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O cortejo de Etain

O Cortejo de Etain

O Livro Amarelo de Lecan

I. Aqui começa o Cortejo de Etain

Existia na Irlanda um famoso rei da raça dos Tuatha De: Eochaid Ollathair era seu nome. Ele
também era chamado de Dagda (isto é, o bom deus), pois costumava fazer maravilhas para
seu povo e controlar o clima e as colheitas; por isso, os homens costumavam chamá-lo assim.
Elcmar do Brug tinha uma esposa cujo nome era Eithne, também chamada de Boand, e o
Dagda a desejou em uma união carnal. A mulher teria cedido ao Dagda se não fosse por medo
de Elcmar, de tão grande que era seu poder. Por isso, o Dagda enviou Elcmar em uma viagem
até Bres filho de Elatha em Mag nInis, trabalhando em grandes feitiços sobre Elcmar para que
ele não voltasse em breve, dissipando sobre ele a escuridão da noite e mantendo-o longe da
fome e da sede. Ele o enviou em grandes incumbências de forma que nove meses se passaram
em um dia, pois ele disse que não voltaria para casa novamente entre o dia e a noite.
Entretanto, Dagda foi até a esposa de Elcmar que lhe gerou um filho, Aengus, e a mulher
ficaria preocupada quando Elcmar voltasse, mas ele não percebeu sua ofensa: ter dormido
com o Dagda.

2. O Dagda, entretanto, levou seu filho até a casa de Midir em Bri Leith em Tethba, para ser
adotado. Lá, Aengus foi criado por um espaço de nove anos. Midir tinha um grande campo de
jogos em Bri Leith. Três vezes cinquenta rapazes dos jovens nobres da Irlanda estavam lá junto
com três vezes cinquenta donzelas da terra da Irlanda. Aengus era o líder de todos eles, pois
era grande o amor que Midir tinha por ele, e também pela beleza de sua forma e nobreza de
sua raça. Ele também era chamado de Mac Oc (o Filho Jovem), pois sua mãe disse: “Jovem é o
filho que foi gerado no romper do dia e nascido entre o amanhecer e o crepúsculo.”

3. Aengus havia brigado com Triath filho de Febal (ou Gobor) dos Fir Bolg, que era um dos dois
líderes no jogo e também um filho adotivo de Midir. Não era uma questão de orgulho com
Aengus que Triath devesse falar com ele, e disse: “Me aborrece o filho de um servo falar
comigo,” pois Aengus acreditava até então que Midir era seu pai e o reino de Bri Leith era sua
herança, e não sabia de seu parentesco com o Dagda.

4. Triath respondeu e disse: “Não ficarei mal por um mercenário cuja mãe e pai são
desconhecidos fale comigo.” Após isso, Aengus foi até Midir chorando e lamentando por ter
sido envergonhado por Triath. “O que é isso?” disse Midir. “Triath me difamou e jogou em
minha cara que não tenho pai nem mãe.” “Isso é mentira,” disse Midir. “Quem é minha mãe e
de onde é meu pai?” “Não é difícil. Teu pai é Eochaid Ollathair,” disse Midir, “e Eithne, a
esposa de Elcmar do Brug é sua mãe. Eu te criei escondido de Elcmar para que não lhe
causasse dor o fato de você ter sido gerado em seu ultraje.” “Venha comigo,” disse Aengus,
“para que meu pai me reconheça e eu não me esconda mais dos insultos dos Fir Bolg.”

5. Então Midir saiu com seu filho adotivo para falar com Eochaid, e chegaram a Uisnech de
Meath, no centro da Irlanda, pois lá era a casa de Eochaid, onde a Irlanda se estendia
igualmente para cada lado, sul e norte, leste e oeste. Diante deles na assembleia, encontraram
Eochaid. Midir chamou o rei para conversar com o rapaz. “O que deseja esse jovem que não
veio até agora?” “Seu desejo é ser reconhecido pelo seu pai e terra ser dada a ele,” disse
Midir, “pois não é próprio que seu filho seja um sem terra enquanto tu és o rei da Irlanda.”
“Ele é bem vindo,” disse Eochaid, “ele é meu filho. Mas a terra que desejo que ele tenha ainda
não está vaga.” “Que terra é essa?” disse Midir. “O Brug, ao norte do Boyne,” disse Eochaid.
“Quem está lá?” perguntou Midir. “Elcmar,” disse Eochaid, “é o homem que está lá e que não
desejo perturbar mais.”

6. “Suplico, que conselho você dá para este rapaz?” disse Midir. “Tenho esse para ele,” disse
Eochaid. “No dia de Samain deixe-o ir até o Brug, e deixe-o ir armado. Este é um dia de paz e
amizade entre os homens da Irlanda, o dia no qual ninguém tem inimizade com seu
companheiro. Elcmar estará em Cnoc Side em Borga, desarmado, salvo apenas por uma
forquilha de aveleira branca em sua mão, sua capa com um broche dourado lhe envolvendo e
três vezes cinquenta pessoas diante dele no campo de jogos; deixe que Aengus vá até ele e o
ameace de morte. É apropriado que ele não o mate, prevendo que ele cumprirá seu desejo. E
esse será o desejo de Aengus: ele será rei por um dia e uma noite no Brug, e ele não devolverá
a terra para Elcmar até submeter-se à minha decisão; quando ele chegar, o pedido de Aengus
será para a terra ser dele e que a simples recompensa será poupar Elcmar e não mata-lo, e o
que ele pedirá é o reinado de um dia e noite, e,” disse ele, “são em dias e noites que o mundo
se passa.”

7. Midir então voltou para sua terra com seu filho adotivo, e no Samain seguinte, Aengus,
tendo se armado, foi até o Brug e fez um estratagema em Elcmar lhe prometendo em troca de
sua vida, o reinado de dia e noite de sua terra. O Mac Oc imediatamente habitou lá naquele
dia e noite como o rei daquela terra com toda a criadagem de Elcmar submetendo-se a ele. Na
manhã seguinte, Elcmar veio pedir sua terra de volta e após isso, o ameaçou poderosamente.
O Mac Oc disse que não devolveria sua terra até a decisão ser colocada ao Dagda na presença
dos homens da Irlanda.

8. Eles então apelaram ao Dagda, que julga cada acordo dos homens em conformidade com
seu cometimento. “Esta terra então conformemente pertencerá a esse jovem daqui em
diante,” disse Elcmar. “É o adequado,” disse o Dagda. “Você foi pego de surpresa em um dia de
paz e amizade. Tu deste sua terra pela misericórdia que foi lhe mostrada, pois sua vida é mais
querida para ti que sua terra, ainda que tu tenhas outra terra de mim que não será menos
rentável a ti que o Brug.” “Onde ela está?” disse Elcmar. “Cleitech,” disse o Dagda, “com as
três terras ao redor dela, teus jovens jogarão diante de ti todos os dias no Brug, e tu terás os
frutos do Boyne em sua terra.” “Está bem,” disse Elcmar, “que assim seja feito.” Ele partiu para
Cleitech e construiu uma fortaleza lá, e Mac Oc habitou no Brug em sua terra.

9. Midir foi então aquele ano até o Brug para visitar seu filho adotivo, e encontrou o Mac Oc
no monte de Síd em Broga, no dia de Samain, com duas companhias de jovens jogando diante
dele no Brug, e Elcmar no monte de Cleitech ao sul, observando-os. Uma briga rompeu entre
os jovens no Brug. “Não se mexa,” disse Midir para o Mac Oc, “por causa de Elcmar, para que
ele não desça para a planície. Eu mesmo irei fazer a paz entre eles.” Midir então foi até eles e
não foi fácil apartá-los. Um pedaço de azevinho foi atirado em Midir enquanto ele estava
intervindo, e bateu em um de seus olhos. Midir foi até o Mac Oc com seu olho em sua mão e
disse: “Não deveria vir visita-lo para ser envergonhado, pois com esse ferimento não posso
mais ver a terra para onde vim e a terra que deixei, não poderei retornar agora.”

10. “Não é prudente ficar assim,” disse o Mac Oc. “Irei até Dian Cecht para que ele venha e lhe
cure, e sua terra será sua, essa terra será sua e seu olho ficará inteiro novamente, sem
vergonha ou mácula por causa dele.” O Mac Oc foi até Dian Cecht. […] tu deves vir comigo,”
disse ele, “para salvar meu pai adotivo que foi ferido no Brug no dia de Samain.” Dian Cecht foi
e curou Midir para que ele ficasse inteiro novamente. “Boa é minha jornada agora,” disse
Midir, “já que estou curado.” “Certamente é,” disse o Mac Oc. “Tu habitarás aqui por um ano
para que possas ver minha tropa e meu povo, minha família e minha terra.”

11. “Não ficarei,” disse Midir, “a menos que eu tenha minha recompensa.” “Qual
recompensa?” disse o Mac Oc. “Fácil dizer. Uma carruagem que vale sete cumals¹,” disse
Midir, “um manto apropriado para mim e a mais linda donzela da Irlanda.” “Eu tenho,” disse o
Mac Oc, “a carruagem e o manto apropriado para ti.” “Há mais que isso,” disse Midir, “a
donzela que ultrapassa em forma todas as donzelas na Irlanda.” “Onde ela está?” disse o Mac
Oc. “Está em Ulster,” disse Midir, “é Etain Echraide, filha de Ailill, o rei da parte nordeste da
Irlanda. Ela é a mais querida, gentil e adorável na Irlanda.”

12. O Mac Oc foi procurá-la até chegar a casa de Ailill em Mag nInis. Ele foi bem recebido e
ficou lá durante três noites. Contou sua missão e anunciou seu nome e raça. Ele disse que veio
em busca de Etain. “Não a darei para você,” disse Ailill, “pois não terei lucro de ti, devido à
nobreza de sua família e a grandeza de seu poder e de seu pai. Se você envergonhar minha
filha, não terei de ti nenhuma compensação.” “Não será assim,” disse o Mac Oc. “Eu a
comprarei imediatamente.” “Terás isso,” disse Ailill. “Declare sua demanda,” disse o Mac Oc.
“Não é difícil,” disse Ailill. “Tu limparás para mim doze planícies em minha terra que estão
debaixo de lixo e madeira, de forma que elas estejam a todo tempo boas para o gado pastar,
para habitações para mim, para jogos, assembleias, encontros e fortalezas.”

13. “Isso será feito,” disse o Mac Oc. Ele voltou para casa e lamentou para o Dagda o aperto
que passava. Este último fez com que as doze planícies ficassem limpas em uma única noite na
terra de Ailill. Estes eram os nomes das planícies: Mag Macha, Mag Lemna, Mag nItha, Mag
Tochair, Mag nDula, Mag Techt, Mag Li, Mag Line, Mag Murthemne. Agora que o trabalho
tinha sido feito pelo Mac Oc, ele foi até Ailill pedir por Etain. “Tu não obterás ela,” disse Ailill,
“até que tire dessa terra e leve para o mar os doze grande rios que estão nos poços, pântanos
e brejos, para que eles possam trazer a produção do mar para os povos e famílias e drene a
terra e o terreno.”

14. Ele novamente foi até o Dagda para lamentar o aperto que passava. Depois disso, este
ultimo fez com que as doze grandes extensões de água fluíssem em direção ao mar em uma
única noite. Eles não tinham sido vistos lá até então. Estes eram os nomes dos rios: Find,
Modornn, Slena, Nas, Amnas, Oichen, Or, Banda, Samair e Loche. Agora que esses trabalhos
haviam sido realizados, o Mac Oc foi falar com Ailill a fim de pedir por Etain. “Tu não a terá até
compra-la, pois depois que você a levar, eu não terei o lucro da donzela além do que eu terei
agora.” “O que você exige de mim agora?” disse o Mac Oc. “Eu exijo,” disse Ailill, “o peso da
donzela em ouro e prata, pois esta é a minha parte de seu preço; e o que você fez até agora, o
lucro irá para seu povo e sua família.” “Isso será feito,” disse o Mac Oc. Ela então foi colocada
no chão da casa de Ailill, e seu peso em ouro e prata foi dado por ela. A riqueza foi deixada
com Ailill e o Mac levou Etain para casa com ele.

15. Midir deu as boas vindas à companhia. Aquela noite, Etain dormiu com Midir, e na manhã
seguinte, um manto apropriado e uma carruagem foram dados a ele, que ficou satisfeito com
seu filho adotivo. Após isso, ele morou por um ano inteiro no Brug com Aengus. Naquele ano,
Midir voltou para sua própria terra, para Bri Leith, e levou Etain com ele. No dia que ia embora,
Mac Oc disse para Midir, “Tenha cuidado com a mulher que leva contigo, por causa da terrível
e sábia mulher que te aguarda, com todo o conhecimento, habilidade e arte que pertencem a
raça dela,” disse Aengus, “ela também tem minha palavra e minha salvaguarda diante dos
Tuatha De Danann”. Esta é Fuamnach esposa de Midir, da descendência de Beothach filho de
Iardanel. Ela é sábia, prudente e versada no conhecimento e magia dos Tuatha De Danann,
pois o druida Bresal a criou até ela ser desposada por Midir.

16. Ela deu as boas vindas ao seu marido Midir, e a mulher falou muito de [...] para eles.
“Venha, oh Midir,” disse Fuamnach, “para que eu possa te mostrar minha casa e teu galardão
de terra [...]” Midir rodeou sua terra com Fuamnach e ela mostrou sua posse para ele e [...]
para Etain. Após isso, ele levou Etain novamente até Fuamnach. Fuamnach seguiu diante deles
até o dormitório² onde ela dormia e disse para Etain: “Você chegou ao assento de uma boa
mulher.” Quando Etain sentou-se na cadeira no meio da casa, Fuamnach bateu nela com uma
varinha de sorveira escarlate e ela se transformou em uma poça de água no meio da casa;
Fuamnach foi até Bresal, seu pai adotivo, e Midir deixou a casa para a poça que Etain havia se
transformado. Após isso, Midir ficou sem esposa.

17. O calor do fogo, o ar e o fervilhar do chão auxiliou a água de forma que a poça que estava
no meio da casa se tornou uma minhoca, e depois disso, a minhoca se tornou uma mosca³
roxa. Era tão grande quanto à cabeça de um homem, e a mais graciosa da terra. Mais doce que
gaitas, harpas e chifres era o som de sua voz e o zumbido de suas asas. Seus olhos brilhavam
como pedras preciosas na escuridão. A fragrância e o seu resplandecer levaria embora a fome
e sede de qualquer um que estivesse onde ela estava. O borrifar das gotas que derramava de
suas asas curariam todas as doenças, males e pragas em qualquer lugar que ela fosse. Ela
costumava observar Midir e ficar com ele em sua terra conforme ele caminhava. Escutá-la e
olhar para ela nutria as tropas em encontros e assembleias nos acampamentos. Midir sabia
que era Etain que estava naquela forma, e enquanto aquela mosca ficou com ele, ele não
tomou outra esposa, e qualquer um que não o amasse se aproximasse, ela o acordava.

18. Depois de um tempo, Fuamnach veio visitar Midir, e trouxe com ela como garantia os três
deuses de Dana: Lug, Dagda e Ogma. Midir repreendeu Fuamnach excessivamente e lhe disse
que ela não iria embora novamente se não fosse o poder das garantias que havia trazido ela.
Fuamnach disse que não se arrepende do ato que fez, pois ela preferiria fazer o bem para ela
mesma do que para outra pessoa, e que onde quer que fosse na Irlanda ela não faria nada
além de prejudicar Etain enquanto ela vivesse e em qualquer que fosse a forma que ela
estivesse. Ela trouxe poderosos encantamentos e [...] feitiços de Bresal Etarlam, o feiticeiro,
para banir e acautelar Etain de Midir, pois ela sabia que a mosca roxa que deliciava Midir era a
própria Etain, pois onde quer que ele visse a mosca, Midir não amava outra mulher, não
encontrava prazer na música, na bebida ou na comida quando não a via e escutava sua música
e sua voz. Fuamnach agitou um vento de assalto e magia de forma que Etain foi soprada de Bri
Leith e por sete anos ela não pôde encontrar um cume, uma árvore, uma colina ou uma altura
na Irlanda onde pudesse se acomodar, apenas as rochas do mar e as ondas do oceano, e
flutuou no ar durante sete anos até que pousou na franja no peito do Mac Oc enquanto ele
estava no monte do Brug.

19. O Mac Oc disse: “Bem vinda Etain, viajante cansada, tu que tem encontrado grandes
perigos através das artes de Fuamnach. Ainda não encontrastes seu lado seguro em aliança
com Midir. Quanto a mim, ele me achou capaz de ações com tropas, o abate de uma multidão,
o limpador de lugares selvagens, a abundância do mundo para a filha de Ailill. Uma tarefa
inútil, pois sua ruina miserável se seguiu.”
20. O Mac Oc deu as boas vindas à garota, que é a mosca roxa, e a colocou em seu peito na lã
de sua capa. Ele a levou até sua casa e ao seu solário 4 com suas brilhantes janelas para
passagem, e vestes roxas foram colocadas nela; onde quer que fosse o solário era carregado
pelo Mac Oc, e ele costumava dormir todas as noites ao lado dela, confortando-a, até sua
alegria e cor voltar para ela novamente. Esse solário foi preenchido com maravilhosas e
fragrantes ervas e ela desenvolveu-se na fragrância e resplendor dessas graciosas e preciosas
ervas.

21. Contaram para Fuamnach o amor e a honra que era concedida a Etain pelo Mac Oc.
Fuamnach disse para Midir, “Chame seu filho adotivo para que eu possa fazer a paz entre
ambos, enquanto eu mesma buscarei Etain.” Um mensageiro de Midir foi até o Mac Oc e este
veio falar com ele. Enquanto isso, Fuamnach foi por um caminho sinuoso até chegar ao Brug, e
enviou a mesma rajada de vento em Etain que a expulsou de seu solário no mesmo sopro que
ela estava antes por sete anos através da Irlanda. A rajada de vento a levou em miséria e
fraqueza até ela pousar na trave horizontal 5 de uma casa em Ulster, onde o povo bebia, e caiu
dentro de uma taça dourada que estava diante da esposa de Etar, o campeão de Inber
Cichmaine, na província de Conchobar, que então engoliu o líquido da taça e dessa forma Etain
foi gerada em seu útero e se tornou posteriormente sua filha. Ela foi chamada de Etain, filha
de Etar. Agora, se passaram mil e doze anos desde a primeira concepção de Etain por Ailill até
sua última concepção por Etar.

22. Depois disso, Etain foi trazida para Inber Cichmaine por Etar, e cinquenta filhas dos chefes
junto com ela, e era ele quem as alimentava e as vestia para que sempre dessem assistência a
Etain. Aconteceu de um dia todas as donzelas se banharem em um estuário quando, na água,
viram um cavaleiro entrando na planície em direção a elas. Ele estava montado em um grande
corcel marrom, curveteando e empinando-se, com uma juba e rabo encaracolados. Em sua
volta, um manto verde em dobras, uma túnica bordada em vermelho e um broche dourado em
seu manto que prendia em seus ombros de ambos os lados. Um escudo de prata com uma
borda de ouro estava pendurado em suas costas com uma correia de prata e um ornamento
de ouro nela. Em sua mão, uma lança de cinco dentes com faixas de ouro ao redor, do punho
até o encaixe. Ele tinha um brilhante cabelo loiro que chegava até sua testa, onde uma faixa de
ouro ficava pressionada sobre ela para que seu cabelo não caísse sobre sua face. Ele parou por
um instante na margem do rio olhando para as donzelas, e todas elas amaram ele. Logo a
seguir, ele proferiu essa canção6:

23. Essa é Etain, hoje aqui

Em Sid Ban Find a oeste de Ailbe,

Entre garotinhos está ela

Na beira de Inber Cichmaine.

Foi ela que curou o olho do Rei

A partir do poço de Loch Da Lig:

Foi ela que foi engolida em uma bebida

De uma taça pela esposa de Etar.

Por causa dela o rei deverá perseguir


Os pássaros de Tethba,

E afogar seus dois corcéis

Na lagoa de Loch Da Airbrech.

Uma numerosa guerra acontecerá

Em Eochaid de Meath por sua causa:

Haverá destruição nos montes encantados

E batalha contra muitos milhares.

Ela que foi cantada de (?) na terra;

Ela que se esforça para ganhar o Rei;

Ela (...) Be Find,

Ela é nossa Etain mais tarde.

O guerreiro partiu depois disso e ninguém sabia de onde ele tinha vindo ou para onde que ele
tinha ido.

24. Quando o Mac Oc chegou para aconselhar-se com Midir, não encontrou Fuamnach lá, e
Midir disse para ele: “A mulher nos enganou, e se disseram para ela que Etain está na Irlanda,
ela irá lhe fazer mal.” “Também penso que isso seja provável,” disse o Mac Oc. “Etain está em
minha casa no Brug por um curto tempo na forma que ela foi soprada para longe de ti, e talvez
seja ela que a mulher esteja compelindo.”

25. O Mac Oc voltou para casa e encontrou o solário de cristal sem Etain. O Mac Oc voltou-se
para os rastros de Fuamnach e chegou até ela em Aenech Bodbgna na casa de Bresal Etarlam.
O Mac Oc a atacou e decepou sua cabeça, levando-a consigo até a beira do Brug.

26. Contudo, há uma versão em outro lugar, onde Fuamnach e Midir são mortos por
Manannan, em Bri Leith, do qual foi dito:

Fuamnach, a tola, foi a esposa de Midir,

Sigmall, uma colina com árvores antigas,

Em Bri Leith eram uma combinação impecável,

Eles foram queimados por Manannan.

II. O Cortejo de Etain

Eochaid Airem tomou o reinado da Irlanda. Os cinco Quintos 7 da Irlanda se submeteram a ele,
isto é, o rei de cada Quinto. Estes eram os reis naquela época: Conchobar filho de Nesa, Mess
Gegra, Tigernach Tetbannach, Cu Rui e Ailill filho de Mata Murisc. As fortalezas de Eochaid
eram: Dun Fremainn em Meath e Dun Fremainn em Tethba. Fremainn em Tethba era a mais
querida das fortalezas da Irlanda para ele.

2. Eochaid, no ano depois que ele se tornou rei, ordenou aos homens da Irlanda a realizarem o
Festival de Tara, a fim de avaliar seus tributos e taxas por cinco anos. Os homens da Irlanda
responderam Eochaid dizendo que não podiam convocar o Festival de Tara para um rei que
não tinha uma rainha, pois Eochaid não tinha uma quando ele tomou o reinado. Logo a seguir,
Eochaid despachou enviados para todos os Quintos da Irlanda para procurar a mais nobre
donzela (ou mulher) da Irlanda, pois ele disse que sua esposa deveria ser uma mulher que
nenhum dos homens da Irlanda tivessem conhecido antes dele. Foi encontrada para ele em
Inber Cichmaine, Etain, a filha de Etar, e Eochaid então se casou com ela, pois correspondia em
beleza, forma e linhagem, em esplendor, juventude e fama.

3. Os três filhos de Find, o filho de Findlug, os filhos da rainha eram: Eochaid Feidlech, Eochaid
Airem e Ailill Anguba. Ailill Anguba veio para amar Etain no Festival de Tara depois dela ter se
deitado com Eochaid, pois estava acostumado a olhar para ela continuamente, e tal olhar é um
sinal de amor. O coração de Eochaid reprovou Ailill pelo seu ato, mas tal ato não lhe ajudou de
modo algum. O desejo era mais forte que o caráter. Ailill declinou para que sua honra não
ficasse constrangida, e também não falou com a própria mulher.

4. Quando ele esperava a morte, Fachtna, o médico de Eochaid, foi levado para vê-lo. O
médico disse para ele, “Você tem uma das duas dores que mata os homens e nenhum médico
pode curar: a dor do amor e a dor da inveja.” Ailill não confessou para ele, pois estava
envergonhado. Então Ailill foi deixado em Fremainn Tethba morrendo e Eochaid saiu em um
circuito pela Irlanda. Etain foi deixada com Ailill para que seus últimos ritos fossem realizados
por ela, que são: cavar seu túmulo, fazer a lamentação e matar o seu gado.

5. Todos os dias Etain costumava ir até a casa onde Ailill estava para falar com ele, e assim sua
doença foi aliviada, e enquanto Etain permanecia lá, ele ficava admirando ela. Etain observou
isso e ponderou o assunto. Um dia quando estavam juntos em sua casa, Etain o perguntou a
causa de sua doença. “É por amor a ti,” disse Ailill. “É uma pena que ficastes tanto tempo sem
dizer,” disse ela. “Se soubéssemos, teríamos lhe curado há um tempo.” “Mesmo hoje eu posso
estar inteiro novamente se você estiver de boa vontade.” “Estou de boa vontade, de fato,”
disse ela.

6. Todos os dias então ela vinha para banhar sua cabeça, cortar carne para ele e derramar água
em suas mãos. Após três vezes nove dias, Ailill foi curado. Ele disse para Etain, “E quando eu
terei de ti o que está faltando para me curar?” “Terá isso amanhã,” disse ela, “mas não na
residência do príncipe para ele ser envergonhado. Venha até mim amanhã na colina acima da
corte.”

7. Ailill ficou acordado por toda a noite, mas na hora de seu encontro ele adormeceu e não
conseguiu acordar até a terceira hora da manhã. Etain foi para encontra-lo e viu um homem
parecido com Ailill esperando ela, e lamentou sua fraqueza devido a sua doença. Ele então
falou o discurso que Ailill teria desejado. Na terça hora, Ailill acordou. Ele começou a lamentar
por um longo tempo até Etain chegar em casa. “Por que está triste?” disse ela. “Pois lhe enviei
para um encontro comigo e não estava lá para te encontrar, pois o sono se abateu sobre mim
e somente agora acordei. É evidente que ainda não atingi minha cura.” “Isso não importa,”
disse Etain, “um dia segue o outro.” Ele ficou acordado aquela noite com um grande fogo em
sua frente e água em seu lado para banhar seus olhos.

8. Na hora de seu encontro, Etain saiu para encontra-lo e viu o mesmo homem parecido com
Ailill. Etain voltou para casa e Ailill caiu no choro. Três vezes Etain foi e Ailill não compareceu
ao encontro. Ela sempre encontrava o mesmo homem. “Não foi com você que marquei o
encontro,” disse ela. “Quem é tu que vieste me encontrar? O homem com quem marquei o
encontro não foi por pecado ou ferida que o encontro foi feito, mas para que alguém
adequado para ser o rei da Irlanda pudesse ser salvo da doença que se abateu sobre ele.”
“Seria mais adequado para ti vir comigo, pois tu és Etain Echraide, filha da Ailill, e eu sou seu
marido. Eu paguei teu enorme dote em grandes planícies e rios da Irlanda, e deixei em seu
lugar o seu peso em ouro e prata.” “Me diga,” disse ela, “qual é o seu nome?” “Não é difícil:
Midir de Bri Leith,” disse ele. “Me diga,” disse ela, “O que foi que nos separou?” “Não é difícil:
a feitiçaria de Fuamnach e os feitiços de Bresal Etarlam.” Midir disse para Etain, “Você virá
comigo.” “Não,” disse ela, “Não trocarei o rei da Irlanda por um homem cuja raça ou família é
desconhecida.” “Foi eu,” disse Midir, “que coloquei amor por ti na mente de Ailill para que sua
carne e sangue fosse embora. Foi eu que tirei dele todo o desejo carnal para que sua honra
não fosse afetada. Mas venha para minha terra comigo se Eochaid te ofertar.” “De bom
grado,” disse Etain.

9. Ela então foi para sua casa. “Estamos bem cumpridos,” disse Ailill. “Pois agora estou curado
e sua honra não foi afetada.” “É bom, sim,” disse Etain. Depois disso, Eochaid voltou de seu
circuito e alegrou-se que seu irmão ainda estava vivo, e Etain recebeu gratidão pelo que havia
feito até Eochaid voltar.

III. O Cortejo de Etain

Em outra ocasião, em um adorável dia de verão, Eochaid Airem, o rei de Tara, levantou-se e
subiu no pátio de Tara para observar Mag Berg. Ela estava radiante com o resplandecer de
todas as cores. Quando Eochaid olhou a sua volta, viu um estranho guerreiro no pátio diante
dele. Um manto roxo estava em sua volta e ele tinha um cabelo loiro que chegava até os
ombros. Tinha um olho azul em sua cabeça, uma lança de cinco pontas em uma mão e um
escudo com o aro branco com gemas douradas em outra. Eochaid ficou silencioso, pois não
sabia de sua estadia em Tara na noite passada e as cortes não tinham abrido naquela hora.

2. Logo a seguir ele foi até Eochaid. Eochaid então disse, “Boas vindas ao guerreiro que não
conhecemos.” “É por isso que viemos,” disse o Guerreiro. “Nós não os conhecemos,” disse
Eochaid. “Eu lhe conheço, no entanto,” respondeu o guerreiro. “Qual é o seu nome?” disse
Eochaid. “Não é famoso,” disse ele, “Midir de Bri Leith.” “O que te trouxe aqui?” disse Eochaid.
“Jogar xadrez8 contigo,” disse ele. “É verdade que sou bom em xadrez,” disse Eochaid. “Vamos
verificar isso,” disse Midir. “A rainha está dormindo,” disse Eochaid, “e é na casa dela que o
tabuleiro de xadrez está.” “Eu tenho aqui,” disse Midir, “um tabuleiro de xadrez que não é
inferior.” E era verdade: um tabuleiro prateado e peças douradas, e cada canto do tabuleiro
era iluminado por pedras preciosas e para as peças, uma bolsa de fios de bronze entrançados.

3. Logo a seguir Midir organizou o tabuleiro. “Você joga,” disse Midir. “Eu não vou jogar exceto
por uma aposta,” disse Eochaid. “Qual será a recompensa?” disse Midir. “Isso tudo para mim,”
disse Eochaid. “Você terá de mim,” disse Midir, “se tu ganhar minha aposta, cinquenta corcéis
cinza escuro com cabeças salpicadas de vermelho-sangue, orelhas pontiagudas, peito amplo,
narinas dilatadas, membros delgados, rápidos, sagazes, grandes, jugo firme facilmente atado,
com suas cinquenta rédeas esmaltadas. Eles estarão aqui na terça hora de amanhã.” Eochaid
disse o mesmo para ele, e em seguida, eles jogaram. Midir perdeu a aposta. Ele foi embora
levando o tabuleiro com ele. Quando Eochaid levantou-se pela manhã, foi até o pátio de Tara
assim que o sol estava nascendo, e viu seu oponente também indo em direção a ele pelo pátio.
Ele não sabia para onde ele tinha ido e nem de onde tinha vindo, e viu cinquenta corcéis cinza
escuro com suas rédeas esmaltadas. “Isso é honroso,” disse Eochaid. “Promessa é dívida,”
disse Midir.

4. “Vamos jogar xadrez?” disse Midir. “De boa vontade,” disse Eochaid, “que seja então por
uma aposta.” “Terás isso de mim,” disse Midir, “cinquenta javalis jovens, com pelagem
enrolada, barriga cinza, costas azul, com cascos de cavalo, juntos com uma cuba de madeira de
espinheiro negro na qual todos eles caberiam. Mais ainda, cinquenta espadas com o cabo
dourado e cinquenta vacas de orelhas vermelhas com bezerros brancos de orelhas vermelhas
com um spancel 9de bronze para cada bezerro. Mais ainda, cinquenta carneiros cinza castrados
com três cabeças vermelhas e três chifres, mais cinquenta espadas com o cabo de marfim. E
mais ainda, cinquenta mantos malhados, mas cada um deles em seu próprio dia.”

5. O pai adotivo de Eochaid o questionou e perguntou de onde ele tinha trazido sua grande
riqueza. Ele disse, “Isso é realmente adequado de se contar.” “Verdadeiramente, você deve ter
cautela com ele; é um homem de poder mágico que veio até você, meu filho, coloque cargas
pesadas sobre ele.” Depois disso, seu oponente veio até ele e Eochaid colocou sobre ele as
famosas e grandes tarefas, que são: tirar as pedras de Meath, colocar juncos sobre Tethba,
construir uma ponte sobre Moin Lamraige e uma floresta sobre Breifne. Sobre isso, o poeta
proferiu as seguintes estrofes:

Foram quatro coisas

Que Eochaid Airem impôs

Em uma multidão com o rosto masculino

Com lança e escudo:

Uma ponte sobre Moin Lamraige,

Uma floresta sobre Breifne, sem dificuldade,

Tiras as pedras dos montículos da grande Meath,

E junco sobre Tethba.

6. Estes então foram os penhores e as dificuldades que foram impostas. “Você colocou muita
coisa sobre mim,” disse Midir. “Não coloquei de fato,” disse Eochaid. “Então me conceda um
pedido e um privilégio. Enquanto você espera, deixe que nenhum homem ou mulher esteja
fora de casa até o sol nascer de amanhã.” “Isso será feito,” disse Eochaid. “Ninguém nunca
pisou naquele pântano antes.”

7. Eochaid então ordenou que seu mordomo fosse observar o esforço que estavam tendo para
fazer a ponte. O mordomo foi até o pântano, e parecia para ele que todos os homens do
mundo, do nascer do sol ao por do sol, estavam no pântano. Todos eles fizeram um monte de
suas roupas e Midir subiu naquele monte. Na parte inferior da ponte, eles continuavam
derrubando uma floresta com seus troncos e raízes e Midir estava de pé, apressando a tropa
de todos os lados. Uma pessoa poderia pensar que embaixo dele, todos os homens do mundo
estavam criando um tumulto.

8. Depois disso, barro, cascalho e pedras foram colocadas sobre o pântano. Até aquela noite,
os homens da Irlanda costumavam colocar o esforço na testa dos bois, mas foi visto que o
povo dos montes encantados estava colocando a força 10 em seus ombros. Eochaid fazia o
mesmo, e por isso é chamado de Eochaid Airem [isto é, o lavrador], pois ele foi o primeiro
homem dos homens da Irlanda a colocar o jugo sobre o pescoço dos bois. Estas eram as
palavras que estavam nos lábios das tropas enquanto faziam a ponte: “Coloque na mão, lance
na mão, bois excelentes, nas horas após o crepúsculo; solidez é a exação; ninguém sabe de
quem é o ganho, de quem é a perda, da ponte sobre Moin Lamraige.”
Não teria existido ponte melhor no mundo se uma vigia não tivesse sido colocada sobre eles.
Os defeitos foram deixados neles. Depois disso, o mordomo foi até Eochaid para levar as
notícias do vasto trabalho que ele havia testemunhado, e disse que não existia no cume do
mundo um poder mágico que ultrapassasse isso.

9. Enquanto estavam conversando, eles viram Midir vindo em direção a eles com seus lombos
cingidos e um mau olhado. Eochaid ficou com medo, mas lhe deu as boas vindas. “Foi por isso
que viemos,” disse Midir. “É cruel e irracional de sua parte colocar tal dificuldade e inflição
sobre mim. Eu poderia ter trabalhado em algo a mais para te agradar, mas minha mente está
irada contra ti.” “Você não obterá raiva em troca de sua cólera: tua mente deve estar
sossegada,” disse Eochaid. “Isso será aceito então,” disse Midir, “vamos jogar xadrez?”. “Qual
será a aposta?” disse Eochaid. “A aposta que quisermos,” disse Midir, e naquele dia, Eochaid
perdeu a aposta. “Você tomou minha aposta,” disse Eochaid. “Queria eu ter a tomado antes,”
disse Midir. “O que quer de mim?” disse Eochaid. “Meus braços em volta de Etain e um beijo
dela,” disse Midir. Eochaid ficou silencioso. “Venha daqui a um mês e isso será dado a ti.”

10. No ano antes de Midir vir jogar xadrez com Eochaid, ele cortejava Etain, mas não podia tê-
la; o nome pelo qual Midir a chamou foi Be Find [Dama Loira] e ele disse para ela:

Ó Be Find, você virá comigo

Para a maravilhosa terra onde a harmonia está,

Lá, o cabelo é como a coroa de uma prímula

E o corpo é liso e branco como a neve.

Lá, nem o meu ou seu,

Brancos são os dentes, negras as sobrancelhas.

Um deleite para os olhos é o número de nossas tropas,

Lá cada bochecha é da cor da dedaleira.

Uma flor de cravo está no pescoço de cada um,

Um deleite para os olhos são os ovos dos melros.

Apesar de nobre a paisagem de Mag Fail,

Ela será desolada depois de frequentar Mag Mar.

Apesar de você considerar de boa qualidade a cerveja¹¹ de Inis Fail,

Mais intoxicante é a cerveja de Tir Mar.

Uma maravilhosa terra é a terra que eu falo;

A juventude não sai de lá antes da velhice.

Mornos rios doces fluem através da terra,

A boa qualidade de hidromel e vinho.

Majestoso povo sem mácula,

Concepção sem pecado, sem luxúria.


Nós vemos todos em todos os lados,

E ninguém nos vê.

Essa é a escuridão da transgressão de Adão

Que nos impediu de sermos contados.

Ó mulher, se você vier para meu povo orgulhoso,

Uma coroa de ouro estará sobre sua cabeça

Mel, vinho, cerveja, leite fresco e bebida,

Você terá comigo lá, ó Be Find.

“Eu irei contigo,” disse Etain, “se você me obteve de meu marido, se não me obteve, não irei.”

11. Depois disso, Midir foi até Eochaid e deu sua aposta imediatamente a fim de poder brigar
com Eochaid, pois foi ele que realizou as condições onerosas e foi por essa razão que ele
estipulou a recompensa não nomeada para que pudesse nomeá-la depois. Quando Midir e seu
povo estavam executando os termos da noite, isto é, a ponte sobre Moin Lamraige, tirando as
pedras de Meath e colocando os juncos sobre Tethba e a floresta sobre Breifne, estas foram as
palavras que o povo dizia, de acordo com o Livro de Druim Snechta:

12. Cuirthe i iland toche i iland airderg damrudh trom an coidben cluinitar fir ferdi buidne
balethruim crandchuir forderg saire fedhar sechuib slimprib snithib sciathu lama indrochad
cloena fo bith oenmna duib in digail duib an tromdam tairthrim flatho fer ban fomnis in fer
mbraine cerpai fomnis diadh dergage fer arfeidh solaid fri ais estild fer bron fort ier techta in
delmnad o luachair for di Teithbi dictlochad Midi indracht coich les coich aimles.¹²

13. Midir fez um encontro daqui a um mês a partir daquele dia, mas Eochaid reuniu a elite dos
guerreiros e os melhores bandos bélicos da Irlanda em Tara, cada um circulando o outro ao
redor de Tara, no meio, fora e dentro, e o rei e a rainha no meio da casa; as cortes foram
trancadas, pois eles sabiam que um homem de grande poder mágico viria. Etain ficou servindo
os lordes aquela noite, pois servir bebidas era um dom especial dela.

14. Depois disso, enquanto estavam conversando eles viram Midir vindo em direção a eles no
meio da casa real. Ele sempre estava belo, mas naquela noite, estava mais ainda. As tropas
estavam atônitas. O silêncio então se abateu sobre eles e o rei lhe deu as boas vindas. “Foi por
isso que viemos,” disse Midir, “o que foi prometido para mim,” disse ele, “deixe que seja dado
a mim. Promessa é dívida. O que prometi, eu lhe dei.” “Não pensei em nada além disso até
agora,” disse Eochaid. “A própria Etain me prometeu que te deixaria,” disse Midir. Logo a
seguir, Etain enrubesceu. “Não se envergonhe, ó Etain,” disse Midir. “Isso não é pouco
feminino para ti. Eu estive um ano,” disse ele, “te procurando com presentes e tesouros, a
mais bela na Irlanda, e não lhe tomarei até eu ter a permissão de Eochaid. Não será através de
qualquer [...] pensamento que eu lhe ganharei?” “Eu te falei,” disse ela, “que não iria com você
até Eochaid me vender. Quanto a mim, você pode me levar se Eochaid me vender.”

15. “Eu não lhe venderei, na verdade,” disse Eochaid, “mas deixe ele por seus braços a sua
volta no meio da casa onde tu estás.” “Isso será feito,” disse Midir. Ele pegou suas armas com
a mão esquerda e colocou a mulher debaixo de seu braço direito e a levou através da claraboia
da casa. A tropa se levantou envergonhada ao redor do rei. Eles viram dois cisnes voando ao
redor de Tara.
E eles seguiram para Sid ar Femuin e Eochaid foi com a elite dos homens da Irlanda a sua volta
para Sid ar Femuin, que é o Sid Ban Find. E o conselho dos homens da Irlanda foi cavar e cavar
cada monte encantado da Irlanda até que sua esposa fosse encontrada.

16. Eles cavaram Sid Ban Find e certa pessoa saiu de lá e lhes disse que a mulher não estava.
“O rei dos montes encantados da Irlanda, ele é o homem que foi até você. Ele está em sua
fortaleza real com a jovem. Vão para lá até chegarem.” Eles foram para o norte e começaram a
cavar o monte encantado e ficaram um ano e três meses nisso. O que eles cavavam em um dia,
era restaurado na manhã seguinte. Dois corvos brancos saíram do monte e vieram dois cães de
caça: Schleth e Samair. Eles foram novamente para o sul, para Sid Ban Find, e começaram a
cavar o monte encantado. Alguém saiu de lá e disse para eles, “O que você tem contra nós, ó
Eochaid?” disse ele. “Não pegamos sua esposa. Nenhum mal foi feito a ti. Tome cuidado em
dizer qualquer coisa que possa ser prejudicial para um rei.” “Eu não irei embora por isso,”
disse Eochaid, “até que você me diga como eu consigo minha esposa de volta.” “Pegue
cãezinhos13 e gatos cegos e deixe-os ir. Esse é o trabalho que você deve fazer todos os dias.”
Eles foram embora e isso foi feito por eles, e dessa forma eles estabeleceram.

17. Quando eles estavam demolindo Sid Bri Leith, eles viram Midir vindo em direção a eles. “O
que você tem contra mim,” disse Midir. “Você me fez mal. Você colocou grandes tribulações
sobre mim. Você vendeu sua esposa para mim. Não me faça mais mal,” disse ele. “Ela não
ficará com você,” disse Eochaid. “Ela não ficará,” disse Midir. “Vá para casa; sua esposa irá até
você na terça hora da manhã seguinte [...],” disse Midir. “Não me faça mais mal se estiver
contente comigo dessa vez.” “Eu aceito,” disse Eochaid. Midir delimitou seu trato e foi
embora. Quando estava lá na terça hora da manhã, viram cinquenta mulheres de forma e
vestes iguais as de Etain. O silêncio se abateu sobre as tropas. Havia uma cadela cinza diante
deles. Disseram para Eochaid, “Escolha sua esposa agora ou convide uma das mulheres para ir
com você. É adequado irmos para casa.”

18. “O que vocês fariam,” disse Eochaid aos homens da Irlanda, “se a dúvida se abatesse sobre
vocês?” “Não temos nenhuma decisão quanto ao que devemos fazer,” disseram os homens da
Irlanda. “Eu tenho,” disse Eochaid. “Minha esposa é a melhor servindo bebidas na Irlanda. Eu a
reconhecerei pelo seu serviço.” Vinte e cinco das mulheres foram colocadas em um lado da
casa e vinte e cinco no outro, e ainda assim ele não encontrou Etain. Finalmente só faltavam
duas mulheres. Uma delas derramou a bebida primeiro. Disse Eochaid, “Essa é Etain, e essa
não é ela.” Então todos eles se aconselharam. “Verdadeiramente que é Etain, mas não é o
serviço dela.” O resto das mulheres partiram. O ato que ele fez foi uma grande satisfação aos
homens da Irlanda, o grande feito que os bois haviam realizado e o resgate da mulher dos
homens dos montes encantados.

19. Em um belo dia Eochaid se levantou, e ele e sua rainha estavam conversando no meio da
corte e viram Midir vindo em direção a eles. “Bom, Eochaid,” disse Midir. “Bom,” disse
Eochaid. “Você não jogou de forma justa comigo com as dificuldades que infligiu sobre mim,
considerando o suporte que tu tinhas e tudo o que [...] foi me pedido. Não havia nada em que
você não suspeitava de mim.” “Eu não te vendi minha esposa,” disse Eochaid. “Responda, você
considerou sua consciência em relação a mim?” disse Midir. “Até você oferecer outra
promessa, não irei considerar,” disse Eochaid. “Responda, sua mente está tranquila?” disse
Midir. “Está,” disse Midir. “Assim como a minha,” disse Midir. “Sua esposa estava grávida
quando foi levada, ela deu a luz a uma menina, e é esta que está com você. Sua esposa, além
disso, está comigo e aconteceu de você tê-la deixado ir pela segunda vez.” Logo a seguir, ele
partiu.
20. Depois disso, Eochaid não ousou cavar novamente um monte encantado de Midir, pois
existia um vínculo contra ele. Entristeceu Eochaid a sua esposa ter fugido e sua própria filha ter
se deitado com ele, estar com uma criança dele e ter dado a luz a uma menina. “Ó Deuses,”
disse Eochaid, “eu e a filha de minha filha nunca olharemos um para o outro.” Dois de sua
criadagem foram atirá-la em um fosso entre bestas. Eles visitaram a casa de Findlam, o pastor 14
de Tara, em Sliab Fuait, no meio de uma região selvagem. Não havia ninguém em casa. Eles
comeram a comida de lá e atiraram a menina para a cadela e seus filhotes que estavam no
canil da casa, e foram embora. O pastor e sua esposa voltaram para casa e viram a nobre bebê
no canil e ficaram espantados com aquilo. Eles tiraram a menina do canil e a criaram sem saber
de onde ela tinha vindo, e ela cresceu forte, além disso, sendo a filha de um rei e uma rainha.
Ela ultrapassou todas as mulheres no bordado e seus olhos não viam nada que suas mãos não
pudessem bordar. Dessa forma ela foi criada por Findlam e sua esposa, até um dia o povo de
Etarscel a ver e contar ao rei, e ela foi levada à força por Etarscel e, depois disso, foi sua
esposa. Deste modo, ela é a mãe de Conaire, filho de Etarscel.

21. Após isso, Eochaid Airem estava em Fremain de Tethba, e depois de ter perdido Etain, sua
mente ficou perturbada. Sigmall Cael, neto de Midir, que é o filho da filha de Midir cujo nome
era Oicnis, veio e queimou o Dun Fremainn de Eochaid, matando-o e sua cabeça foi levada por
ele até Sid Nennta em vingança pela honra de seu avô Midir.

Não foi assim, no entanto, pois Sigmall e Fuamnach, a esposa de Midir, caíram pelas mãos de
Manannan em Bri Leith muito antes daquilo, no reinado dos Tuatha De Danann, do qual o
poeta disse:

Fuamnach, a tola, foi a esposa de Midir,

Sigmall, uma colina com árvores antigas,

Em Bri Leith eram uma combinação impecável,

Eles foram queimados por Manannan.15

22. No entanto, é dessa forma que Eochaid Airem morre, conforme aprendido no antigo
conhecimento:

Eochaid estava em Fremainn de Tethba, como já dissemos, e lá estava sua mansão e seu
domínio ancestral em direção ao fim. Daqui surgiu um árduo tributo de serviço além da conta
no povo do distrito e da terra, pois o sustento do rei geralmente caía sobre eles, por isso
Tethba é chamada de a sétima parte da Irlanda, pois a sétima parte do tributo e sustendo do
rei caía sobre eles. Os Fir Chul dos Luaigne de Tara estavam em Tara nessa época, e foi neles
que o tributo foi colocado. Normael foi o rei dos Fir Chul e era o pastor em Fremainn. O filho
de sua mãe era Sigmall de Brestine, filho de Midir, rei de Bentraige. Uma conspiração foi
armada por eles e resolveram matar Eochaid.

23. Os dois então saíram: Bentraige subordinada a Sigmall e os Fir Chul subordinados a
Mormael, e tomaram Dun Fremainn, a fortaleza de Eochaid, a queimaram e mataram-no lá.
Após isso, eles foram para Connacht com seus espólios, e ergueram a cabeça de Eochaid com
eles até o Sid Nennta iar nUsicu (oeste da água), de forma que para comemorar aquela
façanha, o historiador proferiu o seguinte:

Eochaid Airem, nobre, justo e gracioso,

Eminente Alto Rei da Irlanda,


Estendeu seu tributo árduo e arrojado,

O espalhou através de Banba dos mantos marrons.

O povo de Tethba das lutas obstinadas

Receberam o tributo do Rei da Irlanda.

O Rei legislador que [...] eles, colocou

A sétima (parte) apenas neles.

Uma pesada tristeza da tropa veio

Devido à lei monstruosa e injusta,

A raiva foi acesa entre eles por causa disso,

Até Eochaid Airem ser morto.

O povo de Tethba, poderoso de outrora,

Matou Eochaid de Fremaind

A causa não foi a força de sua parte,

Foi devido à lei monstruosa e injusta.

Mormael foi o nome do Rei no princípio

Por quem o grande ato foi feito,

Fir Chul foi o nome dos homens de Tethba no leste

Quando Dun Fremainn foi dominado.

Apesar de ser dito que Sigmall das lanças

Matou Eochaid Airem,

Ele mesmo morreu antes de Eochaid de Fremaind

Na sucessão de líderes.

Sigmall das lanças de batalha morreu

Pela lustrosa e brilhante face de Manannan;

Há um vasto e longo tempo no leste, sem fraqueza,

Antes de Eochaid encontrar sua morte.

Os dois Sigmall de Sid Nennta,

Seus pés intrépidos, poderosa sua proeza,

Sigmall filho de Coirpre das batalhas,

Sigmall que estava na morte de Eochaid.

Sigmall filho de Brestine da memória duradoura,


Rei de Bentraige com grande triunfo,

E o grande Mormael da planície,

Por eles Eochaid pereceu.

Fonte: Heroic Romances of Ireland, volume II, editado e traduzido por A.H. Leahy. Londres:
David Nutt, 1906. Disponível em:< http://www.maryjones.us/ctexts/etain.html>

Notas de tradução

1. Cumal. De acordo com o site “Everything 2”, é a antiga unidade irlandesa de valor ou
medidor de riquezas, mencionado nos mais antigos textos legais irlandeses. O significado
original da palavra é “escrava”, que pode significar que as mesmas eram usadas como
“mercadorias” para troca, e que mais tarde se tornou um medidor de terras. Portanto, o
cumal se tornou a unidade legal de medida de terra na Irlanda que equivale a 34 acres ingleses
ou 13,85 hectares, espaço considerado suficiente para três vacas pastarem; este espaço era
chamado de tír-cumaile, ou, “a terra do cumal”.

2. Dormitório. O termo original em inglês é sleeping chamber, que traduzido literalmente


ficaria “câmara/quarto/aposento de dormir”.

3. Mosca. O termo do texto em inglês está fly, que se traduz como mosca, porém, encontram-
se em outros lugares traduções tais como borboleta ou libélula.

4. Solário. O termo original em inglês é sun bower, que traduzido literalmente ficaria
“habitação/residência solar”. O tradutor acredita que o termo “solário” – um espaço destinado
a banhos de sol - se aplicaria à tradução.

5. Trave horizontal. O termo original em inglês é rooftree, sinônimo de ridgepole que consiste
em uma viga horizontal localizada na parte mais alta do telhado onde os dois planos inclinados
do telhado se encontram.

6. Canção. O termo original em inglês é lay, que possui um significado diferente, embora a
tradução se adeque. Lay é o termo que significa um pequeno poema narrativo ou lírico que
deve ser cantado.

7. Os Quintos. Referem-se provavelmente as cinco divisões da Irlanda: Leinster no leste,


Munster ao sul, Connacht a oeste, Ulster ao norte e Meath, o centro.

8. Xadrez. No texto em inglês, o termo é chess que se traduz como xadrez, porém, no
manuscrito original em irlandês, aparece a palavra fidchell (“‘In imberum fidchell?’ ol Midir.”)
que não significam a mesma coisa. O fidchell, segundo o site “Wikipédia” foi um antigo jogo
irlandês de tabuleiro com contraparte no País de Gales. Embora hoje não se saiba o método do
jogo, as regras e as peças, acredita-se que este seja a origem do nosso moderno xadrez.

9. Spancel. Segundo o site “Wiktionary”, spancel é uma corda ou grilhão usado para manquear
um cavalo ou outro animal; deixa-los mancos ou coxos.

10. Força. As palavras “força” e “esforço” simbolizando o jugo, que segundo o site “Dicionário
Informal”, é peça de madeira colocada sobre a cabeça dos bois ligando-os a uma carroça ou
arado.
11. Cerveja. O termo original é ale, que apesar da tradução ser cerveja, a palavra tem um
sentido diferente da nossa cerveja brasileira. O ale, segundo o site “Wikipédia”, é um tipo de
cerveja produzida a partir da cevada maltada onde se usa uma levedura capaz de fermentar a
cerveja rapidamente e proporcionar um sabor de frutas devido a componentes químicos
encontrados nessa levedura.

12. Trecho não traduzido para o inglês.

13. Cãezinhos. O termo em inglês é whelp, que significa algum mamífero pequeno de espécies
carnívoras, podendo ser principalmente um cachorro, um urso ou um leão (filhotes).

14. Pastor. O termo em inglês é herdsman, que significa o dono ou o criador de um coletivo de
animais domesticáveis.

15. Notem que aqui há uma contradição. Na primeira vez o poema é dito, o autor do mito diz
que foi Fuamnach e Midir que foram mortos por Manannan e Sigmall era apenas uma colina
com “árvores antigas”. Agora, foram Sigmall e Fuamnach mortos por Manannan. 

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