Você está na página 1de 179

INTRODUÇÃO

f)nr J nsrf .._Çcharhcrt


SAGRADA
ESCRITURA

Ili EDITORA VOZES LTDA. PETRÓPOLIS RJ.


1962
Tít-ulo do original alenzão:

EINFUEHRUNG IN DIE HEILIGE SCHRIFT


Copyright by
Paul Pattloch-Verlag, Aschaf fenburg 1959

Tradução
de
FREI OTÁVIO SCHNEIDER O.F.M.

I M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E
REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO DA
CUNHA CINTRA, BISPO DE PETRóPOLIS.
FREI BERNVARDO WARNKE, O. F. M.
PETRóPOLIS, 7-5-1962.

'I'CH)OS OS DIREITOS RESERV.A.DOS


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
'O autor nasceu en1 Grosse/Sudetolândia, aos 16 de junho de
1919. F�stuclou teologia en1 Weidenau/Sudetolândia. De 1939-1945
prestou serviço nlilitar no f ront. Continuou seus estudos é111 Passau,
onde foi ordenado sacerdote e111 1948 e se dedicou à cura d'ahnas
até 1951.
Seguiran1-se estu dos ulteriores e111 Ilonn, tendo-se lá doutora­
do en1 l'eologia, en1 1953. Entregou-se então a estudos exegéti­
cos especializados no Instituto Bíblico de R.otna, obtendo o li­
cenciado cn1 exegese no ano de 1954, e c111 1957 a cátedra desta
111atéria e111 Bonn.
A partir elo dia 1 Q de junho de 1958, exerce o ofício de profes­
sor de línguas bíblicas e orientais na faculdade filosófico-teoló­
gica de Frisinga.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PARTE I

NOME E DIVISõES DA BíBLIA

En1 tôdas as livrarias pode-se, hoje e111 dia, obter 11111a


edição completa da Bíblia co1110 aliás outros livros tan1-
bé111. Conf orn1e o f or111ato constará a BíbLia de un1, dois
ou três volun1es. U111 con1prador avisado, ao adquirir 11111
livro, notifica-se prin1eiro elo título, procurando depois
infor111ar-se pelo índice do conteúdo e da estrutura da
obra. N assas edições bíblicas apresenta111 en1 vernáculo,
quase se111pre o seguinte título: "Sagrada Escritura do
Antigo e Novo Testament.o", ao passo que as edições cn1
línguas orlginaiis e no lati111 litúrgico trazen1 o título: "Bí­
blia" ou "Bíblia Sacra" ou expressões sin1ilares.
O índice dos textos 1nera1nente bíblicos, abstraindo de
eventuais explicações, introduções e registos, abrange u111a
boa lista de 72 ou 73 títulos das diversas partes co1npo­
nentes da BíbLia.

CAPfTULO I

"Bíl3LIA" I� "SAGRAD1\ Ti.SCRITUI�.t\"

A palavra "Bíblia" prové1n do latin1, o qual, por sua


vez, a recebeu con10 estrangei risn10 da língua grega, onde
a expressão hfhlos ou tan1bém b.i7çJ_JJon designava o rôlo
ele papiro que se usava então con10 livro.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8 I. N ornes e Divisões da Bíblia

Já em ten1pos anteriores ao cristianismo, empregava1n


os judeus os seguintes têrn1os para as diversas partes. en­
tão já conhecidas de nossa Bíblia atual: "9s_ Liyros" (en1
hebraico: hassepharim; en1 grego hai Bibloi, p. ex., Dan
9, 2), "os Livros Sagrados" (1 lvlac 12, 9), "o Livro Sa­
grado" (2 lVIac 8, 32). Tais denominações não são, po­
rém, propriamente títulos para a Sagrada Escrittrra; por
isso, usavam-s.e alternada1nente com outras, e.orno por ex.
"as Sagradas Escrituras" (em hebraico: kitbe haqqôdes;
em grego: tà hierà Grá1nrnata), "as Escri'turas" (graphai),
"a Escritura" (graphê), ajuntando-se ainda, nos tempos
do cristianis1no prin1itivo, as expressões: "a divina Es­
critura" ( theia gr,aphê) ; "os escritos do Senhor" ( Kyrial,ai
graphai) e outras tnais.
Os escritores eclesiásticos latinos empregavam expres­
sões semelhantes, tais como: "divinae scripturae", "di­
vini codices", "divina bibliotheca", "sacrae pandectae",
"auctoritas", etc. Quando os judeus conte111porâneos de
Cristo, ou o próprio Jesus, os apóstolos e também os an­
tigos es.cr1itores cristãos citam urna passage1n da Bíblia,
fazem us,o das seguintes fórmulas introdutórias: " ( Êle ==
Deus, ou ela == a Escritura) diz" (e1n hebraico: on1.êr;
e1n grego: légei), "está escrito" (em hebraico: katub;
em grego: gégraptai), indicando em seguida mais de per­
to a parte referida da Bíblia ou omitindo esta 1indicação.
Na Igreja oriental o têrmo tá biblía, como título para tô­
da a Sagrada Escritura, ficou prevalecendo somente a
partir de S. João Crisóstomo (t 407). Os teólogos ooi­
dentais da Alta Idade lVIédia adotaram o têrn10, dando­
lhe no latim a forma plural: bíblia (biblioru1n), do gêne­
ro neutro, ao passo que os escolásticos emprega1n a pa­
lavra no si•ngular do gênero fe1ninino, bíblia (bibliae).
Assin1 a expressão "�íblia" s.e incorporou na maior parte
das línguas modernas. Ao lado dessa denominação con-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I. N 0111es e Divisões da Bíblia 9

servou -se tan1bé1n, na n1aioria das línguas culturais, a


expressão "a Escritura" ou a "Sa_gra_dª Escritur�"
Todos êsses títulos 111enaionados dão a entender clara­
n1ente que aqui se trata "do Livro", "da Escritura" por
excelência, i. é, daquele livro que supera e1n dignidade
e iinportânc:a a todos os de1nais livros e obras literárias,
cabendo-lhe, perante judeus e cristãos u111a autoridade
decisiva, en1 questões de relig,ião.

CAPÍTULO II

ANTIGO li N0\10 TEST Al\1I�1'rro

As edições co1npletas ela J3íhlia estão hoje e1n dia já


bastante difundidas entre os católicos - se ben1 que nen1
todos as leian1 -. Contudo, 1nais nt1111er.osos são os exe1n­
plares que no mercado livreiro se vende1n sob a denomi­
nação de "Novo Testan1ento"; êsses são be1n 111ais nu1ne­
rosos do que os exe1nplares do ".l\nt:go Testa1nento" E'
que o Novo Testamento é lido co111 111aior freqüência e
por ,isso é in1presso e1n edições separadas, que consta111,
ordinàrian1ente, de apenas um volu1ne, com 250 e 400 pp.
O Antigo Testan1ento, ao invés, constará, confor111e a
apres.entação, de u1n ou dois volu111es extensos, que juntos
ultrapassa1n 1000 páginas. Os no111es "Antigo Testan1en­

çJª. .
to" e "Novo Testa1nento" indicam pois, hoje e1n dia, as
d�!��-llª.f1�$.._ ,.�1? r.in��-P� is ..... .l.?. í�Jia, que, divergindo quan-
to ao conteúdo e quanto à extensão, poden1 ser editadas
en1 separado. Orig,inàrian1ente, porén1, essas denon1ina­
ções não se ref eria1n aos livros, 111as à dupla orde1n na
econo1nia da salvação, a saber, u111a, anterior ao Cristia­
nisn10, destinada ao povo de Israel, e a outra, cristã, re­
ferente ao povo de Deus, fundado por Cris.to, a que �ha-
111amos de Igreja.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
10 I. N 01nes e Divisões da Bíblia

A palavra vernácula ''tc��tél:J.11,�Jlto" significa aqui o mes­


rno que "testan1entu1n" en1 latiin e diathe !?e en1 grego.
O últin10 significa, às vêzes, tan1bén1 na Bíblia, �i.-
1�,,...X�E�.dt�.Ae alguém, o "testa111ento" portanto de um
s .•

111oribundo ( cf. Heb 9 16) ; por via de regra, porém, cor­


responde êste vocábulo grego ao "berit" hebraico, quan-
do quer indicar a s!lian� sl>s- sffl�g���..a,-12:Q!:,.J?,.e..V§. ao
P..QXº <lt... 1.§_!]-,.,el, ou as determinações, estatuídas por Deus
para a salvação da hun1anidade.
Já ben1 cedo ( 4 Rs 23, 2, 21 e 1 Mac 1, 57) ouvi1110s
falar de un1 "Livro ela Aliança", portanto, de um docu­
n1ento que contém as prescrições e111anadas ele Deus.
Neste sentido cha1na S. l=>aulo (2 Cor 3, 14) a lei n1,o­
ral e religiosa, dada por escrito ao antiigo povo da alian-
.
ça, d e pa la;:a ., d"·iath e ,ie
1
" o Anhgo
. Testa1nento" O s pr1-
111eiros autores cristãos adotan1 êste 111oclo de falar, e a
partir do segundo século cha1nan1 de "Antigo Testamento"
aos docun1entos da revelação, anteriores à era cristã, isto
é 1 a pr�n1eira e 111ais volu111osa parte principal da Bíbl,ia;
a segunda parte da Bíblia, a 111ais reduzida, que conté1n
os docu1nentos ela revelação dos apóstolos e de seus dis­
cípulos, é chan1ada de "Novo Testan1ento" Para evitar
possíveis enganos, 1nelhor será en1pregar os têr1110s "�p.­
tiga" ou "Nova Aliança" scn1pre que algué111 se quer re-
terir �..:� ..iY.ê:.�. 9.r��IJ.S de salvação,. ao passo que as deno1ni-
'\o'. .. ... -
-,._�-. •

11ações "Antigo" ou "Novo 1"'estan1ento" se reserve111,


exclusivan1ente, para designar as <l_y.a� _partes .. do �ivro
da Bíbl,ia. Na Literatura, be111 con10 en1 sern1ões, é fre­
qüente usare111-se os têrn10s "Antiga" e "Nova Aliança"
ou "Antigo" e "Novo Testa1nento", e111 a111bos os. senti­
dos, designando ora a orcle1n da econon1ia da salvação,
ora as duas partes ela Bíblia.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I. N ornes e Divisões da Bíblia 11

CAPí'fULO III

A BÍBLIA: COLEC"'�O DE LIVROS


.::,

Quen1 con1eça ler a Bíblia não raro espera encontrar


un1 livro de estrutura siste1nática, capaz de lhe dar res­
posta sôbre as principais questões. da fé cristã e elucidar
111elhor as origens eles.ta relig1ão. Não den1ora, contudo,
a decepçionar-se, ao constatar ter diante de si u1n an1on­
toado de textos diversos e incoerentes, ora interessantes,
ora 1nonótonos., que não apresentan1 11111a orden1 lógica
ou forn1al, e que, considerados isoladan1ente, possuen1 di­
f crentes graus de valor literário e instrutivo.
A_ Bíblia, na realidade, con1põe-se de grª!}Qg,,_ptÍ)1J�Jº
d�..Jjy.rps., iniciahnente independentes, trazendo cada qual
seu próprio título. Encontran1os aí Livros rclativa111ente
extens,os, tais con10 o Livro de Isaías, o Livro dos Salinos,
.-41,,. .......'..J..J........-

ou os Evangelhos, ao lado de outros bern r�_Q\l=z.idos, que


111al enchcria111 un1a página in1pressa, tais con10 o "Livro"
ele Abclias - Obaclja ou a segunda e terceira Epístola
de S. João Apóstolo. I�ntre .outros, te1110s livros, que po­
cle1n, por sua vez, ser subdivididos en1 diversas con1po­
sições literár1ias; assin1, por exen1plo, aprese11-ta-se o "Li­
vro dos Saln1os" co1110 sendo un1 conjunto de cânt:cos
independentes. A Bíblia, portanto, é urna coleção de livros;
co1n razão chega a ser charnada: "coleção de coleções"
O AJ?_t�g-o 'f �sta111ento é unia s01na de docun1entos de
literatura religá.asa que abrange o espaço de te1npo que vat
de l�_QQ,.3!!.�:- 50 anos antes de Cristo; o Novo Testa1nento
é, outrossi111, un1a coleção de livros e epístolas que abran...
gen1 un1 pouco 1nais de 1���çJJh, de ten1po, a saber da
111etade do pri1neiro século até o con1êço do segundo século
depois de Criisto. Quanto ao Novo Testa1nento, há relativa
uniforn1:dade nas edições 1n.odernas, no que se refere à
disposição das diversas partes; quanto ao Antigo Testa-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
12 I. N 01nes e Divisões da Bíblia

111ento, infelizn1ente, depara-se-nos u1na diversidade con­


fusa. Por isso, tratare1110s pri111eiro da divisão do Novo
Testa1nen to.

CAPí'fULO IV

DIVIS1\0 DO NOVO TESTAMENTO

Tôdas as edições do Novo ,.festa111ento con1eçam com


os quatro Evangelhos, escritos por apóstolos e discípulos
dêles; a orden1 en1 que são apres.entados é a de sua prová­
vel co111posição. Trata-se, proprian1ente, se111pre, da 111es­
n1a Boa Nova de Jesus Cristo, co111pilada apenas por
quatro escritores diferentes. I"'or isso os títulos dados a
êsses quatro livros são: I�vangelho segundo S. Mateus,
I�vangelho segundo S. Marcos, Ji.vangelho segundo S.
Lucas, e Evangelho segundo S. João.
Depois dos Evangelhos seguen1 i1ncdiata111ente os Atos
dos Apóstolos, cujo autor é o 111esn10 do terceiro Evan­
gelho, isto é, S. J�ucas.
,.., .
S egue-se, entao, o ass1111 e11an1ado "Corpus Pau1·1nun1" ,
a saber, u111a coleção de cartas do apóstolo S. Paulo, car­
tas essas que ad111ite1n diversas subdivisões. U111 prin1eiro
grupo é for1nado pelas grandes epístol�_s paulinas, as.si1n
,.,... .,,·.·.w.,,, .... . .... ,...

cha111adas devido à sua ünportância doutrinária; co1n-


põe-se de u111a epístola aos ro111anos, duas epístolas aos Co­
ríntios, e un1a aos gálatas.
U111 segundo grupo é for111ado pelas cpís.tolas do cati­
veiro, escritas por S. Paulo enquanto cativo; são as se­
guintes: unia aos efés.ios, u1na aos filipenses, e urna ou­
tra aos colossenses.. E1n nossas edições bíblicas seguem-se
então, con10 ·grupo à parte, as duas epístolas aos tessaloni­
censes, que, quanto à orden1 cronológica deverian1 estar
no início das cartas paulinas, pois, com muita probabi-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I. Nornes e Divisões da Bíblia 13

lida<le, são as 111ais antigas. \len1 então o grupo das epís­


tol_ªs .P�.?.!orais, dirigidas por S. Paulo não con10 as outras;
a comunidades cristãs, 111as s:1n, a pessoas particulares.,
isto é, a dois bispos.; são as duas cartas a Timóteo e um a
a Tito. Insere1n aqui nossas edições bíblicas a breve epís­
tola a I�ilê111on, que, a ben1 dizer, pertence às epístolas
do cativeiro. Provàvelinente, <lera111-lhe êste lugar por ser
un1a carta endereçada a pessoa particular. As edições
católicas e ta1nbé1n outras não católicas apresenta111 após
êste "Corpus Paulinu111" a epístola aos .hebreus, escrita
provàvehnente, por un1 discípulo de S. Paulo, expondo,
contudo, â.déias paulinas.
Segue1n-se agora, as cartas de outros apóstolos, as cha .:.
111adas ���.t�.k��1católicas; ten1os aí uma epístola de S.
Tiago, duas de S. Pedro, três de S. J oã.� e tuna de S. Ju­
das Tadeu. A Bíblia luteran a c9loca a (1?Ístola aos hebreus·
e a de S. rfiago depois da terceira epístola de S. João.
No final do Novo Testan1e11to ten1os. a Revelação de
S. João, conhecida segundo sett non1e grego co1no o Apo­
calipse.
'I,
Con1 isso te1110s o elenco dos 27 livros do Novo Tes-
.. __..
tan1ento.
:-

CAPÍTULO V

1\ DIVISÃO DO ANTIGO TESTA1\1ENTO

i\ confus�o a respeito da disposição dos diversos li­


vros do Antigo Testan1ento ten1 por causa o seguinte: A
Bíbl1ia hebraica dos judeus palestinenses, a Bíblia grega
dos j ucleus dispersos e do8 cristãos orientais, be1n corno
a versão latina usada pela Igreja ocidental, seguia111, cada
qual, sua própria divisão - quanto aos livros do Antigo
Testamento. Os editôres n1odernos atinham-se ora a un1a,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
14 I. N ornes e Divisões da Bíblia

ora a ·outra orde1n, ou então os respec ,..,


tivos autores ado-
tavan1 tuna ordem própria, se é que na o au1nentaran1 con 1
isso a desorde111.
Os escribas <los judeus div1idirarr1 os livros do Antigo
Testa1nento en1 3 grupos: a) os 5 livros da,b_ei (torâh); b)
os .f.!r2f2Jqs ( nebi-in1), que eran1 subdivididos en1 "antigos
profetas", a saber: Josué, Juízes, Sa1nuel e Reis, os "pro­
f ctas posteriores", entre os quais enu1nerava111 Isaías, J e­
re111ias, Ezequiel e o "l..,ivro dos do-ze Profetas"; c) os
E ..�ç1:f.t!2.l ( hetubi1n), que abrangian1 os livros dos Salmos,
cf;·�·Job� dos Pr.ovérbios, os "Cinco Rolos das I◄estas''
( Assin1 eran1 cha111aclos porque eran1 lidos e111 diversas
festas rcspcctivan1ente: I{ute, Cântico dos Cânticos, Ecle­
siastes, La111entações e J�ster), ben:1 co1no os livros de
Daniel, de Esdras e das Crônicas. Ass.i1n obtemos u1n
elenco de 24 liv ros. O escritor judaico J os efo Flávio
enun1era apenas 22 livros, porque un,ia o livro de Rute
élO elos Juízes e o livro das L.an1entações a o de J ere1nias.
As Bíblias hebraicas hodi ernas adotara1n ainda 111ais un1a
subdivisão de certos livros, a saber, de San1uel, elos Reis,
elas Crônicas e de Esdras ( 1 e 2 Sarn, 1 e 2 Crôn. Esdras
e Nee111ias) e a divisão -do Livro dos 12 Profetas e1n 12
livros separados. I�sta últi111a disposiç ão, adotada das Bí­
blias cristãs, faz subir o nú111ero das atuais bíblias hebrai­
cas a 39 livros.. Êste .-ele11_c:o e a sua orde1n, abstraindo
das subdivisões aci111a 1nencionadas, é �J��çrlpr ao elenco . ...., .,.,,,_
• .,., >-

ela �!pli éi:__ cristã. I_) or isso chan1a1n os exegetas os livros


co1nponentes apenas da Bíb1ia hebraica de escr itos p-ro­
tocanônic os.
A Igreja cristã adotou a tradução grega do Antigo Tes­
ta1nento, feita pelos judeus da Diáspora, da Dispersão,
que falavan1 o grego. Esta Bíblia grega, além dos livros
c,ontidos na I3íblia hebraica, apresentava n1ais.____7 Jivros,
a saber: Judite, Tobias, Eclesiástico, os livros da Sabe-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I. N ornes e Divisões da Bíblia 15

doria, de Baruc e os 2 l1ivros dos Macabeus; acresce111


a1nda alguns suplen1entos dos livros de Daniel e de Ester,
a:--:sin1 co1no as narrações. "Daniel e Suzana", "Daniel e
:Bel", as quais figura1n e111 nossas edições no livro de Da­
niel. Essas partes não se achan1 na Bíblia hebraica, mas
foran1 i_:µtegradas no cânon cristão e1n data posterior; por
isso cha111an1-nas de livros ou escritos deuterocanônicos.
()s rnanuscritos da Bíblia grega seguen1, na enu1neração
dos livros bíblicos, o critério dos judeus, poré1n, mes1no
entre si, não concordam de todo na seqüência da enu111e­
ração. Na Igreja ocidental con1eçou a iinpor-se, desde a
I clade Média, a disposição apresentada pela tradução la­
tina, universahnente en1pregada aqui, e que nós cha1na-
111os de V11.lg-ªtª.; esta dispos1ição foi tan1bén1 adotada no
cânon, apresentado pelo Concílio de Trento ( 1546). A
13íblia latina divide o Antigo Testa1nento do modo se­
o-uü1te .

a) .Livros Históricos: S livros de Moisés ( Gênesis,


Ê-xodo, Levítico, N ún1eros, Deuteronômio), J os.ué, Juízes,
1<.ute, os 4 livros elos Reis ( subdivididos geraln1ente en1
2 livros de San1uel e 2 livros dos Reis), os 2 Livros das
Crônicas, Iisdré\S, Nee1i1ias., T'obias, Judite, Ester e os 2
J_.ívros dos Macabeus.
b) H.agiógrafos, denon1inados tan1bén1 Livros Prof é­
ticos ou Sapienciais: J ob, os Saln10s, os Provérbios, o
l 4�clesiastes, o Cântico dos Cânticos, o Livro da Sabedoria
e o Eclesiástico.
c) Profe tas: Isaías, Jere1nias, inclusive o Livro das
] ...a1nentações, que pode ser considerado tan1béni co1no li­
vro separado, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, An1ós,
,\ hclias, Jonas, Miquéias, N aun1, Habacuc, S.ofonias, Ageu,
Zacarias, e Malaquias. Dêste n1odo obten1os u1n índice
de 45 livros ou contendo as Lan1entações à parte : 46.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
16 I. N ornes e Divisões ela Bíblia

As. Bíblias católicas, os con1entários e as obras teoló­


gicas atinha1n-se, outrora, geralmente, a esta orden1 ado­
tada pela Bíblia latina. Hoje, já não o fazem tão univer­
saln1ente. Ta1nbé1n os títulos dos diversos livros não apre­
senta1n, infelizn1ente, a desejada unif or1nidade. Para 111e­
]hor orientação dos leigos na 111atéria varnos dar ern
seguida os títulos e a s abreviações dos diversos 1ivros bí­
blicos, seguindo a ordern apresentada pela Vulgata.

EI-JENCO DOS LIVROS BÍBLICOS


Gênesis = 1 11oisés Gên, Gn; 1 Mos :Êste •Conjunto dos 5
:Êxodo == 2 1\1:oisés: :t!x, 2 J\1os livros de Moisés re­
Levítico = 3 Moisés: Lev 3 l\1os
cebe en1 geral a de­
nominação de "Pen­
N úrrieros = 4 l\tfoisés : N ún1, 4 J\íios tateuco", i. é, "Li­
=
Deuteronôn1io 5 I\!Ioisés : Dt, 5 1vfos vro dos cinco Rolos"
Josué = Jos
Juízes = Jz
Rute = Rut
1 e;, Livro de San1uel ( na Vulgata 1 Regu1n) =
1 Sa111
2(,J Livro ele San1uel (na Vulgata 2 R.egun1) = 2 Sa1n
3 Q Livro dos l{eis = l 9 Livro dos Reis (Vulgata 3 Regun1)
3 Rs, 1 Rs.
49 Livro dos I{eis = 2 9 .Livro dos Reis (Vulgata 4 Regum)
4 Rs, 2 Rs. 1
Esdras ( = na Vulgata 1 Esdrae) == Esclr, Esd
=
Neen1ias ( na Vulgata 2 Esdrae sive Nehen1iae) == Ne
Tobias == Tob
Judite == Jclt
Ester = Est
l Livro dos Macabeus == 1 Mac
1'

2 ., Livro dos Macabeus = 2 Jviac


Salinos Sl
Job Job
Provérbios Prov

1) Para evitar confusão referente a 1 e 2 Sam, citados pela


Vulgata como 1 9 e 2 9 Livro dos Reis, recomenda-se citar os .Li­
vros de Samuel cotno 1 e 2 Sam e os Livros dos Reis como 3 e
4 Rs.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
'
I. Nornes e Divisões da Bíblia 17

Eclesiastes == Ecle
Cânticos dos Cânticos == Cânt
Sabedoria Sab
E,clesiástico == Eclo, Ecli
Isaías == Is
J eren1ias = J er
Lan1entações (Trenas) Lan1
Baruc Bar
Ezequiel Ez
Daniel Dan
()sé ias Os
Joel Joel
Atnós == A1n
Ab<lias == Abd
Jonas == Jon
Ivfiquéias == lvt:iq
Nantn == Na
flabacnc == Hab
Sofonias == Sof
Agett == Ag
Zacarias Zac
1Ja1aquia� == Mal

B. 1Vovo Tcstaniento
(E�vangelho segundo) São 11ateus = Mt
(Evangelho segundo) São Marcos = Me
( Evangelho segundo) São l.. ucas Lc
(Evangelho segundo) São João =·: Jo
Atos dos Apóstolos At
:Epístola aos Ron1anos == Rom
1 � Epístola aos Coríntios = 1 Cor
2 =- Epístola aos Coríntios
1
2 Cor
Epístola aos Gálatas Gál
r�:.písto]a aos Efé·sios Ef
Epístola aos Filipenscs Flp, Filip
Epístola aos Colossenses Col
1 Epístola aos ·Tessalonicenses
:.i 1 Tess
2 1 Epístola aos Tessalonicenscs
-l 2 Tess
1 � Epístola a Timóteo == 1 1"'im
zi,. Epístola a Tin1óteo = 2 Tim
J\pÍstola a Tito Tito
Epístola a Filên1on = Fln1, Filem
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
18 I. N ornes e Divisões da Bíblia

Epístola aos Hebreus = Heb


r�pístola de São 'f iago = Tgo, Tg
1 � Epístola. de São Pedro = 1 Ped, 1 Pe
2:� Epístola de São Pedro = 2 Ped, 2 Pe
P Epístola de São João = 1. Jo
2ª Epístola de São João == 2 Jo
3 ª Epístola de São João _ 3 Jo
I�pístola de São J urlas == Jud
i\pocalipse = Apoc

CAPITULO VI

DI\íISÃO ElVI C1\PíTUI.JOS E VERSÍCULOS

Os judeus. já havian1 dividido os livros do Antigo


Testa111ento, destinados a sere1n lidos na sinagoga, em
partes mais ou 1nenos extensas. Foi, porém, o Cardeal
f�stêvão Langton ( t �-�63), então professor en1 Paris e
depois arcebispo de Cántuária, quem estabeleceu para a
Bíblia latina a ,div-isão eni capítulos tal como hoje a cC'­
nhecen10s. I-Iugo de St. Cher ( t 1264) repartiu novamen•
te êstes capítulos en1 sete partes, designando-as co1n as
letras a até g. Esta d:visão, que ocasionalmente ainda en­
contran10s e111 antigos livros litúrgicos, é hoje inteiramen­
te abandonada. i\ nossa tão conhecida divisão e1n versí-­
culos, re111onta ao in1pressor parisiense Etienne, o qua l
a e111prcgo u pela pri111eira vez na sua edição da Vulga­
ta em ,..,_,-.,.
1555.
E111bora essa divisão e1n capítulos e versículos nem
se1npre corresponda ben1 ao sent,ido do contexto, tem-se
no entanto 111ostrado de real proveito, sendo adotada, en­
tão, tanto para as edições elo texto original, como elas tra­
duções. Infeliz1nente, a 1naneira de fazer citações. não é
unif or111e. E1n geral cita-se primeiro o livro bíblico, usan­
do a abreviação con1um e ajunta-se, em algaris1nos ará­
bicos, o nún1ero do capítulo, e separado por vírgula, o
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I. N0111es e Divisões da Bíblia 19

nú111ero do versículo. Quando vão citados diversos ver­


sículos do 111es1no capítulo, então separam-se entre s,i por
ponto; diversos capítulos, por sua vez, são separados en­
tre si por ponto e vírgula; quando são indicados 2 ou 3
versículos ou capítulos sucessivos, basta ajuntar ao pri-
1neiro número a letra s, respectivamente ss, isto quer dizer,
"e o versículo seguinte ( resp. o capítulo seguinte)" ou
"e os 2 versículos ( ou capítulos) seguintes" À 111ão de
alguns exe1nplos ilustra1nos êsse 1nodo de citações: Jo
6, 8.12.14-18; 8, 13 significa: Evangelho segundo São
João, capítulo 6, versículos 8 e 12 e 14 até 18; do 111esn10
livro capítulo 8 versículo 13. Melhor a,inda seria, e1nbora
os in1pressores e editôres não o prefira111, a seguinte ma­
neira de citar: Jo 6 8· 12· 111- 18; 8 13· Lc 3, 7 ss ou 3 7 ss sig­
nifica: Evangelho de São Lucas, capítulo 3, versículos
7-9. Exegetas franceses e anglo-saxônicos usa1n muitas
vêzes .algaris1110s ro111anos para designar os capítulos e
algaris1nos árabes para designar os versículos, assim por
exemplo: SI CXXXVIII: 2, 4-7, isto é, Salino 138 versí­
culos 2 e 4 até ,7_
Ou:tra dificuldade provén1 d a numeração diversa dos
saln1os, seguida pela Bíblia latina e grega de um lado, e
pela hebraica de outro. Pela seguinte tabela veremos me­
lhor essas diferenças:

Bíblia hebraica Bíblia latina e grega


SI 1-8 1-8
9 9, 1-21
10 9, 22-42
11-113 A contage111 difere por un1 núrnero para ca­
da saln10, portanto : 10-112
114 113, 1-8
115 113, 9 .. 27
116, 1-9 114
116, 10-19 115
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
20 I. N on1es e Divisões da Bíblia

117-146 A contagen1 difere por 1 nú1nero para cada


147, 1-ll saln10, portanto: 116-145
146
147, 12-20 147
148-150 148-150

Os livros litúrgicos scgue111 a contagc111 da Bíblia grc­


go-latina, be1n assiin quase todos os exegetas católicos
antigos e alguns modernos; os autores não►-cató1icos e
a 1naioria dos exegetas católicos modernos cita1n de acôr­
clo con1 a Bíblia hebraica; a fi111 de evitar possíveis dú­
vidas colocan1, não raro, a nu111eração ela Bíblia latina
entre parêntesis, por exe111plo: Sl 75 (74), 2-5.
]\;f aior divergência ainda encontramos na citação dos
suple111entos deuteronôn1icos dos livros de Daniel e Es­
ter. Disso, poré111, não nos poderen1os ocupar agora 111ai s
clc-talhada1nente.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PAR'T'E II

O- CÂNON: SUA EVOLUÇÃO l-IIS1., ()l{IC:1-\

O elenco d.os livros bíblicos é chan1ado pelos. teólogos


ele cânon. O têrn10 provén1 elo vocábulo grego ho !tanôn.
S·ignifica, pritnària111ente, caniço, un1a espécie de ban1bu,
que, usado para n1edir, passou a des·ignar a 111edicla sin1-
plcsn1ente. l�n1 sentido figurado, essa palavra grega, à
.
Slnle 111ança lo1 tenn · l a'', ve1,· 0 a assun11r o s1gn1-
" o "111cc11c · ·
f icado de "nonna", "regra" Sà111ente, a partir do século
] \T depois de Cristo, con1eçaran1 os escritores cristãos a
e111pregar as palavras llanonizÓ'niena e kanoniká - ex­
pre��são que poderían1r0s traduzir con1 "canônico" Con1
;�;so cles11gnara111 aquêles livros que regulan1 a fé e a vida
dos cristãos e que a Igreja, por isso, enun1erou no rol dos
livros sagrados.. O cânon é portanto o elenco, estabelecido
pela .Própr1�pç Igreja., daqueles livros que co1ntêni a nonni,q
para a fé � a vi,da dos cristãos.
Co1no se originou êsse cànon? Seu desenv,olvi111ento
histórico está inseparàveln1ente ligado à própria hiistó.)
r:a da Bíblia.
Van1os antes ainda explicar os têr1110s "apócrifos" e
"pseuclepígrafes", un1a vez que dêles se fala an1iúclc ao
tratar da história do cânon.
O têr1no "apócrifo" ( em greg.o apókryphos = escon­
dido, oculto) é aplicado pelos teólogos cató.!icos àqueles
hvros, proven1ientes do judaísn10 ou do cristianismo pri­
n1itivo, que oferece1n pretensas revelações, divinas, às vê­
zes ocultas, destinadas apenas a u1n círculo restrito de
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
22 II. O Cánon: sua Evolucão
, I-Iistórica

pessoas. ,.fais liv1�q-�_.J11.JUÇ� for�111 açeito� _pela Igreja, no


r,o,! <los livro� \)jpljços. Os teólogos não-católicos, ao invés,
cha111a1n a êsses livros de pseudepígrafos, isto é, )jy_ros
(Jtte c;1rcula1n sob fal�o no1ne, porque falsan1ente atr1ibuídos
a algun1 dos profetas ou após.tolos; e os 1nes1nos teólogos
não�-católicos chan1a1n de ",apócrifos" a nosso�. li�roê deu­
terocanônicos, pois, na sua opinião, não fazem pélrte do
cân,on: Ao encontrar, pois, en1 livros teológicos o têrmo
"apócrifo", convén1 cxa1ninar se o autor é católico ou não,
para entender be1n o sentido da palavra.

CAPITULO I

O l)OC:u·M1◄:N�ro DA I◄UND1\ÇÃO DO PO\TO


EI.J�ITO

O docun1ento 111ais antigo, apresentado por nossa Bí­


blia, relaciona-se intiina111ente, à fundação do povo de Is­
rael. E' verdade que a BíbEa nos apresenta certos enig­
n1as sôbre o processo histórico da forrnação do povo is­
raelítico. Contudo, consoante tôdas as tradições dos escri­
tos bíblicos, sabemos que Deus, cha1nado por si 1nesn10 de
Javé, f êz un1a aliança sagrada no 1nonte santo, que ora
é denon1inado Sinai, ora 1-Ioreb, c,0111 o núcleo daquele
povo que iria n1ais tarde ocupar a Palestina e dividir-se
e1n 12 tribos. l\1ois.és foi o inter1nediár:io desta aliança. O
conteúdo da n1esn1a nos é dado pela palavra bíblica: "Se­
rei o vosso Deus e vós sereis o 111eu povo" (Lev 26, 12).
' '

Confor1ne os relatos da Bíblia, ten1os a i1npressão de que


esta ali9-nça foi celebrada de forn1a análoga à 1naneira
corn que os grand�s 111.onarcas de então, isto é, de 1400-
750 antes de Cristo, faziam os contratos com seus vassalos.
Nas escavações, feitas n a Ásia Menor, achara1n-se di­
vers.os textos, referentes a alianças. Seguem todos u111
esquen1a deter1ninado, mais ou 111enos da seguinte maneira:
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cftnon : sua Evolucão Histórica
:,
23

a) Pri1neiro, ten10s un1 i;u:ç§grüHilo e tuna descrição,


às vêzes 1nuito extensa, das r�J.�s§e,s já anterio_rmrpte
½.4ÍSi.t:�ntes entre as partes contratantes; o 111onarca aponta
os benefícios e o auxílio prestados aos vassalos, que assi111
se vêe1n obrigados à fidelidade e à grat1iclão;
b) segue-se, então, a fixação exata das cláusulas· do
contrato, obrigatórias, en1 geral, só para os vassalos, não
para o 1nonarca;
c) certas cláusulas prevêe111 a deposição do clocu1nento
en1 algu111 santuário e fala111 de cópias e da leitura perió­
dica do texto contratual;
d) por fi111 te1110s a invocação d.os deuses do j ura1nen­
to, para garantia do contrato e an1caças de deprecações
sôbre os -infratores, ben1 con10 fórn1ulas de bênçãos .s ô­
bre os que guardare111 fidelidade. A aliança co1n iiss.o re­
cebe u111a sanção religiosa.
No te1npo de Moisés, j ú se conhecia a arte de escrever
e era 111esn10 costu1ne fixaren1-se, por escrito, os contra­
tos. Por isso pocle1nos supor que Moisés. tenha exarado
un1 protocolo de contrato nos moldes dos "contratos de
vassalos" do antigo Oriente. 1 Todos os elementos essen­
ciais que figuram nestes contratos ta1nbén1 os encontra-
1110s no atual Pentateuco, que relata a aliança entre Javé
e o povo de Israel; h-0uve certa1nente alguns acréscimos
que dif,iculta1n descobrir a pri111itiva estrutura. Temos:
1) Neste terreno, contudo, ainda continua1n as pesquisas. O pri-
1neiro a estudar 1ninuciosamente êstes "contratos de vassalos" do
antigo oriente foi f/ Koroscc, Hethitische Staatsvertraege,
Lípsia, 1931. As relações existentes con1 os textos da aliança, nar­
rada no Pentateuco, f ora1n agora apontadas por : G. E. Menden­
hall, La'\.v and Convenant in Israel and Ancient Near East,
Pittsburg 1955 ; 1(. Baltzer na sua dissertação "Das Bundesfor-
1nular" 1955, Heidelberg ( sua publicação foi anunciada parq. o
outono de 1959 em Neukirchener Verlag) ; A. P oh! em Orientalia
28, 1959, 305. J. Muilenburg em Vetus Testa111entu1n 9 (1959)
347-65. Segundo :Êx 32, 15 continha1n "as tábuas da Lei" não ape­
nas o decálogo, n1as ta1nbé111 outros textos extensos.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
24 II. O Cânon : sua Evolução I--Iistórica

a) O preâmbulo e a história anterior à aliança, conti­


dos nas narrações sôbre os grandes feitos e os benefícios
de Deus para com os pais e as tribos que partiam do Egi­
to (Gn 12;. Êx 18; Dt 1-3);
b) as cláusulas do contrato acham-se nos textos refe­
rentes à Le,i dos livros do Êxodo até o Deuteronômio, a
saber, Êx 20 == Dt 5 ("decálogo ético"); Êx 21-23 ("li­
vro da aliança"); 34 ("decálogo sôbre o culto"); Dt 4-26
( "leis do Deuteronôm.io");
c) a deposição do contrato no santuário, previsto em
Êx 25, 16, 21; Dt 10, 2; 31, 26 e a sua publicação en1
Dt 31, 11s;
d) a sanção da aliança, contida nas 1naldições sôbre
os infratares e as fórmulas de bênção sôbre os que são
fiéis, Lev 26 e Dt 28.
O docu:111,.ento, que conténi cláusulas da. aliança, é cha­
n1ado e1n Êx 25, 21 cédut ( traduzido gerahnente por
"testemunho"), o que, talvez, venha a ser o n1es1no que
adê na língua acádia, pois aí êste vocábulo designa u1n
documento de contrato, um protocolo sôbre a aliança. A
arca sagrada junto da qual, ou na qual, foi guardado
aquêle docu1nento 1nosaico, é chamada en1 Êx 25, 22;
26, 33; 30, 6; Num 4, 5; J os 4, 16 e en1 outros lugares
de "arca da al1iança" Certas passagens, con10 Êx 40, 20;
3 Rs 8, 9; 4 Rs 22, 8 e outras atestam que 11111 tal docu­
n1ento fôra depositado no santuário principal do povo
das 12 tribos, a saber, na arca da aliança, no te1npo an­
terior à monarquia, e depois no santuário de J erusalén1,
no tempo dos reis. Segundo J os 8, 32, já existian1 cópias,
logo após a conquista da terra pron1eticla por parte de
Israel.
Além dêste docu1nento, atribui a Bíblia, expressamente,
a Moisés a narração de un1 combate (Êx 14), u1n regis:­
tc dos lugares percorridos na viagen1 através do deserto
e a co1nposição de alguns cânticos (Êx 15, 1-18; Dt 32).
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cánon: sua Evolucão Histórica
:>
25

l_)or isso pode1nos ben1 confiar na tradição, segundo


a qual l\tl,oisés escreveu ao 1nenos a parte essencial .do
I) entateuco, depositando-o no santuário e fazendo cóp�as
para o uso do povo.
Con1 êsses escritos da autoria de Moisés foi lançada
a pedra fundan1ental da Bíblia. Nêles encontramos, ao
rnenos, u1n resumo da história da �alyaç;o,_ d�?qe O? dias
dos patriarcas até a saída do Egito, u1na co].�_ç-�_9_.4'<Jâ.& prin­
cipais leis cultura��' juri.dicas e 111orais, be1n como pro­
n1essas no caso de fidelidade e a111eaças no caso de ro1n­
peren1 a aliança. Êstes escritos 111osaiicos for111aram ttn1
todo, un1 corp>o, que foi designado con10 "Livro ela Lei"
.nu "I .. ei de Moisés" (Jos 8, 31-35; 23, 6; 24, 26; 4 Rs
22, 8-23, 2), e con10 tal foi depositado no santuário, sen­
do lido publican1ente, de ten1pos cn1 ten1pos (Dt 31, 10-13;
Jos 8, 34; 4 Rs 23, 2; Ne 8, 7s. 18).

CAPrruLo II

i\ BÍBLIA DEPOIS DA CONQUISTA DA J:>ALES­


TINA IJ J�LOS ISRAELIT1\S ATÉ O EXÍLIO

./\ I...ei de l\,1oisés existia, portanto, já no ten1po en1 que


Israel iria to111ar posse da Palestiina e aí se instalava.
l'ossuía, pois, êste livro, entre o povo de Israel e também
111ais tarde entre os judeus, grande valor quanto a suas
norn1as e quanto a sua autoridade. Mes1no assin1, não
apresentava êste livro, no ten1po anterior ao exílio, un1
todo já acabado e fixado e1n seus detalhes, 1nas ainda
estava sujeito a acréscitnos, revisões e adaptações_ de acôr­
do com necessidades jurídicas e r·eligiosas que 1ia1n sur­
g:r. Corria1n, outrossim, entre o povo, certas narrações
tradicionais do te1npo de l\1oisés e 111esn10 anteriores, não
consignadas ainda naquele livro; para a jurisdição tam-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
26 I 1. O Cânon : sua I�volucão
,. Histórica

bé111 surgiatn novos proble1nas sociais, econôn1icos, éticos


e religiosos, dev�do à instalação do povo e1n novas terras.
e, 111a�s tarde, devido à proclan1ação da n1onarquia. Todos
<�':) tes proble111as não tinha111 sido ainda tratados, nen1 es­
clarecidos por lVIoisés. As autoridades co1npetentes dn
povo eleito vian1-se na contingência de supnir, de inter­
pretar e, se necessário, adaptar a lei de Moisés, sen1pre
dentro do espírito do próprio autor.
A Bíblia 111esn1a ( J,os 24, 26) fala de tal suplen1ento,
feito por Josué, que sucedera a lvioisés na chefia elo povo,
por ocasião ela renovação da aliança e1n Siquén1. Outr�
notícia sôbre tun acrésci1no na lei 1nosa1ica, trinos en1 1
San1 1 O, 25; Sa111uel fixa por escrito a lei da 111onarquia
e deposita o d.octunento junto à arca da aliança, tal co­
n10 f izcra111 con1 a lei de Moisés. O conteúdo dessas de,
tcrrninações foi n1ais tarde provàveln1cnte incorpora­
do à Lei l\:losaica, co1no ainda hoje ern dia o Código
Civil, ou o "Code N apoléon" na I◄rança, te111 sido aun1en­
taclo por "cn1cndas de lei" para corresponder rne1hor às
exigências da época.
J.Jara nós é difícil saber quen1, e1n tempos posteriores,
tinha autoridade para fazer tais e1nendas ou acréscin10s;
ne111 sabe1110s, ao certo, con10 se realizou a reabsorção
das tradições orais antrigas nos textos ela tradição fixada
por l\,foisés. Porén1 u111 exame crítico do atual I) enta­
tcuco, feito en1 bases literárias e históricas, nos convence
que 111uitas gerações e 111uitas 111ãos colaborara111 até que
. '
tlvesse1110s ''os cinco
. I...1vros e1 e M . ' '', tai. s con10 atua 1 -
1 01ses
111ente os conhecen10s. f.J ois nêles pocle1110s constatar di­
versas fases da redação 1, atentando revisões e redações
1) A crítica literária distingue no Pentateuco a) a parte javeís­
ta (== Javé (J), nome dado de preferência a Deus nesta fase);
parece datar do século 9Q antes de Cristo; b) a parte eloística
( == Elohin1 (E), no1ne prefer1vel111ente dado aqui a I)eus), escri­
ta co111 probabilidade nos séculos 7Q e 8 Q ; c) o escrito dos sacer­
dotes, co1nposto por sacerdotes durante o exílio ( P). d) o Deu-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon : sua Evolução Histórica 27

ha vielas. Êsse livro, que no es.s�ncial ren1011ta a l\1oisés,


sofrcu diversas ren1oclelações, achava-se ten1porària1nente,
perdido no ten1po de lVIanas.sés ( 693-39) e foi reencon­
trado no rejnado ele J osias ( 638-608) ( 4 Rs 22, 8-23,
3, 3, 2 Crôn 34, 14-31). 1'anto assin1 que não saben1os
ben1 qual a for1na en1 que � achava por ocasião da des.­
tru: ção do reino de J uclá. O exe111plar deposto no ten1-
plo certan1ente foi .quei111ado quando da destruição de J e­
rusalé111 por N abucodonosor.
Apenas tinharn os israelitas s.e apossado da nova terra
que já ,ia111 surgir novos relatos sôbre a história religiosa
d.o povo, a partir de Josué. A Bíblia 111enciona diversas
dessas fontes históricas, con10 por cxe111plo "o Livro do
Justo" (Jos 10, 13; 2 Sa111 1, 18), as crônicas dos reis
de Israel e de Judá, outros livros que tratavan1 sôbre di­
versos antigos profetas, etc . Inf elizn1cnte não sabe1110s
se nos atuais livros históricos, anteriores ao exílio, há
narrações que se achava111 já naqueles. livros acin1a 111en­
cionaclos. Os livros históricos ele Josué, Juízes, ele Samuel
e dos Reis contê111 111uitas narrações e histórias indepen­
dentes entre si, que só depois ele repetidas. revisões re­
cebera111 a for1na atual. Pelo fi111 da 111onarquia ou no co­
n1êço elo exílio, u1na _per�99?)ic,l?:ç!_e de _}�o táyel inteligên­
cia, que 1nerece ben1 o título de historiador, colecionou as
várjas tradições históricas, quer escritas, quer orais,
e nos apresenta un1a narração conjunta sôbre a história
de Israel, de Josué até a ruína do Reino de Judá, e111 586
antes de Cristo. Há nesta obra surpreendentes sen1elhan­
ças, quanto à linguagc1n e às idéias, co111 o Deuteronô111io,
rnotivo êste por que é chan1ado pelos entendidos de "obra
histórica <leuteronômica" I)osteràorn1ente, foi esta obra
teronô111io ( D ou Dt), escrito pouco antes do exílio. Alguns con­
sideram a parte javeísta e eloísta con10 uma parte só. (JE, chama­
do por êles ele "núcleo" do antigo Pentateuco). Cf. Steinn1ann
11. Stenzel, Die Bibel im Lichte der Kritik, 3 Q vol. desta Série,
p. 65-67 • 91-95 .
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2(.}o II. () Cànon: sua Evolncão
., I-Iistórica

dcs111.en1brada en1 livros separados; são os atuais livros


bíblicos de Josué, dos Juízes, ele Sa1nuel e <los l{eis.
Desde o tc111po do p1:�js, _ que viv�a en1 111eados
do século VIII A. C. na parte norte do Reino de Israel,
redigiram-se livros, 111ais ou n1enos. volu1nosos, destina­
dos à transn1itir à posteridade as palavras dos profetas,
bc111 con10 notíoias referentes a êles. Outra vez· trata-se
aqui, não ele obras escritas de un1a só vez, 1nas de cole­
ções de escritos, da autor�a dos próprios profetas ou, en1
parte, de seus discípulos e ad111iradores ( epígonos). E1n
J cr 36 é-nos contado algo sôbre a origen1 de un1 livro
profético. Aí se conta que o profeta J ere1nias, depois ele
certo te111po de atividade, colecionou os seus próprios ser-
111ões, ditando-os a seu discípulo e secretário Baruc que
05 copiava nun1 rôlo de papiro. Êste rôlo, porén1, foi quei-'
111ado pelo rei J oaquin1 e o profeta nova111ente ditoui-os a
�1aruc. No fin1 do relato declara-se expressa111ente que,
rnais tarde, fora111 acrescentadas 111u:tas outras palavras
ele J ere111ias. Não padece dúvida que deve1nos atribuir
a coleções anteriores ao exílio, a parte essencial dos. nossos
11 vros bíblicos de An1ós, Oséias, Isa ías ( ao 111enos os ca�
pítulos 1-39), Miqué:as, I-Iabacuc, Sofonias, N atun e J e�
ren1ias, 111uito en1bora tenha havido retoques e acrésci1nos.
nu tempo durante e depois do exílio. Certa111ente não exis­
tia ainda no con1êço do exílio un1 "cânon" co111pleto dos
livros dos profetas.
As palavras clêles, porén1, 001110 de1nonstra J er 26, 18,
propagadas por seus livros, gozara1n de grande autoridade
e a elas se recorreu en1 questões de caráter religioso.
Desde que a arca ela aliiança fôra depositada no l\1onte
Sião en1 J erusalén1, 111u:to au1nentou o esplendor externo
do culto no santuário. Êsse fato, sen1 dúvida, instigou aos
poetas a con1poren1 câ11ficos religiosos e orações a serem
recitadas nos ofícios religiosos. ºJá não poclet�OS indicar,
exatamente, quais os cânticos do nosso saltério que re-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon: sua Evolução I-Iistórica 29

n1onta1n ao te111po de Daviid. Contudo, devemos supor que


boa parte dêles se originou no tempo d� David e de Sa­
lo1não.
Confor1ne 2 Crôn 29, 30 existia no ten1po do rei Eze­
quias, cêrca de 700 A. C., u1n repertório oficial, chan1a­
do "I1 alavras de David e de Asaf", pois êste rei ordenara
que na nova liturgia do ten1plo, por êle restaurada, Javé
devia ser honrado ·"co111 as. palavras de David e de Asaf"
l\!Iuitos elos nossos saln1os apresentam un1 título dizendo
scre111 da autoria do Rei David ou de um certo Asaf, mú­
sico no ten1po de David e de Salon1ão. rfais indicações
ne111 se1nprc são exatas, contudo, já cleven1 haver existido
tais coleções de càntjcqs no ternpo dês.ses reis.
J\incla o 111es1no rei Ezequias deve ter feito u111a cole­
ção de pro-vérbios, segundo I_)rov 25, 1, e que depois cir­
culavan1 sob o 110111e de Salon1ão. O nosso livro atual dos
Provérbios contén1 duas coleções de "Provérbios de Sa­
lcn1ão", a saber 10, 1-22, 16 e 25-29. Não ten10s razões.
para duvidar de sua orige111, que rernonta aos pri1nórdios
da 1nonarqu1a.
Con1 isso CQllSJa.laUlOS que, no início elo c�Jliio,__ já ��is-
t�a, pór escrito, u1na boa p�r_t.e, .dp Antigo Testa1nento,
\�!J-1••-.f"-.ft-.. 4·...,..,...,:'f".-.i,I'""�:..,.�•··...,...;...... ., .•·.�•....(.\

isto é: a "Lei de Moisés" que abrange ao 1nenos un1a par­


te notável do atual Pentateuco; "a obra histórica deute­
ronô111ica" à qual pertence1n os livros históricos anterio­
res ao exílio, isto é, de Josué até 4 Rs; a 1nai.or parte dos
sa 11110s; e parte notável do Livro dos J=>rovérbios. Êstes
escritos certarnente, tiveran1 então, sob alguns aspectos,
un1 feitio diverso dos nossos livros bíblic,os, pois no Orien­
te: havia uma constante e recíproca influência entre tra­
dição oral e escrita. Contràrian1ente aos nossos costun1es,
pouco ligavan1 ao non1e do autor ou à autenticidade lite­
rúria; e assin1 podia un1 l:vro sofrer, 1nais tarde, ren10-
dclações, retoques, acréscin1os e até perdas sen1 que al­
,,i•·uén1 falasse de falsificacão.
� Alé111 dos I)rodutos literários
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
30 II. O Cànon: sua Evolucão I-Iistórica

aqui citados, havia, certa111ente, tradições orais ou escri­


tas, que só 111ais tarde, durante e depois do exílio, foram
coligldas, redigidas e assi111 achararn entrada nos Livros
sagrados de Israel.

CAPf T'ULO III

A BíBI.JA NO TI{MPO DO EX.ÍI�IO

IJ oucas terão sido as cópias dos já existentes livros bí­


blicos, poucos tan1bé1n os docun1entos, crônicas e demais
obras literárias que conseguira1n salvar-se da terrível ca­
tástrofe do ano 586 J\. C. que 111arcava a de$tr,uição., do
I{e:ino de Judá. As. bibliotecas e os arquivos da cap:tal,
ben1 c.01110 o ten1plo e o palácio real foram destruidos pe­
las,., chan1as. Levar os livros das bibliotecas e dos arqui­
vos a u1n esconderijo seguro - en1prêsa que obteve êxi­
to, ao menos parcial, no povoado de Qumran1, no ano 70
depo�s de Cristo - não foi possível, dev,ido ao cêrco pro­
longado da cidade. Os deportados, dificilmente, podiam
levar consigo os rolos de livros nas longas caminhadas
a pé, rurno ao exílio. Q�antos eram os livros existentes
fora de J erus.alén1, onde era 1nais fácil salvar-se algo, não
o sabe1nos. Apesar da situação desesperadora do povo,
que a partir <la destruição do reino de Judá, chan1ar-se-ia
de "judeu", não aconteceu aquilo que a muitos outros po­
vos orientais acontecera, e1n circunstâncias idênticas, i. é,
não desapareceu numa assimilação forçada dentro da cul­
tura e da religião do novo a1nbiente. E' verdade, o povo
elas 12 tribos. já não existia mais desde a destruição do
reino setentrional de Israel, em 722. As 10 tribos que ti­
nha111 fundado êste reino foran1 ta1nbém deportadas e
desaparecera1n sen1 deixar vestígio. O reino de Judá, con1
o seu povo, for1nara apenas pequena parcela daquele po-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon: sua Evolucão
" Histórica 31

vo C0111 qué Javé outrora fizera a aliança. E agora esta


pequena parte estava a1neaçada da 1nes1na sorte, que
atingiira as tribos setentrionais.; esta parcela de povo eleito
co111punha-se do povo sin1ples que ficara no país, da ca­
n1ada superior do povo que foi teYada.a�ab.ilônia e de u1n
grupo não pequeno dos que fugira1n para o Egito e Ará­
b:a. Dificil111ente, podere1110s explicar, historica1nente, co-
1110 desta sobra, ou n1elhor destas sobras do povo espa­
lhado e111 tôdas as. direções, poderia surgir, nova1nente,
un1 povo que con1 razão se podia chan1ar de herdeiro do
que foi outrora o povo das 12 tribos. E' o que se deu con1
o povo judaico após o exílio.
Mal tinha desabado a_ catástrofe, e já se iniciou uni 1110-
vi1nento ele renascença nacional e religiosa, sen1 paralelo
na história.
E1n Judá 1nes1110, agora incorporada co1no província ao
reino da Babilônia, 111as - coisa estranha - tendo un1
governador judeu, co1neçou-se a colecionar aquilo que s.o�
brava das tradições escritas ou orais, mor111ente o que
interessava a história religiosa do povo e certas tradições
ref crentes aos profe tas. A êste esfôrço nós deve1nos pro­
vàveln1ente aquela parte do Pentateuco que acima chama-
111.os de JE a conservação e o acabamento da obra his­
1
,

tórica do Deuteronômio, do próprio Deuteronômio, dos


livros de An1ós, Oséias, Miquéias, Sofonias, Habacuc,
N aun1, e p,0ssivehnente un1a segunda ou terceira redação
do IJivro de Jeren1ias.
Neste tempo, poré111, surgiran1 em Judá também no­
vas obras literárias, antes de tudo as Lan1entações., can­
tadas ao próprio local do templo destruído, em ofícios
litúrgicos, repassados de dor e de tristeza, e de alguns
sahnos, con10 por exemplo: os S1s 74 e 79.

1) Cf. acin1a p. 27, anotação 1.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
32 II. O Cânon : sua Evolução Histórica

Entre os exilados, na B,ab-ilônia, destacou-se o profeta


Ezeçuwj,, deportado, ao que parece, já em 597. Seus ser-
,,. .,.dal A

mões foram colecionados, em parte, por êle mesmo, em


parte, por seus discípulos. Ao que parece houve aí rnes-
1110 u1n círculo de pessoas piedosas, interessadas na Tra­
d·ição de /salas, que propagava1n entre os exilados a obra
do prof cta e até a continuavan1 dentro de seu espírito.
A êsse grupo deven10s a conservação das palàvras de
Isaías e seus sern1ões de consôlo, o que agora for1na a
segunda parte do Livro de Isaías, o assim chamado Dêu­
tero-Isaías ( Is 40-55) ; in1possível é dizer, ao certo, se
tan1bén1 o assin1 chan1ado �frito-Isaías ( Is 56-66) foi
acrescentado já durante o exílio, ou só n1ais tarde.
Talvez se agrupass.e1n tan1bén1 certos sacerdotes e le­
vitas, zeJ.osos das tradições da J_,,ei e da história religiioso­
levít:ca, en1 tôrno de Ezequiel, que descendia de estirpe
sacerdotal e que já tinha elaborado u1n esque111a para a
nova regulan1entação da li tu.rgia, após o retôrno espera­
do. () fruto clêstes esforços ten1os. no assi111 chamado "Es­
crito dos sacerdotes" ( I) ) do Pentateuco.
Muito en1bora o saltnista afirn1e (Sl 137, 3s) que os
exilados não gostavan1 de cantar "cànt,icos de Sião" en1
presença ele seus opressores., terão certamente os judeus
do cativeiro cantado, quando sózinhos, os velhos cânticos.
Pois é relatlva111ente fácil reter na memória u1n canto
ouvido e 1nes1no poderia1n recon1por os cânticos outrora
usados nos ofíci.os divinos. Pos.sivehnente novos cânticos,
refletindo a situação dos cativos, terão s,ido acrescenta­
dos. Tais coleções poderão ter sido feitas por várias pes­
soas e e111 lugares. diferentes, sendo que os n1es1nos càn­
ticos fora1n incluídos nas diversas coleções; assi111 se ex­
plica que en1 nosso livro dos Saln1os temos diversas co­
leções de cânticos. e que un1 ou outro até se encontre duas
vêzes (S1 14 == 53; 40, 14-18 = 70; 57, 8-12 + 60,
7 -14 == 108) .
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon: sua Evolução Histórica 33

Porén1 os próprios fugitivos no Eg1ito (Cf. Jer 41,


16-43, 13) e nos vizinhos territórios árabes ( cf. J er 40,
11s) não dispensara111 de todo a atividade literária. Assi111
é qtJe Baruc, residente então no Egito, r�digiu de novo
e co1npletot� .� Liv1J> 0 de ... Jer.emias. Tanto no Egito, con10
tan1b�ií-i--·iia Arábia, conhecida esta por seus eruditos dou­
trinadores da sabedoria, terão os sábios judeus coleciona­
do ant:gos e novos escritos sapienciais. Sob êste fundo
histórico, se explica 1nelhor a se1nelhança de certas. pas­
sagens do livro dos Provérbios com a l1iteratura sapiencial
do Egito, e co111preenderen1os 111elhor o colorido árabe
que caracteriza o livro de J ob, que apareceu, provàvel-
111ente, nesta época.
Melhorando a situação política, n1ais se incentivou o
intercân1bio entre os judeus dos diversos países.. Sabe1nos
de J er 29 e do J...Jivro de Ezequiel que houve be1n cedo
tuna troca de cartas e de notícias entre os exilados e os
que tinha111 fiicado na pátria. Terão, pois, também 1nan­
dado, uns para os outros, as diversas coleções de traba­
lhos literários, reajustando-os entre si. Certos traços ca­
racterísticos, provenientes do lugar de origem e de tra­
dição, contudo, ficara1n. N otan1os assi1n o "formalisn10"
da literatura "sacerdotal" e o "cosmopolitis1no" da lite­
ratura sapiencial dos judeus e111igrados.

CAPfTULO IV

A BÍBLIA DEPOIS DO EXÍLIO


Depois que Ciro, rei dos persas_, dera, por meio de u1n
edito, em 538 A. C. , a todos os povos deportados a licen.­
ça de voltare1n, começou o grande regresso dos judeus
para sua pátria, e isso, em diversas etapas. No pri1neiro
tempo da r.e.construção da Palestina, temos a atividade
dos profetas Ageu, Zacarias, e Malaquias, cujas palavras.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
34 II. O Cânon : sua Evolução Histórica

devern ter sido colecionadas ou por êles 111es111os ou por


outros, ainda e111 vida dêles. O Livro de Zacarias teve
1nais tarde algumas reviisões e acréscimos. Un1a redação
nova e sistemática de tôda a herança literária, colecionada
e salva no exílio e na pátria, foi feita son1ente un1 século
depois do edito de Ciro, por N eemias e Esdras. A êstes
dois hon1en s deve-se a consolidação da co1nunid?de ju­
daica, depois do exílio. I�1n 2 Mac 2, 13, len10s que
Neen1ias fundara un1a biblioteca, "reunindo tudo o que
se referia aos reis e profetas., as obras de David e as car­
tas dos reis a respeito elas ofertas" Tudo isso torna-se
plausível, en1bora nem todos os escritos aí conservados
sejam idênticos com os livros do Antigo Testan1ento.
N cernias, agindo con10 "hon1e1n político", não quis ape­
nas funda1nentar as bases político-financeiras da con1u­
nidade judaica, 111as també1n conservar o patrimônio cul­
tural de seu povo. Esdras, o refor1nador rel:gioso, deu,
por certo, o últitno e definitivo retoque ao Pentateuco,
aproveitando e incluindo todos os elen1entos disponíveis ela
tradição, con1,o seja1n a parte "J-E", "o escrito sacerdotal"
e o Deuteronô1nio.
Não ten10s n1aiores notícias sôbre a extensão e o con­
teúdo ela "Lei de lvfo-isés", que segundo N e 8 foi lida e
explicada por .orde111 de l�sdras. Co1no, poré111, tal leitura
durasse vários dias, é ben1 possível que se tratass.e, em
substância, do nosso atual Pentateuco.
Alguns decênios depois de Esdras e Nee:1n�·as, un1 le­
vita ou sacerdote, pertencente à es.cola de Esdras, escre­
veu o "Livro histórico das Crônicas", que depois foi sub..:
dividi-do nos livros: Crônica, Esdras e N een1ias. E1n épo­
ca posterior até às guerras dos macabeus, i. é, e1n 1neados
do II século antes de Cristo, outros livros tivera1n entrada
na Bíbliia, tais co1no Ester, Eclesiastes, e Eclesiástico.
Êste últin10, en1bora lido freqüentemente pelos judeus,
não era por êles incluído entre os escritos sagrados. Rei-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TI. O Cânon: sua Evolução Histórica 35

na con1pleta incerteza a respeito elo ten1po e1n que se es­


creveran1 os pequenos livros de Rute, Jonas, Joel, e o Cân­
tico dos Cânticos. A maioria dos exegetas fixa sua origen1
no ten1po após o exílio.
Segundo Dan 9, 2, já deve ter existido na Palestina
neste ten1po tuna coleção de livros sagrados, pois aí, pe­
la pri1neira vez, se 1nenciona 11111 conjunto de "Escritu­
ras", nas quais se podem encontrar revelações divinas.
A u1na tal coleção de livr.os sagrados, certa1nente, deve
o J:;:clesiástico seus conhecin1entos sôbre a história reli...
g1osa. Isto é o que nos atesta o assi1n chamado "elogio
dos antepassados", co1npendiado nos capítulos 44-49 de
seu Livro. Aí são 111e-ncionados personagens da história
israelítica, personagens êstes, que nos são conhecidos atra­
vés dos livros. canônicos do Antigo Testamento.
Os 12 (Pequenos) I_)rofetas já formam, segundo EcI.o
49, 10, u1n grupo be111 destacado, enquanto que o Livro
de Daniel ainda parece ser desconhecido para o autor.
Apenas e111 1 Mac 2, 59s, supõe-se a existência do Livro
de Daniel, o qual eleve ter sido escrito, por conseguinte,
antes dos Livros. dos 1\1:acabeus.
De acôrdo con1 2 l\Iac 2, 14, tan1bé1n Ju,d.as Macabeu
fêz un1a coleção de livr,0s sagrados, d1ispersos nos co1n­
bates con1 os sírios. Logo após o tér1nino feliz das guerras
de libertação judaica, pelo ano 150 A. C., escreveram-s.e
os dois l..ivros elos Macabeus. Do 1nes1no tempo, data1n
os livros cleuterocanônicos de Judas, Tobias e, talvez,
Baruc. Pela pri1neira vez aparece a tríplice divisão do
Antigo Testan1ento, usada pelos judeus, a saber: "Tora"
(Lei), Profetas e (outros) Escritos" Tal divisão encon­
tra-se nu1n prefácio da tradução grega do Livro do Ecle­
siástico, escrito pelo ano de 132 A. C. Con1 isto, o con­
junto dos "escritos pr.otocanônicos", i. é, o cânon judaico
da Bíblia hebraica, já aparece ter1ninado. U-,n d os fudeus
dispersos no Egito, que clon11nava o grego, escreveu nes-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
36 II. O Cânon : sua Evolução Histórica

ta língua, en1 111eaclos do I século antes. de Cristo, o Li­


vro da Sabedoria.
Ao lado de nossos livros canônicos, existia1n ainda en­
tre os judeus, desde o te1npo dos persas, nu1nerosas pro­
duções literárias de cunho religioso e que foran1 atribuí­
das a algu1n célebre hon1e1n de Deus do passado: talvez
a Enoc, El-ias, Baruc, aos patriarcas, a Esdras e até 1nes­
n10 a Adão e a Eva. Con1 isso querja1n garantir o reno111e
do livro e a sua ulterior propagação. Trata-se, na 111aiioria
dos casos, dos assin1 cha1nad.os "apocalipses", i. é, de "re­
velações" 111ais ou 111enos fantásticas, sôbre o fin1 elo 111un­
do, ou então de pretensas profecias antigas, sôbre acon­
tcci1nentos da atualidade, as assi111 cha111adas profecias.
"post eventu1n" 'r ais livros, en1bora tivessen1 entã.o boa
ace:tação, não foran1 contudo incluídos na Bíbliia, nen1
pelos judeus, ne1n depois pela Igreja. Cha111a111-nos de
a.p·ócr-ifos ou jJseudepígr.af os. Pelos notáveis achados que
se f izeran1 em 1947 perto do Mar Morto, saben1os que
a con1unidade sectária dos judeus, em Qumran, conhecia,
com exceção do Livro de Ester, todos os demais escritos
protocanônicos, alguns deuterocanônicos. ( Eclesiástico e
Tobias), escritos apócrifos e grande n-ú1nero ele outros;
até agora desconheeiidos. Ignora1nos, outrossin1, qual a
autoridade que os judeus davam aos vários escritos. Cer-­
tan1ente destacaram bem a "Lei de l\1ois.és" ( == Penta­
teuco) e os Profetas.
Grande in1portância obteve, para a história posterior
do cânon, a tradução grega do Antigo Testa1nento, feita
pelos judeus da "Dispersão", co1neçada no século III an­
tes de Cristo, e completada no te1npo de Cristo. Conhe­
ccn10s a tradução pelo no1ne de Septuaginta .. l\1ais tarde
voltare1nos a ela. Nesta Bíblia grega, usa·da pelos judeus
da Dispersão, fora111 també1n ,incluídos os livros deutero­
canônicos, não encontrados na Bíblia hebraica: a saber,
os livros de Tobias, Judite, o 1 9 e o 2 9 dos Macabeus, ele
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon : sua Evolucão
" Histórica 37

Baruc, do Eclesiástico e ela Sabedoria, ass.iin con10 certos


trechos deuterocanônicos dos livros de Daniel e de Ester.
Nos 111anuscritos dessas traduções e por isso tan1bém,
nas edições 1nodernas da Septuaginta, acha1nós ainda al­
guns apócr,ifos, con10 os Saln10s de Salo1não, un1 livro
chan1ado na Bíblia grega de 1 9 Liv ro de Esdras e u1n 3 9
r 4 c.> I_j vro dos l\1acabeus.

CAPf1'ULO V

"'
O AN1.]GO 1 1�S'TAlvII�NT'O l�NTI{E OS JUDEUS
CONTEMPOI<.ÂNEOS DE CRISTO

No te111po de Cristo havia vários livros que continhan1


pretensas revelações, fato êsse que 1nuito contribuiu para
aun1entar entre os judeus a incerteza no que se referia
aos livros autênticos da "Escritura Sagrada" Ao que
parece não se fazia 111uita distinção, na con1unidade de
Qu111ran, entre escritos canônicos e não canônicos. Os
judeits da D ispersão lian1 os livros deuterocanônicos e
tan1bé111 alguns apócrifos não só en1- particular, n1as até
nos ofícios divinos na sinagoga. Entre os juide·us palesti­
nenses levantava111-se dúvidas sôbre os livros de Ester e
o Cântico dos Cânt:cos, por parecerem algo profanos, se
pertenoia111 ou não aos Livros Sagrados. O então mais
célebre sábio judaico, Filo, cita son1ente livros que cons­
ta1n na Bíblia hebraica. De 111aneira idêntica procede o
historiador Josefo l◄lávio que era de origem palestinense,
111as escrevia e1n grego ; êle só conhece 22 livros que "re­
la ta1n as coisas div,inas de 1nodo fidedigno", í. é, os livros
pr,otocanônicos. Assi111 segue êle a tradição dos fariseus
que, confor111e a lvlischna, atribuíra1n a Esdras a con.­
r)usão do cânon, adn1itindo na Sagrada Escritura só-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
38 .. Histórica
II. O Cânon : sua Evolucão

mente livros escritos antes da extinção dos profetas, i. é,


antes de Esdras. Co1n isso devia1n atribuir, a autores mais
antigos, livros, que na realidade, era1n de data mai s re­
cente. Assin1 atri buíra111 a Salomão o Livro do Eclesias­
tes e o Cântico dos Cânticos., enquanto o Livro de Daniel
recebeu o título de acôrdo con1 a personage1n principal
do próprio Livro.
Nas escolas dos escribas judaicos ia ta1nbém prevale­
cendo o ponto de vista farisaico. O Tahnud indica os se­
guintes critérios para os livros canônicos: a) plena con­
cordância con1 a Lei 1110s.aica; b) idade notável, i. é, não
posterior a Esdras ; c) origen1 palestinense; d) língua
hebraica ou aran1a.iica. Tôdas as dúvidas, a respeito da
extensão do cânon., fora111 dissipadas para os judeus pe­
la lista do cânon do século II depois de Cristo, contida
no Tahnud babilônico, Baba-Batra f 14b - 15l;l.
Êste enumera todos os 24 livros protocanônicos e con1-
b:na, se incluirn10s a subdivisão posterior de alguns li­
vr,os, con1 as atuais edições hebraicas da Bíblia. Desta
forn1a decidira111-se os judeus definitiva1nente pelo cânon
reduzido de apenas 24 livros. Não obstante, gozavam
os livros do Eclesiástico e de Baruc de tal autoridade en­
tre certas con1unidades judaicas, que sua leitura, até o
III século, era feita 111esn10 na sinagoga.

CAPÍTULO VI

Jesus Cristo não qLteria, ass.im o diz en1 l\1t 5, 17, "abo­
lir a Lei e os Profetas, 111as sin1 levá-los à perfeição" E'
verdade que Êle não deixa dúvidas sôbre o seu poder
<lt suprin1ir, con1pletar e interpretar co111 autoridade as
prescrições do Antigo Testa1nento ( Mt 5, 27-48; 19, 8s;
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon: sua Evolucão Histórica 39

l\1c 10, 2-12); 1nas, por outro lado, considera a Lei de


l\.1oisés, os Profetas e outros livros do Antigo Testamento
expressan1ente con10 docun1entos da revelação, nos quais
o povo judeu podia descobrir as exigências religioso-mo­
rais (Mt 7, 12; 22, 40; Me 7, 10; I..Jc 10, 20; 10, 29; Jo
7, 19), a ação poderosa de Deus ( Mt 22, 29) ben1 con10 a
111issão e o ofício do Messias (lvft 11, 13s; Lc 4, 16-21;
18, 31; 24, 2-27, 44-46; Jo 5, 39). Jesus menciona fre­
qüente1nente a "Lei de Moisés" ( M t 5, 18; 12, 5; Lc 10,
26), ou a "Lei e os Profetas" (Mt 5, 17; 7, 12; 11, 13;
22, 40), ou "a Lei, os Profetas e os Salinos" (Lc 24, 44)
ou sin1plesn1ente "a Escritura" ( Me 12, 10; Lc 4, 21;
J o 10, 35). E' certo qtte não nos apresenta a enun1eração
exata dos escritos aos quais atribui autoridade religiosa
decisiva. Seguindo a praxe dos fariseus, ;µ,�av.a. e1n suas
citações apenas p,.3:�.s?,gens tiradas da Bíblia hebraica, e
pffe.o dos livros deuterocanônicos, pois, não sendo aceitos
con10 autoridade religiosa pelos escribas, de nada adian­
taria citá-los e111 discussão con1 êles.
O exen1plo de Jesus foi seguido pelos apóstolos e os
d-iscípulos dêles. A Igreja prin1itiva aceitou o Antigo Tes­
tamento como documento de revelação, atrás do qual via
a autoridade divina. Reporta111-se a êle com a fórn1ula:
"está escrito" ( At 7, 42; Ro111 1, 17; 3, 4; 1 Ped 1, 6 e
outros). Tan1bén1 os apóstolos e seus discípulos só citam
no111inaln1ente, ii. é, expres.sa111ente, os livros protocanô­
nicos, e isto, por via de regra, segundo a tradução grega
da Septuaginta. An1iúde, poré1n, aluden1 aos livros deu­
terocanônicos ( cf. Ro1n 1, 12-52 referente a Sab 12,
24-15, 19; Ro111 2, 11 referente a Sab 6, 7s; 1 Cor 6, 2
referente a Sab 3, 8; Heb 11, 34s referente a 2 Mac 6,
18-7, 42, etc). U1na relação co1npleta dos livros canônicos
não existe ainda na Igreja pri1nitiva.
Os escritores ·da époc.a posterior aos ,apóstolos, os assim
cha1nados Padres Apostólicos, os Apologetas e os Padres
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
40 II.. O Cânon: sua Evolução Histórica

do século II, citam conforme a Bíblia grega, sem fazer­


cli ferença entre livros protocanônicos ou deuterocanôni­
cos. Assim o fazem até meados do III século. Os teólogos
mais notáveis daquele tempo, quer do Oriente quer do
Ocidente, como Clemente de Alexandria, Orígenes, Ter­
tuliano, Cipriano, Hipólito, enumeram expressamente os
livros deuterocanônicos entre os documentos da revela­
ção. Esta tradição acha-se confirmada em representações
da arte cnistã, máxime nas pinturas das catacumbas, on­
de deparamos com motivos artísticos, tirados tanto dos
livros deuterocanônicos, quanto dos protocanônicos.
A pair-p,ivr, porém, do III século, levantam-se na Igreja
Orieintal certas vozes importantes que, influenciadas pelo
cânon judaico mais restrito, assumem uma atitude críti­
ca perante os livros deuterocanônicos, ou ao menos pe­
rante alguns dêles. Em suas obras posteriores defonde
Orígenes a Sagrada Escnitura "segundo os hebreus", i.
é, segundo o cânon restrit© dos judeus. S. Atanásio (295-
373) distingue entre livros que ensinam puramente "a
doutrina da piedade ( os livros protocanônicos e Baruc)
e outros que "não foram aceitos no cânon, mas. que podem
ser lidos" (Jdt, Tob, Ecli, Sab, e Mac) e os apócrifos
que não merecem ser lidos. Cirilo de Jerusalém fala, sem
mais nem menos, dos escritos, admitidos na liturgia ( os
livros protocanônicos e Baruc) e "os outros, que devem
ficar fora, os do segundo cânon" Epifânio e Gregório
Nazianzeno encaram os livros deuterocanônicos de ma­
neira semelhante.
No modo de citar, porém, não são conseqüentes, citan­
do também livros deuterocanônicos, usando até a fórmu­
la: "segundo diz a Escritura".
Sob a 1influência de tão importantes Padres da Igre­
ja Oriental, também alguns Padres Latinos dos sé"'ulos
IV e V, como Rufino e Hilário, restringiam a Sagrada
Escritura ao cânon judaico. Um defensor ardoroso do
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon: sua Evolução Histórica 41

cânon .restrito foi S. Jerônimo, depois de ter estudado


hebraico com a ajuda de um rabino, e de ter traduzido o
Antigo Testamento das línguas originais. Nas citações,
contudo também êle deixa de ser conseqüente.
Apesar dessas vozes contrárias podemos, porém, cons­
tatar que a gr(J)nde rniaioria dos Padres gregos, latinos e
sír,ios, tais como Basílio, Gregório de Nissa, João Crisós­
tomo, Cirilo de Alexandria, Lactâncio, Ambrósio, Agos­
tinho, Leão Magno, Afraat e Efrém ficaram com o cânon
ampliado da Bíblia grega. A es�a. t,raq.ição atinham-se os
m.�!�--E�l-��.§.JJJ,auus.Gr,�tos-,-g·r-egos -e latinos da Bíblia, que
incluíram os _livros deuterocanônicos. Às supremas instân­
cias da Igreja só bem farde se propuseram a discutir sô­
bre a extensão do cânon, tomando então atitude defini.:.
ela. Antes de conhecermos as declarações oficiais do Ma­
gistério, estudaremos ainda o desenvolvimento do cânon
do Novo Testamento.

CAPfTULO VII

A HISTôRIA DO CÂNON DO NOVO


TESTAMENTO

Jesu.s Cristo transmitiu aos homens a sua doutrina oral­


mente e não a fixou por escrito. Também os apóstolos
foram incumbidos de p,rt_ gar e não de escrever. A maio­
ria dêles não nos deixou nenhuma linha escrita. Os es­
critos que nós temos dos apóstolos e de alguns discípulos
dêles têm o caráter de "escritos ocasionais" Devem sua
origem a determinadas situações. e necessidades da cura
cl'almas. A Igreja primitiva, a geração do tempo dos após­
tolos, contentara-se com o Antigo Testamento e as pala­
vras .(51.o Senhor, transmitidas pela pregação dos discí­
pulos de Jesus. E desta forma chegaram a conhecer a von­
tade divina e os seus planos de salvação. Não precisavam
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
42 II. O Cânon: sua Evolucão Histórica
;>

aiuda de tun docu1nento adicional de revelação. Confor-


111e Col 4, 16 costu1nava1n as co111unidades vizinhas per-
1nutar entre si, ocasionahnente, cartas dos apóstolos·�-1?0..:
ré1n 1Yão·'�-fizerat11;· naquele te1npo, nenhun1a coleção ofi­
cial de tais escritos. Os apóstolos e os discípulos do Se­
nhot escrevera1n certan1ente 111uitos outros livros, car­
tas e documentos, alé1n dos nossos escritos can'ônicos.
Assi111 encontrou S. Lucas (Lc 1, 1-4) muitas notícias
escritas sôbre a v,icla e a pregação de Jesus e as aprovei­
tou para o seu evangelho. Tan1bé111 de S. Paulo sabe111os
( 1 Cor 5, 9) que escrevera, alén1 das cartas por nós co-
nhecidas, outras que se perdera1n. Enquanto os apósto..,
los ainda vivia111, as cópias de suas pregações não eran1
ainda tão iinportantes que 1nerecesse111 ser arquivadas
cuida.dosan1ente. Por isso perderan1-se 111uitos docun1entos
dês.te te1np,o do cristianis1110 prin11itivo.
l\!Iudou radicaln1ente a opinião sôbre a herança literária
dos -apóstolos, quando un1 após outro deixou êste 111un­
do. :Então con1eçara111 a colecionar co1n cuidado os escri­
tos dos t�ste1nunhos da vida, 1norte e ressurreição do Se­
nhor, bem como as epístolas dos fundadores de co1nuni­
dades cristãs, copiando-as, lendo-as nas reuniões 1,itúr­
gicas e permutando-as entre si.
Na passage1n do I 9 para o 11 9 século existiam já, co1no
prin1eira coleção fora do N.ovo Testamento, as Cartas de
S. Pa.ulo, escritas entre 45 e 67 A elas se refere S. Pe­
dro (2 Ped 3, 15s), ao lado dos "outros Escritos", i. é,
do Antigo Testamento. Já que êle menciona as cartas de
per1neio com as outras Escrituras, parece que lhes atribui
a n1es1na autoridade canônica. Por meados do século II
cita S. Policarpo 10 epístolas de S. Paulo. A omissão de
1 Tc�ss, de Filê1n e de Tito parece ocasional e faz su­
por que Policarpo tenha já conhecido todo o "Corpus
I)aulinu1n".
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon: sua Evolucão I-Iistórica 43

Na segunda 1netade do I século s_urgiram os quatro


evangelhos. A princípio não se destinava1n a Igreja tôda,
pois Mateus escrevera para as co1nunidades judeu-cristãs
da Palestina, Marcos para os cristãos de Ro1na, Lucas
para os da Itália e Grécia e João para as co1nunidades da
Ásia 1v1enor. I)ela n1etade do II século ta1nbén1 êstes 4
livros forn1ava111 11111 todo já acabado. Justino ( + cêrca
ele 165) é o prin1eiro a atestar que os evangelhos eran1
lidos na Igreja ao lado dos profetas. Con1 isto está de-
1nonstrada a equiparação dos quatro evangelhos co1n o
Antigo Testa111ento, no que se· refere à sua autoridade
canônica. Taciano, oriundo da Síria, e discípulo de Jus­
tino, usou para a sua ob1�a "Concordância dos Evangelhos"
apenas os quatro evangélicos canônicos.
Os J'adres Apostólicos, pelos 1neados do século II, co­
nhecem tan1bé1n a 1naior parte dos de1nais escritos do
Novo Testan1ento, citando-os ao lado do A. T con1 tan,
ta freqüência, que faz supor tere1n êles sido lidos publi­
ca111ente nos ofícios litúrg,icos.
Ainda e1n 111eados do II século tornou-se be1n palpitan­
te a questã,o do cânon, porque o herege Marcião rejeita­
ra o A. T ., aceitando do Novo apenas o Evangelho de
São Lucas e 1 O epístolas de São Paulo ( se1n as epístolas
pastorais) con10 fontes da revelação. Dêste 111-0do viran1-
se:- as co1nunidades ortodoxas na contingência ·ae con­
feccionar um elenco daqueles livros, que eram considera­
dos con1,0 pertencentes à Sagrada Escritura. U1na tal lis­
ta do II século encontrou-se nun1 documento, escrito en1
lati111, provàvehnente e1n Roma, cha111ado "Canon Mu.­
rator.i", len1brando o non1e do cientista que o descobriu.
() autor daquele documento conhecera de certo todos os
quatro evangelhos. Achando-se, poré1n, a prin1eira par­
te do doctunento danificada, a enu1neração dos livros do
Novo Testan1ento con1eça só co1n Lucas. Depois de João
segue1n os atos dos Apóstolos, e logo depois as 13 epís-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
44 II. O Cánon : sua Evolução Histórica

tolas de São Paulo ( s.e111 Heb ! ) , a Epístola de São Ju­


das Tadeu, as duas prirr1eiras cartas de São João e o
Apocalipse. T'ertuliano (1norto e111 220) en1prega, por
prin1eiro, a expressão "Novu111 Testa1nentun1", que ao
lado do Antigo Testamento perfaz "totun1 instrumentum
utriusque testan1entí", isto é, pertence ao "instru1nento"
total de an1bos os tcstan1entos. Assin1 outorga êle ·ao No­
vo �festa1nento un1a autoridade igual ao Antigo.
Quanto ao ân1bito do cânon, custou haver unani111idade
entre as várias con1unidades do Ocidente e do Oriente.
No início do III século aceitava111-se, e1n tôda a Igreja,
co1110 livros. canônicos os quatro Evangelhos, os Atos dos
Apóstolos, 13 l�pístolas de São Paulo ( sen1 .Heb), a pri­
n1eira f:pístola de São Pedro e a pritneira Epístola de
São João. A l�pístola aos Hebreus passara por canônica
apenas no Oriente, sendo quase desconhecida no Ocidente.
No Ocidente enun1eravan1 o Apocalips� entre os Livros
Sagrados., ao passo que no Oriente discutiam sôbre seu
valor canônico. I�usébio de Cesaréia (111orto cêrca de 340),
bispo e historiador, nos dá u111 aspecto elucidativo sôbre
a discussão havida então sôbre o cânon.
Divide êle ,os livros elo Novo Testa1nento da seguin­
te forn1a:
a) Livros aceitos unânirnen1ente pela Igreja tôcla: os
quatro Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, as 14 Epístolas
de São Paulo ( con1 a ressalva de que alguns rejeita1n a
l�pístola aos ·Hebreus), 1 Jo, 1 Pcd e "caso alguém a
achar bon1, ta111bé1n o Apocalipse de São João, sôbre o
qual há di vc rgências de opiniões"; b) Livros discutidos,
onde êle clistiingue novan1ente entre os "que são aceitos
pela 111aioria" ( 'T'go, J ud, 2 Ped, 2 e 3 J o), e falsas ( as
atas apócrifas de J >aulo, Pastor de Hern1as, Didaché e
outros) ; e) J��scritus heréticos, que deven1 ser rejeitados
de todo. No correr do IV século as dif erencas
.
� iam-se
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon : sua Evolução Histórica 45

an1ainaudo. A Igreja latina aceitou a epístola aos He­


breus, a grega o Apocalipse. O número das epístolas ca­
tólicas foi fixado definit1iva1nente e1n 7

CAPf TULO VIII

A CONCL.lJS1\0 DO CÂNON

A pri111eira apresentação oficial do cânon nos é refe­


rida pelo sínodo de Hipona, na .l\.f rica, realizado en1 393,
./\í le1nos: "Alén1 dos escritos canônicos não seja lida ou­
tra coisa sob o rótulo de "Sagrada Escritura" Os escri­
tos canônicos, porén1, são: Genesis, Exodus, Leviticus,
Nun1eri, Deuterono1niun1, Jesus Nave (=Josué), Juízes,
Rute, os quatro Livros dos Reis, os dois Livros das Crô­
nicas, Job, o Saltério de David, os cinco Livros de Salo­
n1ão ( isto é, Livros sapienciais atribuídos a Salo1não:
Provérbios, Sabedoria, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes
e Eclesiástico), os 12 L.ivros dos Profetas ( os atuais =
12 pequenos profetas), Isaías, Jere111ias ( inclusive La­
n1cntações e Baruc), Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Es­
=
ter, os 2 Livros de l�sdras ( l�sdras e N een1ias), os 2
L,ivros elos lviacabeus. Do Novo Testan1ento, poré1n, são:
Os quatro Livros dos Evangelhos, os. Atos dos Apóstolos,
13 T�pístolas de São Paulo Apóstolo, u1na do 1nes1no, escri­
ta aos Hebreus ( f-Ieb é aqui separada elo Corpus Pauli�
nun1 ! ) , 2 de São IJedro, 3 de São João, 1 de Tiago, 1 de
Judas e o ApocaEpse de João" (EB 16 e 17). 1

Êste cânon foi conf irn1ado pelo Concílio particular de


Cartago ( 419), sendo que aqui a carta aos Hebreus foi
si1nples1nente enu1nerada entre as 14 Epísto1as. de São
J.=>aulo. O Papa Inocêncio I 1nandott, em 405, um elenco
1) EB == Enchiridion Biblicun1; cf. infra p. 168.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
46 II. O Cànon sua Evolucão Histórica

idêntico ao bispo l◄�xupéri,o, no sul da F'rança, e a Igreja


Oriental ace:tou, no assin1 cha111ado segundo Concílio
Trulanun1 ( 692), o n1esn10 cânon sen1 restrições. O pa­
triarca Fócio ( 111orto em 891) 111ais uma vez o confirrnou,
tornando-o obrigatório para tôda a Igreja grega. No Oci­
dente deparan10s co111 idênticas listas do cânon no as.si1n
chan1ado Decretu111 Gelasianu111 e n.o decreto do. Concí­
lio de I;lorença para os jacobitas ( 1441). Co111 isso pare­
cia definitivan1ente decidido quais os l1ivros pertencentes
à Sagrada Escritura.
Nova discussão surgiu con1 lVIartinho J..,utero. Êlc tra­
duziu, é verdade, tan1bé1n os. livros deuterocanônicos. Co­
locou-os, poré1n, no fi111 de sua Bíblia, declarando-os ex­
pressan1ente apócrifos e con10 livros "que não deven1 ser
equiparados à Sagrada Iiscr1itura, sendo contudo úteis e
bons para ler" Por isso viu-se o Concílio de Trento obri­
gado a diri1niir a questã,o, de un1a vez para se1npre, de­
clarando, con1 sua autoridade, para tôda a Igreja, quais
os livr.os que pertencia1n ao cânon. Fê-lo na IV sessão
d o dia 8 de abril de 1546. ]�:is as palavras do docun1ento
que nos interessa: "Para que não subsista nenhu1na dú­
vida sôbre quais sejan1 ( os Livros.) reconhecidos pelo Con­
cílio, são os seguintes: Do Antigo Testan1ento: os 5 1..,i­
vros de lvloisés, isto é, Genesis, }�xodus, Leviticus, Nume­
ri, Deuteronon1iun1; Jos.ué; Juízes; Rute; os 4 Livros
dos Reis: os 2 1..ivros das Crônicas; de Esdras u1n pri­
n1eiro e un1 outro, cha1nado de Neen1.ias; Tobias; Judite;
r◄�ster; Job; o Saltério de David co1n 150 saln1os; Pro­
vérbios; Ecles:astes; Cântico dos. Cânticos; Sabedoria;
I◄:clesiástico ( == Jesus Sirach) ; Isaías; Jeren1ias co1n Baruc
( as l.,an1entações não se mencionam à parte, estão incluí­
das no Livro de Jeremias) ; Ezequiel; Daniel; os. 12 Pe­
quenos Profetas, isto é, Oséias, Joel, A1nós, Abdias, Jonas,
Malaquias, Nau1n, Habacuc, Sof.onias, Ageu, Zacarias, Mi­
quéias, 2 l.,ivros dos Macabeus. Do Novo Testa1nento:
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
II. O Cânon sua Evolucão Histórica 47

08 quatro I�vangelhos segundo Mateus, Marc.os, Lucas,


João; os Atos elos Apóstolos, es.critos pelo evangelista
1..ucas; as 14 Epístolas do Apóstolo Paul.o: un1a aos Ro­
n1anos, 2 aos Coríntios, un1a aos Gálatas, u1na aos Efé­
sios, u1na aos Filipenses, un1a aos Colossenses, duas aos
Tessalonicenses, 2 a Tin1óteo, tuna a Tito, un1a a F"ilê-
111on, urna aos Hebreus; elo Apóstolo Pedro 2; do Após­
tolo João 3 ; un1a do Apóstolo Tiago; u111a do Apóstolo
Judas; e o Apocalipse do Apóstolo João. Se, porém, al­
gué111 não tiver êstes n1rsn1os livros con1 tôdas as suas
partes, assin1 con10 costun1an1 ser lidos na Igreja católi.,
ca e con10 estão contidos na ant:ga e universaln1ente pro­
pagada edição latina, enJ conta de santos e canônicos....
então seja anáten1a" (EB 57-60).
Os gregos ortodoxos tên1 o 111es1no cânon. Na Igreja
russa co1neçaran1 a discutir, a partir do século XVIII,
acêrca dos livros deuterocanônicos, e isto, sob a influência
do protestantisrno. A 111ais recente tradução bíb1ica russa,
elo patriarcado de Moscou (de 1956), conté1n os livros
deuterocanônicos na 111esn1a orde111 con10 a Bíblia grega.
A 1naioria das diversas seitas protestantes está de acôrdo
co111 Lutero na recusa elos livros deuterocanônicos. Quan­
to a.o Novo Testa111ento não há divergência algu1na en­
tre católicos, gregos, russos e protestantes..

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PAR ,.fE III

i\ BíBLIA, PALAVRA DE DEUS

CAPÍTULO I

O LIVRO QUE V�El\1 DE DEUS

Os diferentes non1es, dados à Bíblia desde os tempos


n1ais ren1otos, be111 corr10 a histór.a do próprio cânon, nos
ind.ican1 que tanto o judaísn10, con10 a Igreja cristã atri­
buia1n aos livros bíblicos tuna autoridade que não dava1n
a outros livros. Po:s não se referiam à Bíblia apenas, oca­
sio:naltnente, e1n questões religiosas, mas deduziam dela
todo un1. siste1na de fé e de 111oral. O C,oncílio de Trento,
corno já vünos, de acôrdo co111 tôda a tradição cristã e ju­
daica, chan1ou os escritos, contidos na Bíblia, de "santos"
e ''c,�__!J.gpicos"; a primeira expressão visa em especial às.
relações ínti1nas que a Bíblia tem com Deus como autor
da 1nes.ma, enquanto a segunda expressão frisa a autorii­
dade nor1nativa e decisiva que ela tem em 1natéria de fé
e de costu111es. J ustan1ente, poré111, estas expressões "san­
to" e "canônico" precisan1 ser 111elhor explicada s; pois,
de algun1a rnaneira, poderían10s ta111bé1n considerar ou­
tros livros, fora da Bíblia, co1no santos e i111portantes pa­
ra a fé cristã. Assi1n acontece serem chan1ados de "livros
saritos" os livros litúrg1icos, usados pela Igreja no ser­
viço divin.o, tais como o 111iss.al, o ritual, o pontifical, e
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 49

outros. Quanto à fé e à moral, te1110s tan1bém docun1entos


decis�vos do 111agistério ordinário e extraordinário, 111á··
xi1ne as decisões dogn1áticas dos papas e dos concílios,
bem como os catecismos. Todavia não fazen1 parte da
Sagrada Escritura. Poden1os, pois, perguntar: Pqr que
iuc_lu.iu a ��E�.L� no cânon da Bíblia, de acôrdo com o elen­
co apresentado pelo Concílio de Trento, o... .. s.��. l_iyros...)::onti-
' ,·

dos justan1�.ntç.... ..,.llil__..!IQ�!,�_ção latina, na assin1 cha1nada


\Tu]gata?
A questão não foi ele todo diri111ida no Concílio de
Trento, havendo, pois, lugar para opiniões diferentes. Por
isso, 1nais tard�, discutia111 os teólogos f reqüente1nente
esta questão. Uns ·eram da opinião de que bastava o fato de
ter sido es_crito, de 1naneira puran1ente natural, por un1
profeta e apóstolo e de ter sido posteriormente reconhe­
cido pela Igreja, ilun1inada pelo l�spírito Santo, con10 do­
ctunento infalível da fé, para u1n livro ser considerado
santo e canônico. Neste caso, fala1n de unia "approbatio",
ou até "inspiratio subseguens", isto é, de "aprovação"
ou "inspiração posterior" Com algu1nas 111odificações, foi
a opinião defendida pelo professor de Lovaina L. Lessius
( t 1623), por J. Bonfrere S. J. ( t 1643) e pelo bispo
de Espira D.B. von Haneberg O.S.B. (1- 1876). Ou-
tros, é verdade, afirmava1n seren1 os livros bíbliicos san­
tos e canônicos pelo fato de terem sido esçritos s.ob in­
fluência especial do Espírito Santo; porém, achavan1
êles, a influência foi apenas n,�g_ativé:l, isto é, fêz có1n que
.o autor se mantivesse livre de erros. Essa opinião teve
por fautores, entre outrqs, .o prof ess.or de Paris I... E.
Du P1in (t 1719) e o célebre padre premonstratense de
Viena J. Jahn (t 1816). A1nbas as opiniões foram re­
jeitadas pela Igreja.
A discussão não foi de todo em vão ; obrigou o C on­
cflio do Vaticano a ocupar-s.e mais de perto com a questão
e de decidi-la f inahnente. O concílio confirmou na 3q.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
50 ITI. A Bíblia, Palavra de Deus

sessão do dia 24 de abril de 1870 o cânon estabelecido pe­


lo Concílio ele Trento e jndicou 1nais. precisan1ente o cri­
tério que decide sôbre a aceitação dos diversos livros no
cânon: "Os livros elo Antigo e Novo Testan1entos, inte­
grahnente con1 tôdas as suas partes, deve 1n ser tidos co1no
santos e canônicos, as.si1n co1no são enun1erados naquele
decreto e con10 estão contidos na antiga e univer.sahnen­
te propagada edição .]atina. A Igreja os considera santos
e canônicos não porque, tendo sido compilados por es­
fôrço humano, tenhan1 depois sido confirn1ados pela auto­
ridade da Igreja; QÇJJJ. pelo 111otivo de conteren1, se1n êrro,
a revelação. l\1as pelo fato de que, tendo sido escritos sob
a influência do Espírito Santo, te1n a Deus por autor e
con10 tais fora1n entregues à Igreja" (EB 77).
O concílio resu1ne, e1n seguida, sua decisão sôbre o
cânon e sôbre a origen1 divina dos livros canônicos nas
seguintes palavras:
"Se algué1n não aceitar corno santos. e canônicos os li­
vros ela Sagrada I�scr1tura, integrahnente, con1 tôdas as
suas partes, assin1 con10 os enun1erou o Sagrado Sínodo
de Trento, ou negar que foram divinaniente inspirados,
( divinitus inspiratos esse), então seja anáten1a" (EB 79).
Pode1nos daí estabelecer a seguinte definição: A Bí­
blia é a coleção daqueles livros que, sendo santos e deci­
s_�yos para a � é e a viela 111oral do cristão, tên1 Deus por
�tutor, porqtt,e f oran1 escritos sob a influência do Espírito
Sant._o, e co1no tais fora1n entregues à Igreja por Jesus
e os Apósto1os.
Ocasionaln1ente te111 sido discutida, n1esn10 no presen­
te, a questão, se houve .outros escritos dos profetas ou dos
apóstolos, que, igualmente inspirados e portanto de ori­
gem divina, se perdera111. Pergunta-se, também, se cer­
tos livros, conhecidos do tempo anterior a Cristo e mes1no
do cristianis1110 primitivo, con10 o livro de Enoc, a carta
de S. Clemente ou a didaché, que ocasionalmente fora1n
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 51

incluídos pelos pri111eiros cristãos na Sagrada Escritura,


fora111 tarnbém inspirados, podendo assim ainda ser incluí-:
dos no cânon pela Igreja. N en1 o Tridentino, nem o Con­
cílio do Vaticano, se referira111 a isso, se há ou não, fora
da Vulgata, escritos inspirados e se o cânon deve ser con­
s·1derado def initivan1ente acabado. Todavia, estas ques­
tões, são de natureza teorética e de pouco interêsse prá­
tlco, e isto, pelo seguinte: a) pouca esperança existe de
encontrarn10s ainda algun1 escrito da autoria de um pro­
feta ou apóstolo; b) é pouco provável que a Igreja reco­
nheça co1no insp:rado e con10 canônico ttn1 livro que,
por n1ais ele 15 séculos, não tenha sido incluído na Sa­
grada Escritura. E111bo1-a não haja, sôbre o caso nenhuma
declaração forn1a1, a Igreja, pràtican1ente, procede co1no
se o cânon já estivesse concluído. De fato só depende a
inspiração e o caráter canônico daqueles es.critos que até
agora figuravan1 na Bíblia.

CAPfTULO II

A INSPIRAÇÃO

Acaban10s de ver que o Concílio do Vaticano definiu


a autoria divina da Bíblia con1 as expressões: "divinitu_s
inspirati", isto é, inspirados por Deus, e "Sp_iritu..Sane.to
inspirante conscripti sunt", isto é, escritos s.ob a inspiração
do Div:ino Espírito Santo. Estas locuções são ernpresta­
das da própria Bíblia.
São Paulo adn1oesta a seu discípulo Timóteo a per­
n1anecer fiel à doutrina que êle ouviu do próprio após­
tolo e que êle achou nas "Sagradas Es.crituras", conhe­
c :das desde a juventude. Êstes livros sagrados, como é
{)bvio, são os livros do Antigo Testa1nent,o. São Paulo os
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
52 III. A Bíblia, Palavra de Deus

chama em particular de graphê theófmeustos, o que a l3í­


blia latina traduz por "scriptura divinitus inspirata"
Iss.o vem a ser, em vernáculo, "escritura comunicada pelo
sôpro de Deus" ou "escritura inspirada" (2 Tim 3, 16).
Da pregação profética do Antigo Testamento diz São
Pedro (2 Ped 1, 20s) que sua interpretação não é tarefa
dos homens, "porque jamais uma profecia foi proferida
pela produção da vontade humana, mas homens inspira­
dos pelo Espírito Santo falaram da parte ele Deus (hypà
pnéumatos hagíou pherórnzcnoi, na tradução latina: "Spi­
r;tt1 Sancto inspirati"). Mas também em outros lugares
atesta a Bíblia a or,igcm divina, ao menos do- Antigo Tes­
tamento, como pr-:;;àm os nomes e os títulos, ac:ma cita­
dos na primeira parte, bem como a autoridade que Jesus
e os apóstolos lhes atribuíram. E' verdade que são raras
as passagens onde se fala expressamente que um livro, ou
certa parte do mesmo, tenha sido escrito por ordem ime­
diau�de Deus, corno por exemplo em Êx 17, 14; Is 30, 8;
Jer 30, 2; 36, 2; Hab 2, 2. únicamente, os mandamentos,
dados por Deus a Moisés em tábuas ele pedra, foram
escritos por Deus mesmo, segundo o modo de se exprimir
do Livro do Êxodo (Êx 24, 12; 34, 1). No mais, aQI_dern
de escr.fygcé .dada a uma pessoa humana. Jesus cita ( Me
12, 36 uma palavra do salmo 110 (109), 1, -dizendo que
era uma palavra de David, que êste proferira, "�_ir,ado
pelo Espírito Santo" Os apóstolos, por sua vez, declaram
quê � Espírito Santo falara através dos escritores do An­
tigo Testamento (At 1, 16; 28, 25s; Heb 3, 7, <."te).
Entre os livros do Novo Testamento, sàmente o Apo­
Cé,lipse deve sua ori1 gem a uma ordem expressa de Deus
( Apoc 1, 11-19). E' digno de menção o fato de que em
1 Tim 5, 18 é citada, conjuntamente, uma palavra de Dt
25, 4 com outra palavra conhecida de Jesus (Lc 10, 7)
com a mesma fórmula: "pois diz a Escritura" Também
já mt>ncionamos que São Pedro (2 Pecl 3, 15s) se refe-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 53

r<: à carta de São Paulo juntamente com os "demais es­


critos", isto é, evidentemente o Antigo Testamento.
Os ant;igos escritores eclesiásticos, depois da época apos­
tólica, afirmam ttnânimemcnte, quanto ao essencial, a auto­
ria divina dos livros do Antigo Testamento e do Novo, em­
bora usem terminologia diferente. Basta aduzir algumas
testemunhas: Inácio de Antioqui a (t cêrca de 110), Jus­
tino (t cêrca de 165), Teófilo de Antioquia (t depois
de 180) e Gregório de Nissa (t 394) afirmam que os
c�cr,itores bíblicos ou seus livros são "repletos .!lo.Espí­
rito Santo", ou "inspirados.", respectivamente, "insufla­
clos'' Desde o século IV empregam o têrmo "auctor",
referente a Deus, para dizer que êlc é o autor pr:ncipal
ela Escritura. Assim falam Agostinho e Ambrósio do
"autor" da Bíblia. E os "Antigos Estatutos da Igreja"
do século V ou VI prescrevem que o candidato ao epis­
copado deve ser perguntado "se êle acredita num e mes­
mo Autor e Deus do Novo e do Antigo Testamento, isto
é, ela Le:, dos Profetas e ( dos Escritos) dos Apóstolos"
(EB 30). De acôrdo com os Padres da Igreja Oriental
Deus "falou" a Sagrada Escritura" (Eusébio, Ireneu, Ci­
rilo de Alexandria) ou "insuflou" a mesma (João Crisós­
tomo). Em sentido análogo usam os Padres Latinos o
têrmo "dictare", por exemplo, Agostinho, Jerônimo e Gre­
gório Magno; essa expressão nos deverá ocupar ainda
ma:s tarde. O Concílio do Vaticano apenas formulou em
conceitos teológicos aquilo que a Igreja sempre acreditara
desde os tempos apostólicos. Leão XIII, na sua encíclica
"Providentissimus Deus", de 18 de novembro de 1893,
explicou mais de perto os tênnos "autoria divina" e "ins­
piração", dizendo: "Êle (Deus), com fôrça sobrenatural,
os ( aos hagiógrafos) inc:tou, moveu, e lhes assisfa1,.,..g�
0
tal maneira na compilaç�o, •que êl'e� e�creveram tudo, e
somente aquilo, que Êle lhes ordenou. E que, retamente,
o compreenderam em seu espírito que fielmente o que-
......,,.j.,.�� -:" '

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
54 III. A Bíblia, Palavra de Deus

riam escrever e que, de 1naneira apropriada, o expr1m1-


ran1 com verdade infalível. De outra forma, Êle não se­
ria o autor de tôda a Sagrada Escritura" ( EB 125).
As encíclicas papais, "Pascendi" de Pio X ( 1907),
"Spirltus Paraclitus" de Bento XV ( 1926) e "Divino
af flante Spiritu" de Pio XII ( 1943) expressam mais de1-
talhada1nente a doutrina da Igreja e tiraram as conclusões
relacionadas con1 as questões da exegese 111odcrna.

CAPÍTULO III

1\UTOR DIVINO 1� ESCRI'TOR I-IUMANO

Ainda que a Igreja considere -a Deus conio o ,autor prà­


pria111ente dito da Sagrada Escr1itura, poden10s chamar
co1n justiça de "escritor ou autor" aquelas pessoas., que
e1n vários te1npos e e1n circunstâncias diferentes, e�cre­
veram as diversas partes da ·Bíblia. Convé 1n notar que
aqui empregan1os a palavra autor ou escritor, em sentido
mais an1plo do que de costu1ne, pois pode significar ta1n­
bém o colecionador, o ''redator", ou con1pilador de u1n
]ivro, -que antes já existia, mas em partes independentes.
Os teólogos cha1nam ao autor humano de "hagiógrafo",
expressão an1bígua, porque ·"também se refere aos assi1n
chan1ados livros "p,oéticos" ou "doutrinários"
Tanto os. judeus ortodoxos, como os cristãos, sempre
sabiatn que a Bíblia constava de livros que, à semelhan­
ça de outras obras literárias, fora1n escritos por ho1me:ns.
Os hagiógrafos escrevem freqüentemente de tal 1nane.ira
que dão a impressão de ignorare1n estar sob a influência
do F�spír:to Santo. Assin1, por exe1nplo, quando São Pau­
lo escreve a seu discípulo Tin1óte-0 pedindo que lhe trou­
xesse para Roma a capa esquecida en1 Troas, os livros
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
,., ,.,
III. A Bíblia, Palavra de Deus .J.)

e o 1naterial para escrever (2 Tim 4, 13), dificilmente


terá,a_pensado estar sob a influência do Espírito Santo.
Não saben1os os no1nes. de todos os escr,itores ou redatores
dos livros do Novo Testa111ento, 111uito 111enos os do An­
tjgo. Não há dúvida, porém, de que todos pensava1n em
11111 escritor de carne e osso, quando ainda errada111ente,
atribuíra111 êste ou aquêle livro a Salomão, con10 por
exen1plo o Cânt:co dos Cânticos ou o Eclesiastes. As. epís­
tolas do Novo Testamento indica111, gerahnente, o reme­
tente e a pessoa a que fora111 dirigidas; ter111ina111 tam­
bén1, co1no nossas cartas, con1 u1na saudação. São Lucas
e o autor elo 29 livro dos lVIacabeus expõen1 as razões que
os induz,ira111 a escrever (Lc 1, 1-4; 2 Mac 2, 19-32). A
Igreja, por isso, nunca negou que a Bíblia seja ta1nbé1n
obra hu111ana; rep�laiu, sim, exageros rigoristas, e ja111ais
adotou a opinião segundo a qual o escritor humano fôsse
111ero instru111ento passivo nas 111ãos de Deus e que tivesse
copiado 111ecânican1ente as palavras ditadas pelo Espírito
Santo. Os Padres da Igreja não to111ara1n a palavra
"dictare" no sentiido tão restrito do nosso "ditar", mas
entendera111-na co1no "insinuar", "i�çitar", "colocar na bô­
ca", etc. Talvez a ambigüidade desta expressão tenha le­
vado os antigos. protestantes e o próprio Lutero a enten­
dere1n-na ele 111aneira tão 1necânica.
C-ada .autor hu1nano in1pri1nia ao livro també1n seu,
cunho peculiar, espiritual, estilístico e li·ngüístico. U111,
co1110 o autor da história de David, criou un1a obra lite­
rária �e prin1eira categoria, outro escreveu numa lin­
guagen1 n1enos estorreita, 111enos fluente, até co1n frases
truncadas, co1no, às vêzes, nota111os e1n São Paulo ou no
profeta Ezequiel. Certas. passagens como a história de
Abraão no I.Jivro do Gênesis ou o relato de São Paulo
acêrca de sua viagen1 1naríti1na nos Atos dos Apóstolos,
são be1n vivas e interessantes; outras co1no as listas ge­
nealógicas no Pentateuco e no 19 Livro- das Crônicas ou
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
56 III. A Bíblia, Palavra de Deus

o saln10 119 ( 118) são esquemáticas, formalistas e sem


1nuito interêsse. Poden1os, pois, aplicar também à Bíblia
critérios a_rtísticos e literários, como em qualquer outra
obra literária. Surge, então, a .p.e.:�iata de que modo co­
léiboraram o autor div,ino e o autor humano na confecç�o
dá __ . Biblia?
Nos primitivos tempos do cristianis.ino pouco inda:gou-se
a êsse respeito. Somente, Santo Agostinho ( t 430) co­
n1eçou a estudar 1nelhor esta questão, levado mormente
pelo confronto dos três primeiros evangelhos con1 o úl­
timo. Percebeu êle como os quatro evangelistas diJ�rgiain
f reqüentemcnte, embora narrass.en1 todos a vida e a pre­
gação de Jesus. As próprias palavras do Senhor são rela­
tadas, às vêzes, co1n algu1nas diferenças no conteúdo. O
grande doutor da Igreja explicou esta divergência, achan­
do que o Espírito Santo movera cada evangelista a es­
crever, orientand,o-o nisso constanten1ente, mas. deixa11do­
lhe a liberdade _de ordenar o assunto desta ou daquela 1na­
neira. Dessa forma o evangelista não contava as coisas
divinas tais como são, mas como as podia contar. "Ouso
dizer . . talvez nen1 J,oão diss.esse co1no é, mas também
êle, apenas assitn corno podia, porque falou de Deus, ins­
pirado por Deus, 1nas falou co1no home1n" Segundo a
opinião de Santo Agostinho, usa a inspiração divina a
n1e1nória humana e as facuidades literárias para a exe�
cução de seus fins, não as. violentando, porém.
Desde,.. .o.s 4 . -tem.pos, de São Jerônimo ( t 420) costuma1n
os teólogos descrever a relação existente entre Deus e
o homen1 com respeito aos Livros Sagrados, como sendo
a de um artífice para con1 o instru1nento. Co1no um bom
artista, usando ferramentas deficientes, produz obra in1-
perfeita, ou, usando vários instru1nentos diferentes, pode
representar a mesma idéia de 1naneira diversa, da mes1na
forma representa Deus as coisas divinas que quer reve­
lar aos homens, usando causas hun1anas secundárias, de
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 57

1naneira análoga e diferente, confor1ne as qualidades do


autor humano.
O pensa1nento de Santo To1nás, apresentando na Sun1a
'f'eológica II/II, q. 171, a. 74, sôbre a inspiração profética,
foi aplicado pelos teólogos ta1nbén1 para explicar a atua­
cão co1nbinada do fator e do elen1ento hun1ano na con-
:,

f ccção da Bíblia. De acôrdo co1n o Pe. A. Bea S . J., po-


de1nos resumir isto breven1ente, assi1n: A ius.pira.ção é um
do1n particular da graça, pelo qual Deus utiliza 111n escri�
tor hu1nano co1no instru111ento, para fiixar por escrito,
sen1 êrro, aquilo que Êle queria revelar, ou aquilo que o
escritor já podia saber por própria experiência, ou por
conheci111entos próprios e alheios, mas que agora ilumi­
nado pela graça, reconheceu fir111cn1ente con10 verda-
d e1ro.
. 1

Cotn isso já está expresso que a co111paração co111 o


i11strun1ento não se deve entender de n1aneiira mecânica.
() escritor htunano é para Deus un1 instrun1ento singular,
isto é, un1 instrt1111ento pessoal, un1 ser hun1ano que con­
tinua gozando de suas faculdades espirituais e de sua
,.-.ontade. Por isso, talvez seja preferível recorrer nova-
111ente àquela con1paração, já encontrada e1n São J erô­
ni 1110, .--depois em Santo Agostinho, Gregório Magno e ou­
tros Padres da Igreja, a saber, ao têrmo "ditar", contan­
t0 que se ton1e a expressã.o latina "dictare" em sentido
a111plo qual seja "dar a un1 secretár,io instruções precisas
para escrever. )ilg.urn .documento"
·-....;. ..... =•t"""').-, •.,.,>.,.- � o'!'" 11,,l•Ji............. , •. �-· , J

O Papa Bento XV, na encíclica "Spiritus Paraclitus",


resun1iu acertada111ente os pensan1entos de São J erônin10
da seguinte forn1a:
"Êle af ir1na, sen1 rodeios, que os livros da Sagrada Es­
critura foram escritos sob a inspiração, a insuflação, sob
a sugestão ou também sob o ditado do Espírito Santo
1) A. Bea, "De inspiratione et inerrantia Sacrae S.cripturae",
R.01na 1947, p. 32.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
58 III. A Bíblia, Palavra de Deus

( Spiritu Sancto ;inspirante vel sugg·erente vel ins.inuante


vel etiam dictante), diz que fora1n até escritos e editados
pelo 1nesn10 Espírito. Não obstante isso, não duvida que
cada escritor individualn1ente, segundo sua índole e sua
ciência, tenha e1nprestado seus talentos ao Deus. que o
inspirava. Não afi:rínã_.-àpenas de n1anei'ra geral o •que já
fizera1n co1numente os sacros escritores, que ao· escre­
verc1n tenha111 seguido o Espírito Divino, ele 111odo que
])eus deva ser considerado co1no causa prin1ária de cada
pensan1ento e de tôdas as frases da Escritura, 111as êle
considera ta1nbé1n aquilo que é peculiar a cada um dêles.
r>ois êle den1onstra con10 usara111 suas f acuidades e suas
fôrças próprias na dispos,ição do assunto, na linguage1n;
no 111odo e na 111aneira de falare1n; assi1n pode êle reunir
e des.crever os diversos traços peculiares e característicos,
1nor111ente dos profetas e do Apóstolo Paulo" (EB 448).
Cada co1nparação "claudica" e apresenta apenas un1a
cu outra facêta do assunto a ser explicado. Ainda assim
seja per1nitido recorrer à seguinte co1nparação, tirada da
vida comercial moderna, para explicar a colaboração de
Deus e do autor humano, quando se tratava de fiixar por
escrito as palavras reveladas na Sagrada l�s.critura. Ve­
jamos: Um chefe de escritório tem que escrever u1n lon­
go e circunstanciado relatório. Êle não o ditará palavra
por palavra à sua secretária, 111as deixará a elaboração
ao encargo de chefe$ .._.de secção experitnentados e especia­
liza-dos nas diversas questões. A êsses êle dá infor111ações
precisas sôbre a elaboração do te1na que a cada um com­
pete. Êle deixará em parte a êles o encargo de formular
o conteúdo, restringindo-se a controlar e coordenar o an­
da1nento do trabalho. Assim os diversos especialistas, che­
fes de secção, talvez nem tenham conhecin1ento do con­
junto, apenas se entrega1n à elaboração de seu tema es­
pecializado. So111ente depois de as diversas partes serem
reunidas e aprontadas é que se compreenderá o signifi-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 59

caclo do trabalho conjunto, sendo, pois, bem possível que


na�, c!iversas partes se note ainda o t$,Ú}g e a 111aneira de
expressão dos diversos colaboradores. De 111odo análogo
poden1os considerar a Bíblia con10 u1na carta, escrita por
Deus aos hon1ens, usando para tanto muitos secretár!ios.
A cada um indicou a sua parte, considerando as facul­
dades individuais. A cada un1 deu instruções precisas,
controlando seu trabalho, deixando todavia a cada u1n a
liberdade no uso das forn1as literárias. I.�' certo que de­
vemos considerar a relação existente entre Deus e o ha­
giógrafo 111ais íntitna e tan1bén1 mais complicada do que
essa entre o chefe de escritório e seus colaboradores. Pois
Deus conhece de antemão o hon1en1 perfe1ta111ente e o pers­
cruta, podendo assin1 considerar logo suas aptidões e seu
caráter ao encarregá-lo de escrever. Depois pode Deus
con1penetrar tão intin1a1nente o · espírito hun1ano e diri­
gi-lo, de tal forn1a, que o autor hun1ano ne1n percebe a in­
fluência divina.
lvias afinal ficará i1nperfeita tôda tentativa de explicar
a orige1n da Sagrada Escritura, pois a inspiração é u1n
fato sobrenatural e, con10 tal, um mistério, que Deus de­
ve revelar e tornar conhecido por meio da Igreja. Do con­
trário o ho1ne111 nem saberia do fato da inspiração.
Já agora podemos adiantar que os teól.ogos dos pró­
x11110s decênios discutirão o proble1na da inspiração e da
autoria divino-humana da Escritura sob pontos de vista
ben1 novos. Até agora, ao tratare1n os teólogos da inspira-1
ção e de temas correlacionados, se1npre o fizeran1, 1nais
ou 1nenos, sob a hipótese, de que os livros da Bíblia, à
tnaneira dos Livros n1odernos, fôsse1n esboçados de urna
só vez e e1n segu:da passados ao papel. Agora, 111ais e
111.ais, nos convencemos que não podemos aplicar essas
nossas idéias sôbre a orige1n de um livro a u1na grande
parte da Bíblia, 1norn1ente do Antigo Testamento, mas
que 1nuitos dêstes livros tivera111 u1n processo
�-�.:-<"'·'-��--
evolutivo .
••1.:.,.. .__
f·.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
60 III. A Bíblia, Palavra ele Deus

1nuito longo, existindo no co111êço apenas certas passagens


en1 for1na de tr.�,_-0..tal} de 111odo que a fixação escrita
representa um detalhe secundário para a elaboração e
idealização do conjunto, isto é, é apenas a últin12. fase e
a fixação def ínitiva de u111 longo processo de tradição.
l\1uitos exegetas modernos explica111 dêste modo, por
exe111plo, o feitio atual do I-)entateuco e da 1na,i.dria dos
livros proféticos. Pode1nos, pois, perguntar seriamente
st sàn1ente o ato de escrever ao qual nós devemos a for-
1na atual do livro estêve sob a influência do Espírito San­
to. Ou será que todo o processo de tradição, quer oral,
quer, en1 parte ao 111enos, escrita, isto é, todo o processo
de cristalização, no qual se forn1ou aos poucos u111a uni­
dade, eli1ninando ele111entos antigos e assu111indo 111ate­
rial novo, estêve tan1bé111 sob a influência divina? O 1né­
todo de considerar a Bíblia sob o ponto de vista da tra­
dição histórica é ainda recente e as questões surgidas ain­
da estão cvoluind,o, não se podendo dizer algo de defini­
tivo. E' certo, a Igreja nada terá a temer destas pesqui­
sas e a doutrina sôbre a inspiração da Bíblia conservará
seu pleno valor. I) ois, não há dúvida, a Bíblia na for1na
atual, isto é, na for1na de un1 livro, foi inspira.da. Mas
talvez ganhe 111aior in1portância o tratado de Santo To-·
111ás na Su1nrna Teológica, II/II, q. 171, a. 74 "De prophe­
tia" Êle considerou a profecia principaln1ente con10 pre­
gação oral. Assi111 o processo histórico da tradição, ta1n­
bé1n da tradição oral, que levou a con1pilação escrita dos
livros bíblicos, pode ser considerado co1no processo pro­
f ético, tendo especial orientação por parte de Deus..
En1 vista do atual estado da questã.o poderíamos des,­
crever a relação 1nútua entre Deus e o ho1ne1n, referente
à origem da Bíblia, da seguinte maneira: A i,nspiração
é a influência. direta, sobrenatural e gratuita do Espírito
-'\'-..�........ :.�.. --·-,.,,---,1�.ú--�:v·-·" .. .. . "-',"'\.�-· � - -.

Santo sôbre a confecção dos livros bíblicos, fazendo que


certos hon1-ens, resg·uarda,da su,a lib·erd;ade eni escolher o
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 61

assunto e os 1nl1ios de cxi7ressão, cscrcvcsse,1n aquilo que


Êl_e _._qu_çria fixar por escrito e o escreverani s�t'J,._lr.:o e d,a
1naneira que Êle achou melhor.
Dêste conceito sôbre a inspiração, que corresponde à
doutrina da Igreja, decorre1n certas conseqüências que
van1os considerar nos capítulos seguintes.

CAPfTULO IV
r
A BÍBLIA COMO DOCUl\tII�N fO DA REVELAC"'�O

II: COMO OBRA LITERÁRIA

Se Deus é o autor principal da Bíblia, então constitui


ela 11111 docun1ento de revelação, isto é, un1 livr.o no qual
Deus se revela ao hon1em. A Bíblia não é a revelaçã,o, 111as
conténi a revelação. li' o vaso, .ou se o qtúseren1, o invó­
lucro externo que contén1 a revelação e no-la torna aces­
s.í vel. Se Deus queria revelar-se ao ho1ne1n, então devia
adaptar-se ao 111oclo hun1ano ele perceber as coisas. Santo
To111ás de Aquino diz: "Na Sagrada Escritura as coisas
d1 vinas nos sã.o propostas daquela 111aneira co1no os ho­
n1ens costun1an1 d�zê-las" Pio XI, na sua encíclica sôbre
a Sagrada l�scritura, con1para a Bíblia co1n a encarnação
do Verbo na pessoa de Jesus Cristo: "Assi111 con10 o Verbo
substancial de Deus e111 tudo se assemelhou aos homens,
exceto no pecado, da 111es111a f orn1a torna111-se as pa)avras
diyin�s, p roferidas por línguas htunanas, e1n tudo sen1e­
lhantes ao 111odo hu1nano de falar, exceto no êrro". ( EB
559). Desde os ten1pos de S. João Crisósto1no fala-se,
por 1isso, de un1a "sinkatábasis", isto é, de tuna descida:
de Deus do alto, ou ta1nbén1 do "princípio da encarnação"
da Escritura, o que talvez podería1110s interpretar co1no
"a palavra de Deus encarnada ou apresentada e1n for1na
< 1 (� ].1. vro ''
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
62 III. A Bíblia, Palavra de Deus

J CSJJ§�_,_,__Çy:sto,
o filho de Deus, tornou-se ho111en1 e1n
deternlinado 1n.0111ento da história, dentro de u1n povo
bcn1 conhecido con1 sua estrutura política. E assin1 en­
I
trou na história para tornar con10 que palpável aos ho-
1nens de todos os te111pos e de tôdas as raças o an1or e a
vontade salvífica de Deus. De n1odo se111elhante fêz Deus
escrever a sua palavra e111 certas épocas da evolução his­
tórica e cultural, por ho1nens de un1 povo deter1ninado,
en1 forn1 a literária, lingüística e bibliográfica, acessível,
no princípio, sô1nente aos conterrâneos e conte1nporâne.os,
para den1onstrar cabaln1ente a todos os ho111ens a sua re..;
vclação. O fato de Deus se ter servido de escritores, re­
datores e colecionadores htunanos para êste fi1n torna êste
docun1ento da revelação ta1nbén1 un1a obra literária, ou
rcspectiva1nente até u1na coleção de obras literárias.
Con10 e1n qualquer outro livro, assin1 tan1bé111 acon­
tece na Bíblia, que o sentido intenci.onado pelo autor não
é capturado por un1a receptividade passiva, pela sin1ples
le:tura ou audição, 111as requer, ao 1nenos, um n1íni1no de
esfôrço do próprio leitor; pois êste deverá atender ao
conexo total e procurar con1preender a linguagen1 n1ais
ou 1nenos figurada, que traduz se111pre, i1nperf eita1nente,
os pensan1entos do autor. Se esta atividade por pa rte do
leitor não se realizar ou se orientar em direção errada,
e respectivo livro não será compreendido ou até n1al in­
terpretado. Con1 maior�a de razão aplica-se isso à Bíblia,
porque o leitor de hoje acha-se separado por milênios
daquela situação pecu]iar en1 que fôra escrita a palavra
de Deus.
Se quisermos entrar en1 cheio no sentido que a palavra
de Deus te1n na Bíblia, não bastará ler frase após frase,
se1n a tender ao contexto, e to1ná-la como revelação. E'
n1ister atender ao contexto. Um exemplo conhecido ilu­
cidará isto: Qualquer un1, hoje em dia, acha-se com o
direito de argu111entar contra o serviço militar obrigató-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. 1\ Bíblia, Palavra de Deus 63

rio e contra a pena de n1orte para cr11111nosos, apoiando­


se na Bíblia pelo quinto 111andan1ento. Separando, porén1,
do conjunto o texto do 1nanda1nento, traduzido inexata­
ntente para o vernáculo, êle não percebe que aqui não se
fala do 111atar na guerra ou da execução de un1 sentencia­
do. Ta111bé111 não se percebe que, en1 outras passagens
elos 111esn1os livros de Mais.és, contên1 o quinto 1nanda­
n1ento, se exige expressan1ente a luta contra os ini1nigos
do povo e a execução de réus de certos delitos. Delitos
êsses que hoje ningué111 consideraria con10 dignos de
rnorte, tais con10 adultério, revolta contra os pais e apos­
tasia de Deus. Quen1 quiser haurir seus "conheoi1nentos
religiosos" apenas de frases isoladas cairá no perigo ela
heresia; ele fato, tôda a heresia podia referir-se a algun1a
pas.sagem bíblica.
Por ser a Bíblia tuna obra literária e uma coleção de
docun1entos históricos, cujo sentido humano, e ainda 1nais
e divino, ne1n se1npre é óbvio e claro para o homem 1110-
derno, n1ister se faz un1 trabalho científico para sua inter­
pretação. A ciência à qual incu111be a tarefa de procurar
(t sentido exato ela Bíblia, cha1nan1os de ciência bíblica

0u exegese; essa, p.or sua vez, é subdiv,idida e1n n1uitos


ran10s especializados e ciências auxiliares. O siinples lei-'
tor da Bíblia é beneficiado por êsse trabalho pelas tra­
duções, pelas anotações prescritas nas edições en1 verná­
culo, pelos comentários e pelos livros de introdução, es­
critos de acôrdo co1n o atual estado de pesquisas aientí­
ficas. Tudo isso, porén1, não quer dizer que não lhe res­
te també1n algu1n esfôrço pessoal a fazer.
Entretanto o estudo humano, e1nbora orientado por ci­
entistas e sábios , sen1pre per1nanece i111perfeito e expos­
to ao perigo de errar. Eis por que Deus criou urna institui­
ção, o lvlagistéri.o Eclesiástico, capaz de interpretar au­
tênticamente a Sagrada Escritura, enquanto isso se tornar
necessário para a salvação dos homens. Se Deus realn1en-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
64 11 I. A Bíblia, Palavra de Deus

te quer falar aos hon1ens 1nediante un1 livro e sen1 con1-


pron1eter irren1ediàvelmente a palavra revelada pelos n1al­
entendidos e pelo êrro, então tal instituição s.e torna qua­
Sf necessária. I_)ois a Bíblia e seu conteúdo sempre de no­
yo deve1n ser traduzidos de acôrdo co1n a linguagen1 e
a 1nentalidacle de cada época, adaptando-os aos homens
da atualidade. l�sta interpretação da palavra de Deus e a
sua aplicação concreta constitui a tarefa do Magistério
C)rdinário da Igreja. Esta recebeu de Jesus o mesmo Es­
pírito Santo que inspirou os escritores bíblicos, e assim
se acha capaz de esclarecer sen1 êrro o sentido genuíno
da palavra revelada nas 1-�:scrituras, propondo-o aos ho...
111ens, se f ôr necessário, até por declarações dogmáticas.
Na realidade, cada definição de u1n ,dogma não é outra.
coisa senão un1, desabrocha1r e urnia dec/p;ração a:utêntica
da revelação cánUia,ã ·"11,a Sagrada Escritu,ra.
l-Ioje e1n d:a discute-se n1uito nos n1eios teológicos sô­
bre a re•lação existente entre a Bíblia e a tradição ecle­
siástica. Não poden10s entrar en1 detalhes aqui. Contudo, já
Santo Ton1ás de Aquino, na St1111111a Theologica (I, q. 36,
a. 2 a. 1) considera a I�scritura e a Tradição co1no unidade,
co1110 fonte única de nossa fé. "Nada podemos dizer ele
Deus, que não possan10s achar na Escritura, seja literal­
n1ente, seja pelo sentido" O decreto do Concílio de Tren­
to, relativo às fontes da fé, distingue, é verdade, entre
fiscritura e tradição oral, porém considera a111bos como
fonte da 111esn1a doutrina dog1nática e moral:
"O que antes f.oi pron1etido pelos profetas nos Sagra­
dos Livros, ( do Antigo 'Testa1nento), o que Nosso Se­
tihor Jesus Cr1isto, l1ilho de Deus, por sua bôca ensinou
priineiro e depois 1nanclou pregar por seus apóstolos a
tôda criatura con10 fonte de tôda a verdade salvífica e
de doutrin a n1oral - esta verdade e doutrina está con­
tida nos livros escritos ( da Bíblia) e nas tradições não
escritas. Estas vieran1 a nós, depois de recebidas pelos
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 65

apóstolos da bôca de Cristo ou então, sob a inspiração


elo Espír,ito Santo, passando, por assi1n dizer, de 1não
en1 1não" ( l�B 57) .
Iiscritura e Tradição são conceitos correlativos. Deve­
n1os à Trad:ção a orige1n, a conservação e a coleção dos
escritos canônicos, e a Escritura, por sua vez, é un1a raiz
da qual brota e desabrocha a tradição ulterior, a dou­
trina da Igreja.

CAPÍTULO V

A. BÍBLIA, LIVRO QUE EXIGE l�E' E PROVOCA


Cl-<.í1'ICAS

Sendo a Bíblia docu111ento de revelação, exige fé. Is.to


supõe que suas afirn1ações sefarn infalÍ'veis e sem êrvro
e que não haja contradição entre elas.
Ainda que o fato de a Bíblia não errar não seja un1
dogn1a for111al, contudo fala co1n razão a Pontifícia Co­
n1issão Bíblica, nu111a declaração de 18-6-1915, de un1
ciogn1a católico da inspiração e da infalibilidade da Sa­
grada Escritura ( EB 420) ; pois o 111agistério ordinário
e universal da Igreja, desde se1npre, defendeu a opinião
ele que os livros bíblicos continham a verdade infalivel­
n1ente.
O papa Cle1nente VI, en1 29 de seten1bro de 1351 exi­
ge, por isso, dos ar1nênios a fé "de que o Novo e Antigo
Testan1entos, en1 todos os seus livros, que nos fora1n en­
tregues pela autoridade da Igreja Romana, conté1n, in­
cl.ubitàvehnente, a verdade e1n tudo" (EB 46). Leão XIII,
na sua encíclica "Providentissi1nu s Deus", diz o seguiinte:
"Tão longe está a possibilidade de a inspiração divi­
na incorrer en1 êrro, que ela não apenas exclui qualquer
êrro, mas o exclui e rejeita tão necessària1nente, quão ne-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
66 III. A Bíblia, Palavra de Deus

cessário é que Deus, a supren1a verdade, não possa ser


autor de êrro algu1n. Esta é a antiga e constante crença
ela Igreja. P,or ,isso os que julga111 possível encontrar'-se
algo de falso e111 passagens autênticas d a Escritura, ou
inverten1 o conceito católico da inspiração, ou declaram
a Deus con10 autor de êrro" (EB 124 e 125).
A isenção de êrro não se extenderá, pois, apenas às
doutrinas próprias da fé e d a moral, como M. de Hulst
e F. Girard opinaratn pelo co1nêço do nosso século, 1nas
deverá abranger tudo aquilo que o autor de um livro bí­
blico queria testernuinhar e declarar, segundo afirtnam
expressa1nente Bento XV na encíclica "Spiritus Para­
clitus" (EB 454) e a Con1issão Bíblica aos 18-6-1915
(EB 420). Nisso está justa1nente o problema, pois "aqui­
lo que o autor queria teste1nunhar e declarar" só o sa-
ben10s co1n certa dificuldade, co1no dernonstra1nos no ca­
pí tul.o precedente. Sendo a BíbEa ta111bé1n obra hu1nana,
ela. participa das obscuridades e ambigüidades da liingua­
gen1 hu1nana e provoca, dêste modo, a crítica do homem
que pensa e a que1n Deus deu a faculdade de raciocinar.
Diversos fatos históricos e científicos parecen1 opor-se
à fé na infalibilidade da Bíblia. Ass11n, por exen1plo, não
con1bina com nossos conhecimentos científicos a descrição
sôbre a evolução do 111unclo, feita no Gn 1-3 e indireta­
n1ente feita en1 outras passagens; Lv 11, 6 e Dt 14, 7
c1assifica111 o coelho entre os ru1ninantes; os relatos, fei­
tos nos livros de Dan:el e Judite, parecen1 não concor·dar
com as fontes históricas. Poderíamos ainda aduzir mui­
tos exe1nplos dêsses. I�ntre os próprios livros. bíblicos
parece haver afirtnações contraditórias, co1110 por exe1n­
plo, sôbre a origen1 da monarquia en1 Israel nos c. 8-12
do pri1neiro Livro de San1uel, ou na fixação das datas nas
llarracões da I_) aixão e da últim a Ceia.
:,

O hon1en1 n1oderno, en1 seu senso crítico, levantará aí


certas perguntas ; procurará saber se aquilo que a Bíblia
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 67

relata corresponde de fato à realidade. Antes, porén1,


ele afirn1ar que o autor está errado ou não, é necessário
indagar con10 é que êle ente11deu sua afir1nação. Pois
ne1n tudo o que êle diz, êle o diz à 1naneira de u1n julga-
1nento autêntico. Pode sin1ples1nente usar conceitos co­
n1uns à época e locuções corriqueiras, co1110 por exe1nplo
"firn1an1ento", ou falar do "levantar e do pôr do sol" ou
clo coelho que run1:nava, · se1n querer dar 00111 isso un1a
declaração científica sôbre a es.sênc:a das coisas; o 1nes­
n:10 fazen10s tan1bé111 nós no falar cotidiano. Poden1os,
pois, encontrar na Bíblia, con10 ta111bé1n e111 qualquer
obra poética 1noclerna, exp_����9.�-:S......RQéJiE��.J.�. -S.o1nparações
ousadas e até narrações fiictícias qt:e não deve1n ser in-
ttrpretadas literahnente ou con10 fatos históricos. Assi1n
não se duvida que todo o diálogo no 1..ivro de J oh seja
livre1nente elaborado pelo poeta e que, nesta forn1a, nun­
ca se realizou histàrican1ente. O autor de un1 livro bír­
blico pode co111unicar testen1unhos de outros, ou afirn1a­
ções e 111aterial histórico colecionados por outros, sen1
querer dar garantia por cada afirn1ação en1 particular.
Considerando aquilo que ouvin1os s.ôbre a história da Bí­
blia, principalmente no te111po do exílio e in1ediatan1en­
te depois, poden10s supor, con1 razão, que certos coleci.o­
nadores, no intento de salvar a 111aior parte das tradições
antigas, não se inquietara1n con1 certos equívocos e con­
tradições. Desta forn1a podería1nos co1npreender, por
exemplo, as contradições nos relatos sôbre a origem do
rc:nado de Israel, con10 tan1bé111 a passagen1 de 1 San1
17, onde se afir1na ter o jove1n David 111atado a Golias,
enquanto segundo 2 Sa1n 21, 19 ( no texto original he­
braico) se atribui esta façanha a un1 certo Elcanan.
Impõe-se, portanto, un1 exa111e criterioso para saber
qual a intenção do autor bíblico, se queria escrever un1a
obra histórica ou con1por un1a obra doutrinár,ia ou poé­
tica, usando os 1neios de expressão da época, ou se que-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
68 III. A Bíblia, Palavra de Deus

ria apenas colecionar tradições antigas. Disso depende o


juízo que clevcn1.os fazer do escrito. Co1n outras palavras,
devemos conhecer o gênero literário, ou como dizern os
exegetas católicos, a e�pécie dos gêneros literários., en1-
pregacla na Bíblia. Só ass,iin poden1os julgar sôbre o va,­
lor e veracidade elas diversas afirn1ações.
1\lén1 disso deve constar a integridade do texto ·e a au­
tenticid,ade da passagen1 a ser estudada cientifican1ente.
Tôdas essas questões são esclarecidas pela assi1n cha-
111ada ciência crítica da BíbNa, que é subdivid1id a em crí­
tica do te.,rto, crítica literária e crít-ica ida tradição. E' 'na­
tural que ta1nbén1 a ciência. histórica se ocupe e1n ques­
tões bíb] icas..
f.Iouve e ainda há hoje em dia certos f anátiicos religio­
sos qúe considera1n tôda atitude crítica perante a Bíblia
con10 blasfê111ia ou, ao n1enos, co1n-0 falta de respeito di­
ante da palavra de l)eus. Afir111a1n ton1ar a sério cada
frase ela Bíblia e quere111 explicá-la "espiritual111ente", se­
gundo o exe111plo dos Santos Padres. A êstes dirige o
próprio Papa Pio XII, na sua encíclica "Divino afflante
Spiri tu", estas palavras dignas de nota: "Não poucas;
questões, 111orn1cnte de caráter histórico, fora1n pouco
consideradas, ou de 1naneira insuficiente, pelos expositores
dos séculos passados. IJois faltaran1-lhes os conhecitnen­
tos necessários para 11111 estudo 1nais acurado dêstes
assuntos. . I)or isso afir111a1n, sen.1 razão, certas pessoas,
que não conhecen1 a situação da ciência bíblica, ter o exe­
geta católico nada 111ais a acrescentar àquilo, que a anti­
guidade cristã nos legou. Ao contrário, n1uito progrediu
nosso te111po, de 1nodo que se tornan1 necessárias novas
pesquisas e novos exa111es. Se o nosso ten1po levanta
novas perguntas e novas dificuldades, êle oferece tan1-
bén1, graças a Deus, novos auxílios valias.os à exegese ..
f)cve, pois, o exegeta indagar, cuiclaclosan1ente, se1n pre­
terir nenhun1 dos conheci111entos, trazidos pelas recentes
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de l)eus 69

pesquisas, qual a índole e o 111oclo de vida do autor bíblico,


crh que ten1po viveu, quais as fontes, orais ou escritas,
por êle usadas, e que gênero literário e111prega. Dêste 1110-
do reconhecerá 111elhor quen1 foi o autor e qual a inten­
t;ão clêle ao escrever sua obra. O exegeta deverá vol­
tar, en1 espírito, àqueles ren1otos ten1pos do Or�ente para
cletern1inar exatan1ente, co1n o auxílio da ciência histó­
rica, da arqueologia, da etnologia e de outras ciências,
quais os gêneros literários que os escritores daqueles ten1-
pos querian1 e1npregar e de fato en1pregaran1 (l�B 555-59).
A f>ontifícia Cornissão Bíblica, nun1a Instrução para
o� prof cssôres ele exegese elos institutos eclesiásticos, elo
clia 13 de 111aio de 1950, cxpritne sua esperança de que
11111 tal estudo crítico da Bíblia possa trazer os 111elhores
frutos e levar a un1a se111pre 111elh.or con1preensão ela Sa­
grada r�:scritura ( Ii:B 595).

CAPf rfULO VI
/\ Ut-JID1\I)I� l� AS ES]�RU'T.lTllAS DlVEl{S1\S DA
,.""4,..JMll.... -�.......

Bí:BLIA
�·'f•� ..,..
:

Sendo a BíbLia a palavra de Deus e un1 docun1ento de


revelação, é necessário que os diversos livros, oriundos
de diferentes épocas, -forn1e111 u111a unidade. E isso não
apenas con10 a literatura de 11111 povo ou de u1na época
ten1 alguns característicos con1uns, podendo ser reunida
sob un1 título COiTIUin, co1no "literatura ale1nã", ou "poe­
sia do barroco" ; ta111bé1n não se trata de u1na unidade tal
que os divers.os livros apenas não se contradiga111. Tra­
ta-se, sin1, de u111a unidade con10 nas partes de u111a tri­
logia ou nas cenas de u1n dran1a que em conjunto expri-
1T1en1 o que o autor tenciona dizer. A Bíblia deve, pois,
possuir certas idéias doniinantes e pensa111entos evoluti­
vos, de tal for1na que nos s inta1nos iri1pelidos a considerar
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
70 III. A Bíblia, Palavra de Deus

tudo con10 un1a carta extensa, endereçada por Deus à


humanidade.
Tal unidade de fato existe. Quen1 ler a Bíblia, con1 fé
e atenção, perceberá a econon-iia d.a salvação, o pensa:n-ien­
tu ,da. proniessa, que das prin1eiras páginas evolui até o
1\pocalipse, a paulatin.a 'ln1a-nifcsf,ação qu-e Deus faz de si
,ncsnio, o desenvolver progre.ssivo d.a revelação. A pro­
niessa ·da salvação, feita por Deus aos ho1nens, don1ina tôda
a Sagrada Escritura e ela está inseparà veln1ente ligada
?.o Verbo encarnado. I_) or isto, desde sen1pre, considerou
a cristandade a Bíblia 11111 testeiniunho de -Cristo, un1 apêlo
à fé cn1 Cristo. A unidade interna da Bíblia, de que a Igre­
ja está convencida, recebeu a seguinte for111ulação: "O
.,Antigo 'T'esta1nento aponta para Cristo que virá e o Novo
apon ta o Cristo que já veio", ou: "Novu1n Testan1enturn
...... . , . ,.· ..
.. _

in V etere latet, Vctus in Novo patet", isto é,: "O Novo


1·estan1ento está latente no Antigo, e o Antigo chega a
patentear-se no Novo" Tanto assin1 que o Antigo Testa-
111ent,0 não apenas explica a razão de ser do Novo, 111as,
por sua vez, não pode o Novo 'resta1nento ser con1preen­
dido sen1 o Antigo. Daí diz un1 antigo e be1n ajuizado
axion1a da exegese: A Bíbli,a deve ser explicada pela Bí­
blia. Os teólogos falan1 da "a.na/agia fi,deti", isto é, das
relações que ,os diversos livros bíblicos ten1 co111 a fé úni­
ca e verdadeira. Quere1n dizer con1 isto que as respecti­
vas passagens bíblicas não deven1 ser tornadas isolacla-
111ente, c on10 fazen1 os hereges, 111as que as verdades da
revelação sejam interpretadas dentro do conjunto da evo­
lução da revelação, tal con10 é delineada nos livros bí­
blicos..
Ji,sta unidade ü1terna da Bíblia é infelizn1ente preju­
dicada pela 1nultiplicidade de estruturas e de camadas,
po!S os cEferentes livros prové111 de épocas bem cliversas.
Poclen1os, por isso, constatar na Bíblia evoluções, con­
cernrntes à história da cultura e das religiões. Onde há
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. A Bíblia, Palavra de Deus 71

evolução, haverá tan1bén1 fatôres dependentes da época,


realizando-se neste conjunto o conteúdo decisivo da pala­
vra revelada. Isso convén1 notar, se quisern10s que a Bí­
blia nos fale a nós.
Deus fala diversa111ente ao povo nô1nade ou se111i-nô-
111ade do ten1po dos patriarcas e da peregrinação pelo de­
serto e aos ca1nponeses e eiidadãos de 1nais tarde, res�den­
tes na Palestina. O teste1ntinho que São Tiago dá de Cris­
to, perante os cristãos de J erusalé1n, provenientes do ju­
claís1110, difere do teste111unho ele Marcos perante o pro­
letariado da 1\/Ietrópole. Outro é tan1bén1 o teste111unho
de Paulo, nas suas cartas, escritas entre os anos 50 e 66,
outro o que João n.os deu no fin1 do I século cristão. As
pro111essas, feitas aos bons, tê1n caráter diferente, con­
f or1ne as épocas. No ten1po dos patriarcas se refere111 à
grande descendência e nun1erosos rebanhos. No te111po
da 111onarquia, a colheitas abundantes e prêsas de guerra.
N·o exíl:o babilônico, ao retôrno e ao esplendor litúrgi­
co do ten1plo. No te1npo do helenis1no, à sobrevivência
da aln1a. No ten1po de Cristo, à ressurreição e ao banquete
celestial. Na aparência são coisas diferentes. Entretanto,
no fundo, é o 111esmo Deus co1n sua vontade salvífica e
sua poderosa ação salvadora, que conf ere1n ao homem a
futura salvação, sendo os diversos bens prometidos, pá­
lidas e i1nperfeitas iinagens dessa futura glória.
O leitor ela Bíblia não deverá, po:s, desistir da leitura,
se na pri111eira vez, não chega logo a descobrir nas diver­
sas partes da Bíblia a s grandes relações, o caráter 1nes­
siânico, as referências a Cristo. Deverá confiar , no co­
n1êço, nas anotações dos especialistas, que se encontran1
abundantemente nas edições católicas, be111 con10 na dou­
trina da Igreja. De resto se esíorçará por penetrar sempre
rnelhor na I3íblia. Muita co:sa só co1npreen<lería1nos após
leitura assídua, 1norn1ente se atencler1nos às passagens bí­
blicas, paralelas, indicadas na 111aior parte das edições.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PARTE IV

O TEXTO DA BíBLIA

A. O TEXTO ORIGINAL

De nenhum livro bíblico possuímos o original, tal co­


mo saiu das mãos do autor; apenas temos cópias mais ou
menos exatas. Podemos então levantar a pergunta se te­
mos ou não alguma segurança sôbre a forma original de
um livro bíblico. Só podemos reconhecer a Sagrada Es­
critura atual, como "santa" e "canônica", se nos cons­
tar com c�rta segurança o texto original através das có­
pias e das traduções. Isto significa que o texto, por nós
conhecido, deve ser, no essencial, íntegro e autêntico.
Quanto mais recentes os tempos em que fôra escrito -0
original, o autógrafo, que se perdeu, e quanto mais re­
centes as cópias e traduções, tanto mais difícil se torna
demonstrar a integridade do texto, ou respectivamente,
descobrir as deformações involuntárias ou voluntárias e
suas causas. Os críticos dos textos e os pesquisadores da
histór,ia do texto bíblico procurarão encontrar documen­
tos mais antigos para descobrir o texto autêntico. Tais
documentos são: os ,n.anuscritos, que são cópias do ori­
ginal ou de outros manuscritos mais antigos ainda, as
traduções antigas do texto original e as citações de textos
bíblicos em outros escr.itos da antiguidade, máxime nas
obras de escritores judaicos ou dos Padres da Igreja. Ra­
ras vêzes, e sàmente em relação a determinadas passagens
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV. O Texto da Bíblia 73

bíblicas, podemos conseguir certos esclarecimentos pelas


inscrições ,ou representações bíblicas na arte, por exemplo,
as p:nturas nas catacumbas e nas sinagogas, para saber
como entendiam, então, determinada passagem da Bíblia.
Antes de estudarmos mais ele perto as testemunhas do
texto, e, por meio delas, a história elo texto bíb],ico, mis­
ter se faz dizer algo sôbre as línguas e as formas grafo­
lt,gicas em que foram escrit.os os livros bíblicos, bem como
sôbre o material grafológico usado pelo autor e o copista.

CAP.fTULO I

AS LíNGUAS BÍBLICAS

Ninguém poderá afirmar conhecer, a fundo, uma obra


l:terária, se não consegue lê-la na língua original. Cada
tradução ocasiona, necessàriamente, certa deformação ela
obra ,ideada pelo autor, pois nunca acontece que duas
línguas se correspondam tão bem, que baste transladar,
palavra por palavra, ele um idioma para o outro. Cada
língua tem suas expressões, suas locuções figurativas, seus
torneios ele palavras, que são intraduzíveis. Por isso, nas
traduções, sempre se perde algo daquele sentido, que o
autor dera às palavras e, por conseguinte, é introduzido
algo elos pensamentos pelo tradutor, alheio às idéias do
;:mtor. Isso já ocorre em nossas línguas modernas, apa­
rentadas entre si; com mais razão ainda se aplica isto às
línguas tão distantes das nossas, separadas por milênios,
como são as línguas bíblicas. Por isso, cada 1.1ersão da
Bíblia constitui um,a medida de emergência para a com­
preensão da Sagrada Escritura. Quã,o imperfeita seja, ne­
ccssàr:amente, qualquer tradução, veja-se nos. seguintes
exemplos: Em Jer 1, llss temos um jôgo de palavras,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
74 IV O Texto da Bíblia

de d1fícil versão para o vernáculo; Jeren1,ias viu um ra-


1110 de an1endoeira ( en1 hebraico saquêd) e teve ao 1nes-·
1110 ternpo un1a revelação divina. Deus disse-lhe: "Velo
sôbre 1ninha palavra para que se cun1pra" I_)ara nós se­
ria difícil des.cobrir algun1a relação. l\1as e111 hebraico
"velar" ou "vigiar" é saquad" I_) or isso, na 1nente do pro­
feta, "saquêd" se relaciona con1 "saquad" Não poden1os
traduz:r exatan1ente êste j ôgo de palavras; talvez, irniitar,
111as não seria exatan1ente o que J ere1nias intencionara
dizer. De 1naneira sen1elhante, viu A111ós un1a cesta de
frutas ( tenne qaiss) e lhe foi revelado que o fin1 ( qess)
do povo estava para vir.
U111a vez que Deus 111anif estou a palavra ela revelação
en1 1 ínguas a nós estranhas, in1porta que cada un1 que
queira conhecer a palavra inspirada estude as respecti­
,, as línguas. E' un1a exigência indispensável, antes de n1ais
nada, para o teólogo que quiser, co1n pesquisas científi­
cas, aprofundar e esclarecer o conteúdo da revelação.
Ta1nbén1 o pregador e o catequista, que interpretam a
palavra inspirada aos ho111ens de nosso te1npo, deveria111
conhecer as línguas bíblicas. f>ois, se êles não se repor­
tare111 ao texto original da Bíblia, correm, necessària­
n1ente, o perigo de pregar não a palavra de Deus, 1nas si111
a sua própria sabedor1ia, ou a de teólogos célebres, cuja
opinião êles seguen1.
De n1uit.os lados, até de teólogos e eclesiásticos de au­
toridade, ouve-se fazer a proposta inaceitável de abolir
o estudo das línguas bíblicas, en1 especial do hebraico,
nas faculdades teológicas e até nas universidades, ou en­
tão de restringi-lo aos candidatos interessados. Tais pro­
postas, feitas até por parte de quem se julga de acôrdo
co1n a Igreja, visando as precisões urgentes da cura d'al-
111as, estão en1 oposição direta co1n o desejo da Igreja.
li111 u1na Instrução da Co1nissão Bíblica de Ro1na, do dia
13 de 111aio de 1950, sôbrc os estudos bíblicos nas facul-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O 'I'exto da Bíblia 75

dades teológicas eclesiásticas, exige-se, expressan1ente, que


"o estudo, cn1bora árido, do hebraico e do grego" seja
ta1nbén1 cultivado ''porque, do contrário, surge o perigo de
que os clérigos, por ignorância das línguas, se 1nantenhan1
lc-nge dos textos originais inspirados. Assitn netn pode­
r1a1n co1npreender be1n as recentes traduções, nen1 jul­
gá-las con1 co1npetência" (EB 595). En1 sua encíclica
bíblica, apontou I-)io XII qs abundantes auxílios, hoje
existentes, que facilita1n tanto o estudo das línguas bí­
blicas, "ele n1aneira que o intérprete da Bíblia não escapa­
ria da pecha de superficial e negligente, se, pelo desleixo
do estudo lingüíst:co, se barrasse o ca111inho dos textos ori­
ginais" ( ·EB 547).
I�' certo que o Papa, e111 pri111eira linha, se refere aos
profes�;Ôres acadê111icos. Mas, há poucos anos atrás, tun
teólogo não católico, vivendo nun1 país. atrás da "cortina
de ferro", e considerando a situação de Já, exigiu que
hoje en1 dia cada catequista e pregador seja exegeta, ex­
pl!cador da l�scritura, se é que êle 111esn10 quer con1preen­
clcr a palavra de Deus e interpretá-la aos ho111ens de nos-;
so ternpo. Daí, torna-se o estudo das línguas bíblicas
1

tuna necessidade pastoral, não podendo ser exi111iclo dê­


lc, ele f,orn1a algu1na, o futuro catequista e pregador, que
freqüenta institutos teológicos. Muito ganharia co1n isso
o 1novin1ento ''Una Sancta", pois as discussões teológicas
con1 os adversários, en1 geral ben1 instruídos nas línguas
bíblicas, só poderão ser feitas à base elo texto original.
J\ lesn10 a propaganda exagerada das seitas poderia ser
1

debelada con1 n1elhor resultado, se o pregador se pudesse


rcferir ao texto original, visto que os sectários, quase
sen1pre, se baseian1 e111 passagens 111al interpretadas das
traducões
.,, bíblicas .

1) J. Smolill nu111 artigo escrito en1 lí.ngua tcheca (1955); Cf.


Jnternationale Zeitschriftenschau f. Bibehvissenschaft u. Grenz­
gebiete 4 ( 1955/56) nQ 846.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
76 r\r O r-f exto da Bíblia

/ls lí-ngu. as originais da Bíblia, porén1, são o hebraico,


.
ü ara1na1co e o grego.
Todos os livros protoca.nônicos do Antigo Testa111ento
foran1 escritos en1 líng·u,a hebra'âca. 1\1:as dentro dêsses li­
vros encontra111-se, nas edições hebraicas, treclios, 111ais
ou 1nenos co111pridos, en1 lí-ngu,a a.raniaica. Veja-se en1: Iiscl
4, 6-8, 18; 7, 12-26; Dan 2, 4-7, 28. Alé1n disso, duas
palavras en1 Gn 31, 47 e un1a frase e1n Jer 10, 11.
Os li'llros deuteroc,anô-rúcos e certos trechos do Antigo
1�esta1nento só er.ani conhecidos, até o co111êço de nosso
século, en1 lingu.a grega. O Livro da Sabedoria e os dois
livros dos l\!Iacabeus f ora1n escritos, con1 111uita probabi­
Edade, e111 grego, Logo no original. Desde 1896 tornara1n­
S<.. conhecidos 2/3 do texto original hebraico do l�cle­
�;iástico, e, há poucos anos, achara111 nas grutas do lado
ocidental do Mar l\,forto alguns frag111entos do L,ivro
de r-f obias, en1 língua hebraica e ara1na1ica. Não poclen1os
dizer, ainda, qual delas represente a língua orig·inal. São
Jerôni1110 usou, para a versão latina, pelo ano de 41 O, al­
gun1as cópias aran1aicas dos livros de Tobias, J uditc, có­
pias essas que depois se perdcran1. I-Ioje e111 dia tc1n-se
con10 certo que o Eclesiástico fôra escriito en1 hebraico,
enquanto que se discute sôbre os livros ele Judite, de �I'o­
bias, sôbre o pri111eiro Livro dos Macabeus, ·de Baruc e
sôbre os trechos deuterocanônicos de I(ster e JJanicl, se
fora1n escritos originàrian1ente e1n hebraico, ara1naico ou
talvez e1n grego.
O Novo Testav,n,ento foi escrito, en1 gera], t'tll línyua
greg-a.
Algu1nas dúvidas a êste respeito só cxiste111 acrrca do
I�vangelho de S. l\1ateus, pois há antigas trad i,õcs que
afirn1an1 ter sido êste livangelho escrito e111 dialeto he­
braico, isto é, provàveltnente e111 dialeto aran1aico, usado
na Palestina no ten1p,o de Jesus. f>or outro lado, é o li-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto ela Bíblia 77
vro tão bern escrito e111 grego que dificiln1ente se trata­
rá du111a
' traducão.

Outras tentat:vas, por parte de alguns cientistas, para


achar un1 original hebraico ou aran1aico de outros livros
do Novo Testa111ento, f,0ra111 baldadas.
() hebraico pertence ao ran10 elas 1ínguas sen1íticas. I�s­
tas eran1 faladas, na antiguidade, na 111aior parte da Ásia
A.nterior, con1 exceção da ltsia 1\!lenor e do atual país elo
Irã. })entro dêste ra1no lingüístico, pertence o hebraico
a un1 grupo do dialeto, cha111ado cananeu, propagado no
litoral do Mediterrâneo da Síria, na Palestina e na J or­
dània. C)utrossi111, fazen1 parte dêste grupo de línguas o
ugarítico, o fenício e o 111oabítico. Tanto a orige111 da lín­
gua hebraica, con10 o significado el a palavra "hebreu"
continuan1 desconhecidos. Os non1es "israelita" e "hebreu"
talvez não coincidisse111, orclinària111entc; 111ais tarde, po­
ré1n, já no período histórico, os dois no1nes. tornaran1-
�1e, n1ais .ou n1cnos, idênticos. Igualrncnte não saben10s
se os israelitas trouxera111 a língua hebraica para a Pa­
lestina, ou se apenas lá con1eçara111 a adotá-la, ou desen­
volvê-la rcspectiva111ente. ./\ 13íblia e .os judeus cha111a111
o hebraico ele "língua de Canaã", ou "língua sagrada",
ou. "juda,ica" Nas páginas seguintes, o têrn10 "Hebraico"
sen1pre se refere à língua elo Antigo Testan1ento, língua
que é cha111ada de hebraico antigo, para distingui-lo da
língua dos rabinos judeus, o hebraico 1nédio, e do he­
braico 111oclerno, hoje en1 dia usado ern Israel.
Alén1 do 1-\ntigo Testan1ento existen1 poucos docun1entos.
literários hebraicos, anter:ores ao exílio da Babilôn,ia. Ao
]ado de alguns no111es en1 selos e frag111entos cerâ1nicos�.
ten10s o assin1 chan1ado calendário de Gezer, do X século
A. C., algun1as frases es.critas en1 fragmentos de louças
(()straka), provenientes da San1aria (VIII século) e de
I_Jakisch ( VI século), a inscriçã.o ele Siloá do século VIII
·e a inscrição de lVIesdra ( IX. século), feita en1 dialeto
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
78 IV O Texto da Bíblia

n1oabitico, 111uito sen1elhante ao hebra:co. Confor1ne 4 Rs


18, 26s era o hebraico, pelo ano 700 A. C., a única lín­
gua con1un1 no reino de Judá, enquanto o aran1aico era
8 língua da política internacional e do co1nércio, usada
pelos funcionários do govêrno. Após. o exílio babilônico,
tornou-se o ara111a1ico paulatinan1ente a língua 1nais usada
entre os judeus, não só na Babilôn:a, n1as ta1nbé111 na
própria Palestina. O hebraico, con10 o achan1os nos livros
escritos após o exílio, está n1uito eivado de ele1nentos ara-
111aicos. Continua, contudo, sendo a língua dos escribas
judeus e, e1n certos círculos, do judaísn10. Experimenta,
outross:111, reflorescin1ento, corno, por exen1plo, na "Co­
n1unidade da Nova Aliança" de Qtunran, f or111ada nos
ten1pos depois das guerras dos n1acabeus, e onde a 1na,io­
r; a dos livros foi escrito e1n hebraico. No te1npo, porém,
de Jesus., a língua co1nun1 entre os judeus da Palestina
, .
e o ara1na1co.
A língua hebraica do Antigo Tes.tan1ento acarreta-n.os,
sob diversos aspectos, clificulclades. Mas isso se dá, não
sô111ente conosco; tan1bé1n os antigos tradutores gregos,
latinos e sírios achara1n-na tuna língua difícil, saindo por
isso as traduções, muitas vêzes, imperfeitas e defeituosas.
As dificuldades tê111 as seguintes causas:
a) O vocabulário do 1-\ntigo Testan1ento representa
apenas uma pequena parte do vocabulário geral, en1pre­
gado outrora no falar cotidiano do povo israelítico; por
isso ne1n sen1pre é fácil saber exatamente o sentido de
un1a expressão, mormente, quando êste sentido não apa­
rece pelo contexto.
Precisa-se então recorrer a palavras parecidas em ou­
tras línguas se1níticas, ou ainda elucidar o sentido da pa­
lavra de acôrclo com a evolução histórica da língua he­
bra:ca; não raro terá o tradutor que contentar-s.e con1
111eras hipóteses.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíblia 79

b) A indicação gramatical deficiente dos ten1pos ver­


bais: - O hebraico, co1no outras línguas se1níticas, possttii
a peculiaridade gran1atical de indicar, no verbo ativo e
indicativo, a repet�ção, a duração, ou a unicidade da ação;
111as indica só irnperfeita111ente o te111po en1 que se quer
colocar a ação ou a situação te1nporal. Daí nasce freqüen­
ternente a incerteza, desconhecendo-se s.e o autor fala
do presente, elo passado ou do futuro.
e) O espírito da língua: - I�' caraêterístico para o
hebraico, con10 para n1ttitas outras línguas sen1íticas, a
abundância, de un1 lado, e1n têr1110s referentes a coisas
e propriedades concretas, palpáveis e vis.íveis, e por outro
lado, a pobreza en1 têrmos abstratos. Assin1, por exemplo,
l1á descrições vivas e dra111áticas sôbre a atitude de al­
gué1n que sofre: "Êle se retorce ", "êle estremece", "es­
tre1nece co1no tuna parturinte", ''êle rasga seus. vestidos",
"bate no peito"; "suas entranhas, seus ossos são perpas­
sados" ; êle la1nenta sôbre sua "enfermidade", seus "açoii
tes" e "suas feridas" Contudo, tais descrições ainda nftJ
nos esclarecen1 se aqui se trata de un1a dor física ou 1110-
ral. A ter111inologia concreta confere ao Antigo Testa-
111ento un1a vivacidade, difícil de ser itnitada nas tradu­
ções, sendo que o pregador e o catequista 1nodernos mui­
to poder1ia111 aprender daí.
Antes de n1ais nada, conseguen1 os antigos escritores
bíblicos descrever, de 111aneira in1pressionante, a persona­
lidade de Deus. No Antigo Testan1ento, o homem piedoso
Yê a Deus concreta111ente diante de si e pode falar co1n
I'lle "debaixo de quatro olhos" Deus "olha para o homen1
piedoso", "volve seu rosto para êle" ; "estende sua 1não
t o atrai a si" E Deus "enrubece" de ira contra o pre­
varicador, Deus "gen1e" diante da ingratidão dos ho­
n1ens e, depois, "as suas narinas fun1egam" de ira. Deus
ton1a o seu povo de Israel nos braços, qual unia n1ãe, e
fala carinhosa111ente co111 êle, con10 a 1nãe con1 seu filhi-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
80 IV. O Texto da Bíblia

nho, sôbre o regaço. rf a Is "antropon1orfis1110s" e "antro­


popatis111os", isto é, transferência da maneira humana de
agir e sentir para Deus, representam para os filós.ofos
e teólogos 1nodernos, acostu1nados à linguage1n abstrata
das escolas, tuna grande dificuldade. O 1nesn10 se diga
da ausência de definições abstratas e de orden1 sis.te1ná­
tica nos discursos. Tudo isso os en1baraça quauclo se dão
ao trabalho de for1nular precisa1nente e de coordenar as
af ir111ações sôbre Deus e suas relações para con1 os ho­
n1ens.
À 111ão clêstes exe111plos, n.otan1os que não basta apren­
der a língua hebraica de algtun 111anual, n1as que é pre­
ciso acostun1ar-se à leitura assídua do Antigo Testan1ento,
postergando, enquanto possível, nossas 111oclernas catego­
rias, lógiicas e sisten1atizadas. Só assi111 entrare1nos no es­
pírito e na 111entaliclade concreta ela língua hebraica. Os
tradutores <leverian1 esforçar-se, na versão dos textos ori­
ginais para nossas línguas 111oclernas, ele salvar, o quanto
possível, aquela 111entalidacle concreta dos hebreus, 1nesmo
sob o perigo de recorreren1 a figuras retóricas .ousadas
ou a con1parações inusitadas. Não se deveria traduzir
"os filhos de Israel" por "israeLitas", "as narinas flarne­
j antes" ou "a face incandescida de Javé", por "cólera" ou
"ira de Javé", o "saltar" e "dançar", "o bater pahnas"
e "jubilar" por "alegrar-se", as ''mãos cansadas" por
"desâni1no", "os filhos. da 111orte'' por "destinados à mor­
te" e os "filhos da iniqüidade", por "íinpios"
O aran1aico está estrei ta1nente ligado ao hebraico. Des­
de a 111etade do 2 9 1nilênio antes de Cr,isto existia1n, nas
regiões da atual Síria e do Iraque, pequenos e grandes
estados aran1aicos. Daquele te1npo, possuímos tan1bén1
1naior nún1ero de docu1nentos literários da língua ara-
111.aica. Os ara1neus fazia1n o con1ércio entre a Mesopo­
tân1ia, a Ásia J:vienor e o litoral do lVIediterrâneo. Por
isso, desde o início elo 1 9 111ilênio antes de Cristo, tornou-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíblia 81

se o aran1aico a língua internacional do cornércio e 1nais


tarde; no reinado dos persas, isto é, desde a 111etade do
1 'J 111ilênio, també1n a língua da diplomacia e dos funcio­
nários. Da achninistração governamental dos persas, pr1in­
c:pahncnte no Egito, ten10s un1a rica coleção de docu-
111entos e111 papiros, cn1 língua ara1naica, que possui os
n-iesn1os característicos das. partes aran1aicas dos livros
dt Daniel e Iisdras. A està linguage1n chamam de "ara-
111.aico oficial", porque foi usado nas repartições públii­
cas do vasto i111pério persa. Ao lado disso, havia certos
dialetos ararnaicos, usados pelo povo, 1normente na Síria}
Babilônia e Palestina. O vocabulário do "aramaico ofi­
cial" apresenta, con10 é lóg,ico, muita 1nistura de elemen­
tos persas, e por isso torna-se necessário consultar a língua
persa, quando se trata de explicar certos têr1nos ad1ninis­
trativos, encontrados nos livros de Daniel e de Esdras.
A partir do tempo de exílio, falam os judeus, não só
na 11abilônia, 111as tan1bé111 na própria pátria, o aramaico,
ao lado da língua pátria, que é o hebraico. De então em
diante, penetram ta1nbé1n, sempre n1aiis nos livros do An­
tigo Testan1ento, escritos en1 hebraico, expressões, parti­
cularidades e locuções gra1naticais próprias da língua ara­
n1aica. No te111po de Cristo, um dialeto aramaico, origi­
nado na Palestina, o assin1 cha111ado aramaico palestinen­
se, ve10 suplantar o hebraico no falar cotidiano. Êste dia­
leto, por ser en1pregado comumente pelos judeus, chama-. J

dos ta1nbé1n de "hebreus", recebera em grego a designa-


ção de "dialeto hebraico" Esta foi a língua pátria de J e­
s.us, dos apóstolos e da Igreja prin1itiva em Jerusalém.
Saber isso é de importância para a explicação do Novo
T esta1nento, pois êste dialeto f,orn1a a base das palavras
de Jesus, as quais só conhece1nos e1n língua grega, con­
forme nos transmitiram os evangelistas. Até há pouco,
existiam tão poucos d.ocun1entos da ''língua de Jesus" que
era difícil ter idéia exata de con10 Jesus e seus discípulos
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
82 IV O Texto da Bíblia

f alaran1 realn1ente no lidar cotidiano. Apenas depois


da publicação do assin1 cha1nado "Genesis Apokryphon"
dt Qumran ( 1956), e depois do descobrimento na biblio­
teca do Vat:cano de u1n 1nanuscr,ito con1pleto, até agora
desconhecido, do Targu1n palestinense 2, é-nos possível es­
tudar 111ais de perto êste dialeto.
Ka Síria, o aramaico evoluiu até constituir a língua
síria, que, por sua vez, adn1ite vários dialetos, ao passo
que escritos judeus da antiguidade e da incipiente Idade
l\1édia transformara1n o aran1aico nun1a língua apropria­
da à escola, escrevendo nela as tradições de caráter dou­
trinário ( Haggaclda) e as de caráter legal ( Halacha), tra­
dições estas que passara1n para o Taln1ud. Ainda hoje
e1n dia, encontra1110s dialetos sírios e aran1aicos, e1n al­
gumas regiões distantes do Líbano, da Sír,ia, da Turquia
t do Iraque.
O caráter da língua aratnaica n1uito se asse1nelha à
índole do hebraico. Por isso, aplica-se ao ara1naico o 1nes-
1no que ac�1na disse1nos sôbre a 1nentalidade da língua
hebraica.
A 111ais conhecida entre as línguas bíblicas é o grego,
por se tratar de un1a língua 111ais próxitna da nossa, sen­
cl o s.eu estudo, desde séculos, cultivado nas escolas su­
periores. Esta língua é-nos bem conheaida através de 11111
rico patrirnônio literário do 111ais talentoso povo cultu­
ral da antiguidade, dos helenos ou gregos. Sen1 ernbargo,
existern diversas diferenças entre o grego bíblico e a lin­
guage1n dos clássic-0s gregos: é um grego de un1a fase
evolutiva posterior, falado, desde os ten1pos de Alexan­
dre Magno, isto é, desde os n1eados do IV século antes
de Cristo, nas regiiões orientais do Mediterrftnco, tornan _;
do-se a língua universahnente falada e escrita, a assin1
cha1nada koiné. Esta língua é-nos transrnitida, não apc-

2) Cf. infra p. 111.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíblia 83

nas en1 volu1nosos docu111entos literários, con10 os. do


escritor judeu J osefo Flávio e Filo de Alexandria, mas
ainda e111 1nilhares de documentos da vida cotidiana, tais
como notas de con1pras e vendas, cartas, contratos par­
ticulares, protocolos sôbre contratos matrimoniais e liber­
tação de escravos, docun1entos ele doações, etc. Por se tra­
tar de fôlhas de papiro, c;han1am-s.e tais docun1entos de
"papiros gregos" Seu estudo 1nuito contribuiu para a
explicação da Bíblia grega, porque obtivemos esclareci­
mentos 111elhores sôbre expressões e costu1nes jurídicos,
encontrados tanto no Novo Testamento, con10 també1n
na tradução grega do Antigo Testamento.
O grego da Bíblia, poré1n, apresenta não poucas pala­
vras e locuções se1níticas, isto é, hebraicas e aramaicas,
fato êsse que ainda hoje nos diz que os escràtores bíbli­
cos pensavan1 à 1naneira sen1ítica, e1nbora escrevessen1
seus livros e1n grego. Convén1 atender a êsse "substrato"
se1nítico, ao ler1110s o Novo Testamento no original. Un1
exen1plo marcante, de con10 un1a passagen1 do Novo Tes­
tan1ento pode ser 111al interpretada, se não atendermos
às relações co1n êste fundamento ara1naico-hebraico, é
o canto dos anjos en1 Belé1n ( Lc 2, 14), texto tão citado
no Natal por estadistas e pregadores.. Essas palavras de­
ve1n servir para justificar os desejos, bastante humanos,
de paz e os apelos dirigidos aos hon1ens de boa vontade.
Na real,idade a passagem de I...c 2, 14 significa bem outra
coisa, dif crente daquilo que pensan1 os que a citaram.
Pois a "paz" corresponde aí ao hebraico-aramaico salôni,
o que designa a orden1 correta, ou a relação justa entre
Deus e o home1n e entre os homens 1nutuan1ente. A "boa
·vontade" significa naquela passagem não a boa vontade
dos homens, mas o "rassôn" do Antigo Testamento, o
beneplácito de Deus, de que cles.fruta1n os homens por '
Deus agraciados e escolhidos. Os anjos, portanto, que_,
rern dizer que, pela encarnação ele Cristo, é restabelecida
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
84 IV O Texto da Díblia

a justa ordem entre Deus e os homens por êle gratuita­


mente beneficiados. Ordem essa que não é atingida por
acontecimentos bíblicos ou cl:stúrbios políticos, mas "tudo
está em ordem" para os bons, ainda que tenham de so­
frer penúria, guerra e perseguições. Daí se vê que a paz
aqm entendida não é a paz em oposição à guerra ; por
isso, a passagem é mal interpretada ou deturpada pelos
"apóstolos da paz" Sôbre êste fundo semítico, embora
não tôdas, desaparecem muitas dificuldades <lo Novo Tes­
tamento. Dificuldades que embaraçam os ignorantes e ser­
vem aos incrédulos para justificar sua eles.crença. Se sou­
bermos que nem o aramaico nem o hebraico possue111
têrmos para designar "parentes", mas que todos os graus
mais próximos ele parentesco são indicados por "irmão"
e "irmã", então não nos haveremos de admirar que o
Novo Testamento fala de "irmãos de Jesus" São seus
parentes próximos, mormente os primos. A língua ara­
maica e hebraica possuíam também uma expressão ju­
rídica própria para designar o "primogênito", aquêle que
"primeiro procede do seio matemo" e é favorecido pela
h i hereditária. Chama-se "bekôr", o que é mais. ou me­
nos "o herde.iro" O grego não conhece expressão idên­
tica. Emprega s:mplesmente "o primeiro filho", ou "o
primogênito" Se, pois, lemos em Lc 2, 7 que Maria deu
à luz a seu "primogênito", isso não significa que tenha
ticI.o outros filhos ainda, mas apenas diz que dera a v,ida
a um "herdeiro", sem atender se houve outros filhos. ou
filhas.
As conseqüências que provêm elo fato ele alguém não
dominar bem a língua, podemos ver na maneira como a
arte representa a l\foisés. Pois Sã.o Jerônimo, ao traduzir
o Antigo Testamento elo hebraico, confundiu a palavra
qaran = brilhar ( Êxodo 34, 29s. 35) com a palavra seme­
lhante que significa "côrno" Por isso traduziu errada­
mente: "a face de Moisés estava cornuta" em vez de "a
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV. O Texto da Bíblia 85

face ele Moisés se tornara brilhante" Desde então temos


na histór:a da arte cristã a Moisés representado lamentà­
vdrnentc com cornos sôbre a cabeça.
A primeira e primordial condição, portanto, para um
conhecimento exato elo texto bíblico inspirado é -0 conhe­
cimento das línguas, nas quais foi escrita a Bíblia. Co­
nhecendo melhor essas línguas, mais fácil será solucionar
certos problemas e equívocos que por acaso ainda encon­
tramos na Bíbl:a. E mais fácil será também descobrir
certas formas defeituosas, introduzidas no texto bíblico
na ocasião em que se fizeram cópias.
O exegeta especializado deverá estudar, além do hebra,i­
co, aramaico e greg,o, ainda várias outras línguas anti­
gas, se êle quiser estudar cientificamente a Sagrada Es­
critura. :Muito importantes para a reconstrução do texto
original são as antigas traduções. Daí a necessidade de
tomar cm consideração as línguas em que foram tradu­
zidas, corno por exemplo, o sírio, o copta , o latim vulgar
da antiga Bíblia latina e outras. Acrcs.cem ainda as vá­
rias línguas do antigo Oriente, o egípcio, o acáel:o ( = ba­
b:lônio-assírio), hetítico, o ugarítico, o fenício e outras.
Nestes idiomas ex.istem milhares de antigos -documentos,
por meio dos quais muito aprendemos acêrca da histó­
ria, do ambiente cultural, da mentalidade e dos costumes
literários dos autores bíblicos. Por êsse motivo erigiu o
Concílio de Vienne (1311) cátedras para lí-nguas orien­
tais nas universidades mais importantes (EB 41-43). A
Carta Apostólica "Quoniam in re bíblica", do dia 27 de
março de 1906, aconselha dar aos estudantes interessados,
nas faculdades teológicas, ocasião para aprenderem línguas
ortentais (EB 172; cf. também 547). Pio XII, na sua
c-a rta aos bispos da Itál:a, do dia 20 de agôsto de 1941,
ctefencle expres�iamcnte o estudo das línguas orientais con­
tra a acusação <le que os exegetas católicos ,iriam ser com
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Só IV O Texto da Bíblia

isso desviados ele suas tarefas própriamente teológicas


e que, pelo saber profano adquirido, 1nam fàcilmente
ser induzidos ao orgulho (EB 530).

CAPfTULO II

AS FORMAS GRÁFICAS DA BÍBLIA

A Bíblia foi escrita não só em línguas estranhas, aces­


síveis sómente após estudo penoso, mas também em parte,
cm um sistema gráfico, difícil de decifrar. Em cada al­
fabeto há sinais semelhantes entre si, fato que poderá
levar a equívocos e a erros no copiar. Sem comparação
com nossos métodos modernos de imprimir, enganos e
c.:1-ros de leitura são tanto mais numerosos nos testemu­
nhos do texto bíblico, porque antigamente era necessár;o
copiar penosamente o texto para multiplicá-lo e porque,
às vêzes, usavam material gráf,ico, pouco favorável à
leitura.
Cada copista confere às letras certos traços caracterís­
ticos, de modo que os manuscritos nunca são bem iguais,
entre si. Formaram-se também certas maneiras típicas
de escrever, particularidades em formar as letras, o que
pode ser importante para acharmos a :da<le de um ma­
nuscrito. A ciência que se ocupa com a evolução da ma­
neira de escrever chama-se paleografia.
Jus.tamente no tocante aos caracteres em que foi escrita
a Bíblia mais antiga, notamos a providência divina. Os
textos mais antigos da Sagrada Escritura não foram es­
critos, como era costume geral de então, em caracteres
cune:formes ou em hieróglifos - o que muito dificulta­
ria a compreensão do texto - mas em letras própria­
mente ditas.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíblia 87

Os povos de cultura antiga mais importantes na Ásia


Anterior, os sumérios, os babilônios, assírios e hetitas em­
pregaram caracteres cuneiformes, os quais não represen­
tavam letras destacadas, mas palavras e sílabas inteiras.
Por isso precisavam de grande número, cêrca de mil, dês­
tes s:nais, que admitam compos.ições várias. Cada sinal
possuía várias significações, pois podia servir para di­
versas palavras e sílabas. Além disso, cada período cul­
tural apresentava sinais próprios, bastante diferentes dos
anteriores.
E' claro que tal escrita complicada não podia ser apren­
dida por qualquer um. Precisava-se de escreventes oficiais,
formados em longos tirocínios. Existem ainda, escritas
cm caracteres cuneiformes, dezenas de milhares de pe­
quenas tábuas de barro cozido, bem como outras ,inscri­
ções, oriundas elo IV milênio até os últimos séculos antes
de Cristo. Faz apenas um século que se conseguiu ler de
novo êstes documentos, pois o conhecimento da escrita
cuneiforme tinha se perdido no tempo depois de Cristo.
Os egípcios tinham inventado outro s.istcma de escrever,
não menos complicado, os assim chamados hieróglifos.
Compõem-se de vários sinais figurativos que podiam ser­
vir tanto para palavras inteiras, sílabas ou também ape­
nas para consoantes. No correr dos séculos derivaram-se
claí outros sistemas, o h:erático e o demótico, mais difí­
ceis ainda para decifrar. Nestas diversas escritas existem
também inúmeros documentos literários do Egito, em par­
te em inscrições, em parte em fô lhas de papiro. Podemos
acompanhar a escrita egípcia mais ou menos do ano 3000
antes de Cristo até 200 depois de Cristo, embora fôsse
também usada ainda mais tarde. Os descendentes cristãos
elos antigos egípcios, os coptas, usam em sua língua, que
npresenta o último grau evolutivo do idioma egípcio, ca­
racteres. emprestados do alfabeto grego. Faz pouco
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
88 IV O Texto da Bíblia

111ais de un1 século que consegui1nos ler de novo ta111bém


os caracteres egípcios.
Sen1elhantes siste1nas de hierógEfos. era1n en1pregados
por outr-0s povos do ant1igo Oriente, especiah11ente pelos
chan1ados "heteus d.os hieróglifos" Não fora1n todavia
ainda be1n estudados.
O conhecin1ento e o estudo da escrita cuneifor111e e dos
hieróglifos requeren1 hoje e1n dia long-0s anos. de estu­
dos especializados. O exegeta, desejoso de aproveitar os
clocun1entos literários, escritos nestes siste1nas., para a ex­
plicação elo Antigo Testa1nento, precisa apo:ar-sc e1n ge­
ral nos resultados fornecidos pelos "assiriólogos" e pelos.
"egiptólogos", especialistas desta 111atéria.
Un1a feliiz coincidência na evolução cultural da huma­
nidade nos livrou da necessidade de ler o texto bíblico,
escrito en1 caracteres tão difíceis. N u1na região, politica-
111ente insignificante, rodeada pelas grandes potências ela
lVIesopotân1ia, Ásia Iv1enor e Egito, isto é, n,o litoral pa­
lestincnse do JVIediterrâneo e da Síria, be1n co1no na pe­
nínsula do Sinai, certos pequenos povos, aparentados con1
os israelitas, conseguira1n real:zar un1 feito cultural elos
n1ais notáveis, cujos efeitos ainda desfrutan10s, a in'ven­
ção ,da escrita e-1n letras. Conhecen1os agora diversos dês­
ses siste1nas, sem saber se são dependentes entre si ou não.
T'en10s conheci1nento de u1n alfabeto de trinta e cinco sinais
cuneif.orn1es, no qual nos foi conservado o rico patrin1ô­
nio literário do pequeno estado de Ugarit, no litoral nor­
te da Síria. Outr,o siste1na de letras temos da península
do Sinai, a assiin chamada "escrita de Biblos" Mais tar­
de predominou o alfabeto feníc-io ou ca:na:neu, que consta
de 22 letras. A êsse sisten1a poden10s reduzir todos os
demais alfabetos empregados pelos povos de cultur a oci­
dental, co1n.o sej an1 o grego, o etrusco, o latino, o gótico
e o eslavo. Enquanto mais tarde os gregos, os etruscos,
os latinos, os gôdos e os eslavos usavam tambén1 letras
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
1,1 O Texto da Bíblia 89

para as vogais, per1nanecia1n os povos se1níticos, e her­


deiros <lo siste1na cananeu, con1 o 111étodo de 1narcar só
a� consoantes e não as vogais.
Na época e111 que as tr,ibos de Israel se fixara1n na Pa­
lestina, possuían1 já provàvchnente, esta escrita, desen­
volvendo-a para o alf,abelo do antigo hebraico. Neste sis­
tc111a fora111 escritas as poucas inscrições e outras relí­
quias literárias do antigo hebraico que se conservara1n
elo te111po anterior ao exílio. Co1n êstes caracteres tan1-
bé111 fora1n escritos, pela prin1eira vez, os 111ais antigos
ljvros da Bíblia, tendo sido dcpo:s. scn1pre de novo co­
p:ados. Depois do exílio di111inuiu o uso desta escrita,
introduzindo-se outro sisten1a, a escrita ara111aica, da qual
falaren10s 1nais adiante. Contudo o anfgo alfabeto ain­
da foi empregado n1ais tarde, corno atesta1r1 111oedas ju­
daicas do te1np,o elos macabeus e do ten1po depois de Cris­
to, con10 tan1bén1 alguns n1anuscritos de Qu111ran, que da­
ta111 do ten1po de Cristo tan1bé111. Outra forn1a derivada
ternos na escrita saniaritana, aperfeiçoada pela seita sa-
111.aritana no ten1po anteri.or a Cristo. Neste sisten1a foí
escr:to o Pentateuco sa1narita110, <lo qual faren1os 1nenção
depois.
})elo fato de se tere1n en1pregado letras do antigo hebrai­
co explican1-se diversos erros, ocorridos nos 111anuscritos
bíblicos. Por causa de sua sen1elhança trocara111-se algu­
mas letras, 111or111ente quando precedia111 as vogais ( aleph),
con10 as letras T e D, o gutural Ain, a nós desconheci­
do, e o R, H, J, 1\,1 e S .
Os ara1neus desenvolveran1 da escrita cananéia un1 al­
i abeto ara-ni,a·ico próprio, que é tan1bén1 chan1ad.o de es­
crif.a quadrada, por causa de suas forn1as peculiares. No
exílio e durante o re:nado dos Persas adotaram os judeus,
ao lado de outros elementos lingüísticos, ta1nbén1 o al­
fabeto aran1aico, e111pregando-o, não só para escrituras
c111 língua ara1naica, 111as tan1bé111 para suas próprias
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
90 IV O 1'cxto ela Bíblia

obras literárias e outros docun1entos, escritos e111 hebraico.


Esta escr1ita quadrada, a princípio, só se usava entre os
judeus; en1 escritos pr.ofanos. nos últin1os séculos, poré111,
antes de Cristo, tan1bém a e1npregavan1 ao copiar textos
religiosos. A 111aioria dos manuscritos, tanto de textos
bíblicos co1no de não bíblicos, que fora1n achados en1
Qtunran, foran1 escritos desta forrna a partir do segun­
do século antes de Cristo. Quando Jesus afirn1a que a
1nenor letra é o jota ( Mt 5, 18), então Êle supõe, aparen­
te1nente, a escrita aran1aica, con10 sendo universalmente
conhecida, pois só neste alfabeto é que se verifica isso,
ao passo que no sisten1a hebraico antigo a letra jota (Jod)
era das 111aiores.
Quase todos os 111anuscritos conhecidos da Bíblia he­
braica, até o descobrin1ento dos 111anuscritos ele Qu1nran,
era111 escriitos co1n letras quadradas. Ainda hoje a en1pre­
ga111 para i111pri111ir a BíbEa hebraica. No atual Estado
ele Israel ela é usada para tudo o que se imprime em he­
braico 1noderno. Neste sistema é facil confundir as letras
W-J, D-R, H-CH-T, N+\V-M, N+J-lVI, I!+J-lVI, S
co1n o M final.
Outra fonte de erros e enganos na leitura, tanto na es­
crita hebraica antiga co1110 na aran1aica, era a falta de
sinais para voga1is. A111bos os alfabetos desconhecia111 es­
tas des:gnações. Hoje, senti1110s bastante esta deficiência,
contudo, para as línguas se 111íticas esta falta não é tão
sensível. P.ossue111 estas línguas for1nas fixas de palavras
radicais quase se1npre de 3 consoantes, que indica1n o
sentido fundan1ental, sendo que as vogais só n1uda111 aci­
dental111ente êsse sentido. Dessa for111a poclia111 dispensar
a marcação das vogais, pois aquêle que falava uina des­
sas línguas co1110 língua pátria, fàciln1ente supriria as vo­
gais. Para nós, que não don1ina111os estas línguas, a v.oca­
li.zação causa certa dificuldade. Contudo, n1esn10 entre os
povos se1nitas ocidentais, con1eçara1n, relativa1nente cedo,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV C) Texto da Bíblia 91

a indicar algu1nas vogais longas pela assin1 chan1ada "es­


crita plena", ou a indicá-las por 1neio de algumas consoan­
tes fracas co1no Aleph, J od, Wavv e He. Isto, poré111, se
deu irregularmente. Só no te1npo de Cristo torna-s.e ge­
ral a "escrita plena", principaln1ente para os manuscritos
da Bíblia, destinados à leitura particular, não ao ofício
nas sinagogas. Nunca poré111 estatuíran1 regras ortográ­
ficas certas ..
No con1êço da Idade l\1édia co1neçou-se nas escolas dos
rabinos en1 Babilônia, en1 Tiberíades e outros lugares., a
construir sisten1as co111plicaclos para 111arcar as vogais e
para a acentuação. Por 1ne:o de riscos e pontos, colocados
acin1a ou en1baixo das consoantes, designa va111 as vogais.
Por is.so fala-se de pontuação. A partir de 800 anos de­
pois ele Cristo, foi êsse sisten1a aplicado regularn1ente cn1
todos os 111anuscritos bíblicos. Os textos profanos ou não
bíblicos deixara111 de aplicar a 111arcação de vogais. São
Jerôniino, ao transladar, pelo ano 400, a Bíblia do he­
bra:co e ara1naico, viu-se obrigado a usar un1 texto sen1
pontuação. Devia, pois, clo1ninar be111 a língua hebraica,
para ler .. corretan1ente o Antigo Testan1ento. Não é se111
i111portância, por exen1plo, se a palavra sbh significa
sebâh == "senta-te", ou subâh == "volta" ou s.abâh = "ela
volta"
Concernente à língua grega, não há que dizer n1uita
coisa. Os 111anuscritos 111ais antigos ela língua grega, isto
é, os que se escreveram até ao século IX depois de Cristo,
fora111 e scritos e111 letras maiúsculas, como as conhece-
1110s do tempo do ginásio. Parece que tan1bén1 os escr:to­
res bíblicos as e1npregavan1. Em oposição aos escritores·
sen1itas que, por via de regra, separava111 palavras e fra­
ses, não conheceran1 os escritores antigos. nem separação
de palavras ne111 pontuação. Isto, é claro, não torna fácil
a leitura. l◄ala-sc aí de uma "scriptio continua", ou escri­
ta continuada. Fonte de equívocos constituían1 tambén1
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
92 1 V O Texto ela Bíblia

as freqüentes abreviações que nem sempre eram bem


interpretadas pelos amanuenses. Desde o IX século, par­
tindo das letras maiúsculas, criaram as letras minúsculas
para se poder escrever mais corretamente sem interrom­
per t3.nto a escrita. Chama-se escrita cursiva. Empregan­
do nesse sistema a "scriptio continua", maior se tornará
o perigo de engano; por isso separaram agora as palavras
por pequenos intervalos empregando igualmente a pontua­
ção e a acentuação.

CAPfTULO Ill

A FORMA DOS LIVROS E O MA TERL\L


GRAFICO

Os povos que usaram a escrita cuneiforme, emprega­


vam, geralniente, tábuas d e a.rg-ila. Enquanto a argila se
conservava mole, gravavam as letras na tábua, por meio
de estiletes de ferro ou de madeira. Essa tábua depois
era queimada à maneira de tijolos. A êsse fato devemos
a grande durabilidade dêstes documentos, a não ser que
as tábuas tenham sido quebradas em pedaços diminutos.
Nas escavações arqueológicas encontraram-se centenas de
milhares de ta;s tábuas. Descobriram-se arquivos comple­
tos, extensos e bem organizados, contando até 10.000 ta­
Luinhas, como é o caso dos arquivos de Nínive, Mari
Hattusa e Ugarit. A ciência moderna pôde aproveitá­
las tôdas.
Os egípcios, ao invés, não conheciam essas tabuletas de
barro cozido. Empregavam outro material muito prático
para escrever, mas menos resistente. Desde o ano 3.000
mais ou menos, antes de Cr:sto, usavam o cerne de uma
planta palustre, que crescia às margens do Nilo, chama-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíblia 93

da papiro. Cortavam esta planta em forma de tiras com­


pridas, que, s.obrepostas em forma de cruz, eram coladas,
comprimidas e alisadas. Dês te modo obtinham-se fô lhas
que se assemelhavam ao nosso papel. Por meio de um
pincel ou uma espécie de pena escrev,ia-se nêle com tinta
simples ou de côres, mas só de um lado. Chamamos, êste
material também papiro. Várias destas fôlhas podiam ser
coladas ou costuradas junto, ele maneira que se obtinham
tiras de vários metros de comprimento.
Prendiam-se as extremidades destas tiras a um pau,
podendo o conjunto ser enrolado. Em cada fôlha escre­
via-se o texto em forma ele coluna, à semelhança de nossas
páginas. Ao ler êste "livro", desenrolava-se com uma mão
o rôlo e com a outra tornava-se a enrolá-lo.
Ao lado disso conhec:am os povos da Ásia Anterior,
bem como os egípcios, inscrições ·monunientais, gravadas
em blocos de pedras, em rochedos, em lajes de mármore,
etc., ou esculpidas em edifícios ou em p aredes de casas.
Mesmo em fragmentos de cerâmica (Ostraka), que já
não serviam para outros fins, riscavam e escreviam no­
tícias. Também os isr�telitas mandavam gravar em pedras
certos documentos important('S, como sejam contratos e
leis. E' o que atestam os relatos bíblicos sôbre as tábuas
d.a Lei de Moisés ( Êx 31, 18; 32, 1 Ss) e sôbre a cópia
d.a Lei, gravada em pedra, no tempo de Josué (Jos. 8, 32)
e a:ncla a Inscrição de Siloá, lembrando a construção de
um túnel para o aqueduto, construído em Jerusalém no
tempo do rei Ezequias. No mais, embora fôsse notável
a influência da cultura babilônico-assíria, adotaram os
i:-raelitas não o material gráfico, as tabuinhas de argila
dos vizinhos orientais e setentriona:s, mas o dos egípcios,
os 1,api-ros. Êste material foi importado em abundância
para a Palestina, através das cidades fenícias do litoral.
l•:m J er 36 explica-se, detalhadamente, de que maneira se
t•scn�via e lia em Israel.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
9-t TV O Texto da Bíblia

Dos persas chegaram os judeus a conhecer outro ma­


terial 1na�s durável mas também 1nais dispendioso, as pe­
les de an.itnais e couro. Pelo ano 100 A . C. inventou-se
na cidade de Pérgamo, na Ásia Menor, um novo método
aperfeiçoado ele preparar peles para nelas se escrever. Re­
cebeu o nome de perganiin,ho. Confor1ne 2 Tim 4, )3 pos­
suiria São l) aulo, tais rolos de perga1ninho, pois pede-lhe
que lhos traga111 da Ásia l\1enor para Ron1a.
As grandes descobertas de 1nanuscritos, feitas a par­
tir de 1947 no deserto de J uclá, n1or1n-ente e1n Qu1nran
e Wacli l\'Iurabaat, constava1n ele rolos de papiro e de cou­
ro. 1�111 tais rolos foran1 escritos, ao que parece, os ori­
ginais da Sagrada Escr�tura. As cópias 111ais antigas elo
Novo Testan1ento, enquanto as conhecemos, são feitas e1n
papiros. Os n1ais antigos n1anuscritos do Novo Testa-
1nento en1 perga1ninho são do IV século.
Ao contrário elo que se deu co1n as indestrutíveis tabu­
letas de argila, deu-se con1 os doctunentos ele papiro e
couro que, dada a precariedade do material, só se con­
servaran1 en1 circunstâncias deveras muito favoráveis.
No Eg�to o clin1a sêco do deserto e a pouca chuva fa­
vorecian1 sua conservação, por isso até as descobertas de
Qu1nran, a 1naioria dos textos bíblicos e não bíblicos eran1
do Egito. Na Palestina, pelo contrário, devido ao clima
él.centuaclan1ente úmido, co1n o decorrer do ternpo estra­
g·aratn-se quase todos os rolos de papiro e de couro e assi1n
pcrdera-Jn-se para sen1pre.
Constitui feliz coincidência o ter-se escondido em cer­
tas grutas do deserto de Judá, na parte oriental e sul-ori­
ental de J erusalé111, de clin1a sêco, grande quantidade de
livros que forarn descobertos nos últin10s anos. No en­
tanto, n1es1no êstes textos acham-se em grande parte, da­
nificados., colados, carcomidos pelos animais, tornando­
se sua leitura muito dificultada ou até i1npossibilitada.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíb1ia 95

Acresce ainda: os rolos de papir.o e couro 1nuito de­


pressa se gastavan1, principahnente por se tratar de livroE.
111uito procurados e muito lidos. Como conseqüência o
texto se tornava indecifrável e uma nova cópia se fazia
111ister. Deve1nos, pois, concluir que n1u1itas cópias se fi­
zeran1 e1n pouco te1npo, aun1entando, naturalmente, dessa
forma, o perigo de erros ao seren1 efetuadas as cópias.
Daí chegamos à conclusão seguinte: a n1aior parte dos erros
de cópias e de diferenças de texto prové1n de um tempo
anterior ao dos nossos 111anuscr�tos 111ais velhos que
ora possuírnos. Não causa, pois, ad1niração o fato de pas­
sagens, tidas con10 defeituosas pelos críticos, já sere1n
assi111 encontradas nos 111ais antigos documentos.
Todos os 1nanuscri tos bíblicos do tempo anterior ao
II século depois de Cristo tinha1n a forma de rolos. O
perga1ninho, todavia, não se prestava 1nuito bem para ser
enrolado; por isso con1eçou-se, a partir do I século cris­
tã.o, a não juntar 111ais as fôlhas, colando-as un1as às ou­
tras, enrolando-as e1n seguida, 111as sobrepondo-as., dobran­
do-as no 1neio e costurando-as finalmente.
No ,início f êz-se tal processo, só co111 o perga111inho;
depois tambén1 co111 as fôlhas de outro material. Obtinha111-
sr desta farma alguns cadernos, que por sua vez, podia1n
ser ligados entre si e chegava1n a for111ar grossos volu-
111es do feitio de nossos livros atuais.. A tal volu1ne dava­
se o non1e de "codex", e1n grego teuchos. Esta n1aneira
d.é confeccionar livros se tornou geral, num curto lapso
de te1npo. Apenas para fins litúrgicos conservaram os
judeus os rolos. na leitura da Bíblia, o que ainda hoje en1
dia é prescr:to nas suas sjnagogas.
Os livros eran1 caros na antiguidade. Às vêzes, usa­
van1-se então velhos manuscritos, cujo texto já não inte­
ressava, para escrever outro texto. Raspava-se, simples-
1nente, o texto anterior, alisava-se a fôlha, escrevendo ne­
la o novo texto.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
96 IV O T'exto da Bíblia

lVIétodos fotográficos 111odernos perrnite111 descobrir, às


vêzes, o antigo texto sagrado. 1'ais n1anuscritos chamam­
se paliinipsestos.
Sà111ente no século \lIII achou entrada na Síria e na
1�alestina o papel, feito de pedaços de Enho. Manuscr,itos
feitos e1n papel só existen1 desde o século X�II.
O conhecin1ento sôbre êsses assuntos, a forn1a dos li­
vros e do 1nater:al gráfico, é ele rnuita i1nportância para
o exegeta. Êles lhe dão a possibilidade de deter1ninar a
idade e a procedência dos 111anus.critos estudados. Ma1is
a:nda, poderá concluir dêles dados sôbre a história e a
autenticidade do texto bíblico. A idade de u1n manuscri-
1u pode ser calculada, co1n probabilidade, pela f or111a elas
letras, pelo 111aterial en1pregado, e pelas circunstâncias
em que foran1 achados. Método be1n recente, aplicado para
achar a idade do 111anuscr:ito, é o assi111 chamado teste
"ráclio-carbono-14" f�ss.e pern1ite fixar a data aproxin1a­
da de sua confecção, pela radioatividade de detritos pro­
venientes do 111atcrial usado.
A ciência moderna inventou ta1nbén1 vários processos
para decifrar 111anuscíitos 1nal conservados, manchados,
quebradiços e até quase indecifráveis. Muitos documentos
de textos bíblicos só existem en1 pequenos fragmentos,
cheios de pó e 111anchas, con10, por exemplo, os que se
descobrirarn nas grutas de Qun1ran. E' preciso submetê­
los a longos e custosos processos de limpeza e conserva­
ção. Depois são reunidos para ver se nos esclarecen1 al­
go con1 referência aos textos bíblicos de então. Êste tra­
balho abnegado é, atualn1ente, feito por un1a equipe in­
ternacional e interconfessional de sábios do Museu Pa­
lcstinense de Jerusalém, onde as descobertas ele Qumran,
Murabaat e Chirbet Mird sJ.o exa1ninadas para torná-las
acessíveis a.o público. Todo êsse trabalho se 1111põe por­
que desconhecemos os originais da Bíblia, e porque êstes
textos fidedignos nos per1nitem reconstruir o texto tal
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV. O Texto da Bíblia 97

con10 o escreveran1 os autores. Medeia1n entre o original


e os textos 1nais antigos que possuímos alguns séculos,
tornando qualquer f ragn1ento bem aceito, desde que nos
aproxi1ne do original por n1ais alguns decênios. Nos ca­
pítulos seguintes trataren1os dos textos bíblicos mais an­
t:gos de que dispon1os, a tualn1ente.

CAPÍTULO IV

C) rfEXTO ORIGINAL DO ANTIGO


TEST Al\1ENTO

Há poucos anos ainda, cientistas modernos quase não


conhecia111 nenhu1n 1nanuscrito hebra,ico do Antigo Testa­
n1ento, proveniente da antigu,idade. Somente havia os que
datavan1 da Idade l\,1édia. Entre a co1nposição mesma
dos 1nais recentes livros do Antigo Testamento, co1no o
de Dan1el e do I�clesiastes, e a 1nais antiga cópia em nos­
sas 111ãos, havia u111 intervalo ele cêrca de 1.000 anos. En1
vista desta situação poderia talvez surgir a alguém me­
nos versado no assunto a dúvida: Será que e1n tão longo
intervalo não houve falsificação ou deturpações do texto
bíblico, de tal sorte que hoje mal podemos saber o que
o autor inspirado escreveu e co1no o entendeu? Porén1,
para o entendido, o fato ele não podermos c01nprovar n1e­
lhor o texto do Antigo Testamento não constitui proble­
n1a que o assuste ou o atemorize. Pois, de un1 lado, a si�
tuação não é 1nelhor quanto aos n1a11uscritos que possuí­
n10s das grandes obras clássicas de literatura grega e ro­
rnana. Na 111aioria dos casos só temos delas cópias, data­
das da Idade l\1édia ou do início da Idade Moderna. Por
outro lado, além dos n1anuscritos recentes possuÍlnos do
Antigo Testamento também traduções antigas, das quais
a versão grega ren1onta aos tempos anteriores a Cristo.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
98 IV O Texto da Bíblia

Se1n dúvida, tuna co111paração entre o texto h·ebraico dos


111anuscrit.os e a tradução grega 1nanifesta certas diferen­
ças, difíceis de sere111 explicadas.
Quanto aos 111anuscritos hebraicos, conhecidos até ao co-
111êço do nosso século, notava-se un1a plena concordàn­
cia entre êles, abstração feita de pequenos err,os ortográ­
ficos no texto, que consta só de consoantes; e isto, apesar
de pertencere111 a épocas e regiões diferentes. J1ste fato
de ser o texto un·ifo1.:111c teve sita explicação. Os 1nanus­
critos ren1ontava111 a un1 texto 111.oclêlo, escrito por sá­
bios judeus no con1eço do segundo século da nossa era,
que servia de texto norn1ativo para as futuras cópias:
Os escribas judeus posteriores, os rabin.os, não o 111odi....
ficaran1 111ais, 111as litn�taran1-se a transn1iti-lo o 1nais
fieln1ente possível. E fazia1n-no con1 1nesquinhez. Con­
tavan1 letra por letra, e ao -f azere111 un1a cópia, conferia1n
palavra por palavra con1 o texto n1oclêlo. Na 111arge111 dos
nJanuscritos fizeran1 certas anotações concernentes à tra­
dição do texto, a ass1111 cha1nada Massorá ( == Tradição).
O texto, constando só de consoantes e fixado dêste 111,oclo,
chan1a-se texto 1nassorético, ou abreviada1nente Tl\1. Êste
texto já foi u�,ado por S. J erônin10, quando traduzia o
Ant�g.o Testa1nento para o lati111, pelo ano 400.
No Início da Jdacle l'v1édia existia111 ao 1nenos três es­
colas tnassoréticas, tuna na Babilônia, outra em Tiberíacles
e rpais outra na Palestina. Nestas escolas, instigadas pelos
sírios que tinha1n inventado un1 111étodo de 111arcar vogais
-na sua e�crita ele consoantes, con1eçou-se então a indicar
tan1bé111 a pronúnc:a de vogais, de acôrdo con1 a própria
tradição escolar. Para tanto e1npregava1n-s e certos sinais,
riscos e pontos colocados acin1a ou abaixo das consoantes.
Distinguin10s daí u111a pontuação babilônica, palestinense
e outra de Tiberíades. Os melhores e mais nun1erosos 111a­
nuscri tos são do siste1na tiberiens.c e bascia111-se en1 tex­
tos 111od_elares, provenientes das famílias 111asoréticas Ben
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O 'Texto da Bíblia 99

Ascher e Ben N ephtali. Data111 dos anos 750-1.100. O 111e­


lhor e n1ais ben1 conservado 111anus.cr1ito de Ben Ascher
é o Codex Leningradensis, escrito e1n 1008. Êsse servia
de base à Bíblia hebraica de R. I(ittel-P. Kahle, a partir
da terceira edição, fe:ta e111 Stuttgart em 1929, e que é
a edição n1ais espalhada elo Antigo Testa1nento. O texto
tibcriense foi-se i1npondo se111pre 111a,1s nos ten1pos 111oder­
nos. Tôdas as edições adotatq.111, en1 geral, êste sisten1a
de 111arcar as vogais.
l\1anuscritos que se des.viararn do texto n1asorético nor­
rnativo fora1n pe1os rabinos postos fora de circulação.
Ê�tes e outros textos, que, e111bora ele acôrdo con1 o texto
of:cial, se achava111 já gastos e danificados pelo longo uso,
não forarn quei1nados, s.i111plesn1ente, porque ten1iian1 des­
truir os livros sagrados. l�ora111 depositados e111 algtuna
dependência ela sinagoga ou colocados en1 recipientes dé
argila, enterrando-os e1n seguida. Tais esconderijos para
111anuscritos gastos ou não aprovados chan1aram de ge-
1z:iza. Desde 1896 tornaran1-se conhecidos 1nuitos clêstes
n1anuscritos de tuna gen:za descoberta na parte velha do
Cairo. São os fra,gni,entos de Gen,iza. Dêles depara-se a
111ultipliciclade de textos que houve entre 600-900. Exis�
tian1 então não só os três sisten1as de pontuaçã.o, n1as ta111-
bé1n outras forn1as de textos, asteriores ao texto mas­
sorético.
fJesde o século XVII conhecen1 os sábios europeus 111a­
nuscritos do Pentateuco en1 escrita san1aritana, prove­
nient e da seita elos sa1naritanos, ainda hoje existente. A
co1nun-iclade san1aritana, ao que parece, separou-se do ju­
daísn10 no ten1po após o exílio. No 111onte Garizin, na re­
gião de Sa111aria, erigíra1n 11111 santuário para si, tendo
sacerdotes próprios e aceitando dos den1ais Livros Sa­
grados do j udaís1no só o Pentateuco. Êste Pentateuco,
conhec:do através de 1nanuscritos da alta Idade l\1éclia,
é cha1nado Pen,tateuco .S'aniaritano. Aí ten10s un1 texto
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
100 IV. O Texto da Díblia

certamente anterior ao m,assorétfro; temos nêle umas 6000


variantes do texto masorético, se bem que sejam, em ge­
ral, só de natureza ortográfica/' Algumas var,iantes, quan­
to ao conteúdo, baseiam-se em alterações deliberadas e
tendenciosas no sentido da doutrina sectária. Assim acha­
mos em 11:x 20, 17 uma interpolação, onde Deus manda
construir um altar no monte Garizin. Não há dúvida de
aqui se trata de falsificação deliberada por parte dos sama­
ritanos que procuravam uma justificativa para o seu culto
ilegítimo no monte Garizin. As demais divergências não
as poderíamos chamar de falsif:caçã.o, mas apenas com­
provam que o texto hebraico, cm épocas anteriores ao
Cristianismo, não era tão uniforme como os manuscritos
medievais o fazem supor. Isso acha a sua confirmação
pela tradução grega, a chamada Scptuaginta, pois ela traz
certas passagens numa forma, que não podemos explicar
pelo tcxt.o massorético. Devem remontar a outros textos
hebraicos anteriores que já apresentavam aquela dife­
rença. Às vêzcs, o Pentateuco Samaritano concorda com
a Septuaginta. Em outras passagens, porém, nem o tex­
to massorético, nem o samaritano, nem o grego combinam
entre si. Cada qual apresenta uma variante própria.
À mão dêstes fatos devemos concluir que no tempo
antes ele Crist.o já e�istiam três formas de textos com
certas divergências: a) o texto que mais tarde foi decla­
rado pelos massoretas como texto oficial; b) o texto dos
manuscritos que servia ele base para os tradutores gre­
gos; c) o texto em que se apóia o Pentateuco samaritano.
Enquanto, porém, não possuímos comprovadamente ma­
nuscritos anteriores ao text-0 massorético, só podemos fa­
zer hipóteses mais ou men.os seguras. No ano <le 1902
foi de fato descoberta uma fôlha de papiro, proveniente
elo II ou I século antes ele Cristo. Recebeu, conforme o
nome do descobridor, a denominaçã-0: papiro Nash e é
conservado em Cambridge. Continha o texto hebraico elos
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV. O Texto da Bíblia 101

dez mandamentos em uma forma que unia Êx 20 com


Dt 5 e Dt 6, 4s e mais um acréscimo por nós conhecido
só ela Septuaginta. Por ser um texto pouco extenso não
era possível tirar muitas conclusões sôbre a forma do tex­
lc em épocas anteriores ao cristianismo. A situação mu­
dou de repente nos últimos anos.
Com as sensacionais e ainda inacabadas descoberf'as,
feitas no deserto de Judá, o intervalo entre o original e
o mais antigo manuscrito diminuiu de 800 até 1000 anos.
Quanto aos livros recentes elo Antigo Testamento, os de
Daniel e do Eclesiastes, a aproximação é maior, faltando
poucos decênios para chegarmos aos origina;is.
Não nos podemos deter mais longamente sôbre êstes
achados, nem sôbre os textos não-bíblicos. Sôbre isso há
uma enorme literatura científica e popular. Embora da
maioria elos livros bíbl:cos fôssem achados apenas frag­
mentos mais ou menos extensos, era contudo material su­
ficiente para nos dar uma idéia sôbre os textos do Antigo
Testamento entre o II século antes de Cristo e o ano 135
depois de Cristo. Temos amostras de todos, os livros pro­
tocanônicos, exceção feita do Livro de Ester, e dos li­
vros deuterocanônicos de Tob:as e do Eclesiástico. Diver­
sos livros constam em vários manuscr,itos - dos livros
elo Deuteronômio, de Isaías e dos Salmos temos mais de
10 exemplares respectivamente. Acresce um bom número
de comentários para os livros canônicos, nos. quais o tex­
to bíblico é verbalmente citado e depois explicado. Ape­
nas pequena parte do material foi examinado e estudado
até agora, necessitando-se ainda decênios de estudo para
os exegetas.
A maior surprêsa constituíam vários rolos intactos e
outros quase intactos, sendo os mais notáveis dois ma­
nuscritos de Isaías (IQ Isª, IQ Jsh ), um comentário do
Livro de Habacuc ( IQ p Hab) e outro rôlo, ainda não
publicado, dos salmos. Dos doi smanuscritos de Isaías e do
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
102 IV O 1'exto da Bíblia

con1entário de Habacuc, bem con10 de vários frag1nentos


de outros n1anuscritos, existen1 já fotocópias nítidas. Do
estudo dos textos até agora publicado e das co111unica­
ções feitas pelos cientistas encarregados, consegue-se ti­
rar as seguintes conclusões que são de interêsse para a
pesquisa do texto bíblico hebraico.
1) En1 Qu111ran usavan1 n1anuscritos bíblicos que vên1
con1provar tôdas as forn1as de textos agora conhecidas:
do text.o 1nassorético, do l-)entateuco sa111a1<tano e do tex­
to da Septuaginta, ao lado de algun1as outras forn1as n1is­
tas e espec1a1s.
2) O texto fixado pelos. 111assoretas não constitui un1
texto nor111ativo do II século depois de Cr;isto, 111as já
existia no século TI antes de Cristo, en1bora não fôsse
tão con1un1; entre todos os textos tradicionais é êle que
111ais confianca 111erece: êle se avizinha 111a�s do texto ori-
g;nal, do protótipo. Nos 111anuscritos de Murabaat, de
data 111ais recente ( não posterior ao ano 135 depois de
Cristo) já é o texto 111ais e1npregado.
3) Apesar de pequenas variantes quanto à ortografia
e u111 pouco tan1bén1 quanto ao contexto e o sentido, fi­
cou a tradição do texto be111 constante e uni forn1e.
Ao texto orig:nal elas partes. aran1aicas do Antigo Tes­
ta1nento poden10s aplicar os 111es1110s critérios do texto
hebraico, 11111a vez que essas passagens se encontra1n jun­
to con1 os livros protocanônicos. Pas.sararn pelas mesn1as
vicissitudes das partes hebraicas e sof reran1 o 1nes1110 tra�
tan1ento, ta111bé111 no que se refere à pontuação e estabi­
lização do texto.
O texto original grego dos livros deuterocanônicos apre­
senta a rnes111a evolução histórica. da tradução grega do
.l\ntigo Testa111ento, da qual ainda falaren1os. Os 111anus­
critos ararnaicos e hebraicos de Tobias e do Eclesiástico,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto ela Bíblia 103

achados en1 Qu111.ran, ainda não fora1n publicados, de


sorte_ que não pode1nos dizer nada de seguro sôbre os.
textos dos 111esn1os.

CAPÍTULO V

D.o texto original grego do Novo Testan1ento temos


n1ais de 2500 nian-uscritos, u111 grande nú1nero ele livros
usa,d os par,a leitura nas reuniões 1 i túrg_icas ( lecioná­
r: os) e in{uncras citações dos S,antos Padres. l)ara os crí­
ticos que exa111ina111 o texto reveste111-se de 1naior in1por­
tância os n1anuscritos en1 letras 111aiús.culas, 111ais de 200,
e os papiros, cêrca de 70. Se111 e1nbargo, poucos são os
antigos 111anuscritos que contenhan1 todo o Novo Testa­
n1ento. E111 geral contên1 frag1nentos ou certos livros ape­
nas.. listes ntunerosos textos autênticos fora1n classifica­
dos por diversos siste1nas. Hoje en1 dia, o 1nais usado é
o de C. R. Gregory ( t 1917). De acôrdo con1 êste sis­
ten1a designa111-se os manuscritos e1n letras 1naiúsculas
com algarisJnos árabes, antepondo-se-lhes u1n zero (por
exe1nplo 018). Para alguns dos 1nais i1nportantes e conhe­
cidos 111anuscritos, anterior111ente já designados com le­
tras ro1nanas ou gregas, conservou-se esta classificação
ao lado daquela de Gregory (por exemplo A== 02; C = 04;
I) = 05). Os 1nanuscritos e1n letras minúsculas recebe­
ra111 apenas algarisn10s árabes (por exe1nplo 13, 69, 124).
Os papiros recebe1n a abrev1iação P con1 algarisn10 ára­
be ao alto ( por exemplo P 38 , P 53 ) e o lecionário um 1 co1n
o respectivo nún1ero ao lado no alto ( por exe1nplo l 38 ).
Os 111ais i111portantes nianuscritos eni letras m1aiúsculas
1

são S == 01 == Codex Sinaiticus, descoberto por C. von


Tischendorf, nos. anos de .. 1844 e ... 1859, .no 1nosteiro de
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
104 IV O Texto da Bíblia

S. Catarina no 1nonte Sinai. Encontra-se hoje no Museu


13ritânico de Londres. E' do século IV.
A == 02: Codex Alexandrinus, do V século, ta1nbém no
1\1useu Br,itânico.
B == 03 : Coclex ·\raticanus, do IV século, na Biblioteca
Vaticana.
C == 04: Codex Ephrae1ni rescriptus, un1 assim cha­
rnado pali1npsesto do V s.éculo, na Biblioteca Nacional
de Paris.
D == 05: Coclex Ilezae Cantabrigiensis do V século, na
I1iblioteca Universitár.ia de Can1bridge.
Os jJapirus !) 5 , P 13 ; P 37 e p-rn, do terceiro século, são
irnportantes por causa de sua antiguidade. O 1nesmo se
diga dos papiros, charnados <le Chester-Beatty, bem como
elos fragn1entos de 12 códigos e1n papiro, n1ormente dos
1) '15-"17 do século III. O 1nais antigo papiro do Novo Tes­
ta1nento, até agora conhecido, é u111 pequeno fragmento,
oriundo elo Egito, contendo a passagem de J o 18, 31-33.
37s, escrito pelo ano 130, poucos decênios após o término
do evangelho de S. João. Acha-se guardado en1 Manchester
(P s 2 ). Outro ainda, descoberto há pouco tempo, des.ig­
nado por P 66 , co1n a passagem de Jo 1-14 1 , escrito pelo
ano 200, é conservado en1 Genebra ( Papyrus Bodmer
II). Comparando entre si os manuscritos, as citações dos
Santos Padres e as antigas versões, podemos for111ar a
seguinte idéia sôbre a história do texto ,do Novo Testa-
1nento. Apesar de concordar no essencial, há divergências
no texto, não nos sendo ainda possível reconstruir, co1n
segurança, o texto original do Novo Testamento. Procu­
rando pôr em orde1n siste1nática as variantes e coorde­
nando os textos críticos conforme sua precedência acha­
ren10s mais ou menos quatro forn1as de textos, bastante

1) Tambén1 dos e. 15-21 existem fragn1entos.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíblia 105

dí vergentes e independentes. São as diversas "recensões"


que já existira111 pelo ano 300:
a) A recensão de Alex.andria: Trata-se de u111a revi­
1

são do te.xto do Novo Testan1ento, feita e1n Alexandria


e tendo por base antigos 1nanuscritos be111 conservados.
Queria1n reconstruir o texto autêntico, prejudicado pe­
las 111uitas cópias., e parece que conseguira111 êste intento.
E' a forn1a que 1nais se aproxin1a elo original. Cha1nan1-
na de texto neutro.
b) O texto Ocidental: E' assin1 eha111ado por ser prin­
ci.paltnente aproveitado pelos Santos Padres na Igreja Oci­
dental, isto é, na Bíblia latina e nos 111anuscritos grego­
lat;nos.. Confrontando-o con1 o texto Alexandrino nota-
1110s certas a1npliações e lacunas. Relatan1 algun1as pas­
sagens de 111aneira por den1ais livre. Alguns sábios jul­
ga1n ser ê�se o 1nelhor texto, que 1nais se aproxima do
protótipo. Contudo 1is.so é pouco correto; não obstante
ofereccu certas variantes notáveis que talvez be111 se apro­
xin1en1 do texto original.
c) A recensão cesaireense: Foi propagada por Orígenes
de Cesaréia na Palestina e se reporta, provàveln1ente, à
tuna revisão feita no Egito na pri111eira metade do III
século.
d) A recensão a:ntioqueno-biz,ant,tna.: Esta for1na su­
rlantou, aos poucos, todos os outros textos na Igreja Ori­
ental, tornando-se a for1na predo111inante. Por se ter e1n­
pregado na edição geral do Novo Testan1ento cha1naram-
11a de I(oiné.

B. AS 1-\NTIGAS VERSÕES BÍBLICAS

A disper�ão do povo judaico por grande parte da Ásia


Anter1or e do Egito, tornara necessária a tradução do An­
tigo Testa1nento já e111 ten1pos anteriores ao cristianisn10.
Pois as con1unidades dispersas não falavam mais o he-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
106 IV O Texto da Bíblia

braico, e sin1 o aran1aico e 111ais tarde, 111or1nente no Egi""'


to, o grego. A Igreja cristã aceitou dos judeus a tradução
grega do Antigo Testa1nento, e Ela 111esn1a se servia da
língua grega para seus trabalhos literários. Depois., quan­
do con1eçou o trabalho 111issi.onário entre os povos do
Mediterrâneo, cuidou que se fizessen1 novas traduções nas
línguas dos povos recén1-convertidos ao cristian}s1no.
})ossuín1os, pois, bo111 nú111ero de traduções bíblicas,
desde o III século antes de Cristo, fato êsse de grande
in1portância para a crítica elos textos. E' que retraduzin­
do o texto novan1ente para o hebraico ou confrontanclo-o
con1 o original pode-s.e conjeturar qual teria sido o texto
hebra:co, aran1aico e grego que o priinciro tradutor teve
c111 1não. As traduções, portanto, preenchen1 as lacunas
causadas, na cadeia das tradições dos textos, pela perda
dos 111anuscritos originais. O crítico do texto aprecia tan­
to mais un1a tradução quanto mais antiga e fiel f ôr ao ori­
ginal. E' claro que na pesquisa pelo texto autêntico pos­
sue1n 111ais valor as traduções feitas diretan1ente do ori­
ginal, do que aquelas traduções baseadas e1n outras tra­
duções da Bíblia.

CAPÍTULO VI

AS TRADUÇÕES GREGAS

Conta a assim cha1nada carta de A.r-isteas, u1na falsi-­


ficação do II século antes. de Cristo, que o rei egípcio
Ptolon1eu II }?iladelfo (285-247) pedira ao su1no sacer­
dote dos judeus e1n Jerusalé1n, Eleazar, para mandar-Ih�
homens doutos a fin1 de traduzir para o grego a Lei de
1\'1oisés, isto é, o nosso Pentateuco. O fin1 era de poder
assin1 incorporar esta obra tão célebre na sua biblioteca
en1 Alexandr,ia. Continua dizendo a carta que_ então.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I\T O Texto da Bíblia 107

Eleazar 111anclou 72 ho111ens, acabando êles en1 72 dias o


trab�lho ele que foran1 incun1bidos. Por causa dêsses 72
hon1ens é que a tradução era chan1ada a tradução "dos
setenta e dois", ou breven1ente, dos "setenta", e1n lati111
Septuaginta ( abreviada freqüenten1ente assin1: LXX).
I�sta narração, durante 111tlito ten1po, passou por autêntica
e fidedigna, e o filósofo judeu I◄ilo de Alexandria acres­
centou ainda outros traços legendários segundo os quais
os 72 sábios ter,ian1 111orado e111 celas separadas, tradu­
zindo cada un1 todo o f>entateuco, independente111ente,
rnas ern concordância verbal. Os Santos Padres eran1 da
opinião de que os sábios. gregos tivessen1 traduzido todo o
Antigo rfesta111ento e não sô111entc os cinco livros ele
l\1oisés. Eis o rnotivo por que o no1nc "Septuaginta" foi
"'
apLcaclo a todo o Antigo 1 esta111cnto grego, en1bora es­
ta des1ignação, originàrian1ente, só se ligasse ao Penta..,
tcuco. Na realidade, fora111 os den1ais livros do Antigo
Testa1nento traduzidos só n1ais tarde por intern1édio de
vários tradutores. Quanto à origen1 da "Septuaginta" po­
de1110s, co111 bastante segurança, dizer o seguinte: Foi no
l�gito, e pelo ano de 250 antes de Critso, que o Pentateuco
foi traduzido para o grego. Até o ano de 130 A. C. ta1n­
bé111 os de1nais livros prot.ocanônicos fora111 transladados
para êste idion1a. O prefácio do Eclesiás.tico grego já su­
põe corno conhecida, pelo ano 130, a tradução da "Lei,
dos Profetas e dos outros Livros" Seguiam-se então os
livros deuterocanônicos, cuja tradução para o grego de­
ve ter sido acabada pelo f i111 do primeiro século antes
de Cristo.
A Septuagiinta não representa, pojs, un1 trabalho uni­
forn1e, feito de u1na vez, por 11111 sábio ou u1na equipe
de sábios de acôrdo co1n linhas con1uns, n1as ela consta
d e trad ucões 1 soladas. Daí a necessidade de avaliar e1n
separado o valor crítico de cada livro. I-Iá uns melhor tra­
duzidos do que outros, fato êsse que não per111ite fazer
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
108 IV. O Texto da Bíblia

un1 juízo global s.ôbre o caráter da Septuaginta. A suposi­


ção de teren1 ex:sticlo, no ten1po anterior ao cristiantismo,
diversas traduções gregas, não é de se rejeitar incon­
sicleradan1ente, ao 1ncnos no tocante a certos livros; pois
a divergência entre os 111anuscritos é tal, que alguns sá­
bios os julgan1 provenientes de traduções diferentes.
No te1npo de Cristo, ao 111enos, só existiia de cada li-
vro do r\ntigo Testan1cnto u1na t radução pr�don1inante,
111esn10 se anterior111ente tivesse havido várias versões in­
depe11dentes.. A Igreja aceitou o Antigo ,..f esta1nento nessa
f or111a grega e ass.1111 expressou sua conv,icção de que a
Septuaginta, apesar das falhas lingüísticas, conhecidas
ta.n1bén1 aos Santos I=>adres, é a interpretação autêntica
da revelação do Antigo Testarnento. Mesmo entre os ju­
deus da dispersão ela gozou de grande consideração. Por
isso não nos ad1nira1110s que tanto os judeus co1no os cris­
tãos ventilassen1 a questão se a Septuaginta era inspirada
ou náo. As lendas, espalhadas por F'ilo, referentes à ori­
gen1 da tradução grega, favorecian1 aquêles que respon­
clia1n a esta questão ele n1aneira af-irn1ativa. Pertencia1n
a êsse nú111ero Justino, Ireneu, Clemente Alexandrino,
Cirilo de J erusalé1n, An1brósio, I--Iilário e Agostinho. A
Igreja, poré1n, nada decidiu. En1 todo caso, no que se re­
fere aos livros deuterocanônicos, deverá ser considerada
co1no canônica e, por iisso, inspirada a for1na do texto
grego até agora por nós conhecida.
Intensificando-se as disputas literárias entre cristãos
e judeus, a Septuaginta perdeu 1nais e mais seu renome
junto aos rabinos. Enquanto os teólogos argun1entava1n
à base da Septuaginta, os rabinos s.e obstinava111 no texto
hebraico, o qual, segundo dizia1n, fôra deturpado na tra­
dução grega. A Mischna, em Sofer,im 1, 7, cita a opinião
de un1 rabino elo segundo século, que considerava a tra­
dução da Lei l\1osaica para o grego u111 pecado igual,
en1 gravidade, ao da ereção do bezerro de ouro. Por isso
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
l\l O Texto ela Bíblia 109

estabeleceu o oitavo d:a do 1nês Tebet con10 dia de je­


j 11111 e penitência; pois, nesse dia, os judeus ele Alexandria
festejava1n a come111oração dessa tradução. Como, porém,
tan1bérn os judeus, se quisesse1n propagar e defender sua
religião no 111undo hGlenístico, não podia111 prescindir ele
0111a versão grega do Antigo Tes.tan1ento, co1neçara1n a
fazer novas traduções a partir do segundo século depois·
de Cristo.
No reinado do i1nperador Adriano (117-138) o pro­
sélito /lqu.ila de Sínope fêz un1a tradução na qual, de 1na­
neira rnecânica e irracional, traduzia palavra por pala­
vra. Con10 hon1en1 culto que era, certa111ente sabia elas
deficiências de sua obra, contudo, era sua intenção dar
aos fiéis de língua grega, e talvez tan1bén1 aos pagãos
un1a cópia, a mais fiel possível, do original. E1nbora tal
tradução devesse ser bárbara aos ouvidos gregos, não obs­
tante conseguiu gozar ele alto prestígio entre os judeus.
Para a crítica <lo texto ser�a n1uito útil, caso tivesse sido
111elhor conservada.
No te111po do in1-perador Cô111odo ( 180-92) apareceu
a tradução do proséLito Teodocion de Éfeso. Distingue­
se pelo cuidado co1n que foi f e�ta, pela fidelidade e ele­
gância. Parece que Teoclocion confrontou a Septuaginta
co1n o original hebraico, adotando-a 11-0 que achava boa.
Son1ente nas passagens, e111 que a Septuaginta apresentou
ialha de tradução, de estilo ou ainda de fidelidade, por
outra, onde ela apresentava lacunas, aí fêz uma nova e
boa tradução. E' ele la1nentar tan1bém a perda dessa obra
en1 grande parte. Apenas o I ..i vr.o de Daniel se conser­
vou, por haver suplantado nas edições gregas criistãs a
tradução 111enos boa dêste livro feita pela Septuaglnta. 1
lhna terceira tradução apareceu n1ais tarde, no impé­
rio de Septín1:o Severo ( 193-211). Era da autoria de u111
1) Alguns cientistas contudo duvidam que o livro de Daniel
da nona edição da Scptuaginta seja de Teodocion.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
110 TV O Texto da Bíblia

cert.o Shnaco. F'oi feita en1 botn grego, poré1n con1 refe­
rência ao texto apresenta arbitrariedades e liberdades
exageradas. l�xiste apenas e1n fragn1entos.
1-\.crescen1 a·incla outras traduções, 111enos conhecidas;
infeliz111ente, elas 111es1nas ten1os tão só pequenos frag­
n1entos. 1 :stas traduções poster:ores exercerarn un1a in­

fluência perturbadora sôbre os a111unuenses que ,copiaran1


a Septuaginta. J�ntraran1 variantes estranhas no texto.
l)aí tornara111-se necessárias 'várias recensões co1n a fina­
lidade ele reconstruir se1n êrro o texto original elos "se­
tenta"
O trabalho 111ais perfeito neste sentido foi en1preen­
clido por Orígcne.s, sábi.o de .c'\.lcxandr1ia, entre os anos 228
a 240. Êle pode ser considerado o pai da crítica bíblica.
1�:111 50 volu111es in-folio, con1 1nais de 6000 páginas, es­
creveu a "J-l éxapla" isto é, a "Sêxtupla" Era un1a edi­
ção gigantesca ela Bíblia, na qual, en1 6 colunas parale­
las se trazia o texto hebraico, u111a cópia elo hebraico en1
letras gregas, a tradução de 1-\quila, de Sín1aco, da Sep­
tuag1inta e afinal a de 'T'eodocion. 1�111 a1gun1as partes ela
Tiíblia até ajuntou un1a sétin1a e o:tava coluna con1 outras
traduções gregas. Revisão especial 111ereceu a coluna con1
-0 texto da Septuaginta, o qual foi editado depois, sepa­
rada111ente, co1n o non1e do texto da Héxapla. As 4 colunas
ccn1 textos gregos foran1 por Orígenes ainda copiadas
à parte, na assim cha1nacla "Tétrapla" Co1n exceção, po­
rén1, do texto revisi,onado da Septuaginta, perderan1-se
tanto a I-Iéxapla con10 a Tétrapla. São Jerôni1no pôde
ainda consultar as obras na biblioteca de Cesaréia pelo
ano de 410. I)rovà veln1ente foi esta biblioteca destruída
por ocasião da invasão árabe e1n 638.
Mesn10 o texto ''hexaplácico" da Septuaginta sofreu
novas deturpações, devido às n11ütas cópias que se fi­
zera111, de sorte que outras revisões se tornara111 precisas
então. Das diferen tes recensões e edições, feitas antes e
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto ela Bíblia 111

depois ele Orígenes, possuín10s1 inún1eros 111anuscritos.. Al­


guns 111ais ou rnenos inteiros, escritos e111 papiro, antes de
Cristo. Os n1anuscritos n1ais in1portantes em letras 111aiús­
culas são os n1encionados acin1a, quando se falou do tex­
to original elo Novo �r esta1ncnto, tendo a seguinte abre-.
vi ação : S, A., T3 e e�.

CAPÍTULO VIT

AS TR1\])U�()T�S Al{AMAICAS

Na I)a]estina, Síria e I3abilônia aconteceu, já nos ten1-


pos anteriores a Crist,o, que o hebraico cedesse lugar ao
aran1aico, con10 língua vernácula. A 111aioria dos 111e111bro�
das co111unidades já não entendia o hebraico, tornando .:
se, por isso, necessário traduzir ,o Antigo Testan1ento para
o dialeto ara111aico respectivo ele cada país. Isso se deu
a priincípio, não por escrito, 111as oraln1ente, pois o leitor
na s:nagoga traduziu-a Logo do texto hebraico para o ara­
n1aico enquanto ia lendo, intercalando algun1a explicação
(paráfrase) assin1 que julgasse oportuno. Tal tradução
recebeu o no1ne ele 1�argwni. Nas diversas escolas dos es­
cribas firn1aran1-se aos poucos. certas traduções, que cir­
culava1n entre .o povo, sendo u1nas 111ais fiéis, outras 1nais
livres. Apenas pelo fitn do I século co1neçou-se a fixar
por escr,1to tais traduções orais.
O 1'argun1 de 111ais idade, fixado por escrito, é o de
()nlielos; é a tradução do f.> entateuco. Esta versão é bas ...
tante fiel e te1n p,oucas paráfrases. Alcançou 1nuito pres-·
tíglo entre os judeus, entrando na Massorá e recebendo
a pontuação.
De data un1 pouco n1ais recente, deve ser o Targun1
de J onata.n, referente aos profetas. Conté111 1nuitas pa­
ráfrases ele caráter devoto.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
112 IV O Texto ela Bíblia

Conhecen10s ainda alguns outros Targun1in. Do Targum


111ais espalhado, no ten1po de Jesus, na Palestina, o assim
cha1nado Targum pialest-i.nense, até há pouco, só possuía­
n10s fragn1entos reduzidos. Por iisso chan1avam-no de
"Targun1 de fragn1e11tos" f:ste non1e, porén1, hoje e111
clia já não se justifica 111a:s, porquanto, e111 1954 num
código da Biblioteca Vaticana, achou-se quase inteira-
111ente êste 1"argun1, até agora despercebido. Apresenta,
contudo, 1nuitas variantes de caráter piedoso. Se de 11111a
parte se torna 111enos interessante para a crítica do texto;
por outra, adqtrire valor para que111 estuda o Novo Tes­
tan1ento, já que ten1os aí o texto 111ais extenso na língua
pátriia ele Jesus e dos Apóstolos, isto é, no dialeto ara-
1naico palestinense.
Para a crítica do texto é ainda i1nportante o Targun1
samaritano, que é 11111a tradução do Pentateuco sa111ari­
tLt110 no dialeto san1aritano-ara111aico.

CAPíTLTLC) VTII

OUTR1\S \i ERSõES ORIENTAIS

Os habitantes aran1aicos nas. regiões da Síria e do


Iraque atual, que se tinha1n convertido ao cr1st1anisrno,
desenvolveran1 o seu dialeto de tal Íor111a que veio a cons­
tituir tuna língua própria, 111ais culta, com escrita própria
ta1nbé111. E' a língua síria.
Ko ten1po de Cristo, havia entre os sírios notável 1110-
vlmento de proselitismo judaico. Talvez re1nonten1, a ês­
tes te111pos, os inícios da versão síria do Antigo Testa-
111ento. I�n1 todo caso, existe, a partir do I século depois
de Cristo, u1na tradução síria da Bíblia, feita do Antigo
1'es.tan1ento, sôbre o texto original hebraico. Foi, univer-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíblia -113

saln1ente, aceita pelos sírios cristãos, sendo por isso cha­


tnada ele "universal", en1 sírio: P eschitta. E' uma das 1ne­
lhores traduções do Antigo Testa1nento. A linguagem da
Peschitta veio a tornar-se a língua pátria dos sírios. Es­
td tradução, ainda hoje en1 dia, constitui a Bíblia síria,
usada na liturgia. Con10 tradução que era do hebraico,
restringia-se, a princípio, aos livros protocanônicos. Os
livros deuterocanônicos e o Nov.o Testamento, só alguns
séculos 1nais tarde, entrara1n na Pes.chitta, sendo tirados
de outras traduções sírias. Pelo ano 172, um certo Ta­
ciano elaborou un1a concordância dos eva,ngelhos em lí,n­
gua síria, o assin1 cha1nado Diatéssa1ron en1 que nos deu,
à 1não dos quatro evangelhos, urna descrição coerente da
vida de Jesus. Desde o século terceiro, existe uma tra­
dução dos evangelhos, separadan1ente. Só no século quar­
to, teve iníeiio a tradução de todo o Novo Testamento,
depois incorpora-do à Peschitta. Os cis1nas. na Igreja síria
deram ocasião a que se f izesse111 ainda outras traduções,
as quais ta1nbé1n tiveran1 ·por base a Bíblia_ grega, no que
se refere ao Antigo Testamento.
Os demais povos .orientais, convertidos ao cristianisn10,
tiveram, posteriormente, todos sua edição bíblica especial.
E111 geral trata-se de retraduções do grego, às vêzes ta111-
bén1 da Bíblia síria; as mais notáveis são:
a) diversas versões cápticas do II e III séculos ;
b) a versão etíope do IV e V século;
c) a versão g ótica do bispo ar1iano úlfilas (pelo ano
.
de 380);
d) várias versões ,ar11nêni.as desde o sécul.o quinto;
e) a versão geórgi.ca desde o século quinto;
f) a versão em esfa,vo-a,ntig o dos apóstolos dos esla­
vos S. Cirilo e S. Metódio (pelo ano 850), ainda hoj.e,
en1 dia usada na liturgia dos eslavos orientais e meri­
díonaiis.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
114 IV O Texto da Bíblia

CAPí1'ULO IX

A Bí.BLI.i\. L1\.1"'INA

Não possuín10s notícias exatas sôbre o coniêço da t1�a,


d,ução la-tina. I�m Ron1a 111esn1a, só be1n 1nais tarde sen­
tiu-se a necessidade <le tal versão, visto que aí se falava
o grego por n1uito ten1po ainda. Outra foi a situação na
África e Espanha, onde a língua grega era quase ignora­
da. Aqui, logo depois. do início da evangelização, surgiu
o problen1a da tradução latina. 1\té hoje, porén1, não sa­
ben10s ao certo quando e onde se f êz tal tradução, até
nen1 saben10s con1 segurança se, em diversos lugares, hou­
ve traduções diferentes, si1nultâneamente, ou se houve
apenas tuna que, posterior1nente, se tornou a predon1.inante
na parte do In1pério Ron1ano, onde falavan1 -0 lati1n. Já
os 111ártires de Scili na África, pelo ano 180, tiveran1 con­
sigo rolos, contendo textos bíblicos. Por se tratar de gen­
te sin1plfs do povo, é (le supor que os textos estivessen1
escritos en1 latin1.
Os prin1eiros indícios. certos da existência de un1a ver­
são latina ten10s en1 Tertuliano e Cipriano, isto é, do III
século. Contudo, já S. Agostinho se queixa de que os
"intérpretes", os tradutores latinos são incontáveis, e por
isso 111es1110, reinava grande confusão a respeito dos tex­
tos bíblicos. Êle n1es1110 rccon1enda a seus leitores a us.a­
re111 a Ítala. Infelizn1ente, não saben1os se se tratava ape­
nas de várias edições, e111bora algo divergentes de tuna
padronizada ou se eran1 traduções inteira1nente indepen­
dentes entre si.
Daí será 1nelhor usarn1os para a Bíblia latina antiga
a expressão "Vetus La.tina", isto é, a edição latina anti­
ga, e deixando aberta a questão de que se houve várias
traduções independentes ou apenas u1na. Contudo, parece
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
JV. O Texto da Bíblia 115

be111 provável tere111 existido un1as versões anteriores, tan­


t,e. na África con10 na fi,spanha e na Itália, ao menos
quanto ao Novo Testa1nento e alguns livros do Antigo,
con10 os Sahnos, por exen1plo.
Ccrta111ente era a "Vetus Latina" u1na tradução sôbre
a base grega. I�ra, pois, quanto ao Antigo Testa1nento;
tuna retradução, fe:ta da Septuaginta. Infeliz1nente ten1Os
disso apenas frag1nentos, en1bora nun1erosos, que preci­
Sé-Ul1 ser penosa1nen te colecionados e ajuntados. A pri­
n1cira coleção dêste gênero foi �fetuada, entre os anos
1743-1749, pelo paclre francês I-)edro Sabatier, da Con­
gregação elos Maurinos. O funda111ento de un1a nova co­
leção foi colocado por João Denk (·r 1927), cura du111a
paróquia de lVIunich. Conseguiu aprontar 111ais de um n1i­
lhão de fichas, que foran1 agora entregues à abadia de
l1euron, onde os be11editinos as aproveita111 para a nova
cc.Cção da "\Tetus Latina", que está a sair do prelo.
Devido à confusão reinante a respeito dos textos bíbli­
cos latinos, o papa Dfunaso I ( 366-384) decretou no sécu­
lo lV tuna revisão eíiciente, a fin1 de que a Igreja Latina
tivesse à 1não tun texto unifor1ne. Jincarregou S. J erôni­
n10, afa111ado por sua erudição e pelos. prolongados estudos
bíblicos. Ê]c devia rever e corrigir a ítala, confrontando-a
con1 a Bíblia grega. Já e1n 383 apresentava êle o texto
corrigido elo Novo 'Jesta1nento. T )rocurou, enquanto pos­
sível conservar o antigo texto ]atino, corrigindo, apenas,
erros 1nanifestos, ou eli111inanclo incorreções estilísticas.
Logo en1 seguida corrigiu o saltério, confrontando-o con1
bons 1nanuscritos da Septuaginta. T�rn 384 tan1bén1 isso
estava c.oncluí do. Até há pouco, era opinião geral que o
saltério, corrigido por S. J erôni111,(), fôsse o assin1 cha-
1nado Ps.alteriu1ni R 0111.anui,n, o qual foi usado para a 1naio­
ria dos textos de s_a ln1os en1 nossos 111issais , e que hoje
ainda é recitado pelos cônegos de S. Pedro. Hoje, porén1,
1 11uitos sábios julga1n que o saltério de S. J erôni1no se

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
116 IV O Texto da Bíblia

perdeu e que o I _) salteriu111 l{o111anun1 pertença à \T etus


I....at:na, anter1i.or a S. Jcrônin10.
Tão logo tinha concluído a edição do saltério ( 384),
viajou S. J erônitno para a Palestina, a fitn de consultar,
para s.cus trabalhos ulteriores, a I-Iéxapla de Orígenes.
-.1\í êlc notou ser necessária outra revisão do saltério, ten­
do co1110 ponto de referência o texto da I-Iéxapla" ele Orí­
genes. :E,111 387 ta111bén1 êste trabalho estava acabado, e
esta edição granj cou Logo 111uita si1npatia, obtendo boa
acolh:da e1n tôda a Igreja latina. Já que ela conseguiu
�iuplantar, na Gália, isto é, na atual I;rança, as outras tra­
duções dos s.alrnos, achando depois a preferência no reino
dos francos, ela é cha1nacla JJsaltcrtiuni Gallicanuini. En­
trou en1 nossos breviários, e 111ais tarde, tornou-se o sal­
tério oficial da Liturgia para tôda a Igreja, co1n exceção
do cabido de S. })eclro en1 l{o1na. Sómente desde 1945
é o Psalteriu111 Gallicanun1, aos poucos, substituído por
cutra tradução, fe:t-a a 1nanclado ele Pio X.II, isto é, pelo
"l) salteriu111 f>iantun" ou "I> saltcriu111 Vaticanun1"
Depois da conclusão do saltério, J erônin10 reviu ou­
tros livros do Antigo 1"estan1ento, tudo de acôrdo co1n a
Septuaginta, 111enos o l..ivr,o de Daniel que êle confron­
tou com a edição de Teodocion. Desta revisão só se con­
servaran1 os livros deuterocanônicos, 1 e 2 Mac, Bar, Sab,
I�:clo, un1a vez que êle depois não se ocupara 111ais c.0111
êstes livros. T'ais livros foran1 incluídos. na sua últin1a
revisão, na Vulgata.
Quanto 111ais o grande doutor se ocupava na Palestina
co1n a Bíblia hebraica - pois que aprendera a fundo o
hebraico con1 auxílio de professôres judeus - tanto 1nais
��entia vontade de traduzir o Antigo Testarnento segundo
a "hebraica veritas", segundo "a verdade hebraica", istà
é, <liretan1ente elo hebraico. Já en1 390 aprontara os Li­
vros dos Reis. No ano seguinte editou o saltério pela ter­
ceira vez, agora segundo o texto hebraico: é o "Psalteriun1
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Díblia 117

iuxta Hebra-eos", do qual possuín10s vários 111anuscri­


tos con1pletos. Mas êste saltério não foi aceito universal­
rncnte e não entrou -na Vulgata. Isto é la111entável por se
tratar de tuna versão be1n fiel e e1n bo111 lati1n, apresen­
tancl.o vár;as vantagens. sôbre o Psalteriu111 Gallicanun1.
Até o ano 405, fôra concluída a nova tradução dos livros
deuterocanônicos. Seguiran1-se, entã.o, os livros de Tobias
e Judite, segundo a base aran1aica, e os trechos cleutero­
canônicos de Daniel e Ester, segundo a bas.e grega.
S. J erônirno 111esn10 confessa ter traduzi�Io certas par­
tes da Bíblia de 111aneira 111uito rápida e superficial. Não
obstante, dcven1os dizer que trabalhou 111uito conscien­
C-iosarnente. ·usou bons 1nanuscritos hebraicos e gregos e
é:'� traduçã,o representa 1111 1 elos 111elhores trabalhos dêste
gênero da antiguidade. A Igreja latina, con1 111uita razão,
aceitou esta tradução do Antigo Testa1nento. 1-<.ejeitou,
i11feliz111ente, o "I)salteriu111 iuxta I-Iebraeos", be111 c.01110
a revisão do No-yo 1�estan1ento. Sua Bíblia oficial para
a liturgia é a Vulgata. Não há 111otivos, co1no alguns ze­
losos exagerados querc111, ele substituí-la por nova tradu­
�:ão 111oderna. Só se in1punha a nova versão do saltério,
feita c1n 1945, porque o l) salter1iun1 G-allicanu1n apresen­
tava realn1ente grandes falhas lingüísticas e porque o
"Psalteriun1 iuxta Hebraeos" não tinha entrado no uso
tradicional da Igreja .
.L,\_ Vulgata coube a 1nesn1a sorte da Septuaginta e da
"\letus Latina" Quanto 111ais se propagava e copiava,
1r1ais se 111ultiplicava1n os erros dos copistas.
l1azia111-se até correções pouco feLizes. Desta forn1a
apresenta o texto da ,rulgata tuna história quase tão con1-
pltcada con10 a do original das antigas traduções. Pelo
f in1 da Idade Jviédia e no con1êço da Idade Nova, apa­
rcceran1 ainda outras traduções do original, contribuin­
do para aumentar a confusão en1 tôrno do texto latino
da Bíblia.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
118 IV O Texto da Bíblia

Por êste motivo, viu-se o C..oncílio de Trento na contin­


gência de decidir algo referente ao uso do texto latino
bíblico. Na quarta sessão do dia 8 de abril de 1546, o
Concílio deu as seguintes itnportantes deter111inações:
1) O decreto sôbre a extensão do cânon, a que já nos
ref eri111os '
2) O decreto que declara a Vulgata con10 autêntica
entre os vár,ios textos latinos ela Bíblia;
3) O decreto referente à edição oficial da Vulgata.
l\1aior interêsse para nós oferece o decreto relativo à
autent-iqida,de da Vulgata.. Êle cleter111ina "que justan1ente
esta antiga e universahnente propagada edição ( vetus
et. vulgata editio), reconhecida na Igreja por longo uso
de tantos séculos, seja tida co1110 autêntica en1 preleções
públicas, discussões., pregac:ões e conferências, de 1nodo
que ningué111, sob qualquer prctêxto, ouse ou presu111 a
rejeitá-la" (EB 61).
Êste decreto foi f reqüenten1tntc n1al interpretado, co1no
se para a Igreja o texto original não fôsse nor1nativo,
e que somente a Vulgata fôsse considerada corno a Bíblia
elos católicos. Dos relatórios, poré1n, do Concílio clara­
tllente se evidencia que a questão não era de preferir a
\Tulgata ao original, n1as se tratava de saber:
a) qual, entre as edições latin1as de então, seria reco­
nhecida, oficialmente, na liturgia, nas escolas e nas dis­
cussões teológicas ;
b) qual das traduções latinas reproduziu o texto inspi­
rado de tal for1na, que se pudesse segura1nente confiar
e1n seu caráter de revelacão sobrenatural.
:,

Tôdas as dúvidas sôbre a interpretação desta deter111i­


nação do Tridentino foran1 afastadas, pela encíclica bí­
blica de Pio XII, que assin1 escreve: "No uso do texto
criginal, criteriosan1ente apresentado, ninguén1 deve ver
un1a falta contra as sábias prescrições do Concílio de
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV O Texto da Bíblia 119
"'
1 rento sôbre a Vulgata latina. Pois, de acôrdo com as
fontes históricas, consta teren1 os presidentes do concí­
lio recebido a incu-1nbência de, e1n 110111e do sagrado sí­
nodo, ped,ir ao papa. . . que se apresentasse pritneiro e
depois editasse un1 texto latino 1nelhorado, enquanto pos­
sível, depois tan1bérn un1 texto grego e un1 texto hebrai­
co. Se o Concílio de Trento queria fôsse a Vulgata
aquela tradução latina que todos usarian1 con10 autên­
tica, então, con10 todos. sabe1n, vale esta determinação,
son1cnte, para a Igreja Latina, referente ao u_so oficial
ela Sagrada I�scritura. A autoridade e a i111portância dos
texto s originais, disso não se duvida, não são de forn1a
algun1a ditninuíclas. Pois nã.o se tratava então dos textos
originais, n1as s.in1, das traduções latinas ern circulação.
l�ntre estas. ela devia ter a prin1azia, consolidada que
estava na Igreja pelo longo uso através de 111uitos sécu­
los. Ês.te uso prolongado de111onstra que ela, assi1n co-
1110 a Igreja a entendeu e a entende, está i senta de qual­
quer êrro en1 assuntos de fé e de costun1es, de n1aneira
que ela pode ser usada, conforn1e atesta a Igreja ela 111es-
111a, e1n disputas, preleções e pregações, segura1nente e
sen1 perigo de errar. Esta não é, portanto, etn primeira
linha, uma autenticidade crítica, n1as antes jurídica. Por
isso, a autoridade da Vulgata não proíbe, de forma al­
gun1a, de, e1n questões de doutrina eclesiástica, de1nons�
trar e confirn1ar esta 1nes1na doutrina ta1nbé1n pelo tex­
to original, 111as até quase o exige. Tão pouco ela proí­
be de utilizar eventual111ente os textos originais, para elu­
c;_dar n1elhor o verdadeiro sentido da Sagrada Escritu­
ra. O decreto do Concílio de Trento tambén1 não se opõe
a que se façam traduções para o vernáculo, partindo do
original n1esn10, e isto para o uso e proveito dos fiéis e
u111a mais fácil con1preensão da palavra de Deus. . "
(EB 549).
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
120 IV O Texto da Bí:blia

Só no ano de 1592 executou-se o decreto do Concílio


de 'frento, relativo à edição de um texto autêntico da
\/ulgata. Apareceu, afinal, a edição oficial da Bíblia la­
tina, ·conhecida co1n .o non1e do 9ixto-Clen,i.e,ntina, e que,
até hoje, é reimpressa nas edições cos.tumeiras. Pio X,
por fin1, incu1nbiu a Orden1 Beneditina, e1n 3 de dezem­
bro de 1907, de preparar nova edição crítica da·"Vulga­
ta. E1n 1933 recebeu a Co1nissão encarregada dêste tra­
balho uma nova sede: a abadia S. Je1rônin10, perto de Ro-
111a. Já desde 1926, estão sa1indo volun1es e voltunes desta
n1onu111ental obra. Até agora, concluíra1n 11 volun1es ( Gê­
nesis até Cânticos dos Cânticos). Sen1 dúvida, passarão
1nuitos anos ainda, até finalizar-se tôda a obra.

CAP1TULO X

RESULTADOS DA CRiTICA DOS TEXTOS

Acaban10s de lancar um olhar sôbre a história bastan-


::,

te confusa dos textos e obtiven1os u1na idéia su1nária dos


principais 1nanuscritos ela Bíblia. Não raras vêzes levan­
ta-se a .objeção de que as discussões científicas sôbre o
texto bíblico nã.o passarian1 de mesquinhas intrigas e sub­
tilezas pouco proveitosas para a teologia e a cura pastoral.
Todavia, esta objeção é injustificada. Só o estudo crítico
do texto nos dev,olverá o texto verbal inspirado da Bí­
blia, corron1pido no correr do te111po por falhas e defeitos.
O tr.abalho ·para obter 'it:1n texto purificado, o m ais pos­
sível, não é sem esperança. A ciência da crítica do tex­
tc estatuiu, com o tempo, certos p,riincípios bem compro­
vados que lhe pern1iten1 confrontar as diversas variantes
dos manuscritos, con1parando-as entre si para deternti­
nar sua n1aior ou rrienor "fidelidade. Tai s regras são, ,por
exemplo:
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IV. O Texto da Bíblia 121

a) Un1a variante 111ais difícil deve ser preferida, na


1naioria dos casos, à outra 111ais fácil; pois o copista ten­
d� antes a tornar n1ais fácil un1 texto difícil, do que tor­
nar 111enos co111preensível u1n texto fácil.
b) Urna variante 111ais breve deve ser preferida à outra
1nais co111pricla ; pois., ao copiar, existe a tendência de
acrescentar un1a explicação a u111 texto difícil.
c) Un1a variante é tanto 111ais verossímil, quanto 111ais
cabahnente de1nonstrar as deficiências de outras variantes.
d) U111a variante que sugere certas tendências ou apa­
renta ser un1a correção, feita a propósito, deve ser re­
jeitada.
e) Un1a divergência no texto que coincida co1n outro
texto s.e1nelhante en1 outras passagens bíblicas, parece
ser un1a harrnonização forçada, e é se1n valor para a crí­
tica do texto.
f) A variante de un1 n1anuscrito, 111al ou superficial­
n1ente elaborado, torna-se, ao 111enos, suspeita.
g) A va1�iante que reúne a 111aioria de comprovantes
iguais 111erece ser preferida à outra, 111enos bem docu­
n1entada.
Co111 a ajuda clêstes critérios e considerando atenta­
triente todos os pontos de vista, pode o exegeta con1 al­
gu1na segurança considerar co1no 1inspirado o texto assi111
cxan1inado. En1bora não se conseguisse até agora escla.:.
recer tôdas as variantes, pode1nos, contudo, dizer, e111 boa
fé, que o texf.o d.a Bíblia fo-i fielnzente trains,rnitido ou ao
nienos poderá ser reconstruído. 1\ Bíblia, como fonte de
revelação para a nossa fé, é suf :cienten1ente garantida no
que se refere ao texto inspirado. Assi111, por exemplo,
calculou-se que, no Novo Testan1ento, apenas a milésin1a
parte conta como insegura. Quanto ao Antigo Testamen­
to, co111 efeito, a porcentagem será 111aior. Mas entre as
passagens n1enos garantidas figura111 poucas de in1por­
tftncia para a teologia. As verdades sôbre a fé e a 1noral
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
122 IV O Texto da Bíblia

acharn-se enunciadas não apenas e111 un1a, 111as en1 geral


e1n várias passagens, havendo quase sempre a possibili­
dade de confrontar e esclarecer u1na passagetn n1enos se­
gura com outras passagens. Pode111os, por conseguinte,.
constatar: A Bíblia conservou-se intacta, se não en1 tudo,
ao n1enos nos textos essenciais para a fé e a 1noral. A
integridade do texto cha111an1 os cientistas de Íntegrida­
de crítica, aquela do conteúdo é charnacla integridade dog-­
n1áti.ca. Desta últi1na hoje já te111os tôda a certeza; re-­
construir a prirneira s.erá a tarefa de trabalhos científi­
cos. I�111bora esta 111eta até agora não tenha sido atingida,.
e talvez nunca o possa ser plena111ente, conseguiran1 os
e�pecialistas avançar 111ui to nesta direção.
Desta for1.na, ta1nbé111 o trabalho árido e abnegado elo
crítico do texto afinal não só beneficia a teologia, 1nas
ta1.11bén1 a piedade, a cura pastoral e portanto a ahna dos
hon1ens. Poden10s apoiar as palavras do sábio anglicano
J?. J. A. Hort, quando diz: "Tudo o que ajuda nossa con1-
preensão ( da Bíblia) ajuda tan1bén1 à p,iedade e aos tra­
balhos (pastorais)" Pio XII se manifesta assi1n s.ôbrc
0 estudo crítico dos textos :
"O estudo crítico dos textos. . . conseguiu hoje e1n
d ia. . . tal estabilidade e segurança nos s.eus critérios, que
se tornou um instrtunento excelente para poder editar�
de 1naneira n1ais precisa e pur,ificada, a Sagrada Escri­
tura. E para descobrir, por outro lado, fàcihnente qual­
quer abuso. Não é necessário lembrar aqui. . . quanto
a Igreja estimou, desde o início tal estudo . . Êste tra­
balho prolongado nã,o só é necessário para entender re­
tan1ente as Sagradas Letras, oriundas de inspiração di­
vina; êle tambén1 constitui - e todos devem sabê-lo -
un1 dever iimperioso de gratidão que deve1nos à divina
Providência por ter 111andado êstes livro s qual carta en.:
viada pelo IJai aos filhas lá do trono de sua 1naj es.tade"
(EB 548).
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PAR.TE V

O SENTIDO DA Bíl3LIA

]�sclarecido, con1 certa segurança, o texto verbal da


I-Hblia, surge a pergunta: O que quer o texto dizer-nos?
O conteúdo :\çl�� i'.:içl�_if.-·· con1unicadas pelo autor, cha111a-
1T10s o sentido elo livro. À sen1clhança de outros livros,
poden1os tan1bé111 na Bíblia perguntar por seu sentido. A
ciência dedicada a descobrir o sentido da Bíblia e a ela­
borar norn1as segundo as quais deverá ser procurado,
cha111a-se herntenêutic,a bíbli-ca. O têr1no ve1n da palavra
grega he11nieneus == intérprete. E', pois, a ciência que en­
sina a "interpretar" correta111ente a palavra de Deus, tor­
nando-a cotnpreensível aos ho1nens de cada época. Não
nos é possível, nos 111oldes dêste livro, dar un1a hern1e­
nêutica co1npleta. Apenas podemos indicar alguns pontos
essenciais.

CAPíTULO I

SENTIDO LI'rER1\L E SENTIDO PLENO

Os teólogos disti11gue111 na Bíbli a um sentido verbal ou


literal ( em latim: sensus litteralis), u1n sentido esp�iri­
tual ( sensus spiritualis), um sentido típlco ( sensus
typicus) e desde há pouco, ta1nbé1n un1 sentido pleno
( sensus plenior) . No que se refere à definição e ta111-
bé1n à relação recíproca dêste "sentido", há divergências
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
124 V O Sentido da Bíblia

de opiniões. Uns aceitan1 na sagrada Escritura vários


sentidos diferentes, 111orn1ente o sentido "verbal" ou lite­
ral, proveniente elo autor hu 111ano e outro espiritual, pro­
veniente ele Deus.. Outros acha111 que há pràpri-amente
u1n único sentido na Bíblia, aquêlc j ustan1ente que Deus
intencionou. A discussão acêrca desta questão se acendeu
pr:ncipaln1ente en1 países ron1ànicos, acluzindo-s� distin­
ções sutis e, às vêzes, irrisórias, sen1 que se tenhan1 obt: do
resultados, universaln1ente, aceitos.
Se quiscrn10s contudo aceitar a I3íblia con10 a palavra
ele Deus que "se encarnou no livro", e se, con10 I)io XII,
co1npararn10s a orige111 da Bíblia à encarnação do Verbo,
então teren10s ele aceitar a unidade do sentti-do da Bíblia.
Sendo Deus o autor princ:pal ela Bíblia, as pala�ras. dos
escritores hu111anos tornara111-se tan1bén1 un1 veículo elo
que Deus quer1a dizer. 1�111 outras palavras: Devernos
Ln.tender o sentido da Bíblia de tal 111aneira que Deus iden­
ffique a sua vontade de con1unicar algo con1 a de Moisés,
de David, de Isaías, de l\tlarcos. ou de Paulo, ao n1enos
enquanto essa vontade possa ser con1unicada aos auto­
res hun1anos participantes. Então deve1nos contar que o
alc�nce ele t1111a asserção bíblica pode ser be1n 1naior elo
que o autor hun1ano pensara ao escrevê-la.
Aproveitando tuna con1paração já aduzida, pode111os
talvez exp1icar a relação existente entre o sentido inten­
cionado p.or Deus e o sentido dado pelo autor hu111ano, ela
seguinte forn1a: Se para a elaboração de un1 relatório
extenso se servir algué1n de vários secretários e especia-
1: stas, pode suceder que o colaborador individual se de­
sinctunba be111 de sua tarefa, sen1 ter noção plena do al­
cance de suas palavras, no conjunto do trabalho. Talvez
não tenha conseguido u111a visão do conjunto e da inten­
ção do 111andatário, 9u apenas a teve i1nperfeitan1ente.
O s.u-per,ior ao subscrever o relatório elaborado, reconhe­
ce-o co1110 expressão de suas idéias. Con1 isso se identi-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V O Sentido ela Bíblia 123

fica con1 as asserções ele seus colaboradores, e confere


ao trabalho todo 11111 alcance por êles desconhecido e que
s.ó posteriorn1ente podia111 concluir do trabalho acabado.
De 111oclo análogo, poden1 as palavras da BíbEa escritas
por aut.or hu1nano, receber u111a significação 111aior, dentro
do conjunto da revelação bíblica. Signif,icação essa, igno­
ra<la pelo hagiógrafo individual. I�nquanto êste sentido
da I�íblia tiver estado ao alcance do autor hu111ano, será
cha1naclo sentido literal ou verbal. O sentido intencionado
por Deus, 111as oculto ao escritor bíblico que colaborou ,.
será chan1ado s.enticlo espir,itual, ou 111elhor, sentido pleno.
Todavia, não se deve111 separar, reahnente, êstes dois
sentidos con10 se fôssen1 inteira111ente independentes. A
distinção será apenas virtual ou lógica; pois ·uni sentido
não existe se1n o outro, e oJnibos perfaze1rn o sentido to­ 1

tal da Bíblia. Van10s estatuir as seguintes defánições:


a) O sentido literal na Sagrada Escritura é o 1)i,€tf!f::-: .
te às palavras do escritor, dentro do conteúdo 1·1111ediato
iiâ ··-zii)fô � ,_.... --
b) O sentido pleno é pr<'>prian1ente o sentido único ela
I��;critura, en.quan,fo êste sentido f ôr jJOr J)eus coniunicada
às palo'Vras, te111,do e1n 'vista o conjunto da revelação.
A expressão "sentido espiritual" devia ser evitada por
srr an1b1gua. Poderia indicar que só Deus era capaz de
conferir às palavras da Bíblia un1 significado religioso
e teolôgican1ente irnportante. }J a realidade, tan1bén1 o
próprio autor hun1ano queria escrever un1 livro religioso
e doutrinário.
() sentido espiritual, ass.in1 co111preendi<lo, deixaria de
ser un1 característico da Bíblia en1 relacão a outros li-_,

\'ros. J__.eitura edificante e instrução teológica també1n


�e acha111 e111 bons livros religiosos não inspirados. Às
v[-zes, en1 1naior escala do que en1 certas passagens bíbli­
ca�;: 1\ssi111, por exemplo, a leitura da "In1itação de
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
126 V O Sentido da Bíblia

Cristo" é 1nais apta para "edificar" e instruir toologica-


111ente do que as listas das cidades en1 J os 12-21.
O sentido típico não é un1 sentido especial da Sagrada
I�scritura, 111as é o nie..wno senti.do pleno sob certo ponto
de vista. l)ode1110s falar elo sentido típico quando n 1u1n
aconteci1nento, n,i1,in1, objeto ou nu,nia pessoa, referidos na
Bíblia, se descobrir, corno que ·va.gan-iente delinea,do e in­
dicaiflo, alg o que só eini CiGil'n1po sobrenatural e nu/Jn, grau
111.ais ad,:antado da re·velação se torna plen.aniente conhe­
cido e realizado. 1\. itnage111, ainda itnprecisa, chama-se
tipo e a realidade a que se refere é chan1ada a.nt(t-ipo.
Desta for1na, poclen1 certos aconteci111entos, objetos e pes­
soas do Antigo Testan1ento possuir un1 sentido típico que
fJeus lhes deu, talvez 8.Jinda não percebido pelo autor hu­
n1ano por deCnearen1 só leves traços. Traços êsses que
c111 acontecinH:�ntos, objetos ou pessoas do Novo Tcsta-
111ento se tornarian1 be1n nítidos. I) or sua vez, pode111
certos aconteci111entos elo Novo 'Testan1ento indicar fu­
turas realidades, plena111ente desvendadas só con1 a vinda
de Cristo, no fin1 dos ten1pos. O sentido típico, assitn
entendido, recebe, às vêzes, não sen1 n1otivo, a designação
de sentido anagógico, .isto é, sentido que tende a evoluir
para o alto.
A estas definições sôbre o sentido próprio da Es.cri­
tura corresponde, por parte do leitor, a conipree-nsão da
l:.�scri tu-ra.
Ao tratar-se de un1a obra literária profana, acontece,
às vêzes, que o sentido da 111esn1a é percebido só in1per­
feitan1ente. Aos poucos, o leitor con1penetra-se melhor
da idéia, dev:do ao estudo prolongado e à leitura repetida.
Não é sen1pre fácil para o escritor vazar en1 palavras
aquilo que êle quer dizer. Por isso existe o perigo de ser
n·ial interpretado e as suas palavras podem possuir di­
n1ensões de prof undiclade que un1 leitor percebe mais, e
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V. O Sentido da Bíblia 127

outro 111enos.. Isso não quer dizer que sua obra não seja
con1preendicla por todos, ao 111enos de algu1n 1nodo. Ta1n­
bé1n tun jove111 ou un1a pessoa rude achará algu1n sentido,
de acôrdo con1 sua capacidade, nu1n dra111a, por exemplo,
ele Shakespeare, ou nun1a pocs:a de Goethe, e1nbora não
possa apreciar tanto a idéia do poeta con10 u111 ho1nen1 dr
cultura acadê111ica. Caso análogo se dá con1 a co111prcen­
são da Bíblia.
l\llcsn10 no tocante ao sentido literal apenas., apresentan1
os livros bíblicos tal riqueza de conteúdo, que nen1 sen1pre
0 ho1nc111 111oderno o pode assi111ilar perfeita1nente. Não
cbstante isso, achará ta1nbé1n o si111ples leitor, desprovido
de cultura especial, r�cos cnsinan1entos. e tesouros reli­
giosos e literários inesgotáveis, ao 111enos en1 alguns li­
vros, con1 tanto que ê]e faça algun1 esfôrço e leia con1
assiduidade. Por isso, firn1ou-se a Bíblia, aos olhos de
todos que tê1n capacidade ele apreciar belezas literárias
t. que conservan1 interêsse por questões rel1giosas e his­
tóricas, con10 11111 livro interessante e cheio de ensina­
tricn tos, digno de ser perscrutado. Isso não só entre cris­
tã.os e judeus, con10 tan1bé111 entre pagãos e incrédulos.
Acresce, ainda, que o sentido pleno, pôsto pelo autor
djvino nas palavras ela Sagrada Escritura, confere a elas
un1a riqueza de conteúdo e tuna di1nensão de profundi­
dade, que o ho1nen1 con10 leitor ou ouvinte, por si só, não
poderá sondar suf iciente1nente. Para tanto, precisaria de
un1a capacidade receptiva, correspondente à plenitude do
sentido da Escritura, isto é, à fé. Esta fé foi por Deus
dada a "seus filhos" a que1n deu a Bíblia "qual carta, que
o Pai envi-0u do trono de sua 111 ajestade" Para abrir tô­
da a riqueza ele pens.an1entos, latente na Bíblia, aos ho­
n1ens de boa vontade, Deus confiou a explicação da 1nes­
n1a à Igreja, guiada pelo l�spírito Santo. Sà1nente o ho-
111c1nJ ilunz.ina,d o sobrcnaturabnente pela fé, está eni con-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
128 "\l O Sentido da Bíblia

d ições de capta-r o scntid o jJ/cno da J-Jíblia, e sà1nente a


1greja, gu,i.a,d,a J;clo Espírito Sa/nlo, pode descobri-lo co·1n
scgn·rança e propo-lo, sern êrro, aos fiéis.

CAPfTULO II

AS PARI'IC-UI.,ARIDADI�S DO SENTIDO
r
J., I fI�l{Al_J

C) axio111a teológico: "1\ graça supõe a natureza" pode


ser aplicado ao s.entido da l{scr,itura desta for1na: O sen­
tido pleno supõe o senti.do literal. Com outras palavras:
i\ co111preensão do sentido pleno só é possível após un1
estudo profunclo e urna elucidação nítida do sentido lite­
ral. Daí as palavras de I) io XII na sua encíclica bíblica:
"l\!Iunido con1 a perícja nas línguaSi antigas e co111 os
auxílios da crítica do texto, deverá o exegeta católico en­
cetar a n1étÍs iinportante tarefa a êle confiada, procurar
e esclarecer .o verdadeiro sentido dos Livros Sagrados.
Nisso os explicadores terão e1n vista que o primordial
e 111ais in1portante cuidado clêles deverá ser distinguir,
clara111ente e detenninar qual o sentido literal das pala­
vras bíblicas. E êsse sentido literal das palavras deverá
estudar con1 grande cuidado, utilizando o conhecitnento
das línguas, fazendo o estudo do contexto e comparan­
do-o co111 outras passagens" ( l�B 550).
Mesn10 e111 obras l:terárias profanas acontece não ser
o sentido literal sen1pre idêntico ao senti,do verbal de u1na
frase, de uma passagen1 no seu uso cotidiano; poderá
haver u1n sentido n·ietaf ór-ico.
Ora, na Bíblia há 1nuitas figuras retóricas, entre as
quais ta111bé1n metáforas, onde o s.entido real é substituído
por outro semelhante, figurado. Eis algun1as figuras re­
tór�cas, n1ais encontradas na Bíblia:
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V O Sentido ela Bíblia 12-9

.1.-\ ,,nctâf ora siniples é un1a co1nparação breve, desig­


nando algun1 objeto con1 un1a palavra que não lhe convén1
cn1 sentido próprio, en1pregada apenas por causa de cer­
tas sernelhanças. Assi111 pode-se cha1nar, por exe111plo, a
I)eus ou ao rei de "pastor", ao te111plo de "tabernáculo",
a u111 guerreiro valente de "leão", a J)eus de "111eu ro­
chedo"
.. 1 s-inéd oquc, 1isto é, a designação elo todo por suas
partes. O poeta da Bíblia diz, por exc1nplo, "as portas",
,:111 vez de cidade, ou "111inha ahna", e1n vez de "eu", que
cxprin1e a pessoa tôda ou ainda "Sião", para designar tô­
cla a cidade de J erusalé111, ttn1a vez que no n1onte Sião
se acha o santuário característico da cidade, o ten1plo .
• 1 nictonín-i i.li é a designação de un1 objeto por outro
< i e certa relação co1n o n1esn10. 1\ssi111, por exe111plo, be­
l>t-se o "cálice", pensando naturaltnentc naquilo que está
dentro do cálice. Cristo 111esn10 diz de si: "Eu sou a res­
surreição e a vida", porque é I1le que traz êstes bens.
..:-1 anto11011Hísia substitui o no1ne próprio por un1a qua­
lidade notável que alg-ué1n possui. Assin1 Cristo, e tan1bé111
o rei legíti1110 no Antig.o �f'esta1nento, é cha1nado de "o
ungido" .o povo de Israel, ou u 1n hon1en1 de I)eus de "o
servo de Deus"
Jt 111uito característico para a Bíblia o uso da ênfase
e da hipérbole. A ênfase exprit:ne un1 sentido 111ais rico
c1ue de ordinário a palavra ten1 na vida con1un1. Assin1
o� têrn1os "vida" e "1norte" significan1 nos textos bíblicos
não apenas a vida e a 1norte física, n1ais a união íntin1a
cu a separação d.e Deus. No Antiigo Testan1ento isso s.e
refere ta1nbé111 à vida presente, no Novo Testan1ent.o à
viela futura. Un1 conteúdo 1nuito rico se encerra no têr-
1110 "palavra" ou "verbo" ( em hebraico dabar, en1 grego
logos). J)ocle s:gnificar: coisa, acontecin1ento, história,
pensan1ento, funda1nento, e, no Novo Testa1nento expri­
n1c até o Verbo pessoal preexistente·== o Filho de Deus..
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
130 V C) Sentido ela Bíblia

]1"'ato se111clhante se dá con1 as expressões: ''benevolên­


c.a", "conhecer", "sernente", "110111e", etc. A hipérbole é
tuna locução en1polada n1uito usada pelos orientais. ()
poeta bíblico fala dos 111ontes que "saltan1" e elos astros
.
que "1-oate111 pa 1 tnas·., ; e"] e espera <1ue " as co1·1nas seJa1.11
abaixadas e .os vales preenchidos" diante dos israelitas
r('tornando à pátria. .i\ cidade de Nínivc é tão grande que
são precisas "três jornadas" para chegar ao centro d.a
c:clacle, e o dilúvio, naturaltnente, cobre "tôda a terra"
,.,-1 çõcs ou representações sinzbálicas incLica111 algo não
perccptí vel aos sentidos. Para êsse fi111 usa-se de co!sas
concretas, ações visíveis ou então de in1agens representa­
das na fantasia. O jugo sôbre os. 0111bros de J eren1ias
é tuna in1agcn1 da in1 inente escravidão do povo de Judá
e de seus aliados. l\trificacão .,, e batisn10 são sín1bolos. da
pur:ificação da aln1a. O ho111e111 que pisa o lagar, segundo
Ts 63, é sí1nbolo i1npressionante do divino Juiz. Grande
i111portância tê111 no Antigo �r esta111ento e no Apocalipse
de S. João os nú,ncros s-i111bóHcos, cujo significado não
n ,ais conheccn10s. ] ◄:111 todo caso, os algaris1nos 3 e 7 são
nún1(TOS sagrados, enquanto 4 e 10 exprin1en1 o todo, a
plenitude. O valor sin1bóliico clêsses nú1neros, é au1nentaclo
por adição ou rnultiplicação.
✓1 pa.rábola constitui unia 111etáfora a111pliada, un1a con1-

paração que, p.or 111eio de i111agens concretas e vivas, des­


creve algo ele csp:ritual. Não se deve querer interpretar
tôdas as 111inúcias, por exe111plo, perguntar por que se fala
de porcos, na parábola do l◄ilho Pródigo, ou por que se
n1cncíona111 os cegos e os 111.oucos na parábola do ban­
quete. ]�' nccessúrio atender à intenção do autor, expressa
pelo conjunto da narração. Outro tanto se dá co111 a al c­
gor1�a, que é un1 sín1bolo an1pliaclo. Tira suas iinagens,
principahnentc, da fantasia, fazendo, por exen1plo, falar
os a1111nais. e plantas ou conferindo às coisas u111a forn1a
irreal e grotesca ( anin1ais con1 sete chifres, co1n quatro
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
v� O Sentido da Bíblia 131

ou n1a; s cabeças, con1 in ú111eros olhos pelo corpo, etc).


Cada i1nagen1 en1pregada quer expri1nir u1na realidade
espiritua 1. f:xen1plos clássicos de alegorias ten10s e111 I�z
17 e en1 111uitas cenas. do 1\pocalipse. Contudo, nen1 se111-
prc apresenta a Bíblia tuna distinção nítida entre pará­
bola e alegoria.
lVf uito i111portante para a co111prcensão do sentido ver­
bal da Bíblia seria o conheci1nento ela psicologia dos se­
tnitas e de sua 111cntalidacle daí decorrente. �rudo isso para
nós oc:clc:ntais é cn1 parte bastante estranho e infcliiz111en­
te não se poclja111 fazer os necessários estudos neste ter­
rt·no. i\pontaren1os só alguns fatos, ràpidatnentc.
Já no capítulo ref crente à língua hebraica, dissen1os
que o te1npo ocupa un1 lugar 111enos itnportante na 111cntc
hebraica e que os se1nitas dão 1nais re1eváncia às atitudes
e aparências do que a essência das coisas e pessoas. Co111
isso se relaciona111 as rudes expressões a ntroponu5rficas 1

e antropopáticas dos autores bíb]iicos e1n relação a Deus,


fato que é bastante estranho para nós. ()utro traço lH.·111
característico é o pcnsa;nicnio global, por assi111 dizer, isto
e:•, un1 povo inteiro ou 11111 estado é julga(lo co11 fonn<: u1n
único representante, ou então un1 aconteci1nento, tuna pes­
s.oa são típicos para longo período histórico. 1\ssin1 po­
dia-se caracterizar e111 poucos traços típicos e co111 algu-
111as linhas genealóg,icas todo o período da evolução da
hu1nanidade, que vai da criação do hon1e1n até Abraão,
período que, cientifica1nente falando, abrange vários 111i­
lênios. Assi111 pôde tan1bé111 Jesus dizer, en1 J o 8, 56, que
Abraa,o ,.., '' viu I. e se a 1 egrou" , porque con1 o nas-
. o seu eia
c1n1ento de Isaac co111eçaran1 a realizar-se as pron1essas
n1essiânicas, que tiveran1 seu cun1prin1ento total en1 Cr:is­
to. Os escritores israelitas gostan1 ele utilizar, nas suas
narrações, certas un--ilatera./1:dades, repetições, paradoxos,
exageros, que ningué111 ton1ou por 111entira ou falta à ver-.
dade, 111as apenas era111 considerados con10 111eios dra1ná-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
132 V O Sentido da Bíblia

ticos para realçar concreta1nente u1n pensan1ento. Outra


nota característica da 1nentalidacle semita é u1na certa
-n1-aterialização de processos e fôrças espirituais, chegan­
clCJ quase a len1brar, às vêzes, superstições n1ágicas. A
palavra significa para o sen1ita não apenas un1a voz que
passa, 111as representa un1a fôrça benfazeja ou destrui­
dora. J-=> or isso pensan1 que un1a prag~a ou tuna bênção
rcalizan1 aquilo que cxprin1e1n. Da mes111a for111a são o
pcca<lo e a graça fôrças reais que influe1n no destino, não
apenas de pessoa detcrn1inacla 111as de tôda a fa1nília e das
pcss.oas relacionadas con1 ela. 1'.ôdas estas categorias de
1nentalidade cleven1 ser consideradas se quis.er111os enten­
der a Bíblia corretan1ente.
J 111portància decisiva te111 na Igreja o conhcci1nento dos
péncro.s e das fornias literárias. Un1a poesia é outra coi­
.�;L do que tuna narração e111 prosa. Un1a descrição his­
tórica difere da lenda ou d.o conto ele fada. Cada gênero
literário possui suas propriedades. estilísticas, seu sen­
tido próprio, sua forn1a externa e pode ser "situado" en1
dcter1ninado período, isto é, no a1nbiente cultural-histó­
rico, ao qual dev e sua origcn1. Evidencia-se, assi111, que
un1 saln10, produzido pelo poeta cn1 certa fase da vida,
por exen1plo nun1a doença, ou quando restabelecido, de­
ve ser interpretado de outra 111aneira do que un1 salino,
cscr1to co1no texto para deter111inaclos. ritos ntuna festa
do te111plo. l◄�ntre êstes gêneros literários devc1110s 111encio ...
nar os 111a.i s i111portantes:
1) Para a poesia: a) O canto profano: te111os no Anti­
go Testan1ento: cantos para o trabalho ( Nn1 21, 17s),
cantos de an1or ( Is 23, 16; Cânt), cantos nupciais ( SI
45), cantos para a bebida ( Is. 22, 13), cantos para lucli­
briél.r (Nn1 21, 27-30), cant.os para lamentar os 111ortos
(2 San1 1, 17-27), cantos de orgulho ( Gn 4, 23s), cantos.
heróicos ( 1 Sa1n 18, 7).
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V. O Sentido da Bíblia 133

b) Cantos de conibatc, por exe111plo, Ii.x 15, 1-18;


Juiz 5.
e) Cantos de culto: Hinos (Sl 8; 19; 47; 104;), can­
tos de agradeci1nento ( Sl 9; 30; 32; 1 San1 2, 1-10; Lc
1, 46-55; 68-79), cantos de lan1entação de un1 só ( S1 6;
]3; 22), cantos de lan1entação do povo todo (SI 79, 80,
I.,a111), cantos de penitência ( SI 51; 130), cantos, para
procissão (SI 15; 24; 134), cantos do Messias-llei (SI
2, 72; 110).
d) f' oes1a sapiencial que co1npreende certos poen1as ins­
trutiv-0s individuais ( SI 1; 37; 119; 127; 128; 131), co1110
ta1nbé111 coleções de provérbios ( Prov, Ecle), e grandes
poen1as, focalizando certos probien1as ( Ecli, Sab, Joh).
e) C onsidcrações poéticas e h·istóricas (SI 78; 105 ;
106; 114; J�cli 44-50).
f) J__ -iteratwra sapien.cial: I)rovérbios ( I-)rov, I�cl i),
f<'>nnulas de bênçãos e deprecações ( Gn 49; Nn1 23-24).
g) J.,itcratura prof ética: Ser111ões de an1eaças e recri111i­
Eaçõcs; palavras de consôlo, "confissões", "liturgias pro-
·f ct, 1cas
.
1'

lJ1na nota estilística própr.ia da poesia bíblica é o pa­


ralclis:nio das partes. Quase cada versículo é forn1ado por
duas partes, que possuen1 entre si un1a relação lógica e
real. O 111es1110 pensan1ento, ou é expresso duas vêzes con1
locuções diferentes (paralelisn10 sinôni1110, por exen1plo,
Sl 3, 2), ou a segunda parte a1nplia o pensan1ento da pri-
111beira ( paralelis1no sintético, por exen1plo, SI 3, 5; I... c
1, 76), ou as duas partes apresentan1 certo contraste ( pa­
ralelis1no antitético, por exen1plo, I_) rov 10, 1; Lc 1, 53).
1\ té agora não foi estudado o ritnio hebraico. Quase não
se conhecen1 na Bíblia estrofes e rhnas, 1nas en1pregan1
n1u1to o acróstico, no qual cada verso, ou a 111etade elo
verso, con1eça con1 outra letra na seqüência do alfabeto
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
134 V O Sentido da Bíblia

hebraico (Sl 111; 112), ou então vários versos seguidos


começam com a mesma letra ( Sl 119; Sam 3).
2) Para a prosa temos os seguintes principais gêneros
literários:
a) Leis, que seguem o esquema: "Se alguém füzer isto
ou aquilo, deverá pagar ou sofrer isto ou aquilo" (lei
casuística, por exemplo, Êx 22), ou o esquema: "Deves
fazer isto ou aquilo, ou eleves deixar de fazer isto!" (lei
�,.podíclica, por exemplo, Êx 20, 2-17).
b) Documentos e registos: Contratos (1 Mac 8, 22-32),
cartas (J er 29), editos (Esd 4, 17-22; 6, 3-12), registos
g-cn('alógicos (Gn 5; 1 Crônicas 1-8) e geográficos (Jos
12-21), registos ele pessoas (2 Sam 23, 8-39; Ne 7), pro­
tocolos para recrutamento (Nm 1).
e) Orações ( 3 Rs 8, 22-61; Bar 2).
d) Apocalipses, isto é, descrições do fim elo mundo
em forma de visões (Dan 7-12; Is 24-27; Apoc).
e) Narrações edificantes, comparáveis às novelas his­
tóricas (Rut, Tob, Jdt, Est, 2 Mac).
f) Narrações proféticas: (3 Rs 17-19; 4 Rs 2, 1-8, 6;
Jon; Dan 1-6).
g) Historiografia religiosa (2 Sam até 4 Rs; 1 Crôn
até :--Je; 1 Mac; At).
h) Coleções de tradição religiosa (Pentateuco, Jos
até 1 Sam).
i) Coleções de tradições proféticas, como nos consta
elos livr.os proféticos do Antigo Testamento. No Novo
Testamento temos algo de semelhante nos Evangelhos,
L"nquanto são uma coleção e codificação das tradições que
corriam entre os cristãos primitivos sôbre a vida e doutri­
na de Jesus.
j) Epíst.olas dos Apóstolos.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V. O Sentido da Bíblia 135

Nestes gêneros literários da prosa interessa-nos sobre­


tudo saber como se deva interprefa.r historicamente os
gêneros apresentados como historiografia e coleção de
tradições. Nas obras históricas propriamente ditas, não
se deverá duvidar do caráter histórico. Quanto às tradi­
ções proféticas e aos Evangelhos, é preciso saber que a
tracliçã.o no Antigo Oriente foi muito fiel; por isso não
podemos duvidar dos fatos relatados. Quanto às coleções
de tradições, transmitidas outrora oralmente, ao menos en1
parte, o que interessa não é a ordem cronológica, mas
a ordem real, objdiva. Í�-nos bem difícil escrever uma
Yicla de Isaías, de Jeremias ou de Jesus, porque a tradi­
ção nos contou elas respectivas pessoas muitos aconte­
cimentos, ações e palavras isoladas, mas nos deixou na
incerteza quanto à ordem cronológica. Daí sucede que
os acontecimentos podem ser bem históricos, sem saber­
mos algo de certo sôbre a sua cronologia.
":\Ia:s clif ícil é a pergunta <lc como interpretar histórica-
111wte as antigas tradições religiosas elo Antigo Testa­
mento. E' claro que a inspiração não transformou os es­
critores e colecionadores em modernos historiadores .e
pesquisadores críticos. Mas ela os preservou do êrro, ao
menos ele tal maneira, que podiam descrever o desenrolar
ela história religiosa, em traços principais. Com muito
mais razão, devemos aceitar a historicidade ao menos nas
n;irrações de acontecimentos decisivos para a história re­
ligiosa, muito embora não seja fácil precisar o que seja
txatamente mera apresentação popular, ou mera relação
p;1ssiva de fontes tradicionais, ou ainda historiografia
própriamente dita.
O leitor da Bíblia far[t bem cm ,lter-se prudentemente
�t orientação da Igreja. A Comissão Bíblica, numa decisão
ele 23 de junho ele 1905, exige que uma narração nos li­
nos chêlmados históricos do Antigo Testamento só seja
considerada não histórica no caso em que, por argu-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
136 \T O Sentido da Bíblia

111,er,.tos sólidos, se possa provar não ter querido o autor


escrever historiografia ( EB 161).
Pio XII nos adverte na encíclica "Hu1nani Generis",
do dia 12 de agôsto de 1950, a não negar apressada111ente
qualquer caráter histórico às assi111 cha1nadas. "narrações
popu1ares "
"Ainda que os antigos hagiógrafos aproveitassen1 nar­
rações populares - fato, aliás, be111 concebível, - não cle­
ven10s contudo esquecer que êles agiran1 assi111 sob a in­
fluência da divina inspiração. JJ'icara1n por isso isentos
de qualquer êrro na escolha e na apreciação daqueles do­
cu111cntos" ( J�D 618).
Con1 referência à h·istóri.a jJrinii�iva ( Gn 1-11), narrada
na 13 íblia, onde o problen1a da interpretação se torna 111a is
difícil, ten1 a Co1nissão Bíblica, en1 carta de 16 de janei­
r<> de 1948, endereçada ao arcebispo de Paris, cardeal
Suhard, 111anifestado o seguinte parecer:
"A questão sôbre o gênero literário dos prin1eiros 11
capítulos do Gênesis é 111uito difícil e co1nplicada. listas
f orn1as literárias não corresponde1n a nenhun1a de nossas
Céitegorias cláss1icas e não deven1 ser julgadas à luz dos
costu1nes literários grego-latinos ou 111odernos. Não se
pode, pois, sen1 111ais ne1n 111enos, negar ou afirn1ar o ca­
ráter histórico, sen1 con1 isso lhes aplicarmos indevida-
111cnte os caracteres de un1 gênero literário, que propria­
n1ente não lhes convé111� En1bora todos seja111 unânin1es
en1 não considerar êstes capítulos con10 historiografia IV)
sentido clássico e 111oderno, contudo é preciso con fes�ar:
o atual estado da ciência não per111ite dar un1a solução
positiva a todos os problen1as apresentados aqui. O pri-
111eiro dever da exegese científica será, antes de n1éÚs na­
da, tun estudo acurado dos problen1as literários, cientí­
ficos, históricos, culturais. e religiosos, relacionados con1
aquêles capítulos. Alé1n disso, dever-se-ian1 examinar os
costu1nes literários dos povos orientais, sua psicologia,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V. O Sentido da Bíblia 13Z

�:;ua 111aneira de expressão e sua opinião relativa à verdade


histórica. Deve-se, pois,. . colecionar. . . sen1 preconcei­
tos, todo o 111aterial. Só assi1n pode-se esperar . . . 111elhor
conhecin1ento da natureza de certas narrações. I)eclarar
de ante111ão que tais narraç.ões não trans1niten1 a história
c-111 sentido 111oderno fàcihnente pode suscitar a in1pressão
de que não tên1 nada de histórico. No entanto of erece111,
nurna .língua s1111ples e figurada, adaptada à capacidade
de unia, Hu111anidade 1nenos evoluída, as verdades funda-
1nen tais, que for1nan1 a base ele econornia da salvação, ben1
ccn10 un1a descrição popular das origens da hun1anidade
e do povo eleito. As considerar isso, devernos ter paciên­
c1a, neste caso, equivalente à prudênoia e à sabedoria da
vida" (EI3 581).

CAPf1�ULO III

J\ plenitude elo sentido, encerrada na Sagrada Escri­


tura, já está contida no sentido literal. Mas transcen­
de-o e só é con1preensível pela fé. Chan1an10s êsse sen­
tido de pleno. J�xpliquen1os esta definição à 1não de al­
quns c..-renrplos.
Se lern1os a frase: "I )orei ini111izade entre ti e a 111ulher,
entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeca ,

e tu lhe ferirás o calcanhar" e a considerarn1os no con-


texto i111ediato da h:stória prin1itiva ( Gn 3, 15), então
parece tratar-se d e tuna etiologia, isto é, un1a lenda expli­
cativa da luta perene e encarniçada entre as cobras e as
111ulheres, respectivan1ente os hon1ens, luta e1n que a cobra
é n1ais vulnerável por sê-lo na cabeça. Poré111, conside­
rando todo o I�ivro do Gênesis, notan10s ter êsse vers.ículo
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
138 V. O Sentido da Bíblia

u.111 sentido 111ais amplo. O autor parece indicar, pela co­


bra, tun outro ser, pelo qual o pecado e a 1norte achar.am
entrada na h111nanidade; o ho1ne111, a1neaçado pela "co­
bra", está e111 condições de esn1agar a cabeça dessa fôrça
sinistra, por não ter Deus retirado de todo sua bênção.
1\inda 111ais., colocando êste versículo, plenan1ente, no con­
junto ela história da salvação até o te1npo de C�isto, en­
tão não será fantasia ver na cobra o antagonista ele Cristo,
o detnônio, e descobrir na 111ulher, respectivan1ente, na
"descendência dela" ( Gn 3), certos traços de Cri st.o e de
sua 1nãe. Pode-se, pois, interpretar o versículo con10 sen­
do o "protoevangelho", a pri1neira pro1nessa de salvação.
Tal Yez só no f1i1n dos ten1pos con1preenderen1os plena-
111entE'. esta passagen1, quando o Cristo Triunfador jul­
gar ''o grande dragão e a antiga serpente" e a sua des­
cendência.
O salino 45 é por 111uitos exegetas tido con10 canto·
nupcial, feito por algun1 "poeta da côrte" por ocasião de
11111 n1atri111ônio, celebrado na côrte de J erusalén1. Êste
poderia ser ele fato o s.entido literal. Todavia, não cons­
titui um casamento na côrte de Jerusalén1 u1n aconteci-
111ento prof ano; é u1n ato solene e religiioso, no qual se
realiza a profecia de Natan (2 San1 7) garantindo a con­
tinuidade e a plenitude ele bênçãos para a dinastia.
() joven1 rei, pois, conduz a joven1 espôsa a seu lar e
o povo pode contar co1n a continuidade da dinastia, por­
tanto c.0111 a orde111 e a tranqüilidade, e a bênção que paira
sôbrc o "lJ ngido" Êstes dons e estas bênçãos., tão :in1por­
tantes para o povo eleito, fora111 111uito 1nelhor realizadas
no Novo Testan1ento, graças à revelação sobrenatural pe­
la qual Cristo é o Espôso da Igreja. O hon1e1n cristão
notará agora que o espôso real do sahno 45 já apresenta
traços ele Cristo e que a espôsa estrangeira daquele cân­
tico tt�n1 algo que le1nbra a Igreja universal. Por isso:
interpretará o saln10 como 111essiânico.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V O Sentido da Bíblia 139

.:\ssiin ta1T1bé1n co111preenderen1os o Cântico dos Cân­


ticos que pertence tan1bén1 ao cânon. Segundo o sentido
literal poderá quiçá ser un1 poe111a profano de an1or da
autoria de un1 poeta israelita. Se Deus, porén1, inspirou
o autor, certa1nente não o deixou apenas escrever 11111
poema de a111or. Deus quis, por inter111édio ele expressões
da lírica profana, descrever viva111ente as relações exis­
tentes entre Deus e o povo, entre Cristo e a Igreja, rela­
(_:ões cheias de graça e de an1or, i111possíveis de traduzi r-s.e
ad�quada111ente por 111eios literários.
J)esta forn1a poderia .o hon1e111, basc�do en1 sua própria
experiência e no seu estado <le aln1a, adivinhar, aproxi-
111a<la1ncnte, quão rica e cheia de vivência seria esta re­
l:1 cão
' sobrenatural.
1\luitas vêzcs nos adn1iran10s do caráter bastante 1na-
tL·ria], dos bens pron1cticlus no J-\ntigo Testa111ento, aos..
patríarcas, e ao povo. Não ouviin10s nada do reino dos
céus, ela vida eterna, da "visão" de Deus e coisas seme­
lhantes e s.i111, de n11rita descendência, rebanhos nun1ero­
sos. ca111pos férteis, colheitas cêntuplas, prêsa i111ensa de
guerra, paz idílica e ben1-estar. O Novo Testan1ento co­
loca os bens pron1eticlos no 111undo do alé1n, fala ainda,
dt algun1a 111aneira "111atcrialista" elo banquete, de 111úsica
celestial, de cânt,icos e tronos, ele vestes brancas. . O
hon1e111 do Antigo T'esta1nento nen1 poderia i111aginar bens
transcendentais. l)eus, para lhe fazer co111preencler sua
bondade e a1nor, devia falar-lhe ntuna linguage111 ao seu
alcance. Contudo 111anif estan1 estas pro1nessas o 1nes1110
espírito das do Novo Testan1e nto. Ainda que os fiéis do
J-\ntígo Testa1nento só pensassen1 e1n descendência e bens
1nateriais, sendo essas as pron1essas ieitas a êles, não se­
rão decepcionados, quando, na realidade elo alé111, viren1
11111.a realização n1ais abundante daquelas pron1essas. }) a-
, . ,.., . · ~ (1 e1. _,
ra nos cr;1staos., essas pron1essas '' 111ater1a11stas'' nao
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
140 V. O Sentido da Bíblia

xam de possuir um sig-nificado muito grande, a ponto


ele despertar em nós o desejo de bens maiores e mais su­
blimes na pátria celeste. E' que não devemos prender­
nos às palavras, mas considerar o espírito nelas latente.
A certos fatos, coisas e pessoas calha bem na Bíblia o
assim chamado sentido /-Íj,ico. Alguns exemplos poderão
prestar explicação :
Por ocasião do salvamento de Noé das. águas do dilú­
vio e na passagem dos israelitas pelo Mar Vermelho, Deus
manifestou algo de seu poder salvífico e de seu amor con­
descendente. São qualidades que atuam justamente tam­
hbn no batismo. Dêsse modo são êsses acontecimentos
do Antigo Testamento um tipo do batismo.
A Moisés, aos Juízes, ao "servo de Javé" em Is 53. ao
misteriosamente transpassado em Zac 12, 10, Deus comu­
nicara algo daquele espírito e ela fôrça salvadora que só
('111 Cristo se manifestarão plenamente. Por isso, reco­
nhecerá o cristão fiel naqueles homens ele Deus do An­
tigo Testamento "imagens", tipos de Cristo.
Assim podemos ver em Eva, "a mãe dos viventes" nas
grandes ancestrais de Israel, na filha virginal de Jtfté,
tôcla cstreguc a Deus, cm Débora, "mãe em Israel" nas
heroínas Jael e Judite e em Ester suplicante, podemos
divisa,- algo daquela maternidade vivificante, da entrega
virginal a Deus e ela fôrça suplicante, manifestada tão
harmoniosamente em Maria, a Mãe virginal de Jesu:,;.
Por êste motivo viram os Santos Padres e a liturgia,
nessas matronas ela Antiga aliança, "imagens e figuras"
de Maria.
Também o sagrado tabernáculo elo deserto, o l\.fonte
de Sião com o templo, a cidade santa de Jerusalém, a sa­
h da última ceia ele Jesus e a sala na qual Maria e os. após­
tolos esperavam o Espírito Santo, são imagens, tipos da
Igreja, na qual todos üs eleitos esperam a salvação.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V. O Sentido da Bíblia 141

São ainda, juntanwnte com a Igreja, ,imagens do fu­


tunJ reino de Deus.
A.o procurarmos na Bíblia o sentido pleno e a inter­
pn·tação típica, mister se faz usarmos de certa prudência.
l m pregador, dotado ele fantasia, ,ou um leitor, inclinado
;\ imaginação, fàcilnH'nte descobrirão pensamentos inexis­
tl'ntl's na Sagrada Escritura ou colocarão nela um sentido
misterioso, sem haver fundamento para tanto. Por isso
c,1J1H"é111 não aceitar, além do sentido literal, um sentido
pknu ou típico, a não ser que isso nos seja sugerido ou
garantido pela J1rópria Díblia. Por exemplo tal sucede
quando o :,J ovo Testamento aplica uma passagem elo An­
tigo Testamcnt,o a Cristo ou à Igreja, ou seja sugerido
cu garantido pelos Santos Padres, pela ],iturgia ou por
uma declaração oficial da Igreja, como seja num texto
dogmático ou numa encíclica papal. Interpretar demais
a Bíblia, às vêzes, é mais nocivo do que interpretá-la de
ml'nos. A êsse respcit-0 disse Pio XIT mui acertadamente
o seguinte, na sua encíclica bíblica:
''Com especial cuidado deverão os exegetas estar aten­
tos, não apenas. . a explicar coisas referentes à história,
à arqueologia, à filosofia e ciências congêneres. Antes
de tudo, demonstrarão qual o conteúdo doutrinúrio e ko­
lóg-ico elos divers.os livros e textos em relação a questões
de fé e de moral. Desta forma deverão suas explicações
;,provcitar não só aos teólog,os na explanação e argumen­
t;tção das verdades ela fé. Deverão servir, outrossim, aos
sacerdotes que anunciam a doutrina cr,istã ao pov-0, bem
como ajudar a todos os fiéis. a levar uma vida santa.
Se os exegetas católicos derem uma tal explicação. . re­
d uzí rão eficazmente ao silêncio aquêles que, sempre de
110\·o, afirmam não acharem nos comentários bíblicos qua­
S(' nada c1ue eleve o espírito a Deus e que aproveite à al­
ma e à vida interior, obr,igando-os, afirmam, a recorrer
uma explicação rspiritual, ou mística como dizem.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
142 V. O Sentido da Bíblia

l�' certo c1ue o sentido espirit11al 11ão eleve ser excl11ído


da Sagrada Escritura sem mais nem menos. Palavras e
acontecimentos do Antigo Testamento foram por Detts.
assim dispostos e ordenados que o passado viesse espi­
ritualmente indicar aquilo que se realizaria na Nova Ali­
ança da graça. Assim como o exegeta deve procurar e
C'.H:larecer o sentido literal das palavras. cleve1�á tam­
bém indagar cio sentido espiritual, enquanto constar, su­
ficientemente, que Deus <le fato <leu êsse sentido. Pois
s<'i itle podia conhecer o sentido espiritual e no-lo mani­
festar. O próprio divino Salvador nos mostra e ensina
i·sse sentido nos Evangelhos. A semelhança do Mestre,
também os apóstolos o ensinaram cm palavras e por es­
crito, a tradição ininterrupta da Jgreja o demonstra e a
aplicação multissecular <la liturgia o confirma ... No mais,
cv;tcm, conscienciosamente apres.entar outras interpreta­
ções f,igura<las como se fôssem o sentido espiritual ela Sa­
grada Escritura ... E' verdade no exercício da prega­
ção... pode ser útil o cmprêgo ele interpretações figura­
da�;. tendo, porém, cm vista a prudênc:a e a finalidade.
Todavia, tal cmprêgo da Sagrada Escritura não é sem
pcrig-o ... A palavra viva de Deus não precisa de arti­
fíc:os ou de preparativos humanos para tocar e sacudir
a:� almas . Os Livros Sagrados, por s,i mesmos, estão
cheios de profundo sentido. Dotados de fôrça divina,
atuam por si mesmos. Ornados de beleza celestial ilu­
minam e irradiam por própria fôrça. Ao menos os. inter­
prete o exegeta tão correta e exatamente que transparc­
t;am todos os tesouros de sabedoria e prudência nelas en-<
cerrados (EB 551-53).
Tanto para o exegeta, como para o simples leitor <la
Bíblia, vale aqu:lo que a Com,issão Bíblica disse na já
citada Instrução sôbre o estudo bíblico nas faculdades
eclesiásticas: tanto melhor se conhecerá o verdadeiro e
profundo sentido da Sagrada Escritura, "quanto maiores
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V. O Sentido da Bíblia 1-1-3

forem, ao lermos a Bíblia, a pureza <le coração, a clareza


da inteligência, a humildade da alma e o respeito e amor
para com o Deus que se revela a nós" (EB 599).

CAPITULO IV

A SOLICITUDE DA JGREJA PELO ESTUDO


E PELA J>l{OPAGAÇAO DA B.íBLlA

Deus entregou a Sagrada Escritura à Igreja como do­


cumento da revelação, por isso compete ao Magistério
Eclesiástico a interpretação autêntica bem como a prnpa-·
gação da Bíblia.
Em sentido negativo exerce a Jgreja uma função de­
! c11si7.:a e protetora, para com a Bíblia, tomando medidas
para impedir falsificações da verdade bíblica e para adver­
tir ,<Js fié.is contra interpretações erradas. Afinal, todo
ato de reprovação de uma heresia, que se baseie sôbre
palavras mal interpretadas da Bíblia, quer isso se faça
por uma declaração dogmática, quer pelo Magistério Or­
dinário, é, ao mesmo tempo, uma medida que defende e
esclarece o genuíno sentido da Sagrada Escritura. De
maior importância para a defesa da revelação bíblica fo­
ram as já citadas declarações dos Concílios de Trento
e <lo Vaticano, referentes à questão elo cânon e da inspi­
ração, b<'m como o Decreto "Lamentabile" de Pio X, de
3 de junho ele 1907, visand-0 a defesa das edições bíblicas
contra o assim chamado modernismo (EB 190-256). Em
certas ocasiões, devia a Santa Sé ou o episcopado decre­
tar a proibição de determinadas edições bíblicas, ou tra­
duções, ou ainda livros concernentes a questões bíblicas,
impedindo desta forma a falsificação da Bíblia.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
144 V. ô Sentido da Bíblia

I)e 1naior interêsse são, todavia, as seguintes cleter1ni­


r:.ações atuais, de caráter defensivo:
1) Segundo o D,ireito Ca;nônico ( Codex iuris canonioi)
- as edições da Bíblia e as traduções, os con1entários
bíblicos e todos os livros sôbre questões bíblicas só po­
de111 ser publicados con1 aprovação eclesiástica. ( Can.
1385 § 1). Traduções para o vernáculo, sen1• anotações,
precisa1n ela aprovação ela Santa Sé; para as traduções.
dcvida1nente anotadas basta a licença do bispo co1npetente
( Can. 1391). Son1ente as pessoas que se declica111 ao es-
tudo teológico ou bíblico especializado, pocle111 utilizar
edições ele não católicos, se estas edições fore1n con1ple­
tas e fiéis_. e se não con1bateren1, na introdução ou e1n
anotações, os dog1nas católicos ( Can. 1400). A todos os
clcn1a:s católicos é vedado o uso de edições não católi­
cas elo original ou das traduções, novas e antigas ( Can.
1399. 1). Qucn1 edita ou in1pri111e, se1n licença, l,ivros bí­
bli.cos, ou anotações e co1nentários dos n1esn10s, incorre
c111 excon1unhão sin1ples. ( Can. 2318. Tôdas essas deter-
1ninações achan1-se colecionadas e1n EB 437-443).
2) Todos os clérigos, encarregados ela cura pastoral ou
do 1nagistér-io, ben1 co1no os doutôres de teologia, deverão
prt:star 11111 jura111ento de que interpretarão "a Sagrada
T1�scritura segundo o sentido que a Santa Madre Igreja
rnanteve e 111anté1n" e "segundo o consenso unânin1e dos
Santos I-)aclres" ( r�:B 73), e de não se afastare111 da
tradição da Igreja, das narinas ela fé, ne111 das diretrizes,
dadas pela Santa Sé ou, respectivan1ente, p ela Con1issão
Bíblica ( l�B 353 e 354).
3) Leão XIII instituiu pela Carta Apostólica, "Vigi­
lantiae", de 30 ele outubro de 1902, a Pontifícia Co111is­
são Bíblica ( I-=>ontificia Comn1issio de Re Biblica), encar­
regando-a de vigiar sôbre a pureza da doutrina cristã,
referente a questões bíblicas. As suas decisões são obri­
gatórias para tôda a Igreja. Esta co1nissão, reuniu no
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V O Sentido da Bíblia 145

l:nchirid,ion Bibücuni, segunda edição Nápoles Ro111a


1954, todos os doctunentos eclesiásticos., que ainda hoje
cn1 d ia se aplica111 a assuntos bíblicos.
4) l,:n1a instrução da Con1issão Bíblica, de 15 de de­
zen1bro ele 1955, (i\.cta Ap. Sedis 48, 1956, 61-64) orde­
na que é necessário obter licença do bispo con1petente para
�e fazeren1 congressos ou c,nrsos bíblicos para leigos, ben1
con10 para se fundaren1 agrc;ni,ações de propagação bí­
bli.ca e de aprofundan1entos bíblicos. Os diretores de tais
congressos, cursos e ass.ocia,ões deverão mandar à auto­
r: clade eclesiástica 11111 relatório dos te1nas tratados ou
dos traba1hos realizados.
Ao lado disso, a Igreja desde se1npre forni,enta, de 1·na,...
I!.c·ira ati·va. e positiva, os estudos bíblicos. Não va1nos,
contudo, dar aqui un1a comprovação histórica detalhada
dessa af:irn1ação. Apenas 1nenciona1nos os seguintes fa­
tos bastante recentes.
1) 1,\s encíclicas orientadoras "Providentissimus Deus"
ele Leão XIII ( 1893), "Spiritus Paraclitus" de Bento
X V ( 1920), "Divjno Affiante Spiritu" ( 1943) ele Pio
XII e a Carta dirigida por êle aos bispos da Itália ( 1941).
f�stes clocun1entos já foram por nós citados vár,ias vêzes.
?\êles os papas encoraja111 os cientistas a um estudo 1ni­
nucioso de todos os problen1as bíblicos. Pede1n aos bis­
pos un1a ajuda eficaz <lo lVIov.i1nento Bíblico entre os fiéis
e o f0111ento dos estudos bíblicos etn seminários e insti­
tutos teológicos, e a todos os fiéis recomenda111 a leitura
assídua da Bíblia e o aprofunda1nento de seus conheci-
111 en tos nesta matéria.

2) Con1 insistência particular recomenda a Sé Apos­


tólica o cultivo de profundos estudos bíblicos nas facul­
dades e escolas superiores de teolog,i.a e uma sólida for-
1n.ação -dos clérig os nestas questões. Já nos referimos ao
decreto do Concílio de Vienne ( 1311), er1igindo cátedras
para as línguas orientais. Na 5 1} sessão do Concílio de
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
146 V O Sentido da Bíblia

'frento, de 17 de junho de 1546, resolveu-se não só a ins­


tituição de cátedras para ciências bíblicas en1 institutos
eclesiásticos, 111as até fundar canonicatos e órgãos junto
,\s igrejas catedrais, conventuais, paroqtúais., a fin1 de que
a 13íblia seja explicada ao povo ( l�B 65-72). Se estas re­
soluções tivesse111 sido executadas, os católicos do ten1po
do Ilu111inisn10 e do lVIoclernis1no terian1, provàvehnente,
sofrido 111enos perturbação na sua fé. l) io X, na sua Car­
ta 1\postólica, "Quonia111 in re biblica" de 27 de 1narço
de 1906 (1�11 162-180) deu norn1as precisas sôbre o estu­
do da Sagrada I�scritura nos se111inários. I->io XI, por
sua vez, exige, no lVIotu IJroprio "Biblioru111 scientiatn"
ele 24 de abril de 1924 (J◄:T3 505-512), tuna sólida forn1a-­
ção científica para os prof essôres de exegese. J->or ,isso
êle ordena que en1 cátedras de exegese e en1 cargos aos
quais incun1be oficialn1ente a explicação ela Bíblia só se­
j an1 ad111itidos eclesiásticos possuidores de graus acadê-
111icos., adquiridos no I_)ontifício Instituto Bíblico ou junto
it Co1nissão DíbEca.
1\ própria Conússão Bíblica deu e111 13 de 111aio de 1950
t:1na instrução n1uito i111portantc, exortando a tôdas as
;�utoridades eclesiásticas, a f on1entarc111 os estudos exe­
géticos, proporcionando a estudantes e sacerdotes es.tu­
dos especializados, e conceder o ten1po suficiente, be1n
con10 o dinheiro necessário, a fi1n de que estudantes e
prof essôrcs possa111 dar-se a tais estudos. ]�stas diretri­
zes be1n observadas faria111 aun1entar o nún1ero de exe­
getas católicos e a propaganda sectária nos causaria n1c­
nos inquietação.
3) A ati viclade da C'onzissão lJíhlic.a 111ani festou-se,
i.nicialtnente, n1ais pela defesa co,1tra os erros e pela cle-
1narcação do ponto ele vista católico. I◄"'oi, porén1, tan1bén1
a intenção de seu f undaclor de que a Co1nissão viesse a
incren1entar os estudos bíblicos de 111aneira positiva (F:B
143, 145, 146). J::sta f inatidade foi be111 acentuada por l) io
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V O Sentido da Bíblia 1-1-7

;{ na Carta Apostólica "Scripturae Sanctae", de 23 de


fevereiro de 1904 (I�B 149-157), dizendo ser tarefa da
Corni8são forn1ar exegetas católicos, podendo para isso
conferir os graus acadên1icos.
4) I�ato 111arcantc na história da exegese católica foi
a fundação do J->onti fício Instituto Bíblico ( l) onti ficiun1
Tnstituturn Bliblicun1) cn1 l{o1na, pela Carta Apostólica
"\!inea ·1◄]ecta" de I> io X de 7 de 1naio de 1909 (EB 297-
335). Co111 isso possui a Jgreja Católica u111 Instituto de
pesquisas bíblicas, csti111ado 111esn10 nos círcu1os cientí­
ficos não-católicos. N êle se forn1ou tôcla un1a geração
e 1 e novos exegetas católicos.
() Instituto é, pois, tttna escola superior, independente,
co111 direito de pro111ovcr aos graus. acaclê1nicos. J)ossui,
;10 lado das duas faculdades de exegese e estudos orien-
1 ais, excelente biblioteca, franqueada aos cientistas de to­
dos os credos. Manté1n ainda un1a casa de estudos en1
Jcrt1sall·111, onde anualtnente se fazen1 curs.os científicos
t· excursões para os estudantes do Instituto e para profcs­
s<">res de exegese. c;oza1n de 1nuito re1101ne as rev,istas
)·i J za,
''/>'[!"" e ,,,r . 1 ''·, as 1nt11tas.
verb un1 n·1 v111un . publ'1caçoes
~ so-
"
bre assuntos bíblicos e orientais, be111 con10 as séries de
diapositivos instrutivos para projeções lu111inosas.
5) A solicitude da Sé Apostólica não deixou de influen­
ciar dioceses e Congregações religiosas. Já cn1 1889 ti­
nhan1 os don1inicanos franceses fundado excelente Insti­
tuto especializado para estudos bíbLicos en1 J erusalé111,
conhecido hoje sob o 110111e de "Í�cole practique cl'Íi:tudes
bibEques", onde se edita a célebre revista "Revue bibli­
que" e 1nuitas outras obras exegéticas.. l�1n diversos países
surgiran1 agre111iações con1 o intuito de aprofundar os
conheci111entos bíblicos e de propagar a Bíblia en1 ver­
náculo (Na Alen1anha é o I(atholisches Bibel-Werk e1n
Stuttgart). l�n1 outros países ainda fazen1-se, regular111en­
tc, �e111anas ele cursos bíblicos para sacerdotes, catequistas
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
148 V O Sentido da Bíblia

e leigos. Outro sinal do interêsse despertado entre o povo


católico são as n1uitas obras bíblicas científicas e popula-
1 cs, e ainda os con1entários e revis.tas bíblicas.
Xão obstante, resta a.,ind.a 1-nuito que trabalhor se qui­
scnnos tornar a Bíblia un1 livro popular e se quisern1os
iniunizar os fiéis contra a propaganda elas s.eitas. Nos
scgujntes setores poderia haver futur.aniente :J,n.a'iores es­
f (JJ"ÇOS:
a) ./1.s instituições e os niovi,nento.s bíblicos deverian1
receber ajuda financeira das dioceses para poder cu1nprir
suas tareias.
b) As diversas d i.oceses deveria111, ele con1un1 acôrdo
co111 as diretrizes de J{o111a, ptJr à disposição iJna-ior núnz.e­
ro de estuda.nles e jo·z,ens s,acerdotes para estudos bíbli­
cos. fi:nanciando naturahnente êstes estudos.
e·) 1\1[ uitas vêzes é o ensino bíblico ad1ninistrado por
prof essôres leigos. I1npõc-se, portanto, tuna sólida for,na­
ção bíblica para êles. Por isso deveria haver, nas a.cadc-
111 ias e escolas norntais, ensino ofJicial desta 1natéri.a. Sen­
do insuficiente o nú1nero de padres para lecionar estas
11iatérias, poder-se-ja procurar 1neios para dar a leigos
f or1nação exegética. J ú fora1n feitas tentativas neste sen­
tido.
d) Para i1npedir 111aior afastan1ento do que até agora
houve, entre exegese e catequese bíblica, i1npõe-se n-iaior
colabo1�ação entre especialistas, círculos catequéticos, cate­
quistas, teólogos e as autoridades eclesiásticas, encarrega­
das elo ensino religioso.
Se a exegese se esforçar por descobrir o sent!ido ge­
nuíno da Sagrada I�s.critura, tomando e1n consideração as
�xigências da cura pastoral, se a teologia prática traduzir
para os hon1ens de nossos dias a palavra de Deus, eluci­
dada pelos sábios, e se o lVIagistério Eclesiástico fomen-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V O Sentido da Bíblia 149

tar e v1g1ar êste trabalho, então s.e realizará o desejo ele


·Pio XII, expresso na sua encíclica bíblica:
"Que a Igreja tenha outros tantos ilustres exegetas,
con10 no passado; que possan1 .os fiéis haurir dêstes es­
forços e trabalhos, tôda a ilu1ninação, consolação e alegria,
�nerente:; à Sagrada J�scritura" (EB 569).

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RESENHA DA LITERATURA EXEGí-:TlCA

NOTAS PRELIMINARES

:-\ obra saída de certos livros sôbre história e arqueo-


1 ogia oriental, sôbre a Bíblia e as descobertas de Qumran,
cl(:monstra o largo interêsse elo público em questões refe­
rentes à Díblia; 1infelizmente, nem todos os "bestseller"
nesta matéria merecem tal atenção; principalmente quan­
do são da autoria de certas pessoas não competentes, pos­
suidoras ele dons jornalísticos, mas sem a necessária ba­
�1c científica. Sempre ele novo se ouvem queixas de que
não existem suficientes livros bons e interessantes, es­
critos por entendidos, e que satisfaçam a um públ,ico mais
yasto ele leigos e de padres, ocupados na viela pastoral.
Essa queixa não é procedente, como mostrará essa rese­
nha literária, qu e visa êste tríplice fim:
a) Mostrar aos leigos, desprovidos de preparo teoló­
g·ico, um caminho para aprofundar seus conhecimentos
bíblicos.. Por isso, nas diversas subdivisões, indicaremos
t;,mbém livros para "não-teólogos"
b) Esta resenha literária deverá servir de estímulo pa­
r;; o estudante ele teologia, para o cura d'alrnas e o catc­
([Uista, seja êle leigo ou clérigo, para arranjar urna biblio­
teca exegética própria.
c) Afinal achará o teólogo, interessado em ciências exe-.
géticas, as indicações das principais obras recentes de
renome.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
JS2 Resenha ela Literatura Exegética

Só daremos a literatura de autores competentes, para


têrmos ao menos alguma garantia da sua utilidade em
aprofundar conhecimentos bíblicos. Naturalmente não po­
demos citar todos os livros recomendáveis, apenas uma
1 •arte dêlcs. Por isso poderá alguém achar falhas ou en­
tão citaçõe s supérfluas. Obras antigas ou escritas em ou­
tras línguas ( que não a alemã) só serão anotadas quan­
do muito recomendáveis, ou quando forem do número
das obras "standard" Livros, escritos por católicos, se­
rão as.sina lados com *.
Excluem-se, expressamente, desta resenha:
a) tôda a literatura, que só interessa a especialistas _.
como sejam publicações de monografias.
b) as revistas teológicas comuns, obras coletivas, enci­
clopédias e manuais que ocasionalmente tratam de temas
bíblicos.
c) as Bíblias escolares e livros auxiliares, assim como
a literatura catequética e homilética.
Enquanto fôr possível, sem maiores buscas e consultas
demoradas às casas editoriais, o autor dêsse opúsculo quer
ajudar ao leitor a decidir-se sôbre a compra de livros n·­
Cl'ntes, .indicando a cclitôra e o número de páginas. To­
davia, não poderá tomar a responsabilidade da exatidão
cm cada caso particular.
Antes de mais nada, mencionemos algumas Instituirõl!s
que têm por finalidade propagar a Bíblia e intensificar
!--Cll estudo. Recomenda-se ingressar nelas ou pedir infor­
ma\ões das mesmas.
Kath. Bibc/-T,Vcr/;: e. V ( Movimento Bíblico Católico):
Stuttgart Sattlerstrasze 6 B.
,-1ssocia.ção Alemã da Terra Santa: Kocln, Steinfekkr­
gasse 17
Apostola.do Bíblico de Klosterneuburg: Klosterneuburg,
Austda.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Resenha da Literatura Exegética 153

111o·vimento Híblf.co Católico da Suíça: Pfarramt St.


Josef, Lucerna, Suíça.
Curso Bíblico por correspondência, sob orientação do
Pe. Fernando Lang, Würzburg, Augustinus-Verlag, Gra­
bengasse 2.
Séries de Quadros para projeções luniinosas sôbre paí­
ses bíblicos, monumentos e lugares santos; são editados
pelo Pontifício Instituto Bíblico que possui tuna casa de
estudos em Jerusalém. Veja -0 índice das séries, ora dis­
poníveis, em Catholic Biblical Quarterly 21 ( 1959) 56-58.
Consultas e encomendas se façam ao Tour Director, Pon­
tifical Biblical lnstitute, P. O. B. 497, Jerusalém/Israel.

BIBLlOGRAFIA

As bibliografias servem em primeiro lugar para os es­


pecialistas. Contudo, mesmo para -0 teólogo é útil saber
onde procurar informações seguras sôbrc literatura bí­
blica. Por isso apontaremos os seguintes livros.
A ma:s exaustiva bibliografia é fornecida pelo Pc.
Nobcr S .J . em "Elenclrns bibliographicus biblicus" como
suplemento da revista "Bíblica" (cf. p. 153).
Sómente publicações cm revistas, obras coletivas e em
sáie mas com breve apreciação, são registadas cm:
* Zcitschriftcnschau für B:Lchvissenschaft und Grcnz­
gebicte, hcrausgegeben von Fr. Stier, Patmos-V crlag,
Düsseldorf; anualmente, um volume.
Publicações cm forma de li-vro, sã-O apreciadas em Book
l ,ist of The Society for Old Testament Study; anual­
mente uma vez ; encomendas com D. R. Ap-Thomas,
Esqu. Llansaclwrn, Menai Birdge, Anglescy, Englancl.
Os números, editados entre 1946 e 1956, foram reunidos
cm H. H Rowley, Elcvcn Years of Bible Bibliography.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
154 Resenha da Literatura Exegética

The Falcon's Wing Press, Indian Hills (Colorado) 1957,


804 pp.
Tôcla a literatura relativa a Qumran é registada em
Ch. Burcharcl Bibliographie zu den Handschriften vom
Tot<:n Meer. Beihefte zur Zeitschrift fiir die alttestamen­
tlichc Wissenschaft Nr. 76, Verlag Alfred Toepelmann
Berlin W 35, 1957, 118 pp. 1556 números. Esla biblio­
grafia é continuada em "Revue de Qumran" (cf. p. 154).
Uma bibliografia completa sôbre o país e a história da
Palestina é fornecida pelo Pe. Thomsen, Palaestina-Lite­
ratur: Eine internationale Bibliographie in systemat.
Onlnung mit Autoren und Sachregister. Akademie-Verlag,
Berlim, até agora 6 volumes (literatura de 1878 até 1939).

H. REVISTAS

Próprios para 11cio-teólogos

Bibel u11d Lititrgie: Biblisch-theologisches Werkblatt für


Seelsorger nnd aktive Laien. Stift Klosterneuburg, Austria, 6 vê­
zes por ano.
* Bibel w1d Kfrche, Organ des Kath. Bibel-Werkes, Stuttgart,
4 vêzes, gratuita para os sócios.
* Das Hei/ige La11d, Organ des Deutschen Vereins vom Heiligcn
Lande, Koeln, duas vêzes, gratuita para os sócios.
Vcrbum Domi,ii Pontificio Istituto Hiblico, Roma, 6 vêzcs,
(t.:m língua latina).
The Biblical Archacolo,(Jist. New Havcn (Conn.) USA, 4 vêzes
( cm língua inglêsa).

PARA TEÓLOGOS

a) Revistas c.wr;hicas de caráter geral:

Biblica. Pontificio Istituto Biblico, Roma, 4 vêzes, (interna­


cional). Encomendas em qualquer agência postal.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Resenha da Literatura Exegética 155

* Hib/isch<' Zcitschrift. Ferd. Sehoeningh Verlag, Paderbonr;


2 vêzes.
The Cathofic Bib/ical Quarterly. The Catholic Biblical
Association of America, Washington 17 D.C . 4 vêzes, (inglês).
.T oumal of Riblical Lif('l'a/urc. Philadelphia 2,222 N 15th str.
4 vêzes (inglês).
Revue Hibliqu<', Cahalda, Paris Vlc, 90 r. Bonaparte, 4 ve­
zes (francês) .

b) Antiyo Testa111e11to
Vctus Tesfa111<'11f1t111. E.J. Brill, Leidcn (Holanda) 4 vêzes.
(internacional).
Zeitschrift fiir dil' a/tlesta111<'11lliclic TVisscnschaft. W. de Grnytcr,
Bcrlin, 2 vêzes, (a maior parte em alemão).

c) Novo Tcstam<'nto
N07:um Tcsta111c•11f-11111. Drill, Lcidcn, 4 vêzcs, (internacional).
Zeitschrift fiir die 11('1tf<'sla111entlichc IV-issmschaft. \V. de
Cniytcr, Berlin 2 vêzc:-., (a maior parte em alemão).

,l) Qumran
* Revue de Qnmra11. Lctouzcy ct Ané, Paris, apareceu irregu­
Iarn,cnte, 4 números, 1 volume, (internacional).

T11. E DTÇC>ES E?vf SfüUE

Prôprios {'ara 11<io-f<'Ólo{IOS

* Bibelwissc11sclwftlichc Rci!te dcs Kath. Bibel-TVcrkes. Verlag-


de� Kath. Bibel-Werkes, Stutlgart.
* Biblische Ski.-::.-::c11. Sclrn·ciz. Kath. Bibelbewegung, Luccrna.
* Biblische Beitracye. Sclnvciz. Kath. Bibelbewegung-, Lucerna.
* De1· Christ in der Tfelt. VI l{eihe: Das Buc-h der Büchcr.
Fanl Pattloch Vcrlag, Ascha[fenlmrg;.
* Lectio Divina. Éditions du Cerf, Paris (francês).
* Témoins de Dieit. Éditions du Cerf, Paris (francês).
* Die 'f!Vclt der Bibe!, herausg. von E. Beck - W. Hillmann -
F. \Valter. Patmos Verlag-, Düsseldorf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
156 R.esenha da Literatura Exegética

Para teólogos

Analecta. Lo1,1aJt.-iensia Biblica ct Orienta/ia. Université Catholique


Lonvain, Bélgica.
..4bhandlungcn ::;u,r Tluologie des ..d/tens und 1'/c·ucn Testau1cnf.l·
f�vangelischer Verlag, Zollikon-Zürich.
Beihefte zu-r Ze·itschr-ift fiir die alttesta,nentliche f,f,lissenschaft.
Verlag Alfred 'f oepehnann, Bcrlin.
Beihefte :::ur Ze-itschrift fiir die ne1-tfestauientliche lVisscnsclwft.
Verlag_ Alfred Toepeln1ann, Berlin.
Beitraege ::;ur Geschichte der 1w1tlestan1e11tlichen l�xegese. J.
C. B. Mohr, Tuebingen.
Beitraege z1-tr Tif/issenschaf t vo1n Altcn und Neuen Tcsta111ent.
1908-25 Leipzig, seither I(ohlhan11ner, Stuttgart.
Bonner B-iblische Beüraegc, herausg. von1 Fr. K oetscher u.
l{. 'f h. Schaefer. Peter I-Ianstein Verlag, Bonn.
* J? rudes B-ibliqu.es. Gabalda, Paris ( con1cntários e 111onograf ias).
J/orschungen .�u-r Reli.r;ion und Literatur eles Alten u11d 1Veucn
Testa111cnts, herausg. von :R. Bult1nann. \Tandenhoeck u. l{uprccht,
Goettingen.
l\íeutestanlentliche A bhandht-n[JCII, herau sg. von l\.f. 1leinertz.
Aschendorff wluenstcr.
(),u,dtesta111en.tische Stud1·eu, Brill, Leiden.
s·uple111ents to Vetus Testan1entu111, Brill, Leiden.
1-Visscnschaftliclze [Jntcrsu.chnnqcn
, ::.:u111 1\Teucn Tcsta111cnt ' lle-
rausg. von J. J ere111ias und V 1\-fichel. J. C. B. :rvlohr, T'uebÍnµ:cn.

TV. TR.AJ)UÇõl�S DA BÍBLIA. CATÓLICA PAHJ\


O AL:E�fÃO
1\.s ediçôes não-católicas são deixadas de lado nesta resenha,
não pelo 1notivo de conteren1 algo que deva ser ocultado ao ca­
tólico, 111as sin1 pelo seguinte :
a) porque o católico não precisa delas
b) porque en1 geral carccc111 de anotações e
c) porque 111uitas delas não trazen1 os livros deuterocanônicos
do .A.ntigo 'festa111ento. 0111itin1os aqui a designação * nen1 echa-
1 10s necessário dar o título cotnpleto. Consigna111os apenas as edi­
1

ções ronrplctas. Ao lado delas haverá edições separadas, de al­


guns livros bíblicos, 1nonnente do Novo 'festa111ento. be111 con10
rcsun1os bíblicos e Bíblias para a f a111ília. Inf orn1ações precisas
�crão dadas pelos livreiros.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
R.csenha da Literatura Exegética 157

a) Antigo e Novo Testaniento


P Riessler. - R. Storr. 1v[atthias Grttenewald Verlag, Ivlainz,
1.700 pp.
v" llan1p. - �L Stenzcl-J. I<nerzinger. Paul Pattloch "\Terlag-,
A�cha-f fenburg, 1.538 pp.

1.>) An fiqo Tcslan11'11 to


V lla111p �if. Stcnzcl-J. I(nerzinger. Pattloch, ..Aschaffen-
lntrg, 1.150 pp.
E. flcnne - vV. Gracf. Fcrd. Schocningh, Paclerborn, 2 vo­
lun1es, 1.147 + 1.192 pp.
!( losterneuburo{'r Volltsa usuahc. l'--losternct1ln1rgcr Bibelaposto­
lat, IZlosterneubnrg- bci vVien, 1959, 2 volnn1es, juntos 2.094 pp.
F R·icsslcr. Matth. Grnene,vald Verlag, 11ainz, 1.288 pp.

e) l\�07. 1 0 TestamC'nfo
.I . F _,_4/lioli - I(. 'fhietne. I--Icrcler, Freiburg, ( traduzido da
\Tu]gata).
1-f erdcr-Bucchcrei. Hercler, Freibnrg.
(). J(arrcr. _Ars Sacra, 11luenchen 1950, II.
J) ..K cttcr ( "I(eppler-Bibel"). l(epplerhaus, Stut tgarL
J. l(·ucrt.:inycr. Pattloch, f\schaf ienburg.
P Parsclz. Bibelapostolat, KJosterncuhnrg.
J. J J erk. Benziger, :Einsiede]n-l(oeln.
!,.... Rorsch. Schoeningh, Paclerborn.
J. .\'clzacfcr - N.../-ldler. Steyler Verlag, l(aldenkirchen.
Fr. S-iyge. Hegner, Olten-I{oeln ( tan1bé1n na "Fischer Buecherei").
J? . .,5;torr. Sclnvabenverlag, Stuttg-art.
F. T'illmann. St. Benno \1erlag-, Leipzig.

d) .'-.'ino/ .,'c e·vanr;élica cn1 língua a/euu"i


1

J ..\'c/11nid. Pustet, Regensl>urg, 2. Auflage 1956, 215 pp.

,, l�T)TÇüES 1)0 'I'EX1'0 ORT(aNAL E DE '"fRADUÇ<1I�S


ANTIGAS

a) �re.rto hebra,z'.co
..A.. cclicão críti-ca hoic universahnente adotada é a Bíblia He-
, J

braica, edição R. l(itte1. Privilegierte \Vuertte1nbergische Bibel-


anstal t, Stuttgart, 9. Aufl. 1954 ( sem 111udança desde a 7� cdi-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
158 Resenha da Literatura Exegética

ção de 1951), 1434 pp. l�dição sen1 o aparelho cicntíf ico e crítico:
1\I ..L. Leteris na HBritish and F'oreign Bible Society", London
( ctn diversos tan1anhos, tan1bé1n f onnato de hôlso).

h) O .,!1Hti.(JO T'esta,ne!lfo e111 .<Jrc,r;o


Edição portátil Scptuaginta, cd. A. Rahlf s. .Privil. \l\iuerttc:1nb.
Bibe1anstalt, Stuttgart, 5. A u flage 1952, 2 volun1es, juntos.
l�dição científica 1naior. "Ca1nbriclgcr Septuaginta" 'i'he f)ld
T'csta111ent in Grcek, editado hy A. :E. Bookc-N. l\1acLcan, Ca111-
1Jridge University Prcss, desde 1906, chegou até o Livro de Tobias.
. " Vetus ,..I csta111entu1n e·Iraecun1
·
"" . ...
"(_1octt1nger ..S. eptuag111ta auct o-
Tanclcnhoeck u. Ru­
ritate Societatis Litteran11n Cottingensis. \
precht, Goettingen. Até agora aparec:cran1 1 e 2 1v[ac, SI, Peque­
nos Profetas, Is, Jer, Bar, Sa1n, t:z, J )an. Os -f rag111entos de 011-
11-as versões gregas :foratn co]ecionaclos e111 F. Ficld, Origcnis
1--f exaplonun <1nac snpersunt. ()xford 1875.

e) Tar[JUJJl

l\. Sperber, '"fhc Bible in i\ran1aic. l◄ .J. Brill, J..,eiden, 4 vo­


:

""
lun1es. Apareceu o pri1neiro volt1111e (1 argu111 Onkelos) 1 'JS fJ,
357 pp.

d) Tc.1:to .(Jrc,r;o do J.\101. 1 0 Tcsta111c11to


* A. 1.1erk - S. Lyonnct, N ovnn1 Tcstan1e11tu1n graecc ct la tine.
l�ontificio Istituto Biblico, Ron1a, 8 1 edição 1958.,.

* H.J. \Togcls, Novu1n 1'estan1cnt11111 graece et latinc. H('nler,


Freihnrg, i. Br. l 9S5, 2 volun1es juntos.
E. N estle, N ovtun T'estan1entu111 graece. Privil. \i\Tucrttc1nh.
Bibelanstalt, Stuttgart, 23 Aufl.

e) Sz�nopsc r1rega
i-\. Huck - H. Lietz1na1111, Synopsc der clrei erstcn I�vangclie11,
Tuebingcn, 10 _A. u fl. 19.50.

f) Bíblia latilla ant(qa


U1na nova coleção de f rag111entos da antiga Bíblia latina:
* Vetus Latina, l)ie Ileste der altlateinischen Bibe], herausg.
von der Erzabtei Beuron. 1-Ierder, Freiburg, desde 1949 ( até ago­
ra aparccera111 G·ên, .Epístolas Católicas).

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Hesenha ela Literatura }:xegética 159

g-) Vulgata
A grande edição crítica dos beneditinos, * Biblia Sacra juxta
vnlgata111 vcrsionetn.. cura et studio 1nonachorun1 Auatiac Pon­
tif iciae Sti. Hierony111i ()rdinis s. Beneclicti edita. Typis polyglottis
Vaticanis, Ron1a (desde 1926) até agora aparecera111 11 voltttnes,
até o Cântico dos Cànticos.

F,d,içi'fes co111u11s, sc111 anotaçi>es críticas


P. G-. Nolli, Bíblia Sacra vulgatae editionis. ()f ficiu1n Lihri
Catholici H.0111a, 1955, 4 volt11nes ( con1 saltério antigo e novo,
o Novo Tcsta1nento en1 grego e latin1 con1 boas anotações críti­
cas sôbre o texto).
* A. Colunga-L. 1\trrado, Bíblia Vulgata latina. Edição Ca­
tólica, 1v1adrid 1957, e. 11, - (con1 o novo e o velho saltério).
* Bíblia Sacra, J )esclée, 'I'ournai.
* A. Gra1natica, Bibliorun1 Sacroruín juxta V11Jgata1n Clc-
111entina111. Typis Polyglottis Vaticanis 1951.
* Bíblia Sacra Vulgatae editionis. . cura et studio lvf onachon1111
i\bbatiae Pont. St. Hierony111i. 1-'1:arietti, Torino-R.01na , 1959,
1238 pp, (algu1nas anotações críticas, saltério galicano, Psaltcritnn
juxta I-Iebreos e o novo, lado a ]ado).

h) J\1 o'va tradução dos Sahnos


* Liber Psaltnon1111 cun1 Canticis, Breviarii R.on1ani. Pontificio
I stituto Bíblico, Hon1a, z:.l edição 1945, 350 Pl), ( co111 breve co-
111entário).

VI. LlVH.OS AUXILIARES PAl{A IV[E.LHOR. C01vIPHEEN­


SÃO T)O TEXTO BfRLICO

a) Li·vros para con1precllder o texto aran1atical:


Sprachlicher Schluessel zun1 Alten Testa1nent. Heft I. Hc­
braisch-deutsche Pracparationen zu Genesis 1-25; Verlag H.. F.
:Edel, nifarburg/Lahn 1959, 71 pp.
Fr. Rieneckcr, Sprachlicher Schlucssel zun1 griechischen Ncucn
'festan1e1ü. Brunnen-Verlag, Gieszen, 9 Aufl. 1957 ' 636 pp.
* lvf. Zer,vick, i\nalysis philologica Novi T'esta111enti graeci.
Pontificio Istituto Biblico, l{o111a, 3 Aufl. 1955, 608 pp, (en1 latin1).

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
160 R.esenha da Literatura Exegética

b) Vocabulár·ios
\\ 7 • Bauer, Griechisch-deutsches Woerterburch zu clen Schriften
eles Neuen Testa1nents und der uebrigen urchristlichen Literatur.
1'oepeln1ann Berlin, s� edição 1958, 1780 colunas, ( co1110 livro
de instrução vV. Bauer, Zur Einfuerdung in das Woerterbuch znn1
Neuen Testa111ent. Gleerup, Lund 1958, 31 pp.).
\V Gesenius - F. Buhl, Hebraeiches un aran1aeisches Hanchvoer­
terbuch ueber elas Alte Testa1nent. Springer-Verlag, Berlin, c;oet­
tingen, Heiclelberg, última edição 1954 ( desde a 17� edição, Leipzig-
1921 sen1 111udanças) 1013 pp.
L. l(oehler - W. Ban1ngartner, Lexicon in Veteris 'Testa111enti
1 ibros, Drill, Leiden, z:� edição 1958, 1138 + 227 pp, ( hebraico­
alc111ão, inglês, co111 índice alen1ão-hebraico).
* F. Zorell - .L. Se111kowsky, Lexicon hebraictun et aran1aicu1n
\1 eteris Testan1enti. Pontif icio lstituto Biblico, R.0111a, desde 1940
( até agora só foi concluída a parte hebraica), 912 pp, (hebraico­
lati111).
l{. Feierabend, Hebraeisches Tasche1nvoerterbuch. Langenscheidt,
Dedin, 312 pp.
E. L. Leopold, Lexicon hebraicu111 et chalclaicun1 in ]ibros
, eteris Testan1enti. Orbis Catholictts H.01na 1956, 453 pp., ( hebrai-
1

co-Jatitn).
VII. OBI{AS DE CONSUL1'.A.
a) Gra11des enciclopédias
Dictionnaire de la Bible, ed. por F. Vigouroux. Paris, 1895-
1912, .5 volumes; ainda junto: Suple111ento, editado por L. Pirot-.i\.
Hobert, desde 1928, 31 fascículos (até Noeldeke).
J. Hastings, A Dictionary of the Bible. Edinburgh 1942-51. 5
volun1es.
b) J-> equenos dic-ionár·ios
* Bibel-Lexicon, herausg. von H. Haag. Benziger, Einsiedeln­
.l(oeln 1951, 1800 colunas, 34 quadros.
l{. Galling, Biblisches Reallexicon. Mohr Tuebingen 1937.
"\V. Corsvvant, Dictionnaire d'archéologie biblique. Delachaux et
Niestlé, Neuchâtel-Paris 1957, 325 pp.
H. Schtunacher, Die Na1nen der Bibel und ihre Becleutung im
l)euts-chcn. Paulus-Verlag I(arl Geycr, Stuttgart 1958, 224 pp.
e) Dic·ionários teológicos para a. Bíblia:
'Theologisches Woerterbuch zun1 Neuen �r estament, herausg. von
G. Kittel, f ortgef uehrt von G. :F'riedrich l(ohlha111n1er, Stuttgart,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Resenha da Literatura Exegética 161

desde 1933 S voh1111es e 14 fascículos, I vol. 829 pp., II vol. 970 pp.,
III vol. 1112 pp., IV vol. 1132 pp., V vol. 1032 pp.
E. Osterloh - E. Engelland, Biblisch-theologisches Handwoer­
terbuch zur Lutherbibel und neuren Uebersetzungen. Vandenhoeck
11. Ruprecht Goettingen 1958, 748 pp.

J. B. Bauer Bibeltheologisches Woerterbuch. Styria, Graz-Koeln


1959, 859 J)p.
R. Luther, N eustestan1entliches Woerterbuch: Eine Einfuehrung
in Sprache und Sinn eles nrchristlichen Schriftuns. I�"'t1rche Verlag
I--Ta111burg, 14 Aufl. 1958, 302 111>.

d) Concordâncias
A concordância ·verbal indica o lugar bíblico de cada têrn10;
a concordância real diz ao sábio, ao pregador ou ao cura d'al111as,
onde se encontra111 na Bíblia as passagens sôhre dctern1inado
assunto.

Concordâncias hebra-icas 'Verba,is


S. Mandelkern, Veteris Testan1enti Concordantiae hebraicae
at:que chaldaicae. Neudruck : Akadetnische Druck - und Vcrlag­
sanstalt, Graz 1955, 2 volun1es.
G. Liso,vski, Konkordanz zum hebraischen Alten Testatnent;
Privil. Wuertten1bergische Bibelanstalt, Stuttgart 1958, 1672 pp.

Concordânc·ias gregas 'Verbdis


E. Hatch - H. Redpath, A Concordance to the Septuagint
anel the other Greek Versions of the Old Testan1ent, edição nova:
Akade1nische Dru�k-und Verlagsanstalt, Graz 1954, 2 volun1es
1792 pp.
A. Schn1oller, Handkonkorclanz zun1 Neuen Testatnent. Privil.
\Vuertte111berg Bibelanstalt, Stuttgart, 9 Aufl. 1951, 534 pp.
R.. Morgenthaler, Statistik des 11eutestan1entlichen Wortschatzes.
Gotthelf-Verlag. Zuerich 1958, 188 pp.

C oncordânc-ias latinas
* E. Peultier - P Gantois Concordantiartun universae Scripturae
Sacrae Thesaurus, Paris 1939.
* H. ele Raze - E. de Lachaud - J. B. Flandrin, Concordan­
tiarum S. Scripturae Manuale. Gabalda, Paris, 22� edição 1950,
751 pp.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
162 Resenha da Literatura Exegética

Concordâ11cias ·verbais e rcat"s c,n alc11uio


* S. Lueg's Biblische H.. ealkonkorclanz. G. J. l\,fanz, Hegensburg
1922, 2 vol111ncs.
* Praktis-ches Bibelhandbuch; \i\1 ortkonkordanz. l(ath. Bibel­
\il/erk, Stuttgart, 6 Aufl. 1953, 338 pp.
Fr. Noetscher, Register zur }--1�chtcr-Bihel (1\ltes Testa1nent).
J��chter-\Terlag, vVnerzburg- 1953, 154 pp.
(;, Buechner, Biblische Heal-und Verbalkonk:ordanz: r:xcgeti­
�ch-hon1iletisches Lcxikon. E-Vangelischc Verlagsanstalt, Berlin, 30
J\ufl. 19.il, 2 volun1es 1148 pp.
Bre111er Biblische Handkonkordanz oder AJphabetisches VVort­
rc:gister der Hciligen Schrif t ( N cu bearbeitung). 1-\nker-Verlag,
]vJ ucnchen, 1948 1033 pp.
Fr. Hattss, Biblische rfaschenkonkordanz: l )arstellung und
Er]aeuterung der ,vichtigsten hibli�chen Begrif fe. Furchc--Verlag,
l-Ian1burg, 7 1\ufl. 1957, 248 pp.
T◄... r. Hauss, Biblischc Gestaltcn 1-◄:ine l(onkordanz. Furche-
v·er1ag, Herlin, 1934.

VIIl. C()1'1EN1\t\RIOS l}A BfBLLA..

Para não-teólogos:

* 1-lerder-Bibel _Herders Bibclkon11nentar. l)ie Hl. Schrift fuer


das Lehen erklaert, begruendet von E. I�alt-W. Lauck. I-Icrder,
Freiburg i. Br. edição que abrange 1nnitos volu111es (ainda não
está concluída).
* "Jichter-Bibel': J )ie 1-Ieilige S-chrift in deutscher Ucbersetzung,
hcrausg. von Fr. � oetscher 1111d I,. Staah. Echter-Verlag, Wuerz­
hurg, 5 volt1111es coin índice ( é possível obter os re�pectivo5 li­
vros bíblicos en, separado).
* "Bible de J érusalc111 '' La Sainte Bible, editada pela Écolc
Bibliqne de J érusaJe111. Í�ditions clu Cerf, Paris, edição de 11111 vo­
Jnn1e 1956, 1670 pp.
* Regensburger Neues 'fcsta111ent, herausg. von A. \i\!ikenhauser
u. O. J(uss. Pustct, Rcgensburg, 10 volun1cs.
* J. l)illersberger, ])ie :Evangelicn in theologischer und heilsge­
schichtlichçr Schau. ()tto l\f ueller, Salzburg, l\lfarcos : 5 volun1es,
l.. ucas : 6 voh1111es; l\Jateus : 6 volt11nes.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
R.esenha da Literatura r�xegética 163

Para tcúlogos
a) Co1nc11tún'.os para a Bíblia llJda:
* Cursus Scripturae Sacrae, editado por R. Cornely, J. I(naben­
bauer, Fr. ele Hun1111elauer e outros. ].> Lethellieux, Paris. ( 1-Ioje
ainda in1prescindível, devido às citações patrísticas),
* "Bonner Bibe}" J)ie Heilige Schrif t eles Allen Tcsla1ncnts,
herausg. von F. Feld1nann-:H. Herkenne, :f ortgef uehrt von Fr.
N oetscher. Die Heilig-e Schri f t dcs N euen Testatnents, herausg-.
von Fr. Tilltnann . .Peter I-lanstcin, Honn 1923-.,9 (consta de n111i­
tos volu1nes e s11plcn1entos).
* La Saint e Bible: 1'cxte latin et traduction f rançai se d'apres
les textes originaux avcc un co111111entaire exégetique et théologique,
c0111eçado por L. Pirot, continuado por 1-\. Clarner. Letouzey et
A né, Paris, 8 volu111es, edição nova ainda não -concluída.
T'he International Criticai Conunentary un the Holy Scriptures
o{ thc Old and N C\V Testa111ents. 'I'. 'I'. Clark, Edinburgh, desde
1893, ainda inacabada ( considera eni especial a crítica literária
e do texto).
1'he Interpreter's Bible, editada por A. Buttrick. N e]son,
:Edinburgh 1952-57, 12 voln1nes.

b) ] ) ara o Antig o Tcsta1nc11tu


1 )as Alte 'I'cstan1cnt .Deutsch, editado por V Herntrich-A
\Veiser. \Tandenhoeck u. Rnprecht, {;oettingcn, ainda inacabada
( procura unir exaticlfto cientí-f ica e profundeza teolúgica con1 ex-
1,I icações doutrinárias e ascéticas).
Biblischcr J.Con1n1entar : Altes 'fe�tan1cnt, cdi tado por 1,f. Notl1.
Neukirchener Verlag, Neukirchen, de�de 1955, 14 fascículos ,co1n
80 pp. cada ( Finalidade 1\-f ostrar ao leitor o caminho de tuna inter­
pretação total que vai ela exegese hist<'>rico-crítica até o fato in­
dividual do testc1nunho na sua situação peculiar).
Goettinger I.(on1111entar zuni .A.1ten T'estan,ent, editado por vV.
N owack:. c;oettingen 1892-1929 ( Con�idera en1 e�pecial o estudo
do gênero literário).
I-Iandbuch zun1 i\.lten 'festa1ncnt, editado por O. Eissf e1clt. 1{ohr,
. · ·
,.1,.. ue lnngen, el esr1 e 1 e),J'+,
·1 en1 parte esta �cn< l o rev1�to, a1n(la nao
' 1 -
,1

concluído ( interessa especiahncnte �oh o vonto da -crítica 1 iterária).


K.0111111entar znn1 Alten 1.''esta1nent, editado por Sellin. Leipzig
1913.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
164 R.esenha da Literatura Exegética

e) ]�ara o Novo Testa11wnto


Handbuch 211111 Neuen Te_sta1nent, hcrausg. von H. Lietzn1ann­
"'
G. Bornka1nn1. Mohr, 1 uebingen, edição nova, ainda não concluída.
* Herders Theologischer Kon1111entar zun1 Neuen Testament,
herausg. von A. Wikenhauser. Rereler, Freiburg •i. B., até agora
só aparecera1n as Cartas de S. João, 1953.
. Leipzig,
Kon1n1entar zutn N euen Testan1ent ' herausg. von Zahn,
18 voltunes.
K ritisch-exegetischer Kon1111entar ueber das Neuen Testan1ent,
hegruendet von H . A. W Meyer. Vandenhoeck u. Ruprecht,
Goettingen, edição nova desde 1953, ainda não acabada.
Das Neue Testan1ent Deutsch, herausg. von P AJthaus-J.
Beh111. \Tandenhocck u. Ruprecht, Goettingen, Neuauflage 195S-
57, 12 volun1es.
Theologischer Handkon1n1entar zun1 Neuen Testan1ent, in neucr
Bearheitung herausg. von E. Fascher. Evangelische Verlagsanstalt,
Berlin (até agora 2 vohunes: Gál 1957; Me 1959).

d) Para d-iversos li-vros bíblicos


* Fr. Stier, Das Buch Jj j ob. I{oesel, Muenchen 1954, 362 pp.

* H. Schlier. Der Brief an die Epheser. Patn10s, Duesseldorf


1957, 315 pp.
* O. Kuss, Der Roe111erbrief. Pustet, Regenshurg, 1 fascículo
(1, 1-6, 11) 1957, 320 PJ).

IX. LI1'l�RAl'lJR.A DfB.LICA GERAL

Para não-teólogos:

* \A/. Aner, I(atholische Bibelkunde. l(ath. Bibel-Werk, Stuttgart


1956, 176 pp, e 32 quadros.
* G. Auzou, Das Wort Gottes: Ein-fuehrung in die HJ. Schrift.
1vfatth. Gruenewald-Verlag, Mainz 1959, 245 pp.
* T. Blie,veis, Sie alle liebten die Bibel : Bekenntnisse Bedeutender
Persoenlichkeiten aus Z\vei J ahrtausenden. Bihelapostolat, Kloster­
neuburg 1957, 155 pp.
* G. E. Closen, Wegc in die Heilige Schri f t. Pustet, Regensburg,
2 Aufl. 1955, 346 pp.
E. von Dobschuetz - A. Acla1n, Die Bibel itn Leben der
\Toelker. Luther-Verlag, V\1itten/Ruhr, 4 Aufl. 1954, 216 pp.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
R.esenha ela Literatura Exegética 165

lv L N oth, Die Welt de�s Alten Testan1ents: Einfuehrung in die


Grenzgebiete der alttest;a111entlichen Wissenschaft. Toepelmann,
Berlin, 3 Aufl. 1957, 320) pp.
* A. Robert-A. Tricott, Initiation biblique. Desclée, Tournai­
Paris 1954' 1084 pp.
* A. Stoeger, Die B�ibel als Lebensbuch : Eine praktische
Einfuehrung in fruchtbanes Bibellesen. Herder, Wien 1955, 120 pp.
* J. Steimnann-M. St�nzel, Die Bibel in1 Spiegel der Kritik.
Pattloch, Aschaf fenbnrg 1957, 132 pp.

Para teólogos

* G. Auzou, La 1'ra<li1tion biblique: Histoire <lcs ésrits sacrés


du peuple de l)ieu. Éditibns de l'Orante, Paris 1957, 464 pp.
* Institutiones Biblicae. Pontif icio I stituto Biblico, I. 61 edição,
,.

1951, 584 pp., 12 quadros.


* A. Robert-A. Feuilliet, Intro<luction à la Bible. Desclée,
'T'ournai-Paris, I. IntrocltLtction géneral-Ancien Testa111ent, 1959,
939 pp., 21,l edição revistat 1959, 830 pp., 9 111apas. II. N ouveau
1'estan1ent, 1959, 939 pp., 7 1napas.
* H. Sitnon-J. Prado, Praelectiones biblicae. Jv1arietti, Torino-
1.{oma, 5 voh1111es, 5 :.i ediç.ão desde 1949.
* H. Hoepfl-L. Leloir, Introdnctio generalis in S. Scriptura111.
1YAuria, Napoli, 6 1 edição 1958, 584 pp.

X. CI:t;:NCIAS IN rfI{ODU1'óRIAS
Os 1nanuais da ciência introdutória traze111 e111 geral priineiro
a "introdução geral" (história do Cânon, texto, antigas traduções)
e depois "a introdução especial" para os diversos livros. Apenas
poucas obras católicas incluen1 ta1nbé1n a inspiração, o sentido
da Escritura, a her111enêutica, etc. As obras que trata111 da intro­
dução geral ou especial da Bíblia co111pleta já fora111 n1encionadas
no número anterior. Publ!icações sôbre hennenêutica, inspirações
etc. serão indicadas 111ais adiante.

a) Antigo Testa1nento
Para não-teólogos
* A. Hudal-J. Ziegler-O.. Sauer, Kurze Einleitung in die heilligen
Buecher des Alten Testa1nents. Styria, Graz, 6Q. edição, 1948.
271 pp.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
166 Hesenha da Literatura Exegética

C. Kuhl, Die Entstehung des Alten Testaments. Sammhmg


Dalp, Lehnen-Verl., Muenchen 1953, 408 pp.

Para teólogos

Aa .. Bentzen, [ntroduction to thc Old Testament. Oxford Univ.


l 'ress, Lonclon, 4'' edição, 1958, 602 I>P-
0. Eissfelclt, Einleitung in elas Alte Testamcnt. Mohr, Tucbingen,
2'' edição 1956, 954 pp.
H.-J. Kraus, Gcschichte der Historisch-kri1.ischen Erforsclnmg
eles Alten Tcstamcnts. Neukirchener Verlag, Neukirchen 1956,
478 pp.
R.H. Pfciffcr, lntroduc-tion to the Olcl Testament. A. & C.
Black, Lomlon 1952, 910 pp.
E. Sellin-L. Host, Einleitung in das Alte Testamcnt. Qucllc u.
.\leyer, Hcidelbcrg 1959, 186 pp.
A. Wciser, Einleitung in das Altc Testament. Vandenhoeck 11.
H uprccht, c;oettingen, 3'' edição 1957, 390 pp.
* H. Hoepfl-A. Miller-A. Metzinger, lntrocluctio spccialis 111
Vetus Testamentum. D'Auria, Napoli 1958, 600 pp.

b) Arrwo Tcsta111c11to
I >ara não-tcc'ilogos
J. Broehl, Wir haben das echte Ncuc Tesla111e11l. ?<.fattl1.
Crncncwalcl Ver!., ::\fainz, -1-" edição, 64 pp.

Para teólogos

M. Aluertz, Die Botschaft eles Neucn Testaments. Evangelischcr


Verl., Zuerich, I/1 Die Entstelnmg der Evangelien, 1952, 304 pp.,
J/2: Dic Entstelmng eles apostolischcn Schri ftkanons, 1953, 584 pp.
P. Feine-J. Bel1m, Einleitung in das Neue Testament. Qnelle
11 M eycr, H eidelberg, 11'' ecfü;ão, 1956, 178 pp.
* H. Hoepfl - B. Gut - A. Metzinger, Introductio Specialis in
Kovutll Testamcntum. D'Auria, Napoli, 5'·' edição, 1949.
'i/1/. Kucrnmel, Das Neue Testament. Geschichte der Erforschtmg
sciner Prohlcme. Alber, l\leunchcn-Freiburg 1958, 596 pp.
* :�J. 1vfeinertz, ·Einlcitnng- in das Neue Testament. Fenl.
Scltoeningh, Paderborn, 5'' edição 1950, 354 pp.
\V. Michaelis, Einleitnng in das Neue Testament. Berchtold
Haller, Bem, 2� edição 1954, 402 pp.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Resenha da Literatura Exegética 167

* K. Th. Schaefer, Grumlriss der Einleitung m das Ncue


Testament. Peter Hanstein, Donn, 2'1 edição 1952, 185 pp.
* A. Wikenhauser, Einlcitung in das Neuc Testarnent. Herder,
Frciburg i. Br., 3i edição 1959, 454 pp.

c) Crítica do texto, traduçifrs:

Para não-tccJ!ogos
S. (;rill, Das Alte Tcstarnent im .Lichte der Lileralur-uncl
Tcxlkritik. Dorn-Verlag, vVicn 1957, 68 pp.
E. C. Colwell, What is the best New Testarncnl ? Univ. Prcss,
Chicago, 12ú pp.

Para tcc'ilogos

Fr. G. Kcnyon, Our Bible anel the Ancient Manuscrivts. Eyrc


and Spol tiswoode, Lonclon, 5'' edição 1959, 352 pp., -1-9 quadros.
E. vVuerthwein, Der Text eles Altcn Teslaments: Einfoehrung
in dic Biblia Hebraica von R. 1.,::ittcl. Privil. Wuerttcrnb. Bihelan­
stalt, Stullgart 1952, 176 Pll-, 38 c11iadros.
* J. Coppcns, La critique du texte hébrcu de L' A11ricn Testamcnt.
lksdéc de Ilrouwer, Bruges 1950, 52 pp.
O. Parct, Dic Bibel: lhre Uehcrlieferung in Druck tmd Schrift.
Privil. Wuerttemb. Bibelamtalt, Stuttgart 1949, 84 pp., 61 quadros.
B.J. Roberts, The Old Testament Text anel Versions. The Univ.
of Wales Press, Cardiff 1951, 326 pp.
D.R. A1i-Thomas, A Primer of Old Testament Text Criticism.
Epworth Press, London 1947.
* H.J. Vogels, Handbuch der Tcxtkritik eles Ne11en Testaments.
]\:ter Hanstein, Bonn, 2'' edição 1955, 236 pp.
�• I3. Kraft, Die Zeichen fncr die wichtigsten Hanclschriftcn
des Neucn Testaments. Herdcr, Frciburg i. Br., 3� edição, 195\
49 ilP-
* Fr. Stummer, Einfuehnmg- in clie lateinische Bihei. Paderborn
1928.
* A. Bea, Dic neue latcinische Psalmenuebersetzung. Herder,
Frciburg i. Br., 1949, 172 pp.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
168 Resenha da Literatura Exegética

XI. HERMENtUTICA, INSPIRAÇÃO, MENTALIDADE


BÍBLICA

Para não-teólogos

* J. Schildenberger, Votn Geheimnis des Gotteswortes. Ein­


:f uehrung in das Verstaendnis der Hl. Schrift. Kerle, Heidelberg
1950, 532 pp. •
* l-I. Haag Rundschreiben Papst Pius XII, ueber die zeit-
gen1aesse Foerderung der biblischen Studien : Authent. Uebersetzung
n1it Ko1n111entar und eine111 Anhang: Die neuesten roen1ischen
1 )oku111ente. Sclnveizerische I(ath. Bibelbewegung, Luzern, 211- edi­
ção 1950, 90 pp.
Th. Bo1nann, Das hebraeische Denken in1 Vergleich 1nit cletn
g-riechischen. Vandenhoeck u. Ruprecht, Goettingen, 3� edição
1959, 192 pp.
* CI. Tres111ontant, Biblisches Denken und hellenische Ueber-.
licf erung. Pattnos, Duesseldorf 1956, 190 pp.
Nl. E. Chase, Leben und Sprache in1 Alten Testa1nent. Winkler,
}Vluenchen 1957, 169 pp.

Para teólogos
F. Baun1gaertel, Verheissung: Zur Frage des evangelischen
'"\Terstaendnisses des Alten Testan1ents. C. Bertelsmann, Gnetersloh
1952, 164 pp.
* R. E. Brown, The Sensus Plenior of Sacred Scripture. St.
1-fary' s Seminary, Baltin1ore/Marylancl 1955, 162 pp.
* C. Charlier, La Lecture chrétienne de la Bible. L'Abbaye de
1Vfarredsous, 5 11- edição 1954, 375 pp.
* J. Coppens, .Les hannonies des deux testa111ents: Essai su r
lcs <livers sens ele l'Ecriture et sur l'unité de la Révélation. Cas­
tennan, Tournai 1949, 145 pp.
* J. Coppens, Vo111 christlichen Verstaendnis des Alten 1'es­
ta111ents: Supplé111ent bibliographique. Desclée de Brou,ver, Bruges
1952, 100 pp.
E. Fuchs, Henneneutik. 11:uellerschoen ' Bad Cannstatt 1954,
271 pp.
* H. de Lubac (co111 uma Introdução de H. Urs von Balthasar),
Der Geistige Sinn der Schrif t. Johannes Ver1, Einsiedeln 1952,
105 pp.
* J. Levie, La Bible: Parole humaine et message de Dieu.
Desclée de Brouwer, Bruges 1958, 345 pp.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Resenha da Literatura Exegética 169

* R. Marlé, Bultn1ann und die Interp.retation des Neuen 'I'es­


tan1ents. Bonifacius-Druckerei, Paderborn 1959, 206 pp., ('frata
extensan1ente dos proble1nas "enttnitológicos", indicando a litera­
tura correspondente).
* I(. Rahner, Ueber die Schriftinspiration. Rereler, Freiburg
i. Br. 1958, 88 pp.
I-I. H. R.o,vley The Uni ty of the Bible, Carey I(ingsgate Press,
l.,ondon 1953, 202 pp.
* S. Trotnp, De S. Scriptnrae inspiratione. Pont. Universitas
(;rcgoriana, R.on1a, 5:i edição 1953, 183 pp.
* Enchiridion Biblicttn1. J)ocun1enta ecclesiastica S. Scriptnra1n
spectantia, auct. Pont. Con1111issionis de re biblica edita. D'Auria,
N apoli, z:J edição 1954, 279 pp.

XII. �fEOLOGTA BÍBLICA

a) Antigo J'csta1ne11to

Para não-teólogos
* ] . B. Bauer, Die hiblische U rgeschichte. Schoeningh, Pa­
derborn 1956, 87 pp.
* A. Gelin, Die Botschaft des Heils itn Alten '"f esta111ent. Patn1os
/ erl., J)uesseldorf 1958, 108 pp.
1

* P. Heinisch, Christus der Erloeser in1 Alten Testament.


Styria, Graz 1955, 456 pp.
* W. Kornfeld, Das Alte 'festament noch aktuell? Tyrolia,
Innsbruck, 2�) edição, 1955, 276 pp.
C. Kuhl, Israels Propheten. Dalp Taschenbuecher, Lehnen Verl.,
1:Iuenchen 1956, 169 pp.
* J. L. l\tf cl(enzie The t,vo Edged S\.vord : An Interpretation
of the Old Testan1ent. Bruce Publishing Co., Milwaukee 1956,
317 pp.
* O. Schilling, Das A.lte Testan1ent heute. Matthias Gruenewald
Verl., Mainz 1957, 68 pp., 3 quadros.

Para teólogos
W. :Eichrodt, Theologie eles Alten Testan1ents. Vandenhoeck
tt. Ruprecht, Goettingen, I. 6� edição 1959, 364 pp., (II. e III.
3•J edição, Berlin 1950, esgotadas).
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
170 Resenha da Literatnra Exegética

* P Heinisch, Theologie des Alten Testaments. Hanstein, Bonn


1940, 383 pp.
* P. van Imschoot, Théolop:ie de 1' Ancien Testament. Desclée,
Tournai, I. 1954, 273 J>p., I 1. 1956, 273 pp., (ainda não concluído).
E. Jacob, Théologie de l'Ancien Testament. Delachaux et Niestlé,
Ncuch;itel-Paris 1955, 288 pp.
L. Koehler, Theologie des Alten Testamcnts. Mohr, Tnebingen,
3'' edição 1953, 256 pp.
O. Procksch, Theologie eles Allen Testaments. Bertelsmann ,
( ;uctersloh 1950, 787 pp.
G. von Rad, Theologie des Alten Teslaments. J. Die Thcologic
der geschichtlichen Ueberliefnnmgen Jsracls. Kaiser, ::VIuenchen
1957, 472 pp.
H.H. lfowley, The Faith of Israel. SCM Prcss, London 1956,
220 pp.
Th. C. Vriezen, Thcologie dcs Allen Testamenls in Grundzuegcn.
N cnkirchener V crlag, Neukirchen 1956, 343 pp.
* L. Ccrfaux-J. Coppens u. a., .L'Attcnte cln Mcssic. Deseléc
de Brmmcr, Bruges-Paris 1954, 189 pp.
* J. de Fraine, Adam et son lignage: füudes sur la notion de
"pcrsonnalité corporative" dans la Biblc. Descléc de Brotrwer,
Bruges 1959, 319 pp., (Trabalho importante, relativo à· doutrina
do pecado original e da redenção).
S. Mowinckel, He that Comes. Blackwell, Oxford 1956, 528 pp.,
( a evolução da idéia messifmica).
E. Sntcliffe, Der Glauhe 11ml das Leiclen nach den Zcngnisscn
des Alten und Neucn Testamenls. Herber, Freiburg i. Br. 1958,
210 pp.
E. Baila, Die Botschaít der Propheten, editada por G. Fohrer.
!vlohr, Tuebingcn 19.SS, 484 pp.
* H. Renckcns, Urgeschichtc um! Heilsgeschichte. Israels
Schau m die Verg-angcnheit. :.\fatth. Gruenewalcl Vcrl., 1959,
268 pp.

h) Novo Tesia111e11to
Para não-teólogos
* A. Brunot, Die Bricf e eles Aposteis Paulus. "Der Christ in der
Welt" Vl/11. Pattloch, Aschaffenburg 1958, 139 pp.
* W. Grossouw, Biblische Froemmigkeit: Betrachtungen zmn
Geist des Neuen Testaments. Ars Sacra, Muenchen 1956, 239 pp.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
l{esenha da Literatura Exegética 171

* J. Holzner, Paulus: Sein Leben und scine Briefe. Rereler,


Freiburg i. Br., 24� edição 1959, SOO pp., 18 quadros, 1 mapa.
* F.M. Lemoine-C. Nave}, Christns unser Erloeser. Patmos,
Duesseldorf 1959, 118 pp.
* r.LJ. Lagrange, Das Evangelium von Jesus Christus. Kerlc,
Heidelberg 1949, 778 pp.
* K.H. Schelklc, Die Mutter des Erloesers. Patmos, Duesscldorf
1958, 96 pp.
* H. Sdmermann, Das Gebet dcs Hcrrn, aus der Vcrkuendig1111g
Jesu erlacutcrt, Herder, Freiburg i. Br., 1958, 143 pp.
* H. Schuennann, Der Abenclmahlsbericht Lukas 22, 7-38 als
(;ottesclicnstorclnung, Gemeindeordmmg, Lebensonln1111g. Scl1m·-
11ingh, Paderbom 1957, 103 pp.
* C. Tresmontant, Paulus 111 Selbstzeugnissen. Rowohlt-
Taschenlmecher, Hamburg 1959, 173 pp.
* A. Vezin, Das Evangelium J esn Christi, Rereler, Freiburg
i. Br., 4'' edição 1958, 533 pp.

Para teólogos
* J. Bonsirvcn, Théologie du Nouveau Testament, Aubier, Pa­
ris 1951, 470 pp.
R. Bultmann, Theologie eles Neuen Testaments. l\fohr, Tuebin­
gcn, ;. p edição 1958, 612 pp.
P. Feine, Theoligie des Neucn Testamcnts. Evangel. Vcrlag­
sanstalt, Berlim, 8� edição 1951, 480 pp.
* l\J. Meinertz, Theologie eles Neucn Testamcnts. Han�tein,
Bonn, 2 volumes, 1950, 247 + 389 pp.
E. Stauffer, Die Theologie eles Neuen Testaments. Bertelsmann,
Guetersloh, 5' edição 1948, 368 pp., 111 estampas.
* R Schnackenburg, Gottes Herrschaft und Reich: Eine
hibcltheologische Studie. Rereler, Freiburg i. Br., 1959, 255 pp.
* R. Schnackenburg, Die sittliche Botschaft des Neuen Testa­
mcnts, Huebcr, Muenchen 1954, 283 pp.
O. Cnllmann, Die Christologie eles Nenen Testaments. Mohr,
Tucbingen, 2'' edição 1958, 352 pp.
* P. Gaechter, Maria im Erdenleben. Ncntestamentlichc Ma­
rienstudicn. Tyrolia, Innsbruck, 3° edição 1955, 264 pp.
H. -J . Schoeps, Paulus : Die Theologie dcs Aposteis im Lichte
der jucdischen Religionsgescl1ichte. ]\lohr, Tuehingen 1959, 324 pp.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
172 Resenha da Literatura I�xegética

XIII. OBRAS HIS'fóR.ICAS R.EFERENTES A BfRLIA

Para não-teólogos
W . F. Albright, Von der Steinzeit ztun Christentun1. San1111lung
l)alp, Lehnen Verlag, lvI uenchen 1949, 495 pp.
* H. l)aniel-R.ops, IJas Volk-Gottes: D'ie Geschichte seiner
Auser,vaehlung des lv.1athias Gruene\vald Verl., Mainz 1948 200 pp.
* H. Daniel-R.ops, ])ie Bibel ais Geschichtsbuch. Pattloch
Aschaf f enburg 1958, 572 pp.
E. L. Ehrlich, Geschichte I sraels von den .A.nfaengen bis zur
Zerst.oerung des Te111pels (70 depois de Cristo). Sam111lung
c;oeschen, W. de Gruyter, Berli1n 1958, 158 pp.
C. H. Gordon, Geschichtliche Grundlagen des Alten Testan1ents.
Benzinger, Einsiedeln-Koeln 1956, 328 pp., 12 quadros.
A. Jirku, Die Welt der Bibe]: Fuenf Jahrtausende in Palaestina­
Syrien.
G. I(ilpper, Stuttgart 1957, 257 pp., 112 quadros.
* G. Ricciotti, Geschichte Israels. Wiener Dotnverlag, Wicn
1953, 576 pp.
* J. Venard, Israel in der Geschichte. Pattnos, l)uesseldorf
1958, 88 pp.
Para teólogos
* F .1\1. Abel, Histoire de la Palestine depuis la conquête
d' Alexandre jusqu'à l'invasion arabe. Gabalda, Paris, 2 volun1es,
1952, SOS + 406 pp.
* P. Heinisch, Geschichte eles Alten Testa111ents. Peter Hanstein,
Bonn 1950, 387 pp.
* U. Holzn1eister-C. Zedda, Storia dei tempi dei N uovo Tes­
ta1nento. 1'1arietti, Torino-I�on1a 1950 238 pp.
J. J eren1ias, Jerusale1n znr Zeit Jesu. Vandenhoeck u. Ruprecht,
(;oettingen, 2� edição 1958, 99 + 65 + 264 pp.
11. Noth, Geschichte Israels, Vandenhoeck u. Ruprecht, Goettin­
gen, 2:J edição 1959, 435 pp.
R.H. Pfeiffer, History of Ne·w Testament Titnes ,vith an
Introduction to the Apocrypha, Ne,v York 1949, 562 pp.
H. H. Rowley, Fro111 Joseph to J osua. Geof frey Cumberledge,
London 1950 200 pp.
* C. Schedl, Geschichte des Alten Testaments. Tyrolia, Innsbruck,
até agora 2 volumes, 1956, 327 + 374 pp., 4+6 111apas.
\V. Foerster, Neutestan1entliche Zeitgeschichte. Furche Verl.,
Hamburg, I. Das Judentu1n zur Zeit Christi, 3� edição 1959, 255
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Resenha da Literatura Exegética 173

pp., II. J)as roe111ische \V"eltreich zur Zeit eles N euen Testa111ents,
1957, 295 pp.
* J. Blinzler, Der Prozess Jesu. Pustet, R.. cgensburg, 2� edição
1955, 224 pp.
Boas explicações histó.ricas sôbre a Bíblia achan10s ta1nbén1 nos
at]as, referidos à p. 173.

XIV. ARQUEOLOGIA BfBLICA F: I-IISTóR.IA CULTURJ\.L

Para teúlogos e não-teólogos

\"/\/. J.r. A1bright, Die Bibel i111 Lichte der A1tertun1sf orschung,
Calwer Verlag, Stuttgart 1957, 148 pp.
W. F. Albright, ])ie Religion Israels in1 Lichte der archaeo1o­
gischen Ausgrabungcn. E. Reinhardt V erl., M uenchen 1956, 268 pp.,
12 quadros.
* A. G. Barrois, �1anucl d' Archéologie biblique, Picard Pa-
ris, I. 1939; II. 1953, juntos, 1nais ou 111enos 1000 pp., nntitas
gravuras.
H. T. Bossert, Altsyrien. l(unst uncl I-Iand werk in Cypern, Syrien,
Palaestina, Transjordanien ttnd Arabien. Ernst Was111uth, 1"' ue­
bingen 1951, 407 quadros, 35 111apas, 144 pp.
A. C. Bou<.1uet, Biblischer i\lltag Zeit eles Neuen Testa111ents.
Claudius Verlag, 1\-f uenchen, se111 indicação do ano e111 que apa­
receu, 255 pp., muitas gravuras.
}-:. W. Heaton, Biblischer Alltag: Zeit eles Alten Testan1ents.
Claudius Verlag, lv1uenchen 19.18, 212 pp., 16 quadros, 112 gra­
vuras.
A. Jirku, Die Ausgrabungen in Palaestina 1111d Syrien. \T. N[.
Nien1eyer, Halle 1956, 102 pp. 20 quadros.
L. l(oehler, Der hebraeische l\1ensch. 1vfohr, Tuebingen 1953,
182 pp.
* Fr. Noetscher, Biblische Altcrtt11nskunde. Peter Hanstcin.
Bonn 1940, 392 pp., 48 quadros.
A. Parrot, Bibel und Archaeologie, Evangelischer Verlag,
ZoJlinkon-Zuerich, até agora 4 voltunes 1954-58.
J. Pedersen. Israel Its Life and Culturc. Hu111phrey Milford,
London, 2 volu1nes, 1940 e 1946.
* R. l)e Vaux, Les institutions de l'Ancien �festa1nent. J)u Cerf,
Paris, I. 1958, 347 pp., ( o 2º voh1111e segue).
G. E. Wright, Biblische Archaeologie, Vandenhoeck u. Ruprecht,
Goettingen 1958, 300 pp., 220 gravuras, 6 1napas.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
174 l{esenha da Literatura Exegética

XV. 1\ TLAS BÍBLICOS

* L. H. Grollenberg Bildatlas zur Bihei. Bertels1nann,


Guetersloh 1957, 161 pp., 408 gravuras, 36 n1apas coloridos.
E. G. I(raeling, Bible Atlas. Rand 11cNally, and Co., Ne\v
York 1956, 488 pp., co111 nu111erosos 111apas e quadros.
* P. Lc1naire-D. Baldi, Atlante storico clella Biblia. 1'.Iarietti,
'"forino 1955, 322 pp., 1nttitas gravuras, 13 1napas. ·
G.E. Wright-F.\T . Filson, 1'he Westtninster Historical Atlas
to the Bible. Westnlinster Press, Philadelphia, 2� edição 1956,
130 pp., 18 n1apas, 111uitas gravuras.

xv.r. GE�OGR.AFIA DA PALESTINA

Para teólogos e não-teólogos

* F. -M. Abel, Géographie de la Palestine, Paris, 2 volu1nes,


1933, 1938.
* �A... Ackennann, Eine Orientreise, zugleich ein Fuehrer fuer
H:eiliglandfahrer. Salesianu1n, Freiburg/Sclnveiz 1953, 208 pp.
* D. Baldi, Enchiriclittn1 Locorun1 Sanctorun1. Typographia
Franciscana, Jcrusale111, z:� edição 1955, 791 pp.
I-I. Barcltk_e, Zn ·beiclen Seiten des Jorda�s: Bilder znr Lan­
deskunde Palaestinas nach eigenen 1\ufnalunen. Union-Verlàg,
Berli111 1958, 93 pp., 67 fotografias.
* r Benedikt, Das Heilige Lancl : E.111 Pilg-ertagebuch. Ars
Sacra, l\!f uenchen 1958, 192 pp.
* P Bruin-Ph Giegel, I-Iier hat Gott gelebt: Auf den Spurcn
Jesu Íln I-Ieiligen Land. Arte111is-Verl., Zuerich-Stuttgart 1958,
235 pp., 145 gravuras.
G. Dahnan, Arbeit u111l Sitte in Palaestina. Bertels111ann,
(;uetcrsloh, 7 volt11nes, 1933-42.
* ÀÍ. du Buit, Géographie de la Terra Sainte. I)u Cerf, Paris
1958, 237 pp., estôj o con1 18 1napas.
E.J. Finbert, Israel. Les Guicles Bleus, Hachette, Pari"s, 454 pp.,
12 111apas, 20 quadros.
* F. Kaiser, Hier ist heilig;es Land: Eine Reise zun1 Schauplatz
der Bibel. Sc.lnvabenverlag, Stuttgart 1956, 456 pp., 82 gravuras,
3 n1apas.
* CI. l(opp, l)ie heiligen Staetten der Evangelien. Pustet,
R.cgensburg 1959, 504 pp., 66 fotografias.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
R.esenha da Literatura Exegética 175

* P l.. en1aire-D. Baldi, Petit Guicle de Terra Sainte. Typo­


graphia Franciscana, Jerusalé111, 3� edição, 325 pp.
* J. Sin1ons, 'I'he geographical and topographical T'exts of the
()ld Testan1ent. Brill, Leiden 1959, 613 pp., 10 111apas.
f:. Stuebel, Israel Nagel's Reisefuehrer, Genf 1955, 351 pp.,
2-1- 1napas.
I-I. Wuilcke, J ordanien uncl Libanon: Reisef nchrcr. Schroeder,
Bonn 1956, 263 pp., 6 111apas, 52 gravuras.

X\7 II. O A1IBIENT'E OI<IENT'AL l)O ANT'TGC)


TES�rA11EN�ro

1 >ara teúlogos e não-te<'>logos

a) Textos e gravuras
Bibliothek der Alten Wc1L T. Reihe: Der alte Orient. Arte111is
Vcrlag, Zuerich Stuttgart. .Até agora apareceran1: A. Falkenstein­
\i\T. von Soden, Stuneri�che uncl akkadische Hyn1nen und Gebete,
7
19.13, 424 pp., F. \"ly von Bissing, Altaegyptische Lebens\.veisheit,
1955, 192 pp., S. Schott, Altaegyptische Liebcs]iecler tnit lvfaerchen
nnd Liebesgeschichten, 1950, 240 pp.
l(. Galling, T'extbuch zttr Ge�chichte T sraels. :ir ohr, 'fuebingen
1950, 89 11p., 4 n1apas.
1-I. (�ress111ann, 1-\ltorientalische Bilder zu1n Alten --r estan1ent.
\V. de (;ruyter, Ber1i1n, 2=� edição Neudruck 1934, 224 PP-, 260
quadros, 1 111apa.
I-í. Grcssn1ann, Altorientalische 'fexte zn111 Alten Testa1nent.
\V. de c;ruyter, Berlin1, 2'' edição 1926, 478 pp.
J. B. Pritchard, i-\ncient N ear :East in Pictures relating to the
()ld T'esta1nent. University Press. Princeton 1954, 240 pp., 102
quadros.
J. B. Pritchard, i\ncient Near Eastern T'exts relating to the
()ld Testa111ent. University Press. Princeton, 2:� edição 1955,
564 pp.
l). Vil Thon1as, l)ocrnnents -f ro1n Old Testa111ent 1�i111es. Nelson
anel Sons, London-Eclinbnrg-h 1958, 302 J)p., 16 quadros.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
17ó Resenha da Literatura Exegética

b) História, Cultura e Religião.


}�. Chiera, Sie schrieben auf 1"on: Was die babylonischen
Schrifttafeln erzaehlen. Orell Fuessli, Zuerich 1953, 181 pp., 16
quadros.
e;. Contenau, Everyday Life in Babylon anel Assyria, Arnold,
Lo11don 1954, 324 pp.
F. Cornelius Geschichte des Alten Orients. Kohlhan11ner,
Stuttgart 1950, 129 pp.
* F. Koenig, Christus und die H.eligionen der Erde. Herder,
]?reiburg i. Br., 1 9 voh1111e, 2 1.1- edição 1956.
* E. l)rioton-G. Contenau-J. J)uchesne, Die Religionen des
Alten Orients. Pattloch, Aschaffenburg 1958, 182 pp.
H. u. A. Frankfort-J. A. Wilson-Th. Jacobsen, Fruehlicht des
(;eistes: \i\!andlungen itn Weltbild des Alten Orients. Urban­
Buecher, I(ohlha1111ner, Stnttgart 1954, 238 pp.
"'
Historia J\,f undi, hegruendet von J-i r. l(ern, editada por Fr.
Valjavec, 2 º volun,e: Grundlagcn und Entf altung der aeltestcn
Hochkulturen. Leo Lehnen Verlag ' lv.[ uenchen 1953, 655 Jlp.
S. 1foscati, Geschichte und l(ultur der sen1itischen Voelker.
U rban-Buecher, I(ohlhan11ner, Stuttgart, z:, edição 1955, 218 pp.,
4 111apas, 32 quadros.
E. Otto, Aegypten: l)er Weg des Pharaonenreiches. Urban­
Buecher, l(ohlham111er, Stuttgart 1955, 291 pp., 42 quadros.
J\1. Rien1schneider, Die \i\felt der Hethiter. K.ilpper, Stuttgart,
1955 ' 259 pp., 108 quadros.
A. Scharff-A. Moortgat, Aegypten und Vorderasien iin Altertun1.
F. Ilruck111ann, lv.[uenchen 2:i edição 1959, 535 pp.
I-I. Schn1oekel, Geschichte des alten \T orderasien. Brill, Leiden
1957, 342 pp., 10 quadros.
H. Schn1oekel, Han1111urabi von Baby]on. R.. ()]denbonrg,
Mue11chen 1958, 109 pp.
H. Sch1noekcl, Das Land Sun1er. Urban-Buecher, l(ohlha1n111er,
Stuttgart 1955, 195 pp., 48 quadros.
H. Sclunoekel, Ur, Assur und Babylon: l)rei J ahrtausende i1n
Z,veistron1Iand. l(ilpper, Stnttgart, z =i edição 1956, 302 pp., 118
quad1·0s.
\N. von Soden, Herrscher in1 Alten Orient. Springer Verlag,
Berlim-Gocttingen 1954, 152 pp.
W. Wolf, ])ie Welt der Acg-ypter. Kilpper \Terlag, Stuttgart
1955, 175 J)p., 118 quadros.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Resenha da Literatura Exegética 177
X\TIII. O Al\1BJ:EN'TI�� JUDAICO E HELEN1S1'ICO lJO
NOVO TESTAMENTO

E111 gera], 111ais para teólogos


C. K. Barret, l)ie Unnvelt des Neuen Testa111ents: Ausge,vaehlte
Quellen. l\1ohr rfuebingen 1959, 290 pp.
* J. Bonsirven, .Le J udai's111e palestinien au te111ps de J ésns­
Christ, sa théologie, Paris, 2 volu1nes, 1934, 1935, ( existe tuna
edição resun1ida: Beauchcsne, Paris 1950, 250 pp.).
* J. Bonsirven, 'f'extes rabbiniques des deux pren1iers siecles
chrétiens. Pontif icio lstituto Bíblico, Ro111a 1955, 804 pp.
A. Deiss111ann. Licht von1 Osten. wlohr, Tuebingen, 4" ed. 1923.
* E. c;abba, J scrizioni grcche e ]atine per lo studio de1la Biblia.
l\t[arietti, 'f orino-R on1a 1958, 125 pp., 6 quadros.
* K. Prnen1111, Rclig-ionsgeschichtliches Handbuch fner den
Hau111 der altchrist]id1cn lJn1 wclt. Pontificio J stituto Bíblico, Ro­
n1a, Neudruck 19S4, 921 Jll),
* l{. Schubert, J)ie Relig-ion dcs nachbiblischen Judenttuns.
1-I crder, Freiburg i. Br., 19�.�, 2-1-�l pp.
A. Sizoo, l)ie .Antikc Wclt 1111d das Ncuc 'festan1ent. Bahn­
,,-crlag, Konstanz 195.S ' 212 111>., 15 gravuras, 1 quadro.
I-I ..L. Strack-P Bi11crhcrk, K0111111c11tar zuni Neuen T'estatnent
ans 'fa1tnud und J\1idrasch. Bcrk, !VI 11enchrn, edição nova 5 vo­
h11nes e índice 1951-.SZ.

XlX. ESCl�IT<)S APúCl�IFOS

Para. teú]ogos e nfio-teúlogos

a) Para o ..4ntigo Tcsla111c11lo

* J. Bonsirven. La Bihle apocryphe en 111arge de I 'A ncien


rfcstan1ent. Fayanl, 1 >a ris, (>�• edição 1953, 348 pp.
R. H. Charles, T'hc A pocrypha anel Pseudepigrapha of the
Old l'esta1nent in Eng·lish, Oxford 1913, 2 volun1es.
·E. l(autzsch, l)ie Apokryphen und Pseudepigraphen des Alten
rrcsta1nents. Jvfohr, 'T'uebingcn 1929.
* P. Riess1cr, AJtjuedisches Schri:ftttun ansserhalb der Bihcl.
Bcnno Filser Ver)ag, Augsburg 1928, 1342 pp.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
178 H.esenha ela Literatura l�xegética

b) ]) aro o 1.\i ovo Testcnnento


* H. Daniel-R.ops-F. A111iot-O. von Nostitz, Die apokryphen
l�vangelien des Neuen 'festan1ents. Verlag der Arche, Zuerich
1956, 301 pp.
E. Hennecke-W. Schnee111c1cher, Neutestarnentliche _Apokryphen
in deutscher Uebersetzung. I. voh1111e: Evangelien. Ausserbiblisches
ucber Jesus. lviohr, Tuebingen, J :J. edição 1959, 377 Pll.
W. l\ilichaelis, Die Apokryphen Schrif ten zun1 N euen ,.festa-
111ent. Schuenen1ann, Bre111en 1956, 484 pp.
1.f.R.. Jan1es, 'I'he Apocryphal. Ne,v T'estarnent. Oxford 1924.
* J. vValterscheicl. Das Leben Jesu na-eh <len neutestan1entlichen
J\pokryphen. Patn1os V crlag, Duesseldorf 1953, 67 pp.

XX. QUMRA11

a) Textos

Para teólogos
:WL Du1-ro,vs, I'he Dead Sea Scrolls of St. lviark's l\Ionastery.
1'he .A.111erican Schools of Oriental Research, N e,v Haven, I. T'he
I sai ah 1\.1anuscript and the Habakkuk Con1mentary, 1950 ; 11,
2 P1ates and Transcription of the Manual of Discipline, 1951.
* D. Barthélen1y-J .1'. i1ilik, Qun1rân Cave l. Clarendon Pres�,
().xf ord 1955, 178 pp. ' 37 quadros.
"'
}: .L. Sukenik, 1 he Dead Sea Scrolls of the Hebre,v Univer�ity
n:f agnes Press, Jerusalé111/Israel 1955.
N. i\vigacl-Y. Yadin, A Genesis .A.pocryphon. !vlagnes Press.
J eru salérn/.Israel, 1956.
Edições e111 fac-símile aparecera111 etn * lvf aterial l)idático, edi­
tado por B. Boccaccio-G. Berardi, Pontificiutn Se1ninariun1
l'icenu111, Fano: Nlanuale l)isciplinae ( en1 forma de rolos) co111
o texto e a tradução. Regula Congregationis. Con1entário de
i\bacuc, con1 texto e tradução, Be1lun1 f iliorutn lucis, por ora só
etn tradução ale111ã.
G. :?\:folin, Lob Gottes aus der Wueste: Lieder und Gebete aus
den Handschrif ten von1 Toten }deer. Karl Alber \1erlag, Freiburg
i. Br.- 1-'.1uenchen 1957 ' 67 pp., (versão ale1nã).
1 . H. Gaster, rfhe Dead Sea Scriptures in :English �rranslation.
"'

Sed..:er and \Varburg, London 1956, 350 pp.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
R.esenha da Literatura :Exegética 179

1\. Dupont-Son11ner, Les écrits esséniens découverts pres de la


l\-ler Nlorte. Payot, Paris 1959, 446 pp., (1'exto e1n tradução fran­
cc:-;a co1n introdução e anotações).

b) Lii1ros sôbre Q11111rân1 (coJJr traduções dos tc.-vtos):

Para teúlogos e não-teólogos

I-I. Bardtke, l)ie Hancls-chri f ten-Funde a111 'foten 1vfeer, 111it


einer kurzen J�inf uehrung in die ,.fext-und Kanongeschichte eles
A1ten Testa111cnts. Evangelische llaupt-Bibclgesellschaft, Berlitn
1 �).;;2, 176 pp.
l-I. Bardtke, f)ie Handschri f ten-T:;--unde an1 Toten J\1eer. 2 º vo­
lt une: Die Sektc V<Jn ()un1ran, Ev. Haupt-Bobelges. Berli111 1958,
337 pp.
\L Burrows, l)ie Schriftrollen von1 Toten lVfeer. C.II. Beck,
Verl., Muenchen 19S7, 379 pp.
)..f. Burro,vs, l\ilehr ](larheit t1eber die Schriftrollen. Beck.
Iviucnchen 1958, 375 pp.

e) L-i'l:ros sôbre QuJJ1râ'ln (sc111, os textos)


Para te<'>logos e não-teúlogos
Fr. M. Cross, The Ancient Library of Qun1ran anel Nloclern
Biblical Studies. Doublcclay and Co., N e,v York 1958, 196 pp.,
2 1napas, 4 quadros.
G. J\1olin. Die Soehnc eles l.,i-chtes Zeit uncl Stellung der
1-Iandschriften votn 1�oten 1{eer. J-Icrold Verl., Wien 1954, 245 pp.
* Fr. Noetscher, Zur theologischen 'I'errninologie der Qwnran­
·rextc. Peter Hanstein, Bonn 1956, 201 pp.
* J. Van der Ploeg, Funde in der Wucste Jucla. J.P. Rachen1,
Koeln 1959, 265 pp.
* l(. Schubert; Die Ge111eindc von1 'f oten 1ifeer: Jhre Entstehung
und ihre Lehre. Ernst J{enharclt Verl., 11uenchen-Basel 1958,
144 pp .
..A. S. vau der vVoude, l)ie n1cssiani:.;chcn \Torstcllung·en der
Gen1cincle von Qu1nran. N enkirchener Vcrlag, N eukirchen 1937,
274 pp.
* J. van der Ploeg u. o., La Secte de Qu1nrf1n et et lcs origines
du Christianisme. l)esclée de Bro1nver, Bruges-l�aris 1959' 244 pp.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
180 R.esenha da Literatura _Exegética

XXI. LfNGUAS, ESCRII'A

* A. Bertsch, Kurzgefasste hcbraeische Sprachlehre. I(ohlha1nn1er,


Stuttgart 1956, 218 pp.
G. Beer-R. �1:eyer, Hebraeische Granunatik. San1111lung Goeschen,
vV. de Gruyter, Berlin1, 2 vohunes, z=i edição 1952 e 1955,
l 57 + 195 pp., ( gra1nática histórica sen1 trechos de ensaio ! ) .
C. Brockeln1ann, Hebraeische Syntax. Neukirchener \'erlag,
N cukirchen 1956, 231 pp.
O. Grether, Hebraeische Granunatik fuer den akade1nischen
Unterricht. Evangelischer Presseverband fuer Bayern, Muenchen,
z:.1. edição 1955, 488 pp.
Hollenberg-Budde, Hebraeisches Schulbuch. I-Ielbing u. Lichten­
hahn. Dasel, 22:i edição 1957, 230 pp.
* J. J oüon-L. Sen1ko\ivski. c;ra111111aire de l'Hébreu biblique.
Pontificio Istituto Biblico, Ron1a, 2 :J edição 1947, 543 + 79 pp.,
( gra111ática científica se111 exercícios).
H. L. Strack-A. J epsen, Hebraeische Granunatik 111it Uehungs­
buch. Bcck, �Juenchen, 15,t edição 1952, 265 pp.
* L. Palacios, Gran1111atica ara111aico-Biblica. I)esclée, H.on1a
1953, 145 pp. ' ( en, latim).
F. Blass-A. l)ebrunner, (;ran1111atik des neutesta111ent1ichen
Griechisch. Vandenhoeck u. Huprecht, Goettingen, 9:i edição 1934,
386 pp.
J. Warns-R.. Kuecklich-F. R.ienccker, Lehrbuch des neutesta­
n1entlichen c;riechisch. Brunnen-Verlag-. (;iessen-Basel, 3� edição
19S4, 230 pp.
* 1vf. Zer,vick, (-;raecitas biblica. Ponti f icio I stitnto B i h1 ico,
Ron1a, 3:i edição 1955, 119 pp.
J. Friedrich, l�ntziffcrung verschollcner Schrif ten und Sprachen.
Springcr, Berli111-Goettingen 1954, 147 pp.
H. J cnsen, J)ie Schrif t in Vcrgangenheit und Geg-en,vart.
Wissenschaft]ichc Buchgcsel1schaf t, f)annstadt 1959, 583 pp.
Infelizn1cnte nenhun1a dessas gra1náticas hebraicas, aqui indi­
cadas, serve J)ara principiantes. T'ôclas snpõe111 a ajuda do pro­
f essur.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICI�

J-->·ri,1nei.r.a Parte. N 0111e e divisões da Bíblia . . . . . . . . . 7


Cap. I "BíbHa" e "Sagrada Escritura" . . . . . . . . . . . 7
Cap. II Antigo e Novo 'festamento . . . . . . . . . . . . . 7
Cap. III A Bíblia: coleção de livros . . . . . . . . . . . . . . 11
Cap. IV Divisão do Novo 'Testamento . . . . . . . . . . . . 12
Cap. V Divisão do Antigo Testamento . . . . . . . . . . 13
Cap. VI J)ivisão en1 Capítulos e Versículos . . . . . . . . 18

.S cgu11ida P,arte. O Cânon: sua evolução histórica . . . . 21


Cap. I O docu1nento da fundação do povo eleito 22
Cap. II A Bíblia depois da conquista da Palestina
pelos israelitas até o exílio . . . . . . . . . . . 25
Cap. III A Bíblia no tempo do exílio . . . . . . . . . . . 30
Cap. IV A Bíblia depois do exílio . . . . . . . . . . . . . . 33
Cap. V O Antigo Testan1ento entre os judeus
conte1nporâneos de Cristo . . . . . . . . . . . . . 37
Cap. VI O Antigo 'I'esta1nento na Igreja cristã 38
Cap. VII A história do Cànon do Novo Testa-
111ento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Cap. VIII A conclusão do Cânon . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Tercei;ra Parte. A Bíblia, palavra de Deus . . . . . . . . 48


Cap. I O livro que vem de Deus . . . . . . . . . . . . . 48
Cap. II A inspiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Cap. III Autor divino e escritor htunano . . . . . . . . . 54
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
182 índice

Cap. IV A Bíblia con10 doctunento da revelação e


co1no obra literária . .. . . .. . . . . . ... . . ... . . 61
Cap. V A Bíblia, livro que exige fé e provoca
críticas . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Cap. \TI A unidade e as estruturas da Bíblia .... 69

Quarta Parte. O Texto da Bíblia ..... :. . . . . . . . . . 72


A. O texto : original . ... . . ....... . . . . . . . ....... .. . .. 72
Cap. l As línguas bíblicas . . . . . . ... .... . . . .. . . . 73
Cap. II As fonnas gráficas da Bíblia . . . . . . .. 86
Cap. III A for111a dos livros e o 111aterial gráfico 92
Cap. IV O texto original do Antigo Testa111ento 97
Cap. V O texto original do Novo '"festa1nento .. 103
B. As antigas versões bíblicas . .. ... . . . . . . . . . ..... .. 105
Cap. VI As traduções greg�s .... . . .. ... . . . . . ... 106
Cap. VII As traduções aratnaicas .. .. . . . ... .... .. 111
Cap. VIII Outras versões orientais . ......... ... . .. 112
Cap. IX A Bíblia latina .. . . . . . . .. . .. . ... . . . .. . . 114
Cap. X l{esultados da crítica dos textos . . . . . 120

-
Quinta Parte. O sentido da Bíblia . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Cap. I Sentido Literal e sentido pleno . .... . . . 123
Cap. II As particularidades do sentido literal ... .- . . . 128
Cap. III A.s propriedades do sentido pleno . . . .. . 137
Cap. IV A solicitude ela Igreja pelo estudo e pc""'.·
la propagação da Bíblia ...........· . . ... 143

l?esenh-a ,d.a J�ite.ratura exegética . . . . . . . . . . . . . . . . . 151


Notas preli111inares . . . . ........ . . ............ - -....... -1 s 1 ·
I Bibliografia . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . 153
II R.evistas . . . . .. . .
.. .. .... .. .. .. ...... . 154
III Edicões.,, .. . . . .
e111 série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
l\T 1''rad t;1ções da Bíblia Católica para o
ale1não . .. . ...
.. .... ............. . . 156
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Índice 183

V Edições do texto original e ele _traduções


antigas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . .. . 15 7
VI Livros auxiliares para melhor co111preender
o texto bíblico ... . .... . .. . . .... . ... . . . . ... 159
VJ I Obras de consulta . . .. . ..... . . . . ... . . ... . .. 160
VIII Co111entários da Bíblia . . . . ....... . .. . .. . . . 162
TX Literatura bíblica geral . . .......... . .... . . 164
"'.T e·...
j\_ · 111
.1cnc1as · t-rod ut,onas
· . . .. ... . . . . . . . . . . . . 16�,,
XI Her1nenêutica, inspiração, 111entali<lade bí-
l)lica . . . . . . . . . . . .... . . .. ..... . . . . . . . . . 168
XII Teologia Bíblica . . . .... . .. . .. . . . . . . ... 169
XIII Obras históricas referentes à Bíblia . . . . . 172
XIV Arqueologia bíblica e histórica cultural. .. 173
XV Atlas bíblicos . . . . .................... 17-1-
XVI Geografia da Palestina . .... .. . . . ... . ... . 174
XVII O a111biente oriental do Antigo rfesta111ento 175
X VIII O an1biente judaico e helenístico elo Novo
1'estan1ento . . . . .
. . . . . . .. . . . . . .. . . .. . 177
XIX Escritos apócrifos . . . . .. . . .. . . . . . . .. . . 177
X.X Qu1nram . . . . .. ....... . . . . . . . .. . .. .. . 178
. . . .
XXI Línguas, escrita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180

Você também pode gostar