanctum Petrum,
sub annulo Piscatoris, die … O papel utilizado é branco e liso; os caracteres são os da
escrita corrente, com acentuação e pontuação.

Motu Proprio

Motu Proprio (do latim motivo próprio) é o documento que por iniciativa do próprio Papa,
com pleno conhecimento de causa. É um documento cujo conteúdo o Papa quer
recomendar com particular empenho. Tal tipo de documento traz sempre em seu título a
cláusula Motu Proprio, como aquele sobre alguns aspectos da celebração do sacramento
da Penitência, datado de 7 de abril de 2002 e assinado por João Paulo II. Os primeiros
documentos deste tipo apareceram durante o pontificado de Inocêncio VIII (1484-1492).
Faziam contraste às Cartas Decretais, que eram sempre a resposta dada a alguma
questão levantada e indicavam como o Direito deveria ser aplicado em determinadas
circunstâncias. O Motu Proprio, publicado sem nome de destinatário, tinha alcance mais
amplo.

O Motu Proprio pode abordar temas importantes e introduzir novas disposições


legislativas. Assim Paulo VI pelo Motu Proprio de 6 de agosto de 1966 “Ecclesiae Sanctae”
modificou alguns traços do Direito Canônico; aos 28 de março de 1971 também por Motu
Proprio remanejou normas do procedimento que investiga a nulidade de um casamento.

Rescrito

Rescrito vem do latim rescribere, que significa responder por escrito a uma carta ou a uma
pergunta escrita.

Em Roma chamavam-se rescripta as respostas que davam os imperadores às questões


de Direito sobre as quais eram consultados. No Direito Canônico tal palavra teve
significados diversos no decorrer dos séculos. O atual Código assim a define:

“Por rescrito entende-se o ato administrativo baixado por escrito pela competente
autoridade executiva, mediante o qual, por sua própria natureza, se concede privilégio,
dispensa ou outra graça, a pedido de alguém” (cânon 59 § 1º).

Pode acontecer que no texto do rescrito venha inserida a cláusula motu Proprio, ficando
assim enfatizado que o favor é concedido com benevolência particular, sem que se
receiem os obstáculos que poderiam entravar a concessão.

Tendo em vista a matéria dos rescritos, distinguem-se rescritos de justiça e rescritos de


graças; à primeira categoria pertencem todos aqueles que dizem respeito à administração
da justiça como aqueles que permitem introduzir uma causa no Tribunal da Santa Sé
desde a primeira instância. A Segunda categoria compreende os demais tipos de matéria.

Também é de notar que alguns rescritos concedem o favor “de maneira graciosa”, ou seja,
diretamente ao beneficiário; outros há que confiam ao Bispo local ou a algum intermediário
o encargo de conceder o favor solicitado.

Encíclica

Encíclica é uma Circular. Já nos primeiros séculos da Igreja os Bispos escreviam cartas
circulares aos seus irmãos no episcopado a respeito de assuntos doutrinários ou
disciplinares; assim fazia S. Atanásio (?373), tendo em mira a heresia ariana que, fazendo
do Filho a primeira criatura do Pai, ameaçava a integridade da fé. Ora o que um Bispo
efetuava em relação aos seus vizinhos, o Pontífice Romano teve a oportunidade de o fazer
em relação à Igreja inteira, ficando o termo (carta) encíclica reservado aos escritos papais,
ao passo que os demais Bispos escrevem Cartas Pastorais.

Somente no século XVIII, sob o pontificado de Bento XIV (1740-1758), a encíclica passou
a ser entendida como em nossos dias, a saber: como a forma mais pessoal e espontânea
pela qual o Papa exerce seu ministério de Pastor universal. A partir de Gregório XVI (1831-
46), os Papas têm multiplicado as suas encíclicas, de modo que através delas se pode
acompanhar a vida da Igreja. Em latim distinguem-se Litterae encyclicae (Carta encíclica)
e epistula encyclica (epístula encíclica). Esta última tem destinatários mais restritos e
conteúdo menos importante.

Geralmente as encíclicas se dirigem aos Patriarcas, Arcebispos, Bispos, Presbíteros,


Filhos e Filhas da Igreja; todavia o círculo pode-se alargar para compreender também os
homens de boa vontade (ver a enc. Redempto Hominis de João Paulo II), como pode
estreitar-se, abrangendo apenas o episcopado e os fiéis de uma nação, usando a língua
de tal povo. Foi isto que aconteceu na encíclica de Pio XI Non abbiamo bisogno (20/06/31)
sobre o fascismo e na encíclica Mit brennender Sorge do mesmo Papa (21/03/37) sobre o
nacional-socialismo. Quando redigida em latim (língua habitual), a encíclica é muitas vezes
acompanhada de uma tradução italiana. Pode-se acrescentar que as encíclicas são
designadas por suas duas ou três palavras iniciais.

As encíclicas não promulgam definições dogmáticas; abordam, sim, algum ponto


doutrinário que esteja sendo mal entendido; propõem orientações em situação difícil,
exaltam a figura de algum(a) Santo(a), procurando sempre fortalecer a vida cristã do povo
de Deus.

Embora não contenham definições infalíveis; as encíclicas merecem respeito e submissão,


que levam a nada dizer ou escrever em contrário ao ensinamento de alguma encíclica.
Afirma Pio XII na enc. Humani generis (12/08/1950):

“Não se deve julgar que o que vem proposto nas encíclicas não exige assentimento, sob o
pretexto de que os Papas aí não exercem o supremo poder do seu magistério”.

“Se os Papas em seus atos proferem um juízo sobre temática até então controvertida,
todos hão de compreender que essa matéria, segundo o pensamento e a vontade do
Sumo Pontífice, já não deve ser considerada matéria de livre discussão entre os teólogos”.

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