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Análise de métodos de avaliação de


espaços para pedestres

Otavio Henrique da Silva


UFSCar

João Karlos Locastro


FEITEP

Paula Polastri
UEM

Dalila Cristina Gomes


UFPR

Generoso De Angelis Neto


UEM

10.37885/210905990
RESUMO

Ambientes caminháveis são essenciais à promoção do transporte ativo e sustentável


nas cidades. Contudo, visando encorajar o transporte a pé, torna-se fundamental que
tais espaços, especialmente calçadas, forneçam conforto e segurança ao pedestre.
Neste sentido, diferentes métodos com abordagens diversas têm sido propostos para
a avaliação de infraestruturas destinadas ao trânsito de pessoas quanto à qualidade e
quanto ao Nível de Serviço (NS) por elas fornecido. Visto que o conhecimento de tais
ferramentas é essencial para a adequada aplicação destes instrumentos, este estudo
objetivou analisar diferentes modelos avaliadores de espaços caminháveis já elaborados.
Inicialmente, foram levantados 27 modelos, para os quais diagnosticou-se o local em
que foram desenvolvidos ou testados e os indicadores utilizados. Após análise, tais va-
riáveis foram classificadas em sete categorias: Acessibilidade, Agradabilidade, Conforto,
Conveniência, Operação de pedestres, Segurança de tráfego e Seguridade. Observou-se
que a maior parte dos estudos foi desenvolvida em cidades de portes médio e grande,
o que pode influenciar em métricas mais específicas para as características urbanas
dos portes em questão. Para avaliação de espaços de cidades pequenas, onde o fluxo
de pedestres é menor, entende-se que abordagens qualitativas sejam mais adequadas.
Alguns modelos analisados optaram por contemplar a percepção do usuário para definição
dos resultados dos modelos, o que é relevante do ponto de vista da participação social
caso tais métodos sejam utilizados por planejadores e gestores urbanos para embasar
futuras intervenções e projetos de novos espaços.

Palavras-chave: Calçadas, Nível de Serviço, Caminhabilidade, Modelos de Avaliação.

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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
INTRODUÇÃO

Espaços para pedestres, como calçadas, configuram-se como um importante elemento


dentro dos sistemas urbanos de transportes. A adoção das caminhadas como meio para a
realização de pequenas viagens, recreacionais ou utilitárias, traz diferentes benefícios ao
usuário, tanto para a saúde, como do ponto de vista econômico. Ademais, tais deslocamen-
tos melhoram a mobilidade urbana fazendo com que o veículo individual motorizado, mais
poluente, seja menos utilizado.
Destaca-se que ambientes públicos caminháveis devem ser inclusivos a todos. Sendo
assim, devem proporcionar condições adequadas de deslocamento sobretudo para pes-
soas que possuem alguma restrição de mobilidade, como Pessoas com Deficiência (PcD) e
Pessoas com Mobilidade Reduzida (P.M.R.). Esse segmento da sociedade é o mais sensível
à ausência de qualidade da infraestrutura de circulação a pé.
Diferentes variáveis podem influenciar a qualidade dos espaços para pedestres, o
que reflete diretamente no Nível de Serviço (NS) por eles proporcionado. Nesse contexto,
diferentes estudos têm abordado formas para a quantificação da adequabilidade desses
locais. A partir de diferentes abordagens, tais propostas buscam fornecer ferramentas para
a avaliação dos espaços caminháveis, algumas delas contemplando parâmetros de capa-
cidade da via, outras considerando o ambiente da caminhada de modo mais amplo.
Os métodos de avaliação, qualitativos e quantitativos, são importante do ponto de vista
do planejamento urbano, visto que podem fornecer um diagnóstico detalhado das condições
de uma infraestrutura. A partir disso, pode-se identificar pontos de intervenção específicos
para a melhoria do serviço voltado ao usuário.
Para Soares, Strauch e Ajara (2006), no que diz respeito à determinação do NS, tor-
na-se fundamental construir adequadamente um modelo capaz de medir esse fenômeno.
Keppe Júnior (2008) afirma que a utilização de indicadores é interessante quando se tem
a necessidade dessa medição, tanto quando objetiva-se conhecer melhor o espaço, como
quando deseja-se embasar uma tomada de decisão. Zhao et al. (2014) entendem que mé-
todos que medem o NS de calçadas podem fornecer adequado apoio teórico para promoção
de ambientes de viagem confortáveis.
Para selecionar um modelo de avaliação a ser aplicado em um ambiente dedicado ao
trânsito de pedestres, ou ainda para embasar a construção de um índice específico para
determinada tipologia urbana, o conhecimento das ferramentas de avaliação disponíveis é
essencial. Desse modo, esta pesquisa teve por objetivo analisar diferentes métodos avalia-
dores de espaços caminháveis desenvolvidos ao longo do tempo.

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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
MÉTODO

O estudo consiste numa pesquisa exploratória e descritiva, realizada por meio do levan-
tamento e análise de pesquisas científicas e documentos técnicos que buscaram construir
modelos de qualificação de espaços para pedestres já consolidados, nacional e internacio-
nalmente. Portanto, diagnosticou-se os aspectos levados em conta para determinação da
qualidade da infraestrutura caminhável pelos métodos, sendo identificados os contextos
urbanos para os quais as ferramentas foram desenvolvidas.

Métodos levantados

Foram levantados 27 modelos de avaliação de infraestrutura de circulação pedonal,


publicados em artigos e normas técnicas, do Brasil e de outros países. No primeiro estudo
que versa sobre o tema, Fruin (1971) propõe a utilização do conceito de NS para as calça-
das, com a utilização de critérios de velocidade, fluxo e densidade de pedestres para definir
diferentes capacidades do espaço conforme tráfego. O autor confeccionou uma escala de
seis NS para as calçadas variando do melhor padrão de fluxo de pedestre por metro no
período de um minuto e maior área disponível por pedestre durante a caminhada (A) até o
pior padrão, no qual há a condição de congestionamento (F) (Quadro 1).

Quadro 1. Escala de Nível de Serviço proposta por Fruin (1971).

NS Área disponível por pedestre (m².ped–1) Taxa de fluxo (ped.(min.m)–1)

A Maior que 3,25 Menor ou igual a 23


B 2,32 ─l 3,25 23,0 ─l 32,8
C 1,39 ─l 1,32 32,8 ─l 48,2
D 0,93 ─l 1,39 48,2 ─l 65,6
E 0,46 ─l 0,93 65,6 ─l 82,0
F Menor ou igual a 0,46 Fluxo congestionado
Fonte: Fruin (1971).

As indicações de Fruin (1971) embasaram as recomendações da Companhia de


Engenharia de Tráfego – CET em seu Boletim Técnico Nº 17 (CET, 1978), no qual há a
associação do NS, também, a uma abordagem quantitativa.
O Highway Capacity Manual – HCM, publicado desde 1950 pelo órgão americano
Transportation Research Board – TRB, reporta metodologias para analisar a capacidade e
qualidade de serviço da infraestrutura rodoviária, sendo posteriormente incluídas, em 1985,
diretrizes à análise de capacidade das vias para pedestres. A variação do NS de uma calçada
se dá por parâmetros quantitativos (TRB, 2000; TRB, 2010) (Quadro 2). Quando comparada
à escala de NS de Fruin (1971), tem-se que a do HCM (2010) é mais rígida, requerendo
maior área por pedestre e menor fluxo para admissão de melhor NS ao trecho.
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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
Quadro 2. Escala de Nível de Serviço proposta pelo HCM.
Área disponível por pedes- Taxa de fluxo (ped.
NS Descrição Representação do cenário
tre (m².ped–1) (min.m)–1)

Capacidade de se mover no caminho


A sem necessidade de alterar os movi- Maior que 5,6 Menor ou igual a 16
mentos

Necessidade ocasional de ajustar o


B 3,7 ─┤ 5,6 16 ─┤ 23
caminho para evitar conflitos

Necessidade frequente de ajustar o


C 2,2 ─┤ 3,7 23 ─┤ 33
caminho para evitar conflitos

Velocidade e capacidade de ultrapassar


D 1,4 ─┤ 2,2 33 ─┤ 49
pedestres mais lentos restritos

Velocidade restrita, capacidade muito


E limitada para ultrapassar pedestres 0,75 ─┤ 1,4 49 ─┤ 75
mais lentos

Velocidade severamente restringida,


F Menor ou igual a 0,75 Fluxo congestionado
contato frequente com outros usuários

Fontes: TBR (2000); TRB (2010)

Após análise de diferentes métodos de avaliação, Sisiopiku, Byrd e Chittoor (2007)


concluíram que o método HCM (TBR, 2000) tende a sobrevalorizar o NS da calçada, pois
ignora fatores relacionados às preferências e percepções dos usuários e à qualidade do am-
biente de caminhada, já que uma calçada desocupada nem sempre é sinal de bom serviço.
Também, utilizando aspectos quantitativos, Polus, Schofer e Ushpiz (1983) estabele-
ceram uma relação do NS com a densidade, área disponível por pedestre e fluxo de pedes-
tres. Já Mori e Tsukaguchi (1987) descrevem dois métodos diferentes para se avaliar calçadas:

I. Primeiro modelo: baseado no comportamento dos transeuntes, faz-se uso de índi-


ces de densidade de pedestres e largura da calçada para estimar o NS de uso de
calçada, sendo recomendado para os passeios com tráfego mais intenso; e
II. Segundo modelo: compreende uma avaliação baseada na opinião dos pedestres,
sendo adequado para os caminhos com tráfego leve.

Conforme Sarkar (1993), além de características quantitativas, faz-se importante a


realização de avaliação de parâmetros qualitativos para prover instalações adequadas,
principalmente para idosos, crianças e PcD. A autora sugere a utilização dos fatores de
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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
segurança, seguridade, conveniência e conforto, continuidade, coerência do sistema e atra-
tividade à qualificação dos caminhos de pedestres, sendo que, para cada parâmetro, foram
expostos cenários representativos de NS decrescente, de A até F.
Apesar de não compreender análises qualitativas em seu método, Fruin (1971) des-
taca que a qualidade modo de deslocamento a pé inclui a continuidade dos trajetos, a
atratividade dos percursos e a conveniência, elementos sutis que envolvem fatores como
a distância a ser percorrida, a inclinação, as condições das calçadas e qualquer outro fator
que facilite a caminhada.
Khisty (1994) entende o NS como a medida global de todas as características que afe-
tam usuários de um sistema e afirma que, embora medidas de capacidade afetem fatores
relacionados à possibilidade de serem realizadas ultrapassagens e de se evitarem conflitos,
fatores adicionais devem ser levados em conta, haja vista suas contribuições à experiência
de caminhada. O autor propôs um método baseado em sete parâmetros qualitativos: atrati-
vidade, conforto, conveniência, segurança, seguridade, coerência do sistema e continuida-
de do sistema. O método também utiliza uma escala de pontos, variando de acordo com a
satisfação expressa pelo usuário, a qual é associada ao NS (Quadro 3).

Quadro 3. Escala de Nível de Serviço proposta por Khisty (1994).

NS Nível de satisfação do usuário Pontuação


A Maior ou igual a 85% 5
B 60 ├─ 85% 4
C 45 ├─ 60% 3
D 30 ├─ 45% 2
E 15 ├─ 30% 1
F Menor que 15% 0
Fonte: Khisty (1994).

Já Dixon (1996) elaborou uma avaliação para determinação do NS do espaço pedonal


em conjunto ao cicloviário, podendo ser aplicável em avaliações de corredores em rodovias
arteriais e coletoras, em áreas urbanas ou suburbanas. A metodologia pressupõe que há
uma massa crítica de variáveis que deve estar presente para atrair viagens não motorizadas.
Desta forma, foi definida uma série categorias com pontuações específicas para critérios
a elas relacionados e, de acordo com o somatório dos pontos, é indicado o NS (A até F).
Com relação à percepção de segurança dos pedestres no ambiente, Landis et al. (2001)
elaboraram um método visando quantificar esse fator. O modelo incorpora as variáveis da via
e do tráfego estatisticamente significativas, possibilitando determinar a qualidade da opera-
ção da calçada associada à percepção de segurança e ao conforto do pedestre. Sisiopiku,
Byrd e Chittoor (2007) consideram que o modelo de Landis et al. (2001) é adequado para
o objetivo a que é proposto.
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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
No método proposto por Ferreira e Sanches (2001) são realizadas três etapas para
avaliação da qualidade das calçadas. Inicialmente, realiza-se uma análise técnica do pa-
vimento, a qual adota cinco parâmetros qualitativos ordinais envolvendo espaço, conforto,
segurança e aspectos estéticos agradáveis, condicionando-se escores, variando de 0 a 5,
correspondentes aos diferentes cenários em que as calçadas possam estar condizentes.
Na segunda etapa, Ferreira e Sanches (2001) realizaram a ponderação dos indicado-
res de qualidade pré-estabelecidos de acordo com a percepção dos usuários. Para isso, foi
utilizada uma escala de atitudes de acordo com a definição do grau de importância atribuída
a cada indicador. Na última etapa, obtém-se o NS da infraestrutura por meio do Índice de
Qualidade das Calçadas – IQC, abrangendo a soma das pontuações da avaliação técnica
devidamente ponderadas (Quadro 4).

Quadro 4. Escala de Nível de Serviço proposta por Ferreira e Sanches (2001).

IQC Condição NS
5,0 Excelente A
4,0 a 4,9 Ótimo B
3,0 a 3,9 Bom C
2,0 a 2,9 Regular D
1,0 a 1,9 Ruim E
0,0 a 0,9 Péssimo F
Fonte: Ferreira e Sanches (2001).

Muraleetharan et al. (2005) realizaram a identificação de fatores que afetam o NS de


interseções para pedestres por meio de uma regressão multivariada da opinião dos usuários.
Definiu-se que os principais aspectos relacionados ao NS envolvem o espaço disponível na
esquina, as facilidades na travessia, a conversão de veículos, o atraso dos semáforos e a
interação pedestre-bicicleta.
Ferreira e Sanches (2005) apresentaram um indicador que permite avaliar o desem-
penho da infraestrutura das calçadas, das faixas de travessias em interseções de vias e,
também, dos espaços públicos, com enfoque nas expectativas e necessidades da pessoa
em cadeira de rodas (P.C.R.), sendo definidos cinco atributos a serem contemplados nas
análises dos trechos: perfil longitudinal, estado de conservação da superfície da calçada, tipo
de material usado no revestimento do pavimento, adequação dos tipos de materiais usados
na construção do pavimento, largura efetiva e adequação da travessia das vias urbanas.
A aplicação do método de Ferreira e Sanches (2005) se deu por meio de três etapas,
tal como Ferreira e Sanches (2001). Entretanto, Ferreira e Sanches (2005) propuseram
que a análise fosse realizada para cada testada dos lotes lindeiros à calçada, fazendo com
que o Índice final da quadra, denominado Índice de Acessibilidade – IA, fosse proporcional

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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
às notas ponderadas dos trechos da quadra. Com o valor do IA define-se o respectivo NS,
cujas faixas são iguais às de Ferreira e Sanches (2001).
Com base em Ferreira e Sanches (2001) e em Ferreira e Sanches (2005), Keppe
Junior (2008) formulou o Índice de Acessibilidade de Calçadas e Travessia – IACT, e Silva
e De Angelis Neto (2019) desenvolveram o Índice de Serviço das Calçadas (ISC). O IACT
abrange aspectos ambientais, de segurança e de conforto para retratar o ambiente ideal, já
o ISC considera dos grupos de indicadores: Qualidade do espaço e Acessibilidade. Após
aplicação de escores, variando de 0 a 5, e respectiva ponderação conforme importância das
variáveis, realiza-se um cálculo para determinação do IACT e do ISC e do respectivo NS (A
até F). Os dois métodos em questão levam em conta a percepção dos usuários.
Sisiopiku, Byrd e Chittoor (2007), ao compararem quatro métodos, determinaram
o NS para pedestre em calçadas e travessias, realizando, também, uma análise conjunta com-
binando atributos que afetam o percurso, visando suprir as deficiências dos demais métodos.
Tais atributos baseiam-se no nível de importância que o usuário confere a eles. O trabalho
dos autores demonstrou que o mesmo segmento de calçada pode receber classificações
de NS múltiplas, quando se consideram diferentes modelos.
Em seu procedimento de avaliação do NS, Tan et al. (2007) contemplam aspectos
operacionais dos fluxos de bicicletas, de pedestres e de veículos, frequência de acesso à
calçada e a distância entre a calçada e a pista de rolamento de veículos. O modelo consi-
derou a percepção dos pedestres quanto à reação que as variáveis adotadas têm para sua
sensação de conforto e segurança, por meio de questionários. Após procedimentos estatís-
ticos de ponderação, realiza-se o cálculo do valor do NS, variando de A até F.
Em publicação de Dowling et al. (2008), são apresentados métodos de avaliação mul-
timodal da qualidade do serviço de uma via, sendo considerados pontos de vista de qua-
tro tipos de viajantes: motorista, passageiro, ciclista e pedestre. O modelo para pedestres
envolve a combinação da densidade de pedestres, largura da calçada, fluxo e velocidade
dos veículos. Por meio de regressão, determinam-se pesos dos parâmetros com posterior
definição da pontuação do Índice Pedestrian Level of Service – PLOS, com atribuição do
grau de NS (A até F).
Analisando as relações de fluxo de pedestres e largura da calçada para com o NS, Kim,
Choi e Kim (2011) observaram que o serviço se deteriora conforme as larguras são reduzi-
das e, quando se trata da mesma dimensão, se o tamanho do grupo de pedestres cresce,
os níveis correspondentes de serviço são diminuídos. A relação estabelecida nesse estudo
pode ser utilizada, tanto no planejamento de nova infraestrutura, como para a adaptação
das vias urbanas.

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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
Em sua pesquisa, Florindo et al. (2012) buscaram validar uma escala de percepção
do ambiente para a prática de atividade física em adultos de uma região de baixo nível
socioeconômico. Foram utilizados seis escores que influenciavam na caminhada dos usuá-
rios: acessibilidade a conveniências, segurança no trânsito, segurança geral, apoio social,
poluição geral e animal de estimação.
Cotrim et al. (2012) destacam que aspectos como limpeza, manutenção do pavimento,
iluminação adequada e considerações sobre a questão ambiental são de grande relevância
para os pedestres que utilizam as calçadas com frequência, sendo que o Nível de Serviço
de qualidade incentiva o uso desse meio de locomoção. Em outro estudo, Camilo (2013)
empregou um procedimento de qualificação de calçadas baseado no índice desenvolvido
por Ferreira e Sanches (2001), sendo utilizados 15 parâmetros ponderados pela percepção
dos usuários, obtendo-se de um Índice final e respectivo NS (A até F).
Com base no estudo da literatura, Lamit et al. (2013) estabeleceram 56 variáveis que
influenciam na caminhabilidade, as quais foram agrupadas em três níveis para a análise
de calçadas. O modelo de avaliação desenvolvido, o Path Walkability Index – PAWDEX, é
indicado para avaliar trajetos dos moradores em direção a destinos localizados dentro de
seus bairros. Inicialmente é realizada uma coleta e processamento de dados com posterior
cálculo de classificação da pontuação e análise das variáveis e, por último, é determinada
a categorização final em um de cinco níveis possíveis, com confecção de mapeamento dos
trechos com respectiva classificação.
Em seu modelo, Talavera-Garcia e Soria-Lara (2015) associam conectividade, largu-
ra do pavimento, velocidade do tráfego de veículos, número de vias, densidade arbórea e
densidade comercial como fatores que influenciam o NS.
Analisando a dinâmica das travessias de pedestres, Kadali e Vedagiri (2015) concluíram,
a partir dos resultados do modelo idealizado pelos autores, que a segurança percebida, a
dificuldade de cruzamento, a condição de uso do solo, o número de veículos encontrados, a
largura média e o número de faixas têm efeito significativo sobre os pedestres na percepção
do uso de atalhos inadequados, como travessias realizadas no meio quadra sem sinalização.
Asadi-Shekari, Moeinaddini e Shah (2015) propuseram um método que leva em conta
um índice de segurança dos pedestres, o Pedestrian Safety Index – PSI. Para tanto, fez-se
uso de um sistema de pontos, em que são comparadas as condições existentes a um padrão
de qualidade. Foram utilizadas 24 variáveis de qualificação, entre elas, a velocidade de trân-
sito no leito carroçável, as barreiras entre a circulação de veículos e a calçada, a paisagem e
arborização, a iluminação e a inclinação da via. Após procedimentos matemáticos define-se
o valor do Índice, com respectiva classificação, de A até E (Quadro 5)

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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
Quadro 5. Escala de Nível de Serviço proposta por Asadi-Shekari, Moeinaddini e Shah (2015).

PSI Escore Interpretação


A 80-100 Maior qualidade (muito agradável), presença de muitas instalações importantes para a segurança de pedestres
B 60-79 Alta qualidade (aceitável), presença de instalações importantes para a segurança de pedestres
Qualidade média (raramente aceitável), presença de instalações para a segurança de pedestres, contudo
C 40-59
havendo espaço para melhorias
D 20-39 Baixa qualidade (desconfortável), presença de instalações mínimas para a segurança de pedestres
E 0-19 Menor qualidade (desagradável)
A 80-100 Maior qualidade (muito agradável), presença de muitas instalações importantes para a segurança de pedestres
Fonte: Asadi-Shekari, Moeinaddini e Shah (2015)

Mais recentemente, Silva et al. (2020) desenvolveram um modelo de avaliação de espa-


ços considerando especificamente a dimensão da acessibilidade, denominado Accessibility
of Walkable Spaces index (AWS). Para a aplicação do AWS, é necessário realizar um
procedimento de avaliação que contempla sete indicadores mensuráveis, relacionados à
promoção de rotas acessíveis, conforme preconizado pela normatização técnica brasileira.
Após o processo de atribuição de escores para um ambiente caminhável, realiza-se uma
multiplicativa das pontuações atribuídas, de modo que o resultado indica a condição de
facilidade de acesso, variando de 0 (Inacessibilidade) até 1 (Acessibilidade).

RESULTADOS

Após análise das 27 pesquisas levantadas, foi possível identificar o local de desenvol-
vimento dos métodos propostos, bem como as variáveis de avaliação utilizadas, as quais
foram agrupadas em seis atributos distintos (Quadro 6). Os atributos definidos são compostos
por variáveis similares, conforme o entendimento e definições dadas pelos autores:

I. Acessibilidade (A): facilidade de deslocamento, sinalizações visual e sonora, aces-


so ao transporte público, existência de rampas;
II. Agradabilidade (B): estética urbana, atratividade visual, qualidade da arquitetura e
da paisagem natural, convívio social, áreas verdes e arborização;
III. Conforto (C): Revestimento e conservação do pavimento, inclinação da calçada,
poluição sonora e do ar, existência de local para descanso, sombreamento;
IV. Conveniência (D): continuidade do trajeto, ocupação da calçada, facilidade na tra-
vessia, obstáculos e interferências, área disponível na esquina;
V. Operação de pedestres (E): velocidade, fluxo e densidade de pedestres, atrasos,
área disponível por usuário;
VI. Segurança de tráfego (F): fluxo de veículos, velocidade permitida na via, separação
do leito carroçável para a calçada, conflito com bicicletas, segurança na travessia; e
VII. Seguridade (G): percepção de seguridade, policiamento, presença de pessoas, vi-
sibilidade e iluminação à noite, criminalidade, segurança pessoal. 192
Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
Com base nos diferentes métodos desenvolvidos pelos pesquisadores, verifica-se
a possibilidade de se contemplar abordagens quantitativas, como é a de Fruin (1971), do
HCM (TRB, 2010), e de Kim, Choi e Kim (2011) como aquelas qualitativas, tal como Khisty
(1994), Dixon (1996), Ferreira e Sanches (2001), Talavera-Garcia e Soria-Lara (2015) e Silva
e De Angelis Neto (2019) realizaram. Ainda, outras pesquisas apresentam enfoque misto,
como Dowling et al. (2008) executaram.

Quadro 6. Local de desenvolvimento dos métodos de avaliação de espaços caminháveis levantados e respectivos atributos
utilizados pelos autores.

Atributos
Autor Local de desenvolvimento do método
A B C D E F G
Fruin (1971) EUA X
CET (1978) São Paulo, SP X
Polus, Schofer e Ushpiz (1983) Haifa, Israel X
Mori e Tsukaguchi (1987) – maior fluxo Osaka, Japão X
Mori e Tsukaguchi (1987) – menor fluxo Osaka, Japão X X X X
Sarkar (1993) Munique, Alemanha; Roma, Itália X X X X X
Khisty (1994) Chicago, EUA X X X X X
Dixon (1996) Gainesville, EUA X X X X X
Landis et al. (2001) Pensacola, EUA X X
Ferreira e Sanches (2001) São Carlos, SP X X X X X
Muraleetharan et al. (2005) Sapporo, Japão X X X X
Ferreira e Sanches (2005) São Carlos, SP X X X
Keppe Junior (2008) São Carlos, SP X X X X X X
Sisiopiku, Byrd e Chittoor (2007) Birmingham, EUA X X X
Tan et al. (2007) Nanquim, China X X
Dowling et al. (2008) EUA X X X
HCM (TRB, 2010) EUA X
Kim, Choi e Kim (2011) Seul, Coréia do Sul X
Florindo et al. (2012) São Paulo, SP X X X X X X
Cotrim et al. (2012) Maringá, PR X X X
Camilo (2013) Maringá, PR X X X X X X
Lamit et al. (2013) Johor Bahru, Malásia X X X X X X
Talavera-Garcia e Soria-Lara (2015) Granada, Espanha X X X X X X
Kadali e Vedagiri (2015) Bombaim, Índia X X X
Asadi-Shekari, Moeinaddini e Shah (2015) Sembawang, Singapura X X X X X X
Silva e De Angelis Neto (2019) São Tomé, PR X X X X X X
Silva et al. (2020) São Tomé, PR X X X

Em que: A, B, C, D, E, F e G representam Acessibilidade, Agradabilidade, Conforto,


Conveniência, Operação de pedestres, Segurança de tráfego e Seguridade, respectivamente.
Destaca-se que algumas ferramentas elaboradas levam em conta a percepção dos
pedestres, como é o caso dos modelos internacionais de Mori e Tsukaguchi (1987) para
menor fluxo, de Khisty (1994), de Landis et al. (2001) e de Tan et al. (2007), bem como das
metodologias desenvolvidas no Brasil de Ferreira e Sanches (2001), de Ferreira e Sanches
(2005), de Keppe Junior (2008), de Camilo (2013) e de Silva e De Angelis Neto (2019). Este
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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
fator tem relevância na medida em que, tendo em vista sua convivência com determinado
sistema de circulação urbana, confere-se ao usuário autonomia para participar, na elabo-
ração ou validação, de um procedimento que trata especificamente de quão adequado é o
serviço a ele destinado.
Observando os locais de desenvolvimento e de aplicação dos métodos, tem-se que a
maioria deles se deu em cidades de médio e grande portes. Todavia, isto não exclui a pos-
sibilidade de cidades pequenas serem submetidas aos modelos. Entende-se que podem ser
realizadas adaptações, haja vista que tais centros menores possuem peculiaridades que as
diferenciam de outros maiores, como menores fluxos a serem acomodados nas calçadas, o
que torna a abordagem quantitativa possivelmente menos interessante. É necessário prudên-
cia para que o NS não seja sobre ou subvalorizado, sendo necessária análise caso a caso
conforme especificidade da urbe. Destaca-se que, mais recentemente, dois modelos foram
desenvolvidos com base na realidade de cidades pequenas, o ISC (SILVA; DE ANGELIS
NETO, 2019) e o AWS (SILVA et al., 2020).

CONCLUSÃO

Os métodos de avaliação capazes de avaliar a adequabilidade do uso da infraestru-


tura destinada à circulação de pedestres constituem ferramentas importantes para apoiar o
adequado desenvolvimento urbano, podendo ser úteis tanto para a requalificação do espaço
urbano, como para a elaboração de novos projetos. Face à diversidade de fatores que po-
dem ser associados à qualidade dos espaços caminháveis, em especial das calçadas, cabe
aos gestores e planejadores urbanos definirem a adequabilidade de determinado método
avaliador, conforme propósito almejado.
No caso de centros menores, menos utilizados para elaboração ou validação de mé-
todos avaliadores, a abordagem qualitativa tende a ser mais apropriada, tendo em vista
especificidades como a existência de menores fluxos de pedestres.
Finalmente, destaca-se a relevância de se contemplar a participação do usuário para
composição do NS. Como o pedestre é quem melhor conhece os desafios locais para sua
locomoção, sua opinião é importante para refletir mais precisamente quais são os níveis de
serviço a ele oferecido e por ele almejado. Essa característica é interessante do ponto de vista
da participação social, caso tais ferramentas sejam adotadas no processo de planejamento
urbano para embasar futuras intervenções e projetos de novos ambientes caminháveis.

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Qualidade e Sustentabilidade na Construção Civil
REFERÊNCIAS
1. ASADI-SHEKARI, Zohreh; MOEINADDINI, Mehdi; SHAH, Muhammad Z. Pedestrian safety
index for evaluating street facilities in urban areas. Safety Science, v.74, p. 1-14, 2015.

2. CAMILO, Juliana C. Qualificação dos Espaços de Circulação Urbana – Calçadas em Ma-


ringá-PR. 2013. 127 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana). Universidade Estadual
de Maringá, Maringá, 2013.

3. COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO – CET. Áreas de Pedestres: conceitos. Boletim


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