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Totalitarismo

O totalitarismo foi um regime político que surgiu e desapareceu em


países europeus no século XX. Os regimes totalitários têm em comum
o controle total da vida pública e da vida privada. Para se
manterem, os países que adotaram o totalitarismo elegeram líderes
totalitários, que centralizaram as diversas figuras do poder e a atuação
do Estado em si mesmos, além de investirem fortemente em
propaganda e elegerem inimigos em potencial, que se tornaram a
maior justificativa interna para que o totalitarismo funcionasse.
Podemos observar três exemplos maiores e principais de totalitarismo
na Europa do século XX: o nazismo, de Hitler, o fascismo, de
Mussolini, e o stalinismo, na União Soviética. Porém, as ditaduras
autoritárias de Franco (Espanha) e Salazar (Portugal) podem ser
consideradas totalitárias, além de terem inspirações no fascismo
italiano de Benito Mussolini.
Leia também: O que é ditadura militar?
Origem do totalitarismo
Apesar de alguns teóricos tentarem imputar a origem do totalitarismo
ao comunismo, seja pela dissidência, seja pela reação, não é possível,
a partir de uma análise isenta de visões ideológicas, apresentar um
motivo preciso que tenha dado origem a todos os regimes totalitários.
É notório, porém, que há um elemento em comum entre eles: a crise.
Todos os regimes totalitários surgiram em uma época de crise
europeia, deixada principalmente pela Primeira Guerra Mundial e por
políticas econômicas ineficazes. A crise levou a uma caótica situação
de alta inflação, miséria, fome, desemprego e falta de assistência
básica à população.
Os regimes políticos totalitários apareceram
naquele cenário caótico como possíveis soluções para os problemas
da população e, por isso, ganharam apoio popular. Podemos associar,
então, a origem do totalitarismo ao ódio a alguma categoria social,
justificada pelo medo e pelo terror imputados na população.
Leia também: O nazismo era de esquerda ou de direita?
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Exemplos de totalitarismo
 Nazismo: liderado por Adolf Hitler, ocorreu na Alemanha entre 1933
e 1945.
 Fascismo: liderado por Benito Mussolini, vigorou na Itália entre 1922
e 1943.
 Stalinismo: o comunismo soviético iniciou-se em 1917, a partir da
Revolução Russa, mas o stalinismo, surgido de uma interpretação
particular e heterodoxa de Josef Stalin do marxismo, somente entrou
em cena em 1924, perdurando até 1953.
 Franquismo e Salazarismo: Francisco Franco foi um general que
dominou a Espanha entre 1939 e 1975; Antônio de Oliveira Salazar
dominou Portugal entre 1926 e 1970, acabando com o liberalismo
econômico e implantando o Estado Novo português. Ambos os líderes
são considerados totalitários, anticomunistas, nacionalistas e tiveram
inspiração no fascismo de Mussolini.
Para saber mais sobre os acontecimentos que marcaram esse
tipo de regime, recomendamos a leitura do texto Regimes
totalitários: exemplos, características, consequências.
Características do totalitarismo
Podemos elencar alguns elementos em comum que delineiam o
conceito de totalitarismo, tanto no exemplo de regime totalitário de
extrema-esquerda (União Soviética) quanto nos regimes totalitários de
extrema-direita (Alemanha e Itália). Esses elementos são:

 Cenário caótico da crise: A Alemanha, no momento de ascensão do


partido nazista, passava por crise financeira e institucional deixada
pela Primeira Guerra Mundial, o que resultou na fome e no
desemprego. Hitler e o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães surgiram como uma esperança de recuperação. No início,
Hitler recebeu forte apoio popular. Não foi diferente na Rússia, que
também foi devastada pela Primeira Guerra e por anos de monarquia
czarista. Em 1917, quando estourou a Revolução Russa, os líderes do
movimento (Lenin tornou-se o mais importante líder do processo
revolucionário) prometeram eliminar as mazelas enfrentadas pelo país.
Com a saída de Lenin do poder, Stalin, o sucessor, impôs um regime
totalitário de esquerda, que tinha como principal inimigo os
anticomunistas.
 Identificação de um inimigo em comum: em todos os regimes
totalitários, podemos encontrar a identificação de inimigos potenciais
em comum, que, em geral, são grupos que não partilham do interesse
do regime ou que são escolhidos para servirem de alvo da indignação
popular. Tendo um alvo em comum, é mais fácil manter o povo unido
em prol de um objetivo final. No caso do stalinismo, o inimigo era o
burguês; para os nazistas, o inimigo central era o povo judeu, além de
ciganos, comunistas e homossexuais; para os fascistas, os inimigos
eram os estrangeiros, os antinacionalistas e os críticos do Estado forte,
como os anarquistas.
 Controle total da vida da população: é característica comum dos
regimes totalitários o controle da vida da população, tanto no âmbito
público quanto no âmbito privado. Essa característica difere o
totalitarismo das ditaduras, pois ela confere ao Estado plenos poderes
de decidir arbitrariamente sobre tudo aquilo que a população pode ou
não acessar, em todos os aspectos de sua vida. Isso faz com que o
Estado seja excessivamente inflado, estabelecendo um elo
entre totalitarismo e autoritarismo, o que pode causar confusão
entre o totalitarismo e o comunismo. Apesar de haver o registro de um
regime totalitário de esquerda (o stalinismo), não se pode dizer que os
regimes totalitários sejam, essencialmente, de esquerda ou que o
comunismo seja uma proposta totalitária.
 Centralização do poder: para se sustentarem, os regimes totalitários
centralizaram o poder nas mãos de um líder ou de um grupo político, o
que levou ao culto à personalidade e, como estratégia, os grupos ou
líderes propagaram o nacionalismo e o patriotismo como elementos
essenciais para o crescimento da nação. Há também o unipartidarismo.
 Propaganda: todos os regimes totalitários investiram fortemente em
publicidade para propagarem os ideais totalitários e manterem o
domínio ideológico sobre o povo. A ideia era manter o apoio popular,
mesmo em momentos de crise. A propaganda nazista, stalinista e
fascista foram extremamente fortes, sempre apresentando o líder e o
Estado como os salvadores da pátria contra os inimigos. Qualquer
indício de pensamento liberal ou antinacionalista (como a defesa da
cultura e da economia globalista) era combatido com a incisiva
propaganda, que dominava todos os meios de comunicação, afinal,
todos os meios de comunicação foram estatizados. As rádios, o
cinema, os jornais, tudo que fosse meio de disseminação cultural
deveria passar pelo crivo do Estado. Para controle efetivo dos meios
de comunicação e garantia da propaganda, os líderes totalitários
criaram ministérios e secretarias para regulamentação midiática.
 Medo, terror e policiamento: há um constante policiamento da
população, justificado pelo medo do governante de seus governados e
vice-versa. O terror é espalhado como sendo um elemento real, o que
causa medo nas pessoas, que se permitem serem governadas
totalitariamente.
 Eliminação das singularidades: o Estado totalitário elimina as
diferenças existentes entre as pessoas, criando um corpo total igual, ao
implantar as mesmas ideias nas pessoas por meio da propaganda,
impor os mesmos produtos para o consumo e controlar as suas vidas
privadas.
Acesse também: Direita e Esquerda
Totalitarismo e filosofia
Como a filosofia dedica-se, entre outras coisas, à problematização do
meio e das práticas políticas, podemos identificar pensamentos
filosóficos que, de algum modo, criticaram ou apoiaram o
totalitarismo. Há, por exemplo, o filósofo alemão Martin Heidegger,
que durante muito tempo foi apoiador do nazismo alemão.
Já os frankfurtianos Adorno, Horkheimer e Marcuse, além de Walter
Benjamin, criticaram o nazismo, até porque eram judeus alemães
perseguidos pelo regime de Hitler. Anarquistas e comunistas, como
Gramsci, criticaram o fascismo italiano. Muitos artistas e intelectuais
apoiaram o stalinismo, como o poeta alemão Bertold Brecht.

Porém, o maior e mais fundamentado estudo sobre os regimes


totalitários que analisa de maneira imparcial todos os casos de
totalitarismo do século XX parte da filósofa judia
alemã Hannah Arendt.
→ Totalitarismo e Hannah Arendt
A filósofa judia alemã Hannah Arendt escreveu um livro
chamado Origens do Totalitarismo, além de outros textos em que se
dedica a analisar o fenômeno totalitário e o antissemitismo por meio
da Filosofia política.
Em Origens do Totalitarismo, a pensadora dedica-se a identificar as
origens desse fenômeno contemporâneo a ela (ela sofreu perseguição
nazista por ser judia, sendo presa em campo nazista no território
francês até que pudesse fugir para os Estados Unidos), além de estudar
minuciosamente as causas políticas que levam ao totalitarismo.
Arendt identifica a existência dos elementos comuns entre os regimes
totalitários que foram descritos anteriormente.
Selo impresso na Alemanha estampa o rosto de Hannah Arendt, que escreveu o livro Origens do
Totalitarismo. [2]
Segundo Arendt, o totalitarismo é a elevação de dois fenômenos:
o medo e o terror. A fusão desses dois elementos em sua
potencialidade leva a um sistema extremamente burocrático em que o
Estado total transforma a coletividade em um único corpo. Uma das
marcas do totalitarismo é a anulação da individualidade para a
promoção de uma sociedade que pensa da mesma maneira e quer as
mesmas coisas, apoiando, assim, em uníssono, a atuação do líder
totalitário. Em Origens do totalitarismo, Arendt diz:
Em lugar das fronteiras e dos canais de
comunicação entre os homens individuais,
constrói um cinturão de ferro que os cinge de
tal forma que é como se a sua pluralidade se
dissolvesse em Um-Só-Homem de dimensões
gigantesca... Pressionando os homens, uns
contra os outros, o terror total destrói o
espaço entre eles.i
Para efetivar o que se objetivava com o totalitarismo, não bastava
atuar com a propaganda alienante e com a força ideológica do líder,
mas era necessário também eliminar todo aquele que se colocasse
contra o regime, além de perseguir uma determinada categoria de
pessoas como sendo inimigos em comum da nação.
Hannah Arendt também classifica, em obras posteriores,
como Eichmann em Jerusalém, a existência de tipos diferentes de
pessoas que estavam por trás do nazismo. Segundo a filósofa, existiam
os nazistas convictos, tomados por um mal radical (que no
vocabulário kantiano designa pessoas tomadas por um mal enraizado
em si), ou seja, aqueles que realmente acreditavam no antissemitismo
como salvação da pátria.
Existiam também as pessoas como Adolf Eichmann, um oficial de
baixa patente da SS responsável pelo transporte dos judeus presos até
os campos de concentração. Em seu julgamento tardio (Eichmann
conseguiu fugir e foi capturado na Argentina somente em 1962, sendo
julgado em um tribunal internacional de exceção), Eichmann afirmou
em sua defesa que não era um antissemita.
Realmente, os fatos apontavam para uma personalidade pacífica do
réu, que, como disse em sua defesa, apenas trabalhava para o exército
durante aquele regime, em busca de uma carreira e uma colocação
profissional. O julgamento de Eichmann levou Arendt a encontrar
uma nova modalidade de totalitaristas, em especial os nazistas:
aqueles que não acreditavam no que estavam fazendo (que levava
diretamente ao mal), mas que simplesmente faziam para obter
alguma vantagem pessoal.
Pessoas saudando Hitler durante reunião nazista.

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