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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

RESUMO: OLHOS D’ÁGUA, CONCEIÇÃO EVARISTO

ALINE DA SILVA

RIO DE JANEIRO

2018
RESUMO.

meu recado às mulheres

contem
suas histórias

descubram o poder
de milhares de vozes
que foram caladas
por séculos.
(LEÃO, 2017, p. 54)

Como clamado pelo poema de Ryane Leão, o conto Olhos D’Agua da


escritora Conceição Evaristo dá voz a uma mulher como tantas outras que foram
silenciadas ao longo dos séculos. A protagonista do conto começa sua saga em uma
noite que acorda sufocada por uma pergunta que a persegue por boa parte da
trama: ‘’de que cor eram os olhos da minha mãe’’. Ela então mergulha nesse
questionamento onde suas lembranças se misturam com as da mãe. Filha mais
velha de sete irmãs cada vez mais mergulha no mar de memórias em busca da
única coisa que não consegue lembrar. Suas lembranças são regadas de flores,
danças, brincadeiras e dificuldades como não ter alimento que logo perdiam o foco
para a interação entre mãe e filha, que tal qual uma rainha era adornada e adorada
pelas pequenas. Uma distração a cada temor. Com a angústia crescente dentro de
si a narradora-personagem decide voltar à cidade que nasceu.

At around 1hour Saroo goes into the kitchen


to get a beer.On the way back he sees some
Jalebis, which is a fried Indian desert, on the
counter in a plate.A memory takes him back to
his childhood with his older brother Guddu. He
smells it and takes a bite slowly as his girl
friend Lucy comes beside him.

[LION, 2017}
Junto com suas reflexões acompanhamos a busca de uma mulher por sua
identidade, por um pertencimento. O conto possui uma linearidade até certo
momento quando as memórias se confundem entre si. Ao final compreende-se que
mais do que a cor dos olhos o importante era a essência do sofrimento e dor que
eles carregavam séculos atrás de séculos, anos após anos que ainda assim
transmitiam alegria em viver.

O que eu me lembro, eu me lembro completamente. Cenas


completas se passam contra estradas e fazendas. Eu posso
lembrar o aroma do ar os sons ao redor... Por outro lado, se
não consigo lembrar, não consigo lembrar, coisas inteiras são
perdidas completamente. Tem sido assim comigo por toda a
minha vida.

(ANGELOU, 1989, p.6-7)

Referências:

BRAXTON, Joanne M. Black Women Writing Autobiography: A Tradition within a


Tradition. Philadelphia: Temple University Press, 1989.

LEÃO, Ryane. Tudo Nela Brilha E Queima: Poemas de Lua e Amor. São Paulo.
Editora Planeta, 2017.

LION: Uma Jornada Para Casa. Direção: Garth Davies. United States (USA),
Australia (AUS). 2017, 1 DVD.
Rio de Janeiro, 02 de junho de 2018.

Oi, miga

Como você está? E o Lucas ainda gripado ou já está melhor?

Lembrei de você ainda agora e por isso decidi te escrever. Estava fazendo um
resumo sobre um conto chamado ‘’Olhos d’água’’ da Conceição Evaristo e tinha que
relacionar o conteúdo do texto com outros textos. Quando comecei a ler percebi que
a narrativa se aproximava da história do Saroo, daquele filme que assistimos Lion,
que 25 anos depois de se perder do irmão vai atrás da sua própria história. Tem
algumas diferenças claro, porém a ideia de não pertencer de ir em busca das raízes
e consequentemente de nós duas chorando durante a exibição me fez querer te
escrever. Na verdade, esse resumo fez com que eu refletisse várias vezes sobre a
minha história e a da mãe, que saiu também de Minas para tentar a vida e em tudo
que ela passou, das dificuldades e como ela disfarçava as dores e sofrimentos com
sorrisos e brincadeiras no carro que em certo momento foi a nossa moradia.
Essa final de semana infelizmente não vou poder te visitar, mas já adianto que no
próximo dia 15 estarei de volta e podemos ler o conto juntas, que tal?

Beijo pra você e cheiro no Lucas, amo vocês.

Aline

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